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1 O EFEITO DA DEMOCRACIA PARA A APROXIMAÇÃO ENTRE BRASIL E ARGENTINA NA DÉCADA DE 1980 GABRIELLA LENZA CREMA1 RESUMO Objetivou-se neste trabalho averiguar se o estabelecimento da democracia na Argentina e no Brasil, nos anos 1980, influenciou a harmonização de suas relações, caracterizadas por grande tensão durante seusregimes militares.Para isto, foram feitas reflexões em torno da teoria da paz democrática, a qual se baseia na ideia de que democracias não entram em guerra entre si. Deste modo, realizou-seum exame da adequação das variáveis-chave de tal teoria, quais sejam: os constrangimentos institucionais, as normas democráticas e as percepções mútuas, ao caso considerado. Assim, verificou-se que embora a democracia tenha exercido influência, outros fatores devem ser considerados quando se trata da reaproximação entre os vizinhos sul- americanos. Palavras-Chave:Brasil, Argentina, paz democrática. 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina. 2 1. INTRODUÇÃO Desde suas independências, como destaca Candeas (2010), Brasil e Argentina tiveram um relacionamento que se alternou entre hostilidade e aproximação, mediante seus interesses internacionais e regionais particulares. No entanto para Klaveren (1990), os momentos de tensão excederam aqueles em que a coordenação era viabilizada, ainda que, assim como os períodos de coordenação sempre enfrentaram obstáculos frente a receios mútuos, as crises entre os dois países tradicionalmente estiveram circundadas a limites. Entretanto, de acordo com Bandeira (2010), na década de 1970, e em especial, durante os governos seus governos ditatoriais, a rivalidade geopolítica entre as duas nações adquire uma força maior, tanto pelas contendas em torno da Bacia do Prata, como por disparidades de prosperidade econômica que os atingia, de forma que, como indicado por Viola (2008), a hipótese de um conflito armado se torna real. Já no fim da década de 1970, iniciativasvisando a criação de relações mais prósperas são consolidadas, como a assinatura do Acordo Tripartide(1979) e diversos acordos bilaterais de cooperação foram inaugurados por ocasião da visita do presidente brasileiro Figueiredo (1979-1985) a Buenos Aires em 1980 (GIARDINI, 2006). Porém, é só em 1985, quando a democracia é instaurada no Brasil, tendo ocorrido o mesmo 2 anos antes na Argentina, com a eleição de RaúlAlfonsin (1983-1989), que as rivalidades são sucumbidas. Afinal, os dois Estados assinam, naquele ano, a Declaração de Iguaçu e estabelecem compromissos de cooperação nuclear pacífica, atitudes que sinalizavam como a associação entre eles seria atributo essencial de seus interesses nacionais (CANDEAS, 2010). Diante disso, este trabalho fará uso da teoria paz democrática, a qual, como mostrado por Layne (1994), afirma que democracias não vão à guerra umas com as outras devido à existência de constrangimentos institucionais e normas e culturas democráticas, mas principalmente pelo que Owen (1994) caracterizou sobre a percepção mútua entre dois países como democracias liberais. Portanto, à luz das fundamentações sobre a paz democrática, a pesquisa objetiva identificar se a consolidação da democracia no Brasil e na Argentina contribuiu para frear a escalada de tensões existentese construção de relações prósperas. Neste sentido, partindo da hipótese de que democracia foi um dos elementos determinantes da consolidação de relações mais pacíficas entre os dois países sul-americanos, 3 o trabalho, que se apoia em revisão bibliográfica, foi dividido em três seções. Na primeira, há uma exposição das origens e dasprincipais premissas da teoria da paz democrática, além de algumas críticas que a ela foram direcionadas. Na segunda, foi feito um exame das iniciativas e marcos da relação bilateral entre a década de 1970 - momento de acirramento das tensões entre eles - até a conformação do Mercosul na década de 1990. Já a última seção foi destinada a delinear de que modos a democracia teve impacto sobre a harmonização das relações entre Brasil e Argentina e, assim, testar a adequação das proposições da teoria da paz democrática ao caso em questão. 2. A Teoria da Paz Democrática: origens, premissas e críticas A teoria liberal das Relações Internacionais se apoia na concepção de que as relações entre o Estado e a sociedade doméstica e transnacional, reverberam no comportamento estatal. Afinal, impactam em suas preferências, as quais são consideradas nos cálculos estratégicos governamentais (MORAVISCK, 1997). Moravisck (1997) elencou três variantes desta teoria: o liberalismo ideológico, o liberalismo comercial e o liberalismo republicano. Respectivamente, os dois primeiros tratam de demandas relacionadas à aspectos de identidade e de interesses econômicos, enquanto o terceiro se refere ao modo como tais demandas são impressas nas políticas estatais por meio das instituições e práticas domésticas. Assim sendo, a variável chave dessa vertente é a natureza da representação