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Relação Estrutura-Atividade (SAR) e Bioisosterismo Relação Estrutura-Atividade Pequenas modificações na estrutura de um fármaco ou de um candidato a fármaco podem levar a alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas. Isso implica em alterações das propriedades físico-químicas dessas entidades químicas, que podem ter impacto na resposta farmacológica. O estudo do impacto da remoção de um grupo ou de substituição por outro na atividade de um fármaco é o que chamamos de estudo de relação estrutura-atividade. O estudo pode ser realizado apenas no quesito de verificar a interação fármaco-receptor, e para isso temos estudos in silico e in vitro. Por sua vez, os estudos in vivo também permitem verificar os impactos farmacocinéticos e farmacodinâmicos, pois nesses estudos é possível ter uma melhor previsão da resposta farmacológica ao se observar a solubilidade do fármaco no organismo, sua absorção, distribuição, atividade biológica, metabolismo e excreção. Esse estudo orienta sobre quais os grupos da molécula do fármaco são importantes para sua atividade biológica e quais são importantes para sua farmacocinética, ou seja, os grupos farmacofóricos e auxofóricos, respectivamente.. Os estudos das REAS de um composto protótipo visa: ● Determinar partes da estrutura do protótipo responsáveis por sua atividade biológica → farmacóforos; ● Determinar partes da estrutura do protótipo responsáveis por seus efeitos colaterais. Muitas vezes, os grupos auxofóricos podem gerar um bloqueio na via metabólica, uma conformação ou uma configuração que seja adequada para atividade farmacológica, podem facilitar o reconhecimento do farmacóforo pelo alvo e aproximar o sítio catalítico, dentre outras, por isso, as modificações nesses grupos também são relevantes. Essas informações também são utilizadas para o desenvolvimento de novos fármacos com: ● atividade aumentada; ● atividade diferente; ● menos efeitos colaterais indesejados; ● maior facilidade de administração ao paciente. Determinação da REA: ↪ Pequenas alterações na estrutura do protótipo → avaliação sobre a atividade biológica. As modificações são realizadas com base em um alvo específico! Algumas alterações estruturais específicas utilizadas no estudo de REA: ● Dimensão e conformação do esqueleto carbônico → diferentes conformações, restrições conformacionais e bloqueios estéricos podem alterar a atividade biológica; ● Natureza e grau de substituição; ● Estereoquímica do protótipo → específica para cada alvo e atividade farmacológica esperada. Tamanho e conformação Maneiras de modificar: ● Alterando o número de grupamentos metileno (-CH2-) nas cadeias e nos anéis; ● Aumentando ou diminuindo o grau de insaturação → aumentar ou reduzir a rigidez de uma molécula; ● Introduzindo ou removendo um sistema de anel. 1. Alterando o número de grupamentos metileno numa cadeia: ↪ Aumento do número de grupamentos metileno numa cadeia ou anel → aumento do tamanho e da natureza lipídica (lipofilicidade) do composto. Pode gerar: ↪ Aumento da atividade biológica → aumento da lipossolubilidade e melhor penetração através das membranas biológicas; ↪ Diminuição da atividade → redução da solubilidade em água, precária distribuição no meio aquoso, acúmulo do fármaco nas membranas biológicas e aumento da taxa de metabolização. No exemplo acima, é possível perceber que, ao aumentar o número de grupos metilênicos, a atividade biológica também aumenta e atinge o seu máximo quando a quantidade desses grupos é igual a 6. Quando esse número continua a crescer, é possível perceber a queda da atividade. A redução dessa atividade pode ser explicada de acordo com o tipo de ensaio realizado. Em ensaios in vitro, pode-se pensar que houve modificação de conformação e da interação fármaco-receptor, mas não se pode descartar a possibilidade de diminuição de solubilidade no meio em que foi testado. Já em estudos in vivo, é possível avaliar todas as possibilidades farmacocinéticas e farmacodinâmicas que levaram à redução e perda total da atividade com o aumento dos grupos metilênicos para valores acima de 6. Alteração no tipo de atividade: Na Clorpromazina, a substituição do átomo de enxofre por dois grupos metilênicos muda completamente o perfil de atividade biológica do fármaco, e sua ação passa de antipsicótica para antidepressiva, originando a Clomipramina. 