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ISSN 2176-1396 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NOS ANOS INICIAIS DA ESCOLARIZAÇÃO: UM OLHAR PARA OS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE PEDAGOGIA Paulo César Geglio Anna Karolina Fidelis da Silva Grupo de Trabalho: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este texto apresenta e discute dados a respeito da disciplina de ensino de ciências naturais no âmbito do curso de Pedagogia. Essa discussão se insere em um trabalho ampliado que vimos desenvolvendo a respeito da prática dos professores dos anos iniciais da escolarização com esse componente curricular, uma vez que há investigações que revelam a atuação desse profissional pouco eficiente na promoção do interesse dos alunos para as ciências. Assim, como uma das etapas da nossa pesquisa, também enveredamos para o exame dos currículos dos cursos que formam os professores desse segmento escolar. Nesse momento, como parte da pesquisa, apresentamos uma análise sobre a carga horária dos cursos de Pedagogia das universidades federais, uma vez que tais instituições sem caráter mercadológico pode oferecer um programa de formação mais consubstanciado na realidade das escolas. Os dados foram coletados com todas as universidades que disponibilizam ao público as informações sobre seus cursos. Ao acessar as 59 universidades federais e seus respectivos campi, coletamos dados sobre 55 cursos, ressaltando que, no momento da consulta, nem todas disponibilizavam dados dos seus cursos. A análise das informações revela que a carga horária da disciplina ensino de ciências naturais nos cursos de Pedagogia varia em diferença de até 300%, porém com predomino entre 60 a 80 horas. Outro dado, diz respeito à nomenclatura das disciplinas, sobre a qual notamos que há variação, porém quase todas contemplam o termo ensino de ciências. Sobre esse aspecto, também percebemos que as denominações, em 40% dos cursos usam a expressão fundamentos ou fundamentos teóricos do ensino de ciências, o que denota um aspecto teórico de abordagem dos conteúdos que devem instrumentalizar o professor para o ensino da disciplina no contexto dos anos iniciais do ensino fundamental. Palavras-chave: Ciências naturais. Formação docente. Curso de Pedagogia. 9331 Introdução A importância dos primeiros anos escolares, aqueles que começam no Ensino Fundamental I, reside no fato de se constituir como iniciador do processo de escolarização. Embora a Educação Infantil, muitas vezes, inicie, ainda que equivocadamente, o processo de alfabetização e várias crianças cheguem ao primeiro ano escolar com desenvolvimento de leitura e de escrita, a tarefa e a cobrança social de alfabetizar são dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Também se nota que é o sucesso das crianças na aprendizagem dos conhecimentos nesses anos escolares que, na maioria das vezes, determina sua continuidade no processo escolar. Os professores desse segmento são aqueles que, na metáfora utilizada por Froebel (1782-1852), plantam a semente e dão os primeiros cuidados para que ela germine e cresça. Assim, sua didática e suas práticas pedagógicas, aliadas ao seu interesse pelo outro e sua dedicação à educação das gerações, constituem requisitos fundamentais para a educação escolar da sociedade. Não concepção do autor: suscitar as energias do homem – ser progressivamente consciente, pensante e inteligente - ajuda-lo a manifestar sua lei interior - o divino que há nele – com toda pureza e perfeição, com espontaneidade e consciência – nisso consiste a educação do homem. Ela nos dá, para esses fins, o caminho e os meios (FROEBEL, 2001, p. 5). Além da alfabetização, o ensino das operações básicas da aritmética e a introdução aos conhecimentos acerca da história, geografia física e humana e dos conhecimentos sobre a natureza, os anos iniciais da escolarização também possibilitam a necessária socialização para o convívio entre as pessoas, por meio do reconhecimento do outro e do entendimento das normas que regem a vida em coletividade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997) apontam como objetivos do