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Universidade de Brasília – UnB / Instituto de letras – IL / TEL Disciplina: Modernismo Turma: A Profº.: Milton Colonetti Aluna: Isabelle C. Moreira de Jesus Matrícula:16/0125731 Ensaio - Módulo 1 O movimento Modernista brasileiro foi provedor de significativas contribuições para a nossa literatura e cultura, sua influência na formação de um novo conceito de nacionalidade, buscou a partir de uma revisão crítica do período colonial e da valorização dos elementos da cultura arcaica, a afirmação da identidade do país. Alfredo Bosi, em seus “Pressupostos Históricos”, busca ressaltar o reflexo de um momento histórico para a corrente literária, citando acontecimentos econômicos, políticos e sociais, bem como suas relações com a produção artística e literária. Ele faz com que os leitores, criassem um senso crítico através da leitura e análise de obras literárias que ressaltaram na formação social, econômica, política e cultural da geração modernista. A grande necessidade de mudanças teve influências externas vindas do modelo europeu e influências internas geradas pelas mudanças políticas e econômicas do início do século. O crescente ritmo de industrialização por que o país passava, sobretudo, a cidade de São Paulo que foi um marco junto as novidades culturais que chegavam ao Brasil pelo Rio de janeiro. Nas duas primeiras décadas do século XX, começa a formar-se uma nova consciência da realidade nacional, e novas manifestações artísticas, estéticas, ajudarão a compor o modernista, segundo Alfredo Bosi, "a Semana de Arte Moderna foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das várias tendências que desde a I Guerra vinham se firmando em São Paulo e no Rio, e a plataforma que permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e manifestos, numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural 1 ”. O movimento modernista, iniciado efetivamente em 1922, foi o palco de intensas transformações no cenário cultural brasileiro, fundamentado numa proposta de ruptura com o academicismo e com as proposições artísticas e temáticas precedentes. Este rompimento começou a se configurar já na abertura da Semana de Arte Moderna. O movimento apresentou 1 BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32. ed. São Paulo: Cultrix, 1994. diferentes facetas naquela semana. Não se pode caracterizá-lo de maneira única, na medida em que havia grupos opostos que tentavam definir a arte moderna. Inspirados em Paris, que era o centro cultural da Europa e por isso tanto fascinava artistas e escritores de todo o mundo, influenciando-os. Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, exemplos dessas importações, trouxeram para o Brasil estas tendências. Destaco o autor e grande influenciador Oswald de Andrade, um dos idealizadores da Semana de 22, não escondia o sua admiração pela Europa, lá ele teve contato com as vanguardas que, importadas num gesto “antropofágico”, mudaram os rumos da nossa literatura, música e arte. Em seus escritos traz a crítica das qualidades do outro para nutrir e aprimorar a cultura nacional brasileira, transformando o que era tabu em símbolo de admiração. Sem se afastar das raízes nacionais e, sobretudo, incitando a libertação da cultura europeia presente em nosso passado, lançou em 1924 o Manifesto da poesia Pau-Brasil. Ansiando por uma nova perspectiva, utiliza-se de uma linguagem satirizada para exemplificar uma visão crítica do período colonial, propondo outra evolução histórica, na qual, o índio dominaria o português e o nosso símbolo de exportação, o pau-brasil será o nosso mais valioso produto no período colonial. O manifesto de fundo nacionalista pregava “a língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos” 2 . Esta valorização do “erro” foi uma maneira de chamar atenção à realidade sociocultural brasileira, a ruptura da linguagem tem a ver com a ruptura da mentalidade, pois se os artistas modernos valorizassem a língua natural estaria dando voz própria ao homem brasileiro, enfatizando a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo para redescobrir o Brasil. Além de provocar discussões sobre o surgimento da consciência nacional, o Manifesto Pau-Brasil conseguiu demonstrar através da poesia, a liberdade de espírito, a junção do moderno e do arcaico brasileiro culminando com uma revolução artística nacionalista baseada em suas raízes primitivas. O Brasil estava passando por uma fase de mudanças, isto é nitidamente visto através das obras dos artistas da época, de acordo com Antonio Candido, embora o Modernismo tenha aberto a “fase mais fecunda da literatura brasileira” foi “complexo e contraditório”, 2 ANDRADE, Oswald. Obras completas. Do pau Brasil à antropofagia e as utopias: manifestos, teses de concursos e ensaios. