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Curso de Fisioterapia em Uroginecologia MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II III - Incontinência Urinária Feminina A Incontinência Urinária (IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como a queixa de qualquer perda involuntária de urina. (Abrams, P. et al., 2002). Trata-se de um problema funcional que afeta de 5% a 25% das mulheres (Milsom, 2000). Quanto aos índices que apontam a prevalência e incidência da incontinência urinária, estes dependem das características da população estudada como a idade, o sexo, as condições físicas e mentais, além da definição adotada e das condições de saúde geral da população (Diokno, 2004). A incontinência urinária tem como fatores de risco: idade, paridade, obesidade, estado hormonal e cirurgias abdominais prévias (Guarisi et al., 2001). A deficiência do estrógeno, associada à gestação e partos principalmente quando neste ocorreu algum trauma, como a episiotomia, uso de fórceps e outros, diminuem a elasticidade da musculatura do assoalho pélvico, concomitantemente com a diminuição geral da força muscular com o avançar dos anos (Ricetto e Sampaio, 2005). Estudos epidemiológicos mostraram uma prevalência de 37,8% em mulheres acima de 60 anos, com índices crescentes em populações mais idosas e institucionalizadas (Diokno, 2004). Um estudo encontrou 11% de incontinência urinária sem identificar o tipo de perda, entrevistando 2.767 mulheres italianas com 40 anos por via telefônica, baseando-se em qualquer perda no último ano (Bortolotti et al., 2000). Em um inquérito populacional domiciliar foram entrevistadas 456 mulheres na faixa etária de 45 a 60 anos de idade, encontrando 35% de perda urinária aos esforços. (Guarisi et al., 2001). As diferenças étnicas podem influenciar na prevalência dos tipos de IU na mulher. Os estudos que abrangem mulheres não brancas demonstraram 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores prevalência variada, mas é possível evidenciar maior incidência da IUE na raça branca. Nas raças negra e amarela predomina a incontinência urinária de urgência (Ribeiro, Girão e Santos, 1999). A incontinência urinária (IU) constitui um sintoma de etiopatogenia multifatorial que afeta homens e mulheres de várias faixas etárias. É mais comum entre as mulheres do que entre os homens, talvez duas vezes mais frequente (Sampaio FJB, et al., 2001), demonstrando ainda efeitos negativos no bem estar emocional e social, alterando a qualidade de vida. Trata-se de uma síndrome caracterizada por um sintoma, um sinal e uma condição. O sintoma é a perda involuntária de urina, o sinal é a demonstração dessa perda e a condição é o processo fisiopatológico que causou a incontinência (Moreno, 2009). As condições básicas para a obtenção da continência são: a estabilidade do detrusor e o gradiente de pressão entre a uretra e a bexiga. Para tanto, é necessária a integridade funcional de toda a musculatura envolvida na continência. Fazem parte dessas estruturas musculares a bexiga, uretra e assoalho pélvico (Ribeiro e Rossi, 2000). A estabilidade do detrusor é mantida pela integridade anatomofuncional. A função é determinada pelos sistemas nervoso autônomo, composto pelo simpático (nervo hipogástrico), parassimpático e nitrinérgico (nervo pélvico). O sistema simpático juntamente com o nervo pudendo atua na fase de enchimento vesical, enquanto que o parassimpático atua na fase de esvaziamento vesical (Moreno, 2009). O sistema nitrinérgico tem como meio de ação o bloqueio da contração muscular. Dessa forma, atua tanto na fase de enchimento vesical, inibindo a contração do detrusor, quanto na fase de esvaziamento vesical, relaxando a musculatura do colo vesical e da uretra posterior. Esses sistemas operam de forma harmoniosa, de modo a produzir gradientes pressóricos entre a bexiga e a uretra, proporcionando o ciclo miccional com suas fases de enchimento e esvaziamento vesical (Ribeiro & Rossi, 2000). 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fatores de Risco para a Incontinência Urinária A gravidez e a via de parto são fatores de risco para alteração da força muscular do assoalho pélvico e, por conseguinte, podem desencadear a incontinência urinária. O incremento do peso corporal materno e o peso do útero gravídico aumentam a pressão sobre a musculatura do assoalho pélvico na gestação. O avanço do índice de massa corpórea (IMC) na gravidez, a multiparidade, o parto vaginal, o tempo prolongado do segundo período do parto e a episiotomia são fatores que diminuem a força dos músculos do assoalho pélvico (Polden e Mantle, 2000). Barbosa (2005) analisou em sua pesquisa a influência do parto sobre a força do assoalho pélvico, em 94 mulheres divididas em três grupos: pós-parto vaginal (n=32), pós-parto cesária (n=32) e nulíparas (n=30), através dos testes AFA (avaliação da força do AP.) e perineometria. Demonstrou em seus resultados que a força do assoalho pélvico foi menor (p = 0,01) pós-parto vaginal (2,0;1-2) e intermediários pós-cesária (2,0;2-3) em relação às nulíparas (3,0; 2-3), tanto analisadas pelo AFA como pelo perineômetro. Concluindo que o parto vaginal diminui a força muscular do assoalho pélvico de primíparas quando comparado com os casos submetidos à cesária e com as nulíparas (Barbosa e cols., 2005.) Estes fatos se devem às mudanças geradas no corpo da mulher na gestação, no trabalho de parto e no parto. Durante a gestação ocorrem mudanças na posição anatômica da pelve, na forma da musculatura pélvica, na composição das estruturas de tecido conjuntivo, nas vísceras pélvicas e no períneo. Durante o trabalho de parto e parto, o assoalho é exposto à compressão por parte da apresentação fetal, bem como das pressões de expulsão exercidas pela mãe. O momento do nascimento da criança pode afetar o assoalho pélvico em função das lacerações, estiramento excessivo ou lesão por esmagamento dos músculos do assoalho pélvico, bem como pela lesão dos nervos periféricos que inervam os elevadores do ânus e os músculos do esfíncter (Faridi e cols., 2002.) 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A lesão no parto e a não ou má-reparação da laceração do corpo perineal podem comprometer a capacidade funcional do sistema urogenital e gastrointestinal, dos nervos periféricos e dos músculos por ele inervados (Faradi e cols., 2002). A obesidade também ocupa lugar em destaque dentre as causas de enfraquecimento dos MAP, pois são eles que sustentam a sobrecarga do sobrepeso constante (Duwer, Lee e Hay,1988). Adicionados a ela, o processo de envelhecimento com perda progressiva da força muscular, as alterações hormonais e do tecido conjuntivo apósa menopausa, constipação crônica e atividade física de alto impacto podem contribuir para as disfunções do assoalho pélvico (Duwer, Lee e Hay, 1988). Tipos de Incontinência Urinária A incontinência urinária é resultante de alterações anatômicas e funcionais. É sugerido que devido às diferenças anatômicas, a IUE atinja predominantemente as mulheres. As diferenças orificiais do sistema perineal ocasionam maior debilidade ao períneo feminino, associado a um menor comprimento da uretra parecem contribuir para uma maior prevalência no sexo feminino (Sthephenson e O’Connor, 2004). As alterações anatômicas uretrais incluem as distopias perineais, hipoestrogenismo. As alterações vesicais incluem a hiperatividade detrusora, hipocontratilidade detrusora, obstrução e baixa