2. Alterando o grau de insaturação: ↪ Remoção de duplas ligações → aumenta o grau de flexibilidade da molécula: ↪ Mais fácil o encaixe do análogo nos sítios ativos e receptores → conformação mais adequada; ↪ Mudança ou perda de atividade. ↪ Introdução de uma dupla ligação → aumenta a rigidez da estrutura. ↪ Isômeros E e Z podem ter atividades diferentes. ↪ Moléculas insaturadas são mais sensíveis à oxidação metabólica (formação de epóxidos → mudança no perfil de metabolização → ação da epóxido hidrolase ou conjugação com glutationa). No exemplo acima, é possível perceber que, ao se inserir uma insaturação na molécula do cortisol, obteve-se uma molécula de potência 30x maior, a Prednisona. Isso pode ser explicado pelo aumento da rigidez na estrutura da Prednisona, capaz de desencadear uma melhor complementaridade desse fármaco aos receptores do cortisol. Assim como comentado para os grupos metilênicos, a introdução ou remoção de instaurações também pode alterar o tipo de atividade: A substituição do átomo de enxofre por uma insaturação na molécula do antipsicótico Clomipramina dá origem a outra molécula com atividade antidepressiva, a Protriptilina. A restrição conformacional conferida pela presença da ligação dupla parece ser mais relevante para a atividade antidepressiva, mas também confere modificações farmacocinéticas, como a mudança da via de metabolização. 3. Introdução ou remoção de anel: ↪ Introdução de anel → mudança na conformação e aumento do tamanho global do análogo. ↪ É difícil prever o resultado na potência e tipo de atividade, pois diferentes anéis podem gerar efeitos biológicos distintos. ↪ Um anel aromático muda muito a lipofilia da molécula, então, além de verificar sua influência na atividade farmacológica, é importante levar em consideração o perfil farmacocinético. ↪ O aumento do tamanho da molécula conferido pela introdução de um anel pode ser útil no preenchimento de uma fenda hidrofóbica num sítio alvo (fortalece a ligação fármaco-alvo). ↪ Pode levar a agonistas mais ativos, gerar antagonistas ou levar à perda da capacidade de ligação com o sítio, se esse aromático, por exemplo, impedir uma conformação adequada para a interação do fármaco com o alvo. ↪ Introdução de anéis pequenos e não aromáticos: ● Reduz a possibilidade de produzir um análogo que é grande demais para o sítio ativo; ● Reduz a possibilidade da existência de confôrmeros (ex: ciclopropil é mais rígido e reduz o número de confôrmeros; ciclopentil e ciclohexil são mais flexíveis e assumem mais conformações); ● A estabilidade pode variar com a introdução de anéis. No exemplo acima, temos a molécula da Tranilcipromina que, pela presença de um ciclopropil torna-se mais rígida e mais estável. Já a molécula do 1-Amino-2-feniletileno torna-se mais instável devido a presença da insaturação, que pode levar a formação de epóxidos, semelhantes ao ciclopropil, mas muito mais suscetíveis à metabolização. ↪ Introdução de anéis aromáticos: ● Rigidez na estrutura (estruturas planas); ● Aumento do tamanho do análogo; ● Os elétrons 𝛑 podem ou não melhorar a ligação com o sítio alvo; ● Sistemas aromáticos heterocíclicos: introdução de grupos funcionais extras podem afetar a potência e atividade. → Ex: a introdução de um átomo de N no anel benzênico, originando a piridina, um composto básico, capaz de se ionizar em meio ácido, e de lipofilia muito menor do que a do benzeno. A introdução de um anel aromático na molécula da Benzilpenicilina, originando a Difenicilina, a torna mais resistente à ação das enzimas -lactamases, pois promove o aumento do tamanho da molécula que impede o reconhecimento desta pelas enzimas, mas não impedeo reconhecimento da molécula pela transpeptidase (alvo farmacológico). Introdução de novos grupos Grupamentos metila → a introdução desses grupos em sistemas aromáticos ou não, a depender de sua posição, pode gerar o aumento da lipofilia que já lhe é peculiar, algumas restrições estéricas/conformacionais. ↪ Se esse grupo é introduzido numa extremidade, a restrição conformacional não é tão observada. Todavia, se ele é colocado no meio da molécula, essa característica já pode ser observada e a molécula pode