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CONTABILIDADE DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 3 Prof.ª Paula Pontes de Campos Rasera CONVERSA INICIAL (estrutura e objetivos da aula) O objetivo deste texto é apresentar a estrutura das Operações de Crédito e de Captação de Recursos, ou seja, operações ativas e operações passivas. Entre outros assuntos, apresentar a classificação das operações de crédito por nível de risco, suas alterações e respectivos impactos contábeis. Iniciaremos pelas operações de créditos concedidas, discorrendo sucessivamente sobre as operações de captação de recursos. Em seguida, versaremos sobre a classificação das operações de crédito por nível de risco, bem como as características da relação entre risco das operações de crédito e retorno esperado. Após, apresentaremos o tópico alterações do nível de risco do tomador e os impactos contábeis e, por fim, abordaremos as operações de câmbio. CONTEXTUALIZANDO As operações de crédito fomentam e otimizam a produção, a circulação e o consumo. Tais operações estão presentes tanto no financiamento de bens de produção e de consumo, como na distribuição destes e no consumo propriamente dito. O crédito fornece às empresas a possibilidade de obterem ganhos de escala de produção e de vendas, rentabilidade e competitividade nos preços praticados, além de alavancar a taxa de retorno sobre o capital próprio. Por meio das operações de crédito, é possível antecipar a compra de bens e consumo. Entre certos limites, tais operações são benéficas para as atividades de produção, comercialização de bens e funcionamento da economia como um todo. Os referidos ganhos de escala podem se converter, de forma combinada ou isoladamente, em maior rentabilidade para as empresas e em menores custos para os consumidores. O crédito, enquanto empréstimo de dinheiro, não é e tampouco produz riqueza diretamente, mas o faz de maneira indireta. A rigor, só a natureza e o trabalho humano sobre a operação de crédito é que possibilita a produção de riqueza. Nesse sentido, a riqueza tem valor social, coletivo e corresponde ao valor concebido para uso na manutenção da vida e do bem-estar dos indivíduos. O dinheiro por si só não compreende a riqueza, entretanto, para que se converta em tal, é preciso que resulte em bens de produção e de uso pela sua aplicação (Oliveira, Cajueiro & Tabak, 2018). 3 O significado de riqueza levou alguns indivíduos, ao longo da história, a considerarem as instituições financeiras como exploradores da sociedade, na medida em que o produto gerado por estas é apenas lucro financeiro aos acionistas. Entretanto, essa é uma visão restrita, porquanto as instituições financeiras desempenham um importante papel na prestação de serviços de captação e direcionamento de recursos (circulação ou intermediação de recursos financeiros). TEMA 1 – OPERAÇÕES DE CRÉDITO CONCEDIDAS As operações de concessão de crédito constituem o principal ativo dos bancos e fonte predominante de receita. É a aplicação primordial de uma instituição financeira (IF). Pode-se definir uma operação de crédito como um compromisso financeiro contraído entre o consumidor (tomador) e a instituição financeira (credor). Nesta operação, o credor disponibiliza ao tomador recursos financeiros que deverão ser restituídos em um determinado prazo com acréscimo de juros e encargos, sob condições previamente contratadas (Niyama & Gomes, 2012). Dessa maneira, entende-se que uma gestão eficiente da carteira de crédito é fundamental para a segurança e integridade de qualquer instituição financeira. Esta gestão consiste no conjunto de procedimentos em que riscos inerentes ao processo de concessão de crédito são administrados e controlados. Diversos elementos devem fazer parte do processo de gestão das operações de crédito concedidas pelas Instituições Financeiras, os quais complementam os princípios fundamentais do risco de crédito. São eles: a captação de negócios idôneos, a análise financeira abrangente, as técnicas adequadas de avaliação, as devidas práticas de documentação de créditos e controles internos confiáveis e consistentes. Em tais elementos, destacam-se a avaliação da cultura de crédito da instituição, os objetivos das operações de crédito, os limites de tolerância ao risco, os sistemas de informações gerenciais, a diversificação de risco, a análise de operações originadas