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GUIA ESTUDOS DIREITOS REAIS

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DIREITO REAIS
Importante destacar a todos os participantes desse curso e demais que venham ter acesso ao presente material é a sua proposta. Trata-se de um guia de estudos, ou seja, um material elaborado com o objetivo de fornecer um rumo, um norte à compreensão dos principais conceitos a fim de permitir um conhecimento, um contato inicial com a disciplina dos Direitos Reais.
Não tem a pretensão o presente guia de estudos, como denominado, do esgotamento do conteúdo da presente disciplina, repita-se, mas tão somente em oferecer um norte ao estudante com contato inicial com a matéria em pauta.
Elaborado em linguagem acessível ao aluno, sem por isso tratar o tema com linguagem vulgar, buscando apresentar exemplos a fim de ilustrar e tornar mais próximo do cotidiano do leitor. Ressalte-se que exemplos são hipóteses que buscam trazer à teoria ocorrências práticas com o intuito de consolidar um conceito abstratamente apresentado, mas que de forma alguma esgotam toda sorte de ocorrências humanas.
Talvez a maior pretensão do presente material seja despertar no aluno a curiosidade, semente matriz do conhecimento que se conquista quando se bebe em fontes diversas, pesquisa em diversos autores com bagagem científica e prática reconhecidas, colhendo assim um número cada vez maior de informações acerca dos temas apresentados.
Mais importante ainda é ter a certeza, a consciência e humildade de que, quanto mais se conhece, maior a percepção do quanto mais existe a se conhecer.
Feita essa apresentação inicial, vamos estudar.
CAPÍTULO 1
Conceito
Ramo do direito civil que oferecerá regras para aquisição, utilização, conservação, disposição, fruição, e até mesmo a perda de bens pelo homem, ou seja, as diversas formas de utilização econômica desse bem.
Importante ressaltar que os bens objeto de estudo nos direitos reais são aqueles passíveis de serem apropriados pelo homem e com interesse econômico.
Estamos falando de bens imóveis (terreno, apartamento), móveis (carro, uma jóia), semoventes (cachorro, cavalo). 
Não estamos falando do ar atmosférico, da água do mar ou da luz solar pois não são apropriáveis, felizmente, até o presente momento, bem como tendo em vista a sua disponibilidade e abundância (não se ignora a já existência de tecnologias de utilização dos recursos citados transformando-os por exemplo fontes de energia).
Os autores de um modo geral e cada um a sua maneira apresentará um conceito acerca dos Direitos Reais, como por exemplo uma relação de poder do individuo sobre a coisa, poder esse exercido de forma absoluta e com efeitos erga omnes (contra todos).
Teorias sobre os Direitos Reais
Algumas teorias foram construídas buscando classificar os direitos reais, hora como modalidade de direito pessoal (lembrar os estudos dos direitos obrigacionais), hora como ramo autônomo do direito, direito real. As principais são a teoria unitária personalista e a teoria Dualista.
Teoria Unitária Personalista 
Para essa teoria todas as relações jurídicas são de direito pessoal, uma vez que somente seria possível concebermos uma relação jurídica entre pessoas. Logo o conjunto dos direitos reais seria uma espécie do gênero dos direitos pessoais.
Sendo assim os direitos reais também deveriam ser considerados como um tipo de direito pessoal, cuja distinção dos direitos pessoais obrigacionais propriamente ditos, seria a indeterminação do sujeito passivo, uma vez que toda a coletividade deve respeitá-lo, havendo uma obrigação passiva universal. Enquanto que o direito pessoal obrigacional propriamente dito o sujeito passivo é uma pessoa certa, determinada identificada na relação jurídica (Indivíduo “A” vende um imóvel ao indivíduo ”B”).
Segundo o defendido pela Teoria Personalista as partes componentes de uma relação de direito real seriam um sujeito ativo (titular do direito real), o objeto (bem suscetível de apropriação humana e com valor econômico) e do outro lado sujeito passivo, representado pela coletividade de pessoas indeterminadas e subordinados ao poder do sujeito ativo. Assim se um indivíduo (sujeito ativo - proprietário) é titular do direito real de propriedade sobre um imóvel (objeto - casa), o sujeito passivo seria representado por toda coletividade de pessoas (p.ex., os vizinhos), indeterminada que deveria permanecer inerte sem tocar o imóvel pertencente ao proprietário.
Em oposição ao defendido pela teoria personalista apresenta-se a Teoria Dualista ou Clássica.
Teoria Dualista ou Clássica
A teoria clássica, ou tradicional, concebe o direito real como o poder direto e imediato que uma pessoa (titular do direito real) exerce sobre a coisa (bem submetido ao direito real), tendo como principal característica sua oponibilidade em face de terceiros.
Tal teoria lembra que os direitos pessoais referem-se às relações jurídicas caracterizadas pela relação entre pessoas, na qual uma é o sujeito ativo (credor) e de outro o sujeito passivo (devedor), que deve cumprir uma obrigação (obrigação de dar, fazer ou não fazer – lembrar a disciplina de direito civil: direito das obrigações). 
A principal crítica feita pela Teoria Personalista à Teoria Dualista reside na impossibilidade de se admitir uma relação jurídica entre pessoa e coisa, pois somente seria possível concebermos de forma coerente uma relação jurídica entre pessoas.
A Teoria Dualista por sua vez critica a tese esposada pela Teoria Unitária Personalista, pois é da essência do direito pessoal obrigacional a determinabilidade do sujeito passivo, bem como da necessária ligação jurídica formalizada mediante o estabelecimento de uma prestação (de dar, fazer ou não fazer), afastando assim do alcance dos direitos pessoais os direitos reais, e portanto excluídos os direitos reais como espécie do gênero do direito obrigacional.
Lembrando: no direito real o sujeito ativo (titular do direito real) exerce poder sobre o objeto diretamente, ou seja, sem a intervenção, a participação de ninguém, opondo este poder contra todos (erga omnes).
Embora haja divergência doutrinária, prevalece o entendimento de que os direitos reais são um ramo autônomo, distinto dos direitos obrigacionais, com maioria, portanto seguindo orientação da teoria Dualista.
Quanto as denominadas obrigações propter rem (ou ob rem ou reipersecutória) igualmente não há um consenso da doutrina acerca de sua natureza jurídica, parecendo razão assistir aos autores que sustentam se tratar de um terceiro gênero, a meio caminho de um direito obrigacional e de um direito real, pois não é integralmente nenhuma das duas, guardando similitude com ambos.
CARACTERÍSTICAS ATRIBUÍDAS AOS DIREITOS REAIS
As características a seguir apresentadas são de elevada importância para a compreensão dos direitos reais em espécie. Sua inteligência permitirá a antecipação de soluções legalmente previstas independente do conhecimento dos dispositivos legais respectivos.
1. Aderência ou Especialização
A presente característica nos é apresentada pela doutrina sob dois enfoques aparentemente distintos e dissociados, mas que acabam estabelecendo íntima relação.
A aderência pode ser identificada como o poder exercido pelo titular do direito real de forma direta e imediata, sem a necessidade da intervenção, da participação de terceiros, como se objeto estivesse ligado, aderido ao seu titular. Imaginemos algum objeto que nos pertença com exclusividade, por exemplo, um relógio. Podemos utilizar esse relógio no braço direito, ou no esquerdo, no bolso, ou simplesmente deixá-lo guardado, não dependendo da autorização de terceiros para tanto.
É o poder atribuído ao titular de direito real consistente na faculdade de utilizar-se da coisa, dispor da mesma, fruir ou de reavê-la diretamente sem interferência de ninguém.
A aderência também é apresentada pelo fato de que, após efetivamente constituído o direito real, ele (o direito real) adere ao bem (objeto) e acompanha o bem em poder de quem ele estiver. O exemplo
de mais fácil percepção nessa ótica é o caso do direito real de servidão de passagem (estudaremos adiante os direitos reais sobre coisa alheia). Praticamente todos nós já tivemos a oportunidade de visitarmos algum sítio ou chácara. È normal e frequente que antes de chegarmos ao local, passemos em vários trechos, estradas, de terra batida ou mesmo com alguma pavimentação. Muitos desses trechos são de propriedade de algum dos imóveis cujos titulares autorizam a passagem por dentro de suas propriedades. Ainda que um desses proprietários venha alienar seu imóvel, após efetivamente constituída a servidão (registro no cartório de imóveis), o direito real de servidão acompanhará o imóvel ao novo titular (repita-se que oportunamente será objeto de estudo mais detido o direito de servidão, a identificação das partes, bem como os modos possíveis à desconstituição da servidão).
2. Absolutismo
Os direitos reais são oponíveis contra todos, ou seja, possuem eficácia erga omnes. Por essa razão, são tidos como absolutos, uma vez que podem ser opostos contra qualquer um que venha molestar o direito do titular do direito real.
Do poder exercido pelo titular oponível contra todos, decorrem dessa característica o direito de sequela (jus persequendi), consistente na faculdade atribuída ao titular de direito real de reaver a coisa do poder de quem quer que injustamente possua ou detenha; e também o direito de preferência (jus praeferendi) inerente aos direitos reais de garantia que confere ao seu titular prioridade no recebimento de créditos, quando em concurso com credores quirografários (garantia de direito pessoal)
Observação: 
2.1 Direito de preferência - segundo Orlando Gomes, consiste no privilégio de obter o pagamento de uma dívida com valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Geralmente os direitos reais têm preferência sobre os direitos pessoais, ou seja, os créditos garantidos através de direitos reais devem ser satisfeitos primeiramente que os créditos decorrentes de direitos pessoais, com exceção dos direitos trabalhistas (e demais exceções legais)
2.2 Direito de Sequela - é o direito que tem o titular do direito real de perseguir a coisa, estando ela em poder de todo e qualquer detentor ou possuidor desde que injustamente.