política doméstica (MORAVISCK, 1997). Neste sentido, considerando a existência de uma representação interna justa com a população votante, o liberalismo republicano é capaz de elucidar panoramas como a paz democrática. Isto porque uma guerra de larga escala provoca custos rigorosos na sociedade doméstica, assim, o governo que a representa evitará guerras (MORAVISCK, 1997). A origem da teoria da paz democrática, baseada na ideia de que democracias não vão à guerra entre si, remonta a obra de Kant (1976), que defende a consolidação de uma paz perpétua mediante a aquiescência de três artigos definitivos. O primeiro propõe uma constituição republicana aos Estados, através de uma economia orientada para o mercado e pela propriedade privada no âmbito privado e uma liberdade jurídica sustentada por um governo com separação de poderes no âmbito público (KANT, 1970 apud DOYLE, 1986). Essa liberdade jurídica estaria embebida em uma representação política doméstica que assegura o respeito aos direitos individuais e que os cidadãos exerçam certo controle sobre as leis formuladas. Assim, a decisão de ir à guerra em um Estado Republicanodependeria do 4 consentimento popular, o qual é difícil de ser alcançado, pois um conflito provoca custos às vidas e propriedades da população.Já em um regime não-republicano, no qualos indivíduos não influenciam as leis, as guerras podem ser travadas pelos interesses agressivos dos líderes (KANT, 1970 apud DOYLE, 1986). O Segundo Artigo se relaciona à construção de uma federação pacífica através do aumento gradativo de nações republicanas, que, conscientes do compromisso que cada uma possui com instituições e normas, trataria de seus desentendimentos pelo respeito mútuo (KANT, 1970 apud DOYLE, 1986). Já o Terceiro Artigo refere-se ao estabelecimento de um Direito Cosmopolita garantidor de hospitalidade para estrangeiros em territórios alheios, que cria um ambiente factível para que o comércio se espalhe entre as nações. Assim, é desencadeada uma interdependência econômica que auxilia a consolidação de acomodação mútua, de forma que a paz seja objetivada de modo geral entre os Estados (ibid.) Para Doyle (1986), A Paz Perpétua de Kant elucida os legados do liberalismo moderno, ou seja, a construção de uma paz entre Estados liberais desde o século XVIII e a existência de guerras entre regimes liberais e não-liberais. No entanto, como afirma Russett (1993), à época de Kant poucas evidências empíricas corroboravam a existência de um mundo de nações democráticas, na realidade, tratava-se mais de uma expectativa. Porém, ao final do século XIX, diversos casos de democracias que estiveram à beira de um conflito e evitaram a guerra motivaram o desenvolvimentodo argumento central da teoria da paz democrática. Entretanto, no século XX, com o fracasso da Liga das Nações em evitar a Segunda Guerra Mundial, o idealismo wilsoniano, que dava vazão à Liga e era permeado pela ideia de que democracias eram fundamentadas na opinião pública, e portanto, contrárias à guerra, foi descreditado (RUSSETT, 1993). Sequencialmente, a teoria da paz democrática também perdeu força pela existência de poucas democracias no mundo, tendo recebido pouca atenção durante a Guerra Fria. Este quadro muda nos anos 1970, pois a quantidade de democracias na comunidade internacional se eleva e a paz democrática atinge áreas para além do Atlântico Norte e de nações industrializadas (RUSSETT, 1993). Isso permite uma assimilação gradativa da teoria por acadêmicos das Relações Internacionais na década de 1980, principalmente após as obras de Rummel (1983) e Doyle (1983; 1986), que tinham enfoque na conexão entre guerras e arranjos políticos domésticos (ELMAN, 2001). 5 Em essência, a teoria da paz democrática foi sendo consolidada mediante a ideia de que democracias nunca guerreiam entre si, e que em circunstâncias conflituosas com outras democracias, optam por não utilizar a violência devido à natureza do regime político democrático (LAYNE, 1994). Dixon (1994) aponta que as democracias, ao contrário de outros regimes, contam com instrumentos que lhes equipam adequadamente para a resolução de disputas em seu estágio inicial. Em contrapartida, a teoria liberal pressupõe que nações democráticas podem fazer uso da guerracomo resposta a ameaças de Estados fracos e de países periféricos despojados dos requisitos para comércio elucro (MORAVISCK, 1998). Também, de acordo com Russet (1993), o relacionamento pacífico que se vê entre duas democracias não é esperado para uma democracia e uma autocracia.Argumentos como estes foram produzidos a partir de um longo empenho da literatura em explanar os mecanismos causais imbuídos na lógica de que democracias não vão à guerra entre si (DIXON, 1994). De acordo com os diferentes mecanismosapurados, a teoria da paz democrática foi dividida entre normativa e estrutural. A primeira se refere ao fato de que democracias compartilham valores e ideias, assim, respeito à liberdade individual, compromisso e cooperação