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Relação estrutura x Atividade Prof. Me. Carlos Renato Nogueira Mestre em Psicofarmacologia (UFC) Introdução • A ideia de que a estrutura química dos fármacos pode estar relacionada à sua atividade biológica é muito antiga. • Até 1960 não existiam dados suficientes que sustentassem a ideia de que a estrutura molecular estaria envolvida com a resposta biológica, pois esta área era demasiadamente complexa. • Existem 3 parâmetros à serem considerados para se avaliar a estrutura x atividade biológica no planejamento molecular. Parâmetros utilizados no estudo de Estrutura x Atividade Para estudar a relação estrutura e atividade biológica, bem como o planejamento molecular de fármacos, alguns aspectos devem ser levados em consideração com relação às características físico-químicas e estruturais da molécula. Esses parâmetros podem ser agrupados em três famílias. 1. Parâmetros de solubilidade 2. Parâmetros eletrônicos 3. Parâmetros estéricos ou estruturais Parâmetros de solubilidade Medem o grau de atração dos fármacos pelos lipídeos ou pelas regiões hidrofóbicas dos receptores. A atividade biológica de vários grupos farmacológicos pode ser correlacionada com seu coeficiente de partição em solventes polares e apolares. Overton e Meyer recorreram ao coeficiente de partição para explicar a atividade de narcóticos, barbitúricos e anestésicos gerais, onde foi verificado que sua forte atividade biológica deve-se ao caráter hidrofóbico desses fármacos, fixando-se preponderantemente em neurônios, células ricas em lipídeos. Coeficiente de partição óleo/água Coef. De Partição (P) x Lipofilicidade · A absorção depende da lipossolubilidade do fármaco, uma vez que esta propriedade está relacionada com a passagem através das membranas lipídicas. · O coeficiente de partição o/a (P) é uma maneira de se determinar a lipo ou hidrossolubilidade de uma substância e prever a sua absorção. · As substâncias mais lipofílicas, ou seja, com um maior coeficiente de partição o/a, normalmente são melhor absorvidas. · Para moléculas ácidas ou básicas, sua lipossolubilidade também será influenciada pelo grau de ionização, esta determinada pela constante de dissociação (pKa) e pelo pH do meio. Coef. Partição x Porcentagem absorvida em barbitúricos Grupamentos lipofílicos (hidrofóficos) Cadeias de hidrocarbonetos alifáticos, grupos alquílicos e hidrocarbonetos policíclicos tornam lipossolúveis os compostos que são constituintes. Esta lipofilicidade pode relacionar-se com a atividade biológica em algumas classes terapêuticas, interagindo mais facilmente com as regiões hidrofóbicas dos receptores ou penetrando em tecidos ricos em lipídios. Ex: Anestésicos, anticonvulsivantes, narcóticos e antidepressivos. Estes grupamentos químicos conferem lipofilicidade à molécula do fármaco, o que pode influenciar na sua farmacocinética e também na farmacodinâmica (interação com receptores). Tais grupamentos presentes em fármacos de ação central podem ser interessantes, pois atravessam a BHE e interagem melhor com os neurônios (ricos em lipídios). Grupamentos hidrofílicos Certos grupos químicos caracterizam-se pela propriedade de conferir hidrossolubilidade às moléculas de que fazem parte. Entre tais grupos, chamados hidrofílicos, lipofóbicos ou polares, podem ser citados, na ordem decrescente de eficiência, os seguintes: -OSO2ONa, -COONa, -SO2Na, -OSO2H e SO2H. Tensoatividade Determinados fármacos possuem a capacidade de diminuir a tensão superficial onde se encontram, orientando-se numa disposição definida (micelas). Os tensoativos possuem duas regiões bem definidas, uma lipofílica e uma hidrofílica, por esta razão são chamados de anfifílicos (afinidade com água e com lipídeos). Os tensoativos podem ser aniônicos, catiônicos ou anfóteros. Tipos