Buscar

Olavo de Carvalho - 14 - Idéia versus Realidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

col.qarir
§{ísÉôr§a
Iisser**ilrl da
FiÊos*tía
,v'
lffi
Kem§§dmde
\u l* 1-l
§,
pu' ülavo de Calvalho
olavo de Carvalho, nesia aula en qü. falâ dâs
tef,sóes exisrefles entre lógica e reali.lade, chLle
os mÍndos da idéia e da experiência, entrc o
.ôhhê.imenlô da existência é o da cssancia. diz
que em Asosiinho 'a certeza qü. o cogilô 1em de
si mesmo náo é completa, c{imo cm Descailes,
ÂSostinho obseNa: "Eu sei quc soui úâs náô sei o
que sou ( ..) e muiio m€nos conhcço ó pôrqúê desta
Olavo evoca Descdt.s, sanlo À8os1inho, a
nlosofia islâmica, Santó Tôúás de Áqúino e tantos
oulros para disculirà pontc d.sde ô eü at.r o mundo
exterior que há séculos o hómcú ieíta conslruir
lilnililuilill
"Olavo de Carvalho é o
mais importante pensador
brasileiro hoje."
\vagner Carclli
"Filósofo de grande emdiçâo."
RobeÍto Campos
"Um gigante "
Bruno Tolentino
"Olavo de Carvalho se
destaca porque pensa,
rellete,eédeumâ
honestidade intelectual
que chega a ser cruel."
CaÍlos Heitor Cony
"Loüvo a comgem e lucidez
de suas idéias e a maneira
admirável com que as expóe."
Herberto Sales
Esta publicagão vem acompânhadâ de um D\.'D,
qúe ráo Dode ser vêrdido sepâÍadamente.
Idéia versus Realidade
Aula 14
por Olavo de Carvalho
coleçáo
História
Essencial da
Filosofia
Idéia ,eNes Realidade
por Olavo de Catrauro
coleçáo História Esenciat da Filosoiia
^companha 
esla públicaçáo un DVD,
que náo pode servendido separadamenle.
Impresso no Brasil. setembrc dc 2005
Coptright O 2005 by Olâvo de CaNâlhô
Foto Olavo de CNdho
Ediror
Edson Manoel de oliveira lllho
Monlque Schcnkds c Dagmar Rizzolo
Dagui Desigr
Tc.ezâ Maria Lourenço Perein
Os direilos autorais dessa edição pearencem à
É Realizaçôes Editora. Llvraria e Distribuidora Ltda.
CEP:04010-970 Sao Paulo SP
Telelu: (11) s572 5363
F-,'ail' e@ eEal.zacoe -om br
\I/w.erealizacoes.com.br
nesêNídds todls!sdiritos desla obra Preibldatodae qualquer reprcduçâo deía edição
por quâlquer meio ou lorma sejâ elà eletrônica or mecânica. fotocópiâ. grârâ9áo oú qúalquer
Idéia versus Realidade
Aula 14
por Olavo de Carualho
coleção
História
Essencial da
Filosofia
.rÜ
2005
Coleçáo Históriâ Essencial da Filosolia
Idéia uers s Realidade - Aula 14
por Olavo de Carvalho
Eu tinh.r prometido explicar um pouco melhor sobrc Santo
Àgoslinho. Hâvia falado apenas do cogilo. comparado coff o úogÍo
cârtesiâno. A principal dilerença enirc o cogil., cartesiano e o âgosii
niâno é que. no cârtesiano, quando o ez/ consciente chegê a constatar
sLrâ própriâ €xistôncia. ater a intuiçáo patenie. inegável de sua própria
c\istôncia - ao menos nír momento em qrle está pensando precisamen-
tc isto , ele descobre quc desta certeza nâo erdste ponte para nenhulnâ
outrâ referentc ao rnundo exterior Ou seja: da existência do eu nâo se
podc sequer deduzir â existência de uln cosmos, quanto mais o edilício
inleiro das ciências. E ó a isso que Descârtes pretendia ter chegado no
Tcndo chegado a este ponto. tendo entrado ncÍa iaula do ego cons
ciente, que iem rcncza absoluta de si mas nào pode chegar ao conhe-
cimento dc nada mais, Desúrtes náo vé oütra saida senáo apclar à 1é.
quc é o que ele havia abandonado logo no comcÇo. Havia prometido
a si mesmo nada aceitar qüc náo l'osse demonstrável e, quando chega
llcsse ponio, para fazer a ponte entre o ego e o mundo exterior, apcla à
crcnça bíblica de qlre Deus é bom e de que, tendo criado o mundo em
voltê de si, Ele náo ialazer isso com o propósito mâlicioso de engâná lo.
Por conta da credibilidade de Deus. é aceito o ffundo extcrior c cntáo
sc reconstrói, partindo desses elementos mcio racionais. meio de 1é, o
cdilício das ciências.
Em Agostinho náo é assim. Nele, a certeza que o cogÍo tem d€
si mesno. em prineir) lugaÍ, náo é uma ccrtcza completa, cono em
l)escartes. PêÍa Descârics, a "coí:ito erg,o ston" é o p ncipio de todas
as roisas, a pra ccr1.7a iniciàl c au(o suricicnlc Mas Agostjnho obser
',,.Ê. r'. lr.,.i1u..\,r,..,..rq. ir rr,!I'r'i,r' q..\i
ou scjt'. conheço â minhâ ()iistanciâ, mas não a rninha consistôncia
oir essência. c rnuito nrenos conhcqo o porquê dcsta exiÍênci.r". Quer
dizcr: cu sci írllr so'1. mâs nrio sci í) ./!, soLr c rnuito nrcnos o porqrli
solr Nío olrstante, csla ccúcza dc !rLc cLL sciqr/ sou c dc qLLc nâo sci
a que sor n(.nt o potquê solr tr7 quc cssc cgo ulrosliniano tcnha unlâ
'.rnlL. i, tr1'bl' n. ,r,-, 1,r., . t.rrr.t,xr.,r..1,r r',...ts',.'r ..ro ',
crrrega lnr sl Lrln lorte clemcnto dc Dristaifio. quc ó üm conlponcntc
intctno Cotrro essc cgo sabc que a. mas nro srLbc o qlrc a rrelll o porquê
ó, clc tânrbónr sabc quc clc mL\rno não ó lun.lârrelto.le si próprio.
poi§ sc dcscobre conro cristcntc, a partir dc rrrr ccto nnnncnto. scm
tcr tido â rrenor idéia dc oncle veio. I,lni Lo clc sabc qlre nào é autLrr ou
ca'rsâ dc si nrcsmo
Nessa eslmlura do ego. t.Ll como o vê 
^gostmllo, 
cristc uln choquc
cntrc Lrrnâ paúe qrre é auio evidenic e oulra paúc que é tLrtâlmentc
nistcriosa c qnc rcqucr â prcscnL_â de Lrrnâ causa dcscr)nhecidr lUas
cstr causâ dcscofhccida não ó inicr|a. pois o mistório da câusa do ca
làz paÍc dc sua fr(a)priâ eslrulurâr onLle qucr quc um scr humanL, des
oubra qLrc cxistc, quc tomc consciôncia.lc.luc exisie, ele. na rnesnra
hora, tL,mâ consciênciâ do scu cârátcr problcmático c dc ccdo modo
incolrpleto üe sabe que aquilo que sabe ntLo é o todo do que cle ó.
Carrcga dcntm dc sio mistório dc suâ calrsa, rnas esse nristério é uni
componcnte seu. náo é uma coisa cxtcrna.
Isto significâ quc â ]rislâ paru l)eLrs, ern Agostinho. nâ1, é um snn
plcs âpelo â uln elcnrento c\tcrno. A corcxão cnirc o rTr e I)eus não
é exlerna e necânic.L, dc ltcnó Dcscartcs. Aitosiinho
chcgará a esse Deus mais ou lnenos por âquela viâ que. no sóculo XX,
será resumida por Paul Clâudcl. quc diz: "Dcns ó âqt]€le q0e err rnirn é
nrnis eü clo que eu mesmL'. ou seja. é minha vcrdadcira corsistôncia c
ir rrlilrha vcrdadcira naiurczê, Â minha vcrdadcirâ origenr. quc subsisle
(lcrtio (ic rnlnr. pcrmanccc dcntro dc mim conro trm mistérlo'
l)css. cilo r\gosljnho vâi tirar ainda urnas outras coisas llle pcrccbc
{tuc. .omo un1 conponctrtc dcsse nrcsrno cgo conscicnte. e\istc o c{rnhe
ii ncntodcccrtasidéiasele.nas,connr.porerernplô.oprincipiod.idcn-
li(LLdc ou os princílios da aritrnética ele rentar c da geoneiria. Sabc-se
tLrc ma iglral rurncqueurn lnâls umóigualtldois, ctanlbélnse
srbc que êssâs idói.rs sáo indcPcodcnlcs cla crisrôncia ienrPo.al Elâs
\rio.lc ccrto mo.lo c(ernas c Lncondicionadas. ou §eja, rrânsccndenr
rliritâmcnte o rr)do dc cxislência do próprio.?,
o .r/ conscicntc sabe que é rclnporal, sabe qlre ó rlx)rtâI. s.rbc quc
L.ri uinâ tbrmâ.lc exisiôncia contingenle c, âo mcsnlo lcr.po, carrcgâ
( .rrt11) dc si lláo $rnclrtc o n1is(érir) dc suâ orige , Inas tâlrbóm es§es
(,)rhccinrenlos quc. náo estand(, condiciLrnados à loflna dc exislência
r,,'t*, , o, prut riu.Ê, 'n o,J'rr rr urrgrrr n' ''írr( rr. rrr'..riu
tk suâ origcnl. O honrcrn sabe coisas quc clc, por si. conro scr tcnpo
rf l. nao Doderia sabcr, e ao nlesrro tcmpo sabe que o qrc clc sabe de sl
,rcsB) csiá condicionâ.lo à sua cxisiência e pírica tcnrporal De ondc
,1. iirou cssas idéias ctcrnâs? Só podc scr da p.Lrie .lesco|hecida. e
( ssa parie desconhccidâ tanbéIn não ó tdalnlen le .lcsconhcci.tâ, por
,t1 ( olgo de Etcrnidâde se conhccc.
t\lü1a: Vacê potle àat al\uns ercnpLos dessas coisas que nio le
iil,t t:t)tno set rcnlrccítlas dpenas pL'r sutts eúslências tetnpotctis?)
'li)dos os princípios da kigica. o princíptu dc identiclâde, o principio de
rirfrontradiçao, o principio lio lercciro cxcluso. Comô ó que se consegrc
, ,nrprrender a aritmédca elemcntar? Se rio se soubcr que um nÚmcro ó
( lL rrcsrlro. ou que urna coisa é elâ nresrÍ4, não sc conscgue lâzcr ncnhum
ri ri(,(lnio adlÍrérico, ncm o pri leiro, ncnl o nais elemcniar deles.
l{lr1no: E isso nao tefi coma set cotl.lprcetdido na própría eaísíên-
Náo, poÍque náo se encontrârá nada na existência temporal que
permaneça cxatamenie como é. Tudo na cxistênciâtemporal é uma
mistura de ser e de nâo-scr. O que é a iransibrmaçâo tcnrporal? Sáo
ooisas que náo exisiian e quc pâssâm a existir, e outras que cxistiâm
e passarn a inexisiir E tudo o que vocô vô e toÍno, âbsolutamente
tudo, é âssinr: você nâo encontra unra coisa que tenha entrado na eris
tência no primeiro dià e que continuc lá imuiavelDrente â mesma. IÍo
significa quc, na esleÍa ternporal, você só teff experiência de dados
tcmporâis; no entânto. náo conseguida nem apreendcr os primeiros
elerncntos de aritnéiica se nâo tivcsse â idéiâ da identidade. Dc onde
Alrna: Não podctfu netn percel)et que as caisas nurlatn, pois nào
seria passíLel percebet que eLas sãa as mesna'l
Não seriâ sequer possivel perceber que âs coisas mudam. Você es
tâ a dcntro do processo cono um animal. senr ter este rccuo tipica-
ment€ humano. Por exemplo, L, fêto de o homcm p€nsaÍ sobr.e a moÍe:
muilos anos ântes ele já cstá pensando nela, porquc já sabe o que vai
acontcccr Isto, sem um recuo em rclâção ao lluxo iempora], você não
consegueria Íàzcr. Vileria dentro do fluxo, mas não o perceberiâ como
lal parâ percebê-lo, ó preciso que. de certo modo. você o deienha,
coloque-se Íora dele hipoteticament€, imâginariamentc. Por que é que
você conseguc fâzer isto? É porque tem algunra idéia de que existem
verdades independentcs de tempo.