fazem com que estes regimes julguem ser injusto e imprudente uma guerra entre eles. Já a vertente estrutural trata dos constrangimentos institucionais típicos do sistema político democrático(MESQUITAet al., 1999; OWEN, 1994). Para a vertente normativa, as democracias reproduzem no ambiente externo suas práticas internas, em particular, a disputa política. Tal disputa implica o compromisso e o respeito, e não a subjugação dos partidos perdedores. Externalizando esses métodos, as democracias, que passam a ter uma percepção mútua positiva entre si de que buscarão resultados como negociação e status quo, resolverão suas controvérsias por normas e compromissos (MAOZ et al., 1993; LAYNE, 2994). Porém, diante de um confronto com autocracias, nas quais a contestação pelo poder pode se dar pela violência, as democracias necessitam se adaptar ao padrão de comportamento deste Estado não-democráticopara evitar serem subjugadas, e tendo em vista que estas nações não compartilham seus valores e normas, as democracias aceitama instância do conflito violento(MAOZet al.,1993; MESQUITAet al., 1999). Por sua vez, a vertente estrutural traz a questão dos checksand balances da política doméstica mediante três elementos dos regimes democráticos: competição política, pluralismo da tomada de decisão da política externa e um Executivo que se reporta a um 6 corpo de seleção (LAYNE, 1994). Por esses elementos, a opinião pública, o Poder Legislativo, as burocracias políticas e grupos de interesse influenciam a ação internacional, o que torna difícil a decisão de ir à guerra (MAOZ et al., 1993). Tal dinâmica não ocorre em Estados autoritários, pois neles não há necessidade de se manter uma base de apoio, o que leva a ações individuais por parte dos líderes. Assim, diante de uma contenda com um regime não democrático, a resolução das hostilidades não é conduzida por constrangimentos estruturais, portanto, governantes democráticos são levados a desviar do padrão político interno e ingressar o conflito, sendo até mesmo forçados pelo país em disputa a angariar respaldo popular para a guerra (MAOZ et al., 1993). Owen (1994) aponta que ambas as vertentes são problemáticas, pois estruturas democráticas podiam ser propensas à guerra e, em termos normativos, não foi concebido que Estados tidos na academia como democráticos podem não ter sido assim considerados por outras democracias. Nesse sentido, para Owen (1994), ideias liberais, ou seja, que os indivíduos são iguais e visam a autopreservação, o bem-estar material e a liberdade, seriam o mecanismo para que as democracias evitassem guerra entre si. Porém, para ele, isto só ocorreriacaso uma nação democrática liberal percebesse outro país como também democrático liberal, pois, por serem conduzidos pelas aspirações de seus cidadãos, são considerados razoáveis, previsíveis e confiáveis. Owen (1994) afirma que Estados não-liberais, por sua vez, são percebidos como imprevisíveis e perigosos, já que possuem fins que não são as demandas de seus cidadãos, o que abriria espaço para que democracias liberais entrassem em conflito com outros regimes. Ademais, Owen (1994) acrescenta que percepções dos democratas liberais quanto à outras nações não se modificarão em meio a crises entre eles, e que, a partir do momento em que uma democracia liberal percebe que um Estado está se consolidando como democrático liberal, a confiança entre eles se elevará e relações mais pacíficas serão possíveis. Além disso, elites liberais destes Estados tendem a buscar apoio popular contra a entrada em guerras, apoio este que pode servir também como pressão contra a conduta não-pacífica de líderes não liberais. Assim como Owen (1994) ofereceu novos entendimentos para compreensão da paz democrática, Mesquitaet al. (1999, p. 1) apontam que, à medida que os estudos acadêmicos foram sendo destinados a testar empiricamente as premissas desta teoria, novas informações foram sendo adicionadas ao argumento de que democracias não se enfrentam. São os casos 7 das seguintes ideias: democracias iniciam mais guerras contra autocracias do que o contrário e tendem a ganhar as guerras nas quais se engajam e pagar menos custos por elas; igualmente, democracias em transição são menos estáveis do que as consolidadas e grandes democracias são menos propensas à guerra que democracias menores. Embora a teoria da paz democrática tenha se tornado mais complexa e, portanto, apresente certo progresso, críticas lhe foram direcionadas. Spiro (1994) pontuou que os defensores desta teoria teriam ignorado que não-democracias enfrentam pressões governamentais e que as democracias contam com certo grau de autonomia, o que esbarraria no argumento de que constrangimentos políticos democráticos evitam guerras entre democracias; além disso, tais regimes possuem líderes capazes de angariar apoio popular frente a guerras que almejam ingressar. Já Layne (1994), argumentou que a teoria da paz democrática priorizou instituições domésticas em detrimento de constrangimentos externos. Para ele,sob uma perspectiva realista, o sistema internacional influencia o comportamento estatal e seu sistema político, assim, em um ambiente de ameaças, um Estado tende a ser menos democrático, já que se engaja mais em guerras em prol de sua segurança nacional, caso não considerado pelos teóricos da paz democrática. Similarmente, o autor pontuou que muitas vezes a opinião pública não influencia a decisão sobre a guerra ou que também pode ser a favor. Diante de tais críticas, é notável que contribuições baseadas emestudos empíricos testando a teoria em questão são bem-vindas como forma de expor sua validade prática. É neste sentido que as próximas seções serão estruturas para o caso da aproximação Brasil- Argentina. 