de outros credores e a análise da relação risco e retorno da carteira (Filgueiras, 2013; Brito, Assaf Neto & Corrar, 2009). Conforme apresentado em nossa primeira aula sobre o Sistema Financeiro Nacional, a Lei 4.595/64 define as modalidades de operações que cada Instituição Financeira está autorizada a realizar, ao passo que o BCB 4 determina a nomenclatura contábil a ser empregada, de acordo com a destinação de recursos e a principal atividade do tomador de crédito. Do mesmo modo, o art. 4° da Lei 4.595/1964, atualizado pela Lei 13.506/2017, proíbe a concessão de crédito a determinadas pessoas relacionadas às instituições financeiras, tais como: I - seus controladores, pessoas físicas ou jurídicas, nos termos do art. 116 da Lei 6.404/76; II - seus diretores e membros de órgãos estatutários ou contratuais; III - o cônjuge, o companheiro e os parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau, das pessoas mencionadas nos incisos I e II deste parágrafo; IV - as pessoas físicas com participação societária qualificada em seu capital; e V - as pessoas jurídicas: (a) com participação qualificada em seu capital; (b) em cujo capital, direta ou indiretamente, haja participação societária qualificada; (c) nas quais haja controle operacional efetivo ou preponderância nas deliberações, independentemente da participação societária; e (d) que possuírem diretor ou membro de conselho de administração em comum. Exceção é feita para as operações realizadas em condições compatíveis com as de mercado, para as operações com empresas controladas pela União, no caso das instituições financeiras públicas federais, para as operações de crédito que tenham como contraparte instituição financeira integrante do mesmo conglomerado prudencial, para os depósitos interfinanceiros, para as obrigações assumidas entre partes relacionadas em decorrência de responsabilidade imposta a membros de compensação e demais participantes de câmaras ou prestadores de serviços de compensação e de liquidação autorizados pelo BCB ou pela CVM, e, para os demais casos autorizados pelo Conselho Monetário Nacional. 1.1 Classificação das Operações de Crédito De acordo com Filgueiras (2013), o item 1.6.1.1 do regulamento anexo à Circular n° 1.273/87 (COSIF) classifica as operações de crédito pelas diversas contas do plano de contas (títulos contábeis), considerando: a) a aplicação dada aos recursos, por tipo ou modalidade de operação; b) a atividade predominante do tomador do crédito. 5 O item 1.6.1.2 do COSIF apresenta as classificações das operações de crédito em três modalidades: a) Empréstimos – são as operações realizadas sem destinação específica ou vínculo à comprovação da aplicação dos recursos. Exemplos: CDC (Crédito Direto ao Consumidor); CDC consignação (para servidores, aposentados etc.); empréstimos pessoais; empréstimo para capital de giro. Por conseguinte, os empréstimos são operações de crédito nos quais os recursos emprestados são aplicados conforme decisão do tomador, dado que o recurso não está determinado a um fim específico. b) Financiamentos – são as operações realizadas com destinação específica, vinculadas à comprovaçãoda aplicação dos recursos. Exemplos: financiamentos de parques industriais, máquinas e equipamentos, bens de consumo durável, rurais e imobiliários, financiamento imobiliário. Diferentemente do empréstimo, o financiamento tem destinação específica. Ademais, esta modalidade exige a comprovação da aplicação dos recursos (registro do imóvel, alienação do imóvel ao Banco etc.), prestando-se este, inclusive, como lastro (garantia) da operação. c) Títulos Descontados – são as operações de desconto de títulos. Exemplos: operações de desconto de títulos (cheques, duplicatas e notas promissórias). Nesta modalidade, o cliente recebe antecipadamente valor correspondente às suas vendas a prazo. O valor recebido no presente pelo título com vencimento futuro corresponde ao seu valor total deduzidos as taxas de desconto, imposto de operação financeira (IOF) e encargos administrativos. O risco de inadimplência do devedor recai sobre o cedente da operação, ou seja, caso a IF não receber o crédito devido pelo título descontado este débito será arcado pelo cliente (cedente) que descontou o título. Em relação aos encargos, estes podem ser definidos em duas modalidades de operações de crédito: nas Operações Prefixadas, os encargos são