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108 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III Unidade III 7 O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL 7.1 A história do futebol no Brasil Em outubro de 1894 desembarca no Porto de Santos, proveniente da Inglaterra, o jovem estudante paulista Charles Miller, filho de pais ingleses funcionários da São Paulo Railway, empresa responsável pela grande expansão da malha ferroviária brasileira. Assim como todo filho de família rica, Charles Miller foi estudar na Europa, na Inglaterra, em Southamptom, mais precisamente na Banister Court School, onde aprendeu a jogar football, destacando-se como um excelente jogador. Em seu retorno, ao final dos estudos, trouxe em sua bagagem duas bolas, uma bomba para enchê-las, além de uniformes, apito e um livro de regras do esporte (MÁXIMO, 1999). Figura 33 – Charles Miller Foi somente um ano mais tarde que Charles Miller conseguiu organizar a primeira partida formal e documentada de futebol, com uma daquelas bolas, em um terreno baldio da várzea do Carmo, entre 109 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA as ruas Santa Rosa e do Gasômetro, na manhã de domingo, 14 de abril de 1895. Esse é considerado o primeiro jogo de futebol no país, uma partida entre ingleses e anglo-brasileiros, formados pelos funcionários da São Paulo Gás Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway. O amistoso terminou em 4 a 2, com vitória do São Paulo Railway (MÁXIMO, 1999). Logo após a sua introdução, o esporte começou a se difundir por outros estados. Em 1897, o estudante Oscar Cox, regressando da Suíça, introduziu o futebol no Rio de Janeiro. A primeira equipe do estado foi o Rio Team, formada por Cox, em 1901, logo seguido de Fluminense Foot-ball Club (1902), o Rio Foot-ball Club (1902), o Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club, o Bangu Athletic Club (os três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama se dedicavam ao remo e só aderiram ao futebol mais tarde, em 1911 e 1923, respectivamente (MÁXIMO, 1999). Existem diversos registros de partidas e locais onde se praticava o futebol, como praias, colégios e empresas. No entanto, os esforços de Miller e Cox são considerados a gênese do futebol esportivo brasileiro. Em um primeiro momento, a prática atraiu principalmente os jovens da elite que se organizavam em clubes e escolas ligadas às colônias de imigrantes, como também o meio industrial dominado pela aristocracia de origem europeia. Foi com jovens de “boas famílias”, até então praticantes de críquete, golfe, tênis, entre outros, que Charles plantou a semente. Ensinou-lhes os fundamentos do futebol, dividiu-os em dois times, organizaram o primeiro jogo de futebol da história do País na várzea do Carmo. Depois, realizaram novos jogos em outros campos, como no gramado da chácara da rica família britânica dos Dulley, no bairro do Bom Retiro. Nesse meio da elite de imigrantes europeus foram surgindo os primeiros times de associações esportivas (MÁXIMO, 1999). Figura 34 – São Paulo Athletic Club (SPAC), com Charles Miller ao centro Em 1896, o São Paulo Athletic Club (SPAC), fundado oito anos antes, seria o primeiro a aderir ao novo esporte, logo seguido de Sport Club Germania (1889), Mackenzie Athletic Association (1898), Sport Club Internacional (1898) e Clube Atlético Paulistano (1900) (MÁXIMO, 1999). 110 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III O primeiro campeonato documentado ocorreu em 1899 pelas equipes do São Paulo Athletic Club, da Associação Atlética Mackenzie College, do Hans Nobilings Team, time do alemão Hans Nobiling, fundador do Sport Club Internacional (SP), e do Sport Club Germânia, atual Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Com o surgimento de outras equipes voltadas ao futebol, é criada, em 19 de dezembro de 1901, a Liga Paulista de Football, formada pelas equipes dos seguintes clubes: São Paulo Athletic Club, Associação Atlética Mackenzie College, Sport Club Internacional (SP), Sport Club Germânia e Clube Athletico Paulistano. Seu primeiro presidente foi Antônio Casemiro da Costa (MÁXIMO, 1999). O futebol não demorou a contagiar as camadas menos favorecidas da população brasileira. O esporte que nasceu branco, dentro de clubes aristocráticos das grandes cidades industrializadas, passou a ter também uma identidade popular, quando negros se organizam de maneira precária em times pelos subúrbios e cidades pequenas, além das cidades portuárias, que organizavam times de locais para enfrentar times formados por tripulações de embarcações estrangeiras (RODRIGUES FILHO, 2003). Foi nas favelas e periferias dos grandes centros urbanos que o futebol conquistou as parcelas menos favorecidas da população brasileira. Em campos irregulares de terra batida, com materiais improvisados e geralmente descalços, que jovens, crianças e adultos praticavam o futebol. Devido às imperfeições do terreno e às dimensões reduzidas das bolas de meia, os praticantes dos bairros pobres tiveram que desenvolver maior agilidade e controle de bola, passes longos não eram eficientes devido às condições do terreno e às irregularidades da bola, por isso a condução e o drible eram muito mais frequentes nesse futebol pobre e negro (RODRIGUES FILHO, 2003). A agilidade dos menos favorecidos despertava o interesse das equipes populares recém-formadas, que buscavam alternativas criativas para remunerar esses jogadores, uma vez que tal prática era mal vista pela elite, que pregoava o amadorismo. O sociólogo Gilberto Freyre defendeu o surgimento de um futebol brasileiro com identidade nacional a partir da miscigenação cultural com a população negra. Nesse contexto, o futebol herdou a malícia, a ginga, o drible, a cadência irregular dos quadris inerentes aos ritmos da cultura afrodescendente. O futebol negro estaria impregnado do samba, da capoeira, traços totalmente ausentes no futebol rígido, de velocidade, de longos passes e jogadas aéreas, características do futebol europeu (RODRIGUES FILHO, 2003). O conflito racial e de classes que se estabeleceu pelos campos do Brasil contribuiu para disseminar o estilo brasileiro de se jogar futebol, o que também passou a ser conhecido mundialmente como futebol-arte. Em 1923, o clube Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, montou uma equipe com diversos atletas negros, causando muita polêmica na sociedade carioca, pois os atletas negros eram contratados pelo clube, enquanto os demais clubes contavam apenas com atletas brancos e amadores, que, sendo filhos da elite, podiam se dedicar ao esporte sem preocupações financeiras. Naquele ano, o Vasco da Gama sagrou-se campeão, mas foi