ÍAlüt1o: A ptóptia cofisciêt1cia também é alga assifi, ào é? Você
lej cofisciêficia de si mesnlo, taübéfi aclto que üem de outrc...l
E
Você nao poderia ier consciência de si mesmo no sentido humâno,
cvidentcmente, seÍn isto. Signiiica quc ele percebe que o princípio
de identidâde é um dos fundancntos do próprio cogilo. coisa que
Descâ es nem de longe perccbe.
lAlunor }Íds er? ouÍÍos allimttis ttt lbéfi se díz que eLes aprcen
àe o üincípio íle idel1Ííàãàe. Pot erempb. tenha um cachotÍo q e
me rccanlrcce toda aez que eu aoLto paru casa. Issa é parque eLe sabe
que eu sou o mesmo qüe eru quando sai.1
Pois é. mas reclrnheccr a identjdade dos obietos é uma coisai reco_
nhcccr â pennanôncia do principio é ouira conlpleiamente dilcrente.
Vcja, a apresentaçào dos lenômcnos sob o aspccto "do mesmo" ou 'do
outro". pâla un animâ|, isso é pura coniingência Se a coisa se apre_
sentou coln o mesmo aspecto ou com outro, isio faz parte do processo
do mesno modo. Você peÍcebcr que por trás de todo o iluxo temporal
cxisle um ncgócio chamado ideniidade, isso é Lrutrâ coisa conpletâ-
[\ unn 114 cu rt quP ?^t'tcn oteu'na\ p'\quro' .om tntaai\
úais intelíEefiÍes, que conseguem perceber coficeiíos mais abstntas,
como as t1únercs (nãa em ganàes q a litiddes. fias até sete até
oito, pat aí), que lotfiam.. )
Náo. Perceber númcro tânlbéln faz parte do flrxo, porque o númcro
a o próprio iluxo, a contâgem é o próprio [lüxo. O que ele não vai con
scguir é Iazer conta, pois nâ bâse do cálculo está um ncgócio chamado
identidade lbda conta qlre você faz tem um resultado que se chama
''igual': esta quântidâde aqú1 é a mesma que aquclai €nbora náo pâreçâ.
Islo é impossível de Lrm animal percebcr
lAl|lno Entlia o animaL páru na cotltage l. e o set hunano ztai
aLéfi?)
Elc pára na constâlâçAo empÍrica de idcntidadcs, scrn perceber qlre
eriste a própria idcntidad€ conro unr clemento estrutlrrânte dcssc con-
junio. Isto signilica qlre conscguimos ncgar o fluxo temporal, conse
guimos sâber que ele nao é lu.lo. E como ó quc sabcrros que seffpre
soubernos disso? UÍr indício é o seguintc: jan1âis se encontrará uma
civilizaçáo. por mais primitiva quc scja. por ffais bárbaÍa, por mâjs
ignorantc que seja, que rlao tenhâ un1 úto qualqucr dc scpuliâmento
dos moÍos lsto indica clara renie a idéia de uD1â permanênciâ por
Provavelmente. a percepçAo conscienle da idcntidâde é a bâse dâ
própria existôncia h]rnrâna. Já explicânos sobre aquelas culturas dc
lipo cosnológico como ltnômcnos que enreÍgialn da busca de permâ,
nôncia por tÍás do Íluxo. O que nos 1ã2, por excmplo. obscrvar uff ciclo
lunar intciro? Nâo ó â idéia de percebermos portrás do fluxo uma rcpc-
iição e de podermos usá-lo conscientelnel1te? Nole que o homcln nâo
1àz isso corno os animais. O âninal. quan.lo tcm uff coflpoÍamenlo
cÍclico, clc simplesmente eíá denlro do ciclo. âconpanha o ciclo dâ
nâtureza lielmentc... Elc pode aconpanhá lo ou nao. O honem é o
contrárilr. em vez de acompanhá-lo, pretende vencê Io, criando situa
çõcs cstávcis no meio de LlL clima instável, por exemplo. Na mcdicla
em que procum colocâr sobre o nreio nailrral uma orden abstrata
que nAo esiá na própria naturcza emborâ possa ter sido jnspirada
até ncla mcsma -. ele está se cLrlocando lbrâ e acirna dcssc ciclo. c
islo iudo já pressupóc o conceito de identid.tde, de Eternidade, de
ÍNnrc lnclusiae institui ciclos exlrus (.. ))
l0
Claro, você cria ciclos proposit.ris, ciclos ritualislicos, ciclos cívi
d)s. rolinas de trabalho, etc. qüe não aconlpânh m de malreira algurra
., ,,tJ.r ',"rurá'. I úlro . q. . ro.r . ur\eeilc'r/.r ruuu i'ro.' L for'lu(
tcnr a idéia cle un exlrâien1porâ], do slrpratenrporal. A idéia de ciclo o
hirho la bé1n ie Ele acomp.Lnha o ciclo o que elc náo pode {azer ó
sair lorâ. c muito m€nos criar o scu próprio.
Ísro significa qlre. no nível puranentc empÍ ico. no ní\'el cte pcrcep
Çao cnpirica, você vai acabar não âchando dilêrenÇâ cntre homenr e
rnimal. Vai perccber é no quadro li prrolr, colno diria o Kanr. deniro do
(tual sc dá a e)iperiência hunâna Já no nivel empírico. âcabará achan
(k) que o homen1 é idôntico ao aninral. Hoje enl diâ. por causâ disso, as
pcÍluisâs a esse rcspejio se confündem bârbaramcnte' Eles não sâbem
frais a diÍerença entre hon1eln c animali pois, na medida em quc náo
ü)nscguen dcfini la cle acordo com os crilérios de uma dada ciênciâ
cmpírica, cm vez de dizercm que csta é limitada dizcm qÜe â diíerença
que a ciência náo conscgue pegar náo existe.
N,las iocla a estrutura da ciôncia empírica, nâ medlda em quc esteja
bàscada num pressuposto empirisiâ, é ideológicâ, é purânrente ideo_
l(rgicai E consisic exatamcnte nâ ideologia do mótodo: invenla-se o
I,(rôJn i .rgora el< lc rr Drio' JadE 'uhrc u' l(nnnrnu'' Uu \e a' \ uLê
não cstá abcrto à variedttde dos lenômenos, só âceita âquel€s qlre já
cstào no método que vocô mesmo inventou É isio chega â ial ponto
qlre a sinples possibiLidâde dc perceber a e{istência dos ienômenos
para alé você acaba abolindo.
As pessoas acreditam piamentc, por êxemplo. que é possível afir_
mar a quase humanidade dos chimpânzés peio fato de que, genciica
nrcnte. eles são isso ou aqüilo. lsto signiiica que â genética só consegue
tl
txrrchcr ata aí. ltá outras djferenças que sâo patentes, que esião nos
olhos clâ câru, porént não poderianr ser aprcendidas por mcios genéti_
cos - e rcquercriâm até mesmo um estudo, p/ioll dessas estruiuras.
Mas esião tora dâ gcnética; enião. para o geneticista, elas náo existem.
E claro quc esse ó um râciocÍnio muito primário. muito bobo. muilopueril, mas rão podemos esquecer quc qualq(er pessoa pode obier
um diploma de geneiicisia coniinuando puerjt. imbecjl. eue sejam to-talmente selvagens_ isso é perl.citânrenlc pr)ssí,e1, pois ó unl emprcgo
técnico, no fift das contas. A própria estruturu de cnsiro universjtário
se incumbe d€ simplilicá lo pârâ que o jndivíduo possa rapidam€rtc
aimvessar as ctapâs inrermediárias e, cntão, cxercer um trabaiho réc_
nico..Clêro que isso é barbárie, claro que é o reino .la cslupidcz, mâs é
a rcaiidadc na qual vivemos.
[Alfio: E ísso coneça bem no Descartes mestta, poryue. sabrc
essa questão da esÍruiura do et1, ele padetia tü cameqado a percebet
o 
_mest11o 
que Agostinha petcebeu. Mas, a haru de dizer o (tue é a cn,
' 
I:,utfl.Dta pntpd\antru h t.tna tot^tl pt.pta o co,\a t)pn.o,.1p. alala. Ah p ;\ -n ' . e nno te, a .ob?t o q,c e oqtrctt iot\a . I
Dcsca(es separa a icléia que tem do eu da cxp€riéncia real. Abole
a expe ênciâ rcal e fica sonrente coln a idéia
o eu se deu. Então. a pariir do momento e 
com a autodcfiniçáo quc
.rcrinc o e como,,coisa p"""",,,", 
",.r,,i1'.11,".;ffij:."',:j::lensê". Ou scja, exisienrcoisas mâteriais cuia principal caracieristicâ
é mcdir âlgunta coisa. e há uma outrâ coisa quc.não medc nâda e cujáprircipal carâctcrísticâ é dizer para si mesma: .,Eu exisio,,. Ilescarr.spirie crrão Darç â JuJliJroc dá.ubrt"n.rá .tU(. rjgo,cr r pr ncnr (r-bc." e\:dínlcmente \,n,iiopnrqurII" .cô,\. r\rên\a nitolu\!à
dizer para si: ,,Eu existo',. Aliás, eu acho mcsmo que sou uma,.coisa
cxiensa ' que diz para si: 'Eu cxisto" Pela própriâ heterogeneidade: as
opcraçôes de ocupar um lugar no espaço e de falar consigo nesmo sào
táo diferenlcs que náo vejLr por que del'eriâ supor duas substânoiês
I)or que a mesna substância náo pode fazer as duas operaçóes? Elâ
ocupa um lugar no espaço e làla consigo mesmal Por que náo? Aliás'
todo mündo está Íazendo isto dcsde que existe.
O lato é que, com Descanes. sllÍge o chamado "subjetivismo nro_
dcrno". O que é o subjetivismo modcrnol É a idéia de quc o eu, ten-
do o conhccimento de si mesmo, chegâ por si só ao conhecimento
dos princípios universais. pode deduzir todo o cditício das ciênclas
c âlcançdr um conhecimcnto perfeitâmente universal por pura dedu_
çào. Isso, cvidentemcntc. é uma idéia louca, pois se Descartes viu qlre
náo tem clentrc dc si meios parâ chegar â alirmar sequer a existência
.lo mundo exterior pârtindo da existência do eL, âi já está negâda
â possibilidade de um conhecimento universalmente válido por purâ
dcduçáo. Ou vai ter que apelar ao conhccimento por exPeÍiência, que
ó extcrno ao er, ou, náo querendo lazer isso. vai ter qúe apelâr à fé
rcligiosa, como ele fez. os pedaços do nundo do Descartes sao, entáo'
pedaços inconexos colados uns aos outros mediânie truques lógicos
perfcitamente bobos.
O subietivisno modcrno. por sua vez. não conseguindo se sustcrr
tar, será substituído - a patir do século XIX, sobrctudo' mas no XX
lânrbém - por uma série de lilosofias que negam a exisiência do e e â
da consciência. É uma espécie de tcoriê da compensaçáor fDi leito um
tamanho absurdo pâra unl lado que, mais diâ menos dia. é laÍal que
rlguém invente um outro absurdo para o outro lado Se vocÔ se afastâ
.lâ complexidade da expcriência concreta e, abstrâtivamcntc. alirma
LLmâ verdadc para cá, urn outro vai âlirnar, tambén abstrâtivamcnte'
r verdade pâra 1á. Isso é quase ia1al. E csse rnesmo lenômeno sugerlÍá
r Hcgel a idéia de qlle cste é o processo normal do EspÍrito: alirmar
l:l
, L , , Ll( i!,js rtjlrlar a roisir conrráriâ para lâ. Mas nenr,, I,, L , ..r,, tsr() tnxlc scr o proccsír nonnal d:l intctigôrciâ que
,,,, r,r),, irJ)slr!tilando. mas. no processo da crpcr;tncia concreta. cla( irli, orrc ntro ó issinl.
{goslirho rcndo pcrccbjcto es\a qucsrão dâs jdóits crcrnas, altirna
.1 ,. .'i.,. .rn r.c,i.'uc ori.du .1r l\......\ \.Lonlr.cc essas idójas ctcrnas n:io |or a .rpcnêncjâ concrcta, m4s por
cstâ pâ'.lc Dristcriosa quc thc crjt, c the flrf.hmenlâ, c que já the.tiL
unras dicas a rcspcilo cta ttcrni.lârJe. tsro signiíicâ qu.. scgundo Sântí)\,L,,ti ,,rô I 'r,têt:e, n..ir ,r.,,,,Ij ,.,. tUn,.
rrinâçáo .riyina. rllcsmo cn seu i 
- --- -rona scnr rrna esDecrrl ilu-
co.curs., d,vino Daqui â pouco 
'".crno§ 
]:lil:Hl r:H:::,:-,,,ar,.ui.,.,,J.u,,j,.," Iôj. f,,,. , . ,,"de toda a discussilo cont.rrporânea inchrsivc potitica, gcopolíicâ. cl.l\4,i. a ,t. " r,.utr.,,,.,. ,.,,o.r",..r \f...,,,,.. ;..- 
" r",;; ,''/endo que a gcrltc chegâ a cssâs cojsas.:rs idóias onjvcrsais. nro poriluminâçãodÀrr .nrâs]rorurnprocessochama.loatrsrraqão. 