previamente determinados, sem estar sujeitos a modificações durante o prazo de vigência contratual; e nas Operações Pós-fixadas, os encargos são conhecidos após a divulgação periódica da variação do indexador conforme a cláusula de atualização. Como Operações de Crédito Concedidas (Operações Ativas) citam-se: 6 Hot Money – empréstimo de curtíssimo prazo, normalmente por um ou dois dias. Devido ao seu custo elevado, não se estende por mais tempo. Contas Garantidas / Cheques Especiais – abertura de crédito na conta corrente das pessoas jurídicas ou físicas, com um limite de utilização. Crédito Rotativo – operações de crédito contratadas a partir de um limite estipulado em função da análise da capacidade de pagamento do cliente. Descontos de Títulos – operação de crédito em que recursos são antecipados aos clientes (cedentes) de acordo com as duplicatas de cobrança ou notas promissórias apresentadas nas IFs. Empréstimos para Capital de Giro – operações de crédito vinculadas a um contrato específico, no qual a IF estabelece prazo, taxas e, conforme situação, a vinculação de valores como garantia. Financiamentos para Capital Fixo – as IFs, normalmente, limitam a concessão de financiamentos ao curto prazo devido à escassez de aplicações a longo prazo e, assim, captar funding necessário para tais operações. “Vendor” – operação de financiamento de vendas baseada no princípio da cessão de crédito, na qual uma grande empresa poderá efetuar vendas a prazo a outras menores e receber o pagamento à vista. “Compror” – ocorre em vendas efetuadas por indústrias menores à grandes lojas comerciais. Neste caso, o fiador do contrato é o próprio comprador. Crédito Rural – é a disponibilização de recursos financeiros para a aplicação exclusiva em atividades agropecuárias. Repasses – são empréstimos ou financiamentos concedidos a mutuários a partir de recursos captados em outras instituições financeiras nacionais (oficiais) ou estrangeiras. Os repasses devem ser recolhidos pelas IFs junto aos financiadores nos vencimentos, independente da quitação por parte dos mutuários. Destacam-se como repasses: Recursos de Empréstimos e Repasses, e Repasses Interfinanceiros. TEMA 2 – OPERAÇÕES DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS Conforme argumenta Ferreira (2013), denominam-se operações passivas, as transações financeiras realizadas pelas IFs por meio da captação de recursos entre os agentes econômicos superavitários (poupadores). Os 7 clientes depositam seus recursos nas IFs e, em seguida, estes recursos são utilizados nas Operações Ativas em forma de funding. A obrigação da IF perante os poupadores consiste na devolução destes quando solicitado. Existem outras operações passivas, como pagamentos de salários, provisões para pagamentos, impostos, contribuições a recolher, porém estas não são utilizadas como mecanismos de captação. Esta seção se concentrará nas Operações Passivas realizadas pelas IFs com o propósito de captação, ou seja, em depósitos e outros instrumentos financeiros utilizados para captação de recursos. As IFs emprestam recursos aos agentes econômicos deficitários (tomadores) mediante a captação de recursos junto aos agentes econômicos superavitários (poupadores). Define-se como operação passiva devido à obrigação contraída em restituir os recursos captados no momento em que for solicitado pelos poupadores, por meio de saque ou resgate de aplicação. Nesse contexto, Filgueiras (2013) apresenta as seguintes operações passivas principais das Instituições Financeiras: Depósitos à vista (depósitos em conta corrente) – a captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica e distintiva dos bancos múltiplos e comerciais, o que os configura como instituições financeiras monetárias. Esta operação denomina-se captação a custo zero e, apesar de gratuita aos bancos, grande parte dos recursos são transferidos, por meio de recolhimentos compulsórios, ao BCB servindo de instrumento de política monetária. Como principais características dos depósitos à vista, cabe destacar a não remuneração, a permanência no banco por prazo indeterminado e livre movimentação, além de representar a principal fonte de captação de recursos das instituições financeiras. Conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, uma parte dos recursos destina-se ao crédito contingenciado, e o restante são os recursos livres para aplicações