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DOS CRIMES DE PERIGO COMUM Art. 250 — INCÊNDIO Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. Crime impossível. Arrependimento eficaz. 6. Formas. 6.1. Simples. 6.2. Majorada. 6.3. Culposa. 6.4. Qualificada pelo resultado. 7. Distinções. 8. Estatuto do Desarmamento. 9. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Dispõe o art. 250 do Código Penal: “Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa”. 2. OBJETO JURÍDICO Tutela-se a incolumidade pública, uma vez que o incêndio expõe a perigo a vida, a integridade física, o patrimônio de um indeterminado número de pessoas. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consiste em causar incêndio, isto é, provocar combustão (por intermédio do fogo, gás inflamável etc.) de forma que sua propagação exponha a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de um número indeterminado de pessoas, uma vez que se trata de crime de perigo comum e não individual; do contrário, poderá configurar-se, por exemplo, o crime de dano qualificado, em face do direito individual atingido (CP, art. 163, parágrafo único, II). Observe-se que o patrimônio atingido pode ser do próprio agente, mas para que o delito se configure é necessária a provocação de perigo à coletividade, pois não é crime danificar o próprio patrimônio. Pode esse delito ser praticado mediante omissão — por exemplo, o agente culposamente ateia fogo à cortina de sua casa e nada faz para apagá-lo, causando, de forma omissiva, a propagação do incêndio e, com isso, o perigo comum. Trata-se de crime de perigo concreto, isto é, deve ser comprovado no caso concreto que coisas ou pessoas sofreram riscos. Não é qualquer provocação de combustão, portanto, que configura esse delito, por exemplo, causar incêndio em uma casa em ruínas, inabitada e localizada em local solitário1. 3.2. Sujeito ativo Qualquer pessoa pode praticar esse crime, inclusive o proprietário da coisa incendiada. 3.3. Sujeito passivo É a coletividade. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de provocar o incêndio, ciente de que este poderá ocasionar perigo comum. Não se exige qualquer finalidade específica. Admite-se a modalidade culposa, que estudaremos mais adiante. 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. CRIME IMPOSSÍVEL. ARREPENDIMENTO EFICAZ Consuma-se no momento em que o fogo se expande, assumindo proporções que tornem difícil sua extinção2, isto é, acarretando perigo comum. É necessário comprovar em cada caso a produção de perigo concreto. Por tratar-se de crime plurissubsistente, a tentativa é perfeitamente possível. Assim, haverá conatus se, por exemplo, “após derramar petróleo sobre a parte da casa que pretende incendiar, o agente é surpreendido no momento em que está aproximando a mecha acesa”3. Não se poderá falar em tentativa, mas em crime impossível, se o meio ou objeto forem absolutamente inidôneos a provocar o incêndio, por exemplo, o agente supõe estar jogando álcool na casa quando na realidade se trata de soro fisiológico. Também não haverá tentativa desse crime, mas desistência voluntária ou arrependimento eficaz (CP, art. 15), se o agente, após o emprego dos meios aptos a provocar o incêndio, impede que se produza, apagando o fogo que se inicia, sem que tenha resultado qualquer perigo comum. Responderá nesse caso pelos atos já praticados (por exemplo, crime de dano qualificado). 6. FORMAS 6.1. Simples Está prevista no caput do art. 250. 6.2. Majorada Está prevista no § 1º do art. 250. As penas aumentam-se de um terço: 1) se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio (inciso I): constitui o chamado elemento subjetivo do tipo, pois presente está a finalidade de o agente obter lucro. Conforme ressalva Nélson Hungria, “cumpre que a vantagem seja visada como consequência do incêndio em si mesmo, e não como preço do crime (...). Será reconhecível a majorante nos seguintes casos: causar o incêndio de um compartimento para destruir o título de dívida, de responsabilidade do agente ou de outrem, ali guardado pelo credor; incendiar a velha casa própria para poupar-se aos gastos de uma demolição (...)”4. Para a configuração dessa causa de aumento de pena não é necessário que o agente efetivamente obtenha a vantagem pecuniária. Basta a prova da intenção. Caso o incêndio seja provocado com o fim de receber indenização ou o valor do seguro, uma vez comprovado o perigo comum, configurar-se-á o crime em tela na forma majorada e não aquele previsto no art. 171, § 1º, V (fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro); 2) se o incêndio é (inciso II): (a) em casa habitada ou destinada a habitação: casa habitada é o local utilizado por alguém para morar, ainda que não seja destinado a esse fim: por exemplo, empregado da loja que pernoita no escritório do referido estabelecimento. Casa destinada a habitação é