AclloqucisÍr náo é uIna objeçao. Ltc mancira atgumâ Não é â:rbstrâç.to que plÍ)
du7 csse conhcc;menrr)i cla a àpcnâs o Trmdrl
ca, a tund çá(, de p{rssíbrlr.r".b,r" p,,,p..,;;f,:l:li:, :;;1;rrr*t
a iâl da ilurninaçtu,.livina quc esiá no inndo.ta pr(rpiiâ râ,ao naiurât.
Tcndo ahrnado a existôncia do con|ecinrcnnr das i.léiâs cternas.r il0rrinaçiio divina c, porra to, o conhccjmenrr) crn lleus, Agosrinho
ó natunlnrerie incljnaclo. ncstc po lo, a rerroailir sobre atgrma cojsaque elc Jravia liclo nâ Bíbtia. Int,ro.lizi ..Se â Fitosoíiâ üe levor aió
- ',n,,...,j,t\,,,,,,,. j;r,1., c.1.,1 ..,rj,,o q.
n,or r \, p. '. b,, ,tüu .:r (-" o, n, u JL ,, ir i. .r ..., ,. .r, rri, t,.
conslituiçào c, po(a n) (lue Deus estil prcsenic, crr mim coll]o nrcü hidarncrto naquclc rrrcsnro nrcrncnto enr quc cstoü tatan.to .onrjgo cnláo. nornral qlrc esl.r prcsença rlivina esteja tambón crn iu.lo aquilo qLrc
l
(ii,rhcço Se nrcu oofheci'rcnto cle nim mcsmo é irconrplcio, porque
rr prrlc dcsconhecldâ cstá a prescnça do Íundarn§nto ocLrlto. ê mesma
.i)is.r dcvc acon{êccr corn ludo aquilo que colrhcço. pois nadâ ó cdrrd
\r// cntao, em tudo esiá prcscntc. está insinuâdâ. r marca da causÂ
.l(!rra quc trln.l nrerrta o tcmporÍrl
li Ailostinhr ) .lirá quc, se de âcorclo oonr .L Bíblia DCLIS é ao rrrcsrno
Lcrnpo uno e trino. se lcr. ünra trnidade de srbstância. rrrâs com 1rês
Lr,,dali.ladcs ou pessr»s dncrsas. a ücsma Trindr.le sc rcconhecerá
( r {o,:los os obielos, cnl todos os scrcs. Pois lodo scr sc constirri clc
ircs clcorenlr)s.:listintos t ltseparávcis. Prlmeiro. tudo que ó, ó alguma
L,,isa, ou seiâ. tcn1 erislirria: porén], alóm dc i€r e\islênciâ. cle Lern
Irra consistência, tclü uma írssi/r.la. Scgundo. sc a cxistêrci.r rcflc-
L. o podcr divino, ou a ofiü)ianciâ divnra, quc o chanra do nada àr
, \islajci, o làto de €le tcr uma cssência ou con§islência lmstrâ â
Ircscirça dâ iÍkligÉlrúid dirrnd. que conhcce de anicmão âs essências
(los scrcs e cria lllnmcriiveis lirrmâs pcúeilanlenic difcrcnci.Lclas c intcr'
re rrion.L.lls Em tcrcelro lugâr, tudo.Lquilo quc c\iste é rrm berr. de
.1,r,rr."lo,.,,h.,r,rn..':r pr.ri.rr,n., r,\u. rr,'r.\i'r.n.i,
. n cssanci.L; ou seiâ. a cxisiência ó dcvi.lt\ i atlipatêncía ditína, qllc
cr)nhccendo as cssôncias dos scrcs. quis sua e\istônciâ por ser um bcln
li,nro! aí a eÍiiiir.i.r. a cssêtLia e a betn, ot valor. reflelindo â oni
lrolancia divina: Deus Pai. a inleligência clivinar DeLrs Filho. o l,ogosi
. r) Espíri1o S;Ln1í). ou o amor enirc os dois. l5sência c e:iislênciâ tônr
. rlrc si. cnlrú, urra relaçio dc Alnor, que é erarârncntc tL do Pâi pclo
I L , 'r r,., unituti , rr t.l: ,,'l( ;-,,rr Jr' r'.
Noic quc. em ncnhuln mo.renio, Agostinho lc!c quc sair da aná-
isc dâ cstiulurâ do ?r1 parâ lazcr isso l'lle aprovciiou urn dado da
l lsrillura. rnas náo o.Lpro!ciiou parâ collr pcdâços da estrulura do c .
( silll pârâ cnriquecô-14, pois .L esl.L]iura do e./ jii esiâva clcmonslradâ
rrlcs disto. Não ó corüo Descadcs. qrtc, nro conscilLLirxlo conrplctar
a estrrtura do eu, tem qüe puxar um elemcnto de Ié que náo estava
dado. que estava totâlmente lora da conversa aié esse n1omel1to.
Tendo chegado ató esse ponto, AgoÍinho percebc que, se a i.orma
de exislência dessa consciência, desse er, ó temporâI, é necessário in-
vestigar o problema do tempo. El. percebe. entáo, que náo ó concebivel
nenhuDra iorma de concepçâo do tempo senâo por referéncia à almê
que o perccbe. O tenpo é múltiplo c perccbido de maneirâs distintas
por seres distinlos, cm situações distinrâs porianto, iem algo inirin-
secamentc a ver com a ahna. Dito de outro modo: não é simplesmente
que a alma existe no tcmpo; o iempo é a esruturê dc existônciâ da
própria alma, considerada náo enquanto razão etcrna, não enquânto
lorma eierna de possibilidâdc, nlas enquanto ser existcnte. Ela se exis
tencia. entrâ no tcmpo, náo comlr uma coisa puranente externa. mas
cono algo cuja própia estrurura ale cxistência é o tempo. Tempo é a
estrutura de existência da própria allna. Mas, se é âssim. entáo existe
umâ cspécic de dcscompasso entre a essência e a existência. pois entre
um e oulro há as chamadas ,,idóias eternas'..
As idéias eternas são, plalonicamente lalândo (Agostinho se repor
ia a Platáo nesse ponto), as concepções das várias possibilidâdes de scr
inerentes a todas ês criâturas possíveist e as espécics de scres. tal como
as conhecemos, sào sinplcsnente a entrada dessas possibilidades no
mundo da existênciâ tcmporal. Isto signilica que, segundír Agostinho,
no instanie em que Deus cria a idéia de uma espécie, Ele nâoprecisa
criarâ cspécic junto com cla. Dada ê criêção clo mundo. todas as possi-
bilidades de espécie já cstâvanl dâdas naquele monenro, mas etâs não
prccisam ter aparccido todâs ao mesnlo rcmpo Agostinho usa até o
tcrmo hislórico das ,,razõcs seminais,'. É â razão, o logos, a tórrnula clo
ser: é como se fosse a senente do ser pode se ter primeiro â semente e
depois a manifestação d€ssâ espécie temporalmente. lsto é, ete admite
um surginento progressivo das espécjes, co o, aliás, está na própria
lnl)liâ: as espécics náo surgem todâs ao mesmo tempo
lAlrno: So Li]1 tt)tlto: existem alquns madelos eÜalucianistas que
ttibolham (. ) r\\! línha ta bém.l
'l'cve gcnte que viu nessa idóia de Agostinho ulna antecipâção da
lroriâ cvolucionista. Mas é evidenie que náo prccisamos cndossar a
le()ria cvolucionista nos termos darwinianos. Àlém dc existiÍ uma
rr(nrlanha de leoriâs evolucionislas totalmente dilêrentes, essa é
lrirâ qucstaro bastante controversa da qual ludo que se sabe aié hojc
. rigorosamentc nada. Para lnim, o debaie evohrcionismo ze'§lls an_
licvolucionismo deu enpate até agora.
Alüna: O que eu conheço que é púxina a ele cansidera que exis
lcn ceúas lotuús gue stto eslá1.eís e outras tttte não. ELes àão ufia
it\age l disso coma se hauúesse utno planíciP tom dhe^as fia ta-
tthLls. . Efllão se tefi os Ltales de ttansiçao ente ton(t e outfa e...)
Mas isso é só uma das milhares, das milhôes d€ possibilidadcs cof
ccbívcis.
lAll!1o: Ahipótese tlesses eüohlcionistas é que, no cafieça1 ape as
alluns desses espaqas estâa prce chidas; com o íefitpo. ocorte uma
pcquetú lrunsiçào pelo rale inteünediiitio ati alcatrcat ufi panto
t stáúe!.. e assitfi tai.)
É possível. mas você percebe que isto seria un1a das inúneras ver_
socs que esta teoria dc Agostinho pocleÍiâ assumir E precisaver se es
sâs versôcs, por sua vez, divergindo entrc si, aindâ podem ser testâdas
no conlilrnto con os latos. Náo icmos, até hoie, â nrenor condição dc
tcstar. Essc debâie, até hoje ninguém sâbc que rorreu: eu gâranlo
quc loicle, ele garante que fui eu. Qucm quer que digâ que tem uma
t7
conclusáo sobrc isso es1á menitu.Jo, pois. quando apâreccm cjnqüenta
ary!mcntos a ia\,Í4 aparecem cinqiicnta arglrmenios conh.à. cle iguat
peso. E.tlrc a cv0luçâo sc rornou um ncgócjo i.leoti)glco, é unrâ cspócic
de pscrido rcligiáo, cntão a preciso nranler aqu,lo. por ouiro la.:to. os
camaradas quc são contra â cvoJUcao insistcrr nâo na jdéia .le quc não
houve cvoluçâo. clc que não ho0rc ncnhunrâ h.anstorn)acáo. mas d.
:l ., " , D.au,nr., r,u " t,". -, ".,:Ccb.rc.,n.,\"r,.J,. rr\.n,-J. ,, , " .,"" ",., ",.,.,;,--cnntismo Há o evotucil,njsrrro c.LsLrat, Ji,rnra.lo por ! ál8 lrrrg _ dc
repenre aconlcccu. iudo sc misturou e acêb()u resu[an.lo em nós c
há â lesc da evohrçro com propósjto
Tudo isto. pala nrinr. ó ntuilo engraÇado Acho quc essa ó unrà .liç,,,..i,,r,ni,.re,r..r. Ir,, .ui.o L , u.^,.a-.u . n tar,4a\.oncq)tL,at\ n .,,elrrsl.os (Inerafisicânrente. não se vii chegar â saber o que .le Íãro
,. o. ic. .u. tc n-.- ..rr..r.,. u .t,,rJ u J( tu,,rbi,rJ. d, . L :,r fô .rhiJ:Jil,re< qr. In,ior,r u J, t,.rr , | ( D,..,r,1 .lkJ.,r , r,EL, na,1, .r1,5.,o.o'lr, .ê t,, 
"),, t.,t \i, ,1 rju r(.I .,li.r,
ouira. lem rais cons€qiiê,.,,,,, ,," ,. u rj:::;"n:;'il",;,::'#:
p,rcos, é lãcil perceber que a coleta clc daclos nccessários para sc chc-gâr a unrà conctusao sobre â evoluçâo é intcrnlinável. Vanros slrpor
que, se você consegLrjsse pegar toda ê cvoluçâo clc uma .lercmrina.lir
cspócic (e nuncâ se conseguiu nenhurna, na vcrdade), conr todas as
crapas intenncdiárias, se conseguisse provâ. aqlrito para Lrma. não es,
laria provado paft as oLrrras
[AlLtntr ttas nàa pãruce
Ufiidos. eü guu isso é mdis
unl debate - pi cipahlletlte üos Estaílos
!1c?so tipa erolucíonisno vercos ctia-
Ijssa ó 1ânrbénr una maneira toialnrenie falsca.ta.lc colocara ques
t,
i,r,. pois aÍ já nâo sc rclcr. à cristôncia dâ elolução. ni.rs à evoluqaro
r orro prircipio explicativo da prÍjpria c{istônciâ dos ser€s !i!os Nâ
,Qlidadc, tudo isso a cI{)trrerrente frematuro. pois nào se sabe dirciio
rr r qual ó o lirnitc .lo scr vivo c o do nllo scr vivo \rerros enrpiiica
rr.rrlc unra dilerenç.r na expcriência comum c corrcntc, mâs nllo há
r.r)lrunra ciência habilitêda â lra(ar o limiie. lsto n:lo signilica quc o
I rrrit( náo erisiâ signilica .tuc ntio tcmos rncios dc saber onde ele estl,L
NlrLr se nao se sabe nem isio, nem ondc comcqâ. ncrn qLrais os linriies
(io obicio qre se esiá .llscutindo, corro é quc se vai sâbcr dc ondc clc
sriu,' Se não sc sâbe ncrn o., qli. como ó quc sc vai saber o po,qrl,?
O tato é qlre tL porcaria da educaçâo univcrsal mctc t(xlo ffll do
ra cscolâ desde pequeno, ensinê lodo nmndLr a discutir c todo rrundo
lcnr quc tcr opinião sobrc iudo, sobre o qüe sâbe e sobre o que não
srrl)c 1l a besieim obrigalória Você tcnl quc tomar panido: ou é â Iavor
rl clolLrção. olr conim ll se dilscr "l:u não sei". pensam quc vocô cstá
rncntindo. quc cstá cnrolando... Então lodo mundo é obrigado â tomar
t)rriido $bre coisas que desconhec€ completamcntc. Rcsnltado: o qu€
rüba acontcccndo é que â discLrss.lo inleira lica viciâda. c sc circga a
u ccrto ponto cnl quc não ó possivcl sequer se lentar colocar orde ,
pois a lorlusáo já está ianta qlre...