assumir conformações mais estáveis. ↪ A introdução de um CH3 em posição orto em relação a substituição no aromático, além de aumentar a lipofilia, leva a um impedimento estérico. Por sua vez, no análogo p-metil, é possível observar, principalmente, o aumento da lipofilia, pois, nessa posição, o grupo metil pouco irá influenciar na conformação da molécula. Halogênios → a introdução de halogênios aumenta a lipofilia da molécula e a tendência a acumular em tecidos adiposos. Além disso, há uma alteração eletrônica forte devido a eletronegatividade desses compostos. ↪ A ligação C-F é mais forte que a C-H, mas a lipofilia é pouco modificada quando analisamos a substituição de um hidrogênio por um flúor. Entretanto, do ponto de vista eletrônico, esse halogênio pode conferir alterações significativas. Já do ponto de vista conformacional, o flúor não exerce tanta influência como os outros halogênios, como o cloro que, por ser um átomo mais volumoso, também pode apresentar efeito eletrônico, estérico e lipofílico. ↪ As ligações C-Cl, C-Br, C-I são mais fracas que C-H e, com isso, são gerados, normalmente, compostos mais reativos. Compostos contendo tais ligações podem reagir muito mais facilmente com bionucleófilos, como o DNA e a glutationa. ↪ Cl e CF3 apresentam tamanhos semelhantes, porém, a reatividade eletrônica é muito diferente. ↪ Dependência da posição da substituição → principalmente em anéis aromáticos, de modo que, nas posições orto e para tem-se uma determinada influência eletrônica e, na posição meta, outra. Na posição orto, além da influência eletrônica, também há a influência estérica, principalmente no anel aromático, mas que também pode ocorrer em outras moléculas não aromáticas, nas quais os halogênios volumosos, como cloro, bromo e iodo*, podem gerar uma restrição conformacional maior. Grupos hidroxila → aumentam a hidrofilia, funcionam como um novo centro para formação de ligações de hidrogênio com as moléculas de água e com o alvo, pois o grupo OH funciona como um aceptor e doador dessa ligação. ↪ Hidroxilas introduzidas em anéis aromáticos geram grupos fenólicos que, naturalmente, possuem atividade bactericida. ↪ A introdução desses grupos pode favorecer a conjugação direta, bem como a eliminação do composto, na forma livre ou conjugada. Grupos básicos → introdução de aminas (-NH2-, -NHR-, -NR2), amidinas e guanidinas. ↪ A introdução desses grupos leva, principalmente, a variações de pKa. Além disso, também podem gerar alterações nas interações com as moléculas de água, bem como na interação fármaco-alvo, pois são de grupos que também funcionam como doadores e/ou aceptores de ligação de hidrogênio. ↪ Em pH fisiológico, moléculas que apresentam esses grupos encontram-se ionizadas, apresentando baixa lipofilia (a taxa de excreção pode ser maior). ↪ Esses grupos podem favorecer a interação com o sítio alvo por ligação iônica ou ligação de hidrogênio. Grupos carboxílicos e sulfônicos → a introdução de grupos carboxílicos aumenta a hidrofilia e também altera o pKa. Esses compostos também encontram-se ionizados em pH fisiológicos e, consequentemente, sua eliminação passa a ser facilitada. ↪ Os resíduos de ácido carboxílico podem favorecer a obtenção de análogos com atividades diferentes. ↪ Grupamentos de COOH podem reconhecer diferentes alvos farmacológicos, o que é positivo do ponto de vista da interação fármaco-receptor, mas que pode aumentar os efeitos tóxicos. Uma amina ionizada aumenta muito mais a hidrofilia do composto do que um resíduo de ácido carboxílico. Isso ocorre porque, nos ácidos carboxílicos, a ressonância da carga negativa pode aprisionar os elétrons e reduzir sua disponibilidade para realizar ligações com moléculas de água. No caso das aminas ionizadas, não ocorre essa ressonância para estabilizar a carga positiva que, por isso, fica muito disponível para interagir com as moléculas de água. Grupos tióis, sulfetos e outros contendo enxofre → são prontamente metabolizados por oxidação e, por isso, são pouco utilizados para estudos de REA. Os compostos de enxofre, no geral, realizam a quelação de metais, o que pode favorecer a interação desses grupos com diversos alvos biológicos. Essa característica de quelação não é única de grupos contendo enxofre e também pode ocorrer com carbonilas