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Direito Ambiental Responsabilidade Ambiental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Solange Aparecida Guimarães Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lidia de Sá 5 • Introdução • Responsabilidade Civil e Dano Ambiental • Responsabilidade Objetiva Nesta Unidade, vamos estudar a responsabilidade ambiental em suas três esferas: civil, penal e administrativa. A Constituição Federal prevê, no artigo 225, que os danos ambientais devem ser integralmente ressarcidos e que os responsáveis pelos danos responderão administrativa, penal e civilmente, e ainda, de forma solidária. Cada uma das esferas de responsabilização tem as suas peculiaridades, e é disso que trataremos, além das questões processuais em cada situação. As atividades da unidade são compostas pela leitura do material teórico e complementar, pela atividade de aprofundamento, que consiste na elaboração de um texto sobre responsabilidade penal e administrativa, e pela atividade de sistematização do conhecimento, composta por seis questões de autocorreção. · O objetivo desta unidade é estudar e conhecer melhor a responsabilidade ambiental nas esferas civil, penal e administrativa. Também veremos a importância da legislação pertinente e a ação do poder público para dar efetividade à legislação vigente sobre as responsabilidades ambientais. É uma unidade que requer muita atenção, pois, novamente, vamos analisar muitas leis. Responsabilidade Ambiental • Responsabilidade do Particular • Ação de Responsabilidade Civil Ambiental • Responsabilidade Administrativa • Responsabilidade Criminal por Danos Ambientais • Termo de Compromisso e Termo de Ajustamento de Conduta 6 Unidade: Responsabilidade Ambiental Utilização de energias limpas: um caminho para atingir a responsabilidade socioambiental Uma forma de aplicar a sustentabilidade é a utilização de energias limpas, como a eólica. Essa utilização também evita os riscos de danos ambientais, o que acarreta, para empresas e pessoas físicas, a responsabilidade civil, penal e administrativa. A energia eólica é produzida a partir do movimento dos ventos. Crimes Ambientais Existem muitos tipos de crimes ambientais, os quais devem ser punidos para evitar novas ocorrências e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. Veja estas imagens que representam crimes ambientais: – Poluição de rios e nascentes e descarte de resíduos fora das especificações legais. Contextualização Atenção É imprescindível a leitura de todas as leis mencionadas no texto! Essa leitura faz parte da apreensão do conhecimento sobre a matéria. Não se esqueça de acompanhar os prazos para entrega das atividades. Programe-se para a leitura e anote suas eventuais dúvidas para levá-las ao professor tutor. 7 Isso prejudica não apenas o meio ambiente, mas também as pessoas, porque contamina a água e os peixes. Fonte: Taylor and Ayumi - Flickr.com. Fonte: sxc.hu. – Queimadas em florestas e matas: o desmatamento é uma das maiores causas de poluição no Brasil. Fonte: Vinoth Chandar - Flickr.com. - Crueldade contra animais e caça predatória. Ambos são crimes graves contra a fauna. Na esfera administrativa, o maior desestímulo à poluição ambiental é financeiro: as multas aplicadas para as infrações administrativas têm sido bastante elevadas, apesar de muitos, ainda, considerarem insuficientes. 8 Unidade: Responsabilidade Ambiental Fonte: Rogério Santana - Imprensa RJ O caso da Empresa Chevron, que explora petróleo na Bacia de Campos, RJ, ficou bastante conhecido. Houve um grande vazamento de óleo, como se vê na imagem acima, acarretando grandes danos ambientais para a flora e a fauna marinha e, é claro, para as águas. A Chevron foi multada em R$50.000.000,00 pelo IBAMA. Recentemente, a empresa celebrou com o Ministério Público um Termo de Ajustamento de conduta. Evidentemente que o ideal mesmo seria não poluir, não desmatar, não ferir, não degradar. Mas as políticas que impõem reparações para os danos causados já são um bom começo. Fonte: http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=5&evento=1 9 O art. 225 da CF, em seu § 3º, estabelece a responsabilização do poluidor (pessoa física ou jurídica de direito público ou privado) na esfera civil, administrativa e penal, independentemente da obrigação de reparar os danos. Assim, juridicamente, a infração ambiental pode ter repercussão em três esferas distintas e independentes, embora uma possa, a princípio, repercutir em outra. A apuração das três modalidades de responsabilidade não é realizada pelo mesmo órgão, tem consequências jurídicas diversas e está submetida a regime jurídico específico, embora existam alguns pontos em comum. Uma vez constatada a existência de uma infração às normas ambientais, deverá ter início uma série de procedimentos de ordem legal e administrativa, os quais, invariavelmente, materializam-se em atos ligados em um rito procedimental. Como a Constituição Federal assegura ampla defesa e contraditório, tanto no processo administrativo como no judicial, já se verifica que a observância desses aspectos é fundamental em qualquer das hipóteses. Da mesma forma, a apuração da responsabilidade em uma esfera pode ter reflexos em outra eventualmente. É o caso da condenação criminal, que torna certa a obrigação de reparar o dano. A natureza difusa dos direitos atingida pelo dano ambiental não é impedimento para a aplicação desta regra. 