complacência. As alterações funcionais incluem deficiência esfincteriana intrínseca, radioterapia e traumatismos, gravidez e parto vaginal (Ribeiro, Girão e Santos, 1999). A incontinência pode ser transitória ou definitiva. As IU transitórias decorrem do uso de medicamentos, problemas mentais, infecção urinária, deficiência hormonal, imobilidade no leito, gravidez, cirurgias abdominais e pélvicas, transtornos neurológicos, defeitos congênitos e obesidade. As IU definitivas são provocadas por alterações no mecanismo intrínseco do esfíncter uretral e hipermobilidade do colo vesical e da uretra 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores proximal ou pela associação de ambos (Guarisi et al., 2001). Dentre as definitivas, a IU pode ser classificada em Incontinência urinária de esforço (IUE), de urgência (IUU) ou mista (IUM) (Abrams, 2002). Incontinência Urinária de Esforço (IUE) Na IUE a perda involuntária de urina ocorre quando, durante o esforço físico e na ausência de contração detrusora, a pressão intravesical excede a pressão uretral máxima (DeLancey, 2005). Pode ser causada por anormalidades funcionais ou anatômicas, respectivamente deficiência esfincteriana intrínseca e hipermobilidade uretrais, ou ambas simultaneamente. A deficiência esfincteriana intrínseca é provavelmente causada por alterações neuromusculares, danos ou traumas a esta musculatura deixando os músculos envolvidos no fechamento uretral muito frouxos, ou então, tornando a parede da uretra muito rígida, o que pode levar a uma falência na coaptação da uretra e causar perdas urinárias aos mínimos esforços ou até mesmo ao repouso. Na hipermobilidade uretral a descida e mobilidade da uretra proximal e colo vesical com o esforço são geralmente um componente etiológico importante para a incontinência, e parece que o grande defeito anatômico é a perda da integridade da estrutura musculofascial de suporte da uretra e colo vesical que os mantém na posição retropúbica. Assim, a hipermobilidade e descida destas estruturas, com o aumento de pressão intra-abdominal, prejudicam a transmissão para a uretra, causando uma compressão ineficiente. Danos nos nervos que controlam o assoalho pélvico e os músculos periuretrais contribuem para a gênese da incontinência urinária de esforço. Estes danos podem acontecer em partos, principalmente os complicados e com o uso de fórceps (Abrams., 2002). 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Associado ou não à incontinência urinária de esforço pode ocorrer o prolapso de vísceras pélvicas. Define-se como prolapso genital o deslocamento de vísceras pélvicas no sentido caudal, em direção ao hiato genital. Ele decorre do desequilíbrio de forças encarregadas de manter os órgãos pélvicos em sua posição normal (retropúbica) e aquelas que tendem a impeli-los para fora da pelve. Sendo definido como cistocele o prolapso da bexiga através da parece vaginal anterior; retorcele, o prolapso do reto; uretrocele, o prolapso da uretra; e enterocele, o prolapso do intestino. O prolapso genital incide principalmente em mulheres multíparas e idosas, mas também em crianças ou mulheres que apresentem paralisia flácida dos músculos do assoalho pélvico decorrente de lesões medulares ou meningomieloceles, espinha bífida ou doenças congênitas. Sabe-se que após a menopausa o déficit hormonal de estrógenos que leva principalmente a uma diminuição de colágeno tipo I, de maior qualidade, está associado à flacidez perineal, e por consequência maior incidência desta afecção no período pós-menopausal. Além disso, também conexas à idade ocorrem alterações posturais significativas como a redução da lordose lombar e aumento da cifose torácica, fazendo que haja uma conversão das forças intra- abdominais para o assoalho pélvico. O prolapso genital pode ser classificado em: Grau 0 - posição normal. Grau 1 - ao esforço há descida da parede vaginal anterior até um terço da vagina. Grau 2 - ao esforço há descida da parede vaginal até o introito. Grau 3 – ao esforço há descida da parede vaginal ultrapassando o introito vaginal. Grau 4 – a parede vaginal exterioriza-se mesmo ao repouso. 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 1. Prolapso Grau 3: Uretrocele e Retocele. Fonte: Arquivo Pessoal Incontinência Urinária de Urgência (IUU) Na IUU ocorre perda de urina involuntária, associada ao forte desejo miccional, decorrente de contrações involuntárias do detrusor (Abrams 2002). A incontinência urinária de urgência pode ser decorrente da Síndrome da Bexiga 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Hiperativa (BH). A Síndrome da bexiga hiperativa é caracterizada por aumento da frequência miccional, urgência com ou sem urgeincontinência e noctúria, na ausência de fatores infecciosos e metabólicos locais. Para fins didáticos segue abaixo a definição dos sintomas: • Frequência urinária: é definida como o número de micções que ocorrem em um dia. É considerada normal a frequência de até sete vezes ao dia, dependendo da ingestão hídrica de cada paciente. • Noctúria: quantidade de episódios em que a paciente é acordada pelo desejo de urinar durante a noite. Um episódio de noctúria é considerado normal, dependendo da ingestão hídrica à noite e da idade, pois o ritmo de filtração glomerular aumenta de acordo com a idade, logo se pode considerar normal a ocorrência de dois episódios em idosos acima de 65 anos. • Enurese: é o esvaziamento da bexiga com perda involuntária. Quando o esvaziamento vesical involuntário ocorre durante o sono, denomina-se enurese noturna. A BH é condição que compromete sobremaneira a qualidade de vida, sendo causa de isolamento social, frustração e ansiedade (Brown e cols.; 2001). Há referências na literatura que sintomas de depressão são mais comuns em pacientes com urgeincontinência (60%) em comparação àquelas com incontinência urinária mista (42%) ou incontinência urinária de esforço (14%). Abrams e Wein (2000) e Milson e cols. em (2001) ressaltam que mesmo as pacientes com bexiga hiperativa sem perda urinária têm a qualidade de vida bastante comprometida devido ao aumento da frequência miccional e a urgência. Estima-se que a prevalência da bexiga hiperativa na população adulta nos Estados Unidos seja de50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 16,9% entre mulheres e 16% entre homens, o equivalente a cerca de 34 milhões de americanos. Fisiopatologia A fisiopatologia da bexiga hiperativa não é totalmente conhecida. Provavelmente existem vários mecanismos envolvidos, o que talvez seja uma das explicações para a diversidade de sintomas descritos e diferentes respostas aos tratamentos disponíveis. Descreveremos os principais mecanismos conhecidos: A) Bexiga Hiperativa Neurogênica O armazenamento e a eliminação periódica de urina dependem da atividade coordenada de duas unidades funcionais do trato urinário inferior: o reservatório (bexiga) e a via de saída (colo vesical, uretra e esfíncter uretral). O sincronismo entre tais estruturas é mediado por complexo controle neurológico localizado no cérebro, na substância reticular da ponte, no cerebelo, na medula e nos gânglios periféricos, com a participação de diversos neurotransmissores e neuromoduladores. A forma neurogênica de bexiga hiperativa decorre de afecções neurológicas que envolvam a inervação qualquer destas estruturas. O córtex cerebral, especialmente o lobo frontal, exerce controle inibitório sobre o sistema nervoso parassimpático durante o