aquela que, embora construída para esse fim, não é habitada por ninguém5; (b) em edifício público (bem pertencente à União, Estados e Municípios. Não incide a majorante se o edifício é público, mas se encontra locado a particulares) ou destinado a uso público (é aquele que, ainda que particular, seja destinado ao público, por exemplo, cinemas, museus, teatros etc. Não é necessário que estejam abertos no momento do incêndio6) , ou a obra de assistência social (creches, hospitais, asilos etc.) ou de cultura (biblioteca, colégio etc.); (c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo: cuida-se aqui exclusivamente do transporte de pessoas. Não é necessário que elas se encontrem no interior do veículo no momento do incêndio7; (d) em estação ferroviária ou aeródromo: não se incluem nesse rol as construções portuárias8 nem a estação rodoviária9; (e) em estaleiro, fábrica ou oficina: não há necessidade de que haja pessoas no local no momento do incêndio; (f) em depósito de explosivo (dinamite etc.), combustível (carvão, lenha etc.) ou inflamável (álcool, petróleo etc.). A majorante funda-se no maior perigo a que a coletividade é exposta com a incineração de tais locais; (g) em poço petrolífero ou galeria de mineração. Essa majorante funda-se em dois motivos indicados por Hungria: extrema dificuldade de extinção do fogo ou maior dificuldade de defesa contra o perigo extensivo10; (h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. A conduta provocar incêndio em mata ou floresta constitui crime ambiental, que se encontra previsto no art. 41 da Lei n. 9.605/98, cuja pena é de reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. Seu parágrafo único, por sua vez, prevê que, se o crime é culposo, a pena é de detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa. Dessa forma, se o incêndio de mata ou floresta não acarretar perigo à coletividade pública, o crime será enquadrado na Lei Ambiental11. Do contrário, haverá o crime do art. 250. No tocante ao incêndio em lavoura ou pastagem, incide sempre a regra do art. 250 na forma majorada. 6.3. Culposa Está prevista no § 2º do art. 250. A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos. Se o agente der causa ao incêndio por imprudência, negligência ou imperícia, configurar-se-á a modalidade culposa desse crime. Aqui o sujeito ativo não quer o resultado, mas acaba por produzi-lo por inobservância do dever objetivo de cuidado. Sobre essa modalidade não incidem as majorantes supramencionadas. Há somente previsão da forma qualificada pelo resultado, conforme veremos no item seguinte. 6.4. Qualificada pelo resultado Prevista no art. 258: “Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço”. Cuida-se aqui de duas modalidades qualificadas pelo resultado: a )dolo no crime antecedente (incêndio) e culpa no crime consequente (lesão corporal grave ou morte): o agente quer provocar o incêndio de forma a causar perigo comum (dolo), mas dessa conduta sobrevém resultado mais grave (lesão corporal de natureza grave e homicídio), o qual vai além do previsto pelo agente, devendo ser-lhe imputado a título de culpa, pois, embora não previsto, era, no caso concreto, perfeitamente previsível. Esse resultado mais grave jamais poderá ser querido pelo agente, pois, do contrário, outro crime poderá apresentar-se: homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º, III) ou lesão corporal grave (CP, art. 129, § 1º, c/c o art. 61, II, d) em concurso formal com o delito de incêndio. A morte ou lesão corporal grave pode advir tanto das queimaduras quanto da queda de um lustre na cabeça da vítima ou do ato de jogar-se pela janela na tentativa de se livrar do fogo. Segundo Hungria, não será imputada a morte ao agente na hipótese em que terceiros (bombeiro, parentes etc.) vão ao local na tentativa de salvar a vítima e morram, pois, “em qualquer caso, há a interrupção da causalidade inicial, pela superveniência de causa autônoma e decisiva: a imperícia do bombeiro ou a imprudência do particular abnegado”. Com base nos mesmos argumentos, o autor sustenta que não se poderá reconhecer a qualificadora na hipótese em que a vítima sai ilesa do incêndio, mas retorna ao local dos fatos para buscar os documentos, quando então morre ou sai lesada12. Por se tratar de crime preterdoloso, somente poderá haver tentativa se o incêndio não se consumar, isto é, não assumir as proporções devidas para a configuração do crime, mas alguém vier a morrer ou se lesionar em decorrência do início dele; b) resultado agravador decorrente de conduta culposa. Nessa modalidade, o agente causa o incêndio por imprudência, negligência ou imperícia, e dessa conduta culposa advém um dos resultados agravadores. Não há falar em tentativa de crime culposo. 