pelo banco. Os depósitos à vista podem ser efetuados em dinheiro, cheques e recibos de ordens de pagamento, ainda assim a IF efetuará medidas de controle para liberação de valores antes da sua compensação. Sobre depósitos à vista, não é permitido reconhecimento de juros. Depósitos a prazo – correspondem aos certificados de depósito bancário (CDB) e os recibos de depósitos bancário (RDB). Enquanto ao CDB permite-se transferir por endosso nominativo, possibilitando sua venda a qualquer momento, dentro do prazo contratado, ao RDB não é permitido sua transferência, 8 sua revenda e tampouco sua devolução ao Banco emissor. De modo excepcional pode ser cancelado, porém com perda do rendimento auferido até esta data. Poupança – produto exclusivo das sociedades de crédito imobiliário, das carteiras imobiliárias dos bancos múltiplos, das associações de poupança e empréstimo e das caixas econômicas. Investimento popular e tradicional do país por sua simplicidade de aplicação e resgate. Suas regras de funcionamento são estabelecidas pelo BCB, é uma aplicação segura com uma padronização de taxas e funcionamento em todas as IFs. As contas de poupança possuem isenção em impostos (IR e IOF) e são destinadas a pequenos depositantes e investidores financeiros. Sua criação tem como finalidade o fortalecimento da captação de poupança popular e, assim, fomentar o crédito habitacional para a população de baixa renda. Debêntures – títulos de dívida que constituem direito de crédito ao investidor, o qual terá direito a receber uma remuneração (juros) do emissor e, periodicamente, ou quando do vencimento do título, receberá de volta o valor investido (principal). Uma das formas mais antigas de captação de recursos por meio de títulos, porém a emissão de debêntures não é permitida às instituições financeiras, com exceção às sociedades de arrendamento mercantil. Os ágios obtidos e deságios concedidos medianteemissão de debêntures são registrados no próprio título representativo das obrigações e ajustam-se, mensalmente, em "pro rata temporis", conforme a fluência do prazo do respectivo título. Tais valores e registros devem ser evidenciados sob controles contábeis e extra contábeis em cada período mensal. Captações Externas – títulos emitidos pelos bancos através de instituições no exterior para funding em operações de empréstimos no Brasil. Repasses – ocorrem em circunstâncias de transferência total ou parcial do crédito de uma instituição a outra. Nesta operação a primeira IF que assumiu o crédito continua responsável pelo empréstimo e, portanto, por este risco é cobrado uma taxa de intermediação denominada Spread ou Del credere. 9 TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO POR NÍVEL DE RISCO A relação entre o risco das operações de crédito e o seu respectivo retorno demonstra comportamentos que refletem a existência de uma relação direta entre eles. Isto é, quanto maior for o risco do investimento, maior será o nível de retorno esperado. Desse modo, por meio da Resolução CMN n° 2.682/99, as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem classificar as operações de crédito, em ordem crescente de risco, nos seguintes níveis: nível AA; nível A; nível B; nível C; nível D; nível E; nível F; nível G e nível H (Assaf Neto, 2018). A responsabilidade pela classificação do nível de risco adequado da operação é da instituição financeira detentora do crédito, devendo ser realizada com fundamentos em critérios consistentes e verificáveis. Conforme indicado na Figura 1, o grau de risco AA é menor que o risco A, que é menor que o risco B, que é menor que o risco C, e assim por diante, de maneira que o grau menor de risco é AA e o maior é H. Os parâmetros empregados para a classificação das operações de crédito são informações que sustentam a metodologia de classificação de operações de crédito da instituição financeira, ou seja, são os 5Cs do crédito: caráter, condições, capacidade, capital e colateral. Tais informações são internas e externas. Como exemplo de informações externas citam-se Serasa, SCR e CCF; e como informações internas as séries históricas do comportamento da conta corrente do cliente na Instituição Financeira (Matt & Andrade, 2019). Segundo a Resolução CMN n° 2.682/1999 e COSIF 1.6.2, a classificação das operações por nível de risco deve contemplar os seguintes aspectos: a) Em relação ao devedor e seus