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Ma. Giseli Cristina Pante MICOTOXINAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Centro de Ciências da Saúde Departamento de Ciências Básicas da Saúde MICOTOXINAS 2 Quem são os fungos? O que os fungos comem? O que os fungos fazem com a comida? O que são micotoxinas? Como, quando e onde as micotoxinas são produzidas? O que isto tudo nos afeta? MICOTOXINAS 3 REINOS DOS SERES VIVOS 1. Monera: Agrupa organismos unicelulares procariontes. Exemplos: Bactérias e cianobactérias; 2. Protista: Esse reino engloba seres unicelulares e pluricelulares, eucariontes, autotróficos ou heterotróficos. Exemplos: algas e protozoários; 3. Fungi: Esse reino engloba organismos unicelulares e multicelulares, eucariontes e heterotróficos. Exemplos: bolores, cogumelos e leveduras; 4. Plantae: Esse reino inclui organismos multicelulares, eucariontes e autotróficos, ou seja, que produzem seu alimento. Exemplos: Musgos, samambaias, araucárias e mangueira; 5. Animalia: Nesse reino estão organismos multicelulares, eucariontes e heterotróficos. Exemplos: homem, esponjas, águas-vivas e peixes. MICOTOXINAS 4 CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS CELULARES EUCARIONTES PROCARIONTES Monera ou bacterias MULTICELULARES UNICELULARES Protista ou protozoários e algas unicelulares FOTOSSINTÉTICOS Plantae ou plantas ABSORTIVOS Fungi ou fungos INGESTIVOS Animalia ou animais MICOTOXINAS 5 QUEM SÃO OS FUNGOS? • Este grupo inclui diversos organismos, que vivem em quase todos os ambientes terrestres e apresentam uma grande variação de formas e tamanhos; • Podem ser desde fungos microscópicos, formados por uma única célula (unicelulares), como é o caso das leveduras, até formas pluricelulares que atingem um tamanho considerável, como os bolores e os cogumelos; • São organismos heterotróficos, ou seja, não produzem o próprio alimento. MICOTOXINAS 6 ESPECTRO DE ATIVIDADES DO REINO FUNGI Parte BOA Parte RUIM MICOTOXINAS 7 MORFOLOGIA DOS FUNGOS • A maioria dos fungos é multicelular, formando uma rede de filamentos denominados hifas; • As hifas são as paredes celulares tubulares que envolvem a membrana citoplasmática; • Septadas: contêm paredes cruzadas (septos), que dividem as hifas em distintas unidades celulares uninucleadas; • Cenocíticas: não contêm septos e se apresentam como células longas e contínuas com muitos núcleos. Septada Cenocítica MICOTOXINAS 8 MORFOLOGIA DOS FUNGOS • As hifas crescem por alongamento das extremidades; Vegetativas Aéreas • Cada parte de uma hifa é capaz de crescer, e quando um fragmento é quebrado, ele pode se alongar para formar uma nova hifa; • Hifa vegetativa: a porção de uma hifa que obtém nutriente; • Hifa reprodutiva ou aérea: a porção envolvida com a reprodução. • Quando as condições ambientais são favoráveis, as hifas crescem formando uma massa filamentosa chamada de micélio. MICOTOXINAS 9 MORFOLOGIA DOS FUNGOS MICÉLIO MICOTOXINAS 10 MORFOLOGIA DOS FUNGOS Fusarium verticillioides Aspergillus flavus Microscopia eletrônica de varredura • Importante técnica de análise; • 300.000 x; • Estudo das características morfológicas dos fungos; • Estrutura de hifas, conidióforos e conídios. Penicillium camembertii MICOTOXINAS 11 O QUE OS FUNGOS COMEM? • Eles obtêm a alimentação por meio da absorção de soluções de matéria orgânica presente no ambiente, que pode ser o solo, a água do mar, a água doce, um animal ou uma planta hospedeira. Nitrogênio, oxigênio, hidrogênio, enxofre e fósforo MICOTOXINAS 12 O QUE OS FUNGOS FAZEM COM A COMIDA? METABOLISMO PRIMÁRIO • Uso de compostos orgânicos para síntese de biomassa (anabolismo) e produção de energia para comandar as reações (catabolismo); • A maioria das características desse processo são comuns a muitos grupos de organismos. METABOLISMO SECUNDÁRIO • Ocorre após uma fase de crescimento balanceado e com frequência associado com alterações morfogenéticas como a esporulação; • Restrito a pequeno número de espécies. MICOTOXINAS 13 METABOLISMO PRIMÁRIO METABOLISMO SECUNDÁRIO Solução geral para problema biológico Solução específica para problema biológico Importante para crescimento Desnecessário para o crescimento Papel fisiológico conhecido Papel fisiológico de difícil conhecimento Presente durante todo ciclo de vida Presente apenas em parte do ciclo da vida Presente sob várias condições de crescimento Aparecimento depende muito das condições de crescimento Ocorre com todos organismos Não ocorre com todos organismos Formação de produto definido Forma famílias de produtos relacionados Diversos produtos de constituição química simples Produtos de constituição complexa MICOTOXINAS 14 METABÓLITOS SECUNDÁRIOS PRODUZIDOS COMERCIALMENTE A PARTIR DOS FUNGOS METABÓLITO FONTE APLICAÇÃO Penicilina Penicillium chrysogenum Antibacteriano Cefalosporinas Acremonium chrysogenum Antibacteriano Fusidina Fusidium coccineum Antibacteriano Griseofluvina Penicillium griseofulvum Antifúngico Cicloporinas Tolypocladium spp. Imunossupressor Alcaloides de Ergot Claviceps purpurea Vasoconstrição, anti-hipertensão e desordens psiquiátricas MICOTOXINAS 15 DEFINIÇÃO Substâncias químicas produzidas durante o metabolismo secundário de algumas espécies de fungos, responsáveis pela contaminação de alimentos e rações. MICOTOXINAS 16 QUEM SÃO OS FUNGOS PRODUTORES DE MICOTOXINAS? Macromicetos (fungos macroscópicos) NÃO PRODUZEM! FUNGOS FILAMENTOSOS PRODUZEM! Fungos leveduriformes NÃO PRODUZEM! MICOTOXINAS 17 QUANDO, ONDE E COMO SÃO PRODUZIDAS? • Cultivo; • Colheita; • Estocagem; • Transporte; • Processamento; • Armazenamento. MICOTOXINAS 18 FATORES QUE FAVORECEM A PRODUÇÃO • Alto teor de umidade nos grãos; • Temperatura e umidade relativa do ambiente; • Danos mecânicos nos grãos; • Longos períodos de armazenamento; • Impurezas e matérias estranhas; • Oxigenação; • Insetos. MICOTOXINAS 19 CONSEQUÊNCIAS DA CONTAMINAÇÃO • Perda econômica pelo descarte do alimento ou ração; • Perda de animais acompanhada por diversas taxas de mortalidade; • Animais com redução na velocidade de crescimento e produtividade; • Doenças em humanos; • Rejeição de produtos pelo mercado importador. MICOTOXINAS 20 COMO ISTO TUDO NOS AFETA? SAÚDE MICOTOXINAS 21 CARACTERÍSTICAS DA EXPOSIÇÃO NOS ALIMENTOS RAÇÕES RESÍDUOS DIRETA INDIRETA MICOTOXINAS 22 Contaminação direta de produtos agrícolas. Indireta, pela transferência de micotoxinas e seus produtos de biotransformação após alimentação contaminada. FORMAS DE EXPOSIÇÃO MICOTOXINAS 23 MICOTOXICOSES - prejudiciais à saúde animal e humana EFEITOS AGUDOS EFEITOS CRÔNICOS O QUE ELAS CAUSAM? • Exposição a curto prazo; • Estão associados a elevadas concentrações em uma única exposição; • Necrose e degeneração gordurosa hepática - Aflatoxina B1 • Exposição a longo prazo; • Estão associados a baixas concentrações em exposição prolongada; • Carcinoma hepático - Aflatoxina B1 MICOTOXINAS 24 EFEITOS BIOQUÍMICOS O efeito primário das micotoxinas ocorre a nível celular ou molecular. • Metabolismo energético; Ex: Aflatoxina B1, G1 e M1, patulina e ocratoxina A inibem o consumo de oxigênio em tecidos de várias espécies animais (transporte mitocondrial einibição enzimática). • Metabolismo de carboidratos e lipídios; Ex: Aflatoxina B1 altera síntese e transporte lipídico