de tensoativos Parâmetros eletrônicos Devido à lipofilicidade das membranas biológicas, a passagem dos mesmos é facilitada quando a lipossolubilidade é alta. Esta passagem é influenciada pelo pH do meio e pelo grau de ionização do fármaco (pKa). Ácidos fracos se dissociam completamente (possuem alto pKa) e bases fracas (baixo pKa). Portanto fármacos ácidos são mais efetivos em pH mais baixo e as bases mais efetivas em pH mais alto. Em geral os fármacos são absorvidos na forma não ionizada, como moléculas íntegras e atuam na sua forma ionizada (dissociada) Grau de ionização x Atividade Biológica Conclusões Exemplo Parâmetros Estéricos Representa a forma e o tamanho do substituinte introduzidos na molécula do composto matriz. A atividade biológica da molécula não se deve à uma só, mas à todas as propriedades físico-químicas da molécula, pois os processos biológicos também são de natureza físico-química (Hansch) Em 1964 deu-se início ao estudo das pesquisas no âmbito da química farmacêutica, com o objetivo de correlacionar a estrutura química com as propriedades físicas e atividades biológicas dos fármacos. Método de Hansch (Análise de grupos) O método mais aceito e mais perfeito para estudo de relação estrutura e atividade foi desenvolvido por Hansch, e tem como base o estudo simultâneo de dois fenômenos muito complexos: 1. Deslocamento do fármaco desde o local de administração até o local de ação 2. Ocorrência de reação física ou química nos sítios receptores Análise de grupos Introduzida por Hansch e colaboradores em 1973, a análise de grupo constitui refinamento do método de Hansch e pode ser empregada em conexão com ele. Consiste em juntar os possíveis substituintes em grupos, de modo que, uma vez introduzidos na molécula protótipo, forneçam a quantidade máxima de informações, com a finalidade de estabelecer mais rapidamente uma relação estrutura atividade viável. Efeitos gerais de grupamentos A atividade biológica de fármacos estruturalmente específicos depende diretamente de seu tamanho, forma e distribuição eletrônica. A presença de um grupo específico não afirma que a molécula terá determinada atividade biológica, visto que o efeito biológico da molécula depende dela como um todo. Os grupos químicos presentes ou introduzidos num fármaco exercem 2 tipos de efeitos: Estéricos e Eletrônicos. Grupos Ácidos e Básicos (COOH e NH2) Devido à sua polaridade, os grupos ácidos e básicos determinam as características físico- químicas dos fármacos em que estão presentes, influindo decisivamente nas atividades biológicas. Amidas fazem pontes de hidrogênio com macromoléculas orgânicas, gerando atividade narcótica. As bases fortes como aminas quaternárias ionizadas e nas aminas primárias, secundárias e terciárias protonizadas, os grupos básicos, que são positivamente carregados, desempenham a função de ligar-se eletrostaticamente a grupos negativamente carregados dos receptores e, por isso, são essenciais para atividade farmacológica. Grupos básicos (Aminas) • pH fisiológico: encontram-se ionizados • Baixa solubilidade lipídica • Pode favorecer a interação com o sítio alvo por ligação iônica ou ligação de H Exemplos Ácido Salicílico Feniletilamina Fenilanina Grupos Hidroxila (OH) Exercem dois efeitos farmacológicos principais: alteração das propriedades físicas (melhorando a solubilidade do composto) e modificação da reatividade química (interação fármaco receptor). • Aumento da hidrofilia • Formação de ponte de hidrogênio • Agregar efeito bactericida (derivados fenólicos) • Agregar efeitos narcóticos (álcoois) • Fornece sítio para novas reações de metabolização (aumento ou diminuição da atividade) e conjugação (diminuição da atividade) Exemplos Grupos Alquila • Aumento da lipofilicidade• Alteração do metabolismo - Aumento: Oxidação da