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Mediação Arte Público Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Débora Rosa da Silva Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo 5 • Introdução • Ação mediadora – Possibilidade de interação e diálogo • Planejando percursos, encontrando companhias • Pensando roteiros, desenhando percursos • Professor Curador/ Curadoria para além das narrativas • Nutrição Estética, alimento para a alma · Permitir o desenvolvimento de habilidades que possibilitem ações que estimulem a composição de currículo baseado em experiências significativas para Arte e Educação, ciente da importância de se ter um currículo alimentado por diferentes pesquisas, um currículo contemplado por estudos de práticas artísticas compromissadas com ações pedagógicas conscientes de suas responsabilidades políticas e sociais; · Ampliação do repertório cultural e acadêmico, para desenvolvimento da ação mediadora; · Provocar a consciência do comprometimento do professor de Arte em ter como facilitador da construção de seu planejamento a busca por formar parcerias com outros professores que queiram desenvolver uma prática educativa cooperativa com os objetivos comuns. Boa leitura! Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta Unidade, sugiro que ao ler o texto você vá formando um glossário, com as palavras consideradas por você constantes no estudo sobre mediação. E anote os significados que você agora considera o sentido daquela palavra. Por exemplo: a palavra Propositor. O que vem em mente quando você lê esta palavra em uma frase? Qual o seu significado? Faz relações com alguma situação? Ela lembra outra palavra? Faça estas ou outras considerações acerca da palavra. Seu glossário poderá tomar formas inesperadas. Bom estudo! Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo 6 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Contextualização Para a contextualização desta unidade, sugiro que assista ao vídeo disponível em: Visita à bienal EJA Mundo do Trabalho 1 https://www.youtube.com/watch?v=aYBVk-zRpKI É o registro audiovisual da visita de dois alunos à 30ª Bienal de São Paulo, com o educador e artista Evandro Nicolau. Oportunidade intensa de presenciarmos a ação mediadora, por um educador sensível e consciente da responsabilidade da ação mediadora. Importante saber que o curador desta exposição foi Luiz Perez Oramas, inspirado na pesquisa e trabalho de Aby Warburg, entre outras referências. Ao assistir, fique atento(a) às obras que o educador escolheu para conversar com seus alunos e reflita sobre o que o teria levado a optar por estas entre dezenas de obras. Dica: vá anotando questões que inquietam você. Assim, poderá levá- las para a sequência dos estudos desta Unidade. 7 Introdução Nesta Unidade, iremos nos debruçar em estudos que podem servir de inspiração para nosso trabalho como professor/educador propositor. Ações que nos estimulem a nos compor, baseados em experiências significativas para Arte e Educação. E esta composição acontece quando estamos cientes da importância de termos um currículo alimentado por diferentes pesquisas, um currículo contemplado por estudos de práticas artísticas compromissadas com ações pedagógicas conscientes de suas responsabilidades políticas e sociais: “Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo, quanto negar o caráter educativo do ato político” (FREIRE, 2011, p.34). E nos fortalecer sobre como é importante buscar para nosso currículo de professor/educador a ampliação do repertório cultural e acadêmico, para desenvolvermos a ação mediadora. Nesta Unidade, percorreremos um trajeto que exige de nós muita, muita curiosidade, para percebermos as delicadezas que iremos encontrar. Ação Mediadora – Possibilidade de interação e diálogo A ação mediadora é norteadora desses trajetos, percursos que serão contemplados também por momentos de deriva, que serão os respiros, momentos em que será necessário parar para pensar, parar para digerir o aprendido. Os momentos de deriva podem significar ao professor/educador em estudos a hora em que ele achar necessário, após ou durante a leitura, parar para pensar sobre o lido, parar e refletir sobre o proposto e depois retomar ainda com mais disposição. Esses momentos podem ser muito significativos. Às vezes, uma frase que lemos nos suspende e senão prestarmos atenção, podemos não perceber que o que podemos chamar de suspensão é uma provocação aos nossos pensamentos. É preciso estar atento a estes acontecimentos durante a leitura. A ação mediadora é composta principalmente pelo diálogo. O diálogo é deflagrado pela interpretação que cada um faz sobre determinada coisa, na qual a crítica incide em apontamentos de pontos de vista e que depende da análise que cada um faz dos fatos, para estruturar as bases do diálogo. A leitura de uma imagem pode ter muitas interpretações, muitos pontos de vista para a mesma imagem e não poderá ser considerada certa ou errada. Para toda ação mediadora alcançar êxito, é necessário que o educador ou professor esteja de fato atento aos seus alunos/públicos, seja na escola ou no museu. 