1.1. O DANO NO DIREITO PRIVADO Juridicamente, a palavra dano é utilizada no sentido de prejuízo diante de outra pessoa que venha a causar uma diminuição patrimonial. No âmbito civil, o dano patrimonial ou extrapatrimonial decorre de conduta ilícita do agente; presume-se, assim, a transgressão da esfera jurídica de outrem. O ato ilícito que dá origem ao dano no direito privado consiste em qualquer manifestação de vontade (ou omissão) contrária ao direito, ao ordenamento jurídico; dessa forma, a vítima deverá provar quem é o autor da conduta ou da omissão, o nexo causal, o prejuízo, seja moral ou material, a culpa (negligência, imprudência e imperícia), ou, se for o caso, o dolo. Existe, assim, a responsabilidade subjetiva, em que a vítima demonstra a culpa ou o dolo do agente causador do prejuízo. Essa responsabilidade fundamenta-se, basicamente, nos arts. 186 e 927 do CC: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Introdução 1. Responsabilidade Civil e Dano Ambiental 10 Unidade: Responsabilidade Ambiental Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. A consequência jurídica do ato ilícito, praticado por alguém, é a reparação do dano à vítima. Porém, pelo que se lê no parágrafo único do art. 927, nos casos especificados em lei, a reparação poderá ocorrer sem que haja culpa do autor do dano; assim, fica adotada a responsabilidade objetiva no campo do Direito Privado. O mesmo dispositivo do Código Civil faz referência à responsabilidade civil sem culpa, quando a atividade desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para o direito de terceiros. É a Teoria do Risco, em que a atividade, mesmo lícita, pode dar origem à reparação. 1.2 DANO RELATIVO AO MEIO AMBIENTE O dano ambiental ou ecológico é, em princípio, um dano sofrido pelo conjunto do meio natural ou por um de seus componentes, levado em conta como patrimônio coletivoindependente de suas repercussões sobre pessoas e bens. Nem sempre a conduta lesiva acarreta danos às pessoas e aos seus bens; é possível que haja apenas dano ecológico, causado na natureza, sem repercutir, de forma aparente e imediata, nas atividades humanas. Um exemplo pode ser o caso de derramamento de óleo em alto-mar, sem que tenha havido, num primeiro momento, danos a pessoas ou bens. Mas o dano ao meio ambiente sempre atingirá o homem, ainda que a longo prazo, direta ou indiretamente. Para que haja dano ambiental, é essencial a ação ou omissão perigosa para o ambiente. Os pressupostos da responsabilidade ambiental, que é objetiva, como veremos, estão assentados numa ação ou omissão perigosa para o ambiente, na ocorrência de uma lesão em pessoas, bens ou de forma significativa ao ambiente e no nexo de causalidade entre a ação e o dano. Diversas formas de lesão podem ensejar a responsabilidade civil do infrator. O fundamento legal da responsabilidade civil ambiental está no art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, e no art. 225, § 3º, da CF. A responsabilidade no âmbito do Direito Ambiental é diferente daquela fixada no Direito Privado. Enquanto no Direito Privado a responsabilidade é subjetiva, no Direito Ambiental ela é objetiva. A Constituição Federal e o sistema normativo ambiental estabelecem as regras para a fixação da responsabilidade ambiental. 2. Responsabilidade Objetiva 11 Diz o art. 225, § 3º, da CF: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. A Lei nº 6.938/1981 já havia previsto regras para proteger o ambiente, inclusive a responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente, ou seja, não há a necessidade de verificação da culpa pelo autor do dano: Art. 14. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente (grifos nossos). A responsabilidade ambiental estende-se a qualquer pessoa, seja física ou jurídica. Como no dano ao meio ambiente aplica-se a teoria da responsabilidade objetiva, em que não se indaga a culpa ou dolo do autor do fato, há inversão do ônus da prova. O que é isso? A inversão do ônus da prova consiste em deixar a prova de um determinado fato sob a responsabilidade do outro. Como regra, a prova de um fato cabe a quem alega esse fato. Mas em casos de fragilidade de uma das partes, em situações previstas em lei, essa inversão do ônus da prova pode ser deferida pelo juiz. No caso dos danos ambientais, ocorre essa inversão, cabendo ao autor do dano ambiental provar que não foi o agente causador, ou que os fatos ocorreram por motivos de força maior ou outras razões previstas em lei. 2.1 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA A responsabilidade civil por danos ao ambiente é objetiva e solidária de todos os que concorreram para o resultado, ressalvada, entre eles, a via regressiva. A interpretação do § 3º do art. 225 da CF permite esse entendimento. A responsabilidade é de todos os infratores, ou seja, de todos os que cometeram danos ao meio ambiente. Como o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, é uma conclusão lógica a responsabilização solidária. As pessoas que, de algum modo, concorrerem para o resultado lesivo ao ambiente respondem solidariamente pelos prejuízos causados. 12 Unidade: Responsabilidade Ambiental Com relação à responsabilidade civil do Estado, dispõe o art. 37, § 6º, da CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. O jurista Hely Lopes Meirelles1 ensina três teorias sobre a responsabilidade civil da administração: a) A teoria da culpa administrativa, em que se leva em conta a falta de serviço, nas modalidades inexistência, mau funcionamento ou retardamento do serviço; b) A teoria do risco administrativo, perante a qual surge a obrigação de indenizar o dano pela existência simples do fato do serviço; c) A teoria do risco integral, em que a administração fica obrigada a indenizar todo e qualquer dano suportado por terceiro, ainda que resultante de culpa ou dolo da vítima. O Brasil adota a teoria do risco integral, fato é que se fundamenta no risco que a atividade pública gera para a sociedade, podendo acarretar danos a alguns em detrimento de outros. Pelo princípio da igualdade, todos devem suportar o ônus, por intermédio do Estado, que é mantido pelo pagamento de tributos. Acolhe-se a responsabilidade objetiva do Estado: não se discute a culpa ou dolo do agente causador do dano; basta a existência do nexo de causalidade entre o ato praticado e o dano. 3.1 PRESTADORES DE SERVIÇOS PÚBLICOS O art. 37, § 6º, da CF determina a responsabilidade objetiva também de pessoas jurídicas privadas que prestem serviços públicos, como as concessionárias e permissionárias (art. 175 da CF). Assim, não apenas o Estado, mas também entidades privadas, prestadoras de serviços públicos respondem objetivamente pelos danos ambientais por atos comissivos. A esses entes, cuja atividade é regida por normas de Direito Público, aplica-se tudo o que já foi dito sobre a responsabilidade civil do Estado. 1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. 3. Responsabilidade do Estado 13 Quanto às pessoas de Direito Privado, mais especificamente as estatais que atuam na atividade econômica, a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente também é objetiva, porém o fundamento não é o art. 37 da CF, mas outras normas aplicáveis aos particulares, como se verá. 3.2 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ESTADO COM O PARTICULAR A responsabilidade civil é solidária de todos os que causarem dano ambiental. Mas o Estado responde, solidariamente, ao particular nas situações em que tenha ocorrido a culpa por omissão. Isso vem ao encontro do princípio da responsabilidade do Estado nos casos de omissão do agente público: se o agente falhar na vigilância ou fiscalização do serviço, haverá responsabilidade subjetiva do Estado. Ou seja, para que haja a responsabilidade solidária do estado com o particular, é preciso que tenha havido a culpa in vigilando ou in omittendo da administração. Havendo, portanto, mais de um responsável pelos prejuízos ao meio ambiente, todos serão solidários, podendo a reparação ser feita por qualquer deles, com direito de regresso contra os demais. O fundamento jurídico da responsabilidade dos particulares está baseado no art. 225, § 3º, da CF e no art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981. Toda e qualquer pessoa, pública ou privada, física ou jurídica, responde pelos danos causados ao meio ambiente. Assim, não importase o particular afirma ter cumprido determinações legais e regulamentares para eximir-se de responder pelos danos causados. A responsabilidade ocorre também por comportamentos lícitos do particular. Assim, a responsabilidade civil ambiental do particular também é objetiva, ainda que devidamente licenciado pelo Poder Público; e ainda que o ato lesivo tenha sido lícito. Deve haver apenas a prova do dano e a relação de causalidade entre o particular e o ato praticado. 4.1 PESSOA JURÍDICA A Constituição Federal faz previsão da responsabilidade das pessoas jurídicas: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. (...) § 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. 