3. Publicidade ou Visibilidade
A possibilidade de fornecer informação de que a coisa é titulada a determinada pessoa (titular de direito real). Quando se referir a bem móvel opera-se com a tradição (entrega) da coisa. Já com relação a bem imóvel se opera com o registro no Cartório de Registro de Imóveis competente do título de transferência que será formalizado mediante escrituro público ou particular conforme a regra contida no artigo 108 do Código Civil (CC).
Dessa forma permite-se, ainda que de forma fictícia que toda a coletividade tenha condições de conhecer o titular do direito real sobre determinado bem.
Quando se tratar de bens imóveis o mandamento legal encontra-se inserto no artigo 1.227 do CC. No caso dos bens móveis art. 1.267 do CC.
4. Taxatividade
Somente a lei pode criar um direito real, o nosso CC adota o sistema de tipicidade fechada (numerus clausus), ou seja , os direitos reais estão taxativamente previstos em lei, não sendo possível a criação de direitos reais por convenção privada, por acordo de vontades. (artigo 1.225 do CC).
Cuidado deve ser adotado com a expressão numerus clausus nesse momento. Normalmente encontramos a referida expressão tratada em doutrina processual, que tem por fim indicar um elenco, um rol de hipóteses previstas em um dispositivo, ou diploma legal, que ali se esgotam, não havendo outras possibilidades.
Numerus clausus - mesmo que número fechado, em que parte da doutrina assevera que as espécies de Direitos Reais se esgotam no rol do artigo 1.225 do CC.
Numerus apertus – mesmo que número aberto, em que a doutrina sustenta que o rol pode ser ampliado, sempre por iniciativa do legislador (taxatividade ou tipicidade fechada), havendo outras espécies de direitos reais fora do rol do artigo 1.225, como por exemplo o denominado pacto retrovenda ou direito de retrato, artigos 505 a 508 do CC, ou a propriedade fiduciária no artigo 1.361, também do CC.
5. Tipicidade
Refere-se à definição ou explicação do conteúdo de cada uma das modalidades dos Direitos Reais, assim o direito real de propriedade taxado no artigo 1.225 em seu inciso I do CC encontra-se tipificado no artigo 1.228 do mesmo diploma legal.
6. Perpetuidade
A propriedade é um direito perpétuo pois não se perde por não usá-la, mas somente pelos meios e formas legais, como por exemplo a usucapião (que será objeto de estudo oportunamente, a desapropriação (direito administrativo), a renúncia, o abandono, etc. 
Os direitos reais são constituídos para durar indefinidamente. A expressão utilizada pela doutrina, perpetuidade, pode nos transmitir a idéia de algo “para sempre”, romântico mas tecnicamente inadequado. A maioria dos direitos reais são constituídos para subsistir indefinidamente (sem prazo para extinção).
Vide por exemplo o direito real de usufruto que pode ser vitalício, cuja definição não se confunde com algo perpétuo. Tanto é assim que, com o falecimento do usufrutuário (titular do direito real de usufruto, tópico que também será estudado um pouco mais adiante) extingue-se o direito real de usufruto, não sendo transmitido aos sucessores do usufrutuário falecido.
A perpetuidade diz que os direitos reais são feitos ou instituídos para durar indefinidamente. No entanto tal princípio sofre mitigação, diminuição na medida em que existem métodos e formas legais para a extinção do referido direito. (artigos 183 e 191, ambos da Constituição Federal, CF/88)
7. Exclusividade
Não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo e extensão, incidentes sobre um mesmo objeto e ao mesmo tempo.
Não poderemos ter dois indivíduos que se afirmam proprietários da totalidade de um mesmo imóvel. Um deles não será o titular de direito. Pode sim haver condomínio, mas então cada um será proprietário de uma cota parte específica, ainda que representada por uma fração ou percentual previsto no título de propriedade.
Outro alerta deve ser feito, antecipando estudos futuros é o caso da hipoteca que admite a incidência de mais de uma sobre um mesmo imóvel, ao mesmo tempo mas em graus diferentes (hipoteca 1º grau, 2º grau, 3º grau). Não há afronta a característica da exclusividade pois o titular da hipoteca em 2º grau apenas poderá executá-la após satisfeito o crédito garantido pela hipoteca de 1º grau.
8. Desmembramento ou Elasticidade
Segundo a presente característica podemos extrair ou constituir, a partir de um direito real, outras modalidades de direitos reais. Desmembram-se do direito real de propriedade, também chamado de direito real matriz, outros direitos reais que serão denominados direitos reais sobre coisas alheias. É que ocorre com o usufruto, o uso, a servidão, a hipoteca e com todos os demais direitos reais limitados.
Quando esses direitos limitados se extinguem, o poder ou direitos que residiam em mãos de seus titulares retornam novamente às mãos do proprietário, como no caso do usufrutuário que morre. 
Refere-se a possibilidade de serem, simbolicamente falando, destacados ou esticados, direitos reais menores ou limitados de um direito real maior e colocados em mãos de terceiros.
9. Consolidação 
Natural tendência de ulterior reunificação dos direitos reais limitados uma vez desmembrados consolidando-se em mãos de um único titular, retornando a condição de direito real pleno (propriedade).
CLASSIFICAÇÃO DE DIREITOS REAIS
Os direitos reais podem ser classificados conforme sua incidência, sobre coisa própria ou sobre coisa alheia, bem como conforme o titular do direito real, como quanto ao contato com o bem, ao seu valor, variando conforme a doutrina consultada. A mais reiterada por sua importância é a que os divide em sobre a própria coisa ou
sobre coisa alheia.
Jus in re propria (direito real sobre coisa própria)
Direito sobre a coisa própria é o caso do direito de propriedade pleno, artigo 1.228 ou ainda o direito real em garantia (propriedade fiduciária do artigo 1.361), em que o direito real em comento incide sobre bem que é titulado ao proprietário. 
A alienação fiduciária é bem ilustrativa. Quando adquirimos por exemplo um veículo financiado, consta no documento a informação “alienado ao Banco X”, ou seja, o Banco X é o proprietário do veículo e embora tenhamos a posse direta do bem, que estamos pagando, o veículo em si é a garantia de que pagaremos o financiamento ao Banco X. O Banco X tem a propriedade fiduciária do veículo financiado e é o titular do direito real em garantia de alienação fiduciária, portanto titular de direito real que recai sobre coisa que lhe é própria.
Jus in re aliena (direito real sobre coisa alheia)
Já nos direitos reais sobre coisa alheia, os titulares dos referidos direitos reais não são proprietários dos bens sobre os quais incide a modalidade de direito real, também denominado direitos reais limitados. 
Por exemplo o titular do direito real de usufruto tem os poderes de usar e fruir de um determinado bem que é de propriedade de terceira pessoa (nu-proprietário).
Os Direitos reais limitados ou sobre coisa alheia se subdividem:
a)Direitos principais, ou direitos de gozo ou fruição, ou direitos sobre substância, quando os direitos conferidos ao titular permitirem o contato físico com o bem, permite usar, fruir da coisa, como ocorre com o direito de usufruto, de uso, etc.
b) Direitos acessórios, ou direitos de garantia, ou direitos sobre valor, quando o direito conferido ao seu titular não permite ao seu titular o uso da coisa, mas apenas recai sobre o valor que a coisa representa garantindo uma determinada relação jurídica que envolva transferência de crédito, é o caso por exemplo da hipoteca.
Os Direitos Reais também podem ser classificados do ponto do vista de pessoa que titulariza ou pode titularizar o bem objeto do direito real.
Serão subjetivamente pessoais quando não for autorizada a substituição do titular do direito real na relação jurídica originalmente estabelecida; ex.: o usufrutuário não pode alienar seu direito de usufruto para outrem por força de expressa disposição legal (artigo 1.393, 1ª parte).
Serão subjetivamente reais quando o direito real acompanha o bem, hipótese em que o direito real está vinculado à coisa acompanhando-a ainda que haja substituição do titular da coisa; ex. servidão (servidão de passagem), hipoteca.
DA POSSE
Um próximo capítulo de elevado destaque e importância no estudo dos direitos reais é o estudo da posse. A expressão posse é largamente utilizada em nosso dia-a-dia, buscando identificar uma série de situações, vezes empregada em sentidos técnicos diversos daquele objeto da nossa disciplina, vezes em sentido equivocado tecnicamente falando.
Dentre os diversos sentidos ambíguos que a expressão posse pode ser empregada, podemos encontrar em um diálogo entre pessoas que determinada pessoa tomou posse de uma função pública, mediante concurso ou processo eletivo. O termo posse aqui tem sentido técnico próprio das disciplinas do ramo do direito público, como o direito administrativo, direito constitucional. (ver artigo 78 da CF/88)
Encontramos também em noticiários que determinado País tomou posse sobre outro País, também com um sentido próprio e peculiar para o Direito Internacional Público, diferente do sentido e alcance que a posse tem para o direito civil, direito das coisas (artigo 1.196 e seguintes do CC).
Mesmo no âmbito do direito civil vamos nos deparar com a expressão posse com sentido próprio que não se confunde com o sentido dos direitos reais, como por exemplo no direito de família, ter “vivido na posse do estado de casados” (artigo 1.547 do CC).
È comum inclusive encontrarmos, agora no âmbito dos direitos reais, pessoas falando que Fulano de Tal tem muitas “posses”, quando na verdade o correto seria dizer que tem muitas propriedades. Erro muito comum que deve ser evitado a todo custo pelo estudioso do direito é empregar posse como sinônimo de propriedade, institutos distintos, com regras e aspectos bastante peculiares.