3. A construção de um relacionamento mais próspero entre Brasil e Argentina Em 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Aproveitamento Hidrelétrico do Rio Paraná visando a construção da Hidrelétrica de Itaipu. Diante disso, a Argentina se opôsargumentando que, ao modificar o curso do rio, seus projetos, como a Hidrelétrica de Corpus, seriam prejudicados e temia-se que Itaipu pudesse provocar uma assimetria de poder econômico e geoestratégico a favor do Brasil na Bacia do Prata (CANDEAS, 2010; GARDINI, 2006) Em 1976 um golpe militar torna Rafael Videla (1976-1981) chefe de governo argentino.Naquele momento o Brasil também contava com um militar no poder, Ernesto Geisel (1974-1979). Trata-se de um período permeado por tensões significativas entre os dois 8 países (BANDEIRA, 2003). Afinal, a Argentina paralisou as usinas de São Pedro e Roncador alegando que forneciam maiores vantagens ao Brasil, questionou a validade do Tratado de Paz, Amizade, Comércio e Navegação (1856), o que indispôs o Brasil, já que a navegação pelo Rio da Prata era relevante para si. Ademais, uma certa preponderância regional brasileira diante de seu milagre econômico, que divergia da instabilidade política e econômica argentina, fomentava rivalidades e desconfianças (BANDEIRA, 2003; CANDEAS, 2010). Além disso, reconhecendo que havia uma assimetria de poder entre Brasil e Argentina, o chanceler de Geisel, Azeredo da Silveira, via a possibilidade de que aspirações regionais do país se realizassem. Assim, buscou impedir que o vizinho continuasse como parceiro central de Bolívia, Colômbia e Paraguai, promovendo a revisão de acordos que consideravam injustos, oferta de crédito e cooperação tecnológica com estes países, o que foi visto negativamente pela Argentina (SPEKTOR, 2002). Da mesma forma, embora tenha havido tentativas de negociação, o diálogo entre os dois países não foi retomado. O Brasil rejeitou a proposta argentina de conformação de uma Comissão Tripartite com o Paraguai acerca de Itaipu e Corpus e não se posicionou sobre a proposta de reunião bilateral para tratar destas questões, tendo ressaltado que demandava de imediato um parecer argentino sobre a navegação na Bacia do Prata. A hostilidade alcançou seu nível mais alto quando a Argentina interditou o túnel Cuevas-Carcoles, no qual transitavam mercadorias brasileiras ao Chile, o que teve como retaliação o bloqueio brasileiro de suas fronteiras para grande parte da frota de caminhões argentina (BANDEIRA, 2003). Entretanto, haviam outras controvérsias a serem solucionadas. Internacionalmente, os EUA e a União Europeia empregavam um protecionismo que exigia a diversificação de mercados por parte de Brasil e Argentina. Os EUA também paravam de auxiliar regimes ditatoriais e usavam uma retórica de direitos humanos e democracia, bem como de não- proliferação, criticando assim os programas nucleares de ambos os países, o que se tornou um fator de união entre eles. Igualmente, o Brasil demandava melhor abastecimento energético, principalmente frente à crise do petróleo em 1974; assim, uma negociação para energia hidrelétrica com a Argentina seria imprescindível (GARDINI, 2006). Regionalmente, em 1978,a Argentina se encontrava em uma disputa com o Chile sobre a posse de três ilhas que davam acesso aos Oceanos Atlântico e Pacífico, as quais por arbitragem britânica, foram concedidas ao Chile. Diante disso, era imprescindível que se apaziguassem os embaraços com o Brasil para que ela não fosse submetida a dois fronts de disputas. Por outro lado, a política de apoio paraguaio, que variava entre Brasil e Argentina, 9 relativa à problemática de Itaipu, ascendia um anseio brasileiro em resolver o impasse com Buenos Aires (GARDINI, 2006). Portanto, os militares argentinos empenharam-se em dissolver os dilemas que permeavam as relações bilaterais e Azeredo da Silveira tomou uma postura conciliatória, resultando no reconhecimento argentino de que a construção de Corpus não era prioridade, e sim tecnicamente e economicamente inviável (GARDINI, 2006). Assim, em 1979, é assinado o Tratado Tripartite entre os dois países e o Paraguai, que estabelecia os termos consensuais sobre a construção de Itaipu, e inaugurava uma fase de acomodação entre os tradicionais rivais