enchimento vesical. A inibição cortical deficiente, como pode ocorrer em acidentes vasculares cerebrais, tumores e traumatismos cranianos, doença de Alzheimer e outros estados demenciais, doença de Parkinson, é causa de bexiga hiperativa. O trauma medular é causa frequente de interrupção das fibras eferentes provenientes da formação reticular pontomesencefálica e que se direcionam ao núcleo de Onuf na medula sacral. A altura e a extensão da lesão determinam a intensidade da bexiga hiperativa e a coordenação ou não entre o detrusor e o 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores esfíncter uretral. Na fase inicial dos traumas raquimedulares suprassacrais a bexiga é arreflexa (fase de choque medular), podendo ocorrer retenção urinária e incontinência por transbordamento. É imprescindível que se garanta o adequado esvaziamento vesical para evitar infecções urinárias e deterioração do trato urinário alto. Seis a oito semanas após o trauma a atividade reflexa do detrusor é restabelecida e passa a ser mediada pelo arco reflexo medular, que determina a hiperatividade vesical, com participação das fibras aferentes do tipo C em substituição às fibras aferentes D que participam da micção normal. Na maioria dos casos há dissinergia detrusor-esfincteriana. As lesões infrassacrais, em geral, cursam com bexiga flácida e não com hiperatividade (Abrams e Wein, 2000). B) Bexiga Hiperativa Não Neurogênica: Obstrução urinária A obstrução vesical é reconhecida como etiologia da bexiga hiperativa há muito tempo, em especial em homens com hiperplasia prostática. Uma vez que há dificuldade no esvaziamento vesical pela obstrução, há uma resposta do detrusor com aumento da pressão vesical. Após a desobstrução, os sintomas desaparecem em dois terços dos casos. Já nas mulheres as distopias acentuadas, como cistocele, uretrocele e outras causas iatrogênicas (hipercorreções de incontinência urinária) podem determinar uma condição semelhante a esta. Várias são as hipóteses para explicar a associação entre obstrução vesical e bexiga hiperativa. Alterações histológicas incluem hipertrofia e hiperplasia dos miócitos, aumento na deposição do colágeno e diminuição da inervação parassimpática. Alguns estudos sugerem que esta denervação parcial do detrusor seja consequência de lesões isquêmicas provocadas pela redução do fluxo sanguíneo ao detrusor hipertrofiado. Estudos experimentais mostram que a hipertrofia do detrusor se acompanha de diminuição da função contrátil e do aparecimento de atividade elétrica espontânea. Como consequência, as fibras musculares se tornam mais irritáveis e 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores perdem o sincronismo. Outra teoria causal envolve o aumento do fator de crescimento neuronal (NGF) que causaria hipertrofia de fibras nervosas aferentes e eferentes e aumento da atividade reflexa da bexiga. Os impulsos aferentes são essenciais para o controle da micção. Alterações nesta atividade aferente estão implicadas na etiologia da bexiga hiperativa. Os impulsos aferentes provenientes da bexiga são conduzidos predominantemente por fibras pequenas e mielinizadas do tipo Ad, que são sensíveis à distensão e/ou à contração vesical. As fibras aferentes do tipo C, localizadas principalmente na região suburotelial, não são mielinizadas e sua ativação se dá por estímulos químicos, irritativos e térmicos, mas existem dúvidas de que participem da micção normal (Goldberg e Sand, 2002). Na bexiga hiperativa, mecanismos excitatórios secundários podem ser predominantes e as fibras C ficarem mais ativas. Sabe-se que vários neurotransmissores produzidos e liberados pelo urotélio e pelo plexo nervoso suburotelial, em resposta à distensão vesical, podem facilitar ou dificultar o início da micção e, por conseguinte, estarem implicados na fisiopatologia da bexiga hiperativa. Outro neurotransmissor provavelmente envolvido na fisiopatologia da bexiga hiperativa é o óxido nítrico. Estudos mostram que este neurotransmissor é liberado pelo urotélio e por nervos suburoteliais e intramurais em resposta à distensão vesical. Atua como importante fator para o relaxamento não-adrenérgico e não- colinérgico do músculo detrusor durante o enchimento vesical. Além disso, o óxido nítrico pode ser um dos fatores envolvidos na queda da pressão intrauretral que precede a contração do detrusor no início do esvaziamento vesical. Dessa forma, a deficiência de óxido nítrido poderia contribuir para o surgimento da hiperatividade vesical (Goldberg e Sand, 2002). 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Teoria Neurogênica A fisiopatologia da bexiga hiperativa parece envolver ligações elétricas disfuncionais na musculatura lisa vesical, que permitiriam que contrações locais, que normalmente se extinguem, se propaguem, podendo gerar contrações clinicamente detectáveis. O modelo fisiopatológico proposto pressupõe que alterações neurológicas na parede vesical representadas por denervação e ligações intercelulares anormais podem determinar os sintomas de urgência e frequência miccionais30. Tais alterações já foram demonstradas na bexiga hiperativa idiopática, obstrutiva e neurogênica. Modelos animais e estudos in vitro confirmam a presença da excitação assincrônica da musculatura lisa vesical que segue padrões de denervação e reinervação. Mills et al. (2000), ao estudarem feixes musculares de pacientes com bexiga hiperativa idiopática e controles normais, puderam demonstrar que 35% dos primeiros tinham evidências de denervação comparados com apenas 15% dos controles. Teoria Miogênica Alguns estudos sugerem que alterações estruturais e ultraestruturais primárias do detrusor estariam na gênese da bexiga hiperativa. Achados microscópicos demonstraram anormalidades estruturais no músculo detrusor proveniente de bexigas hiperativas que podem refletir a sintomatologiados pacientes. Tais achados incluem especialmente o aumento de elastina e de colágeno, bem como o predomínio de dois tipos de junções celulares: profusões juncionais e aposições ultrapróximas, o que é compatível com o predomínio de transmissão celular elétrica. As teorias neurogênica e miogênica não são mutuamente exclusivas. Os dois processos podem coexistir produzindo manifestações clínicas. Assim, 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores alterações primárias do detrusor podem desencadear anormalidades neurológicas, que, por sua vez, facilitariam a condução da atividade elétrica, predominante na bexiga hiperativa. Da mesma forma, as alterações neurológicas podem levar a mudanças na estrutura, sensibilidade e comportamento do músculo detrusor. O processo inicial, no entanto, ainda não é conhecido. As contrações não inibidas do detrusor são encontradas em cerca de 30% das mulheres com incontinência urinária de esforço, mas o porquê de tal associação ainda não é completamente esclarecido (Goldberg e Sand, 2002). Uma das explicações encontra respaldo na neurofisiologia da micção. Sabe-se que a presença de urina no lúmen uretral desencadeia contrações reflexas do detrusor, contribuindo para o completo esvaziamento vesical. Segundo Koonings e Bergman (1991), existem dois tipos de bexiga hiperativa idiopática com base em achados cistométricos. Um grupo caracteriza-se pela existência de contrações involuntárias, antecedendo qualquer mudança na pressão intrauretral. O segundo grupo, entretanto, apresenta queda na pressão uretral precedendo as contrações do detrusor, o que sugere um processo uretral primário, com melhor resposta às drogas alfa-adrenérgicas e respondendo mal ao tratamento com anticolinérgicos. De acordo com a Teoria Integral, os sintomas de quase todos os tipos de incontinência urinária (excetuando-se causas inflamatórias e neurogênicas) decorrem de defeitos anatômicos da parede vaginal e/ou dos seus tecidos de sustentação. A integridade anatômica do assoalho pélvico (especialmente da vagina e de seus elementos de suporte) previne a urgência miccional34. As terminações nervosas localizadas na base da bexiga são extremamente sensíveis e sua estabilização requer a integridade anatômica da vagina e de seus tecidos de sustentação. A estimulação desses receptores causa o relaxamento reflexo do músculo pubococcígeo, com o consequente relaxamento da musculatura estriada periuretral. Simultaneamente, a uretra proximal é tracionada póstero- inferiormente pela contração dos músculos levantadores do ânus, com a abertura do colo vesical. Cria-se um círculo vicioso de estimulação dos receptores e contração vesical, com perda de grandes quantidades de urina. 