Ensino Fundamental, que os alunos sejam capazes de construir sua cidadania e exercê-la no dia-a-dia, sejam críticos, conheçam as características do Brasil, reconheçam e valorizem a pluralidade humana e cultural, sejam agentes transformadores, percebam suas potencialidades, cuidem de sua saúde, utilizem as diferentes linguagens de comunicação, assim como os recursos tecnológicos disponíveis e questionem a realidade, problematizando-a e propondo soluções para os problemas. Podemos considerar que o objetivo primordial da educação básica é a formação de cidadãos para atuarem na sociedade de maneira construtiva e crítica. Com esse propósito, o conhecimento explicativo dos fenômenos naturais e sociais, conjugado com o desenvolvimento de habilidades cognitivas inerentes ao processo escolar, se tornam 9332 elementos de capital importância para esse exercício, uma vez que é a capacidade de entender o mundo natural e social que dá ao indivíduo o potencial de transformá-lo. Portanto, precisamos reconhecer que o ensino de ciências naturais se constitui como parte fundamental para a vida em sociedade. Para Delizoicov e Angotti (1990), só podemos falar em exercício pleno da cidadania, quando a formação escolar básica inclui minimamente o ensino dos conteúdos de ciências de maneira a possibilitar que os indivíduos tenham uma razoável compreensão da sociedade em que vive. Diante dessa necessidade e importância do ensino de ciências desde os anos iniciais da escolarização, a questão que devemos lançar para a sociedade, para os legisladores, para os dirigentes de ensino das diferentes instâncias governamentais e para a própria categoria profissional é se o professor dos anos iniciais da educação básica, que geralmente é egresso do curso de Pedagogia, também denominado de polivalente - por ensinar os conteúdos da maioria dos componentes curriculares -, está preparado e consegue conduzir essa tarefa de inserir as crianças no mundo dos conhecimentos da natureza. Temos investigado essa questão há um tempo, tanto pela ótica do professor, em relação aos conteúdos e sua dedicação ao ensino de ciências, como pelas discussões daqueles que se dedicam a esse estudo. Não obstante, percebemos também a necessidade de olharmos para os processos formativos desses professores. Assim, nos enveredamos para a análise dos programas curriculares dos cursos de Pedagogia, e nesse trabalho nosso esforço se concentrou em examinar a carga horária desses cursos. Daí, então nossa pergunta de investigação, qual a carga horária destinada ao ensino dos conteúdos de ciências nos cursos de Pedagogia? Desenvolvimento Referencial teórico O ensino das ciências naturais, presente no início da escolarização, cumpre parte do papel de formação da cidadania dos indivíduos. “A importância do ensino de Ciências é reconhecida por pesquisadores da área em todo o mundo [...]” (LORENZETI, 2000, p. 16). Sobre isso, ressalta a autora, há uma concordância entre os pesquisadores do assunto, em torno da inclusão de temas relacionados à ciência e à tecnologia nos anos iniciais da escolarização. Não obstante, embora exista uma “[...] convergência de opiniões e de sua incorporação pelas propostas curriculares e planejamentos escolares, ainda hoje em dia a 9333 criança sai da escola com conhecimentos científicos insuficientes para compreender o mundo que a cerca” (LORENZETI, 2000, p. 17). Logo no início da escolarização, o ensino de ciências contribui significativamente para a solução de continuidade com a visão mítica dos fenômenos da natureza, assim como abre a possibilidade para questionamentos acerca da vida natural. A isso, Chassot (2003) denomina de alfabetização cientifica,que é uma forma de linguagem capaz de interpretar o mundo. Assim, “[...] ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a natureza [...]” (CHASSOT, 2003, p. 91). Esse entendimento visa a romper com a concepção de que o conhecimento da natureza pertence a um pequeno grupo de iluminados cientistas e é inatingível ao homem comum. Diante dos avanços tecnológicos e dos meios de comunicação, é imperioso mostrar às pessoas que a ciência é uma aliada na busca de uma vida mais confortável e digna para todos. “O mundo em que vivemos está imerso nas conquistas tecnológicas avançadas, presentes em uma grande quantidade de produtos acessíveis praticamente a todo cidadão [...]” (BEVILACQUA, 2009, p. 187). Por isso, não podemos negar a importância de ciências e da tecnologia para os seres humanos (BEVILACQUA, 2009). Não obstante, também é preciso considerar que os seres humanos são parte da natureza e não estão acima dela. A natureza, assim com as tecnologias fazem parte da nossa vida, portanto hoje “[...] não se pode mais conceber propostas para um ensino de ciências sem incluir nos currículos componentes que estejam orientados na busca de aspectos sociais e pessoais dos estudantes [...]” (CHASSOT, 2003, p. 90). Para isso, é preciso que os indivíduos deixem de ser passivos consumidores dos produtos da ciência e passem a entender os processos e as consequências daquilo que consomem. Nesse particular, a escola e o ensino de ciências cumprem um papel importante. Não se trata de inserir o estudo de fórmulas e nomenclaturas específicas nos primeiros anos de escolarização, mas de provocar o espanto e o interesse inerentes ao espírito curioso e investigativo das crianças. O que se propõe para o ensino de ciências nos anos iniciais da escolarização são atividades que despertem a curiosidade e incentivem a busca do saber, em uma proporção que contagie a família e a comunidade. “[...] Fica claro que o ensino de Ciências não objetiva preparar cientistas ou preparar para o Ensino Médio, mas para que o educando aprenda a viver na sociedade em que está inserido [...]” (LORENZETTI, 2000, p. 18). Pretendemos que esse ensino se constitua na gênese da edificação de uma cidadania esclarecida. Que compreendam o que estão fazendo e aprendendo na escola, como sugere Carvalho (2009, p. 73): 9334 é preciso ensinar os alunos a “fazer ciências” e a “falar ciências”. Colocamos aspas no “fazer” e “falar” ciências, pois estamos conscientes da distância que existe entre um aluno do curso fundamental ou médio e um cientista, entretanto essa visão de ensino de Ciências como um processo de introdução dos alunos no mundo das ciências permite-nos entender o porquê de os alunos sentirem-se, nas aulas de Física, como se fossem estrangeiros entrando em ‘um outro país’. O que se espera é um ensino baseado em uma aprendizagem de saberes que tenham relação com a vida do aluno, cujo ponto de partida sejam as representações sociais e as crenças culturais dos alunos (SAVIANI, 1992), pois estes fatores constituem referências para a abordagem de assuntos importantes nas ciências da natureza. Importa, ainda, nesse processo de ensino, que os alunos construam seus pensamentos acerca dos assuntos abordados em sala de aula e constituam uma visão crítica das novas aprendizagens. Assim, compreendemos que o ensino de ciências deve se configurar como uma importante oportunidade para uma “[...] alfabetização científica já nas séries iniciais, de modo que o educando possa refletir sobre o conhecimento científico de forma a realizar leituras de seu entorno social, no qual este conhecimento se faz cada vez mais necessário” (OVIGLI; BERTUCCI, 2009, p. 195). Com perspectiva semelhante, Lorenzetti (2000, p. 18) afirma que: o ensino de Ciências nas Séries Iniciais deverá propiciar a todos os cidadãos os conhecimentos e oportunidades de desenvolvimento de capacidades necessárias para se orientarem nesta sociedade complexa, compreendendo o que se passa à sua volta, tomando posição e intervindo na sua realidade. Não é novidade que boa parte dos problemas no ensino de ciências naturais nos anos iniciais da escolarização reside na formação dos professores desse segmento, com sugere Ducatti-Silva (2005). Acreditamos que o docente desse segmento escolar conclui o curso com pouca competência para o ensino de ciências, e como ele não é cobrado socialmente e no âmbito da escola para isso, acaba não se dedicando em melhorar seus conhecimentos sobre o assunto. Não obstante, entendemos que analisar essa problemática requer investigações que iniciem com os programas curriculares dos cursos de Pedagogia e perpassem os programa e