7. DISTINÇÕES a) A conduta incendiar por inconformismo político constitui o crime previsto no art. 20 da Lei de Segurança Nacional (Lei n. 7.170/83). b) A conduta fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano, constitui crime contra o meio ambiente (art. 42 da Lei n. 9.605/98). 8. ESTATUTO DO DESARMAMENTO O art. 16, parágrafo único, III, da Lei n. 10.826/2003 previu dentre as suas ações nucleares típicas o emprego de artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Ora, o emprego nada mais é do que o uso de tais artefatos. Note que o crime contra a incolumidade pública previsto no art. 250 do Codex é de perigo concreto, isto é, o perigo causado deve ser comprovado no caso concreto, não havendo qualquer presunção legal, tanto que o próprio dispositivo penal explicitamente exige que as ações exponham a perigo “a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”, ao contrário do que sucede com o art. 16, parágrafo único, III, da citada lei, o qual se contenta com o mero emprego do artefato incendiário, sem que se necessite comprovar que no caso concreto houve o risco para a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Basta, portanto, o perigo presumido. Vejam que a causa do incêndio não é requisito para que o crime do Estatuto se configure, pois com o mero lançamento ou a colocação do artefato incendiário já se perfaz o delito. 9. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada; independe, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: o incêndio culposo (§ 2º), em face da pena máxima cominada (detenção, de 6 meses a 2 anos), constitui infração de menor potencial ofensivo, sujeito às disposições da Lei n. 9.099/95, sendo, inclusive, cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da lei), em virtude da pena mínima prevista. Art. 251 — EXPLOSÃO Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Formas. 6.1. Simples. 6.2. Privilegiada. 6.3. Majorada. 6.4. Culposa. 6.5. Qualificada pelo resultado. 7. Distinções. 8. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Dispõe o art. 251 do Código Penal: “Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa”. 2. OBJETO JURÍDICO Assim como no crime antecedente, tutela-se mais uma vez a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consubstancia-se no verbo expor a perigo. Difere, contudo, do crime de incêndio quanto ao meio de execução, pois aqui a exposição pode ser praticada mediante explosão (estourar), arremesso (lançar a distância) ou colocação (pôr em algum lugar) de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Trata-se de crime de conduta vinculada. Segundo o ensinamento de Noronha, “Dinamite é a nitroglicerina de que se embebem matérias sólidas, geralmente, areias. Engenho é a bomba, o aparelho que a contém. Referese também a lei a substâncias de efeitos análogos, dentre as quais podem ser mencionados os explosivos T. N. T., os explosivos de ar líquido, o trotil, as gelatinas explosivas etc., produzindo efeitos semelhantes aos daquelas”. De acordo com o mesmo autor, caberá à perícia dizer se a substância é ou não explosiva13. De forma semelhante ao crime de incêndio, trata-se de crime de perigo comum e concreto, isto é, deve atingir um número indeterminado de pessoas ou coisas; o perigo causado deve ser comprovado no caso concreto, não havendo qualquer presunção legal. Ausente o perigo coletivo, outro crime configurar-se-á (por exemplo, dano qualificado, em face do patrimônio individual atingido). 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. 3.3. Sujeito passivo Cuida-se de crime de perigo comum. Sujeito passivo é, portanto, a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de provocar a explosão, de arremessar ou colocar engenho de dinamite ou substância de efeitos análogos, de forma a causar perigo comum. É prevista também a modalidade culposa desse crime. Caso o agente queira matar ou lesionar alguém mediante o emprego de tais substâncias, poderá configurar-se o concurso formal entre o crime de incêndio e um dos delitos contra a vida (CP, art. 121, § 2º, III, ou art. 129, § 1º, c/c o art. 61, II, d). Caso tais resultados mais graves não sejam queridos pelo agente, mas sobrevenham culposamente, teremos a hipótese do crime de explosão qualificado pelo resultado (CP, art. 258). 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se com a explosão, com o arremesso ou com a mera colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos, desde que tais ações provoquem uma situação de perigo concreto à coletividade. Veja-se que o tipo penal pune os atos que antecedem a explosão. Esta não é requisito para que o crime se configure, pois com o mero lançamento ou colocação da dinamite já se configura o delito. Diante disso, a tentativa é de difícil ocorrência14. 6. FORMAS 6.1. Simples Está prevista no caput do artigo. 6.2. Privilegiada Prevista no § 1º: “Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa”. Assim, a pena é minorada se a substância explosiva empregada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos. Tem em vista a lei o menor perigo causado pelo emprego de explosivos que não sejam tão violentos quanto a dinamite15. 