e nitrogênio. Todavia, com o enxofre ela é mais eficiente, pois os elétrons da camada de valência estão mais distante de seu núcleo, devido ao volume deste átomo. Bioisosterismo Ferramenta utilizada pelos químicos medicinais para o planejamento e a modificação racional de um composto protótipo (produto natural, fármaco, substância originada de animais, etc). Bioisosterismo no planejamento: composto natural → apresenta um grupo muito suscetível à metabolização ou instável → precisa-se de um fármaco estável → para planejá-lo pode-se associar a ideia do produto natural associada ao bioisosterismo. ↪ Se desejamos criar um fármaco a partir de outro já existente, temos como estratégia base a FBDD, que pode ser associada ao bioisosterismo para a obtenção da molécula desejada. Objetivos do bioisosterismo: ● Melhorar a afinidade, eficácia e especificidade pelo alvo; ● Melhorar as qualidades farmacocinéticas. Definições: ↪ Langmuir, 1919 - Isosterismo → moléculas ou íons com número e arranjo idênticos de elétrons apresentavam propriedades físico-químicas semelhantes (ex: N2 e CO). ↪ Grimm, 1925 - Regra do hidreto → a adição de um hidreto a um átomo fornece um pseudo-átomo, o qual apresenta as mesmas propriedades físico-químicas daqueles presentes na coluna imediatamente posterior da Tabela Periódica do átomo inicial. (Número total de elétrons). Por exemplo, se temos em uma molécula, um nitrogênio fazendo três ligações, podemos substituí-lo por um carbono ligado a um hidreto (CH) que, assim como o nitrogênio, também é trivalente. A regra do hidreto de Grimm não leva em consideração parâmetros como: acidez e basicidade; eletronegatividade, polaridade e densidade eletrônica; ângulos de ligação; tamanho, forma de orbitais moleculares; coeficiente de partição; etc. Apenas o número total de elétrons é levado em consideração, independentemente do perfil eletrônico e da alteração de propriedades físico-químicas. ↪ Erlenmeyer → isósteros são átomos, íons ou moléculas que contêm idênticas camadas periféricas de elétrons (átomos que estão na mesma coluna/família periódica). Nesse caso, temos átomos não muito diferentes em tamanho e massa. (Número de elétrons na camada de valência). O termo isóstero é aplicado a grupos que apresentam semelhança nas suas camadas eletrônicas ou mais restritamente, a grupos com localizações similares de regiões com alta ou baixa densidade eletrônica na molécula, com tamanho e forma semelhantes. Atualmente, o bioisosterismo é aplicado extensivamente no planejamento de fármacos, incluindo o emprego de técnicas computacionais. Se quando fazemos uma substituição na molécula de um fármaco há perda de atividade, dizemos que essa substituição foi apenas isostérica. Todavia, quando a substituição mantém ou aumenta a atividade, podemos dizer que a mesma foi bioisostérica. ↪ Friedman, 1951 - Bioisosterismo → fenômeno observado entre substâncias estruturalmente relacionadas que apresentam propriedades biológicas similares ou antagônicas. ↪ Burger, 1970 → Classifica e subdivide os bioisósteros: ● Clássicos: apresentam átomos mono, di, tri e tetravalentes e anéis equivalentes; ● Não-clássico: grupos interconversíveis que não atendem a regra de Grimm ou de Erlenmeyer.O conceito de bioisosterismo se refere a compostos ou subunidades estruturais de substâncias bioativas que apresentam volumes moleculares, formas, distribuições eletrônicas e propriedades físico-químicas semelhantes, capazes de apresentar propriedades biológicas similares. É uma estratégia de modificação molecular de um protótipo baseada na substituição de grupos funcionais que possuam propriedades similares, como tamanho, conformação, efeito indutivo, capacidade de formação de ligação de hidrogênio, acidez (pKa), solubilidade, hidrofobicidade, reatividade, estabilidade. 