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Incontinência Urinária Mista (IUM) Na IUM as evidências clínicas são de esforço e urgência. Existem sintomas de hiperatividade associados à perda de urina devido ao aumento da pressão intra-abdominal e pode haver predomínio de um ou outro sintoma. (Moreno, 2009). Teoria Integral da Continência A Teoria Integral da Continência foi concebida por Peter Petros & Ulmsten (1990) com o objetivo de explicar de forma integrada os mecanismos fisiopatológicos envolvidos não apenas na incontinência urinária aos esforços, mas também sintomas habitualmente coexistentes, tais como urgência, polaciúria, noctúria, alterações do esvaziamento vesical e intestinal, além da dor pélvica crônica. Essa teoria considera que tais sintomas são independentes, originários de um processo fisiopatológico comum e basicamente que a incontinência aos esforços, urgência e alterações do esvaziamento vesical decorre das alterações teciduais dos elementos de suporte suburetral, dos ligamentos e dos músculos do assoalho pélvico. De acordo com essa teoria, as alterações da tensão aplicada pelos músculos e ligamentos sobre as fáscias justapostas à parede vaginal determinam a abertura ou o fechamento do colo vesical e da uretra. Alterações da tensão sobre a vagina determinariam, também, ativação prematura do reflexo miccional desencadeando contrações involuntárias do detrusor. Baseada na interpretação conjunta de conhecimentos anatômicos e funcionais obtidos por diversos autores ao longo do século passado, a Teoria integral propõe uma nova classificação para a incontinência urinária da mulher, 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores fundamentada em três zonas de disfunção e seis defeitos básicos que devem ser sistematicamente investigados. São eles: 1) defeito do suporte suburetral; 2) síndrome da vagina fixa; 3) distensão dos ligamentos pubouretrais; 4) distensão dos ligamentos uterossacros e do suporte do ápice vaginal; 5) lesões da inserção vaginal dos músculos pubococcígeos; 6) lesões dos músculos estriados do assoalho pélvico divididos em a) traumatismo do esfíncter externo do ânus b) distensão, paralisia ou ruptura das inserções do platô do músculo elevador do ânus. Assim, as disfunções miccionais resultantes do tratamento cirúrgico da incontinência urinária resultariam da abordagem incompleta desses defeitos. Dependendo do local da lesão musculofascial ou ligamentar e da sensibilidade das terminações nervosas locais, poder-se-á desenvolver incontinência urinária aos esforços, urgeincontinência, alterações do esvaziamento vesical ou várias combinações dessas três condições. Outros músculos perineais também contribuem para este suporte e são representados pelo isquiocavernoso, bulbo esponjoso, transverso superficial do períneo e o esfíncter externo do ânus. O músculo levantador do ânus é inervado por ramos eferentes e motores de S2 a S4 na sua superfície pélvica e por ramos do nervo pudendo em sua superfície perineal. As alterações dessas estruturas decorrentes de lesões neurológicas ou fasciomusculares podem ter como consequência a perda urinária. 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Incontinência Urinária e Qualidade de Vida A perda involuntária de urina afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes. É capaz de causar sofrimento e angústia, constrangimento e exclusão social. Interfere em certas áreas como a prática de atividades físicas, bem-estar mental, trabalho, social, relação sexual e até mesmo nos trajes femininos. Nestas condições, muitas mulheres ainda se sentem constrangidas em falar sobre o assunto e procurar ajuda profissional. Estes efeitos na qualidade de vida do portador são de grande importância, porém às vezes não são valorizados por profissionais de saúde por não estarem atentos a essa questão. A Sociedade Internacional de Continência (ICS) tem recomendado que um questionário de qualidade de vida seja incluído em todo e qualquer estudo sobre incontinência urinária (Avery et al., 2007). A avaliação da qualidade de vida foi acrescentada aos ensaios clínicos randomizados como terceira dimensão, a ser considerada além da eficácia e da segurança. A definição da Organização Mundial de Saúde(OMS) para qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura de sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. As pacientes com queixas de urgeincontinência urinária têm um maior impacto na qualidade de vida que as pacientes com queixas de incontinência urinária de esforço e que a incontinência urinária afeta mais a função social e psicológica que a função física da paciente (Sthephenson e O’Connor, 2004). Atualmente, reconhece-se que o único modo válido de se avaliar um sintoma através da perspectiva do paciente é por meio da utilização de questionários bem estruturados e com suas propriedades psicométricas testadas. Existem vários questionários para se avaliar a qualidade de vida em mulheres incontinentes que têm semelhanças e diferenças entre si. Podem ser utilizados os questionários genéricos ou específicos, que avaliam aspectos 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores próprios da gravidade e do impacto dos sintomas na vida das pacientes (Kelleher C, 2000). Os questionários genéricos, como o SF-36, são de fácil administração e compreensão, mas tem como inconveniente apresentar dimensões gerais, que podem ser pouco sensíveis às alterações clínicas que as pacientes venham a apresentar. Já os questionários específicos avaliam aspectos próprios da gravidade e do impacto dos sintomas na vida das pacientes como: “Bristol Female Lower Urinary Tract Symptoms” (BFLUTS), “Quality of life in Persons with Urinary Incontinence” (I-QoL), “Stress Incontinence Questionnaire” (SIQ) e “King’s Health Questionnaire”(KHQ) (Kelleher C, 2000). Dentre os específicos destaca-se o KHQ por usar ambos os métodos de avaliação, tanto a presença de sintomas da incontinência urinária, quanto seu impacto relativo, o que leva a resultados mais consistentes. Permite mensuração global e também avalia o impacto dos sintomas nos vários aspectos da individualidade na qualidade de vida (Kelleher, 2000). É um instrumento que avalia o impacto dos sintomas do trato urinário baixo na qualidade de vida de mulheres, foi submetido ao processo de tradução e adaptação cultural para a língua portuguesa e está disponível para uso em pesquisas clínicas no Brasil (Tamanini, et al., 2003). IV - Avaliação Perineal Para a fisioterapeuta que irá tratar pacientes com disfunções urogenitais a história clínica oferece sinais e sintomas que orientam a avaliação das patologias que irão complementar e estudo do caso e orientar o tratamento das disfunções ginecológicas. Na anamnese pode-se obter dados relevantes que nos permitem elaborar hipóteses com relação à etiologia da incontinência urinária. Inclusive, o fisioterapeuta poderá encaminhar o paciente para o urologista e solicitar o estudo urodinâmico que fornecerá dados importantes que complementarão a avaliação perineal. 