Antes de adentrarmos no estudo da Posse propriamente dita, conheceremos as duas grandes teorias que buscaram identificar e conceituar o instituto da posse para os direitos reais.
TEORIAS SOBRE POSSE
Teoria Subjetiva de Friedrich Karl Von Savigny
A presente teoria sustenta a posse como sendo “poder direto ou imediato (corpus) que tem a pessoa de dispor fisicamente de um bem, com a intenção (animus) de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja”.
Uma primeira leitura, sem questionamento crítico nos leva a crer que com efeito deve ser esse o conceito e a orientação que orienta a legislação contemporânea. No entanto, vejamos.
Para Savigny, a posse se aperfeiçoa mediante a conjugação indissociável de dois elementos distintos, aos quais nomeia de corpus e animus. 
Corpus é o elemento objetivo, externo, visível, é o contato físico, o poder direito ou imediato que o indivíduo exerce sobre o bem. O animus é o elemento subjetivo, volitivo (vontade), a intenção que deve estar presente e concomitante ao elemento objetivo (corpus) de possuir na condição de proprietário, de dono. (animus rem sibi habendi – intenção de possuir como dono, como senhor proprietário)
Para a Teoria Subjetiva sustentada por Savigny a posse apenas estará presente diante da reunião dos dois elementos, objetivo e subjetivo, do corpus e do animus, do contato físico e da intenção de dono.
Apenas para fixar:
Corpus – elemento material, representando a disposição física, o contato, a apreensão que tem o indivíduo sobre o bem – contato físico com a coisa, apreensão física exercida sobre aquele que se pretende possuidor da coisa;
Animus rem sibi habendi (intenção de ter a coisa para si) ou animus domini (intenção de senhor de dono de possuir a coisa para si) - elemento imaterial, volitivo, decorrente da vontade, consistindo na intenção que tem o indivíduo de ter a coisa para si na qualidade de dono.
A ausência de qualquer um desses elementos não permite dizer que há posse, segundo o defendido pela Teoria Subjetiva de Savigny.
A presença apenas do elemento imaterial, o animus, apenas a intenção de ter a coisa para si com dono, não merece apreciação jurídica uma vez que tal situação não é sequer verificável, não merecendo portanto apreciação. Apenas a vontade, apenas algo em na mente do indivíduo não é passível de apreciação jurídica, apenas uma vontade sem reflexos no mundo material.
A presença apenas do elemento material, corpus resulta na existência da coisa, mas falta-lhe a vontade de ter a coisa para si como dono (animus). Situação em que o indivíduo somente tem à sua disposição o elemento material, ausente o elemento imaterial, qual seja, a intenção de ter a coisa para si enquanto dono. Para a Teoria Subjetiva será considerado detentor. Assim o locatário , arrendatário, usufrutuário, entre outros, ou seja, todas aquelas pessoas que exercem poder físico sobre a coisa em nome de outrem não seriam considerados possuidores, apenas detentores (art. 1.198 do CC).
O maior reflexo dessa situação, ter apenas o corpus e não ter o animus, é não ter o direito a ação possessória (proteção judicial da posse), implica em relação de mera custódia ou detenção em que ao indivíduo enquadrado nessa condição (detenção) não são permitidas proteções possessórias judiciais.
Posse Derivada – hipótese excepcional em que tanto ao depositário de coisa litigiosa, bem como ao credor pignoratício são facultadas as ações possessórias, ou seja, em ambas as hipóteses, segundo a Teoria se Savigny poderemos afirmar a existência do elemento material (corpus), a ausência do elemento imaterial (animus) o que resultará numa relação de detenção, mas que
por circunstâncias especialíssimas permite-se a utilização de proteção possessória.
Teoria objetiva de Rudolf von Ihering
A presente teoria se contrapõe à teoria subjetiva, tendo sido adotada pelo Direito Civil Brasileiro desde a vigência do revogado Código Civil de 1919, vigente também no atual diploma civil (Código de 2002, art. 1.196 e seguintes).
Considera-se possuidor aquele que age, se comporta em relação à coisa como se fosse proprietário, mesmo que não o seja, independe de qualquer intenção, ou elemento volitivo.
Para a caracterização da posse basta o elemento objetivo “corpus” (não significando para a Teoria Objetiva o contato físico com a coisa como ocorre para a Teoria Subjetiva, mas sim conduta de dono, comportamento de dono).
Para a Teoria Objetiva o elemento subjetivo “animus” está inserido no elemento objetivo “corpus”, ou se preferirmos, a idéia do corpus traz consigo o animus, não como elemento distinto, mas contido pelo elemento objetivo.
Posse para a Teoria Objetiva é a exteriorização da propriedade, a visibilidade do domínio. 
Um exemplo nesse momento ajuda-nos a melhor compreender a Teoria Objetiva e diferenciá-la da Teria Subjetiva.
Imaginemos uma casa vizinha à nossa residência que até há pouco encontrava-se fechada, com uma placa de “aluga ou vende”. Agora visualizemos a mesma casa que após uma reforma, pintura e realização de algumas benfeitorias (cobertura de espaço destinado a veículo), está ocupada por uma família. Com apenas esses elementos fornecidos não poderemos afirmar de forma categoria, absoluta que aquela família que ali está comprou aquela casa ou apenas a alugou. Mas a relação comportamental como a reforma, pessoas na casa, saindo para o trabalho/escola, chegando do trabalho/escola, caracterizam a posse. Note-se que não titulamos como proprietários ou locatários, até porque o comportamento de um e de outro em relação ao imóvel é, com poucas exceções, idêntico. Isso é exteriorização de propriedade, é o fato de comportar-se como se dono fosse, independente de ser ou de ter alguma vontade nesse sentido. (art. 1.196 combinado com 1.228, ambos do CC)
Observação: Não se pode negar que o possuidor, aquele que tem a posse, independe de ser o proprietário, o locatário, ou mesmo um invasor (adiante explicaremos que essa posse ilegítima poderá produzir efeitos legítimos perante terceiros, que não o legítimo proprietário ou possuidor).
Posse portanto é uma relação de fato passível de proteção jurídica, uma situação de fato juridicamente reconhecida e protegida.
O possuidor, nos termos do art. 1.196 do CC, exerce de forma plena ou não, os poderes previstos no art. 1.228 (usar, fruir, dispor ou reaver). È evidente que o proprietário ou locatário frequentemente se ausentarão de seus domicílios, em férias por exemplo, nem por isso deixarão de ser considerados posuidores. O fato de não exercer constante contado físico não significa que não seja possuidor da coisa, ou que tenha perdido a condição de possuidor nos momentos de distanciamento do bem.
POSSE E DETENÇÃO 
O dispositivo legal que ajuda a diferenciar posse (art. 1.196) da detenção (art. 1.198) é o art. 1.204. A leitura atenta dos citados dispositivos legais nos permitirá concluir que tanto o possuidor como o detentor (caseiro de uma chácara) exercem uma relação comportamental em relação ao bem objeto da posse ou da detenção, respectivamente, de todo semelhante. A diferença está ao exercer alguns dos poderes inerentes ao direito de propriedade (art. 1.196 combinado com 1.228) em nome próprio, ou numa relação de subordinação em relação a outrem. Vamos trabalhar um exemplo.
Poderemos alugar uma chácara para nosso descanso aos finais de semana, acompanhados de nossa família. Para a conservação dessa chácara poderemos contratar um caseiro, alguém que poderá residir em um imóvel existente nessa chácara e ficará, conforme nossas orientações, responsável pela conservação dos jardins, hortas, pomares, animais, piscina e demais equipamentos e áreas da chácara. Nós, locadores, somos possuidores pois ao celebrarmos o contrato de locação/arrendamento com o proprietário passamos a exercer em nosso nome direitos de uso sobre o referido imóvel mediante a paga de uma quantia mensal. Já o indivíduo contratado para a conservação da chácara apenas estará lá conforme uma relação de subordinação para conosco. Nós seremos considerados possuidores, ele será considerado detentor, não exerce posse apenas tem a custódia de um bem, é um servidor da posse, também denominado fâmulo da posse.
Para Carlos Roberto Gonçalves detenção é uma posse degradada, ou seja, seria uma posse (a detenção) que em decorrência da lei se avilta em detenção; a pessoa, embora exerça de forma semelhante os poderes inerentes a propriedade não é considerada possuidora por força da lei, que lhe desqualifica e a enquadra como mera detenção;
A maior importância é que possuidor poderá demandar e ser demandado em ações possessórias, ao passo que o detentor não poderá demandar e sequer ser demandado em ação possessória. (ver art. 62 do Código de Processo Civil CPC)
"Extromissão" é a exclusão do réu primitivo em virtude de terceiro ter aceito tácita ou expressamente a sua nomeação à autoria. É o que se extrai do artigo 66 do CPC "se o nomeado reconhecer a qualidade que lhe é atribuída, contra ele correrá o processo; se a negar, o processo continuará contra o nomeante".
 
Por outro lado, a "expromissão" se revela como a substituição do devedor primitivo por terceiro, independente do consentimento daquele, em virtude de novação subjetiva por substituição do devedor (ou novação passiva - art. 363 do CC: Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição).
Importante também destacar que atos precários como de mera permissão ou de tolerância não induzem posse, conforme dicção da primeira parte do art. 1.208 do CC. Portanto se ingressamos no imóvel vizinho para buscar um objeto lançado por acidente (uma bola), essa conduta, ingresso para a busca da bola, não induz posse, ainda que a bola caia, em razão da falta de habilidade (ou excesso) no terreno por diversas vezes.