currículos do Ensino Fundamental I, no sentido de examinar se a carga horária, conteúdo e metodologia são suficientes, no caso do curso de Pedagogia, para capacitar os professores a ensinar ciências naturais, e, no caso do Ensino Fundamental I, se são suficientes para a realização de um trabalho pedagógico condizente com a importância do assunto. Além disso, consideramos de igual importância avaliar as fontes e os recursos pedagógicos utilizados pelos professores para o ensino dos conteúdos, bem como suas práticas. Dessa forma, teremos 9335 um panorama da situação, que nos subsidiará a fazer inferências a respeito da necessidade de encaminhamentos para a melhoria da condição de atuação do professor. Considerando a importância de investigação sobre o assunto, apresentamos contribuições iniciais em torno dos programas e currículos dos cursos de Pedagogia. Os dados e análises que trazemos para a presente discussão são especificamente relativos a carga horária da disciplina de metodologia do ensino de ciências dos cursos de Pedagogia. Nossa pretensão é revelar qual o percentual de horas que é destinada ao estudo desse componente curricular no contexto do curso. Nossa perspectiva é que a quantidade de horas desse componente curricular nos programas dos cursos de formação do pedagogo é baixa, uma vez que Gatti (2010), ao analisar vários programas curriculares de cursos de formação de professores, em particular o de Pedagogia, afirma que há um excesso de disciplinas, com muita fragmentação e baixa carga horária para os componentes curriculares que instrumentalizam o professor sobre o que e como ensinar. A autora examinou de maneira amostral os programas dos cursos de licenciatura (Pedagogia, Letras, Matemática, História, Biologia, Geografia e Química) ofertados nas instituições de ensino superior (IES) do país. No que se refere ao curso de Pedagogia, a amostra foi de 71 cursos, a maior parte deles de IES privada (63,4%), em segundo lugar de IES públicas estaduais e municipais (21,1%), em terceiro lugar de IES públicas federais (15,5%), o que corresponde a 11 cursos. Outro trabalho que também apresenta um exame dos programas curriculares dos cursos de Pedagogia é o de Ovigli e Bertucci (2009). Os autores se concentraram em IES públicas do estado de São Paulo. Eles coletaram dados em cinco IES, que ofertam 18 cursos de pedagogia. Algumas informações revelam que a carga horária é muito variada (60 a 150 horas), assim com as ementas são diversificadas, embora demonstrem uma preocupa com os conteúdos científicos. Metodologia de coleta de dados No presente estudo nos voltamos para o exame da carga horária das disciplinas que dizem respeito aos conteúdos do ensino de ciências nos cursos de Pedagogia que são oferecidos pelas universidades federais. Para a coleta de dados, acessamos o site das 59 instituições de ensino superior pertencentes ao sistema federal de ensino, com o intuito de verificar na matriz curricular de cada curso, a referida carga horário. Ressaltamos que há uma Portaria do Ministério da Educação (MEC) nº 2.864 de 24/08/2005 (BRASIL, 2005), 9336 determinando que as todas IES devem tornar públicas e atualizadas em página eletrônicaas informações sobre os cursos por elas ministrados, porém, no momento da nossa consulta, nem todas as IES atendiam essa exigência legal. Outra observação é que nem todas as IES federais ofertam o curso de Pedagogia e algumas delas ofertam o curso em mais de um campus universitário (Cf. Tabela 1). Esses dados são importantes para entender que a quantidade de 55 cursos examinados não corresponde necessariamente ao total de IES federais existentes. Resultados e discussões Há uma perspectiva teórica sobre a formação docente que se ancora na ideia de que a formação do professor ocorre para além do processo inicial, ela se estende para a sua própria atuação profissional (TARDIF, 2004; TARDIF; LESSARD, 2005). Com esse entendimento, Tardif (2004, p. 181) afirma que: [...] prática é como um processo de aprendizagem através do qual os professores e professoras retraduzem sua formação anterior e a adaptam à sua profissão, eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a realidade vivida e conservando o que pode servir-lhes, de uma maneira ou de outra, para resolver os problemas da prática educativa [...]