expulso da liga carioca de futebol. O clube passou a jogar em uma liga extraoficial formada por times de clubes populares. Esse fato fez crescer o 111 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA interesse no futebol negro, miscigenado, e em pouco tempo o Vasco da Gama foi reintegrado à liga principal carioca e outros clubes passaram a contratar atletas negros para compor suas equipes (RODRIGUES FILHO, 2003). O primeiro craque a se destacar no Brasil foi Arthur Friedenreich. Filho de pai alemão com mãe negra brasileira, dividiu sua infância entre o clube elitista do pai (Club Athletico Paulistano) e as “peladas” do bairro da mãe. Negro de olhos verdes, foi, até fins dos anos 1920, uma exceção, um negro vestindo a mesma camisa dos jovens da elite, fazendo-se campeãoe artilheiro, chegando à seleção paulista e depois à brasileira (MÁXIMO, 1999). Figura 35 – Arthur Friedenreich, ídolo do Club Athletico Paulistano Nomes como Friedenreich, Leônidas da Silva, Garrincha e Pelé foram fundamentais para abrir as portas do futebol para os atletas negros. No entanto, ao contrário do que fora defendido por Gilberto Freyre, esses atletas não foram capazes de estabelecer a democracia racial no futebol brasileiro. Os atletas negros eram aceitos nos clubes, mas não eram bem recebidos nas ocasiões sociais dos clubes elitistas, seus salários eram geralmente menores do que os salários dos atletas brancos e até a arbitragem exercia juízo diferenciado sobre os atletas negros (MÁXIMO, 1999). Mesmos em dias atuais existe a presença de um racismo velado, camuflado, que se finge de tratamento igualitário, mas discrimina e diferencia os atletas negros. Ações ofensivas por parte de adversários e torcedores são frequentemente registradas por câmeras, por exemplo, bananas atiradas no gramado, xingamentos racistas, entre outras atitudes discriminatórias, próprias da modalidade de racismo hipócrita praticado no Brasil. 112 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III Saiba mais O livro a seguir narra com detalhes os primórdios do futebol brasileiro e as dificuldades de inclusão da população negra: RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. O governo brasileiro percebeu o potencial convocatório do futebol, a associação patriótica do esporte, quando representado por seleções nacionais em torneios internacionais. As primeiras disputas foram amistosas contra nossos vizinhos Uruguai e Argentina, mas foi na Copa do Mundo de 1938, com a conquista do 3º lugar, que o brasileiro viu no futebol a possibilidade de se afirmar como povo e país vencedor, que superava a condição subdesenvolvida e dependente (MÁXIMO, 1999). Grandes investimentos e negociações foram feitas para trazer a Copa do Mundo de 1950 para o Brasil. O Maracanã, o maior estádio do mundo até então, fora construído para abrilhantar a festa patriótica, mas a derrota calou o país e reforçou o sentimento de união em uma verdadeira comoção nacional. Os êxitos competitivos vieram nas Copas de 1958, 1962 e 1970. Essas três vitórias mundiais corroboraram para o desenvolvimento de campanhas nacionalistas e jargões, como “com brasileiro não há quem possa”, “ninguém segura este País”, “a seleção é a pátria de chuteiras”. Nesse mesmo período, o País enfrentou uma grave crise política ocasionada por um regime militar, que restringia a liberdade de expressão e oprimia os opositores com tortura e morte. O futebol foi uma arma ideológica instrumentalizada pelo governo brasileiro. No auge na repressão, a seleção brasileira de futebol conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo (RAMOS, 1982). Figura 36 113 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA O País todo caiu em um estado de euforia. Foram muitos dias de festas. A propaganda do Estado deixou a entender que não havia dissolução entre a pátria e a seleção, como dizia o hino da seleção nas décadas de 1970 e 1980, de autoria de Miguel Gustavo (RAMOS, 1982, p. 299-300): Noventa milhões em ação Pra frente, Brasil Do meu coração. Todos juntos, vamos Pra frente, Brasil Salve a seleção De repente é aquela Corrente pra frente Parece que todo Brasil deu a mão Todos ligados na mesma emoção Tudo é um só coração Todos juntos, vamos Pra frente Brasil, Brasil Salve a seleção Todos juntos, vamos Pra frente Brasil, Brasil Salve a seleção Nesta corrente pra frente. Ironicamente, nesse mesmo momento, a repressão do governo militar brasileiro era bastante severa e muitos artistas, jornalistas, professores, filósofos e escritores foram perseguidos pelo governo, presos, torturados, mortos ou exilados, simplesmente por se oporem à ideologia do Estado, por expressarem criticamente suas opiniões contra a ditadura militar. Nesse mesmo período, Atos Institucionais foram decretados pelo governo restringindo a liberdade da população e considerando crime de subversão as manifestações contrárias ao governo. O governo lançou nesse momento uma campanha de marketing com o seguinte slogan: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Saiba mais Indicamos o filmes a seguir: PRA FRENTE Brasil. Dir. Roberto Farias. Brasil: Embrafilme, 1982. 105 minutos. A obra ilustra a repressão e tortura da ditadura militar no Brasil nos dias da comemoração da Copa de 1970. 114 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III Atualmente, o futebol continua sendo uma preferência nacional, o País forma muitos jogadores protagonistas dos melhores times do mundo. A seleção brasileira conquistou mais dois mundiais, em 1994 e 2002. Mesmo após um período grande sem títulos expressivos, a população se mobiliza para acompanhar a seleção brasileira de futebol. A escalação, a escolha de um novo técnico, a disputa de outro campeonato ou mesmo um jogo amistoso é um evento de nível nacional. Tomando ciência desse imenso poder convocatório, o marketing esportivo fez do futebol um negócio bilionário, em que espaços publicitários, direitos de transmissão, patrocínios esportivos, venda de ingresso e produtos licenciados e a venda de direitos confederativos de jogadores atraem fortes investimentos todos os anos. Em meados dos anos 2000, o governo brasileiro não poupou esforços, nem investimentos, para alavancar a candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Essa empreitada, que passou a ser conhecida como a realização de megaeventos esportivos, teve efeito de distração de situações na esfera política e econômica que o País atravessou nas duas ocasiões. Em 2014, a Copa do Mundo de Futebol aconteceu meses antes de um disputado processo eleitoral no qual a então presidente obteve êxito e conseguiu a reeleição. A Copa do Mundo mostrou um país organizado e forte economicamente e após alguns meses o