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1978. considerado inicialmente “excentricidade e afronta ao bom gosto” tanto na literatura quanto nas artes 3 . No ápice deste processo de inovação, Mário de Andrade, lançou sua Pauliceia desvairada (1922), uma representação da realidade paulistana do início do século. Ele descreveu sua participação no movimento como “manifestado especialmente pela arte, mas manchando também com violência os costumes sociais e políticos, o movimento modernista foi o prenunciador, o preparador e por muitas partes o criador de um estado de espírito nacional” 4 . O livro espantava os religiosos e fascinava as pessoas mais livres e criativas. De certo modo, como um evangelho, ele vazia a boa nova das mudanças imediatas e necessárias, e o contato de suas palavras trazia vontades transformadoras, precipitando aquilo que a própria época vivenciava. 5 Entretanto, a obra foi um grande marco na literatura brasileira por buscar romper com a tradição. Este período de grandes movimentos foi também conhecido como a belle époque (fase de euforia e avanços tecnológicos na Europa). As transformações sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e culturais alteraram radicalmente a forma de viver e de sentir o mundo do homem moderno. Invenções revolucionárias como o rádio, o telefone, o automóvel e o cinema passaram a fazer parte do cotidiano das grandes cidades, que estavam cada vez mais urbanizadas. O homem moderno, que não fazia parte do grupo social elitizado, lutava por melhores condições de vida. Por isso, as ideias socialistas e anarquistas passaram a ser defendidas pelos operários, que se organizam em associações e faziam greves por condições de trabalho mais dignas. Vale citar, a relação entre o homem e a cidade, e o crescimento da urbanização na cidade paulista. É nítido que ao mesmo tempo em que a modernização surge como um fator positivo, também traz à tona a condição do ser humano diante desse espaço moderno, o sentimento que é gerado em meio estas transformações é retratado no poema “Tristura”- “Profundo. Imundo meu coração... Olha o edifício: Matadouros da Continental. Os vícios viciaram-me na bajulação sem sacrifícios... Minha alma corcunda como a avenida São João…” 6 .Observa-se em algumas obras a alienação e a solidão do homem moderno. O homem parecia vencer 3 CANDIDO, Antonio.Iniciação à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. 4 ANDRADE, Mario de. Aspectos da Literatura Brasileira. 5ª ed. São Paulo: Martins, 2002. 5 LAFETÁ, João Luiz. Representacao do sujeito lirico na pauliceia desvairada. Revista da Biblioteca Mario de Andrade, São Paulo, n. ja/dez. 1993, p. 79-88, 1993. 6 ANDRADE, Mario de. Poesias Completas. 6ª ed. São Paulo: Martins, 1980. limites importantes para a época,por exemplo, o conhecimento da própria personalidade, o registro do movimento e o espaço. Mário de Andrade também se preocupou retratar alguns aspectos da história das lutas da classe trabalhadora, ele lutou para que todo homem tivesse acesso à cultura e educação de qualidade. Ao escrever o conto "Primeiro de Maio", o personagem tinha consciência do seu estado de infelicidade, consequência de sua solidão e desorganização. E para completar, a única pessoa conhecida do protagonista e quase amiga, a se apresentar, é o guarda de trânsito grilo 486, um sujeito desprezível aos olhos do 35, se dizia anarquista mas na verdade era um covarde. Além de retratar o sentimento dos homens dá época, o título do conto já diz tudo, "Primeiro de Maio", esse dia foi marcado por protestos para a melhoria das condições de trabalho e vida dos operários como apresentado no conto. Contudo, o movimento procurava afirmar a consciência do atraso vivenciado desde o período barroco e árcade, por isso, insistia na necessidade de uma evolução estética nacional. Os modernistas buscavam explorar a face do brasileiro e tratar dos diversos problemas: “a falta de definição de um caráter nacional, a cultura submissa e dividida do Brasil, o descaso para com as nossas tradições, a importação de modelos socioculturais e econômicos, a discriminação linguística etc”. 