4. Responsabilidade do Particular 14 Unidade: Responsabilidade Ambiental O art. 170, VI, também da CF estabelece a defesa do meio ambiente como um dos princípios da atividade econômica, o que coloca a violação ao meio ambiente no âmbito do art. 173: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Já o art. 3º da Lei nº 9.605/1998 tem a seguinte redação: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. A Lei nº 9.605/1998 refere-se às sanções penais e administrativas em virtude de condutas lesivas ao meio ambiente. Apesar dessa peculiaridade, o art. 3º menciona também a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente. O CC, no art. 932, III, estabelece a responsabilidade civil do empregador ou comitente por atos de seus empregados, serviçais e prepostos no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele. Trata-se de responsabilidade objetiva, ou seja, a culpa do autor do dano acarretará na responsabilidade sob cuja direção se encontrar, não importando se houve ou não infração ao dever de vigilância. A ação de responsabilidade civil por dano ambiental, como já dissemos, é baseada na responsabilidade objetiva e na teoria do risco integral. Basta que se prove o nexo de causalidade entre o ato do agente e o dano provocado ao meio ambiente, sendo irrelevante a aferição da culpa do poluidor ou da licitude ou ilicitude do ato. O objetivo dessa ação é a recomposição do dano ou a plena recuperação do meio ambiente colocado em situação de vulnerabilidade ou já lesado, por meio da interrupção do fato que lhe deu causa, nos termos do art. 225, § 2º, da CF, e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981. 5. Ação de Responsabilidade Civil Ambiental 15 Se a recomposição for inviável, como normalmente acontece quando se trata de bem ambiental, em função da complexidade que envolve esse bem, é possível pleitear a indenização por dano moral e patrimonial, com o objetivo de satisfazer a vítima e evitar que comportamentos futuros venham prejudicar novamente o meio ambiente. Como já mencionamos em tópicos anteriores, é possível que o Poder Público figure como responsável solidário nesse processo, até mesmo por omissão, juntamente com todos os demais causadores do dano, que responderão pela integralidade da indenização, mesmo que não tenham provocado o dano por inteiro. É irrelevante o percentual de participação no dano de cada poluidor, de acordo com as disposições sobre a solidariedade dispostas no art. 942 do CC. O Ministério Público da União e o dos Estados têm legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e também criminal, como veremos em tópico próprio. A modalidade de responsabilidade objetiva é a do risco integral, ou seja, as causas excludentes de responsabilidade em geral, como o caso fortuito e a força maior, não são levadas em consideração quando o caso é de responsabilidade em matéria ambiental. Como já dissemos, as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções administrativas.2 Sanções administrativas são as penalidades impostas por órgãos vinculados de forma direta ou indireta aos entes estatais (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), nos limites de competência estabelecida em lei, com o objetivo de impor regras de conduta aos que também são ligados à Administração, no âmbito do Estado Democrático de Direito. As sanções administrativas estão ligadas ao chamado Poder de Polícia3 enquanto atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de um ato ou sua abstenção em função de interesse público vinculado à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes etc. O poder de polícia em matéria ambiental tem por objetivo a defesa de bens ambientais para as presentes e futuras gerações, conforme estabelecido na Constituição Federal. A responsabilidade administrativa está prevista no art. 225, § 3º, da CF e está regulamentada pela Lei nº 9.605/1998, com previsão das infrações administrativas ambientais e as condutas lesivas ao meio ambiente discriminadas no Decreto nº 6.514/2008, bem como na Instrução Normativa nº 14, de 15 de maio de 2009 (com alterações dadas pela IN nº 27, de 08 de outubro de 2009) editada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. 2 Art. 225, § 3º, da CF. 3 O exercício do poder de polícia ambiental, na definição de Paulo Affonso Leme Machado, corresponde à atividade da administração pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização, permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza. O conceito legal de poder de polícia é previsto no art. 78 do CTN, como atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão do interesse público concernente aos direitos individuais e coletivos. A acepção é ampla, de forma a abarcar vários instrumentos da política ambiental, como o licenciamento, a atividade de fiscalização, monitoramento e realização de auditorias ambientais. 