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quanto aos sintomas, na IUE a paciente associa a perda urinária à realização de algum esforço físico; na IUU com frequência a perda é precedida de urgência e desencadeada por um estímulo externo, como ouvir barulho de água ou lavar louça, etc. Na IUE a paciente geralmente inicia a perda simultânea ao esforço, geralmente o volume da perda é pequeno, em gotas, e a paciente poderá ser capaz de contê-la contraindo a musculatura do assoalho pélvico. Na IUU, como a perda decorre da contração não inibida do detrusor, esta é mais intensa e não pode ser contida mesmo que a paciente saiba contrair e tenha uma boa força e trofismo da MAP. Na IUU com frequência apresenta associação com sintomas irritativos do trato urinário, como polaciúria, noctúria, urgência e até enurese. É importante levantar o histórico dos sintomas urinários, dor, alterações na sexualidade, na função musculoesquelética e na qualidade de vida da paciente. Queixa Principal Dentre os sintomas apresentados, o que tem o maior impacto sobre a qualidade de vida do paciente, em geral é a causa da procura por atendimento médico e fisioterápico. Sintomas Urinários Disúria, polaciúria, noctúria, frequência, urgência, urgeincontinência, incontinência aos esforços, dor crônica, incontinência parcial e total. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Incontinência Urinária Questões importantes que devem ser levantadas ao entrevistar o paciente. Há quanto tempo? Qual a frequência miccional em 24h? (se for > 8 = frequência) Tem perda de urina aos esforços? (IUE) Tem forte vontade de urinar? (urgência) Tem perda de urina precedida a forte desejo de urinar? (urgeincontinência) Levanta à noite para ir ao banheiro mais de 2X/noite? (indicativo de noctúria) Tem perda de urina durante o sono? (Indicativo de enurese). Teste de Esforço Exame clínico realizado com a paciente apresentando bexiga confortavelmente cheia e em posição de litotomia. Solicita-se à paciente que realize manobra de valsalva ou tosse, procurando observar a perda urinária através do meato uretral externo. A perda na IUE se dá concomitante ao esforço e pode ser contida pela contração voluntária da MAP. Já na IUU a perda se dá após alguns segundo do esforço e além do volume de perda ser maior, não pode ser inibida pela MAP, ocorrendo esvaziamento vesical completo. Teste do Cotonete Tem como objetivo principal a avaliação do grau de mobilidade do colo vesical, ou seja, discriminar mulheres que podem ter IUE associada à hipermobilidade do colo vesical daquelas que apresentam mobilidade normal. O teste baseia-se na introdução de um cotonete estéril através do meato uretral 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores externo, estando a paciente em posição de litotomia. A extremidade proximal é introduzida e a distal visível ao examinador. Solicita-se que a paciente realize manobra de valsalva ou tosse. Em casos de hipermobilidade do colo vesical, a extremidade visível desloca-se superiormente “apontando para o teto”, sendo este deslocamento medido pelo goniômetro, sendo positivo caso maior que 30 graus. Métodos de avaliação do assoalho pélvico Os recursos utilizados para avaliar a anatomia e fisiologia dos Músculos do Assoalho Pélvico (MAP) se estribam em métodos subjetivos e objetivos, que avaliam nos MAP, sensibilidade, consciência corporal, manutenção do tônus muscular e a capacidade de contração frente aos aumentos súbitos de pressão. Estes métodos avaliam a capacidade de contração e são: observação clínica, palpação vaginal, ultrassom, ressonância nuclear magnética e eletromiografia e métodos que avaliam a força de contração muscular: palpação vaginal, dinamômetros de pressão, perineômetros, cones vaginais. (ORTIZ et al., 1996). Os métodos subjetivos caracterizam-se por serem avaliadores dependentes, mas não perdem a importância no contexto da determinação da capacidade e da força de contração dos MAP. Assim, são considerados subjetivos os métodos de palpação vaginal (ORTIZ et al., 1996). Os métodos considerados objetivos são aqueles realizados por aparelhos, ficandoo avaliador com a responsabilidade de interpretar seus resultados. São caracterizados pelo uso de dinamômetros de pressão vaginal, cones vaginais, perineômetros, ultrassom e ressonância nuclear magnética (PEATTI; PLEVNIK; STANTON 1988). 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Observação Clínica A observação clínica de uma contração correta dos músculos do assoalho pélvico pode ser realizada visualmente. Kegel, em 1948, descreveu a observação de contração correta do MAP, como movimentação de “aperto” ao redor da uretra, vagina e ânus, associada à elevação dessas estruturas para dentro da pelve. DeLancey, em 1994, reafirmou a descrição de Kegel e complementou relatando que a contração correta do MAP produz movimento de compressão e elevação da vagina, uretra e ânus, mas sem apresentar qualquer movimento visível da pelve ou das extremidades inferiores. Pela observação clínica, o avaliador está apenas visibilizando a contração dos músculos perineais superficiais. Porém, a análise da anatomia do assoalho pélvico sugere que o músculo elevador do ânus contrai concomitantemente com os músculos superficiais do períneo. Bo (2003) reafirma que a contração pode ocorrer sem que haja movimento externo visível do períneo. Tal fato pode acontecer em mulheres obesas, onde a elevação vaginal é dissimulada pelo porte físico. Fica assim evidente que apenas a observação clínica não é suficiente para avaliar a função do MAP, sendo necessária a realização de exames complementares (BO; SHERBURN, 2005). 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Palpação Vaginal É considerado o método mais prático para a avaliação funcional do assoalho pélvico. É um procedimento simples, de fácil aplicação e que não requer instrumentação. Kegel (1948) foi o primeiro a descrever sistematicamente um método de avaliação dos músculos do assoalho pélvico, através da palpação vaginal. Kegel não usou esse método para medir a força do MAP, mas para ensinar as mulheres a contrair essa musculatura, classificando-a qualitativamente como correta ou incorreta (KEGEL, 1948). Desde que Kegel descreveu a palpação vaginal como método para avaliar a função do MAP 25 técnicas diferentes de palpação vaginal foram desenvolvidas, umas utilizando um dedo e outras dois dedos. Ortiz et al. (1994) desenvolveram a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), que foi graduada inicialmente de 0 a 5, de acordo com a visualização da atividade contrátil dessa musculatura e a sensibilidade à palpação digital dessa contração. Em 1996, baseados nessa classificação, os mesmos autores propuseram nova classificação graduada de 0 a 4, e identificaram, no mesmo estudo, significativa correlação com a classificação anatômica. Tabela 1 – Avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) Grau 0 Sem função perineal objetiva, nem mesmo à palpação, Grau I Função perineal objetiva ausente, contração identificável somente à palpação, Grau 2 Função perineal objetiva débil, contração identificável à palpação, Grau 3 Função perineal objetiva presente e resistência opositora não mantida mais que cinco segundos à palpação, Grau 4 Função perineal objetiva presente e resistência opositora mantida mais que cinco segundos à palpação, Fonte: Ortiz et al., 1996. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Barros, em 2004, ao comparar 32 mulheres com incontinência urinária de esforço por lesão esfincteriana intrínseca, randomizadas entre AFA maior e menor que grau dois, e tratadas através da cinesioterapia, demonstrou a importância da AFA inicial como prognóstico de tratamento. As mulheres que apresentavam AFA maior que dois obtiveram melhores resultados no tratamento do que o grupo de mulheres que apresentavam AFA menor que dois (BARROS, 2004). Amaro (2005) comparou, em seu estudo, a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) com o método de Perineometria, em 48 mulheres no menacme, e demonstrou em seus resultados alta correlação entre esses métodos, quando comparados de forma global (R de Pearson = 0,8016). Segundo Bo e Sherburn (2005), a avaliação dos músculos do assoalho pélvico é útil na documentação de mudanças na sua função e força no decorrer de uma intervenção. A avaliação dos MAP, através da palpação digital, normalmente é realizada com a paciente na posição ginecológica. O examinador introduz os dedos indicador e médio na vagina, ou apenas o indicador, dependendo do método utilizado, e solicita que a paciente contraia os MAP e mantenha essa contração por alguns segundos, sendo, nesse momento, realizada a graduação (MORENO, 2009). A avaliação funcional do assoalho da pelve (AFA), descrito por Ortiz, é também o método mais utilizado para graduar a força de contração do assoalho da pelve. É o mais simples e completo. A escala de graduação avalia, ao mesmo tempo, a capacidade e a força de contração do MAP (Tabela 1) (ORTIZ, 1996). Laycock (1994) desenvolveu o sistema de graduação de OXFORD Modificado, usando uma escala de 6 pontos: 0 – nenhuma contração; 1 – contração mínima; 2 – contração fraca; 3 – contração moderada; 4 – contração boa com presença de movimento da elevação; 5 – contração forte. Essa escala é comumente usada pelos fisioterapeutas, por ser uma escala de fácil aplicação. Bo e Finckenhagen (2001) questionaram essa escala, pois não verificaram como ela poderia diferenciar as contrações fracas, moderadas, boas, ou fortes, quando comparadas com as medidas de compressão perineal, através de um transdutor de pressão vaginal. 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Laycock e Jerwood (2001) desenvolveram outro método de avaliação, complementando o método de Oxford, denominado PERFECT. Esse é um método que permite quantificar a intensidade, o número de contrações (rápidas e lentas) e o tempo da sustentação das contrações, como observado na Tabela 2 (BO; SHERBURN, 2005; LAYCOCK and JERWOOD, 2001; LAYCOCK, 2003). Esse método, apesar de dar valores mais exatos da força de contração do MAP, apresenta limitações na prática clínica, por ser um método mais complexo e, portanto, exigir mais da paciente e do avaliador, que precisa ter amplo domínio do mesmo. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tabela 2 – Escala Perfect Fonte: Laycock, 2001 PERFECT Power (força muscular): avalia a presença e a intensidade da contração voluntária do assoalho pélvico. Graduação de O a 5 de acordo com o sistema de Oxford. O Ausência de resposta muscular dos músculos perineais. 1 Esboço de contração muscular não sustentada. 2 Presença de contração de pequena intensidade, mas que se sustenta. 3 Contração moderada, sentida como um aumento de pressão intravaginal, que comprime os dedos do examinador com pequena elevação cranial da parede vaginal. 4 Contração satisfatória, comprime os dedos do examinador com elevação da parede vaginal em direção à sínfise púbica.5 Contração forte: compressão firme dos dedos do examinador com movimento positivo em direção à sínfise púbica. Endurance (manutenção da contração): é uma função do tempo (em segundos) em que a contração voluntária é mantida e sustentada (ideal: mais de dez segundos) - resultado da atividade de fibras musculares lentas. Repetition (repetição das contrações mantidas): número de contrações com duração satisfatória (cinco segundos) que a paciente consegue realizar após período de quatro segundos de repouso entre as mesmas; o número conseguido sem comprometimento da intensidade é anotado. Fast (número de contrações rápidas): medida da contratilidade das fibras musculares rápidas determinadas após dois minutos de repouso. Anota-se o número de contrações rápidas de um segundo (até dez vezes). Every Contractions Time É a medida do examinador para monitorar o progresso por meio da cronometragem das contrações. Permite demonstrar de maneira prática esse progresso. Por exemplo: uma mulher que inicialmente conseguia realizar três contrações com duração de cinco segundos, passa, após o tratamento, a realizar dez contrações com duração de cinco segundos. Coordenação É importante monitorar a habilidade de relaxar de maneira rápida e completa. Um relaxamento parcial ou muito lento significa coordenação insatisfatória e relaxamento total e rápido significa uma coordenação satisfatória; esse teste completa o exame vaginal. 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Amaro et al., em 2003, também propuseram uma classificação subjetiva do músculo do assoalho pélvico (Tabela 3). Em 2005, Amaro et al., em estudo utilizando o método subjetivo proposto (palpação vaginal - Amaro) e o método objetivo perineômetro de avaliação do assoalho pélvico, observaram significativo déficit da força muscular no grupo de mulheres incontinentes em relação ao grupo controle, demonstrando que a avaliação pode direcionar melhor o tratamento (AMARO et al., 2005). Tabela 3 - Classificação subjetiva do assoalho pélvico adaptado por Amaro e colaboradores A avaliação tanto da capacidade de contração quanto da medida de força do MAP, por métodos de palpação vaginal, é importante para a avaliação clínica, mas os resultados de seus estudos ainda são conflitantes, exatamente por ser medida de avaliação subjetiva, avaliador dependente. 0 Contração ausente 1 Contração muscular discreta 2 Contração muscular suportada por menos que 5 segundos 3 Contração muscular suportada por mais que 5 segundos 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Cones Vaginais Os cones vaginais têm sido amplamente usados desde sua introdução por Pelvnik, em 1985, para avaliação e fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico. Um cone vaginal é qualquer dispositivo que se pode inserir na vagina para fornecer resistência e feedback sensorial aos MAP, à medida que eles se contraem (MORENO, 2009). Comercialmente, são estruturas de aço inoxidável revestidas com uma camada plástica, com formas e volumes iguais e pesos variando de 20 a 70g, ou de 20 a 100g. Recebem um número que varia de acordo com o peso, podendo ser de 1 a 5, ou de 1 a 9. Em seu ápice possuem um fio de náilon, para facilitar sua remoção (Figura 8) (MORENO, 20009 PLEVNIK, 1985). Fig. Cones Vaginais. Fonte: HADDAD; JORGE; GALLO, 2005. 