Distingue-se os atos de mera permissão, que se caracterizam pelo consentimento expresso (que pode ser verbal, ou gestual), dos atos de mera tolerância, que se caracterizam pelo consentimento tácito.
Natureza Jurídica da Posse
Muita divergência há entre os autores ainda hoje acerca da natureza jurídica da posse, apresentando-se três principais correntes:
Uma primeira sustenta ser a posse um direito, defendida entre outros por Ihering, apoiado em sua própria definição de direito, para quem é todo interesse juridicamente protegido; assim, sendo a posse um interesse juridicamente protegido, logo será também um direito;
Uma segunda sustenta ser a posse um fato, nos mesmos termos adotado pelo art. 1.196 do CC, não tendo autonomia, nem valor jurídico próprio, adotada entre outros por Vitor Kümpel, Clovis Beviláqua e Silvio Rodrigues;
Uma terceira corrente sustentado por Savigny, denominada por alguns de eclética, sustenta que a posse é ao mesmo tempo um fato e um direito, pois considerada em si, é um fato, mas considerada quanto aos efeitos capaz de produzir, é um direito;
Resta ainda dúvida quanto aqueles que sustentam ser um direito (de forma exclusiva ou também um fato), se se trata de um direito pessoal, de direito real, ou uma terceira categoria especial ou sui generis; ao que parece, pelos fundamentos a serem estudados, deve prevalecer a terceira hipótese como categoria sui generis de direito, pois nem será considerada exatamente um direito pessoal, tampouco pode ser considerada direito real;
O art. 10 §2° CPC confirma não ser a posse um direito real, ao não exigir a participação do cônjuge para atender requisito de legitimidade ativa ou passiva ad causam;
ESPÉCIES DE POSSE
1. Posse Direta e Indireta (Sobreposição
de posse, desdobramento de posses, posses paralelas, posses concorrentes)
Ocorrerá quando encontrarmos duas pessoas exercendo posse sobre um mesmo bem ao mesmo tempo, mas em graus diferentes (art.1.197 CC) - o locatário tem posse direta e o locador tem posse indireta.
a) posse direta – aquela deferida a pessoa em decorrência de numa relação de direito pessoal (ex.: contrato locação, comodato) ou em virtude de direito real (ex: usufruto, uso, habitação) podendo essa exercer contato com a coisa. Tem autorização de estar junto ao bem.
É a exercida diretamente pelo possuidor sobre a coisa, que recebe o bem, para usá-lo ou fruí-lo, em virtude de contrato, sendo, portanto, temporária.
b) posse indireta - denomina-se aquela reservada ao proprietário por força de uma relação jurídica, ou seja, uma posse exercida indiretamente uma vez que o direito de usar foi cedido temporariamente a terceiro, o possuidor direto. 
É a que o proprietário conserva, por ficção legal, quando o exercício da posse direta é conferido a outrem, em virtude de contrato ou direito real limitado.
Exemplo: o locatário exerce a posse direta, e o locador a posse indireta; o depositário tem a posse direta, e o depositante a posse indireta; o usufrutuário tem a posse direta, e o nuproprietário a posse indireta;
Importante!
O exercício da posse direta não anula a posse indireta; ambas coexistem no tempo e no espaço e são jurídicas, não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa.
A posse direta e indireta tem caráter temporário – enquanto estiver vigendo o contrato ou do direito real constituído.
Se o proprietário volta a ocupar a propriedade que estava com o locatário tem-se a posse plena.
Podemos ainda observar o desdobramento da posse acontecendo de forma sucessiva, ou seja, desdobramentos sucessivos, situação em que apenas conservará a posse direta o último mencionado na cadeia dos diversos desdobramentos na condição de possuidor; assim se um proprietário constituir um direito real de usufruto, ficará ele proprietário (agora nuproprietário) com a posse indireta e o usufrutuário com a posse direta; se o usufrutuário por sua vez locar o bem objeto do usufruto, ficará ele usufrutuário-locador com a posse indireta e o locatário com a posse direta; e ainda se o locatário vier a celebra um contrato de sublocação, ficará ele locatário-sublocador com a posse indireta e o sublocatário com a posse direta;
2. Posse Justa e Injusta
Investiga-se nessa classificação o momento da aquisição da posse, se houve ou não o emprego de vícios, de forma objetiva, externa, passível de verificação na aquisição da posse.
a) Posse Justa – Será a posse adquirida isenta de vícios como a violência, a clandestinidade ou a precariedade.
b) Posse Injusta – É a posse que tem no momento da aquisição, origem viciada, mediante emprego de violência, clandestinidade ou precariedade.
b.1. posse violenta – vício da violência – ocorre quando a posse é obtida mediante o emprego de esforço físico ou grave ameaça (vis absoluta e compulsiva respectivamente) contra a pessoa do proprietário ou do legítimo possuidor. O contrário de posse injusta violenta seria a posse mansa e pacífica.
Será violenta se obtida com grave ameaça ou violência contra o possuidor da coisa. A violência se dá contra a pessoa (e não contra a coisa).
b.2. posse clandestina - vício da clandestinidade – é aquela que ocorre às escondidas, às ocultas da pessoa do proprietário ou do legítimo possuidor (o invasor procura entrar sem ser percebido). O oposto de posse clandestina é a posse pública. Não basta que terceiros saibam da invasão, importante será a ciência ou possibilidade de ciência, por parte do proprietário ou legítimo possuidor.
É aquela adquirida sorrateiramente, utilizando-se de artifícios, às escondidas do proprietário ou do possuidor legítimo.
b.3. posse precária – vício da precariedade – É aquela que ocorre quando o possuidor direto, findo o prazo que autorizava sua permanência junto ao bem, recusa-se a entregá-la, recusa-se a devolver o bem ao proprietário.
Ocorre quando há abuso de confiança. Inicialmente a posse é obtida de forma lícita, sem vícios, porém no momento em que teria de ser devolvida ao possuidor direto a retém em seu poder, indevidamente, transformando a sua posse legítima em posse precária, pelo fato de não restituí-la ao possuidor legítimo ou ao proprietário.
O prof. Carlos Roberto Gonçalves faz paralelo bastante ilustrativo entre a posse injusta obtida com o emprego da violência, da clandestinidade e da precariedade, com figuras típicas do Direito Penal. A violência guarda íntima relação com o crime de roubo, a clandestinidade com o crime de furto e a precariedade com o crime de apropriação indébita. A lembrança das características de cada um dos crimes citados ajuda-nos muito à percepção dos vícios da violência, clandestinidade e precariedade, respectivamente.
Destaque-se ainda que os vícios enumerados no art. 1.200 do CC não esgotam toda sorte de atos viciosos que podem resultar na perda da posse, em esbulho, como v.g., o caso daquele que invade a céu aberto, sem empregar violência, nem abusar da confiança comete esbulho, viciada portanto a posse por ele adquirida; é bem verdade que mais simples seria se dissesse que a posse é viciada quando houve esbulho, entendido como tal a tomada da posse de forma não permitida, não autorizada;
Caráter Relativo da Posse Justa e Injusta
O caráter relativo atribuído à classificação de posse justa ou injusta dependerá do oponente, de contra quem o possuidor pretende opor a sua posse.
Vamos também trabalhar uma situação hipotética. Imaginemos uma posse adquirida mediante o emprego de violência pelo indivíduo “B” contra legítimo possuidor “A”, há 8 (oito) meses. Imaginemos agora que um indivíduo “C” tenta retirar o indivíduo “B” também empregando violência. A posse de “B” contra “A” adquirida há 8 (oito) meses mediante emprego da violência é considerada injusta; por outro lado a posse exercida por “B” diante de “C” será considerada justa, porque mais antiga, ou seja, o fato da posse está estabelecido e visualizável há mais tempo.
Interessante: a título de conhecimento a redação do revogado Parágrafo único do artigo 507 de CC 1916, que rezava entender-se melhor a posse que se fundar em justo título, na falta de título ou sendo os títulos iguais, a mais antiga; se da mesma data, a posse atual.”
Diz-se portanto ter a posse caráter relativo pois para afirmarmos se justa ou injusta deveremos verificar a forma de sua aquisição e em face de quem está sendo oposta a referida situação de fato.
Para que o vício inicial da aquisição cesse e a relação de posse possa produzir efeitos bastaria que o possuidor passe a usar a coisa publicamente, com o conhecimento do proprietário (ou legítimo possuidor) ou com a mera possibilidade de existir tal conhecimento, sem que haja reação desse proprietário;
3. Posse de boa-fé e má-fé (1201 CC)
Procura-se investigar nessa classificação o elemento subjetivo no momento da aquisição da posse, ou seja, se o possuidor tinha ou não condições de saber da existência de óbices, empecilhos, que interfiram no tocante a legitimidade ou legalidade de sua posse.
Ex.: Um jovem adolescente vende imóvel e assina documento. A pessoa que o adquiriu, hoje possuidora tinha (ou poderia ter) conhecimento da incapacidade do adolescente? Se sim – má-fé.
a) Posse de boa-fé – ocorre quando o possuidor ignora o vício ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa ou do direito possuído. Será possuidor de boa-fé aquele que tem plena convicção da regularidade da legalidade de sua posse, ignorando, absolutamente, a existência de qualquer obstáculo, e, se houver será o desconhecimento escusável, e o vício tido por invencível; o possuidor acredita que a coisa lhe pertence ou não conhece os vícios da posse - ex.: pessoa que adquire uma coisa furtada, desconhecendo esse detalhe; quando o possuidor está convicto de que a
coisa, realmente, lhe pertence, ignorando que está prejudicando direito de outrem.
b) Posse de má-fé – quando o possuidor tem (ou poderia ter) conhecimento do vício da posse; é aquela em que o possuidor tem ciência da ilegitimidade de seu direito de posse, em razão de vício ou obstáculo impeditivo de sua aquisição. Será aquele que conhece ou poderia conhecer da existência de impedimento a sua posse por intermédio de diligência ordinária, comum sendo portanto seu erro tido por inescusável (não se desculpa) ou vencível (facilmente superável).