6. Responsabilidade Administrativa 16 Unidade: Responsabilidade Ambiental Constitui infrações administrativas ambientais toda ação ou omissão que viole regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente; as mencionadas infrações são apuradas por meio de processo administrativo próprio, assegurados o direito de ampla defesa e o contraditório. A regulamentação da Lei nº 9.605/1998, com relação às infrações e sanções administrativas, foi reformulada pelo Decreto nº 6.514/2008, que revogou os Decretos nos 3.179/1999, 3.919/2001,4.592/2003 e 5.523/2005. Além disso, o Decreto nº 6.514/2008 foi alterado pelo Decreto nº 6.686/2008. O Decreto nº 6.514/2008, em seu art. 2º, define infração administrativa como toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. A multa administrativa é imposta pelo agente julgador competente e a multa por ilícito penal na esfera ambiental é fixada pelo juiz. A lei utiliza a expressão autoridade competente para designar o funcionário responsável pelo trâmite dos processos administrativos. De acordo com a Lei nº 9.605/1998: São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. O Decreto nº 6.514/2008 dispôs de forma clara sobre o processo administrativo federal de apuração de infração ambiental. O art. 95 do referido Decreto determina o seguinte: O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Com essa regra, os órgãos e entidades federais do SISNAMA, principalmente aqueles que têm atribuição de fiscalizar e aplicar sanções, devem observar o estrito cumprimento das normas federais aplicáveis aos processos administrativos. No âmbito dos Estados, vigoram suas respectivas normas, já que a Lei nº 9.784/1999 regula apenas o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. 6.1 O AUTO DE INFRAÇÃO O processo administrativo para apuração de infração ambiental deverá observar subsidiariamente as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal (artigo 79), bem como a Instrução Normativa nº 14, de 15 de maio de 2009 (com alterações dadas pela IN nº 27, de 08 de outubro de 2009) editada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, observando os seguintes prazos máximos: 17 a) Vinte dias, contados da ciência da autuação, para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração (artigo 71, inciso I); b) Trinta dias, contados da data da lavratura do auto de infração, apresentada ou não defesa ou impugnação, para a autoridade competente julgar o auto (artigo 71, inciso II); c) Vinte dias, de acordo com o tipo de autuação, para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha (artigo 71, inciso III), e d) Cinco dias, contados da data da notificação, para o pagamento de multa. As sanções administrativas às infrações ambientais estão reguladas nos artigos 72 a 76 da Lei nº 9.605/98, observando o disposto no artigo 6º, incisos I a III, dessa mesma norma, que, em resumo, dispõe que a autoridade competente para avaliar a penalidade deve considerar a gravidade do fato e os seus efeitos sobre a saúde pública e para o meio ambiente, além dos antecedentes do infrator e sua situação econômica, em caso de multa. Os valores das multas ambientais serão fixados pelo decreto que regulamenta essa lei e corrigidos periodicamente de acordo com os índices estabelecidos pela legislação pertinente, sendo, atualmente, no mínimo de R$50,00 (cinquenta reais) e no máximo de R$50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), conforme artigo 75 da Lei de Crimes Ambientais e artigo 9° do Decreto n° 6.514/2008. No âmbito administrativo, não se poderá exigir do infrator o depósito prévio da multa ou arrolamento de bens para que ele possa recorrer, sob pena de afronta aos direitos e garantias fundamentais. O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante n° 21 que se tornou entendimento obrigatório a todos os outros tribunais e juízes, bem como a Administração Pública, Direta e Indireta, nesse sentido: “É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”. Com relação ao pagamento da multa, imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios, será substituída a multa federal na hipótese de incidência, sendo essa a determinação do artigo 76 da Lei de Crimes Ambientais. A Lei nº 9.605/1998, em seu artigo 73, também dispõe sobre a forma de distribuição da receita proveniente da arrecadação das multas impostas pela infração ao meio ambiente. Estas serão revertidas em prol do Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, regulamentada pelo Decreto n° 3.524, de 26 de junho de 2000, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, tudo conforme determinar o órgão arrecadador. A lei 9605/98 ainda prevê as sanções restritivas de direito, que são aquelas que implicam em diminuição de um bem jurídico do infrator pela conduta lesiva ao meio ambiente, nos termos do artigo 72, inciso XI, § 8º, incisos de I a V, que são: suspensão ou cancelamento de registro, licença ou autorização, perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais, perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito ou a proibição de contratar com a Administração Pública por até três anos. 18 Unidade: Responsabilidade Ambiental A responsabilidade penal por danos ambientais ganhou novos contornos com a edição da Lei nº 9.605/1998. Essa é a Lei conhecida como “Lei dos Crimes Ambientais” e estabelece sanções penais e administrativas por danos ambientais. A seguir, estudaremos os principais aspectos da Lei nº 9.605/1998 e da responsabilidade criminal por danos ambientais. 