sul-americanos (CANDEAS, 2010). Em 1980, o presidente João Figueiredo visita a Argentina, firmando o Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento e Aplicação dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear. Três outras visitas entre ele e Videla são registradas no período, todas elas em torno da cooperação no campo nuclear e tecnológico, do aproveitamento dos recursos hídricos dos rios compartilhados entre os países, da interconexão de seus sistemas elétricos, da criação de comissões para tratamento de assuntos bilaterais, da articulação de uma ponte no Rio Iguaçu e de questões de tributação e evasão fiscais (ESPOSITO NETO, 2013). Este novo espírito positivo permeando o relacionamento bilateral foi visto até mesmo no contexto da Guerra das Malvinas. Como forma de reduzir a importância do Canal Beagle e atenuar pressões internas que colocavam em risco a estabilidade das Forças Armadas no poder argentino, a Argentina reivindica as Ilhas Malvinas por meio de uma invasão, o que é repreendido pela Grã-Bretanha em guerra. O Brasil, ainda que adotando uma retórica de neutralidade, defendeu o direito argentino sobre as ilhas, forneceu apoio material e diplomático e viabilizou o escoamento em seus portos de mercadorias do vizinho diante do embargo comercial por ele sofrido, promovido por Inglaterra e EUA (BANDEIRA, 2003; CANDEAS, 2010). Com a derrota argentina na guerra, e as pressões que já vinha sofrendo pela calamidade econômica do país e pelas atrocidades de seu programa anti-subsversão, a Junta Militar Argentina sai do poder em 1983, quando Raul Alfonsín é eleito democraticamente. Já o Brasil, nesse período, passava por um processo de redemocratização que culminou na negociação de Tancredo Neves para a presidência, a qual foi de fato ocupada por seu vice, José Sarney, em virtude do falecimento de Neves (BANDEIRA, 2003). Os dois presidentesse depararam com situações econômicase políticas problemáticas. O Brasil enfrentava crise econômica e dívida externa e a Argentina vivia os resultados da 10 desastrosa condução econômica ditatorial e do isolamento internacional engendrado pela guerra. Diante disso, novos anseios permearam o relacionamento entre os dois, quais sejam: robustecer a democracia, angariar autonomia frente aos EUA, e articular uma agenda política e econômica comum(ESPOSITO NETO, 2013).Frente a estes anseios, as relações entre os dois Estados passa a se dar através da formulação de acordos para a integração bilateral. Assim, por iniciativa argentina, os dois chefes de Estado decidiram dar início à integração econômica entre os países. Em 1985, Sarney e Alfonsín reúnem-se em Foz do Iguaçu, assinando a Declaração de Iguaçu, quetratava da cooperação cientifica e tecnológica dos dois países, do fortalecimento de suas capacidades negociadorase da busca por gradual desenvolvimento econômico como forma de sanar suas baixas disponibilidades de insumos e bens de capital (BUENOet al., 2014; CANDEAS, 2010). Noano seguinte, visitas entre Alfonsín e Sarney ocorreram buscandointegrar seus Estados,tendo em vista seus interesses nacionais, o aumento do comércio bilateral e o fortalecimento da democracia(HIRST, 1988). Nesse sentido, foi assinado, naquele ano, a Ata para Integração Brasil-Argentinae protocolos relacionados à integração e a setores produtivos específicos, o que culminou na articulação do Programa de Integração e CooperaçãoEconômica Brasil-Argentina, designado para estimular o desenvolvimento econômico e a inserção internacional das duas nações (VARGAS, 1997). Já em 1988, com o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, a integração bilateral é avançada, pois determinava o compromisso de seus países com a harmonização de suas políticas e a criação de uma zona econômica comum, no prazo de 10 anos, através da gradual eliminação de barreiras ao comércio (BANDEIRA, 2003). Todas essas iniciativas foram concebidas em direção ao desenvolvimento e ao fomento da capacidade competitiva de seus países. Porém, em 1989, os presidentes que sucederam Alfonsín e Collor na Argentina e no Brasil – Carlos Menem (1989-1999) e Fernando Collor (1990-1992), respectivamente -, administram seus países dentro da lógica neoliberal que permeava o meio internacional. Com efeito, o relacionamento bilateral foi reordenado a partir da dimensão da abertura dos mercados (ESPOSITO NETO, 2010; VIGEVANIet al., 2009). Dentro dessa nova orientação, em 1990, Menem e Collor assinam a Ata de Buenos Aires, que reduzia em cinco anos o prazo para a construção de uma área econômica comum. No ano posterior, firmam o Tratado de Assunção, determinando as bases para o Mercosul, que tem sua estrutura institucional estabelecida no Protocolo de Ouro Preto,em 1994, no qualse inicia a fase de União Aduaneira do bloco(CANDEAS, 2010). 