garantidores: I - Situação econômico-financeira; II - Grau de endividamento; Figura 1 – Nível de Risco 10 III - Capacidade de geração de resultados; IV - Fluxo de caixa; V - Administração e qualidade de controles; VI - Pontualidade e atrasos nos pagamentos; VII - Contingências; VIII - Setor de atividade econômica; e IX - Limite de crédito. Percebe-se assim, um conjunto de informações necessárias referente ao cliente e eventual fiador que a IF deve avaliar na classificação da operação de crédito. Alguns exemplos de informações a considerar são a renda do cliente e de seu garantidor, respectivos endividamentos no sistema financeiro; histórico de pagamentos e recebimentos; local de trabalho se pessoa física ou ramo de atuação caso seja pessoa jurídica. b) Em relação à operação: I – Natureza e finalidade da transação; Nesta circunstância, a IF examina a adequação da modalidade de operação em relação à finalidade, como exemplos citam-se o financiamento para compra de imóvel ou para capital de giro ou crédito sem destinação específica. II – Características das garantias, particularmente quanto à suficiência e liquidez; Nesta condição, a IF avalia se a garantia é suficiente para cobrir o valor da operação e seu tempo de conversão em dinheiro; III – Valor (idem à condição acima). De modo geral, a IF deve considerar o maior grau de risco para classificação da operação de crédito do cliente conforme grupo econômico pertencente. No entanto, existem exceções quanto às características da operação como a natureza e finalidade, garantia e valor. TEMA 4 – ALTERAÇÕES DO NÍVEL DE RISCO DO TOMADOR E OS IMPACTOS CONTÁBEIS As classificações das operações de crédito por nível de risco devem ser revisadas mensalmente, por ocasião dos balancetes e balanços, em função de atraso verificado no pagamento de parcela de principal ou de encargos, devendo ser observado, no mínimo: 11 Atraso Risco nível entre 15 e 30 dias B entre 31 e 60 dias C entre 61 e 90 dias D entre 91 e 120 dias E entre 121 e 150 dias F entre 151 e 180 dias G superior a 180 dias H Na ocasião da revisão mensal, a reclassificação da operação para categoria de menor risco, em função da redução do atraso, está limitada ao nível estabelecido na classificação anterior. Independentemente da classificação inicial, a operação deve ser classificada pelo atraso. Havendo atraso no pagamento da parcela, deve prevalecer a classificação com o pior risco. Tomando como exemplo, um Banco Y efetuou inicialmente uma operação de crédito pessoal ao João, classificando-a no grau de risco C. Ao avaliar a primeira revisão mensal, o nível de risco permaneceu C, pois nenhum atraso ocorreu nos pagamentos devidos. No mês seguinte, apesar do atraso de 16 dias na segunda revisão mensal, o nível de risco da operação ainda permaneceu C. No mês sucessivo, ocorre um atraso de 46 dias e o nível de risco continua C para a operação. Na sequência mensal, o atraso computado é de 76 dias. De acordo com a norma, o nível de risco é alterado ao pior, nível D, em função do atraso. Nesse contexto, ocorrerá revisão semestral para operações de um mesmo cliente ou grupo econômico cujo montante seja superior a 5% (cinco por cento) do patrimônio líquido ajustado. Ao passo que a revisão anual será efetuada em todas as situações, exceto para as operações de crédito contratadas com cliente cuja responsabilidade total seja de valor inferior a 50 mil reais, as quais podem ser classificadas mediante adoção de modelo interno de avaliação ou em função dos atrasos acima elencados. Ademais, o BCB pode determinar a reclassificação dos níveis de risco, caso a revisão efetuada pela instituição financeira não esteja de acordo com a normas estabelecidas. Em relação às operações com prazo superior a 36 meses aceita-se a contagem em dobro dos prazos de atraso. Assim, em operações de crédito 12 concedidas por uma extensão maior que 36 parcelas mensais, consideram-se prazos dobrados. Portanto, essas operações são mitigadas em suas classificações pelo atraso. Cita-se como exemplo uma operação de financiamento imobiliário de 120 meses (10 anos), contratada há 12 meses, inicialmente classificada no nível de risco A. Para o vencimento da operação faltam ainda 9 anos (108 meses). Computa-se o atraso de 40 dias. Dado que a operação ainda possui um prazo superior a 36 meses (108 meses), a contagem em dobro dos prazos de atraso é aceita. Desse