6.3. Majorada Está prevista no § 2º. Incidem aqui os comentários ao crime de incêndio. 6.4. Culposa Prevista no § 3º: “No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitosanálogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano”. Somente o ato de provocar explosão admite a modalidade culposa. Tal não ocorre com o arremesso e a colocação de dinamite. Na hipótese em que a explosão culposa se dá mediante a utilização de outras substâncias que não a dinamite ou explosivo de efeitos análogos, a pena é minorada. 6.5. Qualificada pelo resultado Está prevista no art. 258. Incidem aqui os comentários ao crime de incêndio. 7. DISTINÇÕES a) O ato de provocar explosão por inconformismo político constitui crime contra a Segurança Nacional (art. 20 da Lei n. 7.710/83). b) Se a provocação da explosão, o arremesso ou colocação da dinamite acarretar perigo à vida ou saúde de pessoa determinada, poderá ocorrer o delito previsto no art. 132 do Código Penal. Esse crime não abarca a hipótese de perigo ao patrimônio individual. c) O art. 16, parágrafo único, III, da Lei n. 10.826/2003 previu dentre as suas ações nucleares típicas o emprego de artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar16. Ora, o emprego nada mais é do que o uso de tais artefatos, por exemplo, lançar uma dinamite em via pública ou detonar um explosivo em uma residência. Com efeito, o crime contra a incolumidade pública previsto no art. 251 do Codex é de perigo concreto, isto é, o perigo causado deve ser comprovado no caso concreto, não havendo qualquer presunção legal, tanto que o próprio dispositivo penal explicitamente exige que as ações exponham a perigo “a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”, ao contrário do que sucede com o art. 16, parágrafo único, III, da citada lei, o qual se contenta com o mero emprego do artefato explosivo, sem que se necessite comprovar que no caso concreto houve o risco para a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Basta, portanto, o perigo presumido. Vejam que a explosão não é requisito para que o crime do Estatuto se configure, pois com o mero lançamento ou a colocação do artefato explosivo já se perfaz o delito17. 8. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada; independe, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: as modalidades culposas do crime de explosão (§ 3º) constituem infração de menor potencial ofensivo, estando sujeitas às disposições da Lei n. 9.099/95. É cabível o instituto da suspensão condicional do processo nas seguintes condutas criminosas: — no § 1º (reclusão, de 1 a 4 anos, e multa), sem o aumento de pena do § 2º; — no § 3º (reclusão, de 6 meses a 2 anos, e detenção, de 3 meses a 1 ano). Art. 252 — USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Formas. 6.1. Simples. 6.2. Culposa. 6.3. Qualificada pelo resultado. 7. Distinções. 8. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Reza o art. 252 do Código Penal: “Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa”. 2. OBJETO JURÍDICO Protege-se a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consiste em expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. O meio de execução é que difere dos demais crimes de perigo comum, pois o agente se utiliza de gás tóxico ou asfixiante. De acordo com Hungria, “gás tóxico é o que atua por envenenamento, enquanto gás asfixiante é o que afeta, de modo puramente mecânico, as vias respiratórias, determinando a sufocação”18. Mais uma vez, trata-se aqui de crime de perigo comum e concreto. 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. 3.3. Sujeito passivo Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de usar gás tóxico ou asfixiante, de modo a expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Pune-se também a conduta culposa. Caso o agente queira matar ou lesionar alguém mediante o emprego de tais gases, poderá configurar-se o concurso formal entre o crime de uso de gás tóxico ou asfixiante e um dos delitos contra a vida (CP, art. 121, § 2º, III, ou art. 129, § 1º, c/c o art. 61, II, d). Caso tais resultados mais graves não sejam queridos pelo agente, mas sobrevenham culposamente, teremos a hipótese do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante qualificado pelo resultado (CP, art. 258). 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se com o uso do gás tóxico ou asfixiante, desde que provoque uma situação de perigo concreto para a coletividade. A tentativa é possível. 6. FORMAS 6.1. Simples Está prevista no caput do artigo. 6.2. Culposa Prevista no parágrafo único. A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano. 6.3. Qualificada pelo resultado Está prevista no art. 258. Incidem aqui os comentários ao crime de incêndio. 