Voltando a Agoíinho: tendo chegado a esia lilLrsoiia do tcrnpo. clc
sc coloca. pcla primcira vcz nâ História, a idéia de unra irtelprelação
.l,,orl Jr crpt"irn.i.. lri,rurirlr nr ".nbna,.r:r I J .r.r.rr. u
|rrblcma do scrrido ou do rráo-seniido Agostinho é o pdneiro quc
roioca esse problema. e é o primcirc c único â olerecer u.ra soluçáL)
. i, rr 'i.'. rr <rr . \"liJr Vud ..;.rr dir run.raÍ ^ pnrqu.
^ 
única filosofia dâ Histririâ que é dign de respeiio é a de Santo
^gostinho. 
âs outras são todas idcológicâs. Elc a baseiâ no conheci
irerrto da estrutura clo tempo e percebe o seguintcr quc o icmpo do
âcontcccr histórico é unr teÍrpo Iineal que ele começâ e fão ternina
Nirglrén sâbc ondc isto vâi terurinar ninguén sabe a data do iérnino
da História. Ora, se náo se sabe a daia do iérnrino, não se sabe a forma
do fenômeno como um todo. pois, quando se pcnsa que Írcabou, pode-
se ter mais outro capitlrlo, e mais Lrutro. e nrais urn milhão de capíiulos
para adiantc. Se não sc sabe â lorma do fenônreno, cono ó que se vâi
p.dcr übLr^ q L ( re r c qur t\ .Lu ic ,ridô,
Agostinho percebe quc, se o acontccer históricô, o aconteccr col.Ti
vo, é lineêr ao mcsrno tcrDpo âs colclividârles §e compóem de individuos
corporalmentc distinto§, c cuja iemporâtidade não é .to mesmo tipo,
pois câda sujeiro nasce e rnorre. A História nao morre. ela coniinu.
Ela sc compoe nâo de um fluxo coniínuo. mas de tidas indjvj.luàis
descontfuuas. Uma biografia nao se prolonga na outra. A iornta de
coniinuidade histórica é enormemente ambígua: você pode conlinuar
o caminho do seu pai, ou pode tornar outro completamentc aliferente.
ou pode âté ignorá,lo por completo.
Isto significa que a continuidade histórjca é uma espécie cle ,,eleito
de superfícic". que você vé ao romar. juntas, uma mutiidão de vidas
hunrànas que sáo, na verdade, ctjsiinras e scpâradas. Náo que cssc €fci-
to de conjunio náo exisia: elc exisie, mas só existe numa determinada
cscalâ. Vista de uma ceria distância, parcce que uma vida continua
na outra, e âssim vai. parcce que os plocessos são contínuos. fi,ls na
verdade todos eles se dcram através cle elos humanos, cujas exisrências
nào Lrar riunl'r rra..nrr,Jir rr.rr. rpr.ala..
Ora, o indivíduo nasce c, quando nrorre, nada mais sc acrescenta à
sua vidâ: sua vida está complerzr. É cono no verso de Maltarmé sobre
Edgar Allan Poe)t "Tel qu e Lui mêne enli l,éLemité le chan|e,,
(a cternidade o transformaj finalnrentc. naquilo que ele eü). Enrâo,
se há na origen do indivíduo uma essência completa, ro fin da vida
se tem um.r vidâ cornpleta. Náo há mais nadê a acrescenrâr náo há
mâis nudançâ possívcl E isto equivatc precisamenie âo ]uizo Finat,
rstinrane NI\L.r-nN, .r-.ro»u,u d ragu, no.t rrEio nun,nrag,"
r )is. cnquântovocê cstá vivendo, tudo o que loi feito você podc tentar
frLr.lâr no diâ seguinte. Mas, e sc náo tcm dia segunlte? Entáo lechou'
lislc lcchamenio ó simbolizado, exatâmente, no caixão de delunto que
rcnr seis lâdos. Esses seis lados são o quê? Sáo os seis dias da criação'
lslr) significa que fcchou, que náo ten mais nada Entáo, inrcdiâtamen
rc, você passa cla escâla de tempo para a escala de EteÍnidade' pâra a
(\.r1. Jr ;muraoi.idadp Saiu do flur" do re r'"n c nro muJa ,lai' id c
vl\rô nà escalâ de EteÍniclâde E esse é precisanenie o seu iulgamcnio:
o que você fez. cstá feiio.
Santo Agostinho entende, en1âo. quc só é possívcl unâ conprc_
.nsáo da êstruiura dâ hlstóriâ humana levândo-se em conta esse cru
l Lrento dos dois tempos Elc diz: "Por üm lêdo, cxisie a história dos
nrpérios e das sociealades, que é um iio continuo que nâo se sabe onde
lcrnina: nras, por outro, há a história da vida humana' que vai de sua
r)r'igen até sua morie, até sua sâlvâçào oü sLra danâçAo"' lsto signiiicâ
quc, ncsta escalâ clâ vida individual, ela pode ier um scntido' Pode tcr
unr scntido por quê? Porque techou. Pode ier um sentido ou pode ter
llrn sentido absuralo tambún, e o absurdo então se reiniegrará num
scnlido maior Mâs temos a FIistória dos inpérios, e temos a história
(ll Salvaçâo Somcnte a história da Salvâçâo 1ãz scntido, pois só ela
r, rminl A oulra púde cunL ruar indP i-iddm<nt ' l'ro'i8ni[ira que
locê pode lalar l1um "sentido da Históriâ" se conseguir âdicular o
llu\o temporal com a história da Salvaçâo do co'irário, nâo
Dito de outro modor Agosiinho entende que tudo que tcn um sen
liclo. esse sentialo sempre vai paraaLém dâfortr: 'lÊ ê{istênciâ dâ coisa'
dâ coisa em si. Uma coisa é o ente enquanto tal' outra é o scu sentido
o scntido necessariamcnte está para alén dele, náo pode ser pura-
nr.nte imanenic. assim como, por cxemplo' náo se pode diuer que o
scniirlo de unl livÍo cstá ncle Está nele como umâ potência que esiavâ
atualizada na cabcça do autore que se atualizade novo em suacâbeqa'
?a
21
quando você o lô. Mas no livrr,, fisicânr€nle, não sc pode dizcr que o
senddo esieja. Está só metadc âli.
'lbmadâ a História conro cicto te'nporal dc conjunto, ainda que seja
um conjulto irtcrnrinável. nâo se sabc onde ete sc fccha, e. se tivcr un1
sentido, esle t€nl que esiar pârâ alélll do ternpo. Entâo, o senrido.lâ
História só pode estar na r,tternidâde. Ora, a históri.r quc desemboca
na Eternidadc ó somentc a história dâ vida mdividual como hislóriê
da Salvaçáo ou da dânàção. ao passo quc o flüxo temporat continuâ c
ninguém sâbe orlde clc \,âi dar Dib dc ourro mo.to: ÀgoÍinho entendc
quc, se exisic um sentido da llisiória, ele cstá na meta história. e nno
pode scr um sentido imanentc, pois todo sentj.lo é rccessariamcntc
Como isto é baseado nLrma estrutura ieal do teúrpr,. há um funda
mcnto científico. e âi se pode chegar a algunra coisâ. Câso se queim
encontrar um sentido da História no próprio plâno histórico irrjanentc.
crrtáo se cstá lazendo a q0adratura do circulo, c isso nào é possível.
Irá se rebatcr pâra o plano da renporalidêd€ lincar algo quc sc per
cebcu na escalâ da Etemidade c dâ história da Salvação, o que é uma
simples ilusão IraL se criar um sÍmbolo hisrórico um símboto tcÍnporêl
da SalvaEâo ou da danaçáo. entáo irá se criêr LrnÉ espécie dc apoca
lipsc icmporal. dc âpocalipse hiÍórico e. sc se realiza o apocalipse, a
História continLra existindo
É dâí quc viráo, muito nlais rarrlc, todas essas concepçôcs utópi
cas que projetaff o senildo da ÉIi§tória nu ra determinâda erapa a ser
atjngida no luturo, como se essa ciapa parassc o tluro do iempo e al-
cânçâssc a perleiç,ro o que é umâ idóia perlêitaffenie idiora E depois
da perleiçào. não vai âcontcce. n1âis nada? Vâj tcr o filn cta História
E depois clo Jim da Hisiótia? E ro da). aíter. c.)i1o é quc ó? projeta-sc
Lrmâ etapa de perleiçáo na quai a Históriâ âting€ um patamâr de per,
lciçáo 1â1 eln que náo há mais Ilistória.
,.
NÍârx usâ a exprcssâo -filn da }listória" Hegel usa'iim dâ
llistóriâ" .. Ful(llyama iâmbén1, se bem que o FuhuyamiL usa meto_
rinric.r ente. É um rnodo de dizer os outros âcreditâvam nlesmo
O l,uklLyanrâ já não cstá lazcndo LLmâ iilosoi'ia do fim da Hisiória'
(siá filosolandLr sobre a idéia do ftn dâ História tlvidcntenrcnte elc
Iio é lrouxa de acreditar qlre. por s€ ter alcançado un certo tipo de
.gIr z"r'ru e. ^nur rr. " du r"\ cl Lla 'c'r clt*' -. rreI cue 
Ôurr"' rÔir \
rro vâo continuâr rnoclificanclo-a e qu€ podern acabar com elâ do dia
t).ra a noite. E1c precisaria ser nluiio trLruxa' Fukuyama só 
quis dizer
quc. clo pLrnto cle visia de estruturâ cconónrica, chcgênos a umâ ccrta
soluçào qüc naro scrá supcrâda nun1 prâzo previsível' Mas, c o irnpre-
visivcl? E os outros laiores de orderr nào econôn1ica cono serão?
lsto signilica qüe. nâ verdade, todâs essâs iilosofias que vêcm L)
scntirlo da História nun1 capítulo da própria História esiáo luncionan
(lo nuis ou nenos como esses desenhos do Eschel cn1 que a nlão se
,l,i$rha a si rcsmai ó un1a coisâ irnaginávcl, mas náo realizável pois
rontmria â estrulu€ da reâlidade lnesma Nao sc pode lãzeÍ que o
scntido clc um cliscurso csteia lcchado no próprio discurso pois seria
trcciso que ele se falâsse a si mesmo c náo fosse ouvido 
por ningüóm'
Contrâ isso. iá no século lV Agostiiho tinha dâdlr â solução di
zcnclo: "Olha. só pode hâver ul1l sentido da Históriâ se refcrido à
l,t(r'niLladc. ou met.r história' Dai elc dirá que essas várias verticais
lilritas, que cortan o tcmpo todo o fluxo horizontal do tempo poden
s.r representadas como uma únicâ linha, tal como a história clâ lgreia'
rtuc é À histó a da Salvaç,Lo ou da danaçao E Agosrinho dirá: "Estâ
lristóriâ. que é ahistóriâ da ]grcja, pode laTer un1 sentido Aqui se pode
l l.Lr.lc lracâsso ou de sucesso. rnâs no outro caso não"' Acho, cntáo'
(tllc isio é imbalivcl. Nao iemlrs conlo cscapar disto, tanto qüe ninguém
escapotl. Toda tcniaiiva de enconlrâr um scniido da Históriâ esbana
cm obstáculos âbsolrtalnenic intrân»oníveis. e csse§ obstáclrlos s.to
dados por esse erro lógico fundamenial, quc é o dc rebater cono em
geonretria, cn que se projcia o espaço no plano. isio é, projetando-se
os dois eixos num eixo só.
Com isso fcchafios â explicaçáo sobre Sânto Agostinho. Já dá pârater unla jdéia gtobat de suâ tilosofia Ainclâ mais imporiênte do que
tudo isso é o fato de que Santo 
^gostinho 
começa sua tjlosofia Dor
uIr. (un.idera.aoiutobinr,ari.a. D^r unu r,Jrrat:\a üulubioLrdt;.a e
por um cxame dc si nresrno n,ro comLr uln cu abstraio, um eu filosótico.
r'.d5 Lnnu u r e,r b;úgratrcu. r(ai f Dúr qIc ele t-,, r!.. i pnrque. a,1re\
delc, houve três sécuios dc práticâ da conlissâo cristã Á confissáo oi§-
r; ibre. Dara a rnl.lig;n(:à hurnrna ulrrdimcn.áoouecrarnc\i\,(nte
para os irês tipos ânieriores: o filósoi.o grcgo. o proltta hebraico e o
saccrdote egipcio-babilônjco.
Essa dimensáo temporal de que você vai lazcndo sua vida conl.oÍ
mc suas escolhas, erra ou acerta, e coniinU
xaminando esse passado para se co,igir J[T::jii,H"'::i:J:
cntre os ludeus. mâs não na irdividual. Essa dimensAo quc Israel vi
via coletivamente, de repente as pcssoas percebem quc cadê indivídDo
e'lã d.IIo deld.. tdn,o oue qu.ndu o ti( t,.ri.rao le r Brblia, ond< c,r,
cscrito',Israel. ele é convidado a ier .,você rnesrno,.. Não é somênTê ô
po\o < o Dovo. ni\ trfloem e \u.e {quiloque!. ru.,,u"o,-.,orr,;
de Israel vâi se passar igualzinho con1 você, em sua escalâ biográiica.