8 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo E para que a prática mediadora estimule a todos, a aprendizagem acontece em conjunto, pois por mais que o professor/educador saiba previamente, é importante que esteja aberto a aprender com seus alunos/públicos, com o que eles trazem de suas experiências e vivências: A mediação é, então, um processo de acompanhamento semiótico e de inter-relação semiótica necessário que intervém em cada ocasião de fabricação dos signos. A mediação da qual falamos neste capítulo não é senão um tipo particular da mediação semiótica elementar. O mediador (dispositivo, máquina ou humano), como um intérprete, insinua-se no processo semiótico elementar para lhe inserir os interpretantes destinados a facilitar, desenvolver, efetivar, enriquecer, ampliar e mesmo questionar o processo interpretativo. DARRAS, B. In BARBOSA. A. M. Arte/Educação como mediação Cultural e Social. São Paulo: UNESP, 2009, p.36. Glossário A semiótica provém da raiz grega ‘semeion’, que denota signo. Assim, desta mesma fonte, temos ‘semeiotiké’, ‘a arte dos sinais’. Esta esfera do conhecimento existe há um longo tempo e revela as formas como o indivíduo dá significado a tudo que o cerca. Ela é, portanto, a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de significado. Neste sentido, define a semiose. Ela lida com os conceitos, as ideias, estuda como estes mecanismos de significação se processam natural e culturalmente. Ao contrário da Linguística, a Semiótica não reduz suas pesquisas ao campo verbal, expandindo-o para qualquer sistema de signos – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros. Por Ana Lucia Santana No primeiro parágrafo, Darras nos propõe refletir sobre a mediação como um processo de acompanhamento semiótico e de inter-relação semiótica necessário, que intervém em cada ocasião de fabricação dos signos. Apresentando a importância da atitude do professor/educador de estar atento às expressões de cada integrante, acolhendo e disparando maneiras de desdobramentos para os relatos, interpretações que cada pessoa faz para determinado signo. Quando dizemos que vamos acompanhar alguém, estamos dizendo que iremos juntos a determinado lugar, não é mesmo? Este é um sentido de maior importância para a medição, a consciência de estar num conjunto, unidos neste percurso, mesmo que cada participante seguirá seu próprio ritmo. Entretanto, o educador/professor, em ação mediadora, tem a responsabilidade de organizar, provocar, estimular o diálogo, tendo em vista um objetivo pré-estabelecido, planejado, estudado, pesquisado, porém sempre aberto a desvios. O desvios podem ser acontecimentos, falas e caminhosnão esperados. 9 Figura 1 – Pablo Picasso. A pomba. 1961 Este desenho, representação de uma pomba, é considerado um signo, de acordo com nossos estudos. E este signo, convida você a pensar, a fazer relações com quais temas? A Pomba, de uma série de gravuras dedicada aos pássaros, foi utilizada em um cartaz do Congresso pela Paz em Paris, e a partir de então tornou-se um símbolo universal. Por exemplo: planejo em meu Plano de Aula abordar questões de conflito, trazer o tema da paz e apresento um trabalho/obra que tem a representação de uma pomba, imaginando, prevendo em algum momento conversar sobre a paz, mas meu público/alunos não o percebe desta forma, pensa em ave, na contaminação que as aves podem causar, na sujeira que elas fazem, nos ratos voadores (como muitos pensam), entendimentos construídos a partir de seus repertórios e não reconhecem neste signo o significado de paz. Esse pode ser um desvio para meu planejamento. Então, devo acolher os significados, desdobrar o tema, acolher diferentes repertórios e também apresentar o planejado, mostrar o quanto outras culturas o identificam de outras maneiras. Somando as interpretações, nunca as impondo: Mediar é, portanto, propiciar espaços de recriação da obra. Para isso, é preciso acreditar no ser humano, ter confiança de que a semente poderá render frutos. Implica acreditar no aprendiz e, por isso, dar crédito à sua voz, desejos e produção, e em encontrar brechas de acesso para a percepção criadora e a imaginação especulante, para ampliar e instigar infinitas combinações, como um caleidoscópio . (MARTINS; PICOSQUE, 2012, p.18). 