11 Da mesma forma, deram vazão à edificação da confiança no âmbito nuclear entre Argentina e Brasil, tendo sido assinados a Declaração sobre Política Nuclear Comum, o Acordo Bilateral para Usos Exclusivamente Pacíficos da Energia Nuclear, o Acordo Quadripartitee o Acordo para a Proibição Completa das Armas Químicas e Bacteriológicas (CANDEAS, 2010; VARGAS, 1997). Posteriormente os dois países seguiram, em maior ou menor medida, um caminho de coordenação mútua, o qual tem suas bases quando ambos se democratizavam. Assim, a próxima seção tratará de investigar o papel da democracia dentro dessa aproximação. 4. A democracia na aproximação brasileira e argentina No campo da segurança internacional, analistas afirmaram que a rivalidade geopolítica entre Brasil e Argentina, na década de 1970, era similar à existenteentre Índia e Paquistão, de modo que a possibilidade de guerra era real (VIOLA, 2006, p. 19). Isto demonstra a dimensão da hostilidade bilateral daquele momento, o qual se deu precisamente durante os governos ditatoriais. Entretanto essa realidade vai se dissipando conforme a democracia vai sendo consolidada nestes países e a cooperação entre os dois vai ganhando força. Assim, a democracia parece ter exercido um papel importante. Dante Caputo, Ministro das Relações Exteriores de Alfonsín afirmou que a existência da democracia no Cone Sul elencava oportunidades para o processo de integração, o qual foi originado pela aproximação entre Brasil e Argentina (GARDINI, 2005). Sob o signo da paz democrática, essas oportunidades podem ser expressadas quando se considera que, como defendido por Owen (1994), as democracias partilham dos mesmos fins; isto é, as aspirações de seus cidadãos, e assim, são vistas como previsíveis e razoáveis, dignas de confiança, elemento que catalisa a queda de hostilidades e a cooperação. Gardini (2005) destaca que, embora passos iniciais para a coordenação bilateral tenham sido dados quando o Brasil ainda era autoritário e a Argentina democrática, tratava-se de um momento em que o Itamaraty não poderia engendrar grandes compromissos. Assim, com a chegada da democracia no Brasil, a cooperação se torna um produto dos valores e aspirações políticas e econômicas comuns, ganhando uma velocidade quantitativa e qualitativa. Diante disso, à luz da teoria da paz democrática, seria possível mensurar que a resolução de controvérsias e cooperaçãoevoluiu, já que, como afirma Maozet al. (1993), sobre a vertente 12 normativa da paz democrática, as democracias partilham valores e normas, e externalizam sua disputa política interna que ocorre pacificamente. Assim, há uma identificação mútua e possibilidade de confiança que a conduta alheia será em termos pacíficos, impedindo a ocorrência de guerras entre elas, o que, portanto, teria contribuído para que as tensões não se alavancassem entre os dois países sul-americanos. Entretanto, como Whitescarver (1994) afirma, quando se parte da ideia que democracia é o regime que conta com liberdade de expressão, habilidade de imprimir preferências no âmbito político, proteção de direitos individuais e disputa política livre e não violenta, a aproximação bilateral teria ocorrido em um momento em que a democracia liberal não havia sido consolidada plenamente em ambos os países. Isto significa que as normas e constrangimentos institucionais democráticos ainda não haviam sido totalmente consolidaos quando as iniciativas de coordenação foram lançadas, afinal, tais elementos levam tempo para se institucionalizar. Portanto é controverso assumir que a mudança de regime foi basilar para a conciliação bilateral (REMMER, 1998). Por outro lado, Camargo (1989) pontua que cooperação bilateral provavelmente não seria viabilizada durante um governo ditatorial, pois em tais regimes o sigilo e o arbítrio são arraigados ao funcionamento da política.Fonseca Jr. (1994/95) admite que os sistemas políticos de Brasil e da Argentina foram acometidos por maior permeabilidade de opiniões a partir da instalação dos novos regimes e maior transparência sobre as relações exteriores e ações governamentais gerais destes países passou a ser demandada. Nesta perspectiva, como argumentam Maozet al. (1993), de acordo com a vertente estrutural da teoria da paz democrática, a participação de burocracias políticas, do Legislativo e da opinião pública na condução da orientação externa, características da democracia, complexificam a decisão de ir à guerra. Deste modo, dado que uma atividade maior dos diversos setores das sociedades brasileira e argentina foi observada na tomada de decisão política, avançar em um confronto entre os dois países, possivelmente, teria sido difícil. Contudo,como argumenta Santos (1997), embora o poder de agenda presidencial argentino seja reduzido devido à organização interna de seu Poder Legislativo, que lhe garante maior autonomia, no Brasil, o processo legislativo se inclina em vantagem do poder concentrado pelo Executivo. Diante disso, é discutível a relevância que outros atores, como o Legislativo, pode ter tido no apaziguamento das hostilidades bilaterais e, assim, questionável a forma como a paz democrática é pertinente ao caso em estudo. 