país caiu em uma severa crise econômica. No ano de 2016, os Jogos Olímpicos da cidade do Rio de Janeiro ocorreram em meio a um cenário tumultuado na política nacional. O Governo Federal tentou aproveitar as atenções voltadas para os Jogos Olímpicos para amenizar a crise, que acabou culminando no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Essas situações ilustram a importância cultural que o esporte possui no Brasil e alerta para a necessidade de um envolvimento mais crítico com o consumo desse espetáculo de mídia com tamanho carisma. Exemplo de aplicação O futebol é tido como a grande paixão nacional. Além de ser uma modalidade esportiva, além dos parâmetros de um grande espetáculo de mídia, além dos números de um gigantesco negócio, o futebol é parte integrante da cultura do povo brasileiro. Desde muito cedo, os pais tratam de doutrinar seus filhos com elementos culturais do futebol. O primeiro contato é a bola, objeto lúdico por essência, incita experiência de troca e cumplicidade entre pais e filhos desde os primeiros meses de idade. O fonema “gol” é uma das primeiras palavras do bebê depois de “mamãe” e “papai” apenas. De fácil pronúncia e carregada de emoção, essa palavra que sempre vem acompanhada de comemoração é a mais repetida por muitos pequeninos na infância. A criança cresce e, além de brincar de bola, é bombardeada com informações, cores e nomes de equipes, bandeiras e escudos e é, mais uma vez, conduzida a aderir a uma facção, geralmente a mesma 115EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA de seu pai, um time de futebol. Presentes, bolas, jogos e momentos inesquecíveis vão alimentado a necessidade de o povo brasileiro consumir, respirar e viver o futebol. Tal imensa paixão nos faz, muitas vezes, vivenciar o futebol de forma pouco racional e muito emocional. Nesse momento, percebemos recatados e discretos pais de família transtornados e proferindo palavrões do mais baixo nível quando o árbitro marca alguma infração contra sua equipe. Nesse contexto, muitos jovens aderem a torcidas organizadas, que se organizam para torcer e para brigar dentro e fora dos estádios de futebol. Movidos por tamanha emoção, os amantes do futebol não enxergam o que está por trás dos bastidores. Agentes da gestão desse negócio chamado futebol estão mais preocupados com a lucratividade de seus atletas e pouco se importam com a paixão dos torcedores. Nessa ocasião, vemos equipes cada vez mais sendo totalmente desfeitas após um grande êxito esportivo. Fanáticos pelo esporte e pelos seus times não se dão conta que, por trás de algumas ações, estão interesses maiores envolvidos. Como é o caso da vinda da Copa do Mundo para o Brasil em 2014. A realização do evento exigiu um esforço intenso e acelerado para a construção de gigantescos estádios, que foram financiados em grande parte pelo Governo Federal. Na ocasião, os orçamentos eram sempre esticados, gerando ônus maiores aos cofres públicos. Passados alguns anos do evento, inúmeras acusações de corrupção envolvendo governo e empreiteiras apareceram na mídia como símbolo de uma gestão esportiva pouco comprometida com o bem-estar geral e mais interessada em sustentar suas regalias e estilo de vida, ou ainda criar fundos para financiar a perpetuação de sua legenda no poder. Faça uma reflexão comparando as estratégias de investimento no esporte brasileiro, através da construção de arenas e na organização de grandiosos espetáculos, com as estratégias dos imperadores romanos no que foi chamado pela história de política do Pão e Circo. 7.2 A história da Educação Física no Brasil A Educação Física brasileira teve influência dominante das escolas de ginástica europeias, sobretudo das ginásticas francesa, alemã e sueca. Algumas obras literárias foram publicadas no Brasil, seguindo as tendências europeias de ginástica civil, militar, nacionalista e higienista: em 1823, Joaquim Jerônimo Serpa publicou o Tratado de Educação Física e Moral dos Meninos, obra higienista e inclinada à puericultura, pioneira no País, publicada em Pernambuco; o Dr. Eduardo Augusto de Abreu publicou os Estudos Higiênicos sobre a Educação Física; e, em 1888, foi publicado o Manual Teórico-Prático de Ginástica Escolar, de Pedro Manuel Borges (TUBINO, 1996). O Imperial Collegio de Pedro Segundo foi fundado no Rio de Janeiro em 1837. O principal objetivo do governo brasileiro ao organizar o CPII foi oferecer boa educação aos filhos da sociedade imperial. Foi no Colégio Pedro II que a Educação Física brasileira teve seus primeiros passos. O Colégio Pedro II contratou seu primeiro mestre de Gymnastica, o ex-capitão do Exército Imperial, Guilherme Luiz de Taube, no ano de 1841. O professor dedicou-se à ginástica como elemento de formação de jovens, conforme acontecia nos mais renomados liceus da Europa. 116 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III De acordo com registros do colégio, as lições de exercicios gymnasticos eram ministradas em seis dias da semana, à exceção do domingo. O espaço destinado às lições era o pátio do colégio. Cada uma das aulas durava cerca de uma hora, menos na quinta-feira, quando a duração da aula seria aumentada para duas horas de exercícios. A prática regular e diária dos exercicios gymnasticos era defendida pelos médicos como um dos fatores necessários para garantir seus benefícios. Esse fato demonstra o caráter higienista da ginástica em seus primórdios (CUNHA JUNIOR, 2008). Em 1846, três anos após a saída de Taube do Colégio Pedro II, Frederico Hoppe, ex-militar espanhol, solicitou o cargo de mestre de gymnastica da instituição. Hoppe se dedicou a ensinar esgrima aos jovens do colégio. De acordo com ele, a esgrima era componente fundamental da educação da elite europeia e superaria os resultados da “simples gymnastica” até então ministrada no colégio. Os argumentos de Hoppe provêm, especialmente, dos discursos médico e militar, tão importantes no processo de escolarização da gymnastica no Brasil (CUNHA JUNIOR, 2008). Em 1859, Pedro Guilherme Meyer, alferes do Exército Imperial Brasileiro, assumiu as lições de ginástica do Colégio Pedro II em seu novo ginásio, que deveria servir de referência para os demais estabelecimentos colegiais em prol da difusão da Educação Física da mocidade brasileira. Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do Coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual foi transferido em 1852. Destacavam-se no método organizado por Amoros os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No Colégio Pedro II, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos (CUNHA JUNIOR, 2008). 