10 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Planejando percursos, encontrando companhias Figura 2 – Levi Van Veluw – Family, 2012 Planejamento: vamos nos aprofundar um pouco mais neste tema! O professor/educador, em sua prática educativa, seja na educação formal ou não formal precisa desenvolver seu planejamento, com ele estabelecerá tudo que pretende trabalhar durante seu tempo de permanência com seu público, seja com alunos na escola e suas especificidades do ensino formal, seja como educador em instituições culturais ou ONGs. O planejamento deve ser compartilhado com outros professores, o momento de compor o planejamento pode ser a hora do encontro com seus pares, professores de outras Disciplinas que pensam a prática educativa compromissada com o ensino reflexivo e criativo e também buscam parceiros para trabalhar em conjunto, desenvolvendo projetos coletivos. O planejamento necessita de um objetivo, que precisa ser compreendido e conhecido para fazer sentido ao professor/educador. É bom perguntar-se: Qual é meu objetivo com esta ação? Quais são meus objetivos pedagógicos? E se abrirá um mundo de indagações e reflexões sobre nossas cabeças. Muitas vezes, as respostas, sugestões de caminhos e conceitos que se conectarão estarão na possibilidade de compartilhar com seus parceiros de trabalho. Momento de o professor/educador compartilhar seus anseios com seus colegas. Conhecer, participar, desenhar juntos “O projeto político pedagógico da instituição”. O conceito, o objetivo pedagógico poderá trazer ao professor/educador bases de criação, para propor um planejamento compartilhado com outras áreas do conhecimento; ação que poderá contribuir com todos os envolvidos. 11 Os projetos pedagógicos constituídos em parcerias com outras Disciplinas fortalecem a ideia de seres múltiplos de saberes e quanto mais uma Disciplina se comunicar com a outra, mais aprenderemos sobre elas, não há área distante da Arte. E a ação mediadora é uma fiel aliada para construção de uma relação respeitosa, solidária e criativa com todas as áreas de conhecimento, na escola ou instituição cultural. Assim que iniciar seu trabalho como professor/educador, seja em uma escola ou em uma instituição cultural, preocupe-se em compartilhar suas dúvidas, mas também suas vontades, seus planos e objetivos com o ensino de Arte, deste modo compreenderemos que a ação mediadora não pode ser uma ação isolada e sim uma atitude diária em todas as instâncias. Práticas ultrapassadas, que infelizmente ainda existem em algumas instituições, em que o professor de Arte é apenas solicitado nas datas festivas, além de inaceitáveis, tomarão outras proporções. É a atitude de cada professor de Arte, desenvolvendo a ação mediadora desde o planejamento pedagógico em consonância com outras Disciplinas que poderá contribuir para mudarmos atitudes ultrapassadas e indesejadas por nós. No caso das instituições culturais, o educador também deve buscar seus pares, compartilhando abordagens, pesquisas e seus roteiros. Para uma visita educativa, encontros com visitantes em que será responsável por acompanhá- los por um percurso em uma exposição. Este planejamento é chamado de roteiro, na maioria das instituições. E neste roteiro há a necessidade de se aplicar os mesmos princípios do planejamento do professor no ensino formal, compreender o projeto pedagógico geral para compor o seu planejamento e pontualmente seu roteiro. 12 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Pensando roteiros, desenhando percursos Num dos formatos mais praticados, tanto no ensino formal quanto no ensino não formal, o roteiro/plano de aula é baseado em referências metodológicas acadêmicas. No Brasil, na maioria das instituições utilizam as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O roteiro/plano de aula deve ser planificado por escrito, antes de ser aplicado. Desta forma, o professor/educador desenvolverá procedimentos mais seguros, o ato da escrita possibilita prever e identificar possíveis fragilidades e identificá-las antes de serem vivenciadas, podendo nos liberar de situações constrangedoras, tais como: não prever que seu público será de crianças e defini-lo com foco para um perfil de adultos ou não prever quanto tempo cada etapa necessitará e por isso não passar por uma delas. Não procurar saber, se no grupo de alunos em uma escola ou em uma instituição cultural há pessoa com deficiência – essa omissão poderá acarretar esvaziamento da ação mediadora, porque você pode não saber como acolhê-la e, se souber antes, poderá inserir ações coerentes para envolvê-la. Acompanhe as sugestões a seguir. 