7. DISTINÇÕES a) O art. 54 da Lei n. 9.605/98 pune a conduta de “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena — reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo. Pena — detenção, de 6 meses a um ano, e multa. Se o crime ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos. Pena — reclusão, de 1 a 5 anos”. Vide também o art. 56 da Lei dos Crimes Ambientais. b) Se o agente usar gás tóxico ou asfixiante com o fim de expor a perigo a vida ou saúde de pessoa determinada, configurar-se-á o crime de perigo individual (CP, art. 132). 8. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada, independendo, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: a modalidade culposa do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante constitui infração de menor potencial ofensivo em face da pena prevista (detenção, de 3 meses a 1 ano), sujeita às disposições da Lei n. 9.099/95, sendo, inclusive, cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da lei). Esse instituto também é aplicável ao caput do art. 252, em face da pena mínima prevista (reclusão, de 1 a 4 anos, e multa). Art. 253 — FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO, POSSE OU TRANSPORTE DE EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE Sumário: 1. A questão da derrogação do art. 253 do Código Penal pela Lei n. 9.437/97, revogada pela Lei n. 10.826/2003. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. Elemento normativo. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Distinções. 7. Estatuto do Desarmamento e fornecimento, entrega ou venda de explosivo a criança ou adolescente. 8. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. A QUESTÃO DA DERROGAÇÃO DO ART. 253 DO CÓDIGO PENAL PELA LEI n. 9.437/97, revogada pela lei n. 10.826/200319 Dispõe o art. 253 do Código Penal: “Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena — detenção, de seis meses a dois anos, e multa”. O art. 16, parágrafo único, III, da Lei n. 10.826/2003, de 22 de dezembro de 2003, publicada no Diário Oficial da União de 23 de dezembro de 2003, prevê figura semelhante: “Nas mesmas penas [reclusão, de 3 a 6 anos, e multa] incorre quem: III — possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Do art. 253 do estatuto penal faltaram as condutas fornecer, adquirir ou transportar.À primeira vista, elas não se enquadrariam na nova figura típica, permanecendo regidas pelos dispositivos do Código Penal. Entretanto, na prática todos os comportamentos, inclusive esses três, acabaram absorvidos pela Lei n. 9.437/97 e agora pela Lei n. 10.826/2003, que a revogou. É que, para fornecer ou transportar, é necessário, antes, deter ou pelo menos possuir o objeto, ainda que momentaneamente. No que tange à aquisição, não resta dúvida de que quem adquire possui, e quem tenta adquirir tenta possuir. Diante do exposto, todas as figuras do art. 253 do Código Penal foram alcançadas pela nova lei. Assim, fabricar, possuir (adquirir, fornecer e transportar), deter ou empregar artefato explosivo não configura mais crime previsto no Estatuto Repressivo, mas na Lei n. 10.826/2003, com pena de 3 a 6 anos de reclusão, mais multa. Estamos diante de uma novatio legis in pejus, não podendo retroagir para prejudicar o réu, na medida em que a sanção penal cominada é mais severa. Ressalve-se que o art. 253 foi apenas derrogado pela Lei da Arma de Fogo (Lei n. 9.437/97, revogada pela Lei n. 10.826/2003), pois o fabrico, o fornecimento, a aquisição, a posse ou o transporte de gás tóxico ou asfixiante sem autorização da autoridade competente continua a ser por ele incriminado, condutas estas que passaremos a analisar a seguir. 2. OBJETO JURÍDICO Protege-se a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear. Elemento normativo Trata-se de crime de ação múltipla ou conteúdo variado, pois, se o agente praticar qualquer das condutas típicas, haverá delito único. As ações nucleares consubstanciam-se nos verbos fabricar (produzir), fornecer (entregar a título oneroso ou gratuito), adquirir (obter a título oneroso ou gratuito), possuir (ter sob a guarda ou disposição) ou transportar (levar, remover), sem licença da autoridade, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado a sua fabricação. Perceba-se que o legislador se antecipou ao incriminar as condutas que tenham por objeto material destinado à fabricação de gás tóxico ou asfixiante. Assevera Noronha: “A verdade é que a lei, aqui, pune os atos preparatórios. Dá-se o que Binding chama de impaciência do legislador: na defesa do bem jurídico, ele se antecipa à consumação, não esperando pelo dano, mas indo alcançar o delinquente na fase ainda de preparo”20. É necessário que as condutas típicas sejam praticadas sem autorização da autoridade. É o chamado elemento normativo do tipo. Presente a autorização, o fato é atípico. 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. 