e influencia na absorção e degradação de lipídios. • Síntese de ácidos nucleicos e proteínas. Ex: Ligação da aflatoxina B1 ao DNA causando interrupção da transcrição. MICOTOXINAS 25 EFEITOS BIOLÓGICOS A diversidade de estruturas químicas leva a variedade de efeitos biológicos. • Hepatotoxicidade; • Nefrotoxicidade; • Neurotoxicidade; • Carcinogênese; Ex: Hepatocarcinogenicidade de aflatoxina B1. • Mutagênese; Ex: Mutagenicidade para zearalenona, patulina e aflatoxinas. • Estrogenismo; Ex: Efeito estrogênico por zearalenona. • Teratogênese; Ex: Ligação da aflatoxina B1 ao DNA causando interrupção da transcrição. • Toxicoses dérmicas. Ex: Contato dérmico causando irritação, inflamação, descamação, pequenas hemorragias e necrose. EFEITOS BIOLÓGICOS MICOTOXINAS 26 Fusarium Aspergillus Penicillium PRINCIPAIS FUNGOS TOXIGÊNICOS PRINCIPAIS MICOTOXINAS • Aflatoxinas; • Fumonisinas; • Tricotecenos; • Zearalenona; • Patulina. ZEA Patulina MICOTOXINAS 27 ORIGEM DAS AFLATOXINAS • Década de 1960; • Surto de mortes inexplicáveis de aves no Reino Unido; • Doença X dos perus Mas qual seria a causa de tantas mortes? Ração contaminada? Extração de várias substâncias dos grãos da ração em diferentes tipos de solventes Isolamento do princípio ativo tóxico produzido por Aspergillus flavus. Aspergillus flavus toxin Aflatoxin AFLATOXINA MICOTOXINAS 28 AFLATOXINAS • Aspergillus, principalmente das espécies A. flavus e A. parasiticus; • Faixa de temperatura de crescimento: 12-42 ºC (Ótimo: 32 ºC); • Substratos: Amendoim, milho, arroz, nozes, frutas secas e especiarias; • Atualmente são conhecidos cerca de 17 compostos; • Principais são: B1, B2, G1 e G2 e M1. A. flavus A. parasiticus MICOTOXINAS 29 • São furanocumarinas complexas com intensa fluorescência sob luz UV; • Altamente estáveis a temperaturas acima de 110°C. AFLATOXINAS B1, B2, G1 e G2 B1 B2 G1 G2 Grãos de milho com aflatoxinas MICOTOXINAS 30 AFLATOXINA M1 • É produto de biotransformação da aflatoxina B1. Principal forma de exposição humana à aflatoxina M1 MICOTOXINAS 31 AFLATOXINAS: TOXICIDADE PARA SERES HUMANOS EFEITO AGUDO • Anorexia, prostração, convulsões, contrações e paralisia; • Morte por necrose e degeneração. EFEITO CRÔNICO • Fígado fibroso e carcinoma. Grupo 1: Carcinogênico para humanos. MICOTOXINAS 32 AFLATOXINAS: TOXICIDADE PARA ANIMAIS AVES • Inibição do crescimento; • Inibição dos mecanismos de resistência imunológica; • Diminuição da produção de ovos. BOVINOS • Alterações reprodutivas (redução); • Redução de peso; • Redução da produção leiteira; • Contaminação do leite (Aflatoxina M1). SUÍNOS • Alterações reprodutivas (infertilidade e abortos); • Redução do crescimento. MICOTOXINAS 33 ZEARALENONA • Fusarium, principalmente das espécies F. graminearum, F. verticillioides e F. roseum; • Faixa de temperatura de crescimento: 0-40 ºC (Ótimo: 20-25 ºC); • Substratos: Milho, cevada, sorgo, centeio, arroz, nozes; • Resíduos em leite, ovos e carnes. Depois das aflatoxinas as toxinas do Fusarium são as micotoxinas mais frequentemente relatadas em matérias-primas agrícolas. MICOTOXINAS 34 ZEARALENONA: TOXICIDADE EM HUMANOS Estradiol C18H24O2 Zearalenona C18H22O5 Atividade estrogênica; • Estrutura química semelhante ao estradiol. Alterações no sistema reprodutor masculino e feminino; • Diminuição da fertilidade; • Abortos espontâneos; • Puberdade precoce; • Alteração dos níveis hormonais; • Ginecomastia. Grupo 3: Não carcinogênico para humanos. MICOTOXINAS 35 ZEARALENONA: TOXICIDADE EM ANIMAIS Síndrome hiperestrogênica • Inflamação do útero, mamas e vulva em fêmeas púberes; • Atrofia testicular e inflamação das mamas em