Alé esse momento. os acontecimentos da vida individual emm ti-
dos..de maneirâ mais ou menos implícita, como i[elevantes, pl]js o
que interessava eram só as verdades eternas. De lepente. com o âd-
vento do cistiaüismo, descobÍe-se que cssa sucessão de rnisériês, de
sofiimentos e humilhâções, que é esta porcâ virlâ, é chêvc e âcesso
pâra a Erernidade. Nà escata cotetivo+istórica, os judeus já sabiam
isso, pois a ioda hora eram obdgados a reconhecer seus eros _ contá-
los. reconhecêJos e tàzer o câminho de voliê. toran milêniosdesta
.\pcriência, e, de repente, con1 o advcnto do cdstianismo, estâ dimen
siro se condensa na escalâ dê alma individual.
Iío signjfica que Agostinho representa, pcla prineira vez, a con-
(lrnsâçào simultâneâ dos três tipos anteriores: os sâcerdoics egípcio
l)ahilônicos, com o conhecimento dâ naturcza; os profetas hebraicos:
r,nn snâ consciência histórica; e o lilósolb; com suâ consciência do
;rccsso quc a alma individual tinha às leis etemas Tudo isso se con,
(lcnsa eln Agosiinho. E s€ cria unl novo tipo de filósofo: o lilósofo que
lilosotã âtrâvés da confissão. âtravés da consciência autobiográfica.
()u seja, elc discute as coisâs não a pafiir de conceitos que estao cir-
culândo püblicâmentc, mas da experiência pessoal real. Claro quc os
tl.s tipos anleriores tanibónr paltian dâ experiênciâ real: os sâcerdotcs
cgÍpcio-babilônicos tinham expcriôncia real da naturczai os profetas
hcbrâicos tinhâm experiência real dessas mârchâs e contramarchâs do
povo iudeu; e o iilósolb grcgo tinha umâ experiência reêl do acesso
às leis etcrnas. Só que esta nova dimensáo dÍr experiôncia real que se
abre com o crGtianismo somente adquire auloconsciênciâ filosóIica
cm Agostinho.
Podemos entáo perguntar: por que todos os outros filósolos cris-
t,Lrs subseqüentes não fizerâm assirn? Durante todâ a Escolástica, esse
làdo conlessionâl ó deixâdo para o confessionáÍio, e os filósofos só
(liscutcm a paÍiiÍ de conceitos jácirculântes na cultura. Ou sejâ, perde-
sc o hábito agostiniano de raciocinar a partir dâ pessoâ concreta e se
começa a raciocinar por conceitos consolidâdos. Isto é um convite a
quc a Filosofia se âliene da experiência reâ].
De certo modo, podenos ver que. em iodâ a evolução posterior da
lilosolia cristã, csse legado agostiniano acabou se perdendo em algum
ponto. Para ver como é que isto âconteceu, vamos dar um salto e pular
do século IV para o século XIL Às vezes é importantc âcomparhar a
continuidadc interna dos processos saltando sobre a distância cronoló
Z5
gica. pois qualqlrer processo intclccrual pode ser rctomado â qualquer
momento, sóculos depois, tito logo alguórn volte a pensar no asslrnto.
.h noLlu.rutr.r,zc.".ur.,raoir,,.,u:i.r \ r.r nn...o.rgj'o\o
Dumnte todo o periodo quc châmârnos ,re.iiezrd1, houvc tlm cedo
atrito entre lmpório c Igrcja Existia â autoridâde imperial. no tempo
romano, que era alhcia c hostil à ]greja. À partir do ffoffento e que
dcixa dc ser hoslil. qlrâl é o novo padráo de rclaEões quc sc cstabclccc?
Quândo o nnpcrador sc convertej clc está submeliclo à tgreja como
ficl. IÍas iaDlbém o está como imperador? Qual ó dc fâlo â origem do
podcr imperial? tlla é constituída através da lgreja ou iem uma origcm
própriâ, tcnt unrâ râiz divina próprial, Aparcnlen1enie, estâ segunda
soluçáo pârece â mais razoável. pois antes dc cxisiir a ]grejê já exis
tianr impérios NIas há o prcccdcnte bíbllco do prolcia Iacó. a quem
a comunidadc pede que constitlra uln rci, e ele ctiz: 'Nâo. não làçanr
isso, pois ele vâi cobrar imposto, vai bot seus filhos no exércjto, vai
pcgâr suas filhas pâra transar, c assiff por diânte" Nlas clcs insistern, e
elc o constitui, dai vem o rei Sarnucl que laz exatamente isro. Existcm.
entào. as duas hipót€sês
O lnpério cristào sc constitui, pela primeira vcz Iormalmente, corn
Carlos Magno. n1âs seu impório dura algumas décadas c dcpois se
deslãz nunr caos nriserável. Mesmo rcssc império. que loi constituído
pela Igreja, havia a ambigúidade do poder rcmporal e da autoidade
cspiritual, pela própria ótica pcssoâl de Carlos Magno, que se pellrritia
certas coisas que nenhum liel cristáo se pernitiriâ Por crcmplo, elc
tinha ciuas ou três filhâs a quenr êdorava. eniáo nao queria que elâs
fossen eniboriL de casa. Elc náo deixavâ que elas sc câsassem, entáo
dizia: 'Tenhâm quantos amântcs vocôs quiserem, mas âqui dcntro do
palácio ' Dai as lilhas viviam numa "gandaiâ' pennanente dentro do
palácio, para náo licarcm Ionge do pai. Ntro vamos dizerque esse erê un'L
corrpol1arnenio de unl liel cristâo. l\Ías, ao nesmo tcmpo, o imperadoÍ
zlt
r[ a garanlia do próp o corpo da crisiandade
Essâ quesiao do lnrpódo cristáo nunca sc rcsolvctt Houve várias
rcnlalivas de ioürá 10. e váriâs delas cairâm Houve Llma lentativa
,ro Ocidente. outra no Oricnte, umâ co fusáo miserávcl' Mais tarde'
(t ando o ImpéÍio s€ clesrnembla de vcz. qucstát'] rcssurge muliiplica
la pclos reiros nacionaisi ou seia, câda reino nacional volta a colocar
,) problena dc sua autonomia ou dependôncia cnl lacc da lgrcja, mas
rgorâ e]n cscâlâ mÍrlliPla.
Orâ. é iácil percebcr quc esse problena político já contén denlro
rlc si â queÍâo da rclaqão possívcl entÍc duâs nn)dalidades dc conhc-
.imcnto: por via natural ou por via sobrenâtural Uma coisâ é a orga_
Iizâçao cla sociedacle terrena, â da cconomia. do cxército, dâ polÍtica'
ctc.: outra coisa é a orgÂnizaçao da vida cm vista da SalvaÇáo' As ii-
,,rlro.d.,r;u.,oa. ne\rrr\ I riüL.nnJi.J^pJrd"u" 1 -nJ'r;o
, iJe"rilirr rr \' rela.o.r nn.'t 'âo 'du ub\11' à
plrreira visiâ aliás. ne à segunda. nem à lerccirâ ncm à qua â '
c cssc é um problcma quc cLrntinuâ prcsenle hoie Esre é o rniolo do
drâmâ nundiâl hoje em dia Aconiecc que, nesta discussáo, âcabam
aparecenalo dcltnsores L1e un1 ia.lo e c1e outror aparecem teóricos da
hegcmonia da Igrcia e 1eóricos da aulononia imperiâl ou, mais târdc'
r.âl Para delêndcr una coisa e outra, cra preciso acabar se del]nindo
tâmbém conr rclação às duasvlas de conhecinenio anaturaleâsobre
n.rtüral. Qual é o encâixe das duâs?
Aí se .lcscobrcn as obras dc uDr süicito chamado Averróis, que ti-
nhâ l'ormulaclo isto para o mündo islâmico sob âlor11lâ cle um duâlismo
radicâI. Éle dizia: 'Tudo aquilo que é dc fé. vocô só conhece atr-âves
.ln fó mesmo. Iiiá escrito no Coráo, então vocô aceita' Nada d'Lqüilo
podc ser deDlorrsiraalo, poÍanto. é nratória exclusivamente dc crenqa"'
Considcrâdo do ponto de vistâ da purâ razáo e conlo razão ete cnten-
dia partjcülarmenrc a lógica cle Aristórclcs , todo o conteÚdo de lé ó
purâ crença. NAo podc seÍ demonstrâdo, mas tcrn que ser crido. Eniao
sc tern duas viâs de acesso, e nao âdianra nada miÍurar Lrnrâ misá .ônl
Esta soluçáo tenderiâ a fãvorccer üma separação radical de Eslado
e Igreja (âinda náo havia Eíado no scntido noderno, então seria de
Impório e lgreja). Ou sejê, isto fâvoreceria â auionomia dos dois. rnas
nesmo ncssa êutonomiâ aindâ dcixâ em âberto â quest,ro da origem e,
portânio, dâ dcpendênciâ. nrcialisicâ e nâo l'ísic.t não da dependênciâ
jurÍdicâ. mas da mciâfísicâ. Duranie muito tcmpo. esse dcbâte prosse-
guiu sem que abâlassc fundamentâimenre a unidade da comunidade
crista, pois a cniendia no scntido do Corpo MÍsiico dc Cristo. A partir
da hom em que você se conltssa e se conrunga, você sc iniegra ao
Corpo Mkiico de Cristo. Todos, e com idêntico estaluio, se integranl.
lodas ir. oc.,o"r rirpazr, de cuntê5.ar e curnunpa- q-( \iu is que
têm consciência moral sulicicnte para sercm capazes .lc reconhecer
seus pccados, conlêssáJos e obter absolviçáo -, todos as pessoâs adul
tas. todos os cÍistaros âdrltos estâo iniegrâdos no Corpir Místico de
CriÍo em condiçóes idénticas.
^ 
idci"du(uroo \'lrn cutu:.ut "ie r<par" na.r<r. rrrrirl"decri.
tá durantc Íril anos. poróm, de repcnte. à nedidâ que se acirra a dis
puta entre Irnpério e lgreja. e mâis tardc cntre os reinos e a Igreja vai-
se vcndo ê necessidade de se criar uln padráo Iegal, juridico, polirico
de unidade. Isto significa que â Igrciâ tinhâ sobrcvivido perfeitamente
bem e havia crescido e sc erpÂndido, havia tomado conta Llo Ocidente
inteiro sem ter essc padráo.
A simples idéia do CoÍpo Místico erâ suficicnte para todo mundo
perceber que as disputas de alrtoddadc se dêvâm dcntro da própria co
munidâde cristã e que nenhuma das duas. ncm a hipóresc cclesial nem
a hipótcse inpe al, cra Íesponsável pela unidade crislá, pois esta era
o próprio Cristo. entâo ninguém iâ dar palpiie. Mas, de repentc, à me
2N
(li.ltL que a briga prossegue, a idéia do Corpo Mistico vai sendo jogada
frm trás, c a idéiada unidadc Íormal, legal. iurídica e polílica começa
a rdq uirir inporiância. Imagine à gra!idadc dcste processo, porque, dc
rcpenie, mil ânos de religiáLr estão baixando para o nível dc umâ dispu
ta dc iurisdiqôes, e isto a câda diâ que passâ vai licândo pjor
QlrandLr a disputa passa do plano dc lgreja e Inrpério para o de
Igrejâ coln reinos nâcionais, qu€ iam surgindo e se âlirmando, etoma a
lorma de umâ dispuiâ cntre o pâpa Bonifácio VIII e Lr rei da França. aí
r coisaengrossa dc vez. O rei da FranÇâ-Felipe. o Belo-cstava seguro
.le que a instituiçâo real tinha origcm divina diÍeia c que, porlanlo, ele
náo dcvia satisfaçâo à Igrcja. Iá o papâ estava convencido exatamcntc
do corrário, pois hâvia lido uln Iivro sobre o governo dos papâs (que,
aliás, existc cn trâduçáo brasilcira':), escrito por um individuo chama-
do Egídio lton1ano. Egídio concebe a uiidâdc cristà. agora, como uma
organização hicrárquicâ, que comcça no pâpâ e, de escaláo em escalâo.
vai desccndo até os úliinros lióis cristáos. Este é o primeiro exemplo de
conccpçâo totâlitáÍiâ da Hlstória humana, é a sôciedâde i!iegÍalmcnte
adlninisrrada c governâda.
O papa leu esse livÍo c gostou, ertão publicou umâ bulâ na qüal
âfirmavâ, conl.a o rei da França, o pdmado âbsoluto da Igreja sobre
os reis. portanto, é o papa que constitui o rei. que náo passa de um
ernissário do poder papal. Note ben que já não sc iratâva nals dâ
unidade mistica do Corpo de Cristo, mâs da unidade política de uma
cstrutura administraiivâ. NâluÍalmentc, quando aparcce cssa teoriâ.
tel1l que aparecer uma ouira análoga do ouiro lado. Existe, então, um
camârâda chamâdo Pierre Dubois, que Iaz também uma teoria dc tipo
totâlitário para a escalâ nacional: o rcino, particulaimentc o da Frânçâ.