3.3 Sujeito passivo Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar uma das ações típicas, ciente de que causa perigo para a incolumidade pública. Não há previsão da modalidade culposa. 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Trata-se de crime de perigo abstrato, isto é, há presunção legal da ocorrência de perigo comum com a tão só prática de uma das ações típicas. Não é necessário comprovar no caso concreto o risco à coletividade por elas provocado. A tentativa é inadmissível. 6. DISTINÇÕES a) Se o agente fornece, vende ou entrega gás tóxico ou asfixiante (espécie de arma) a menor, incorrerá ele no art. 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente21. b) O art. 22 da Lei n. 6.453/77 (dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares) pune a conduta daquele que “possuir, adquirir, transferir, transportar, guardar ou trazer consigo material nuclear sem a necessária autorização”. O art. 26, por sua vez, pune aquele que “deixar de observar as normas de segurança ou de proteção relativas à instalação nuclear ou ao uso, transporte, posse e guarda de material nuclear, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”. c) O art. 16, III, da Lei n. 10.826/2003, pune a posse, a detenção, o fabrico ou o emprego de artefato incendiário. Assim, aquele que pretender fornecer artefato incendiário para criança ou adolescente ou para maior de idade, poderá ser responsabilizado pela detenção ou posse do referido artefato. d) O art. 16, VI, da Lei n. 10.826/2003 pune a ação de produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. 7. ESTATUTO DO DESARMAMENTO E FORNECIMENTO, ENTREGA OU VENDA DE EXPLOSIVO A CRIANÇA OU ADOLESCENTE Se o agente fornece, entrega ou vende, ainda que gratuitamente, explosivo a criança ou adolescente, comete o delito previsto no art. 16, V, do Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/2003). Importa aqui tecermos alguns comentários sobre o tema, trazendo à lume as antigas disposições da Lei n. 9.437/97 e do ECA. Lei n. 9.437/97 e ECA: na sistemática da antiga Lei de Arma de Fogo, pairava uma polêmica sobre o tema, de modo que tínhamos a seguinte situação: as condutas acima mencionadas estavam acobertadas tanto pelo art. 242 da Lei n. 8.069/90, cuja pena variava de seis meses a dois anos, quanto pelo art. 10, § 3º, III, da Lei n. 9.437/97, que não distinguia entre ofendido maior e menor e cominava, em ambos os casos, a pena muito mais rigorosa de dois a quatro anos de reclusão. Para quem entendia que o Estatuto da Criança e do Adolescente seria especial em relação à Lei n. 9.437/97, já que tutela especificamente os direitos da criança e do adolescente, e, por essa razão, não teria sido por esta revogado, a entrega, a venda ou o fornecimento de explosivo a menor continuavam incursos no referido art. 242. Nesse caso, haveria uma situação injusta: se o sujeito vendesse, entregasse ou fornecesse explosivo a maior, seria punido com até quatro anos de reclusão, ao passo que, se o destinatário fosse menor, a pena máxima seria de apenas dois anos, e de detenção. Incongruência, já que a Constituição Federal manda o legislador aplicar sanção mais severa justamente aos crimes praticados contra o menor, e não o contrário (art. 227, § 4º). Sustentávamos então que essa posição não era a mais correta. A Lei n. 9.437/97, além de ser posterior, disciplinou a matéria tratada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente quando o objeto material fosse arma de fogo ou explosivo. Sob esse prisma, era especial em relação àquele estatuto. Assim, aplicando-se a regra do art. 2º, § 1º, parte final, do Decreto- Lei n. 4.657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), e por ter tido sua matéria regida por lei posterior, entendíamos estar derrogado o art. 242 quando o objeto material fosse explosivo, pouco importando que se destinasse tal material a menor. Não bastasse seu caráter especial no que tange ao objeto material (explosivo), tratava-se de norma posterior incompossível com a anterior disposição do art. 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo-se operado a sua derrogação tácita. Quanto à questão da adequação da entrega, da venda ou do fornecimento ao tipo do art. 10, § 3º, III, entendíamos que era plenamente possível, uma vez que quem vende, entrega ou fornece antes já possui ou detém o artefato, não havendo maiores problemas para o enquadramento. Lei n. 10.826/2003: passou a fazer distinção entre ofendido maior e menor de idade. Assim, o art. 16, parágrafo único, V, expressamente prevê as condutas de: vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, explosivo a criança ou adolescente, cuja pena é de reclusão, de três a seis anos, e multa, portanto, mais grave que a prevista no antigo art. 10, § 3º, III, da Lei n. 9.437/97. Ocorre que a nova lei, no inciso V, somente se refere a criança ou