Atenção: a importância da distinção entre a posse de boa-fé e a de má-fé, implica na solução para indenização por benfeitorias, exercício do direito de retenção e responsabilidade no caso de deterioração da coisa, além de reflexos no estudo da usucapião, temas a serem estudados oportunamente.
A posse de boa-fé só perde esse caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente (art. 1.202 CC). Note-se que o artigo estabelece que a boa-fé deve existir tanto no momento da aquisição da posse, como deve perdurar enquanto houver a posse. Caso o possuir tenha ignorado o vício no momento da aquisição da posse esta será de boa-fé, entretanto, no momento em que vier a tomar conhecimento dos obstáculos que interferem na legalidade ou legitimidade de sua posse, esta será considerada de má-fé, se ele continuar na posse. O momento da mudança do caráter da posse de boa-fé para má-fé é muito difícil aferir, a jurisprudência considera que após a citação o possuidor tomou conhecimento do vício, não podendo portanto alegar ignorância dele, sendo assim a posse considera injusta, e ele um possuidor de ma-fé - a mudança da boa-fé para má-fé se opera na citação. Se houver alguma prova robusta do conhecimento do vício, independente de promoção de ação, será considerada a partir desse momento de inequívoca ciência a posse de má-fé. 
Importante conceito: Justo Título – Denomina-se o documento formalmente hábil a transferir a posse ou propriedade, no entanto o mesmo possui defeito intrínseco que impede a efetiva transferência da posse ou propriedade (Parágrafo único do art. 1.201 CC). Se for justo título presume-se boa-fé, porém é relativa (juris tantun) tal presunção, ou seja, admite-se prova em contrário.
A presunção conferida ao possuidor que tiver em seu poder um justo título será de que o mesmo é possuidor de boa-fé, admitindo-se no entanto prova em contrário, uma vez que tal presunção é relativa (juris tantun). A presunção de boa-fé da posse, quando houver justo título, é uma presunção relativa, logo, admite prova em contrário. A presunção favorece o possuidor de boa-fé, na medida em que transfere o ônus da prova para aquele que alega má-fé. 
Ex. escritura pública de compra e venda feita pelo único herdeiro de um casal falecido, sem que o referido herdeiro tenha feito o inventário do bem deixado, formalizando a transferência da titularidade para seu nome.
Título – Será o documento formal e de direito perfeito a transferir efetivamente posse ou a propriedade.
4. Posse natural ou jurídica
Posse Natural (mesmo que detenção) – Seria o mesmo que detenção trazendo no entanto uma inadequação técnica, uma vez que o detentor não exerce posse, não sendo portanto razoável a terminologia “posse” natural. É aquela realizada através do exercício do poder de fato do indivíduo sobre a coisa, sem que haja relação jurídica que legitime como posse (detentor, fâmulo da posse, servidor da posse).
Posse Jurídica – é aquela adquirida através de um dos modos de aquisição da posse juridicamente estabelecidos.
5. Posse Nova e Posse Velha
a) Posse nova – É aquela que data de menos de ano e dia do ingresso da pessoa no bem - se tiver menos de 1 ano e 1 dia, cabe “ação de força nova” (o processo “nasce”, tem seu início no rito especial), permite a concessão de liminar para reintegração, v.g., inaudita altera parte, sem que seja ouvida a parte contrária.
b) Posse velha – É aquela que data de mais de ano e dia de permanência da pessoa junto ao bem - se tiver mais de 1 ano e dia, cabe “ação de força velha” (o processo segue, desde o início, o rito ordinário), não há possibilidade de pedido liminar mas a doutrina menciona a tutela antecipada.
6. Posse ad interdicta e Posse ad usucapionem
a) Posse “ad interdicta” – É aquela que autoriza o possuidor a defender seu direito por intermédio de interditos possessórios ou ações possessórias (posse velha, posse justa). A pessoa do possuidor tem direito de proteger sua posse ou propriedade por intermédio de ações possessórias.
É toda aquela passível de defesa mediante a propositura de interditos possessórios, diante da ameaça , turbação ou esbulho.
b) Posse “ad usucapionem” – É aquela onde o possuidor já preencheu todos os requisitos para a aquisição da propriedade pela usucapião, bastando portanto o ingresso com a referida ação para aquisição do direito real de propriedade.
É a que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, deferindo ao seu titular a aquisição do domínio pela usucapião; ela gera o direito de usucapião (posse com animus domini que foi exercida de forma mansa e pacífica, sem interrupção, por um lapso de tempo determinado em lei).
7. Composse
Duas ou mais pessoas possuem simultaneamente um mesmo bem. O art. 1.199 CC informa que se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos demais compossuidores.
Na composse teremos a posse comum e de mesmo grau, exercida por duas ou mais pessoas sobre o mesmo bem, não podendo nenhum compossuidor interferir no exercício da posse dos demais compossuidores. Aquele que for esbulhado ou turbado por um compossuidor poderá exercer o seu direito e entrar com ação possessória em face do compossuidor turbador ou esbulhador.
Ex.: regime de comunhão de bens. 
a) Composse “pro diviso” – Será aquela em que os compossuidores reservaram para si, com exclusividade e informalmente, o exercício da posse sobre determinado bem ou sobre parte de um mesmo bem . Neste caso não há mais que se falar em composse de fato, uma vez que a situação fática foi resolvida; restando apenas a composse de direito. Entretanto caso haja a invasão de um bem reservado com exclusividade a um compossuidor, poderá em nome próprio ingressar com ação possessória face ao 3º invasor, já que a composse de direito permanece.
ocorre quando há uma divisão de fato, embora não haja a de direito, fazendo com que cada um dos compossuidores já possua uma parte certa, embora o bem continue indiviso.
Ocorre de forma que os possuidores definem entre si sobre qual parcela da coisa ou sobre quais bens exercerão suas respectivas posses.
b) Composse “pro indiviso” – Denomina-se àquela composse de fato e de direito, ou seja, não existe divisão cômoda entre os compossuidores. Ocorre quando cada possuidor exerce sua posse de forma integral, sobre todo o bem (ou bens).
Dá-se quando as pessoas que possuem em conjunto o bem têm uma parte ideal apenas, sem saber qual a parcela que compete a cada uma - ex.: três pessoas têm a posse de um terreno, porém, como não está determinada qual a parcela que compete a cada um, cada uma delas passa a ter a terça parte ideal.
Outras espécies de posse
Posse sem apreensão – É aquela conferida aos herdeiros a partir do momento da abertura da sucessão, ou seja, espécie de posse que se caracteriza inicialmente pela ausência de exteriorização comportamento como se fosse proprietário junto ao bem (art.1.784 CC).
Posse sem intenção – É aquela que decorre por força de determinação legal, existindo também em algumas modalidades de garantia. Ex: credor pignoratício, hotel e as bagagens dos hóspedes (arts. 649, parágrafo único e art. 1.467, I ambos CC) - é a posse que decorre da obrigação legal.
Posse improdutiva – Será aquela em que o possuidor não confere nenhuma função social ao objeto
posse (art. 182 CF) - tal artigo coloca obrigatoriedade para que o imóvel cumpra função social.
Posse pro labore ou Produtiva – será aquela em que o possuidor adquire conferindo à mesma produtividade ou função social.
Jus Possidendi – denomina-se o direito a posse, decorrente do direito de propriedade, autorizando o seu titular a promover as ações dominiais ou petitórias (ação reivindicatória), bem como ações possessórias. Quando se discute o jus possidendi deverá restar vencedor aquele que demonstrar ser o titular do direito de propriedade sobre o bem.
Jus Possessionis – denomina-se o direito de possuir, decorrente exclusivamente do fato da posse, autorizando o seu titular a promover apenas ações possessórias. Discute-se nessas ações exclusivamente o fato da posse, ou seja, a posse é defendida autonomamente, devendo restar vencedor aquele que demonstrar ser melhor possuidor.
Capítulo 2
Aquisição de posse
Estudada a posse, passaremos agora a analisar a sua aquisição, suas formas, origens e conseqüências jurídicas. 
Podemos afirma que a posse será adquirida a partir do momento em que a pessoa, em nome próprio, exerce	 um ou alguns dos poderes inerentes a propriedade (arts. 1.204, 1.196 e 1.228 todos do CC, quando o indivíduo exercer um ou mais dos direitos adiante: uso, gozo, ou fruição, disponibilidade. 
Classificação dos Modos de Aquisição da Posse
1. Originária - considera-se adquirida de forma originária aquela em que não existe nenhuma ligação entre o atual possuidor e o eventual possuidor antecedente, pouco importando se houve ou não possuidor anterior, sendo considerada a posse atual “nascida” a partir daquele momento (art. 1.204). A posse originária tem como característica ser isenta de vícios. ex: coisas abandonadas.