modo, esta operação com atraso de 40 dias (faixa entre 31 e 60 dias) será reclassificada ao nível de risco B. Cabe ressaltar que o não atendimento das disposições acima mencionadas em função do atraso inerentes à reclassificação de operações de crédito resulta em reclassificação ao risco nível H, independentemente de distintas medidas administrativas que o BCB possa tomar em relação à IF. A constituição da Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD) deve ser realizada mensalmente para fazer face aos créditos de liquidação duvidosa, em valores nãoinferiores ao somatório decorrente da aplicação dos percentuais indicados a seguir. Destaca-se que tais percentuais são mínimos. Logo, para uma operação com atraso de 18 dias, a IF poderá constituir provisão entre 1% e 3%, ao passo que o atraso 40 dias, comportará uma provisão entre 3% e 10%. Vale salientar que é indispensável respeitar a determinação da normatização de que esses percentuais são mínimos. Nível de Risco Atraso Provisão AA ___ ___ A ___ 0,5% B entre 15 e 30 dias 1% C entre 31 e 60 dias 3% D entre 61 e 90 dias 10% E entre 91 e 120 dias 30% F entre 121 e 150 dias 50% G entre 151 e 180 dias 70% H superior a 180 dias 100% 13 TEMA 5 – OPERAÇÕES DE CÂMBIO Câmbio é a operação de troca de moeda de um país pela moeda de outro país. Ao viajarmos para o exterior necessitamos de moeda estrangeira do país de destino, assim o agente autorizado pelo BCB a operar no mercado de câmbio recebe a nossa moeda nacional e nos entrega (vende) a moeda estrangeira. Ao converter moeda estrangeira em reais, o agente autorizado a operar no mercado de câmbio compra a moeda estrangeira e entregando os reais correspondentes (BCB, 2019). No Brasil, o mercado de câmbio é o ambiente onde se realizam as operações de câmbio entre os agentes autorizados pelo BCB e entre estes e seus clientes, diretamente ou por meio de seus correspondentes. O mercado de câmbio é regulamentado e fiscalizado pelo BCB, envolvendo as operações de compra e de venda de moeda estrangeira, as operações em moeda nacional entre residentes, domiciliados ou com sede no país e residentes, domiciliados ou com sede no exterior e as operações com ouro-instrumento cambial, realizadas por intermédio das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo BCB, diretamente ou por meio de seus correspondentes. Igualmente de incluem no mercado de câmbio brasileiro as operações relativas aos recebimentos, pagamentos e transferências do exterior e ao exterior mediante utilização de cartões de uso internacional, tal como transferências financeiras postais internacionais. Contudo, são considerados ilegais os negócios realizados no mercado paralelo, bem como a posse de moeda estrangeira oriunda de atividades ilícitas. Qualquer pessoa física ou jurídica pode comprar e vender moeda estrangeira, desde que a outra parte na operação de câmbio seja agente autorizado pelo BCB a operar no mercado de câmbio, observando a regulamentação em vigência e identificando-se em todas as operações. Até o limite de 3 mil dólares não há necessidade de documentação, porém a identificação do cliente é sempre exigida (BCB/Cartilha de Câmbio, 2018). No mercado de câmbio, podem operar sob a autorização do BCB, os bancos múltiplos, os bancos comerciais, as caixas econômicas, os bancos de investimento, os bancos de desenvolvimento, os bancos de câmbio, as agências de fomento, as sociedades de crédito, financiamento e investimento, as sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, as sociedades 14 distribuidoras de títulos e valores mobiliários e as sociedades corretoras de câmbio (BCB, 2019). Tais agentes podem realizar as seguintes operações: i. operações de câmbio com clientes para liquidação pronta de até US$100 mil ou o seu equivalente em outras moedas; e ii. operações no mercado interbancário, arbitragens no País e, por meio de banco autorizado a operar no mercado de câmbio, arbitragem com o exterior. Atualmente, o BCB não se concede mais autorização às agências de turismo e meios de hospedagem de turismo, permanecendo somente aquelas que solicitaram ao BCB homologação para constituir instituição autorizada a operar em câmbio. Enquanto os pedidos ainda estão sendo analisados pelo BCB, as agências de turismo ainda autorizadas podem continuar a realizar operações de compra e venda de moeda estrangeira. Nesse cenário, as instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de câmbio podem contratar correspondentes para a realização das seguintes operações de câmbio, sendo de inteira responsabilidade da instituição contratante as operações executadas pelos correspondentes: a) execução ativa ou passiva de ordem de pagamento relativa à transferência unilateral (manutenção de residentes, transferência de patrimônio, prêmios em eventos culturais e esportivos) do ou ao exterior, limitada ao valor equivalente a 3 mil dólares americanos, por operação; b) compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheque ou cheque de viagem, bem como carga de moeda estrangeira em cartão pré-pago, limitada ao valor equivalente a 3 mil dólares americanos, por operação; c) recepção e encaminhamento de propostas de operações de câmbio. Os Correios (ECT – Empresa de Correios e Telégrafos) estão autorizados pelo BCB a realizar operações com vales postais internacionais, emissivos e receptivos, para liquidação pronta, não sujeitos ou vinculados a registro no BCB até o equivalente a US$ 50 mil, por operação. Podem ser realizados no mercado de câmbio quaisquer pagamentos ou recebimentos em moeda estrangeira, inclusive as transferências para fins de constituição de disponibilidades no exterior e seu retorno ao País e aplicações no mercado financeiro. As pessoas físicas e as pessoas jurídicas podem comprar e vender moeda estrangeira ou realizar transferências internacionais em reais, 15 de qualquer natureza, sem limitação de valor, observada a legalidade da transação, tendo como base a fundamentação econômica e as responsabilidades definidas na respectiva documentação (Circular n° 3.691/2013). Embora do ponto de vista cambial não exista restrição para a movimentação de recursos, os agentes do mercado e seus clientes devem observar eventuais restrições legais ou regulamentares existentes para determinados tipos de operação. Como exemplo, as transferências financeiras relativas a aplicações no exterior por entidades de previdência complementar devem observar a regulamentação específica. Os bancos não são obrigados a vender moeda em espécie. Normalmente, os agentes autorizados a operar em câmbio, por questão de administração de caixa e estratégia operacional, procuram operar com o mínimo possível de moeda em espécie (BCB, 2019). As operações cambiais também são operacionalizadas no mercado primário e no mercado secundário. A operação de mercado primário implica o recebimento ou a entrega de moeda estrangeira por parte de clientes no País, correspondendo a fluxo de entrada ou de saída da moeda estrangeira do País. Esse é o caso das operações realizadas com exportadores, importadores, viajantes, etc. Já no mercado secundário, também denominado mercado interbancário quando os negócios são realizados entre bancos, a moeda estrangeira é negociada entre as instituições integrantes do sistema financeiro e simplesmente migra do ativo de uma instituição autorizada a operar no mercado de câmbio para o de outra, igualmente autorizada, não havendo fluxo de entrada ou de saída da moeda estrangeira do País. A posição de câmbio corresponde ao saldo das operações cambiais (compra e venda de moeda estrangeira, de títulos e documentos que as representem e de ouro-instrumento cambial) prontas ou para liquidação futura, realizadas pelas instituições autorizadas pelo BCB a operar no mercado de câmbio. Assim, a posição de câmbio comprada é o saldo em uma instituição que tenha efetuado compras de moeda estrangeira, enquanto a posição de câmbio vendida é o saldo em vendas de moeda estrangeira. Nesta sequência, entende-se como operação de câmbio pronta (compra ou venda), a operação a ser liquidadaem até dois dias úteis da data de 16 contratação e como operação de câmbio para liquidação futura (compra ou venda), a operação a ser liquidada em prazo maior que dois dias. A formalização da operação cambial ocorre por meio de contrato de câmbio. Neste documento, as condições e características estão estabelecidas para a realização da operação de câmbio. As informações presentes neste contrato referem-se à moeda estrangeira (compra ou venda), à taxa contratada, ao valor correspondente em moeda nacional e aos nomes do comprador e do vendedor. Tais contratos de câmbio são registrados pelo agentes autorizado no Sistema Câmbio. A política cambial, executada pelo BCB e definida pelo CMN, trata-se do conjunto