. É, portanto, a prática e a experiência do trabalho em sala de aula que possibilita ao professor a segurança em transitar pelos livros didáticos e pelos programas e currículos escolares e, desse modo, fazer a seleção e o ensino dos conteúdos que considera mais relevantes para a aprendizagem dos alunos. Não obstante, como os saberes da formação profissional acadêmica são importantes, pois eles também são parte constitutiva do repertório mobilizado pelo professor, durante sua prática profissional, como lembra Gauthier (1998), não há oficio sem saberes, portanto, os saberes da disciplina, aqueles relativos ao conteúdo de ensino são fundamentais à prática docente. No caso do curso de Pedagogia, percebemos que a formação é abrangente, visto que se propõe a formar o profissional para atuar no magistério da Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental, regular e supletiva, magistério do curso de formação de professores em nível de Ensino Médio (em vias de extinção), além da gestão e supervisão escolar, incluindo a atividade de coordenação pedagógica. É um curso, portanto, com muitas frentes de responsabilidade e especificidades com pouco tempo e carga horária de duração. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Pedagogia, instituídas pela Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, estabelece a carga horária mínima de 9337 3.200 horas (BRASIL, 2006), o que a maioria dos cursos ofertados pelas IES federais vem cumprindo sem muitos acréscimos. Não obstante, como afirma Gatti (2010), dada sua característica de formação abrangente, o curso de Pedagogia tem excesso de componentes curriculares com baixa carga horária em cada um, culminando em uma “pulverização” de disciplinas com conteúdos sem aprofundamentos. O caso do ensino de ciências naturais não é exceção. Embora todos os cursos, cujos programas tivemos acesso, contempla na matriz curricular pelo menos uma disciplina voltada para o assunto, conforme mostrado na tabela 1, a carga horária é geralmente de 60 horas, como podemos perceber ainda na tabela 1, o que corrobora a afirmação de Gatti (2010) a respeito do excesso de disciplina no curso e a superficialidade com que elas são trabalhadas. Em nosso entendimento, esse fato está relacionado com a multiplicidade de competências profissionais estabelecidas para o egresso do curso de Pedagogia. Tabela 1 – Disciplina de Ciências Naturais em curso de Pedagogia para Educação Infantil, por IES, carga horária e períodos em que são ministradas. IES Campus Disciplina Carga Horária Período UNIR Porto Velho Fundamentos e Prática do Ensino de Ciências e Educação Ambiental 80h 6° Vilhena Fundamentos e Prática do Ensino de Ciências 80 h 6° UFBA Canela Ciências Naturais do Ensino Fundamental e Metodologia do Ensino de Ciências 136 h 3º e 4º UFGD Dourados Currículo e Ensino de Ciências e Saúde 90 h 8º UFPB João Pessoa Ensino de Ciências 60 h 7º Bananeiras Ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental 60 h 7ª UFAL A.C. Simões Saberes e Metodologias do Ens. de Ciênc. Naturais I e II 120 h 7º e 8º Arapiraca Saberes e Metodologias do Ens. de Ciênc. Naturais I e II 120 h 7º e 8º Sertão Saberes e Metodologias do Ens. de Ciênc. Naturais I e II 120 h 7º e 8º UNIFAL Alfenas Ciências Naturais: Fundamentos e Metodologias I e II 120 h 7º e 8º UFCG Campinas Grande Fundamentos e Metodologias do Ens. de Ciências 60 h 6º UFG Goiânia Fund. e Met. de Ciências Naturais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental I e II 144 h 3º e 4º UFLA Lavras Metodologia do Ensino de Ciências e de Matemática 60 h 7º UFMT Cuiabá Fund. e Metodologia do Ensino das Ciências Naturais I e II 135 h 7º e 8º UFMS Aquidauana Fund. e Prática do Ensino de Ciências 68 h 3º 9338 Naviraí Fund. e Metodologia do Ensino de Ciências para a Educação da Infância 85 h 3º Ponta Porã Fund. e Práticas do Ensino de Ciências 68 h 5º Três Lagoas Fund. e Metodologia do Ensino de Ciências para a Educação da Infância 68 h 6º Pantanal Fund. e Metodologia