1 - Objetivo(s) educacional(is) da visita/aula Definir o objetivo é como definir o porquê de ir se encontrar com determinado grupo; definir uma linha de raciocínio que irá compor-se como uma linha, um fio condutor que alinhava de forma contínua uma abordagem; um tema que permeará todo o processo; 2 - Tempo total de duração da visita/aula Estruturar por etapas pode contribuir para a administração do tempo; 3 - Público Perfil/ faixa etária – preparar-se de acordo com cada faixa etária é de suma importância e relevância; pesquisar e planejar para cada foco de interesse e linguagem; prestar atenção para não julgar de forma negativa cada perfil; 4 - Momentos da visita/aula a) Acolhimento – momento de olhar para sua turma, saber quem são eles, quais são suas expectativas, suas escolhas. Neste momento de estabelecer uma conversa, ações que podem ser disparadas por vivências lúdicas e descontraídas, pode ser o momento em que o professor/educador pense formas de se conectar à realidade destas pessoas; b) Desenvolvimento – hora do percurso pela exposição ou da projeção em sala de aula das imagens escolhidas, ou momento de interagir com algo propositado pelo professor/educador. Este é o momento da ação mediadora com as escolhas do professor/educador, sua curadoria. Qual imagem ou obra tridimensional passará ou mostrará primeiro sua sequência, que constituirá uma narrativa.; 13 c) Finalização/conclusão – momento de costurar a visita com o objetivo proposto para o encontro, de levantar com a turma, suas impressões. Não se gostou ou não gostou, mas de suscitar impressões do todo. Lembrar o todo vivido neste percurso e construir coletivamente o quesignificou individualmente e coletivamente o encontro. 4 - Materiais necessários para o desenvolvimento do roteiro Preparar antecipadamente tudo que irá necessitar para sua ação é imprescindível; 5 - Administrar o tempo Dividi-lo e respeitar sua previsão fará toda a diferença para não ser pego de surpresa com o término abrupto de seu roteiro. Professor Curador/ Curadoria para além das narrativas A curadoria é hoje uma profissão de grande importância, nas Artes Visuais e em outras áreas. Na Educação e espaços culturais, diria que são imprescindíveis. O curador é aquele que organiza, planeja e compõe conceitualmente uma ação expográfica ou educativa. Define sozinho ou em equipe quais serão as obras e artistas que irão compor uma exposição e a curadoria educativa define conceitos, premissas e as abordagens bibliográficas que serão norteadoras das ações educativas. A curadoria também é um conceito apropriado por todos, praticado, vivenciado e experienciado por qualquer pessoa que, de forma consciente, aproprie-se deste conceito e aplique em suas escolhas. Claro que é importante dar as devidas proporções. Entretanto, é bom compreendermos que pode ser uma prática experienciada por todos nós. Você já foi à uma exposição? Seja de pintura, gravura, escultura ou fotografia? Você percebeu algum motivo para uma obra estar do lado da outra? Reparou se a ordem da composição do todo, em seu conjunto, tinha o que chamamos de fio condutor? E pensando na aula de arte, quando o professor apresenta imagens, sua sequência deixa algum vestígio da narrativa escolhida por ele? Nesta Unidade, vamos ampliar nosso entendimento sobre o conceito de professor/educador como curador de suas escolhas, de seu planejamento. Para isso, vamos conversar sobre uma referência considerada pai daquilo que podemos entender por curadoria de imagens. O professor de Arte, em sala de aula, precisa fazer uso de imagens, seja por projeções ou impressões, ele precisa mostrar a seus alunos imagens da Arte e do cotidiano para dialogar e disparar impressões sobre o modo, a forma, os materiais e suas possibilidades, relacionar-se com o mundo e suas produções e vestígios artísticos e culturais. E como são compostas essas escolhas? Vamos imaginar que as imagens serão escolhidas de um álbum de família e que você escolherá um número limitado de fotografias para contar sobre você. Essa escolha partirá do que você deseja contar; esse será seu fio condutor, a parte de sua vida que escolheu contar e como contar. 