é tido como de origem divina, sendo, porianio, totalmenie autônono
cn relaqAo à Igreja, e dentro do reino dâ França os membros do clero
passam a scr funcionários do rei.
-.M, . L ü,, 1," , ât ,n.,r .,;
r,e hnun. LunA. dcRoil Fcrfópolis/ltl: vú2.s,1939 29
lAl\tno: 11. a otieefi do a el.ícafiistto-1
lsto. é â o gem remota. É no mcio dcsta confusâo quc apârccc
- r ,uje ru clUr rJrlu S,n.u j.m,. d- 
^quinu 
qL. rrj. u Lr iru qr,
rinhâ â cabeçâ no lugar ria época e que percebeu que precisava articu
lar essas coisas de uma outra mâncira. Ertão, partindo das obras de
Aye óis que h.Lvia cLrlocado Lrm.r lronteir.L bem nÍti.lâ entre razáo e
fó -, a primeira coisa que Sânto Tonrás de Aquino laz é nrostraÍ qüe
esstL lionteir.L náo é nÍtidâ de maneira alguDra. Ou seja, de alsum modo
ele rcslaura a idéiê agostiniano de que a razáo natural prccisa.tâ ajuda
sobrcnârurâ1. Ele o fâz d€ maneira m0iio lnais nrecliada e rnuito menos
râdical do que 
^sostinho, 
mas 1ã2.
Averróis havia tirado essa douldna de dentro d;r! obras de
Aristótclcs. mâs interpretadas de umâ ceftâ mâneirâ muito peculiar,
que â partir dessâ época começa a virar moda. Esta mancira consisic
err se considerar a lógica de AÍistóteles náo comLr um súnbollr dâ on
tologia. ou da cstrurura do Scr, consklerâdâ no seu refle\o lingliístico
pensênte. mâs conio uma técnica operacional rcltrida apcnas ao pcn-
sânrento ou à linguâgem. Enláo. vai se subslituindo a lógica dos seres
que havia enl Aristóiclcs por umâ lógica dos iermos, por uma lógicâ
das pâlavras. Isto entra no Ocidente através dc 
^verróis.
l{lrno Nào "ito 
utto Lo\onaquia?l
Com o tempo isso vâivirâr loquomâquiâ, certamente, mas acontece
que csie é o conceiio de lógica qlre exlste alnda hoje Até hoje se enten
de à lógica como un esquema l'ormal distinto do mundo da cxpcriên-
cia. entáo se pode bolar um sistema ]ógico inteiro que sejâ todo irreal.
lsto significa que, qüando Aristó1eles montava um raciocinio lógi
co paiindo das delinições dos seres, ele estava scguro de que csiava
lidando com conceitos que expressâvam a consistência olr a essência
l0
rciLl dcsses seres c que. porlanto. as concxôes kigicas teriarr que ter
súr correspondência em conexões rcais Esses dois elementos a sepa_
ruráo râdical enlre razáo e fé, e atendênciâ para unla lógicâ puÍamcnte
l)nIal. totalDentc separada da lógicâ materiâ1 entran no Ocidenle
Sânio Tomás 1ê Averróis e âcha que lcnl que dar unl jeiio naquele
rcg(icio. Primeiro, ele vai rcstaur$ o scntido onlológico da lógica. Pârâ
isso era necessárjo reinicrpret.u todas as obrâs de Àristótcles e cir_
oulaçáo c r€expor toda umâ cosnologia. acertândo umâ estrutura dll
cl)smos seg!ndo os primciros princípios íl elatamenre o que ele vâi
i.tzü ra Suma ca tra os le líos: vai colocândo os pÍincipios. Deus,
depois os ênjos, a criâçao. o Universo, os seres. elc.. até chegâr na pâr
lc psicológicâ c morâI. Tudo é colocado como um sisterrâ totalmenie
hicrarquizado. com âs suâs dilerençês de nívcis e seus conl'liios tam-
bénr. Em nenhum mornenio o raciocinio lógico se afasta dâ estruturâ
.lâ rcâlidade. Ern segundo lugar, Sânto fbmás vai reafiÍrnar a impossi_
bilidâde de sepârâÍ o naiur.Ll do sobr€natrrrâ1. Ele dizr "Por melhor que
seja nossa razáo naiurai, exisicm aiguns pontos em que ela náo pode
andar sem o auxÍlio sobrenatlÍal".
Por excmplo. quando você considera a criação, a existência do
Dlunclo criado, a nâtureza, ela l'oi ciadâ no tempo . No tempo ou lorâ
do tempo? As duas hipóteses levan a contÍadições lsto signilica quc
nâo se tcm como raciocinaÍ a partir de um elenento revelâdo. Mas a
criâçáo é a base de todas as ciências naturàis Isto signilica que, de
uma mâneira discretâ e até tênue, embora Santo Tomás seja adepto da
teoria da abstração c não da teoriâ da iluminaqão divina ou seia. vai
clizer que os universais sáo conhecidos por abstraçáo . ele coloca um
limite nisio e diz que, num ce o ponto, a Íazâo nâtural cngancha na
sobrenatural. Entáo, ao mesmo tempo em que tenta costuraÍ isto. ele
tem o princípio da unidade ou da continuidade entre o conhecimento
i1
dc orden sobrenatural c o natuÍal. Sânto Tomás alirmará, erltao, reso
lutamcnie, senáo â unidadc direta dessas duâs dimensôcs, ao menos
sua nâo-incoerência, isto é, que umâ coisa nao pode ser incoercnte
Nós nunca podenos nos esquccer, tanbém. de que é clc que lança
as bâses de todo o constilucionalismo moderno. A concepçào de dc-
mocrâcia constitucional é üma concepçào dc Sanro lbmás de Aquino,
que via â cristandade como unl simples Íetlero terreno do próprio
Corpo Místico dc Cristo, ou seja, a comunidâde dos crisiãos adultos e
rcsponsáveis capazes dc confessar e comunga! porianto, de participar
dâ lgreja. Dcsse modo, este conccito s€ sobrepunha âos conccitos ecle-
sialislâs e âos monârquisias ou imperiâlistas. No entanto, tudo o quc
Sânio Tomás Íez. tudo o que ele disse. "entrou pôr um lado e sâilr por
outro '. O homenr tinha a salvação da civil;zêçáo na mâo... Mâs a paÍiir
daí começa a aparccer um lenóDreno, quc é a progÍessiva retirâda do
Espirito de dentro dos dcbâtes públicos. lsto se toflrará claro con1 uma
espécic de coriinuador de Santo Tomás, que é Dantc Alighieri.
Dante tem a consciência de ser uln intclcctual serr representaçâo
públicâ. Ele nAo ient umpúblico pronto. nâo perrcnce â nenhuma orga-
nizaçáo, não representa ninguóm. a náo ser â si mesmo, cntão se dirige
auma entidâde abstrâta, que é â opinião pública. Parâ estelim. invcnta
um gênero literário quc depois loi muito usado, que é a Carta Àbe a.
Na Cârta Aberia, o indivíduo, senr lalar exceto em nome dos conhe
cimentos quc tem e da sua própda int€ligênciÂ. dirige-se ao público.
Isto mostrâ a consciôncia que Dante tinha de quc seu conhecimento
espiritual, sua experiência espiritual, já náo representava nada pr.rbli
camente, e quc cle náo tinhamais, pelo fâto de teresta reraguarda, esia
vivônciâ do que seria o Corpo Místico de Cristo, nem poÍ isso tinha
uma autoridade para falar Diz Eric Voegelin. numa expressão muitl)
feliz, que Dantc ó o pdmeiro que lãla náo em nome de uma autoridade
32
ertcrna, mâs em nome da anlotidaLe da maiestas gerii, dâ majestade
tlo gênio. É o primciro que laz isso na história do ocidente.
Isto já mostra que não haviâ lugarno debate público para Lr homem
quc, pârtindo de uma cxperiência espiritual mais proÍunda, analisas-
sc o conjunto, como fez Sânto Tornás de Aquino. Santo Tomás ainda
cra un1 professor universiiário, âinda tinha âlguma autoridâde dentro
.lc um grupo, e Dante já náo a tinha. Sua situaçâo já reflete a perda
dâ oportlrnidade que se teve da salvâção mesmo da Lrnidadc cristá. À
partir daí, essa unidade vai se romper, vai se ftagnentar cadâ vez tnais.
rcmpre com reivindicaçóes dc prirnâziâ cla palte dc um e da paÍte dc
outro. Esse processo da ruptlüa da unidade crisiá virá lunto. E, não
por coincidência. virá com a perda da uridâde entte a lógica e a onro
logia, entre o conhecimento do Scr e a ordem do discurso.
Esses dois processos sáo irmàos gémeos. Por exen1plo, Guilherme
dc Occam, que é o primeiro dos chânrados nominalistas, também está
convencido dc que as verdades da fé têm de licar totâlmcnie à mârgenr
do exâmc racionâI. Àquela marca deixadâ poÍ Averróis não loi, portan-
to. apagada por Santo Tomás. Náo se pode esquecer que Santo 1bD1ás
só ioi nomeado Doutor da Igreia no século XIX (sete séculos depois);
cntão, nos primeiros momenios, tudo aquilo que elc disse ficoLr "o dito
pclo nâo dito". O surgimento de Guilhermc de Occân1, unr século de-
pois. mostra islo aÍ. Quem quer que tivesse esludado dircito Sênto
Ibmás de Aquino jamais podeÍia âceitar esl:r coisa de quc a lé tem que
ser mantida iotâlmente intacta, l'ora da eslerâ da razáo, e vice versâ.
Orâ, ao mesmo tcmpo, a proclamaÇáo da total sepaÍâçáo cntre.)
conhecinrento racional e â lé inplica também que a lógica iá nào será
ljonsiderada como um conhecimento do Ser, como um coniuntlr de co_
ncxóes captâdas na própria estflriura do Scr. rnas apenas como cone_
xâo entre iermos. Ora, nâ lógica dos tcrmos. câda termo tem um duplo
papel: por um lado, teln o que sc chama sig,?ilicdçAo. tcm sempre um
conjunto de significaçóes quc ó rcdutível â Lrm certo rcpcriório: por ou'
tro lado, o teÍmo excr cc umê olrtra funçáo, quc é chânâda de §uposilio
(náo sei eratâmenie con1o lraduzir, pois nâo é "suposiÇáo , é -estar
e lugar de outro"i seria "delcgaçâo'. olr "substit!ição", algo assir'o.
l\lrno: "Superposíçaa" , ÍaLre.?l
Supeposiçao... Na verdâdc scria nêis uÍÍa espécic de interinidadel
o sujeiio esiá ocupando o cârgo no lugar do outro. Isto significa que o
termo está, na sentençâ, em lugâr dc urn ente. e tudo o quc se conhece
é sobrc o termo. e náo sobre o cntc lsto signilica quc. de acordo com
Guiiherme de Occâm. na verdâdc. .
lÁluno: ( ..) reprcsentuçAo?l
É. nós nilo conh€cemos as coisas diretamentc. mas apenas os scus
conceitos. Quâl é a dilerença entre significâEáo e suposiçâo? A sig
nilicaçáo ó o conjunto; e a suposiçâo, ou substituiçáo, a suposilio, é
apenas o sentido que aq!elc tcrmo tem naqüela frasc. Significação é o
conjunlo; as significaEões estao no dicionário. Nulnâ cerla liâse. nun1â
certa senienÇa, adquire um significado precis.r e, portânto, é uln ente
determinado que â palavÍa substiiui para efeitos do raciocínio.
