Buscar

Crescimento com distribuição de renda e justiça social (Perfil - Celso Furtado)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Perfil - Celso Furtado
2009 . Ano 6 . Edição 53 - 3/08/2009
Crescimento com distribuição de renda e justiça social
Por Pedro Barreto, de Brasília
Celso Furtado foi um dos mais importantes e influentes intelectuais da
nossa história. Autor de dezenas de livros, ensaios e teses, contribuiu de
forma decisiva para a interpretação das barreiras ao desenvolvimento no
Brasil e na América Latina. Adepto do intervencionismo keynesiano, uma
de suas obras, Formação Econômica do Brasil, é considerada até os dias
de hoje peça-chave para a análise socio-econômica brasileira
Celso Furtado se destacou como um dos primeiros autores no pós-guerra
a tratar a realidade latino-americana a partir de suas especifi dades
sociais e econômicas. Ele enxergava o fenômeno do subdesenvolvimento
não como uma etapa inevitável para a constituição das economias
capitalistas, mas como um processo histórico autônomo, espécie de
deformação dessa dinâmica. Tratava-se de uma nova abordagem do sistema centro-periferia, que
propunha saídas em busca de um outro patamar de distribuição de renda e justiça social.
Em suas obras nos anos 1950, ele expunha que os países da América Latina encararam um processo
de industrialização indireto, herança do passado colonial e da industrialização já avançada das nações
europeias e dos Estados Unidos. Isso levou a uma baixa diversificação produtiva, que, acentuada pela
grande oferta de mão-deobra, não seria alterada caso a região ficasse à mercê das leis de mercado.
Caberia, então, ao Estado conduzir um planejamento que permitisse a transição da economia
agroexportadora para a industrial.
O atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, descreveu a obra de Furtado como a 'passagem do
pensamento econômico brasileiro da pré-história para a história'. "Anteriormente, já haviam sido
produzidos trabalhos importantes, nessa área de conhecimento (...), mas nenhum deles conseguiu
definir um método analítico e amarrar com tanta pertinência os determinantes da dinâmica econômica
brasileira".
História - Nascido em 1920, em Pombal, Paraíba, Celso Furtado graduou-se em Ciências Jurídicas e
Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1944. Nesse mesmo ano, integrou a Força
Expedicionária Brasileira (FEB), em missão na Itália. Dois anos depois, iniciou doutorado em Economia
na Universidade de Paris, França. Sua tese foi sobre a economia brasileira no período colonial.
De volta ao Brasil, retoma os trabalhos no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e
junta-se ao quadro de economistas da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 1949, passa a viver em
Santiago, Chile, integrando a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). Pouco
depois, seria nomeado diretor da Divisão de Desenvolvimento do órgão, e cumpriria missões em vários
países como Argentina, Equador, Peru, Venezuela e México.
Na década de 1950, Celso Furtado daria início aos ensaios e artigos sobre análises econômicas.
Formação de Capital e Desenvolvimento Econômico seria o primeiro de circulação internacional,
traduzido pela Associação Internacional de Economia. Em 1953, ele viria a presidir o grupo, formado
pela Cepal e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), que tinha o objetivo de elaborar estudo
sobre a economia brasileira. O relatório final do trabalho, editado em 1955, teve grande importância
no governo de Juscelino Kubitschek: foi a base para o Plano de Metas, que impulsionaria o
desenvolvimento do país nos anos seguintes.
Em 1959, ele trabalha no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e elabora para o
governo federal o estudo Uma Política de Desenvolvimento para o Nordeste, que daria origem à
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Nesse mesmo ano, Furtado lança aquela
que é considerada sua obra mais preciosa e influente: Formação Econômica do Brasil. Ela descreve a
evolução da economia do país por meio da estrutura de produção de cada período da nossa história, se
detendo no raciocínio sobre as medidas que deveriam ser tomadas para que o Brasil consolidasse uma
economia capitalista industrial.
Curiosamente, o livro não foi escrito no país. Furtado pediu licença da Cepal e foi para Cambridge, na
Inglaterra, aprofundar seus conhecimentos sobre autores e teorias da comunidade acadêmica
europeia. "Formação Econômica do Brasil é tido como o primeiro livro de economia escrito no país.
Traz um método de investigação original, que permitiu entender o Brasil inserido nas economias
desenvolvidas e abriu caminho para discussões que tinham como grande objetivo a distribuição de
renda dentro do país", afirma Mauro Boianovsky, professor titular do departamento de Economia da
Universidade de Brasília (UnB).
A contribuição de Celso Furtado também foi destacada nos governos de Jânio Quadros e João Goulart,
de quem foi ministro do Planejamento. Após o golpe militar de 1964, exilou-se no Chile e, mais tarde,
nos Estados Unidos e na França. Ingressou nos quadros da Universidade de Paris, onde ficou por 20
anos. Na década de 70, viajou pelo mundo como professor das Nações Unidas. Retornou ao Brasil em
1979 e, dois anos depois, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em 1985,
foi nomeado embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia, e se muda para Bruxelas,
Bélgica.
Celso Furtado foi ministro da Cultura do governo José Sarney, de 1986 a 1988, e um dos responsáveis
pela primeira lei de incentivos fiscais à cultura. Paralelamente, a vida acadêmica continuava, com
participação em encontros e comissões internacionais. Entre 1993 e 1995, foi um dos 12 membros da
Comissão Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento, da ONU/Unesco. Dois anos mais tarde, foi
eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 2003, foi indicado ao Prêmio Nobel de Economia.
Faleceu em 2004, no Rio de Janeiro.

Continue navegando