7.3 A Educação Física brasileira e os pareceres de Rui Barbosa Em 1882, na Câmara dos Deputados, Rui Barbosa divulga o parecer sobre a reforma do ensino primário, no qual afirma que o desenvolvimento físico e o intelectual devem andar em paralelo. O deputado propõe as seguintes ações: • A instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola normal. • A extensão obrigatória da ginástica para ambos os sexos, na formação do professorado e nas escolas primárias de todos os graus, tendo em vista, com relação à mulher, a harmonia das formas e as exigências da maternidade futura. • A inserção da ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, em horas distintas das do recreio, e depois das aulas. 117 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA • Equiparação, em categoria e autoridade, dos professores de ginástica aos de todas as outras disciplinas. Essas proposições vieram a influenciar a organização do ensino da Educação Física em todas as escolas brasileiras nas gerações que se seguiram (RAMOS, 1982). É importante lembrar que a Escola Militar Brasileira havia adotado, desde meados do século XIX, o método de ginástica alemão e, portanto, apesar do pioneirismo do Colégio Pedro II ter adotado a ginástica francesa, muitas escolas eram ministradas por professores militares formados com a vigorosa ginástica alemã de Friedrick Jahn (TUBINO, 1996). Somente em 1907, com a chegada de uma missão militar francesa que se instalou em São Paulo para ministrar instrução na Força Pública do Estado, foi que a ginástica alemã passou a perder terreno para a ginástica francesa. Em 1909, foi criada uma escola para formar professores de esgrima e ginástica junto à Escola Militar do Estado de São Paulo. Essa escola serviu de base para a criaçãoda primeira escola de Educação Física do Brasil em 1929 na Vila Militar, o Curso Provisório de Educação Física. Esses fatores influenciaram bastante a consolidação da Educação Física no Brasil (RAMOS, 1982). 7.4 Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX Na década de 1920 surge, no Brasil e no mundo, uma preocupação com a depuração da raça e o fortalecimento do povo. Embasado nas teorias evolucionistas de Darwin, a ideia era privilegiar as características que permitissem a constituição de um povo robusto, resistente e inteligente. Nesse sentido, a miscigenação racial era vista como uma agente de degeneração da raça, perdendo características desejáveis. A elite branca brasileira gradativamente se aparelhou para a implementação de um plano de fortalecimento racial. Em 1918, é criada, no Brasil, a Sociedade Eugênica de São Paulo, que produziu diversos documentos e utilizou como parceira de publicações a Revista Educação Physica, publicada a partir de 1932 (GOELLNER, 2008). A revista se alinhou aos ideais político-ideológicos do governo da época, simpatizante do Nacional Socialismo alemão. O governo de Getúlio Vargas estreitou relações com a Alemanha e se deixou influenciar por questões raciais, legais e políticas, firmando acordos comerciais e intercâmbios culturais (GOELLNER, 2008). O “embranquecimento” da raça brasileira se tornou oficialmente parte do plano de desenvolvimento nacional, empregando diferentes categorias profissionais, tais como médicos, intelectuais, professores e instrutores de Educação Física, que se esforçaram amplamente para difundir os conceitos eugênicos em meios sociais e educacionais (GOELLNER, 2008). O principal veículo de implementação do plano de eugenização da raça brasileira era o fortalecimento do corpo da mulher através do exercício físico. De acordo com a concepção da época, as mulheres mais fortes seriam capazes de gerar filhos mais hígidos, mais aptas à maternidade e à criação de cidadãos fortes para a construção de uma nova nação, livre da degeneração racial (GOELLNER, 2008). 118 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III As mulheres deveriam dedicar-se a exercícios que as preparassem para a maternidade, reforçando suas formas curvilíneas propícias à atração de seus parceiros. Deveriam ser evitados os esforços violentos e impactantes, capazes de promover a “masculinização” da mulher, como o surgimento de músculos e o embrutecimento dos gestos. Os exercícios femininos deveriam fortalecer a mulher e, ao mesmo tempo, ressaltar suas características suaves e femininas. O principal objetivo era a preparação para a gestação de filhos fortes. A mulher era vista como uma matriz depuradora da raça (GOELLNER, 2008). Natação, tênis, esgrima, ginástica e remo são algumas das principais atividades em número de mulheres inscritas nas primeiras décadas do século XX. A ginástica ganhou grande força no currículo das escolas primárias como modalidade a ser aplicada prioritariamente às meninas, enquanto os meninos teriam currículo envolvendo atividades mais robustas, tais como futebol, corridas, saltos, lutas, handebol e basquetebol. Observação Eugenia: substantivo feminino. Bioteoria que busca produzir uma seleção nas coletividades humanas, baseada em leis genéticas; eugenismo. 7.5 A institucionalização do esporte brasileiro Para entender o que houve com o processo de institucionalização imposto pelo governo de Getúlio Vargas, é necessário entender como o Estado Novo administrava o País. Havia uma forte centralização, a questão da identidade nacional e o destaque à coletividade. Houve a transferência do modelo liberal de administração para um modelo centralizador, interferindo diretamente na vida cotidiana dos indivíduos, inclusive nas práticas esportivas. O governo objetivava, através de projetos nas áreas da saúde, trabalhista, educação e também no esporte, gerar a identidade nacional coletiva (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007). Em 1941, o Estado brasileiro legislou, através do Decreto-lei nº 3.199, o estabelecimento de bases para a organização do esporte no Brasil. Em seu primeiro capítulo, a lei institui o Conselho Nacional de Desportos (CND), órgão alocado no Ministério da Educação e Saúde, responsável por orientar, fiscalizar e incentivar a prática de esporte no País (TUBINO, 1996). Essa estrutura vai ao encontro da política nacionalista do Estado Novo, que buscava centralizar as instituições sob o controle estatal. Dessa forma, clubes e federações esportivas passaram a ser atreladas de forma linear e submissa às deliberações do CND. O objetivo era orientar o esporte de acordo com o espírito coletivo do Estado, buscando a formação física e espiritual do cidadão. Assim, o esporte desceria do governo para o povo, uniformizando estatutos, regulamentos e denominações das instituições esportivas, caracterizando claramente o dirigismo estatal. Ao CND ficaria subjugada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e a ela estariam linearmente subjugadas todas as federações e confederações das modalidades esportivas (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007). 