Não houve em momento algum outro possuidor anteriormente (ou assim é tratada), vale dizer, a posse nasce a partir daquele momento
2. Derivada – Nesse caso haverá necessariamente ligação, liame entre o atual possuidor e o possuidor antecedente, sendo que tal transmissão pode ser mediante negócio jurídico “inter vivos” ou “mortis causa”. (arts. 1.205 e 1.206 CC)
Modos Originários de Aquisição da Posse
1. Apreensão – Consiste na apropriação unilateral de coisa sem dono ou retirada da coisa de terceiro, então vejamos:
a) Res derelictae – mesmo que coisa abandona, em que a apreensão do bem abandonado por pessoa capaz dá origem a esse novo direito sem qualquer relação como o outrora possuidor (CC/1916 art. 592 parágrafo único e 1.263 CC) - demissão intencional do proprietário (derrelição).
b) Res nullius - mesmo que coisa de ninguém, aquilo que nunca fora objeto sujeito à posse ou proprietário de alguém. (Ex: Peixes, cardumes, caça é coisa de ninguém CC/1916 art. 593, enxame de abelhas)
c) Bens de Terceiros – sem o consentimento do possuidor anterior iniciada com os vícios da violência ou da clandestinidade, decorridos ano e dia do início daquela aquisição viciada, e acrescidos o lapso temporal necessário para futura aquisição pela usucapião. Este caso requer cuidado pois não há transferência, tampouco o consentimento do 3º, mas há lapso temporal necessário à usucapião.
2. Exercício de direito - Adquire-se a posse também pelo exercício de direito sendo o exemplo clássico a servidão que se constituída pela passagem de um aqueduto por terreno alheio; por exemplo, adquire o agente a sua posse se o dono do prédio serviente permanece inerte pelo prazo de ano e dia. Será cabível sobre o bem imóvel onde o exercício de atividades visíveis, que represente a condição de possuidor sem a oposição legítima feita pelo proprietário e decorrido o lapso temporal de ano e dia, resultará na aquisição da posse pelo exercício daquele direito.
Modos Derivados de Aquisição da Posse
1. Tradição – Ato pelo qual o tradens (quem transfere) coloca determinado bem em mãos do accipiens (quem aceita). A tradição pressupõe um acordo de vontades, um negócio jurídico de alienação, quer a título oneroso como na compra e venda, quer a título gratuito, como doação. A tradição pode ser:
Tradição Efetiva ou Material – É aquela que se opera por intermédio da entrega real do bem em mãos do accipiens. É aquela que envolve a entrega efetiva e material da coisa, como por exemplo, entregar um livro a um amigo fisicamente;
Tradição simbólica ou ficta – É aquela que se opera mediante atos representativos ou simbólicos da entrega da coisa principal, como a entrega das chaves simbolizando a entrega do imóvel; 
Tradição consensual – Se opera por intermédio da simples anuência entre tradens e accipiens, estando o bem a disposição desse último. A doutrina subdivide a tradição consensual em duas espécies:
c.1) Traditio longa manu - é aquela que se dá à distância , o accipiens não toca o bem objeto da tradição, no entanto o mesmo encontra-se a sua inteira disposição. Ex. Marcos esta em SP e compra em MG 500 hct de terras produtivas, não será necessário qualquer ato que caracterize sua tradição. 
c.2) Traditio brevi Manu – é aquela que se opera de forma automática em que o possuidor diretor adquire a titularidade do domínio, mudando sua posse de direta para plena e imediata, como por exemplo um locatário compra o imóvel que ocupava anteriormente na relação locatícia.
2. Constituto possessório (ou cláusula constituti) – é exatamente o oposto do traditio brevi manu. Parte da posse imediata ou plena para a posse direta, ou seja, o caso do proprietário que aliena o bem e continua a ocupá-lo na qualidade de, por exemplo, locatório ex.: Bradesco vende imóvel mas continua a ocupá-lo como locatário para sua agência.
3. Acessão – (art. 1.206 e 1.207 CC) – Nome que se dá a possibilidade de unir ou somar o tempo da posse antecedente com o da posse consequente objetivando, via de regra, o cômputo do tempo necessário à usucapião. A acessão pode se dar de duas formas:
a) Acessão por Sucessão – Posse derivada a título universal em que o possuidor consequente continua a posse do antecedente com os mesmos caracteres, ou seja, com seus vícios e qualidades (a soma se dá por força de Lei (ope legis ou ex vi legis) – arts. 1.206 e 1.207 CC 1ª parte.
b) Acessão por União – mesmo que a sucessão singular em que o bem transmitido é certo e determinado, facultando-se ao possuidor atual unir a posse a do antecedente ex.: contrato de compra e venda de uma gleba.
Atenção – na sucessão singular, ou por legado, a regra é a mesma da Acessão por União, por se tratar de coisa certa e determinada, é facultado ao legatário unir à sua posse a do antecedente (pode escolher).
"Posse na Sucessão Universal - O sucessor universal continua na posse de seu antecessor. Há uma continuidade na posse, que se prolongará na pessoa do sucessor universal, pois o objeto da transferência é uma universalidade, como um patrimônio, ou parte alíquota de uma universalidade" 
"União: a união se dá na hipótese da sucessão singular (compra e venda, doação, dação, legado), ou melhor, quando o objeto adquirido constitui coisa certa e determinada. A aquisição da posse a título singular constitui para o adquirente uma nova posse, embora receba de outrem. O adquirente está autorizado legalmente a unir, se quiser, sua posse à de seu antecessor, visando obter a propriedade pela usucapião, somando as posses para completar o prazo para usucapir." 
MODOS DE PERDA DA POSSE (art.s 1.223 E 1.224 CC)
Haverá que se falar em perda da posse quando a pessoa, mesmo contra sua vontade, deixar de exercer alguns dos direitos facultados ao titular do direito real de propriedade. Embora desde o CC/1916, bem como o Código Civil brasileiro em vigor, adotou a Teoria Objetiva da Posse, é possível estudarmos os modos de perda da posse a partir da concepção adotada pela Teoria Subjetiva, mediante a ausência de um dos elementos definidores da posse (segundo essa teoria), quais sejam o corpus e o animus.
- Tradição e Abandono
Segundo a teoria subjetiva inexistem tanto o elemento material (corpus) e o elemento
imaterial (animus). Quando a perda da posse é decorrente da ausência simultânea de corpus e animus.
Perda da coisa, destruição e posse de outrem
Em razão da ausência do elemento material, presente apenas o animus considera-se perdida a posse. A perda decorrente do elemento corpus ocorre quando, independentemente da vontade do possuidor ocorre a impossibilidade de exercício do poder sobre a coisa e pode dar se dar através das condições supra referidas.
Constituto possessório
Perda decorrente da ausência de animus ocorre somente quando há o constituto possessório. Neste caso a propriedade é transferida, mas a pessoa conserva poder sobre a coisa, porém já não mais com a intenção de agir como dono, perdendo assim a posse relativa à propriedade por força da cláusula constituti.
Trata-se da situação em que o indivíduo era proprietário do bem possuindo esse bem e posteriormente aliena o mesmo a 3º, permanecendo junto ao bem, por exemplo na condição de locatário; segundo a teoria subjetiva tal situação implicaria na perda da posse, face a ausência do elemento subjetivo, o animus; a crítica que se faz a essa afirmação bem como a situação outrora prevista no inciso V do art. 520 do CC/1916, é que não se trata de perda de posse, mas sim, na mudança da natureza dessa posse – posse plena para posse direta.
EFEITOS DA POSSE
Conforme a doutrina adotada podemos encontrar dezenas de efeitos decorrentes da posse. Serão apresentados, no entanto, segundo a concepção do prof. Silvio Rodrigues, os efeitos a seguir.
1. DIREITO DE AUTODEFESA, AUTOTUTELA DA POSSE, PROTEÇÃO EXTRAJUDICIAL (PARÁGRAFO 1º, ART. 1.210 CC)
Trata-se de rara situação em que o legislador autoriza que os particulares fazendo uso de sua própria razão e força, recuperem um bem que lhe fora retirado ou mantenha-se nesse bem, caso o seu exercício esteja sendo embaraçado. 
Art. 1.210 - O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir0se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição de posse
Nota-se que o CC permite a defesa direta pelo possuidor, sem a necessidade de intervenção judicial ou policial, desde que presentes os requisitos legais.
A Proteção extrajudicial da posse pode se dar em duas hipóteses distintas, recebendo portanto nomenclatura própria cada uma delas:
a) Legítima Defesa da Posse - trata-se da força física empregada de forma imediata e moderada para a permanência junto ao bem, ou seja, não houve perda da posse houve apenas turbação (todo ato que dificulta o exercício da posse).
b) Desforço incontinenti ou imediato– os atos de violência imediatos e moderados objetivam recuperar a posse perdida, ou seja, voltam-se face ao esbulho. Tem como objetivo a recuperação da posse perdida tendo em vista o esbulho (é a perda da posse contra a vontade do possuidor).
Falando um pouco mais...
desforço imediato – ocorre quando o possuidor, já tendo perdido a posse (esbulho), consegue reagir, em seguida, e retomar a coisa (autotutela, autodefesa ou defesa direta); 
é praticado diante do atentado já consumado, mas ainda no calor dos acontecimentos; o possuidor tem de agir com suas próprias forças, embora possa ser auxiliado por amigos e empregados, permitindo, ainda, se necessário, o emprego de armas; 
o detentor da coisa não tem o direito de invocar, em seu nome, a proteção possessória, mas tem o direito de exercer a autoproteção (autodefesa) do possuidor ou representado, conseqüência natural de seu dever de vigilância (Washington de Barros Monteiro sustentava que ao detentor não era deferida a possibilidade de proteção extrajudicial da posse).
Resumindo: Atos de defesa correspondem à legítima defesa da posse turbada e o desforço imediato corresponde à defesa da posse que sofreu esbulho, devendo ocorrer imediatamente após a consumação do esbulho ou diante da turbação
Importante – tanto a legítima defesa quanto o desforço devem ser empregados na medida da necessidade para manutenção ou reintegração da posse. os atos que forem desnecessários são considerados excesso de defesa e acarretam ao autor a indenização pelos prejuízos causados, sem prejuízo das eventuais conseqüências penais.