Essâ lógica dos tcrmos é, entáo, aprimorada tecnicanrente dc modo
muito rápido, pois, na nedida eln quc sc desvencilha dâ rcsponsabi
lidâde pelo conhecinento do Ser, cla vai virando uffa tócnicâ iorn1al
e seu dcsenvolvimento é quase automáiico. Dâí ató a modema lógica
matemálica. o âbismo que vai se criândo entre lógicâ e rcalidade é
inenso. A lógica nào tem mais nenhuma sâtisfâçáo â prcstar à reâ1i
dade alguma, e isso significâ quc também a separaÇáo entre esta e o
conhecimento vai s.. tornando cada vez maior O que Guilhcrme de
Occên1 cliz, que não conhecenos dirctâmcnte os seres, que todo o nos
:1.1
!) conhecimento é constiiuído de ter os, iá é l(antr náo conhecemos
a roisd eÍr ri. mas somente suâ reprcseniaçáo. Se exaninaÍmos bem,
rssa é uma liase totalnentc sem scntido
llrluno: É porque não se pode ( --) a rcPese laçda se rcieftnci't
no que é rcpresentado (...)?1
Nào é só por isso. É porque aqüilo que a coisa lhe apresentâ' se
você clisser que ó apenas um aspecto ou fcnôInenÔ destâ acaba chc_
gando cm contEaliçóes absolutamente insolúveis, poil está supondo
qlre a coisa em si se constitlri de uma coleçáo inunerávcl de aspcctos.
ro passo que sua apresentaçào, ou rcpresentaÇâo' se constitui de um
ora, isso signilicâ qu€ só se pode ver as coisas sob detcnninados as
fcctos, conforme elcs se aprcsenlam. mas nunca ninguém, 
que cu sai'
ba. Iez a pergunta clrntráriê. Só posso conhecer a coisa por âspectos'
Mas a coisa poal€ se apresentar de outra mâneira? Isto significa qu€ a
§übdivisáo cm aspectos náo ó uma limitâçAo 'ln 
n'ssÔ 
'onhecimento'
clê faz pârte da própriâ cstrutum da r€âlidade Portênto, quando co-
nheço â coisâ só poÍ um aspecto, náo ó que só posso conhecer por as
pectos: a coisa também nâo pode se mostrar sob todos os âspectos ao
mesmo tcmpo- pois esse é o modo de sua rcalidade cspâço{cmporal'
Conhccer a coisa por aspeclos é, portanto, conhecer a próp a coisa
en si, pois a coisa cn si é assiml Por exemplo, quando estou nun1
rlos lâdos da mesâ, só posso vê Ia por este lado. Mas elâ poderia se
mostrar:r im de outra naneira? Portanto, o faio de quc ela tern este
lâ.lo voliado para cá e não iodos eles voltados pâra o mesmo lado não
ó una limitaçáo cognitivâ minha, mas a própria estrLúura do modo de
35
]-r"-.-''''
l^lunor I o rsPaço?l
lslo significâ qrc. quanLlo cu estou conheccndo um aspeclo e â
coisâ cnr si que cstur conheccndo. c não ape'râs Üm ienôneno utna
aparência. A mesa cm si tcnr sinuliâneamcnie todos os scus lado§'
rnas náo 1e]lr todos eles vollados para o mesnro lado a náo ser nun
quaclro cuhistâ nuln quâdrô cubistâ vocô póe nxlos do mcsnlo lado -'
e isto é a coisâ em si N:úl À coisa cln sié a simullancidadc dos seus
adu. ',Jr..dô' lbr' !Jrrô' r.l '' . 'u 
l'ru ' qniii'a \Lrc
crtjÍc unrâ pcúeiia. colno diriâ SantLr'Iomás dc Aquino conrpropor'
ci(xrâlidacle" cntre nossa pcrcepçào c â csLrutlrrâ da reâlidadc Nao há
o abismo quc Cuilhennc de Occan via ou qÜc mâis tarde l(dni verá
EIes, nâ verdâ.le, sc iiudem por palavras
lAliino: E o lerna "rcprese laçào" é apefias ufia ctistaLizaçàa 
de
ruda um desses as?ecfu)s?l
Ceriâmenle, a representaçAo ó o lerô eno tâl como âparecc ern sua
mente. Fenômeno é nquilo quc aparcce
l \,ur a. \,rr ' o lrttlo tt.t tittrtt?P' t' t- - tlur Orruti dt ta qtr
podenu)s conhecet nào !. a aspeclo em si ttlutbéttt ( ')ll
Nâr)1 Aí. além de você lcr a separâção cntrc a coisâ e scus aspeclos'
rem a separâçáo entrc o âspecio e suâ represcnlaqáo nâ mentc' e 
cntre
â reprcsenlaEáo na mcnte e sua expressão vcrbal' e assnn por diante'
Ou scia, você vai introduzindo uma §üccssáo dê âhism{)s c' no lim' ficâ
nr, nâ conlusão miscrável. Mâs â confusão é puramente vcrbal' pois
ela começa conl ümâ coníLrsáo inicial, dc qüc existc urna dilcrcrça
essencial cntre â coisâ e seus aspcctos, quândo teÍ aspectos é â própria
estrulura de rcâljdadc da coisa. Por excmplo eíou Ihe vendo' mas não
estou vcndo o íuncionâr enlo do seu figâdo' clo seu pulnrão eic E seu
cu esrivesse vendo. vocô estâria lnono. nreu Dcus do Céul Não solr cu
que não consigo vcr, é você quc não conscgue moímr, pois náo pode.
sern morrer lirâr scus iniestinos. seu iígado. para nostrá los para nirn
Esta limiLaÇáo é, entao, a est tura do seu modo de existência. e ó
exala rcntc assirn qu€ eu the vcio. Portanio, esto! vcndo exatamcnte
a essôncia reâl tal conlo ela se apresenta. Vollâ]nos ao anligo Ploiirro,
quc dizia quc nada é mais lãcjl de conllecer do que o essência dns coi-
sâs, pois csta se nrâniltsia na fonna. A essôncia não ó um mislório por
trás dâ lbmra, ó â própriâ formâ qlre sc manifesta Quândo vocêvê urr'â
vâcâ, náo é uli] aspecto dc Íaca quc você vÉ, ó vacal
ÍAluna: 'Fama d.al esse rei"?l
lsso. exâtamenle, "a lbm1ê dá o ser das coisas". lsto signi$ca quc a
cone{ão de lógica c ontologia ó lnlrilo mais próxinra do que sc pensa
A lóilica pode scr operada scnl relerôncia à ontologia, ou seia, podeiros
pcnsá Iâ sem rcÍerênciâ,n1âs esta distinrao náo está nâ própria lógica'
cstá no lDodo de opcrarmos conr cla. },lrlão clas enl §i ráo têm abismo
Náo há um âbismo enlre a deliniçáo da cuisâ. da essência da coisa. c
sua exisiência. Nós é quc podenros, por dbsimçâo, olhár unl lâdo' olhar
o oulro. ou olhitr os dois ao mcsmo te po Tr.Lia sc, cntào. de umâ
dislinçáo nominâl que os camâriLdas toman colno real de Guilhernre
dc Occânr ató l(âni, e àié hoje
l{\una: Lngnça(la Erc o póptio Atistóteles iá ti la pext'bítl')
que se potletio tet essa iúerPrctttçào eÍruda... (...) dessa distittlcia, e
eb tl.tí un eret pt.o de Lomo esse ca tillho ttãa lcüa a lu\Ltt enhlLn'
díze rlo: 'St üocê aai Li1'anào os \ciclentes- só sohru o espaço. o Íin
, uodtc\ ),taú'.naMJr I dt.. \la nou' a,LnÍot'n""u"t
.17
I
Claro quc se podcria làlconro Agostinho, Arisrórelcs sernpre partia
clâ ânálisc da expcriência rcâ}. nnnca de conceilos filt'jsólicos já Úaba
lhaclos. Feilâ rma ctisiinçáo lilosóficÂ, cla tirha scnlprc que conservar
sua raiz nâ cxperlência e podcr retornar desdc as Úlrinüs conclusócs
âté os primelros clementos de cxpcriência co.rpactados c conrplcxos'
tal como eles apârecem na vi.lâ concrciâ A pârtir de Avcrróis, porén,
..1áí àté Guilhermc de Occaln (e dc mai§ gcntc. Ião são só dos dois)'
começa-sc a racbcnra. cont basc cm Pr{nncnrÀs intclccluris, técnicos
Guiilermc de Occam é Llrn sujcito muito inteligentc que dá Lrma
.ôru.J, tô!r... L rd .LIr d' .ir.u'.u.', u, (.lr\orr'(r I *u rr.i'
inielectual N{as cm nenhun nromenio sc reporta à erpcriônciâ rcâI,
for.. .. ( \. L \1r:r' r''rr( i'\u ,ltrr - <\lcri(''Jia
r.rl ,i..,'rp. rr. I:rn.uu e. qur nlÔ p'
coisas quc nAo podem sc mostriir a mim a náo ser por pârics Ponanto,
isio ó a estrutura reâl dc1Âsi â linitâção está nclas, e náo eln nrim
lAlúna Naa pad.e set Ítue úós, tle lna Leia furna. satnos Íruídas
p(» nosso .leseít)? Poryuc osso dcseio setiú de cofihecer lrLdo s()bre
ãtgufia coistl. No e lanÍo. é cano ter üna met1le atada se seúi::do
cülpado. (.. ))
Nâo, o dcscjo é pcrfeitanrente legítimo. pedcitamentc Sanio Tomás
iá tinha rcspondido a isso dizendo o segllnltc: quc ó próprio do sábio
nrlo tcntar conhccer üais do qüc â coisa ó
l|luna.Potque daí para Írcnte elc desanda' iioél')
Porque dâÍ para .lianie estamos invcntândo Exisie LLmâ limitaç'o
.:lo conheccr, e existc unla limihçAo &r ser orcsmo dâ coisa Sc â coisa
eristc de mancira contingenle, cla só pode ser conhecida colno tâl
Náo é unrâ hniuçao sua. é dc1â
lnlrLna Na e ta ta, nós nos ]ectimin tas.)
Clârol l\Ías isso é un1a tcrtação dcmoníaca. Você n.lo consegue co-
nhcccr a vacâ toiâl poque eh lambén nào conscguc crislir cle ma
feira lotâl. Nâscc pcqucnininha e vai crescendo. e. cm cada mome|io
quc clâ ó, clâ só é âqüilo que é nâquclc momcnto, os outros Dronentos
jri loranl. Sc vocô tcniar conhecer a vêca totâ], vai conhccer por unrir
duira Dlodalidâdc: por obscrvação e por ínaginaEão, quc vocô vai ier
quc corlrpleta. Nao vai poder tcr agora. a pcrccpção .lo que â vâca lbi
três anos âtrás. isso náo dá. N:'o pr,.te toniar hojc o lcitc que a vlca vai
dai r.Lnhâ
Quando você exisc isso c nâo consegre, dâí crir o abismo. Mas
notc quc isto ó rm erro lógico. Lnn erro dc abstrâcionisrno: você estaL
tomando por distinçâo real urnê dil'erença que só cxistc mcnLalmente.
Íislá supon.to que a vâca quc você cslá verLlo por lbra ó rcalmcnic
scpârada da qre eriste por deftro c quc vocô náo vê. O que está por
lora a vaca mostrâ, c o que está por dentro cla tcm quc conservar
,- 1'n( iJu. n1.o, Iôr. o q,rc jr \, r; \. ,, qu. r \d.jr
não nrosra vo.ô iniÂgina. e conrplcta aimvós do jogo de inaginaçáo.
mcmória, pcrccpçáo do ser das cLrisas.
Uma coisâé vocô pcrccbcrâssinr. Narealidâde. todomundo percebe
âssi.r perceber nós sabcrnos há muito teÍnpo, no tempo clâs cavcrnas
já sabíâffos; podanto, é unla habilidadc muito âniigâ Mas a habilidâ-
de de montar râciocinios lógicos começâ coln a lilosofiâ grega, entao.
na escal.L hist&ica global. cla ó muilo rccente, é r1ova, Evidcntcmenie.
vocô náo tcnl o domÍ1io.lo raciocnrio lógico corro o te r dn percepçào.
Erltáo, na hora cm que ienlil expressar logicamcntc o que eíá na per
cepç,ro. podc comctcr uma infiridade de crros. Na escalâ da pcrccpção,
!ocê náo vai cometê-los Gâranto quc Grilhernre (le Occam nunca tm-
tou âs pcssoas do seu ellomo conlo sc f(xscrr nrcms rcpieseriaçóes.
11
que clc as lrâiava como pessoas reâisi .lrc ele nunca coÍrcu a reprcsen
laqáo de um prtLto dc leijão, coDleu o pr.rro dc leijáo Isto sigrificâ quc'
na eslera da existôncia real. do leáe s,lrell, cle Àgia conro umâ pesÍrâ
nornrali só !omo iilósoto é que cra louco
Essâ.lcíasagenr, csse abismo cnire a expcriência real e o n1lÚdo
das cogiraÇóes lilosóficas coneÇâ ncssâ éPoca À origem dcssa rupiurâ
é islâmic.L. Íl con1 Averróis. Ou scja. nós conlraíInos esta doença do
Is1ã E de onde vcrn esttL tlocnç.I'l Vcrr clc quc. no Islá, o mundo da
c\periência religiosa é tigorosanrcntc separado do nnnrdo da religiãL)
cnquanto noÍna clc virla cLrmum. ,\ nonna dc !ida cL''r rn 
' 
iguâl para
lodos. mas as revtlaÇÕcs inlimas, tLs cxpcrlências místicas, 
jican lora
disto. não cntranr na discusstlo pública. l-l a diierençâ que elcs ch rnâm
J. \rd../r., U(".ii tH.tJitt tut c,"rJ',J( t. nrro n- \at'tt\ttL
e o rs.,ler flÍr. â dislirlçáo quc, séculos depois, René Guónon rplicará
à oislan.lade fus conceiios de esoterisDro c exolerismo sao copia'los
iguaizinhos aos do munrlo islârnico). li elc ohegará a uma tal corrlusâo
que clc meslno, querendo rastrcar âs oriilens do cristianisnlo (elc pcr
.. r" auJ,'. i.. J'. d.''u ír'ln,'' J"ri\_nu e'"i' ri''r a nu' rr'r l,rit
mo). no lnn da vicla. nurna cêria, conlessâ: "Quanto nlais cstuLlo isso,
n1enos cll enlendo".