de ações governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos. O BCB regulamenta o mercado de câmbio e autoriza as instituições que nele operam, como também fiscaliza o referido mercado, podendo punir dirigentes e instituições mediante multas, suspensões e outras sanções previstas em lei. Ademais, em caso de elevadas oscilações da taxa de câmbio, o BCB pode atuar diretamente no mercado, comprando e vendendo moeda estrangeira de forma ocasional e limitada. A política cambial adota o regime de livre flutuação do câmbio, assim, com o propósito de suavizar os reflexos dos choques cambiais, utiliza swaps cambiais e swaps cambiais reversos (Assaf Neto, 2018). Compete à Diretoria Colegiada do BCB, reunida no Comitê de Governança, Riscos e Controles (GRC) estabelecer os objetivos estratégicos e o perfil de risco e de retorno das reservas internacionais do país. Seguindo essas diretrizes, busca-se uma alocação estratégica que possua características anticíclicas e que reduza a exposição do país a oscilações cambiais. TROCANDO IDEIAS Estamos chegando ao final desta aula. Que tal trocarmos ideias com os colegas sobre os principais aspectos tratados? Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos sobre os tópicos de operações de crédito, com o intuito de diferenciar a operação de captação de recursos. Reflita: por que dizemos que os bancos comerciais criam 17 moeda? Para responder a esse questionamento, inclua sua resposta na plataforma AVA, com base nos temas estudados desta aula. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. NA PRÁTICA Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver habilidades. O tema de discussão da atividade prática são as Operações de Câmbio, o qual discutimos no Tema 5 desta aula. Com base no texto referente ao tema mencionado, vamos exercitar na prática uma questão sobre as operações de câmbio. a) Explique a diferença entre o regime de câmbio flutuante e o regime de câmbio fixo. FINALIZANDO Esta aula nos auxiliou a adentrar ao mundo das operações de crédito concedidas e captações de recursos, compreendendo a análise de risco em tais operações e consequentemente a respectiva classificação. Ainda, discutimos alguns tópicos fundamentais para a classificação das operações de crédito por nível de risco, bem como as características da relação entre risco das operações de crédito e retorno esperado. Assim, nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentadas as características e conceitos da cessão de crédito tal como as modalidades e transações inerentes à captação de recursos. Tais operações são subsidiadas pela classificação das operações de crédito e suas alterações, conforme exposto nos temas 3 e 4, para efetivação do controle necessário à gestão de risco em cada operação financeira assumida pelas Instituições Financeiras. No último tema, o enfoque esteve nas operações de câmbio, expondo suas regulamentações e operacionalizações. 18 REFERÊNCIAS Assaf Neto, A. (2018). Mercado financeiro. Atlas. Banco Central do Brasil. (2019). Sistema Financeiro Nacional. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/. Acesso em 27 ago. 2019. Brito, G. A. S., Neto, A. A., & Corrar, L. J. (2009). Sistema de classificação de risco de crédito: uma aplicação a companhias abertas no Brasil. Revista Contabilidade & Finanças-USP, 20(51), 28-43. Cartilha de Câmbio (2018). Área de Regulação Departamento de Regulação Prudencial e Cambial Disponível em: https://www.bcb.gov.br/rex/cartilha/cartilha_cambio_envio_recebimento_p equeno_valores.pdf. Acesso em 27 ago. 2019 Ferreira, R. J. (2013). Contabilidade de instituições financeiras: teoria e questões comentadas. Ferreira. Filgueiras, C. (2013). Manual De Contabilidade Bancária. Elsevier Brasil. Matt, R. T., & Andrade, L. B. D. (2019). Estimativa do risco de concentração individual baseada em modelos de simulação de perdas em operações de crédito. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Niyama, J. K., & Gomes, A. L. O. (2012). Contabilidade de instituições financeiras. Atlas. Oliveira, G. S. E., Cajueiro, D. O., & Tabak, B. (2018). Concessão de crédito durante e após a crise financeira de 2008 no Brasil. Houve heterogeneidade nas operações de crédito?. In Anais do XLIV Encontro Nacional de Economia. ANPEC – Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia. 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