Expressões legais que merecem comentários:
“Por sua própria força” - admite-se além da pessoa do legítimo possuidor ou proprietário a ajuda de terceiros amigos ou empregados, não admitindo contudo participação de qualquer autoridade pública que descaracterizaria a expressão “por sua própria força” .
Quando de fala por sua própria força poderá o proprietário ser ajudado por parentes, amigos, empregados ou ele individualmente.
“Imediata” - a reação ou ação imediata deverá ocorrer tão logo seja possível, (o mais breve possível) uma vez que verificada a reação tardia não haverá a excludente do § 1º do 1.210 CC, e sim exercício arbitrário das próprias razões. (art. 345 CP)
É necessário que a reação seja imediata, ou seja, o possuidor turbado ou esbulhado deve reagir logo após a turbação ou esbulho, ou assim que for possível a reação.
“Moderada” - A moderação será verificada face à proporcionalidade das forças em confronto.
Com base no anteriormente exposto, é possível concluirmos o quanto delicado é a permanência dentro dos estreitos limites impostos pelo dispositivo legal em estudo. A linha que divide entre estarmos agindo dentro dos limites da proteção extrajudicial da posse e alguma figura tipificada no código penal é extremamente tênue. Os critérios são muito semelhantes aos adotados para a verificação da legítima defesa na esfera penal, em especial para aferir a moderação de meios empregados seja para a legítima defesa da posse, quanto para o desforço incontinenti.
Importante também o esclarecimento dos conceitos dos atos denominados de esbulho e de turbação.
Esbulho
São atos que impedem de forma absoluta que o legítimo possuidor ou proprietário possa continuar exercendo sobre o bem posse, em outras palavras, o esbulho retira o bem da esfera de disponibilidade do bem do possuidor ex: invasão promovida pelo movimento sem terra (MST).
Turbação
Ocorrerá em razão de atos que interferem no exercício da posse e a embaraçam sem contudo retirá-la do legítimo possuidor ou do proprietário ex.: a derrubada de uma cerca, o ingresso de um estranho e sua retirada espontânea.
A professora Maria Helena Diniz classifica a Turbação em espécies:
Turbação de fato, direta ou mediante atos positivos
Serão aqueles atos que se voltam sobre o bem, objeto da posse, materialmente falando, ou seja, atos que serão percebidos fisicamente como por exemplo a derrubada de uma cerca ou o ingresso na propriedade e abertura de uma picada.
Turbação indireta ou mediante atos negativos
São atos que interferem no exercício da posse, mas não são verificados fisicamente sobre o bem, podendo ocorrer por intermédio de palavras em que o terceiro afirma que o legítimo possuidor ou proprietário não tem direitos sobre o referido bem.
Resumindo:
indireta – é uma atitude externa à coisa, mas que repercute sobre ela.
negativa – são atos que dificultam ou embaraçam as atividades do possuidor (ex.: impedir a passagem de quem tem servidão; trocar a chave de uma porta e não dar para o inquilino).
positiva – são atos materiais que tenha o mesmo valor de ter a posse sobre o bem (ex.: entrar na parte de um terreno).
Turbação de direito
Ocorrerá quando o terceiro injustamente questiona judicialmente o direito de posse do legítimo possuidor ou do proprietário
2. PROTEÇÃO JUDICIAL DA POSSE (AÇÕES POSSESSÓRIAS)
A possibilidade de intentar ou promover interditos possessórios ou ações possessórias é considerado o principal efeito decorrente da posse. Quando estamos em sede de Ação Possessória, o chamado
juízo possessório, a possibilidade de êxito na demanda estará com a parte que demonstrar ter a melhor posse, mesmo que não seja proprietário. Há exceções que permitem usar o status quo de proprietário, mas a regra é que não há exceção de proprietário (possibilidade de invocarmos a condição de proprietário para vencer uma ação possessória), não de discute propriedade, discute-se posse (jus possessionis). A posse é defendida autonomamente, isto é, defende-se o fato da posse.
Em uma primeira leitura podemos ter a falsa percepção de incongruência em tal afirmação. No entanto, o normal é defendermos o proprietário por via reflexa, quando promovemos a defesa da posse de forma autônoma (jus possessionis). A prova da condição de possuidor aparentemente pode sugerir maior dificuldade, mas correspondências, contas de consumo (água, luz, telefone) entre outros são instrumentos de fácil demonstração da condição de possuidor e do lapso de tempo que se possui. È importante nesse momento fazermos uma leitura atenta de doutrina para aprofundarmos a compreensão de defesa autônoma da posse.
MODALIDADES DE AÇÃO
Ação turbativa – modalidade de ação que tem por fim impedir que novo ato turbativo se opere, resultando no embaraço do exercício da posse, em que a liminar buscada determinará a proibição de novo ato turbativo com aplicação de multa face ao desatendimento do preceito judicial. ex.: ação de manutenção de posse
Ação Espoliativa - ação que tem por fim a restituição de uma posse que lhe fora esbulhada, podendo ainda o autor dessa demanda requerer a condenação do esbulhador a restituição dos frutos indevidamente percebidos, bem como a responsabilidade pelas deteriorações eventualmente ocorridas. ex.: ação de reintegração de posse
Ação Cominatória – Ação facultada a proprietário ou possuidor tendo em vista o justo receio de vir a sofrer embaraço ao seu exercício da posse ou ato que resulte na perda da posse, ou seja, cabível face a ameaça de turbação ou esbulho. ex. ação interdito proibitório
Ações tipicamente possessórias
a) ação de manutenção de posse – é o meio de que se pode servir o possuidor que sofrer turbação (é todo ato que embaraça o livre exercício da posse) a fim de se manter na sua posse.
b) ação de reintegração de posse – é a movida pelo esbulhado (esbulho - é o ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse, injustamente, por violência, por clandestinidade, e por abuso de confiança), a fim de recuperar posse perdida em razão de violência, clandestinidade ou precariedade.
c) interdito proibitório – é a proteção preventiva da posse ante a ameaça de turbação ou esbulho; incumbe ao autor provar a sua posse, a ameaça de turbação ou esbulho e justo receio de turbação ou esbulho; requisitos: posse atual do autor, ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu, justo receio de que seja efetivada.
Princípios Aplicáveis a Ação Tipicamente Possessória
Princípio da Fungibilidade (art. 920 CPC)
Caso haja equívoco na propositura de ação tipicamente possessória no lugar de outra, o juiz concederá a tutela adequada ao caso concretamente demonstrado no pedido inicial. Ex: pessoa entra com ação de manutenção de posse, mas trata-se de reintegração de posse.
Princípio da Fungibilidade- havendo equívoco na propositura da ação tipicamente possessória, no lugar de outra, o juiz concederá a tutela adequada no caso concreto demonstrado no pedido inicial (art, 920 CPC). Importante ressaltar que o equívoco ocorrido deve ser desculpável, até porque há situações em que são muito próximos a compreensão de esbulho e turbação. Imaginemos uma invasão em uma pequena parcela de terra medindo 50 metros quadrados em uma área que totaliza 5.000.000 metros quadrados. Estamos diante de uma turbação ou de um esbulho (ainda que insignificante a metragem da área invadida.) Erro grosseiro não autoriza a aplicação do princípio da fungibilidade.
Princípio da natureza Dúplice das ações possessórias
Conforme art. 922 CPC é permitido que o réu na contestação formule pedidos em face do autor, não havendo que se falar na propositura de reconvenção, sob pena de ser julgada a reconvenção extinta por falta de interesse processual.
Na mesma peça processual admite-se ampliar o pedido, por exemplo na contestação, diferente do que normalmente ocorre no processo civil, nas ações que seguem o rito ordinário (contestação e reconvenção). No rito sumário é feito tudo na contestação porque a natureza da ação é dúplice, resultado da aplicação dos princípios da economia processual e da celeridade.
3. Princípio da proibição da exceptio proprietatis (art. 1210 § 2º e 923 CPC) (ou da proibição da oposição da condição de proprietário ou exceção de propriedade)
Trata-se de princípio inerente as ações tipicamente possessórias, em que se instala juízo possessório, ou seja, esfera em que se discutirá a posse autonomamente, e deverá restar vencedor dessa demanda aquele que demonstrar ter melhor posse, ser o melhor possuidor.
Exceção da condição de proprietário é a defesa da posse baseada na alegação do domínio. Tal fundamento não é aceito nas ações possessórias, como podemos observar no art. 1.201 §2º CC, não obstando a manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
Nas ações possessórias só se pode discutir posse (juízo possessório). Será vencedor aquele que tiver a melhor posse, independente da alegação do domínio ou qualquer outro direito real sobre a coisa. A posse protegida de forma autônoma nas ações possessórias e, quanto ao domínio, este pode ser discutido nas ações chamadas petitórias.
A doutrina diverge sobre a aplicação ainda da Súmula 487 do STF que reza: “Será deferida a posse aquele que tiver domínio, se com base neste (domínio) for ela (posse) disputada.” Acrescentamos os sublinhados.
Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento de domínio (art. 923 CPC)
Aqueles que sustentam o vigor da Súmula 487, asseveram sua aplicabilidade face a dúvida instalada de qual dos litigantes tem a melhor posse; em razão dessa dúvida poderá o juiz determinar que as partes façam prova de domínio para então deferir a posse ao legítimo proprietário, ou ainda, quando ambos os litigantes apresentarem provas de titularidade sobre o bem objeto da disputa possessória, conflito entre título de propriedade e justo título. 