14 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Mas como cada signo da imagem vai chamando para outro assunto, você irá ficar bem atento para perceber o quê em uma foto faz conexão com a outra, não é mesmo? Essa é uma compreensão de curadoria. E o chamaremos de professor curador: Aby Warburg (1866/ 1929), historiador das artes e antropologia, nascido em Hamburgo, compôs uma pesquisa que chamou de Atlas de Imagens, segundo ele, uma “história da arte sem palavras”. Em 79 painéis, de fundo preto, reunindo aproximadamente 900 imagens (principalmente fotografias em P&B) Warburg agrupava por ordem da “lei da boa vizinhança” (entre saberes)” SAMAIN 2012 (pág52). Aqui seguem duas destas pranchas ou painéis. E pode ser um método de composição de curadoria muito eficiente para o educador no espaço expositivo e para o professor de Arte em sala de aula. Warburg, um homem para além de seu tempo, compôs também uma biblioteca com mais de 70mil livros, organizados sobre este mesmo critério, “a boa vizinhança”. Nestas pranchas, ele juntou imagens a partir das conexões que um assunto abria com outro, não só da Arte, mas também recortes de jornal, fotografias pessoais e imagens do cotidiano. Como nosso pensamento, ao vermos uma imagem, vamos abrindo conexões a partir de nossas vivências e experiências, quando um assunto vai chamando outro, a partir de guardados da memória. Figura 3 – Aby Warburg. Bilderatlas Mnemosyne, prancha 46, 1927-29 Figura 4 – Aby Warburg. Bilderatlas Mnemosyne, prancha 42, 1927-29 15 Para este pensamento, em rede ou complexo, como é chamado na Filosofia, nas Artes Visuais afetada também pela Filosofia, vamos conversar sobre o “pensamento rizomático”: Rizoma: termo que vem da botânica. Um tipo de caule. Um tipo de comportamento de caule: que se espalha em diversas direções, mergulhando no solo, e voltando à superfície, podendo ser aéreo, formar nódulos, bifurcar, trifurcar, multifurcar. Deleuze e Guattari o tomam emprestado para opor à noção estrutural de árvore, verticalizada. (MARTINS; PICOSQUE, 2012, p.124) Figura 5 Vamos voltar um pouquinho! Como um caule que ora mergulha no chão e depois segue para a superfície ou bifurcando! Estávamos falando do professor de Arte que faz a escolha do que irá apresentar à sua turma, o que chamamos de curadoria, depois que a curadoria é pensada, a partir de um conceito, sobre o que o professor pretende abordar com essa escolha e que o conjunto, a composição destas escolhas formam uma narrativa do que ele quer “contar” para sua turma. E nesta etapa nos aproximamos de Aby Warburg que, em 1929, utilizava pranchas, fixando imagens diversas, compondo uma curadoria, o que podemos chamar de pensamento rizomático. Outro conceito do qual nos aproximamos para falar do pensamento em conexões foi que um assunto, ao passo que vamos nos aproximando dele, seus detalhes chamam outros assuntos e assim sucessivamente. 16 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Figura 6 Este mapa nos possibilita visualizar como podemos e somos disparados a nos conectar a diferentes assuntos e perspectivas de pensamentos. Entretanto, é importante que o olhemos atentamente até perceber que igual à foto do sistema neural, o mapeamento de Mirian Celeste e Gisa Picosque não indicam entrada ou saída. Segundo Deleuze e Guattar, “O mapa não reproduz um inconsciente fechado sobre ele mesmo, ele o constrói. Ele faz parte do rizoma. O mapa é aberto é conectável em todas as suas dimensões constantemente” (p.30). O fato de compreendermos nossa ação mediadora suscetível a idas e vindas, certamente não nos leva a compor, a desenvolver um planejamento rígido o bastante, que não suporte alterações, mudanças e desvios. Caso fosse assim, o conceito de rizoma não seria possível de ser vivenciado. Concorda? Isso não quer dizer que será jogado, sem diretrizes, mas sim, que será aberto a abarcar, acolher o que as pessoas, sejam adultos, sejam crianças, trazem para o diálogo. Este pensamento acontece a partir do momento em que um assunto chama outro assunto. De forma que tudo se conecta, não materialmente, mas pelos sentido que as coisas tem. Você diria que sabe aprender? Nesta Unidade, sua expectativa de aprender é para poder ensinar? Espero que neste percurso saibamos aprender, mas aprender também a aprender com nossos alunos nas salas de aula ou nos espaços públicos expositivos e culturais. A dimensão da Arte nos convoca a muitas reflexões sobre nosso papel como professor/ educador. Se entendemos a Arte como práticas do homem de produzir vestígios para expressar suas vontades, esperanças, modos, percursos, sentimentos, entendimentos etc. precisamos nos colocar sempre na condição de aprendiz. E no caso da mediação cultural, a ação mediadora precisa estar em sintonia com os saberes pertencentes ao coletivo do qual fazemos parte. 