Vcja qlre, cmboÍa Guénon contessc isso crr pârlicülar, enr scus li
vros publicaclos elc mâlrtém csia distinçao, c selrs discípulos c seguido-
res mantôrn jsto rigiLlamcnie l\'Ias por quc ftLnlê1r rigidamcnte sc cle
mesmo cs1á dizcn.to qtlc náo sabe'l il porque sc criou ulna e§lócic de
âutoridadc papal dc liené Cuónon c as pessoas têrn quc seguir aquilo
Ent,Lo, sc cle conttssoü quc nao sabe. pollco impírna' Por quêl t')orque
cles lhc reaplicam o nrcsno esqucn1tL: valc o quc Guénon disse publi
camcrte. Fazcrn isso quase quc inconscienlerncnte. ( )
Ora, vcja que Aveüóls tcve alguns crcontros, âlguns tlcbates com
mislicos islâmicos. que irnpugnavâm lotalmente a Filo$liâ 
^ 
Iikxolia
no sentido de conhecimcrto puramente racionâl foi praticamente im
pugnâda no Islá Foi cLrnsentida, mas impugnacla, porque acima dcla
há duas coisas: a revelaçáo dâ sáarir7, qucr dizet a lei, o Corão, e o
conhecinenio nrístico. E âmbos se dizem superiorcs à filosolia.
Averróis, na prarpriâ evollrcão islâffica, acabolr tendo muilo pouca
inrportância. Nào ligârarn nruito para cle, pois erâ apenas um iilósolb;
c lá o sujeito ser "apenâs um filósofo" signitica qlre elc não tcm nada
dc inrportantc a dizcr Se sua filosolia esti!€sse cncaixêda com â teo
logia islâmica. como ê cle Al-Ghâzali. olr con] a experlência místicâ.
conro a de tbn'Arabi e ouúos, aí sinl. Mas Aveffóis foi "iogado para
as traças' . Por quê? Porquc cra o represenlante dâ Filosofia grega no
sentido estriio, ial con1o ele a enlendia - quc tâmbém já não ela igual
ao modo como Àristóleles a entcntlia Era entendida. eniáo, como um
conhecimenro puramentc râcional a pârtir dos dados scnsíveis E o
nlundo islâmico scmpre resolveu esses conflitos através do lumpão..
Há o famoso episódio de A1 Hallaj, unl nÍstico que, lendo prâtica-
do os ritos ascéticos durânie muito tcmpo, chegá a um cerio csiado de
âbsorçáo na divindade que diz elh pÍrblico: "Árd al Haq(l", qtrf.r dize\
'llu sou Deüs". Os teólogos olrviÍam isso c lalaram: 'lsso é blasfêmial
Você náo podc ser Deus. porquc Deus é un1 só. Se lem um lá c outro
aqui. já sáo dois. lntào temos que lhe cort a cabeçâ'. E a coriâraln.
de 1àlo Quando a cortaram, eles nresmos falâram: "Mas o caü erâ
unr santo, por que lizemos isso?". Aí comcça aquele debate robrcsc
o sujciro tinhâ ou náo o direito de dizer aquilo, e chegâram à scguinte
conclusão: que sentenças ditas por míslisos no curso de sua cxperiên
cia mística náo sáo julgáveis em tribunal.
Isto significa qlre lodo o mündo .la experiência nrísticâ fica à mar'
gcnl da discuss,to pública, mas sc reconhece como cxistcntc E até
hoje, no mündo islârnico, náo eaiste o €ncaixc disso. Se você pegar um
rnuçolmano c perguntar o que ele acha dcssas organiTações místicas,
ll
dcssas ldliqas, como elas se chamam (ldr&r7 quer dizer câminho), uns
dirão que aquilo ó o supra-sumo da naravilha, é o próprio espírito do
Islát oütros váo dizer que é a praga e que ten) quc matar todo nundo
Ou scja, o lslá náo sâbe o que làzer com isso até hoje.
Àtravés de Averróis, esse dualismo, esse abisnro de scparaçáo, con
iamina o ocidcnte. e nuncâ mais nos livraffos disso aié hoje. Agora,
que cstá havendo esia onda islâmicâ, ó quc a gcnte conseglre rastÍeaÍ a
origem disto lá paÍa irás, no século Xll. o que, naiurâlmentc, rccoloca
em questáo todâ â relaçâo entre o qlre seria sociedadc políticâ e o que
seria rcligiáo.
Por exemplo, essa confusáo entrc Império e lgreja, qlre começacom
Bonilácio VIII, Egídio Romano, etc., vai evoluir até um ponto em que
náo há outra soluçáo senâo cria" um Estado leigo. O pcssoâi das reli
giocs cstá se pegando a tapa. Iá tendo rido a Relbrnla, tem que lazer
um Esiado no quâl todâs as rcligióes possâm conviver de algum modo
e que regre as relaçõcs entre elâs sen1 enltar no inérito da questã.)
teológica. lsio é uma solução? Náo. É um paliâtivo. Uma cois.r é o
Esta.lo lcigo como aquele que imp€m sobrc uma sociedâde religiosâ ou
nultirreligiosa; o!úa, poróm, é o Estado tambén gerâdor dc lcis e
na nredida em quc é gerador de leis é gerador de normas morais e de
\,alores culturais. etc. Ele começa. então, a influcnciar a sociedade e a
torná-lê leiga tâmbén.
Por exenplor o ensino eÍá na máo de queú, do Estado ou dâ
Igreja? Hoje, está na mâo do Estàdo. mas esqueccmos que isso foi
muito recente. e que morreu n1üiia gcnte para que sc chegasse a isso.
I)urante um certo tempo. acducaEâo náo estâva na máo do Estado. Nâ
trâdiçáo americana, a educaEáo nunca esteve nâ ]não do Estado os
Esiados Unidos passarâm a 1er um Ministério da EducaÇâo no govemo
limmy Cârter. À educaçáo é problerna da sociedade: cada um cduca
os seus lilhos conro quct cada comunidâde religiosa educa seus íilhos
1Z
como queí, e o Estâdo náo tem quc se meter nisto. poróm. aos polrcos.
âparece a gritariâ do tipo: ,,Mas querenros ensino graiuito.,. E qucm é
quc pocle dar o ensino gratuito? Só qucm já iomou seu dinheiro, por
outro lado, chamado imposto. é que pode dar o ensino ,,pseudogÍatui-
to". Entâo o Estêdo coneça a se neter na educaçáo, na cultura, etc.
Há uma outr.r situação: de u lado. havia iniciatnente o Estado
l.-igo como aqucle que imperava sobre uma sociedadc religiosa ou mul-
tirreligiosâ; do outro, há o Esrado leigo que irnpera sobrc uma socie
dade leigâ. Significê que, na mcdida ern que a vida religiosa é retiradâ
do domÍrio estatal, eia acabâ sendo retirada do domínio público para
o privado. Mas aconiece quc o domínio privado nAo tem limites claros.
^ 
cducâção, por ei{emplo. é privada ou pública? Se o Estado provê a
cducaçáo, entáo ele nâo poderá pro\,er educaçáo religiosa. Durante um
lempo, â influênciâ Íeligiosâ permanecerá, pois elaestava imbricada na
própda sociedâde, mas r1o fim será retirâda. Nos Estados Unjdos, hoje
ent dia, há muitas escolas em que un1 garoio nâo pode entrar com a
Bibliâ, senào ó suspenso e pode scr exputso: e se tãlaÍ da Bíbtia podc
ser expulso tambénr.
Islo significê que o Esiêdo leigo se torna um inimigo da religiáo.
Nâ m€didâ em que se tornâ inimigo da rctigiáo e participâ de toda
a cultura anti-rcligiosâ e antiespiritual moderna, ele cria um câos de
valores em que podem surgir cliscussôes como essa do peter Singer
sobre o direito das minhocas, sobre sevocê tem o direito ale coner uma
gâlinha, ou nâo, e contra o preconceiio do ,,especiisnro,,. Ou seja, você
achar quc o ser humano é mclhor do que um orângotango é um pre
conceiio espcciístâ. Eu nem sei por que nos congressos ern que se diz
isso náo é admiiido nenhun1 reprcsentantc dos orangotôngos. por que
somentc os seres humânos têm o direito de làlar contra o preconceito
cspeciístâ? Por que náo ouvir o represcniante dos chirnpanzés, dos
orangotangos e dês minhocâs? Aí você chega ao câos total, quândo
.+3
já náo é câpaz de distinguir por que está numa asscnbléiâ e náo
tem um orangotângo sentaalo ao seu lado; você está num eslado 
de
estupidez comPleto.
ÍAIúno: O E)e prcact q e os on Eatansos saa t eLhoÍes do 
que
algutts...l
Sob certo aspecto, siml Elcs jamais coneteriâm un1abesteirâ dessas'
Um orangotango iamais vai se coniun'lir con uma minhocal 
Imagine
un ]eáo. Tem aqui um bando de leóes que dizem: "\'dn1os câçâr a ze
bra'. E um lcáo pcrgünta para o outror "Mas que direito tem você 
de
comer zebras? Isso é um preconceito especiísta"' O 1eâo náo se 
coloca
esse problema. Ele sabe de suâ superioidade em rclaçáo à zebrâ: "Eu
estou aqui para comer, cia está para seÍ comida, e ponto final"
Nâ medidê em que se criâ isio, tem_se pôr Llm lado, uma aberturâ
âos grandes movimentos ideolÓgico§, qüe são religiões de substiiuiçáo
ou pseualo-religióes; por outio, lem-le uma âbertura à penetrâçáo 
is-
lâmica. Quando csse§ alois se â1iam, tornam_se 
imbatÍveis e é o que
está acontecerrdo hoie. Isio signilica que náo exlste;mâ civilizâçáo 
do
Estaalo lcigo;náo existe â civilizâçáo leigâ' Havia a civilizaaao iudaico
crisiá na qual o Estaalo leigo aparcce como um intelvalo iniciâlmenie
criaalo paÍâ propiciar a paz entÍc as organizaçócs religiosas' mas um
intervàlo qué terrnina com ê autodestruiçáo da ciúlizaçáo e com 
sua
abertura olt à revoluçáo, aos movimentos Íêvqlucionátios' ou âo 
Islá'
que hoie em dia ó a mcsma coisa. Entâo se você peÍguntar por 
que â
Europa está se islamizânalo o tempotodo, eü digo: quando se chegou
ao ponto em que, a partir dos elementos da §upo§ta €ivilizaçáo 
laica'
já náo se é câpaz de distinguir um homem de um orangotango e de
uma lagal1ixâ. eniáo vem o Islá e cnsinâ essâ distinçáo' pois afinal
d€ contas. elc iem vâlores, iem uma trâdiqáo, una cosmovisáo' tudo
orgânizado. lsto signilicâ que, quanclo o sujeilo chegou no auge 
do
+1
materialismo e dâ negaçáo de tudo, até no niilisDro, o passo seguinte
lAluno Pot que o lsLà e fião o budisno, ou.__?l
Tàmbém poderiâ ser, se estas religjoes tivesscm o apârâto impe,
rialista que tem o Islá, mâs náo têm. O budismo, na verdaale, se ex-
pandiu muito pârâ o Ocidente, porém cstá seüdo destruído em sua
própria terra. Leiam o meu artigo editado no Cloáo,r no qual com€n1o
a frâse do Dalai Lama em que ele disse o seguinte: ,,O marxismo tem
um mórito, ele se baseia em princípios morais. enquanto o cap,iêlismo
busca apcnâs lucro e rentabilidade... por isso sou meio budisiâ, meio
Dralxlsia'. Eu digor "Vocé é neio meniiroso e mcio idiot.r, isso é que
vocô é1".
Por quê? É simples: conheço o n1â ismo e conheço toda a filosofia
do liberâl-capitalismo. Sei que csiâ úliima é toda baseada em prin-
cípios nrorais. Àdam Smiih, aúes dc A iqueza tlas naÇões, está lá
ÍIâbalhando a Teoria dos senlifie Íos moruis. e assim por diante.a Ele
leln essa preocupaçâo, IGnt tem essâ preocupâçáo, Iohn Locke tem
cssa prcocupaçâo, todos eles. E enl I{arl Marr náo exisie preocupaçáo
moral de espécie alguma, ao conirário: elc nega a substancialidade dos
princípios moÍais dizendo que eles sâo apenas aspectos ideológicos
supereslruturais à economia. Dito de outro modo: pâÍa MaIx, moral
é apcnas legitinaçâo ideológicâ da economia. seja a escravisla, seia a
leudal, a capiialista ou a socialista.
Isto significa que, ou o Dalai Lâmê está lãlando sobre coisas quc
ignora totalmente - c ele náo tem nenhum direito de fazer isso. entáo
é um irrcsponsável, um idiota , ou eÍá mentindo conscientemente.
' 'O Dalâil]âma rd€'r''. O C/ràd,14jun 200J
r Àiam Slrrr.Á,iqre2, dal

Continue navegando