7.1 RESPONSABILIDADE PENAL E CRIME AMBIENTAL Até a entrada em vigor da Lei nº 9.605/1998, a responsabilidade por crimes ambientais era prevista em legislações isoladas e esparsas, que dificultavam a caracterização de uma tutela penal do meio ambiente. A Lei dos Crimes Ambientais é dividida em várias seções e prevê crimes contra a flora, a fauna, o ordenamento urbano, o patrimônio cultural, difusão da poluição e crimes internacionais. A responsabilidade penal ambiental é direcionada às pessoas físicas ou jurídicas, sendo que a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. 7.2 RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL DA PESSOA JURÍDICA As pessoas jurídicas respondem administrativa, civil e penalmente quando a infração for cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade, nos termos do art. 3º da Lei nº 9.605/1998. A responsabilização criminal da pessoa jurídica é uma grande polêmica no meio jurídico. Muitos juristas entendem ser impossível criminalizar a pessoa jurídica. Os que defendem essa corrente entendem que a pessoa jurídica não pode praticar crimes ou contravenções penais, já que lhes falta capacidade de conduta e de culpabilidade. O conceito analítico de delito mais aceito entre os criminalistas é o chamado quadrimembrado (porque vê quatro elementos genéricos e indeclináveis em toda a infração penal) e se resume no seguinte enunciado: o delito é uma conduta (1) típica (2), antijurídica (3) e culpável (4). A conduta, para ser típica, tem que ser dolosa ou culposa (tipo subjetivo). As pessoas coletivas (entidades abstratas) são incapazes de atuar, por si mesmas, com dolo ou culpa, de modo que não podem praticar conduta, no sentido penal do termo. Também não possuem consciência própria, não havendo, assim, comolhes atribuir um juízo de culpabilidade.4 Apesar de essa corrente ser muito forte e ser inclusive majoritária, o fato é que a criminalização da pessoa jurídica não foi declarada inconstitucional e está em pleno vigor. Outros sistemas jurídicos internacionais adotaram a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, como Venezuela, Canadá, Austrália, Estados Unidos e França. 4 CONSTANTINO, Carlos Ernani. Delitos ecológicos. São Paulo: Lemos e Cruz, 2008. 7. Responsabilidade Criminal por Danos Ambientais 19 Haverá a desconsideração da pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. 7.3 CARACTERÍSTICAS DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS O legislador considerou as diferenças entre pessoa física e jurídica estabelecendo penas diferenciadas para cada tipo de personalidade. As pessoas físicas estarão adstritas às penas privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa. Já as pessoas jurídicas poderão ser sancionadas por meio de penas restritivas de direitos, prestação de serviços à comunidade e multa. Os crimes ambientais foram previstos como dolosos, sendo considerados culposos apenas os artigos 38, 40, 41, 49, 54, 56, 62, 67 e 68 da Lei 9.605/98. Todos, dolosos e culposos, são crimes de Ação Penal incondicionada, em função do interesse difuso que encerram. O sujeito ativo do crime ambiental pode ser qualquer pessoa física ou jurídica imputável e, no caso das pessoas jurídicas, a conduta deve ser praticada no interesse da entidade. O sujeito passivo do crime ambiental pode ser direto ou indireto. O sujeito passivo direto é constituído pela União, Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios, dependendo do ente que o bem integra. Já o sujeito passivo indireto é formado por toda a coletividade, que possui interesse na proteção da sadia qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. O art. 16 da Lei nº 9.605/1998 dispõe sobre a aplicação subsidiária do Código Penal, permitindo-se, assim, a aplicação das excludentes de ilicitude (estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal). A competência para processar e julgar os crimes ambientais segue as regras previstas no Código de Processo Penal, nos termos do art. 79 da Lei nº 9.605/1998. São atenuantes para a prática de crime ambiental, nos termos da Lei nº 9.605/1998, art. 14: a) baixo grau de instrução; b) o arrependimento seguido da reparação ou da atenuação espontânea do dano; c) comunicação prévia do perigo iminente de dano ambiental; d) cooperação com os agentes de vigilância. O art. 15 da Lei nº 9.605/1998 elenca as circunstâncias agravantes em matéria de crime ambiental: a) reincidência; b) obtenção de vantagem pecuniária; c) coação a outrem para a execução da infração; d) expor gravemente a perigo a saúde e o meio ambiente; e) causar danos a propriedades alheias; f) atingir unidades de conservação; 20 Unidade: Responsabilidade Ambiental g) atingir áreas urbanas; h) praticar o ato em período de reprodução da fauna; i) praticar o ato à noite; j) praticar o ato em domingos e feriados; k) se o ato causar secas ou inundações. Em função da Medida Provisória nº 2163-41/01, os órgãos que integram o SISNAMA poderão firmar com o infrator Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, apenas como forma de reparação das correções necessárias da atividade ou do dano ambiental causado. Esse termo não exclui a responsabilidade penal superveniente do enquadramento de tipo penal definido na Lei nº 9.605/1998, pois o afastamento da responsabilidade constitui uma prerrogativa do juiz e não uma determinação legal. Se a multa penal for ineficaz, mesmo sendo aplicada em seu valor máximo, poderá ser majorada em até três vezes com base em seu valor original, levando-se em conta a vantagem econômica percebida com a conduta infracional. Os produtos e instrumentos utilizados na prática dos crimes ambientais serão destinados conforme o disposto no art. 25 da Lei nº 9.605/1998: Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. § 1º Os animais serão l iber tados em seu habi tat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou ent idades assemelhadas, desde que f iquem sob a responsabi l idade de técnicos habi l i tados. § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. § 3° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem. O Termo de Ajustamento de Conduta constitui um acordo extrajudicial que tem por finalidade a composição de um dano coletivo, especificamente na esfera ambiental. O TAC pretende acordar com o poluidor uma alternativa para tentar reverter a degradação ambiental por meio da recuperação dos prejuízos causados ao meio ambiente. 8. Termo de Compromisso e Termo de Ajustamento de Conduta 21 O TAC está previsto na Lei nº 7.347/1985, em seu art. 5º, § 6º, e não constitui uma transação acerca da infração cometida, mas uma alternativa apresentada ao infrator, realizada por meio de um acordo, que valoriza a proteção do meio ambiente e, por conseguinte, o interesse da coletividade. A concretização do TAC não é obstáculo para que os lesados, individualmente, procurem a jurisdição. Os indivíduos continuam com seu direito de propor as ações coletivas ou individuais para a tutela do meio ambiente ou de interesses privados lesados em função da conduta de degradação ambiental causada pelo poluidor. Via de regra, quando o TAC é proposto, as ações coletivas são suspensas até a verificação do integral cumprimento do acordo, não sendo, portanto, causa de extinção imediata da obrigação. Somente os órgãos públicos estão legitimados a celebrar o termo, no caso o Ministério Público e pessoas jurídicas de direito público interno. Não há a necessidade de homologação judicial para o TAC. Mas, se a transação se referir a interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos que estejam sendo objeto de discussão em juízo, será necessária a homologação judicial para que o acordo possa produzir o efeito de extinguir o processo. O TAC, atualmente, está regulado pelo Decreto 6514/2008 e pelo novo Código Florestal, Lei 12.651/2012. 8.1. DIFERENÇAS ENTRE TERMO DE COMPROMISSO (TCA) E TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) O Termo de Ajustamento de Conduta constitui um acordo extrajudicial que tem por finalidade a composição de um dano coletivo, especificamente na esfera ambiental. O TAC pretende acordar com o poluidor uma alternativa para tentar reverter a degradação ambiental por meio da recuperação dos prejuízos causados ao meio ambiente. O TAC (Termo de ajustamento de conduta) ou o TCA (Termo de compromisso ambiental) podem ser celebrados em fase anterior ou durante um processo judicial. Constitui um verdadeiro título executivo extrajudicial e não precisa ser homologado judicialmente se o termo for realizado nos autos de inquérito civil; somente será necessária a sua homologação se o acordo for realizado nos autos de processo judicial. Admite-se, antes da propositura da ação civil pública, que o causador da lesão ao meio ambiente, por exemplo, comprometa-se a reparar os danos ou paralisar a conduta ou atividade que continua a causar a lesão ambiental, estabelecendo, inclusive, prazo para o cumprimento do acordo. Nada impede, porém, que esse acordo possa ser realizado após a propositura da ação civil pública. No caso, o causador da lesão deverá assumir a obrigação de fazer ou não fazer, adequando-se às exigências legais, cujo acordo seráhomologado pelo juiz. É bom esclarecer que a celebração do TAC não significa a admissão de culpa por parte do obrigado, pois, embora existam mecanismos que levam à transação em que se prevê a admissão de culpa, no direito brasileiro, isso não ocorre. No âmbito da responsabilidade civil, uma vez assinado o TAC (termo de ajustamento de conduta) entre o órgão público legitimado e o interessado, fica proibido a qualquer outro legitimado concluir novo acordo. 