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Trabalho Jusnaturalismo

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O JUSNATURALISMO MODERNO (Hugo Grócio, Pufendorf, Hobbes, Locke, Rousseau e Kant)
O direito natural, ou jusnaturalismo, supõe a existência de um direito universal, estabelecido pela natureza. Seu fundamento é o da lei natural, e não o da lei humana, que rege os acordos e contratos sociais. A lei natural corresponde à physis (natureza), embora, ao longo do tempo, sua própria noção tenha sofrido mudanças que a fizeram passar da esfera natural para a esfera humana, social ou moral. De qualquer forma, o direito natural se contrapõe ao direito positivo, aquele legitimado pelas leis estabelecidas por uma determinada sociedade.
Hugo Grócio
Hugo Grócio, considerado o primeiro grande teórico do direito natural moderno, apresentava um pensamento jusnaturalista que consistia em conceber o direito natural de forma independente da existência de Deus; era a ruptura com os princípios teológicos da patrística e da escolástica, o que não teria agradado o pensamento da Igreja. Deus passou a ser visto como parte integrante da natureza de onde também o direito natural provém, este último em razão da natureza social do homem, que indica o que convém e não convém, de acordo com a razão e a natureza de cada um. Embora admitindo que as leis fossem estabelecidas conforme interesses pessoais, Grócio acreditava que elas poderiam ser benéficas para as partes envolvidas. Ele rompeu com a fundamentação teológica e dividiu o direito em duas categorias: o jus voluntarium, que decorre da vontade divina ou humana, e o jus naturale, oriundo da natureza humana, derivada de sua tendência inata de viver em sociedade, conforme a concepção aristotélica. Grócio concebia a soberania como um corpo perfeito de pessoas livres, reunidas em busca do bem comum, e o direito natural como sinônimo de direito universal, ou seja, aquilo que não muda, que é fundamental aos seres humanos em qualquer época. O direito natural, portanto, seria para ele um fundamento para todos os seres humanos, o ditame da razão; e o senso social, a fonte do direito.
Thomas Hobbes
Já o jusnaturalismo de Thomas Hobbes, defende que o “estado de natureza” é caracterizado como o direito e a liberdade de cada um para usar todo o seu poder—inclusive a força—para preservar a sua natureza e satisfazer os seus desejos. A violência é uma possibilidade constante e pode ocorrer da forma mais imprevisível. A sua concepção de justo e injusto são estabelecidas pelo governante, ele elaborará as leis civis (positivas) com o fim mínimo: o soberano deverá instaurar a paz, para proteger a vida do seu súdito. A lei natural, portanto, é insuficiente para estabelecer a ordem no corpo social, dessa forma, constituído o Estado, apenas a lei positiva possui força vinculante. Esse estado de natureza hobbesiano é considerado um estado anárquico, devido a sua imprevisibilidade e incerteza, no sentido de que a todo o momento podem irromper conflitos, já que não há leis positivadas e todos são livres e desimpedidos. Pode-se considerar, nesse sentido, o estado de natureza de Hobbes como um estado de guerra, onde o homem seria o lobo do homem. Visto isso, se faz necessária a criação de um pacto social entre a população e o seu soberano, com intuito de se manter a paz e a ordem, passando-se assim de um estado de natureza, conflituoso e imprevisível, para um estado civil, no qual há segurança e bem-estar. Vale ressaltar que o pacto só poderia ser revogado se o soberano o fizer, tendo em vista que o absolutismo seria a única forma de controlar as imprevisibilidades e conflitos que são gerados. Portanto, somente as leis do Estado são legitimas e devem ser cumpridas sem contestação, ou seja, é um Estado máximo, totalmente centralizado na figura do soberano. Para Hobbes, a visão de Estado é criada a partir de um ideal absolutista com o regime monárquico, não há divisão de poderes. Logo, o governante tem todo o poder, desde que não atente contra à vida de cada indivíduo sem justa causa, nessa hipótese, dentro do Estado, o homem seria um deus para o homem. O Estado deveria controlar tanto o poder eclesiástico, quanto o poder político, devendo, pois, possuir o total controle do povo.