do Ensino de Ciências Naturais 68 h 6º UFMG Pampulha Fund. e Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas 60 h 6º UFOP Mariana Ciências da Natureza: Conteúdos e Metodologias 60 h 4º UFPE Recife Fundamentos do Ensino de Ciências 60 h 5º Caruaru Metodologia do Ensino de Ciências 60 h 5º UFRR Boa Vista Conteúdos e Fundamentos Metodológicos do Ensino de Ciências 60 h 6º UFSC Florianópolis Ciências, Infância e Ensino 90 h 4º UFSM Santa Maria Ciências e Educação I 60 h 6º UFSCaR São Carlos Ciências: Conteúdos e seu ensino 60 h 6º UFSJ Dom Bosco Fund. e Didática das Ciências Naturais 72 h 6º Unifesp Guarulhos Fund. Teórico- Práticos do Ens. de Ciênc. Naturais I e II 150 h 7º e 8º UFS São Cristóvão e Itabaiana Ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ens. Fundamental 60 h 6º UFU Ituiutaba Construção do Conhecimento de Ciências 60 h 3º UFV Viçosa Estágio Supervisionado em Ensino Fundamental Ciências Naturais 60 h 7º UFAC Cruzeiro do Sul Ensino de Ciências I e II 120 h 5º e 6º UNIFAP Binacional Teoria e Prática do Ensino de Ciências 75 h 6º UFAM Manaus Conteúdo e Metodologia do Ensino de Ciências 60 h 7º Benjamim Constant Metodologia das Ciências nos Anos Inicias 75 h 8 º Parintins Metodologia do Ensino de Ciências nos Anos 75 h 7° UFC Fortaleza Ensino de Ciências 96 h 7º UNIRIO Rio de Janeiro Ciências Naturais na Educação I e II 120 h 6º e 7º UFMA Bom Jesus das Selvas Fund. e Metodologia do Ensino de Ciências 60 h 7º UFOPA Santarém Ensino de Ciências I e II 120 h 4º e 6º Unipampa Jaguarão Ensinar e Aprender Ciências 68 h 7º UFPA Abaetetuba Fund. Teóricos e Metodológicos de Ciências 60 h 5º Breves Fund. Teórico – Metodológico do Ensino de Ciências 75 h 4º UFPR Curitiba Metodologia do Ensino de Ciências 45h 8º UFRJ Praia Vermelha Didática das Ciências Naturais 60 h 9º FURG Rio Grande Metodologia do Ensino de Ciências I e II 90 h 5º e 6º UFRN Caicó Ensino de Ciências Naturais I e II 150 h 5º e 6º UFRGS Porto Alegre Educação em Ciências Naturais 75 h 6º UFF Niterói Ciências Naturais: Conteúdos e Metodologias I 60 h 8º UFRPE Garanhus Metodologia do Ensino das Ciências I e II 90 h 5º e 6º UFRRJ Seropédica Fund. Teórico Metodológico de Ciências Naturais 45 h 3º Nova Iguaçu Ensino de Ciências 60 h 4º 9339 UFVJM Diamantina Princípios e Métodos das Ciências Naturais 75 h 3º UNB Darcy Ribeiro Ensino de Ciência e Tecnologia I e II 90 h 3º e 7º Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas informações dos sites das IES. A carga horária da disciplina de ciências naturais nos 55 cursos de Pedagogia das universidades consultadas variade 45 horas a 150 horas, porém a maioria está na faixa de 45 a 80 horas, como maior concentração em 60 horas, conforme é possível verificar no gráfico 1. Nesse caso, a disciplina é trabalhada em único período (semestre) letivo do curso, e quando ela está na faixa de 90 a 150 horas geralmente é desenvolvida em dois períodos letivos, conforme é possível verificar na tabela 1. Outro dado observado é que a nomenclatura utilizada para definir a disciplina varia de um curso para outro, conforme registrado na tabela 1. Esse é um fato também observado por Gatti e Nunes (2009), e que, segundo elas, sinaliza que o projeto de cada instituição procura sua vocação em diferentes aspectos do conhecimento, com enfoque próprio, o que se reflete na denominação das disciplinas. Não obstante, todos contemplam uma disciplina que faz menção ao ensino de ciências e demostram abordar os conteúdos dela tanto do ponto de vista da teoria dos saberes como na forma de ensino (metodologia). Gráfico 1 - Carga horária da disciplina de ciências naturais nos cursos indicados na tabela 1 0 5 10 15 20 45 60 68 72 75 80 85 90 96 120 135 144 150 Q d e . d e c u rs o s Carga horária Fonte: os autores. Quanto a oferta da disciplina, na maior parte dos casos consultados, ocorre a partir da metade do curso, notadamente entre o 5° e o 8º período. Esse é um fato que revela a característica dos cursos de graduação de bacharelado e licenciatura das instituições de ensino superior no Brasil, que concentra as disciplinas de fundamentos teóricos, de caráter explicativo e introdutório, de uma