Na ótica civilista - art.923 CPC – A proibição constante do dispositivo da lei processual aplica-se apenas nas hipóteses que excepcionam a proibição da alegação da condição de proprietário, ou seja, na hipótese da Sum 487 STF e quando for exigido dos litigantes prova de domínio, em razão da posse duvidosa.
Se houver ação possessória com disputa com base no domínio (aplicação da Sum 487 STF), enquanto não for julgado, o autor ou o réu estarão impedidos de promover ação reivindicatória.
Ações Dominiais ou Petitórias
São aquelas em que se discute exclusivamente propriedade, ou seja, deverá restar vencedor nessas demandas aquele que demonstrar de forma cabal ser o legítimo proprietário (se o locatário propuser ação dessa natureza, a mesma deverá ser extinta por ilegitimidade da parte ativa).
São aquelas ações em que se discute exclusivamente propriedade, ou seja, facultada apenas ao proprietário do bem, que são: Ação Reivindicatória e Ação de Imissão na Posse. 
São provas da propriedade, a matrícula do imóvel e jurisprudencialmente a escritura pública ainda pendente de registro.
Ação de Imissão de Posse – Tal ação é facultada ao proprietário que em razão de conduta do alienante ou de terceiros, nunca teve a posse do bem à sua disposição, em outras palavras, trata-se de ação facultada ao proprietário que nunca possuiu. Embora não expressamente prevista no CPC, tem cabimento e seguirá o rito sumário ou ordinário, conforme o valor atribuído à causa. 
Ação Reivindicatória – Trata-se de ação petitória facultada ao proprietário que tem por objetivo recuperar,
restituir o direito a posse que lhe fora injustamente retirado; difere da ação de imissão de posse na posse pois nessa o proprietário nunca a possuiu, enquanto na reivindicatória o proprietário já teve a posse do bem à sua disposição.
Outros Tipos De Ações Possessórias
São proteções judiciais que objetivam a tutela da posse ou do direito de propriedade, autorizado o seu ingresso, sua propositura tanto aos possuidores quanto aos titulares de domínio (proprietários).
São ações facultadas tanto ao possuidor como ao proprietário, que objetivam a tutela da posse ou do direito de propriedade; são ações destinadas a impedir que algum ato de terceiro venha interferir na posse ou domínio. 
1. Ação de Nunciação de Obra Nova ou Ação de Embargo de Obra Nova (arts. 934 a 940 CPC) - embaraço no exercício da posse
Ação autorizada ao proprietário ou possuidor em que se busca paralisação de obra nova, face a possibilidade da turbação ou do esbulho a ser experimentado quando da conclusão da mesma ou mesmo durante a obra. (p.ex: art 1.301 CC)
É uma ação real, uma vez que visa proteger a propriedade e as relações de vizinhança. Porém, alguns autores atribuem a ela o caráter possessório, pois pode ser proposta pelo possuidor. Tem a finalidade de impedir obras que causem prejuízos aos prédios vizinhos, com caráter preventivo. A ação tem como requisito a necessidade de que a obra seja nova. Quando a obra estiver em fase de conclusão o autor deverá interpor ação de reparação de danos ou ação demolitória, que visa a demolição do prédio construído em desrespeito às normas de vizinhança. Outro requisito é a necessidade de prova dos prejuízos causados ou sua iminência.
Requisitos
a) Prédio contíguo - O cabimento da ação de nunciação requer prédios limítrofes, contíguos ou adjacentes (um ao lado do outro, isto é, o prédio deverá ser ao lado. Admite-se jurisprudencialmente a propositura de ação de nunciação de obra nova mesmo quando o prédio nunciado não estiver unido ou contíguo ao nunciante. Considera-se vizinho todos aqueles em que se fizer chegar ao seu prédio interferências nocivas;
b) Prazo obra nova – Não há prazo fechado. O momento da propositura da referida ação dependerá do caso concreto. Dependendo da doutrina e do julgador que se verificará em que fase a obra nova se encontra normalmente antes da fazer de acabamento ou conforme Maria Helena antes da cobertura;
c) Pedido liminar - deve obrigatoriamente ser requerido no pedido inicial , sob pena de não de tratar de ação de nunciação ou em caso de indeferimento do pedido liminar, extinção do feito conforme art. 267 VI CPC.
2. Ação de dano infecto - modalidade de ação facultada ao proprietário ou possuidor, face ao fundado receio de que a ruína, construção ou demolição em prédio vizinho possa acarretar prejuízos ao seu imóvel. 
Não precisa ser um prédio contíguo, basta que a ruína ou a demolição possam acarretar interferências prejudiciais ao imóvel que terá cabimento a ação em comento. Obra abandonada, com ruína que possa acarretar algum problema. Busca uma caução, uma garantia para reparação de possível prejuízo. (ex: art. 1.280 CC) 
O objetivo dessa ação é que o juiz determine o depósito de um valor, no caso de tal fato (p.ex., a ruína acarretando danos ao seu imóvel) vier a ocorrer, sem prejuízo do ingresso com ação de perdas e danos;
Segundo prof. Silvio de Salvo Venosa (arts. 1.277 a 1.313 CC) quem tiver justo receio de sofrer dano em seu imóvel em decorrência de ruína em prédio ou obras vizinhas, pode pedir que o proprietário responsável preste caução, para garantir eventual indenização, se ocorrer dano. Nesse caso, protege-se o bem possuído de dano potencial, ainda não ocorrido. O possuidor ou proprietário previne-se exigindo caução.
A ação tem como fundamento o direito de vizinhança, consagrado nos art. 1277 a 1281 CC. O seu procedimento é especial e está disciplinado nos arts. 826 a 838 CPC. A medida pode ser requerida de forma autônoma, ou pode servir de medida preparatória para uma futura ação demolitória.
(Direito de vizinhança –limitação ao direito de propriedade, fundado no direito coletivo, em que o proprietário poderá experimentar restrições algumas vezes sem indenização; Convívio social – obriga-nos a suportar algo em benefício da coletividade - normas escritas de bom comportamento de vizinhos).
Tem caráter cominatório, ou seja, autoriza o autor requerer aplicação de multa diária na hipótese de não reparar o dano vislumbrado na ocorrência.
 
ex. Prédio em ruína- ameaça pode trazer prejuízo no meu prédio - peço a caução e que o responsável pelo prédio em ruínas seja constrangido a evitar que o prédio venha a cair, realizando obras de contenção. (providências cautelares e se não as fizer, peço a aplicação de uma multa diária, até o início das obras necessárias)
3. Embargos de Terceiro - ação facultada do proprietário ou possuidor, que tem por objetivo excluir bem a que tenha direito (de sua propriedade) de ato constrição judicial (penhora, arresto) oriundo de processo judicial do qual não tenha sido parte.
Segundo Nelson Nery Jr e Rosa Maria de Andrade Nery trata-se de uma ação real quando movida pelo proprietário e ação possessória quando movida pelo possuidor e tem como fundamento a posse ou propriedade de terceiro alheio à demanda judicial. A finalidade dos embargos de terceiro é liberar o bem ou direito de posse ou propriedade de terceiro, de constrição judicial injustamente imposta em processo do qual não faz parte. 
3. DIREITO À PERCEPÇÃO DOS FRUTOS
Importante esse momento fazermos uma breve recordação de alguns institutos e conceitos estudados na Parte Geral do Direito Civil, tais como: frutos, produtos, suas espécies e classificações. Não é demais lembrar também a acepção que se empresta a expressão “percepção” para os direitos reais, como ato material pelo qual o possuidor se assenhora dos frutos ou produtos de determinado bem (tomar para si e colher).
Também é importante fazermos um alerta inicial. Tanto no que diz respeito aos frutos, como em relação às benfeitorias, direito de retenção e responsabilidade pelas deteriorações ou perecimento, uma lógica se estabelece. Ao indivíduo de boa-fé serão estendidos benefícios, proteções legais, contrario sensu, ao possuidor de má-fé haverá sanções a fim de coibir a reiteração da prática da deslealdade e desrespeito a propriedade alheia, tudo norteado pelo princípio geral de que a ninguém é dado o direito de enriquecimento sem causa. 
Frutos – aquelas utilidades normais e periódicas que se extraem da coisa principal sem que com isso ocorra diminuição de sua substância ex.: cria animal, laranja, trigo...
Produtos – são utilidades normais e não periódicas os quais a medida em que vão sendo extraídos implicam na diminuição da substância da coisa principal .São aquelas utilidade normais e não periódicas que se extraem da coisa principal com a ocorrência de diminuição de sua substância. ex.: extração minérios.
A coisa principal pode produzir frutos que se reproduzem sem que haja diminuição da mesma. Caso haja diminuição da coisa principal tem-se o produto da coisa e não o fruto.
Classificação dos Frutos
Os frutos quanto a sua origem podem ser assim classificados:
a) Naturais – são os frutos que se reproduzem pela força orgânica da natureza, periodicamente, como as frutas, colheitas e cria dos animais, ou seja são aqueles que se produzem periodicamente pela própria forma da natureza.
b) Industriais – são os frutos decorrentes da intervenção humana, como por exemplo, a produção de uma fábrica, ou seja, são aqueles que se produzem a partir do trabalho ou ofício humano. ex.: peças produzidas por uma fábrica.
c) Civis – são os rendimentos decorrentes da utilização de um bem por terceiros, como por exemplo aluguéis e juros, ou seja são aqueles rendimentos oriundos da exploração econômica de determinado bem. ex: alugueres de um imóvel, juros de uma aplicação financeira.
Momento da percepção dos frutos

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