1. Bioisósteros clássicos: Aqueles que seguem a regra do hidreto, a definição de Erlenmeyer e de equivalentes anelares. Apresentam aproximadamente o mesmo tamanho, forma e configuração eletrônica na camada externa. Exemplo: a) Átomos e grupos monovalentes: Halogênios e grupos -XHn, onde X = C, N, O, S. No exemplo acima, a 6-mercaptopurina apresenta atividade antitumoral pois é capaz de substituir a adenina na síntese de DNA que é, então, detectado como defeituoso, levando à morte celular. Como as células tumorais realizam síntese de DNA mais rápida do que as normais, esse fármaco acaba sendo mais direcionado para as células tumorais. b) Átomos e grupos divalentes: R-O-R’, R-S-R’, R-NH-R’, R-CH2-R’, R-Si-R’. c) Átomos e grupos trivalentes: R-N=R’, R-CH=R’. ↪ Entre o benzeno e a piridina existem variações drásticas de log P, pois o benzeno é muito mais lipofílico. Além disso, também há uma diferença importante de pKa pois, enquanto o benzeno é neutro, a piridina é mais básica. Apesar disso, a mudança entre eles não deixa de ser um bioisosterismo clássico, já que atende tanto à regra dos átomos trivalentes, como também à regra de equivalentes anelares. d) Átomos e grupos tetravalentes: =C=, =N+=, =P+=. ↪ O derivado com o átomo de fósforo carregado positivamente tem maior probabilidade de agir como um agonista da acetilcolina, que também apresenta um átomo carregado positivamente. Já o derivado carbônico tem maior probabilidade de atuar como um antagonista devido a ausência dessa carga positiva. e) Equivalentes anelares: -C=-C-, -S-, -O-, -NH-. ↪ São chamados assim pois a aromaticidade entre esses anéis se mantêm e seus substituintes são divalentes. ↪ O que irá mudar entre esses anéis é a reatividade, por exemplo, o tiofeno sofre oxidação direta no átomo de enxofre, podendo gerar metabólitos mais tóxicos do que o próprio benzeno. (Mesmo número de elétrons 𝞹 → bioisósteros clássicos). 2. Bioisósteros não-clássicos Apresentam arranjo e configuração eletrônica similares às do composto protótipo. No entanto, não seguem exatamente a regra do hidreto e a definição de Erlenmeyer. Não apresentam o mesmo número de átomos e nem as mesmas características estéricas e eletrônicas dos isósteros clássicos, mas produzem atividades biológicas similares. Com a evolução do conceito de bioisosterismo não clássico, foram incluídos nessa categoria grupos funcionais com propriedades estruturais semelhantes, subunidades estruturais com sítios de interações equivalentes com biorreceptores (bióforos ou pontos isostéricos), além da introdução ou abertura de anel. No mesmo meio biológico, os bioisóteros devem ter a mesma afinidade com o receptor e possuir as mesmas atividades, sejam ativadoras de receptores ou antagônicas. Bioisosterismo não clássico → ácido carboxílico por tetrazol → melhoria da cinética e das propriedades da molécula. Grupos bioisostéricos não clássicos: ● H e F; ● -CO- e -SO2-; ● -SO2NH2-, -COOH- e -PO(OH)NH2-. Fármacos “me too” O bioisosterismo tem sido aplicado nos laboratórios de pesquisa das empresas farmacêuticas na busca por novos fármacos de uma mesma classe terapêutica a partir da identificação de um novo composto inovador, descoberto por uma empresa concorrente. O novo fármaco é uma cópia terapêutica, atuando pelo mesmo mecanismo de ação do protótipo inovador e, por isso, é denominado fármaco “eu-também”. A descoberta da ranitidina, o primeiro fármaco “me-too” milionário, desenvolvido a partir da cimetidina, permitiu à indústria desenvolvedora atingir o primeiro lugar do ranking de indústrias farmacêuticas em faturamento, superando o próprio protótipo cimetidina, em volume de vendas. A estratégia de planejamento da cimetidina foi a LBDD, já que a mesma é baseada na estrutura endógena da histamina, enquanto para o planejamento da ranitidina, utilizou-se a estratégia FBDD, com base na estrutura já existente da cimetidina. Outro exemplo de fármaco “me-too” foi desenvolvido a partir da losartana. No derivado bioisostérico substitui-se a hidroxila da cadeia lateral por um resíduo de ácido carboxílico (bioisosterismo não clássico), e o anel benzênico por um benzofurano ligado a um átomo de bromo (bioisosterismo de anel e bioisosterismo não clássico, pela substituição de um H por um Br). Além disso, é possível perceber que, associado ao bioisosterismo de anel, também há uma expansão molecular. Outro exemplo de fármaco “me-too” é a fluoxetina, que foi inspirada na paroxetina como um novo neuroativo na década de 80. A amina secundária acíclica na fluoxetina foi inspirada na amina cíclica da paroxetina. O trifluormetila foi inspirado no anel benzodioxola. Ferramentas semi-empíricas ● O que fazer após a identificação de um composto Lead? ● Por onde começar? ● O que avaliar como cada modificação? ↪ Métodos semi-quantitativos - A árvore de Topliss: Utilizada quando os métodos de síntese não permitem a obtenção de análogos suficientes para análise de Hansch. É um diagrama de fluxo que permite selecionar substituintes a partir de um “lead” não substituído. Foi desenvolvida considerando a lipofilia e os efeitos eletrônicos de vários substituintes e é planejada de modo que o substituinte ótimo seja encontrado. A primeira substituição é com 4-Cl (𝞹>0; 𝜎>0), pois esse substituinte irá aumentar tanto o efeito lipofílico como o eletrônico. Verificar se a variação na atividade biológica se deve a fatores hidrofóbicos, eletrônicos ou estéricos. A substituição de um H por um Cl na posição para, aumenta os efeitos lipofílicos e eletrônico. Se a substituição aumenta a atividade, isso quer dizer que ou o efeito lipofílico ou o eletrônico ou ambos, são importantes para a atividade. Sabendo disso, pode-se adicionar outro átomo de cloro e verificar se, ao se aumentar esses dois efeitos, a atividade futura também será aumentada (3,4-dicloro). Se com a substituição do H pelo Cl não há mudança de atividade ou a mesma não é significativa, isso quer dizer que o efeito lipofílico pode ser favorável, mas o eletrônico ser desfavorável. Como o efeito lipofílico é favorável, pode-se substituir o Cl por um metil, que terá efeito eletrônico negativo, mas manterá o efeito positivo na lipofilia. Se a substituição diminui a atividade, um ou ambos os efeitos envolvidos são desvantajosos para a atividade. Por isso, a próxima substituição deverá ser um metóxi, que apresenta efeitos lipofílico e eletrônico negativos. Árvore de Topliss para substituintes aromáticos As principais substituições são realizadas nas posições 3 e 4 pois, quando feitas na posição orto, o efeito estérico pode se sobressair aos demais. Na árvore, se a substituição do H pelo 4-Cl promove aumento da atividade, os efeitos lipofílico e eletrônico são importantes. Já se a atividade se mantém, o perfil lipofílico é mais importante. Por fim, se a atividade diminui, o interessante seria reduzir ambos os efeitos. Árvore de Topliss para substituintes alifáticos ● Nesse caso, assume-se que os substituintes estão unidos a grupos carbonílicos, amino, amidas, etc. ● Pretende-se distinguir apenas entre a lipofilia e os efeitos eletrônicos dos substituintes. ● Os substituintes envolvidos foram escolhidos com o objetivo de minimizar qualquer efeito estérico. Se a substituição do CH3 pelo i-Pr promove redução da atividade, pode-se retornar ao H, adicionar uma função éter ou uma função dimetilsulfóxido, para verificar se o heteroátomo pode ter alguma influência ou seo efeito estérico que é relevante. Se a substituição por isopropil manter a atividade, deve-se substituí-lo por etil, se a atividade for aumentada, mantém-se esse novo grupo. Se a atividade for reduzida ou mantida com o grupamento etil, deve-se substituí-lo por diclorometano, trifluormetila, trifluoretila, tioéter, fenil ou benzil. Se com o grupo i-Pr a atividade aumenta, pode-se substituí-lo por um ciclopentil e, se com esse a atividade for reduzida ou mantida, pode-se realizar a troca por ciclobutil, ciclopropil ou terc-butil. Já se a atividade for maior com a introdução do ciclopentil, esse grupo pode ser substituído por ciclohexil, benzil ou etilbenzil. ↪ Métodos semi-quantitativos: diagrama de Craig (anel benzênico dissubstituído em para) A visualização das propriedades relativas de diferentes substituintes é mais simples se considerarmos um diagrama que: ● Eixo Y → valores de 𝜎; ● Eixo X → valores de 𝞹. A partir do estabelecimento da equação de Hansch para um determinado conjunto de compostos, o sinal e a grandeza de 𝜎 e 𝞹 determinam a escolha do quadrante do diagrama de Craig que deve ser utilizado para planejar futuras sínteses. Assim, se para uma melhor atividade, 𝜎 e 𝞹 devem apresentar valores positivos, devemos escolher os substituintes do quadrante superior direito. Box de Craig e Austel ● Foi o que deu origem aos estudos de QSAR. ● É como se colocássemos os efeitos dentro de uma caixa para observarmos em uma dada estrutura qual dos efeitos, lipofílico, eletrônico ou estérico, é mais importante para a atividade biológica. Desenvolvimento do estudo de QSAR:
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