119 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Com a lei, o desporto amador ficou definitivamente separado do desporto profissional, sendo os primeiros patrocinados pelo Estado, enquanto o segundo ficaria regulamentado como divertimento espetacular, organizado de acordo com as leis trabalhistas, sem qualquer incentivo público (TUBINO, 1996). O Art. 54 (Lei nº 3.199/41), do Capítulo IX, “Disposições gerais e transitórias”, afirma que “às mulheres não será permitida a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do País”. E, em 1965, através da Deliberação nº 7/65, o CND criou a regra que dizia que às mulheres não seria permitida a prática “de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, rugby, halterofilismo e beisebol”, decisão esta revogada somente em dezembro de 1979 (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007). Fica clara a condução do esporte feminino, com a proibição legal de modalidades supostamente agressivas ao sistema reprodutor feminino. O Estado tinha interesse em mulheres saudáveis, ativas e graciosas, sobretudo com a manutenção da feminilidade e das funções entendidas como necessárias à maternidade (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007). 7.6 A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro Em 1979, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), por insistência do professor Joaquim Mamede de Carvalho e Silva, iniciou um trabalho junto ao CND para convencer o órgão a revogar tal proibição para a prática de lutas por parte das mulheres. Em outubro de 1979, Mamede conseguiu levar uma equipe feminina para participar do Campeonato Sul-Americano de Judô, realizado em Montevidéu, no Uruguai (MOURÃO; SOUZA, 2007). Para conseguir subsídios (passagens, estadia, inscrições e alimentação), as atletas foram relacionadas com nomes masculinos junto ao CND. As quatro atletas pioneiras na participação do Judô feminino em eventos internacionais foram: Kasue Ueda, Ana Maria de Carvalho e Silva, Cristina Maria de Carvalho e Silva e Patrícia Maria de Carvalho e Silva, as três últimas, filhas do professor Joaquim Mamede de Carvalho e Silva. As atletas conquistaram várias medalhas no torneio, auxiliando o Brasil a alcançar a primeira colocação na contagem geral de pontos, somando-se os pontos das categorias masculina e feminina (MOURÃO; SOUZA, 2007). Ao chegar ao Brasil, Mamede usou os resultados esportivos e o âmbito esportivo mundial para demover o CND a legalizara participação esportiva feminina no judô. A Deliberação nº 7 foi revogada e substituída pelo Artigo 10º, permitindo, assim, a prática de esportes estigmatizados como viris. Assim, as mulheres puderam participar de torneios e treinamentos por todo o mundo, bem como abriram caminho para que outras modalidades esportivas proibidas também pudessem se desenvolver (MOURÃO; SOUZA, 2007). 7.6.1 A mulher no esporte: gênero e mídia O esporte contemporâneo pode ser caracterizado como um grande espetáculo veiculado pelos meios de comunicação de massa. Para tanto, as exigências do público espectador são levadas em consideração ao montar-se a programação a ser exibida. As empresas investidoras, tais como anunciantes, patrocinadores e apoiadores, estudam os índices de visibilidade das modalidades esportivas veiculadas para decidirem 120 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III seus planejamentos estratégicos de investimentos. Cria-se um ciclo vinculado aos índices televisivos. Determinada modalidade tem mais ou menos investidores de acordo com a exibição que possui em mídia (jornais, internet, transmissão televisiva e rádio), o que acaba direcionando a montagem da programação e a cobertura esportiva jornalística. As modalidades detentoras do gosto popular são mais vistas e, portanto, possuem mais investidores. A preferência popular por determinada modalidade ou categoria é construída por valores culturais da sociedade na qual está inserida. Esses valores, por sua vez, são construídos pelas vivências históricas e por influências culturais, como é o exemplo do futebol, modalidade que detém a maior audiência televisiva do País. O esporte bretão tem origem histórica na colônia inglesa, que montou fábricas no Brasil a partir de meados do século XIX. Apesar de no início só ser praticado por estrangeiros e membros de famílias abastadas, o futebol ganhou gosto popular em função da simplicidade das regras e da dinâmica esportiva. Atualmente, é a modalidade esportiva mais popular no Brasil. É também a modalidade com maior espaço na mídia e maior volume de investimentos financeiros, além de ser a modalidade esportiva mais praticada (GOELLNER, 2005). Existe uma grande diferença relacionada à questão de gênero no esporte brasileiro. De forma geral, as modalidades femininas possuem menor espaço na mídia e menos investimentos. Seguindo a lógica ilustrada anteriormente, percebe-se que essa situação é estabelecida pela cultura esportiva para meninas. Historicamente, o esporte sempre foi visto como uma atividade que as mulheres deveriam praticar com limites em função de sua condição física supostamente inferior. A mulher sempre foi tida como o “sexo frágil” e, até a década de 1970, era proibida por lei de praticar modalidades esportivas que levassem à fadiga exagerada. O futebol, futebol de salão (futsal), lutas, levantamento de peso, entre outras, eram modalidades esportivas proibidas para as mulheres. A justificativa médico-higienista reforçava a ideia de que o exercício físico extenuante afetaria as funções reprodutivas da mulher. A condição da maternidade era vista como prioritária, pois o papel de mãe era a principal e mais sagrada função da mulher na sociedade (GOELLNER, 2005). Atualmente, estudos fisiológicos apresentam dados que amparam a participação esportiva das mulheres, sendo capazes de suportar plenamente as cargas competitivas e de treinamento. A diferença fica por conta da capacidade absoluta de produzir força menor em função das características biológicas diferentes dos homens. Por exemplo, a mulher produz menos testosterona, o que ocasiona uma menor quantidade de massa muscular, e, consequentemente, uma menor condição de aplicação de força. De forma geral, as mulheres sempre foram direcionadas a atividades ocupacionais que exigissem menos do físico. A sociedade brasileira criou uma estrutura cultural que não privilegiou a prática esportiva vigorosa feminina. A mulher foi sempre direcionada à dança, às habilidades manuais, à culinária e ao cuidado com as crianças. Essa condição cria uma disparidade na configuração da massa espectadora de esporte. Na sociedade brasileira machista, convencionou-se que “esporte é coisa de homem e novela é coisa de mulher”. Além disso, os valores associados ao esporte denotam a capacidade física máxima, o recorde e a proeza física desafiando os limites do corpo. De forma absoluta, as marcas esportivas masculinas determinadas pelas capacidades físicas são sempre melhores do que as dos resultados femininos. Às mulheres são atribuídas qualidades como harmonia, equilíbrio, graciosidade e elasticidade (KNIJNIK; SIMÕES, 2000). 