13 Nesse sentido,embora haja uma certa autonomia do Legislativo no sistema político argentino, Whitescarver (1994) destaca que o governo Menem manipulou a Constituição e realizou trâmites nas diretrizes do Poder Judiciário que permitiram sua reeleição, e ignorou o Legislativo para fazer valer muitas de suas iniciativas, de modo que a participação de atores externos na condução da política local é incerta. Outrossim,ainda que a transição argentina à democracia tenha sido curta e, portanto, não foi possível a articulação da função que as Forças Militares exerceriam no novo regime, tendo ficado à parte da tomada de decisões da política externa, no Brasil, o longo processo de democratização possibilitou que os militares mantivessem papéis estratégicos no funcionamento estatal e sua possibilidade de veto (RIVERA, 2004). Isto indica que, para além do fato de que as bases para a aproximação bilateral foram assentadas quando ambos países ainda eram ditatoriais e no período de assimetria de regime, as novas relações, no contexto democrático, foram delineadas à sombra de perspectivas ainda autoritárias. E como assinalado por Owen (1994) regimes autoritários compartilham fins egoístas, de modo que um entendimento não poderia ter sido viabilizado nesteperíodo. Owen (1994) também trouxe as percepções como meio de responder às críticas que a teoria da paz democrática sofria e sanar problemas das duas vertentes da teoria. Assim, como foi listado até agora, adversidades de aplicação do caso em análise dentro de tais vertentes, as percepções - elemento determinante para a paz democrática-, aparentemente contribuiriam para a alegação de que a democracia foi decisiva na harmonização das relações Brasil- Argentina. Afinal, em inúmeros discursos Sarney destacou o fato de que Alfonsín era o “patrono” (REBOSSIO, 2009) da democracia argentina e, como afirmado por Klaveren (1990), ambos enxergavam a cooperação bilateral como forma de fortalecer o processo de democratização de seus países. Portanto, percebiam-se como democracias liberais. Deste modo, é de se esperar que consideravam uma previsibilidade no comportamento alheio, e assim, poderiam confiar um no outro, fatores apontados por Owen (1994) na discussão do comportamento pacífico entre democracias. Por outro lado, Owen (1994) também defende que democracias liberais percebem regimes autoritários como imprevisíveis e potencialmente perigosos. Deste modo, seria plausível considerar que no momento de assimetria dos regimes, a Argentina perceberia o Brasil nestes termos e o diálogo pacífico não seria estabelecido. 14 Entretanto, Gardini (2005) demonstra que a cooperação com o Brasil foi um dos pontos centrais da diplomacia argentina desde o primeiro momento que Alfonsín tomou o poder, tendo até criado um grupo de trabalho encarregado de encaminhar as relações com o vizinho e relançado o Comitê Especial Brasil-Argentina. Neste sentido, ainda que o governo brasileiro fosse conduzido pelo autoritarismo, a Argentina democrática não se guiou pelo entendimento de que o Brasil, por ser autoritário, era irracional, e portanto, representava uma ameaça, o que também deixa duvidosa a teoria da paz democrática como adequada para elucidar a aproximação bilateral. Ademais, um dos argumentos modernos da paz democrática é de que democracias ainda não consolidadas tendem a ter um comportamento agressivo (MANSFIELD et al., 1995), entretanto, Gardini (2005) mostra que Brasil e Argentina tiveram uma conduta coordenada e pacífica, embora estivessem ainda solidificando suas estruturas democráticas. Nesta lógica, Hurrell (1998) afirma que, ao contrário dessa premissa da paz democrática, a consolidação da democracia permitiu o entendimento dos dois países, e não o regime democrático, sendo que os valores e ambições compartilhados resultavam não do novo regime, mas do temor sobre sua vulnerabilidade. Não obstante, ainda que valores e transparência política, característicos da democracia, possam indicar possibilidades de desempenho pacífico, a formulação de políticas vai além do regime em exercício, isto é, contempla elementos que variam conforme a conjuntura do período, como coalizões governamentais, capacidades socioeconômicas, interações com a comunidade internacional e procedimentos de tomada de decisão (GARDINI, 2005; REMMER, 1998). Elementos neste sentido foram listados na seção anteriorpara o caso em estudo, no qual se observa que questões internacionais e regionais confluíram para a cooperação entre Brasil e Argentina. Além destes, a despeito do caráter dos regimes, a renovada natureza do relacionamento bilateral ganhou grande fôlego com a vontade política pessoal de Sarney e Alfonsín(GARDINI, 2005). Porém, ainda que pressupostos essenciais da teoria da paz democrática não expliquem amplamente as razões pelas quais a tensão entre Brasil e Argentina foi diluída e transformada em cooperação, a democracia, de fato,desempenhou funções importantes na construção do relacionamento positivo entre os dois países. Afinal, diante da vulnerabilidade dos novos regimes, era imprescindível pacificar o entorno regional para impedir que nacionalistas ganhassem espaço político. Para isso, o 15 fortalecimento da democracia seria significativo, de modo que foi então um dos fatores de união entre os dois países. Ademais, a democracia serviu como fator de aglutinação para muitas das questões envolvidas na relação dos dois países naquela conjuntura (HURRELL, 1998; GARDINI, 2005). 