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A avaliação funcional dos MAP com o cone inicia-se na identificação de qual cone a paciente será capaz de reter na vagina sem qualquer contração voluntária dos MAP. Mesmo com a colocação do cone adequado, na cavidade vaginal, existe a tendência de exteriorização. Cria, assim, sensação de perda do dispositivo. Esse mecanismo produz resposta motora que induz a contração involuntária dos músculos perineais (MORENO, 2009). Dessa forma, é possível determinar a capacidade de retenção e força, ao se identificar qual o cone a paciente conseguiu reter. Esse feedback sensorial, também é muito útil para eliminar a ocorrência de manobra de Valsava, durante o treinamento do MAP, pois, nesse caso, o cone será expulso se o paciente exercer contração inversa (figura 9) (MORENO, 2009). Figura - Cone vaginal in situ – contração dos músculos do assoalho pélvico Fonte: Cardozo e Curtne (1991) 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Hesse et al.,(1991) demonstraram, através da EMG, que ocorre a contração involuntária dos músculos pubococcígeos durante o uso de cones. Os autores observaram períodos de contração intercalados com períodos de relaxamento. Esse fato evita a fadiga muscular (MORENO, 2009). BO; SHERBURN, 2005 verificaram, através da EMG com fio, que os cones no canal vaginal aumentaram a atividade motora globalmente. Hahn et al. (1996) averiguaram em mulheres com incontinência urinária baixa correlação entre o peso do cone e a medida da força de compressão vaginal (R = 0,10) e entre AFA e o peso do cone (R = 0,18). Vinte por cento das mulheres que apresentaram escores baixos na AFA e na perineometria conseguiram manter o cone intravaginal. Estudos radiográficos demonstraram que os cones podem repousar sobre o cóccix em algumas mulheres que apresentam retroversão de pelve, dificultando sua saída do canal vaginal, gerando falsa avaliação de força. Os músculos, glúteos, adutores de coxa e rotadores externos podem, muitas vezes, ser contraídos ao invés do MAP, para manter o cone no local (BO; SHERBURN, 2005). Outro aspecto importante é a relação entre o diâmetro e eixo vaginal com a conformação do cone, ou seja, uma mulher pode reter um cone mais pesado apesar de ter musculatura mais debilitada, desde que o diâmetro do canal vaginal seja pequeno em relação ao cone. Em um estudo realizado por Olah et al., (1990) 17% das mulheres avaliadas não foram capazes de colocar ou reter os cones devido ao fato de serem grandes ou pequenos em relação à cavidade vaginal. Embora haja estes questionamentos de desvantagens em relação ao uso dos cones na avaliação perineal, vários estudos na literatura demonstram a sua eficácia na utilização dos cones para o tratamento da flacidez perineal e incontinência urinária de esforço (BO; SHERBURN, 2005; MORENO, 2009). 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Perineometria O perineômetro é um aparelho que permite avaliação objetiva da função muscular do assoalho pélvico, determinando o valor da pressão exercida sobre o probe vaginal. Esta pressão seria a resposta da força de contração dos MAP. Também é possível verificar a duração da contração em segundos e consequentemente a capacidade de anteriorização do períneo. O perineômetro valia a musculatura do assoalho pélvico, como no AFA, porém através deste exame é possível graduar a força da MAP em unidades de pressão: cmH2O, mmHg, saures, libras etc. Há vários aparelhos no mercado que tem esta função, dentre eles podemos citar:PERINA da marca Quark, Perineômetro da marca Kroman, Pelvimeter da marca Standart, etc. O primeiro gradua em mmHg, e a sonda vaginal precisa ser insuflada dentro do canal vaginal da paciente. A sonda é previamente revestida com um preservativo descartável e o avaliador com luvas de procedimento, jaleco, cabelos presos e toda a paramentação necessária pra que o exame seja realizado dentro das condições de assepsia. Kegel (1948) foi o primeiro a descrever um equipamento com essa finalidade. O perineômetro de Kegel era constituído por uma sonda endovaginal acoplada a um manômetro, que permitia detectar a elevação da pressão intravaginal durante a contração do assoalho pélvico (figura) (KEGEL, 1948). 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 10 - Perineômetro desenvolvido por Kegel (Fonte: Kegel, 1948) Este método possibilita a determinação do pico e da duração da contração muscular dos MAP, podendo ser usado como método de avaliação e para ensinar as pacientes a contraírem esses músculos. O termo perineômetro é considerado errôneo por alguns autores, porque a região sensível à pressão da sonda do manômetro não é colocada no períneo, mas, sim, na vagina, na região dos músculos elevadores do ânus (BO; SHERBURN, 2005). Posteriormente à descoberta de Kegel, vários aparelhos e dispositivos de pressão vaginal foram desenvolvidos, mas todos mantendo seu princípio básico (MORENO, 2004). 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 11-Perineômetro digital KromanR. Fonte: Arquivo Próprio ESCALA: 0-10 sauers = ruim 11-20 sauers = regular 21-40 sauers = normal 41-60 sauers = bom 61-80 sauers = excelente 81-100 sauers = extraordinário 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O perineômetro, além de permitir a avaliação funcional do assoalho pélvico, pode ser também utilizado com recurso para a avaliação da contração muscular e para ensinar as pacientes a relacionarem o estímulo sensitivo perineal à contração muscular (AMARO, 1999;). Isso possibilita à mulher aprender a manipular esses acontecimentos e a controlá-los voluntariamente. Considerando que muitas mulheres não possuem conscientização da sua região urogenital, sendo incapazes de contrair voluntariamente seus MAP, a sensação da contração muscular assume papel importante na reeducação do assoalho pélvico (HAHN, 1996). Quanto maior a força e a conscientização dos MAP, menores são as chances da mulher desenvolver incontinência urinária e/ou prolapsos dos órgãos pélvicos. A Perineometria, apesar de ser considerado o método de escolha para a avaliação perineal, deve ser realizada da forma correta para que não haja interferência na determinação da pressão intravaginal. Deve assegurar que não haja contração simultânea dos músculos abdominais durante o exame. Alguns pesquisadores, através da EMG de superfície, identificaram as atividades dos músculos abdominais (reto abdominal) e tentaram evitar a contração simultânea através de exercícios de relaxamento desses músculos (SENGLER, 2002). É importante também observar o movimento do períneo, no momento em que é solicitada a contração dos MAP, pois muitas mulheres realizam manobra de Valsalva em vez de contrair o MAP, gerando uma medida falsa de contração (GROSSE; SENGLER; JOLY, 1993). A utilização da Perineometria para avaliação funcional do MAP fornece medidas clinicamente úteis quando usadas com instrução cuidadosa ao paciente (HAHN et al., 1996). 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diário Miccional É um recurso para avaliar a frequência urinária, volume de 24 horas, volume médio de uma micção, frequência das perdas urinárias, e noctúria. Consiste em uma tabela que deve ser preenchida pelo paciente seguindo uma ingestão líquida de 2 litros de água em 24h Horário Urinou Quantidade ingesta Perda Motivo? 