Samuel von Pufendorf
Samuel von Pufendorf, é o filósofo responsável por dar início à elaboração das bases metodológicas de um sistema jusnaturalista autônomo, baseado no racionalismo e no individualismo. Pufendorf elabora um sistema racional e livre dos dogmas religiosos, alicerçado na dedução e na observação. Para ele, os princípios do direito deveriam ser estabelecidos pelo método científico e o conhecimento jurídico deveria apresentar-se de forma neutra no sentido de não poder emitir qualquer juízo de valor acerca da opção adotada pelo órgão competente para a edição da norma jurídica. Pufendorf foi representante da transição do jusnaturalismo grociano para o iluminismo setecentista e foi influenciado por Hobbes em sua produção sobre o “Direito das Gentes”, pois concebeu que o direito natural emana da razão, defendendo o princípio da igualdade dos Estados. O Estado é uma condição indispensável para a conservação do gênero humano, pois é a única forma de permitir que o homem se desenvolva e se aperfeiçoe. E isso se dá mediante um pacto, o contrato social, isto é, os homens obrigam-se uns para com os outros a juntar-se em um corpo único e perpétuo e a regular de comum acordo o que respeita a sua conservação e segurança. A este contrato, que dá origem a um rudimento de Estado, acresce um segundo contrato (decreto) destinado a fixar a forma de governo. Finalmente, pelo pacto da sujeição, os indivíduos conferem autoridade a uma ou mais pessoas as quais se obrigam a zelar pelo interesse público em troca de obediência. Portanto, os homens dão origem ao poder pelo pacto da sujeição, visto que antes desse pacto não há Estado nem governo, e essa competência para criar um governo vem de Deus, como autor da lei natural. 
John Locke 
John Locke, filósofo iluminista conhecido como pai do liberalismo e empirista britânico pertencente à burguesia, acreditava que no estado de natureza – sendo o momento em que o ser humano antecede o Estado – os homens teriam plena igualdade, tinham boa vida e não nasciam bons ou maus, mas como seres racionais que podem ser movidos por paixões e interesses, são capazes de cometer coisas ruins. Diferente de Hobbes, que acreditava que o homem nascia mau e “era o lobo do próprio homem”. 
Para Locke os homens teriam direitos naturais racionais, ou seja, direitos comuns e inalienáveis, como direito a vida, a liberdade e a propriedade privada. Porém haveria indivíduos que eventualmente transgridam a lei natural, surgindo a necessidade de um direito positivo a fim de assegurar as leis naturais e o bem comum. A legitimidade do direito positivo decorreria de um "contrato social": um acordo de vontade entre as pessoas. A liberdade natural original dos indivíduos e uma escolha racional levariam à submissão consentida: sujeitar-se à autoridade do Estado como melhor forma de preservar os direitos naturais individuais, tendo um viés bem menos intervencionista do que sugeria Hobbes, já que Locke era defensor do liberalismo, apoiando-se em uma democracia representativa ou indireta.
Sendo contra o absolutismo – contrapondo-se novamente a Hobbes – e temendo a concentração de poderes nas mãos de um único governante, o filósofo sugeriu que o Estado fosse dividido em três poderes: legislativo, executivo e federativo. O poder legislativo serviria para estabelecer leis para o bem do povo, protegendo a propriedade de acordo com as leis naturais. O poder executivo serviria para executar as leis criadas no poder legislativo, e o poder federativo que ficaria encarregado de questões supranacionais, como manter a paz e realizar acordos. De acordo com sua teoria, o poder só seria legítimo, como salienta Norberto Bobbio: “se fundado sobre o consenso daqueles sobre os quais deve ser exercido”, sendo destituídos os governantes que por acaso não legislassem de acordo com a vontade dos cidadãos. (“Liberalismo e democracia”,
1994, cap. 2, p. 15).