metila, desmetilação - Diminuição da metabolização: Impedimentos estéricos - Aumento da meia vida Exemplos Grupo nitro (NO2) Entre os vários efeitos exercidos pelo grupo nitro, os principais são: físico-químicos, bioquímicos e farmacológicos. Fornece atividade antiparasitária, bactericida e mutagênica após sua redução via enzimática. Graças ao efeito indutivo no sentido de atrair elétrons, o grupo nitro pode: (a) formar quelatos; (b) modificar de uma quelação preexistente; (c) modificar a polarização da molécula. O grupo nitro aumenta a lipossolubilidade da molécula do fármaco, portanto, geralmente, os compostos nitrados permanecem no organismo por mais tempo do que os seus análogos não-nitrados e, por esta razão, suas ações terapêuticas e tóxicas são mais persistentes. A ação quimioterápica dos compostos nitrados é conseqüência de sua redução à aminas. Grupo Tiol e Dissulfeto • Interconvertem-se: SH → S-S • Adicionam-se a compostos cetônicos insaturados • Formam mercaptídios com metais pesados • Formam complexos de adição com anéis piridínicos Exemplo Halogênios (F, Cl, Br) • Análogos mais hidrofóbicos (tendência a acumular) • Grupamentos aromático halogenados são menos reativos que os alifáticos halogenados • Ordem de reatividade C-H < C-Br < C-Cl < C-F • -CF3 tamanho semelhante –CCl, reatividade diferente Receptor Farmacológico - Topografia O receptor consiste em uma entidade tridimensional elástica constituída, talvez na maioria dos casos, de aminoácidos integrantes de proteínas, apresentando uma estrutura estereoquímica complementar à do fármaco e que, às vezes, após sofrer alteração conformacional, é capaz de interagir com ele, para formar um complexo unido pelas diversas forças de ligação em jogo. Em resultado desta complexação fármaco-receptor é gerado um estímulo ou cadeia de estímulos que, por sua vez, causa uma ação ou efeito biológico. Forças de ligação fármaco-receptor Para se compreender o modo e o mecanismo de ação dos fármacos é importante conhecer as forças de interação que os unem aos receptores. À depender dos grupamentos químicos presentes na estrutura receptora e no fármaco, bem como as características estereoquímicas espaciais de ambos, as principais forças que unem os fármacos aos receptores são: 1. Forças de Van Der Waals 2. Força Dipolo-Dipolo 3. Pontes de Hidrogênio 4. Ligação Covalente 5. Ligação Iônica Força da ligação Exemplo Interação Fármaco-Receptor São os fatores estéricos determinados pela estereoquímica tanto do receptor quanto do fármaco que possibilitam a formação de um complexo entre ambos e, conseqüentemente, o surgimento do efeito farmacológico. Quanto maior for o grau de complementaridade, maiores serão a especificidade e a atividade do fármaco. A substituição de um grupo volumoso por um grupo pequeno, a re-disposição dos grupos constituintes de uma molécula no espaço, podem modificar profundamente a estabilidade do complexo fármaco-receptor. Estereoquímica x Fármaco-Receptor A diferença acentuada na atividade farmacológica de muitos estereoisômeros fornece a melhor prova da existência de receptor. Por manifestarem, em geral, diferenças nas atividades biológicas, os isômeros ópticos têm sido muito utilizados em pesquisas que visam a determinar a natureza da interação fármaco receptor. Diversos autores têm formulado teorias referentes a essa mesma interação e apresentado hipóteses relacionadas com a topografia da superfície receptora. Já a isomeria geométrica é determinada pela restrição à rotação dentro da molécula, seja por ligações duplas, seja por sistemas rígidos ou semi-rígidos. Podendo explicar a alta atividade estrogênica do transdietilestilbestrol, ao passo que o isômero CIS é inativo. Grupos orgânicos presentes nos fármacos Continuação
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