machos jovens; • Infertilidade em animais adultos. Zearalenona C18H22O5 MICOTOXINAS 36 FUMONISINAS • B1: Corresponde 80% do conteúdo total em alimentos contaminados; • B2; • Fusarium: F. verticillioides; • Milho (cereal mais afetado por este grupo de toxinas); • Efeitos: edema pulmonar em suínos, cancerígenas em roedores experimentais e associadas epidemiologicamente ao câncer de esôfago; • IARC: grupo 2B (possivelmente carcinogênico para humanos). MICOTOXINAS 37 FUMONISINAS • Poliálcoois, esterificados com ácido Carboxílico; • 18 moléculas foram caracterizadas; • Fumonisina B1 é a mais tóxica; • Similaridade com esfingosina e esfinganina (precursores de esfingolipídios); • Bloqueia o metabolismo de esfingolipídios (inibição da enzima ceramida sintetase). Efeitos tóxicos MICOTOXINAS 38 TRICOTECENOS Grupo com 190 estruturas de tricotecenos identificadas; Significativos para a saúde humana. • Desoxinivalenol; • Nivalenol; • T-2; • HT-2. TRIGO Fusariose (Giberela) Fusarium graminearum Desoxinivalenol • Milho, aveia, soja, cevada, feijão e centeio; • Bebidas fermentadas (cerveja), pão e cereais matinais; • Feno, palha e ração animal. MICOTOXINAS 39 TRICOTECENOS Tricotecenos tipo A T-2: R= (CH3)2CHCH2 COO- Tricotecenos tipo B R Nivalenol: R= OH Desoxinivalenol: R=H • Epóxido na posição C12, C13 (responsável pela toxicidade); • Resistentes à degradação (luz e temperatura). Epóxido MICOTOXINAS 40 TRICOTECENOS: TOXICIDADE • Afetam os centros de reprodução do sangue; • Danos no sistema nervoso, trato gastrointestinal • e cardiovascular; • Hemorragias e gastroenterite; • Vômitos e recusa alimentar (suínos); • Aborto (bovinos); • Diarreia e morte (aves, bovinos e suínos); • Aléucia tóxica alimentar: angina, cefaleia, vômitos, e em casos mais graves, leucopenia (redução no número de leucócitos), seguida de hemorragia e morte. Grupo 3: Não carcinogênico para humanos. MICOTOXINAS 41 PATULINA • Estável a elevadas temperaturas e pH ácido; • Frutas: maçã, pera, cidra, uva, pêssego e seus sucos. Penicillium expansum Temperatura ótima de crescimento: 25 ºC MICOTOXINAS 42 PATULINA • Carcinogênica e teratogênica em ratos; • Efeitos sobre o metabolismo de carboidratos; • Danos ao DNA. Grupo 3: Não carcinogênico para humanos. MICOTOXINAS 43 PREVENÇÃO • Evitar consumo de grãos mofados; • Secar os grãos e forragens; • Técnicas agrícolas adequadas; • Cultivo, colheita e secagem; • Transporte e armazenamento adequados; • Legislação. MICOTOXINAS 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS “A capacitação dos profissionais do setor, a conscientização dos produtores de alimentos e as ações de vigilância sanitária permanentes são essenciais para diminuir a exposição humana a esses compostos tóxicos e prevenir doenças advindas dessa exposição.” REFERÊNCIAS 45 • IARC, International Agency For Research on Cancer. Some traditional herbal medicines, some mycotoxins, naphthalene and styrene. In: IARC monographs on the evaluation of carcinogenic risks to humans. v. 82, p. 171-175, 2002. • KLAASSEN, C. D.; WATKINS, J. B. Fundamentos em toxicologia. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. • MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; DUNLAP, P. V.; CLARCK, D. P. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. • MIDIO, A. F.; MARTINS, D. I. Toxicologiade Alimentos. São Paulo: Varela, 2000. • MOREAU, R. L. M.; SIQUEIRA, M. E. P. B. Toxicologia Analítica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. • TORTORA, J. G.; FUNKE, R. B.; CASE, L. Microbiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2017. 46
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