7 Mário de Andrade observava muito o homem, tanto aquele perdido no meio do mato quanto o homem comum da cidade, e buscava demonstrar isso em sua obra. Em Macunaíma, Helena Bomeny, em “Um poeta na política”, observa, que: “O compromisso era entender o Brasil, mostrar o Brasil aos brasileiros, encontrar no Brasil motivos substanciais para provocar a comunhão entre seus compatriotas”. 8 A começar, ressalto o “Manifesto Antropofágico”, ato que será citado algumas vezes em Macunáima. Oswald de Andrade apontava a antropofagia como apreciação da realidade sociocultural brasileira, para a afirmação do ato como fator social. A postura antropofágica de um texto demonstra que, ao mesmo tempo em que se opõem a algum tipo de tradição, retoma essa tradição para a construção de significados válidos. Tendo os indígenas como autores desta cultura, eles seriam a exemplificação perfeita do movimento social, por ser um grupo 7 RODRIGUES, Fábio Della Paschoa. Macunaíma e a Formação de uma Cultura Brasileira. São Paulo: UNICAMP, 2010. 8 BOMENY, Helena. Um poeta na política- Mário de Andrade, paixão e compromisso. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012 muito forte, que já tinha uma apropriação linguística e sua cultura e tradições instauradas, ou seja, como já citado: “Antes dos portugueses o Brasil tinha descoberto a felicidade.”. 9 Mario de Andrade ao desenvolver a obra de Macunaíma, procurou um novo estilo, uma linguagem diferente do que era visto nas obras anteriores, buscou uma revolução na representação do sistema cultural. A literatura moderna buscava a origem popular e o apego às lendas não só com palavras, mas também com o modo de se expressar nas escritas, apropriando-se dos termos indígenas. Contudo, o livro é a visão da luta do colonizador e o colonizado. O índio é o colonizado e o colonizador é o antagonista. A mensagem deste livro faz referência a nossa cultura, que acabou se afastando da sua origem por influências europeias. Nos séculos XX e XXI, os textos remetem a uma relação entre o autor e o leitor, mediante o qual, o leitor pressupõe que o conteúdo apresentado está relacionado às experiências e ações passadas do narrador, modelo baseado no sistema de análise de Candido - escritor – obra – público. Mas Mário, considerado um dos maiores escritores da época, um ícone Modernista, poucas vezes escreve dessa maneira, apresentando suas experiências pessoais, pelo contrário, ele busca a caracterização social atual do país. Levando-se em consideração esses aspectos, o foco do movimento se resume em três tópicos: o direito permanente à pesquisa estética, a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização duma consciência criadora nacional 10 . O primeiro deles sintetiza a emergência da busca pela liberdade de linguagem, para que houvesse uma adequação à nossa realidade e para que “nos expressássemos com identidade” 11 , fator necessário desde época barroca e árcade, que apesar dos feitos do movimento Modernista, infelizmente alguns aspectos foram diluídos com o tempo. As contribuições do modernismo não foram uniformes, mas atingiram níveis diferentes de mudanças. No momento de diluição do movimento, a arte, a literatura, e a sociedade já adquiriram valores conquistados desde o início, pelo menos aqueles valores que ela estava pronta para incorporar. Entre os pontos citados, ressalto a escrita/linguagem como êxito alcançado pelo movimento, pela sua consciência aprofundada. Exemplo dessa conquista é o estudo de Antonio Candido, que conseguiu incorporar as exigências modernas da crítica literária e acabou deixando contribuições de suma importância para a sistematização da literatura brasileira. 9 Andrade, Oswald de. Manifesto Antropófago, 1928. O manifesto antropófago. Revista de "OUSPQPGBHJB ano 1, n.1, maio de 1928. 10 Bosi, A. (2004). O Movimento Modernista de Mário de Andrade. Literatura E Sociedade, 9(7), 296-301. 11 ANDRADE. O movimento modernista, p. 244.
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