121 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Em função da caracterização predominantemente masculina da audiência esportiva, percebe-se uma desvalorização financeira dos eventos esportivos femininos, com menor exposição na mídia. Motivadas por essa condição machista, as modalidades esportivas acabam desenvolvendo uniformes esportivos diminutos para as mulheres a fim de delinear seus corpos e chamar a atenção do público masculino, elevando, assim, os índices televisivos, como é o caso do voleibol, do tênis e do handebol (KNIJNIK; SIMÕES, 2000). Observação Visando atingir os espectadores masculinos, as próprias confederações e patrocinadores produzem uniformes mais curtos, que valorizam as curvas das atletas. 7.7 As estruturas esportivas brasileiras contemporâneas O esporte brasileiro não apresenta hoje uma política clara quanto ao seu desenvolvimento. As ações de incentivo se destinam a categorias de atletas com destaque no cenário nacional e internacional, ou seja, estimula-se o topo da cadeia de desenvolvimento esportivo e não se organizam os investimentos na base, na formação de novos atletas. Existe uma forte coordenação entre todas as instituições de esporte de elite, com clara definição e sem sobreposição das diferentes tarefas. O País possui ações voltadas para o desenvolvimento do esporte de alto nível oriundas do COB e do Ministério do Esporte, as quais são isoladas, algumas delas semelhantes, mas sem que haja uma diretriz central norteadora para elas (MEIRA; BASTOS; BÖHME, 2012). Os esforços para o desenvolvimento de uma Política Nacional de Desenvolvimento Esportivo não conseguem atingir efetivamente os incentivos ao esporte em nível municipal, na criação de escolinhas e categorias de base. Os investimentos nesse setor são desorganizados e, na maioria dos municípios, muito escassos. Os recursos têm foco em um número relativamente pequeno de esportes que possuem chances reais de sucesso internacional: 29 confederações recebem o repasse da verba proveniente da Lei Agnelo-Piva, desde que atendam a determinados critérios preestabelecidos. No entanto, não existem estratégias para focar na aplicação de recursos em modalidades com chances reais de medalhas e que possuam tradição em Jogos Mundiais e Olímpicos, a fim de potencializar resultados expressivos internacionais. Fica claro que a ação de incentivo se preocupa mais com a obtenção de resultados e menos com a função social e educativa do esporte. Alguns projetos bem-organizados recebem repasse de verba da Lei Agnelo-Piva, que prevê isenção fiscal para empresas apoiadora do esporte. No entanto, a abrangência dessas iniciativas é amostral e grande parte da população é alienada da prática esportiva de base (MEIRA; BASTOS; BÖHME, 2012). Países socialistas, tais como Cuba, China e União Soviética, que existiu até a década de 1990, pautavam sua organização esportiva no oferecimento de esporte para toda a população de forma gratuita e obrigatória. A formaçãoesportiva era ampla e integral, envolvendo diversas modalidades. Apesar de 122 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III saber-se que a formação esportiva nos países socialistas atendia a interesses estatais relacionados com a representação esportiva nacional e com a disciplina e capacitação energética da população, cabe admitir que a estrutura piramidal dá oportunidade de prática a grande parte da população e gera uma cultura de prática esportiva efetiva. O grande desafio seria suplantar a tendência meramente tecnicista do modelo esportivo piramidal e torná-lo uma referência plural. Nesse âmbito, surgiu, na década de 1970, o movimento mundial “Esporte para todos”, que preconizava a participação esportiva massiva da população. O desporto para todos era o lema dessa época e formulava-se a pirâmide da elite desportiva no cume, organização desportiva, equipamento básico urbano, Educação Física/desporto escolar no meio e o desporto de massa, conforme pirâmide ilustrada por Tubino (1996): Atletas de performance Educação física e desporto escolar Desporto de massa (popular) Figura 37 A organização esportiva nacional busca uma condição de comunicação eficaz, a existência de uma linha ininterrupta entre os diferentes níveis das instituições esportivas. Atualmente existem ações do COB em relação ao oferecimento de cursos para as confederações e técnicos. No entanto, a participação de atletas nas instituições nacionais de esporte ainda é bastante restrita e recente. Com relação aos resultados de outras pesquisas comparativas internacionais sobre o tema estudado, o esporte brasileiro necessita de estruturação esportiva nacionalmente, para que programas e projetos esportivos funcionem de maneira regional, mas de modo integrado com diretrizes propostas e coordenadas por órgãos governamentais e entidades nacionais do esporte (MEIRA; BASTOS; BÖHME, 2012). 8 EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA O debate epistemológico a respeito da Educação Física se desenvolve no Brasil com grande intensidade desde a década de 1980. Vários autores, cientistas e pedagogos de produção expressiva se manifestaram a respeito de qual seria o corpo de conhecimento compreendido na Educação Física. O debate se aprofundou em função das convicções políticas, pedagógicas e científicas de cada autor. Por muitas vezes, o debate, propriamente dito, tomou maior vulto que a atividade desenvolvida ou mesmo a organização estrutural e política da Educação Física. 