22 Unidade: Responsabilidade Ambiental Todavia, na hipótese de serem celebrados vários compromissos de ajustamento a respeito do mesmo fato, deve prevalecer o que for mais benéfico à sociedade. O débito do devedor é, geralmente, satisfeito pelo cumprimento voluntário da obrigação. Porém, diante do não pagamento no prazo estatuído no TAC, deverá o órgão público legitimado iniciar a execução forçada, a fim de permitir a expropriação do devedor de uma quantidade de bens correspondentes à obrigação que ele inadimpliu, tendo o compromisso eficácia de título executivo extrajudicial. Desse modo, como na maioria das vezes, as obrigações fixadas são de fazer ou de não fazer, sob pena de pagamento de multa cominatória, o descumprimento do ajuste acarretará o ajuizamento de ação de execução. Cabe citar que um TAC que admita o descumprimento expresso ou implícito das obrigações legais é nulo, não tendo eficácia. Nosso ordenamento jurídico não impede a celebração de compromissos de ajustamento envolvendo apenas partes das questões objeto das investigações. A existência de um termo de ajustamento de conduta (TAC ou TCA), devidamente assinado pelo órgão público legitimado ativo e o causador do dano, afasta a possibilidade de processamento da ação civil pública que tenha o mesmo objeto do compromisso ajustado. Isso porque o TAC é um título executivo extrajudicial, por meio do qual um órgão público legitimado toma do causador do dano o compromisso de adequar sua conduta às exigências da lei. Agora, a assinatura do TAC ou TCA não impedirá a propositura da ação civil pública, caso o acordo celebrado tenha sido parcial, bem como quando houver algum vício no ajustamento acordado. 23 A responsabilidade ambiental é um tema de grande importância no Direito Ambiental. Com a responsabilização administrativa, civil e penal, procura-se evitar a ocorrência de novos danos ambientais, uma vez que o agente causador do dano sabe que suas ações serão punidas com ressarcimento financeiro e até com penas privativas de liberdade. O material listado abaixo mostra os vários aspectos da importância da responsabilidade ambiental em todas as esferas. Procure ler os textos indicados e assistir aos vídeos. Será muito importante, inclusive para auxiliar na atividade a ser realizada nesta unidade. 1. “A ERA DA ESTUPIDEZ” - A diretora deste filme é a ex-baterista de rock e cineasta Franny Armstrong. Misto de documentário, ficção e animação, o filme conta uma história estarrecedora: a da destruição da Terra, causada pela insensatez da humanidade. Veja como ainda é possível, através de ações da sociedade e do poder público, evitar o caos ambiental em escala global, e também o que poderá acontecer se nada for feito. http:// www.youtube.com/watch?v=_d4YDLK0jP0. 2. Lei de Crimes ambientais – Reportagem da Rede Nazaré de Televisão, sobre os Decretos 6.514 e 6.515/08 – Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=5XBHT6bgv9k. 3. Acidente Ambiental em Siderúrgica no Rio de Janeiro – Reportagem do RJTV – Rede Globo - Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=AXxnKiBlcOw. 4. Flagrantes de Crimes ambientais com o uso de tecnologia – Reportagem do Jornal Nacional – Rede Globo – Disponível em: http://www.youtube.com/ watch?v=vMVnjDaeLOQ. 5. A responsabilidade do órgão ambiental frente ao dano ao meio ambiente – NASCIMENTO, Vivianne M. Alves do. A responsabilidade do órgão ambiental frente ao dano ao meio ambiente. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 107, dez 2012. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=12584. Acesso em set. 2013. 6. Responsabilidade Civil em Matéria Ambiental - Os Danos Materiais, os Danos Morais e o Meio Ambiente. Talden Farias – Especialista em Direito Ambiental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_44/Artigos/Art_Talden.htm. Material Complementar 24 Unidade: Responsabilidade Ambiental AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. São Paulo: Editora Gen- Método, 2011. p.11. CONSTANTINO, Carlos Ernani. Delitos ecológicos. São Paulo: Lemos e Cruz, 2008. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2ª Ed. São Paulo: Atlas,2011. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008 MILARE, E. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência, Glossário. 6. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2009. SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010. SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Referências 25 Anotações 26 www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000