6 h 100 ml 7 h 50 ml 8 h 50 ml 9 h 300 ml suco x tosse 10 h 120 ml 11 h 12 h 35 ml x riso 13 h Pad Test É chamado também de teste do absorvente e utilizado na prática como avaliação objetiva da incontinência urinária. A Sociedade Internacional de Continência propõe um teste de 1 hora. A paciente comparece à consulta, não sendo necessário esvaziamento vesical. Coloca-se absorvente pré-pesado e solicita- se que beba 500 ml de solução isotônica em um tempo máximo de 15 minutos. 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Após, a paciente senta e repousa 15 minutos. Na sequência: 30 minutos iniciais: caminha, sobe e desce escada. 30 minutos finais: senta e levanta 10X; Tosse vigorosamente 10X; Corre 1 minuto; Apreende objetos do chão 5X; Lava as mãos em água corrente por 1 minuto. Ao final de 1 hora o absorvente é previamente pesado. O ganho > de 1 grama é compatível com perda urinária. Até 01 grama considera-se possibilidade de erro. Eletromiografia (EMG) A EMG registra os potenciais elétricos gerados pela despolarização das fibras musculares durante a contração, podendo ser considerada medida indireta de força muscular. Além de avaliar a capacidade de contração, a EMG registra a sua amplitude em microvolts (μV), sendo que os valores registrados em repouso caracterizam o tônus basal do músculo (RETT et al., 2005). Durante a contração muscular, a EMG oferece informações sobre as fibras fásicas, que produzem contrações de máxima amplitude e curta duração, e sobre as fibras tônicas, que produzem contrações de menor amplitude e maior tempo de duração. A EMG pode ser de superfície ou profunda. É realizada por vários tipos de eletrodos de superfície (discos, probe vaginal ou anal) e eletrodos finos (fio de metal, ou agulha de punção). Sua escolha baseia-se no tipo de resposta esperada, na facilidade e conforto da aplicação e na localização do músculo avaliado. Os eletrodos de superfície normalmente são utilizados para avaliar músculos grandes e superficiais, enquanto que os eletrodos de fio ou agulha são utilizados para detectar a atividade de músculos pequenos e profundos. Assim, os eletrodos de agulha são os mais indicados para a avaliação dos MAP. Apesar dos eletrodos finos de agulha serem os mais recomendados, na prática clínica sua utilização é restrita, devido à elevada sensibilidade da região perineal e habilidades necessárias para a sua utilização (BO; SHERBURN, 2005). A eletromiografia de agulha é realizada por duas técnicas distintas. A de agulha 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores concêntrica registra uma área de várias unidades motoras. É empregada para avaliar a amplitude e a duração da contração muscular. A de fibra única, mais específica, registra o potencialde ação de uma unidade motora. Isso permite a avaliação quantitativa do comprometimento da inervação e subsequente reinervação, através da densidade da fibra. Quando ocorre uma denervação parcial, o axônio íntegro, próximo à área lesada, desenvolve-se rapidamente para reinervar as fibras musculares, resultando assim em aumento de fibras musculares por axônio e, consequentemente, uma unidade motora maior. Dessa forma, aumento na densidade da fibra motora indica desenervação. Um estudo com 105 mulheres multíparas com prolapso e ou IUE (G1) e 69 mulheres nulíparas, ou assintomáticas (G2), que a densidade da fibra foi maior no G1, do que no G2, quando pareadas por idade. Concluindo, a denervação do assoalho pélvico com reinervação subsequente é acompanhamento normal do envelhecimento e são aumentadas pelo parto (SARTORI, 2004). Ultrassonografia (US) Em 1980 ocorreram as primeiras publicações sobre a utilização da ultrassonografia no estudo de uretra e da bexiga em mulheres incontinentes. Muitos estudos surgiram posteriormente, comparando as medidas encontradas pelo ultrassom com aquelas descobertas pelos exames radiológicos (SARTORI e cols.; LIMA, 1999). A avaliação da ultrassonografia para medir a mobilidade da junção uretrovesical durante o esforço demonstrou que esse exame apresenta resultados superiores da uretrocistografia, com valores preditivos positivo e negativo de 0,95 e 0,80, respectivamente. Entre as vantagens da ultrassonografia em relação aos exames radiológicos, pode-se citar a não exposição das pacientes à radioatividade, a familiarização dos ginecologistas e urologistas com a técnica, o baixo custo, ser mais dinâmico e o fato de ser menos invasivo. Em estudo realizado com 103 pacientes pela Unifesp–EPM, comparou-se a eficácia para medir a mobilidade da junção uretrovesical entre a 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores ultrassonografia e o teste do cotonete. Esse estudo demonstrou que ambos os métodos são eficazes, porém, a ultrassonografia tem como vantagem a possibilidade de identificar também a topografia do colo vesical (SARTORI e cols,; 1999). O ultrassom pode ser feito por via transvaginal, transretal e transperineal. A avaliação uroginecológica, utilizam-se transdutores com frequência de 2,4 a 5 MHz para US por via abdominal, e de 5 a 7 MHz para a via transvaginal (BO; SHERBURN, 2005;). Em um estudo de revisão sistemática, sobre o papel do US perineal na avaliação da incontinência urinária de esforço e no prolapso dos órgãos pélvicos, concluiu-se que esse transformou-se em um procedimento indispensável para uroginecologia. Através dele é possível avaliar a mobilização e a localização dos órgãos pélvicos bem como as estruturas que os sustentam. Ressonância nuclear magnética (RM) A ressonância nuclear magnética por ser um exame com alta definição de imagem, e por permitir a diferenciação entre diferentes tecidos, passou a ser utilizada como método de imagem para estudo da anatomia pélvica. É considerado um método rápido, com aquisição das imagens, podendo ser bidimensionais ou tridimensionais (HSU; LEWICKY-GAUPP; DE LANCEY, 2008). Um estudo com 20 mulheres voluntárias assintomáticas, com idade entre 20 e 80 anos, foi realizado para determinar a capacidade de identificação das estruturas do assoalho pélvico, através da RNM (1,5 T) nas sequências turbo spin-eco ponderadas em T1 e T2 nos planos axial e sagital e sua concordância interobservador. O estudo demonstrou que a frequência de identificação das estruturas anatômicas varia de 50 a 100%, e que a ressonância magnética de pelve permite aproximar as principais estruturas musculoligamentares do assoalho pélvico na grande maioria dos indivíduos, com boa concordância interobservador (índice Kappa K = 1) (HSU; LEWICKY-GAUPP; DE LANCEY, 2008). Seseke et al., em 2006, realizaram um estudo com RNM, para visualizar o efeito das contrações voluntárias do assoalho pélvico nas estruturas abdominais, 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores com ênfase particular na determinação do relacionamento dinâmico entre a bexiga e os órgãos circunvizinhos. Os resultados mostram um movimento para cima da parede da bexiga de 3,8 +/- 1,3 milímetros, posterior de 7,0 +/- 2,8 milímetros, quando o movimento máximo na região glútea era 3,5 +/- 4,0 milímetros. Demonstrou-se, então, que o deslocamento anatômico da bexiga no sentido superior pode ser visualizado e determinado, e que a contração do assoalho pélvico (elevador do ânus) aumenta a sustentação da bexiga. Apesar de ser um excelente método de avaliação funcional do MAP, trata-se de um procedimento com custo elevado, ficando sua aplicação clínica reservada para casos mais complexos. ------------------ FIM DO MÓDULO II------------------
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