123 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Alguns pontos consensuais entendem a Educação Física como uma prática social que comporta muitas manifestações diferentes e, por esse motivo, torna difícil a tarefa de gerar uma identidade bem delimitada de seu corpo de conhecimento. A Educação Física transita fortemente na área pedagógica, abordando a função do exercício físico na formação plena do indivíduo. Ela também se aventura proximamente das manifestações esportivas, sejam formativas, participativas ou de rendimento. São áreas de atuação da Educação Física os aspectos do exercício físico relacionados à saúde e ao bem-estar físico, mental e social. Também existe a aproximação com o lazer, seja ele usado como complemento pedagógico ou abordado como fim em si mesmo, ou seja, como estratégia de participação lúdica visando exclusivamente à satisfação por meio de vivências prazerosas. A Educação Física ainda é tida como agente de grande importância nos processos de inclusão de pessoas portadoras de deficiência, seja pelos benefícios físicos, seja pelas vantagens afetivas e sociais proporcionadas pela participação em programas de exercícios físicos (BRACHT, 1995). A Educação Física como área de conhecimento e intervenção profissional-pedagógica, que lida com a cultura corporal de movimento, objetivando a melhoria qualitativa das práticas constitutivas daquela cultura, mediante referenciais científicos, filosóficos e estéticos (BETTI, 2003 apud BETTI, 2005, p. 187). Devido à grande quantidade de áreas afins, chegou-se a afirmar que a Educação Física não poderia ser tida como ciência, com objeto próprio de estudo, e sim como prática científica que se apropria de ferramentas de outras ciências, para discutir as manifestações da cultura corporal e de movimento humano. A Educação Física, vista como prática social provida de história e contextualização social, contempla a possibilidade de engajamento pedagógico, de participação em práticas científicas (BRACHT, 1995). De acordo com Betti (2005, p. 195): A Educação Física não é uma disciplina científica, mas uma área de conhecimento e intervenção pedagógica que expressa projetos social e historicamente condicionados, os quais, por sua vez, levam à construção dos objetos da pesquisa científica, exercitando e transformando constantemente no seio da comunidade acadêmica. Dessa forma, não se pode reduzir a definição de Educação Física a uma de suas áreas de ação; saúde, escola, lazer, esporte, estética, inclusão, apesar de todas elas estarem contidas nela como práticas sociais que efetivamente se manifestam por meio da cultura do movimento corporal humano. 8.1 Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil A Educação Física desenvolveu-se no Brasil a partir das influências militares das escolas ginásticas europeias. Os métodos ginásticos europeus, desenvolvidos em meados do século XIX, visavam formar cidadãos vigorosos para atender à qualificação do povo e à formação da nação. Tinham ainda forte influência médico-higienista, procurando desenvolver a aptidão física do indivíduo como alicerce para a 124 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III formação moral e intelectual. As primeiras escolas brasileiras eram de formação militar, tendo, no período imperial, a influência da ginástica sueca. No início do período republicano, o Brasil foi governado por militares. Entre os anos de 1900 a 1910, o Exército Brasileiro recebeu o intercâmbio de um destacamento militar francês, o que viria determinar a linha de aplicação da Educação Física brasileira por várias décadas (SOARES, 1994). A partir da década de 1940, o governo de Getúlio Vargas passou a instrumentalizar a Educação Física e o esporte, lato sensu, como ferramentas de melhoria racial. Por meio do desenvolvimento físico, a ideia era melhorar a raça do povo brasileiro. Essa ação passou a ser referida como eugenia. No decorrer de várias décadas, a Educação Física manteve-se oficialmente com uma inclinação militarista, biológica e voltada ao desenvolvimento dos aspectos físicos (SOARES, 1994). Na década de 1970, o caráter biológico foi acrescido da tendência esportivista. A ideia do governo vigente era usar a Educação Física escolar como um instrumento de formação e detecção de atletas que pudessem representar a nação em competições nacionais e internacionais, mostrando o valor do povo brasileiro e angariando prestígio político. A partir desse período, a Educação Física ganhou forte conotação biológica, esportivista e tecnicista (SOARES, 1994). A partir do final da década de 1970 e início de 1980, com o retorno de professores pós-graduados do exterior, novas abordagens filosóficas e pedagógicas passaram a ser defendidas como alternativas ao modelo hegemônico biológico esportivista. O modelo biológico passou a ser entendido como excludente, injusto e eugênico (DARIDO, 2001). As principais abordagens discutidas resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas e sociológicas e de concepções filosóficas. Todas essas correntestêm ampliado os campos de ação e reflexão para a área, aproximando-a das áreas das ciências humanas. Algumas abordagens que tiveram maior impacto, a partir da década de 1970, são as seguintes (DARIDO, 2001): • Psicomotricidade: comprometida com o desenvolvimento integral da criança, extrapola os limites biológicos do rendimento corporal e valoriza os conhecimentos de ordem psicológica. A ação educativa deve ocorrer a partir de movimentos espontâneos da criança e de suas atitudes corporais. Deve haver equilíbrio entre o desenvolvimento funcional e afetivo. • Desenvolvimentista: abordagem dirigida a crianças de quatro a catorze anos. Tem por objetivo caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social na aprendizagem motora. Defende que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física. Essa proposta não visa resolver problemas sociais. A Educação Física deve dar condições para que o comportamento motor do aluno seja desenvolvido por meio da interação entre o aumento da diversificação e da complexidade dos movimentos. • Construtivista-interacionista: objetiva a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo. Critica as propostas tecnicistas hegemônicas, caracterizadas pela busca do 125 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA desempenho máximo sem considerar as diferenças individuais. Para a abordagem construtivista, deve-se respeitar o universo cultural do aluno, explorando variadas possibilidades educativas e lúdicas. A proposição de tarefas desafiadoras é uma forma de construir o conhecimento. • Crítico superadora: embasada no discurso da justiça social no contexto da sua prática. Busca levantar questões de poder, interesse e contestação e faz uma leitura dos dados da realidade à luz da crítica social dos conteúdos. Ela pode ser tida como uma reflexão pedagógica e desempenha um papel político-pedagógico, pois encaminha propostas de intervenção e possibilita reflexões sobre a realidade dos homens. Por meio do jogo, da ginástica, da dança e do esporte, busca criar condições educativas que contestem a realidade de injustiças sociais e que não reproduzem a ótica capitalista hegemônica e injusta (AZEVEDO; SHIGUNOV, 2000). • Crítico emancipatória: centrada no ensino dos esportes, foi concebida para a Educação Física escolar. Busca uma ampla reflexão sobre a possibilidade de ensinar os esportes pela sua transformação didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar um espaço de aquisição de uma competência crítica e emancipada, voltada para a formação da cidadania do jovem, indo além de mera instrumentalização técnica para o trabalho. A condição de emancipação pode ser entendida como um processo contínuo de libertação do aluno das condições limitantes de suas capacidades racionais críticas e até mesmo o seu agir no contexto sociocultural e esportivo (AZEVEDO; SHIGUNOV, 2000). 