17 Por isso práticas de fazer juntos para aprendermos juntos podem ser parte desta ação. Na composição do roteiro, a prática de aprender junto pode fazer parte do acolhimento, do desenvolvimento ou do fechamento. Claro, sempre objetivando ações que conversem, que façam sentido com a proposta curatorial, que façam sentido com as imagens apresentadas pelo professor ou com a exposição ou ação cultural. Por exemplo: o professor de uma turma de crianças separou obras que trouxessem imagens de brincadeiras que só precisassem do corpo, mais nada. Em seu objetivo pedagógico, queria chamaratenção para a necessidade das crianças deste tempo, em determinada condição social, brincam com algo comprado, sua felicidade depende da tecnologia. E para acolher a turma de estudantes, riscou um jogo de amarelinha no chão. E o professor, por mais que soubesse na infância jogar, precisava de uma forcinha da turma para dar conta de tanto pulo. Esta é uma forma de aprender e dialogar. Aprender com o corpo também pode ser muito divertido e potente para estabelecer a comunicação com o outro. A nutrição estética fará todo sentido para as práticas educativas para o ensino de arte e a ação mediadora. 18 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Nutrição Estética, alimento para a alma “A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte” (Comida – Titãs. Compositor: Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer) As experiências e vivências do cotidiano e no cotidiano, todas as vivências e experiências também da imaginação nos compõem como seres de experiências singulares. Tudo que vivenciamos marcam nossa memória como um todo, deixando rastros e vestígios que aos poucos vão construindo e nos constituindo, tornando-nos o que somos. Partindo desta ideia, de ser um ser em formação, nossa pauta agora é, então, firmarmos nossa compreensão da importância da nutrição estética por todo nosso percurso, por toda a vida. E o que queremos que nos marque? Você se lembra de uma imagem que guarda desde criança? Uma imagem, cheiro, textura, som ou gosto de qualquer coisa que ainda hoje lhe vem à memória? Podendo ser real ou imaginada. Esta experiência entendemos como experiência estética, o vivido ou imaginado, responsável por você ter guardado até hoje na memória. E se da experiência nos aproximamos da estética? Agora, vamos nos certificar do quanto ela está presente em nosso dia a dia. Você já reparou em sua cidade sua presença escrita em salões de beleza? Em diferentes procedimentos cirúrgicos? Em anúncios que faziam referência a padrões de beleza? A palavra estética, na maioria das vezes, está associada à beleza. E falando em beleza, quais são seus critérios para definir o que é belo e o que é feio? Está vinculado aos padrões de beleza estabelecidos por quem? Toda sociedade tem padrões de beleza estabelecidos por sua cultura, por seus costumes, por suas crenças. Palavras carregam em si significados que nos permitem muitas interpretações e algumas são impregnadas de sentidos que em nosso senso comum compõem nossa cultura e ao passar dos tempos elas permanecem. A palavra estética foi empregada para se referir às artes, pela primeira vez, por volta de 1750 e o seu senso inicial referia-se ao estudo das obras de Arte. E seu emprego vem se ampliando, constituído como área da Filosofia. Neste nosso percurso, na composição por experiência estética, nosso foco é a compreesão daquilo que nos toca por sua composição, visual e sensorial. Como aquilo que lembrou, que carrega em sua memória desde criança, seja por sua visualidade ou sensorialidade. 