Portanto, para John Locke, o homem é uma tabula rasa, não nascendo bom ou mau e que vivia relativamente bem no seu estado de natureza, possuía direitos naturais – o direito a vida, liberdade e propriedade privada – e precisava do Estado apenas para garantir esses direitos e evitar conflitos gerados pelos que ocasionalmente não obedecerem a esse direito natural, valorizando bastante a liberdade individual. Se a partir de algum momento o parlamento tomar decisões e criar leis que não satisfaçam a sociedade, os próprios cidadãos podem destituí-lo. 
Jean-Jaques Rousseau
Jean-Jaques Rousseau foi outro filósofo iluminista, também um contratualista, e buscava analisar o passado a fim de entender a razão pela qual o homem teria deixado de viver sob seus instintos, inocência e bondade natural, já que para o filósofo, o homem nasce bom, mas é corrompido pelas relações sociais.
O estado de natureza, para Rousseau, se dividia em dois momentos, no primeiro encontrava-se o “bom selvagem”, onde o homem seria livre, solitário e feliz, sem relações sociais complexas e de total igualdade para com os outros, que tinha como necessidade apenas sobreviver e reproduzir.
No segundo momento seria onde tudo muda, o homem se aperfeiçoa visando o progresso, buscando relações sociais e fazendo surgir então a linguagem. As relações começaram a se intensificar e, portanto, surge a propriedade privada, umas das coisas as quais Rousseau atribuía a infelicidade do ser humano, pois com a ela teria surgido a diferença entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, ou seja, as desigualdades sociais. Nesse segundo momento, segundo o filósofo, o homem seria guiado pelo amor próprio, valorizando demasiadamente os bens materiais. Tudo isso fez com que o homem abdicasse da sua liberdade natural.
Comparado com os outros dois contratualistas que já abordamos, Rousseau se preocupava mais com as questões econômicas e sociais que com as jurídicas na sociedade. E como crítica aos outros, Hobbes e Locke, Rousseau diz que o contrato social não resolveria as desigualdades, sendo ineficaz. Então o filósofo sugere um contrato social através do racionalismo, das leis naturais e da essência humana, de uma maneira que esse contrato gerasse uma equidade dos indivíduos de determinada sociedade, através de uma transformação política e educacional e que se constituísse através da vontade geral.
Portanto, sendo a linguagem, a sociabilidade e a propriedade privada as razões da existência de desigualdades social e política, o Estado pós-contrato social de Rousseau se basearia em uma democracia direta, ou seja, o povo teria participação direta nas decisões do Estado, e a educação seria um ponto importante para tornar os cidadãos conscientes, capazes e iguais politicamente, já que não haveria um mandante ou obediente. Rousseau ao propor uma organização política que vise o bem comum, resgata no Direito Natural sua inspiração.
Immanuel Kant
Adentrando, por fim, no minucioso jusnaturalismo de Immanuel Kant, o qual afirma que o homem, sendo racional e livre, é capaz de impor a si mesmo normas de conduta, designadas por normas éticas. Logo, a norma básica de conduta moral que o homem se pode prescrever, é que em tudo o que faz, deve sempre tratar a si mesmo e a seus semelhantes como fim e nunca como meio. A obediência do homem à sua própria vontade livre e autônoma constitui, para Kant, a essência da moral e do direito natural. O direito natural kantiano aparece como uma filosofia social da liberdade, por atribuir a está um valor moral que se manifesta numa teoria dos direitos subjetivos. Kant, portanto, pode ser considerado como jusnaturalista, enquanto admite leis jurídicas anteriores ao direito positivo. Não é ele jusnaturalista no sentido de que o direito se baseia na natureza, mas porque se funda na metafísica dos costumes, na razão prática.

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