adolescente, excluindo, portanto, os indivíduos maiores de idade, ao contrário do que sucedia na sistemática da Lei n. 9.437/97. Como, então, enquadrar a venda, a entrega ou o fornecimento de explosivo a indivíduo maior de idade? O novo Estatuto do Desarmamento houve por bem em prever, em seu art. 16, parágrafo único, III, as condutas de possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo ouincendiário. Ora, embora as condutas de vender, entregar ou fornecer explosivo a maior de idade não tenham sido previstas no mencionado inciso III, temos que a posse, a detenção ou mesmo o fabrico do explosivo anterior à venda, à entrega ou ao fornecimento já configuram o delito previsto no inciso III do parágrafo único do art. 16, cuja pena é também a de reclusão, de três a seis anos, e multa. A venda de explosivo a criança ou adolescente não necessita ser realizada no exercício de atividade comercial ou industrial. Assim, basta a venda de um único explosivo, sem qualquer nexo com atividade comercial, para que o crime se configure. Finalmente, vale novamente mencionar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou, na data de 2-5-2007, a inconstitucionalidade de três dispositivos do Estatuto do Desarmamento, na ADIn 3.112. Por maioria de votos, os ministros anularam dois dispositivos do Estatuto que proibiam a concessão de liberdade, mediante o pagamento de fiança, no caso de porte ilegal de arma (parágrafo único do art. 14) e disparo de arma de fogo (parágrafo único do art. 15). Também foi considerado inconstitucional o art. 21 do Estatuto, que proibia a liberdade provisória aos acusados pelos crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 do referido Diploma Legal. 8. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada; independe, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: em face da pena máxima prevista (detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa), trata-se de infração de menor potencial ofensivo, sujeita às disposições da Lei n. 9.099/95, sendo, inclusive, cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da lei), em virtude da pena mínima prevista. Art. 254 — INUNDAÇÃO Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Formas. 6.1. Simples. 6.2. Culposa. 6.3. Qualificada pelo resultado. 7. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Reza o art. 254: “Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa”. 2. OBJETO JURÍDICO Tutela-se mais uma vez a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consiste em causar inundação, que é, conforme o ensinamento de Hungria, “o alagamento de um local de notável extensão, não destinado a receber águas. As águas são desviadas de seus limites naturais ou artificiais, expandindo-se em tal quantidade que criam perigo de dano a indeterminado número de pessoas ou coisas”. É, dessa forma, necessário que as águas sejam em quantidade suficiente para acarretar perigo à incolumidade pública. Um pequeno extravasamento não é apto a configurar o delito. Ausente o perigo comum, o crime poderá ser outro (art. 161, § 1º, I, do CP ou art. 163). É crime de perigo concreto, isto é, o risco à coletividade deve ser provado caso a caso. Além da conduta ativa, Noronha admite a possibilidade de esse delito ser praticado mediante omissão: “Se alguém involuntariamente abre uma brecha em um dique e não a repara ou não envida os esforços necessários para tapá-la, porém, mantém-se inativo, já agora tendo o desígnio de inundar, sua omissão é criminosa”. 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive o proprietário do imóvel inundado. 3.3. Sujeito passivo É a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de causar inundação, ciente de que com tal conduta causa perigo para a coletividade. Há previsão da modalidade culposa. Se o agente quiser matar alguém por meio de inundação, poderá configurar-se o concurso formal entre o crime de inundação e o delito de homicídio (CP, art. 121, § 2º, III). Caso o resultado mais grave (morte ou lesão corporal grave) não seja querido pelo agente, mas sobrevenha culposamente, teremos a hipótese do crime de inundação qualificada pelo resultado (CP, art. 258). 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se com a efetiva inundação, isto é, no momento em que as águas expandam em quantidade tal que provoquem uma situação de perigo concreto para a coletividade. A tentativa é perfeitamente possível. 6. FORMAS 6.1. Simples Está prevista no caput do artigo. 6.2. Culposa Está prevista no preceito secundário da norma. A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, se o agente der causa à inundação por imperícia, negligência ou imprudência, por exemplo, o rompimento de uma barragem de águas que foi construída com materiais baratos e impróprios. 6.3. Qualificada pelo resultado Prevista no art. 258. Incidem aqui os comentários ao crime de incêndio. 7. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada, independendo, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: a modalidade culposa do crime constitui infração de menor potencial ofensivo em face da pena máxima cominada (detenção, de 6 meses a 2 anos), sujeita às disposições da Lei n. 9.099/95, sendo, inclusive, cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da lei). Art. 255 — PERIGO DE INUNDAÇÃO Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Dispõe o art. 255 do Código Penal: “Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação: Pena — reclusão, de um a três anos, e multa”. 2. OBJETO JURÍDICO Tutela-se mais uma vez a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consubstancia-se nos verbos remover (deslocar), destruir (fazer desaparecer) ou inutilizar (tornar imprestável, inservível) obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação. Ao contrário do crime anterior, em que o perigo advém da efetiva inundação, aqui basta o perigo da inundação com a prática das ações elencadas no tipo penal. Trata-se de crime de perigo concreto. 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive o proprietário do prédio em que se encontra o obstáculo natural ou a obra destinada a impedir a inundação. 3.3. Sujeito passivo É a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar uma das ações típicas, ciente o agente de que causa o perigo de inundação. Ressalve-se que nessa figura criminosa o agente não quer causar a inundação, mas apenas a possibilidade de sua ocorrência. Segundo Hungria, se a inundação prevista, mas não querida, sobrevém, o agente responderá por concurso formal de perigo de inundação e inundação culposa22. 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se com a prática de uma das ações previstas no tipo penal, desde que surja a efetiva situação de perigo de inundação. A tentativa é inadmissível. 6. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada; independe, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: é cabível o instituto da suspensão condicional do processo (reclusão, de 1 a 3 anos), previsto no art. 89 da lei. Art. 256 — DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO Sumário: 1. Conceito. 2. Objeto jurídico. 3. Elementos do tipo. 3.1. Ação nuclear. 3.2. Sujeito ativo. 3.3. Sujeito passivo. 4. Elemento subjetivo. 5. Consumação e tentativa. 6. Formas. 6.1. Simples. 6.2. Culposa. 6.3. Qualificada pelo resultado. 7. Distinção. 8. Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais. 1. CONCEITO Dispõe o art. 256 do Código Penal:“Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa”. 2. OBJETO JURÍDICO Protege-se a incolumidade pública. 3. ELEMENTOS DO TIPO 3.1. Ação nuclear Consiste em causar desabamento, isto é, a queda de obras construídas pelo homem, como casas, edifícios, ou desmoronamento, que diz respeito às partes do solo, como morro ou pedreira23. Devem tais ações expor a perigo a incolumidade pública. Trata-se de crime de perigo concreto. 3.2. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. 3.3. Sujeito passivo É a coletividade em geral. 4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de causar o desabamento ou desmoronamento, ciente o agente de que causa perigo comum. 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se com o efetivo desabamento ou desmoronamento, ainda que parcial, de forma que se crie uma situação de perigo comum. A tentativa é perfeitamente possível. 6. FORMAS 6.1. Simples Prevista no caput do artigo. 6.2. Culposa Prevista no parágrafo único. A pena é de detenção, de 6 meses a 1 ano, se o agente der causa ao desabamento ou desmoronamento por imperícia, negligência ou imprudência. 6.3. Qualificada pelo resultado Prevista no art. 258. Incidem aqui os comentários ao crime de incêndio. 7. DISTINÇÃO Dispõe o art. 29 da Lei das Contravenções Penais: “Provocar o desabamento de construção ou, por erro no projeto ou na execução, dar-lhe causa: Pena — multa, se o fato não constitui crime contra a incolumidade pública”. O art. 30 da referida lei, por sua vez, prevê o crime de perigo de desabamento: “Omitir alguém a providência reclamada pelo estado ruinoso de construção que lhe pertence ou cuja conservação lhe incumbe: Pena — multa”. 8. AÇÃO PENAL. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a) Ação penal: é crime de ação penal pública incondicionada; independe, portanto, de representação do ofendido ou de seu representante legal. b) Lei dos Juizados Especiais Criminais: o desabamento ou desmoronamento culposo constitui infração de menor potencial ofensivo em virtude da pena máxima prevista (detenção, de 6 meses a 1 ano), de forma que está sujeito aos institutos e ao procedimento sumaríssimo da Lei n. 9.099/95. A modalidade dolosa do crime ( caput) somente admite o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da lei).
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