5. CONCLUSÃO A relação entre Brasil e Argentina atingiu um patamar de tensão significativo quando ambos eram governados por ditaduras. Como mostra Bandeira (2010), havia, naquele momento, um descompasso entre as economias dos dois a favor do Brasil, e uma aspiração brasileira por destaque geopolítico regional que assentava desconfianças argentinas. Igualmente, a dificuldade na resolução da construção da hidrelétrica de Itaipu e sobre a navegação no Rio da Prata provocava a indisposição brasileira em estabelecer um diálogo com o vizinho. Este quadro é modificado na década de 1980, de modo que o relacionamento passa a tomar um caminho de prosperidade, conduzido pelo novo entendimento que uma cooperação bilateral favoreceria o interesse nacional de ambos (KLAVEREN, 2010). Esta transformação se deu durante um período em que se consolidava a democracia nos dois países, isto é, após as eleições de Alfonsín na Argentina, a comunicação entre os dois se aprimorou, e com chegada de Sarney à presidência do Brasil, as negociações se firmaram (GARDINI, 2005). Isso indica que a democracia influenciou a construção do diálogo, afinal, à luz da paz democrática, como destaca Owen (1994), tais nações passaram a compartilhar os mesmos fins e se enxergarem como previsíveis e razoáveis. Entretanto, a hipótese proposta nesta pesquisa não foi plenamente confirmada. Como indicou Remmer (1998), as normas e constrangimentos institucionais capazes de impedir a evolução de um conflito entre duas democracias ainda estavam sendo conformadas durante o período de realização dos empreendimentos de coordenação bilateral. Outrossim, ainda que percebendo o Brasil como uma ditadura, no momento de assimetria de regimes, de acordo com Gardini (2005), a Argentina se mostrou bastante inclinada a promover relações prósperas com o vizinho, o que contraria o entendimento da teoria da paz democrática de que democracias percebem regimes autoritários como imprevisíveis e perigosos (OWEN, 1994) Ademais, os primeiros empreendimentos de aproximação foram dados ainda quando ambas as nações eram governadas pelo regime militar, com a visita de Figueiredo a Buenos Aires e o Tratado Tripartite. Não obstante, outros fatores estiveram presentes para que o 16 entendimento entre Brasil e Argentina fosse alavancado.Como Gardini (2005) apresentou, a retirada do apoio estadunidense aos regimes militares e seu protecionismo econômico, a necessidade de fontes energéticas, aGuerra das Malvinas e os impasses regionais engendravam a necessidade de que os dois países atenuassem as controvérsias. Ao que se desenhou, conceber a teoria da paz democrática como explicativa da totalidade da questão é diminuir o peso de constrangimentos externos que sofreram Brasil e Argentina, naquele período. Ou seja, é empregar a lógica que Layne (1994) criticou sobre essa teoria, a qual, para ele, atribui relevância demasiada ao ambiente interno no comportamento estatal e negligencia que o sistema internacional influencia o sistema político dos Estados. No entanto, embora o caso em discussão demonstre a importância de se considerar a extensão de coeficientes que permeiam conflitos geopolíticos e a ausência destes, sem que se limite a análise ao tipo de regime, não se pode negar a relevância da teoria da paz democrática. Como Lake (2013) assinalou, ao pontuá-la como uma teoria de nível médio, o desenvolvimento de novas constatações desta teoria tem contribuído para a compreensão da política internacional, até mesmo de uma forma que não fizeram os grandes debates das Relações Internacionais. Portanto, é desejável que novos estudos sejamconcebidos dentro da esfera desta teoria como forma de sanar suas lacunas e auxiliar o avanço da disciplina. ABSTRACT The objective of this study was to determine if the establishment of democracy in Argentina and Brazil in the 1980s influenced the harmonization of their relations, characterized by great tension during their military regimes. In order to do this, some reflections were made on the theory of democratic peace, which is based on the idea that democracies do not go to war with each other. In this way, an analysis was made of the adequacy of the key variables of such a theory, namely: institutional constraints, democratic norms and mutual perceptions, to the case in question. Thus, it was found that although democracy exerted influence, other factors must be considered when it comes to rapprochement between South American neighbors. Keywords: Brazil, Argentina, democratic peace. 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