19 E para o futuro? Quais serão as experiências estéticas que quer levar para suas aulas? Será de suma importância ir pensando a respeito. Hoje, temos um veículo precioso, que é a internet, mas explorar outras possibilidades será imprescíndivel. Considerar as coisas mais simples e mais próximas, será muito potente para a compreensão de significados muito perto de nós, que por vezes moram em nós. Se explorarmos o sentido de estética, poderemos, na vivêcia diária, passar a enchergar diferente o que vemos diariamente. Como questionar por quê sempre consideravámos tal coisa feia. Por quê é feia? Baseados em quais critérios a consideramos feia? E esses critérios, como foram legitimados? Por quem? E quando? Sob quais circunstâncias históricas, sociais e políticas foram formadas? E o bonito? Vamos buscar significados para além de bonito e feio. E para além do cotidiano, procurar buscar frequentar equipamentos culturais diversos. E, se possível, de todas as linguagens. Linguagens contempladas pelo teatro, cinema, dança e as artes visuais. Nosso desafio para o futuro é lidarmos com as linguagens em todas as suas instâncias. Durante a ação mediadora, somos pegos e convidados a interagir com a linguagem humana que, sua complexidade, comunica-se de diferentes maneiras. Já reparou como uma criança entre 5 e 6 anos se mexe ao mesmo tempo que tenta expressar oralmente sua ideia? Sim, seu corpo está se comunicando antes de sua fala. É incrível como vamos perdendo tal expressão quando vamos crescendo. E o jovem que dissimula uma conversa, quando sua expressão não corresponde ao que está falando. Já reparou? A linguagem do teatro, da personagem que escolhe ser ou experimenta ser, vai compondo sua expressão corporal. Neste caso, o teatro pode ser um ótimo veículo de ampliar a comunicação. Ah, e a música? Como essa linguagem une a todos. Mesmo que por diferentes gostos. Que tal levantarmos com a turma como estes gostos são compostos? Por quê tal estética sonora é mais apreciada? Como professores/educadores, temos a responsabilidade de ampliar o leque de escolhas e fazê-lo para si será então uma tarefa necessária, apropriando-se das poesias, da linguagem escrita posta em versos. A nutrição estética nos permitirá estar mais ricos de experiências e vivências, que poderemos incluir em nosso planejamento, diversificando roteiros e ampliando repertórios. 20 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Material Complementar Em nosso material didático, fomos convidados a buscar companhias, professores de Arte e de outras Disciplinas para compormos nosso planejamento. Conhecer experiências educativas faz parte de nossa nutrição estética. Neste caso, poderemos ser pegos por conexões que poderemos estabelecer com nosso trabalho como professores de Arte. Vídeos: Este vídeo poderá contribuir para construirmos melhor a ideia de um trabalho conectado com outras Disciplinas: https://www.youtube.com/watch?v=-Cg_ULHeoXU. O vídeo a seguir traz importantíssima experiência nascida na Itália e possibilitará a compreensão de conteúdos tecidos em nosso material teórico. Compartilhe com seus amigos! Certamente pode render boas conversas: https://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4 Sites: Esta é uma entrevista com Etienne Samain, autor do livro “Como pensam as imagens”, citado em nosso texto. Ele nos convida, em poucas palavras, a uma imersão surpreendente nas reflexões sobre imagem e também traduz a dimensão da pesquisa de Aby Warburg: http://www.unicamp.br/unicamp/ju/550/muito-alem-da-ilustracao. E também recomendo um texto sobre a obra de Aby Warburg, que poderá ampliar a dimensão do papel do professor/educador como curador das imagens que seleciona para sua turma, disponível em: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/05/18/a-arte-de-warburg-497082.asp Leituras: Pensando em como estruturar seu plano de aula, nesta publicação você terá acesso a um modelo muito próximo do sugerido em nosso texto teórico, além de trazer importantes reflexões sobre ação mediadora: http://www.institutovotorantim.org.br/shared/pdf/que-publico-e-esse.pdf. 21 Referências Básica BARBOSA, A. M. Arte-Educação: Leituras no Subsolo. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2001. BARBOSA, A. M.; COUTINHO, R. G. Arte/Educação Como Mediação Cultural e Social. v. 1. São Paulo: Unesp, 2009. Complementar DEWEY, J. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G. Mediação Cultural para Professores Andarilhos na Cultura. São Paulo: Intermeios, 2012. MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G; e GUERRA, M.T.T. Teoria e Prática do Ensino da Arte – A Língua do Mundo. São Paulo:FTD, 2010. PILLAR, A. D. (org.). A Educação do Olhar no Ensino das Artes. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2001. SAMAIN, E. (org.) Como pensam as imagens. São Paulo: Unicamp, 2012. 22 Unidade: Ação Mediadora no Âmbito Escolar Expositivo Fontes das imagens Figura 01 – educacaopublica.rj.gov.br Figura02 – levivanveluw.com Figura 03 – studium.iar.unicamp.br, artecapital.net Figura 04 – iStock/Getty Images 23 Anotações
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