determinada área do conhecimento, no início e as disciplinas com conteúdos instrumentais ou operacionais, relativas ao desempenho das 9340 competências profissionais, em momentos posteriores do decorrer do curso, da segunda metade para o final. No caso do curso de Pedagogia, invariavelmente, as disciplinas que são oferecidas no início são aquelas que compõem o núcleo de estudos básicos, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), e que Gatti e Nunes (2009, p. 19) denomina de fundamentos teóricos da educação, categoria que, segundo as autoras é onde se concentra as disciplinas que tem a “[...] função de embasar teoricamente o aluno de Pedagogia a partir de outras áreas do conhecimento: Antropologia, Estatística, História, Psicologia, Sociologia, entre outras, e suas correlatas no campo da Educação”. A disciplina de ciências naturais foi agrupada por Gatti e Nunes (2009), em uma categoria que elas denominaram de conhecimentos relativos à formação profissional especifica, e nas DCN está localizada no núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos, ambas relativas aos saberes específicos da profissão. São disciplinas instrumentais, que revelam ao futuro professor o que e como ensinar. Porém, o que observamos, pela nomenclatura predominante das disciplinas, é que há uma grande presença do componente teórico. Esse fato também foi constatado pelas autoras, ao analisar as ementas das disciplinas desse grupo, são disciplinas em cujo conteúdo há “[...] predominância de aspectos teóricos, aqueles que fundamentam as teorias de ensino nas diversas áreas, contemplando pouco as possibilidades de práticas educacionais associadas a esses aspectos [...]” (GATTI; NUNES, 2009, p. 22). Elas ressaltam também que tais disciplinas apresentam ementas que denotam a preocupação em justificar o conteúdo e a metodologia, o que é bom, uma vez que pode evitar que se transformem em receitas, embora seja incipiente os registros sobre o que e como ensinar. Considerações Finais Neste trabalho nos propusemos a examinar a carga horária das disciplinas relativas ao ensino de ciências naturais nos cursos de Pedagogia ofertados por universidades federais. Percebemos que há considerável variação de horas e de nomes para tais disciplinas, porém também há concentração. Há variação na quantidade de horas que os cursos disponibilizam para a abordagem dos conteúdos da disciplina de ciências naturais, mas a maioria está concentrada na faixa de 60 a 80 horas. Da mesma forma, as denominações para a disciplina variam, embora quase todas contemplem o termo ensino de ciências. Percebemos, portanto, que é baixa a carga horária para a disciplina que visa possibilitar a formação inicial para o professor que terá de estimular os alunos a se 9341 interessarem pelos saberes das ciências naturais. Não obstante, é preciso considerar essa quantidade de horas no conjunto das demais disciplinas do curso. Em nossa visão o curso de Pedagogia ainda carece de uma identidade, pois, como já observou Gatti (2010), ele sua característica é muito abrangente, em termos de perfil profissional. Há excesso de componentes curriculares com baixa carga horária em cada um, o que leva a uma “pulverização” de disciplinas sem aprofundamentos. Conforme lembra Gatti (2014) o curso de Pedagogia formava o especialista e não possuía tradição na formação de professores para os anos iniciais e educação infantil. A partir da LDBEN 9394/96, ele assumiu essa tarefa sem deixar de fazer as outras formações. Outro dado que destacamos em relação aos cursos que investigamos, diz respeito à nomenclatura das disciplinas, notamos a existência de 40% delas contemplando as expressões “fundamentos” e “fundamentos teóricos” em relação ao ensino de ciências. Isso denota a existência de uma abordagem teórica dos conteúdos, portanto menos instrumental, com uma abordagem menos prática sobre os conteúdos. Como não nos propusemos a examinar as ementas das disciplinas, não temos dados sobre essa hipótese. REFERÊNCIAS BEVILACQUA, L. Ciência, um bem para o engrandecimento do espírito. In: WERTHEIN, J.; CUNHA, C. 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