8.2 Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea A atual conjuntura pedagógica da Educação Física procura adotar um discurso conciliatório voltado ao desenvolvimento de ações que conjuguem as abordagens discutidas desde a década de 1970. O intuito de síntese dos temas convergentes busca desenvolver experiências pedagógicas plurais, evitando o restabelecimento de aspectos que foram severamente criticados no passado. Historicamente, a discussão epistemológica sobre a Educação Física vem se desenvolvendo desde meados da década de 1970, quando professores trouxeram ao meio acadêmico da Educação Física debates já iniciados em outras esferas da educação. O aspecto mais criticado foi a visão tecnicista e biológica adotada pela Educação Física até então. Por essa visão, a Educação Física era responsável apenas pelo desenvolvimento das capacidades físicas e motoras dos jovens, visando à melhoria da aptidão física para objetivos esportivos e à melhoria da saúde da população. O discurso da saúde populacional estava, na década de 1970, impregnado de um viés político e nacionalista, que visava fortalecer a nação pelo fortalecimento físico do povo (SOARES, 1996; DARIDO, 2001). A necessidade do estabelecimento da crítica e da mudança motivou inúmeros pesquisadores, que apresentaram variadas vertentes de aplicação alternativa ao quadro biológico e esportivista hegemônico. O debate fervoroso entre os defensores de novas abordagens pedagógicas se estendeu de 1980 até meados da década de 1990. Diante da grande quantidade de doutrinas sendo discutidas, o estabelecimento de um consenso foi dificultado e a prática pedagógica da Educação Física, outrora controlada pelo dirigismo estatal, passou a ser negligenciada devido à falta de definição para os planos de ação oficiais (DARIDO, 2001). 126 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III A partir da segunda metade da década de 1990, esforços para a ação pedagógica conjugada se estabeleceram. Em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (PCN), documento produzido por uma força-tarefa de professores da Educação Física, que buscou o estabelecimento de temas transversais e do diálogo entre as ideias discutidas até então. Um consenso foi estabelecido: a necessidade de direcionar o ensino da Educação Física a uma prática autônoma e consciente, que desenvolva o indivíduo em seus aspectos físicos, cognitivos e socioafetivos (BRASIL, 1998). Os principais objetivos estabelecidos pelos PCN da Educação Física foram (BRASIL, 1998): • A compreensão da Educação Física como um veículo de formação e exercício da cidadania, do conhecimento crítico da cultura do movimento corporal humano aplicada ao contexto socioeconômico de cada um. • O conhecimento das características culturais fundamentais norteando a prática da Educação Física com identidade nacional, bem como possibilitando o conhecimento e a valorização da pluralidade das possibilidades e objetivos das práticas corporais, evitando o dirigismo homogêneo e a discriminação de aspectos diversos pautados em culturas diferentes. Os PCN ainda objetivaram a percepção do praticante como um agente transformador da própria realidade, contribuindo para a melhoria do meio ambiente em que vive. Buscaram desenvolver o autoconhecimento e a autoestima, melhorando as capacidades integrativas, afetivas e físicas dos praticantes, estimulando o conhecimento do próprio corpo e valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida (BRASIL, 1998). Os parâmetros procuraram adotar linguagens diversas e não apenas a esportiva, abordando veículos artísticos e outros próprios das demais disciplinas da educação formal, tais como a matemática, a interpretação textual e a computação, para desenvolver os aspectos culturais do movimento humano (BRASIL, 1998). Adotando um discurso oficial, porém conciliador, plural e crítico, os PCN se estabeleceram como documento referencial para políticas educacionais na área de Educação Física. O discurso plural adotado pela prática pedagógica atual busca uma aprendizagem com foco no indivíduo, objetivando benefícios ao seu desenvolvimento harmonioso e integral. O processo pedagógico atual permite ao aluno participar ativamente da construção do conhecimento, saindo da postura exclusiva de receptor e passando a interagir com a aquisição do conhecimento por meio de pesquisas e apresentações de atividades corporais, tais como as danças e manifestações folclóricas (SOARES, 1996). Os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física se diversificaram, incluindo a prática de lutas, danças e jogos de diversas naturezas (recreativos,cooperativos e educativos). A ginástica foi resgatada como forma de expressão e de conhecimento corporal amplo. Apesar da crítica ao tecnicismo esportivista hegemônico do passado, as modalidades esportivas continuam sendo importantes conteúdos das aulas de Educação Física, uma vez que o esporte é uma manifestação cultural contemporânea de 127 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA grande abrangência, porém não é mais a única opção e não é mais voltado ao desenvolvimento da aptidão física, da seleção e da detecção de talentos esportivos (SOARES, 1996). Lembrete Os PCN foram uma iniciativa conciliadora e plural na Educação Física escolar. Sua efetividade está na aplicação de temas e abordagens diversas, buscando um enriquecimento da vivência motora na Educação Física. 8.3 Educação Física e aspectos da saúde Historicamente, a Educação Física esteve relacionada à área da saúde. O movimento ginástico europeu é visto como um marco importante do surgimento da Educação Física moderna, ocorrido no início do século XIX. Naquele momento, dezenas de pedagogos, pensadores, militares e médicos desenvolveram métodos sistematizados de ginástica voltados à formação do cidadão forte, saudável e produtivo. O intuito dessa formação era a constituição dos Estados Nacionais, partindo da ideia de formação de um povo apto a trabalhar arduamente e a defender a pátria nas frequentes guerras do período. O exercício físico foi utilizado como ferramenta formadora de corpos ditos saudáveis, aptos a suportar grandes sobrecargas de trabalho, não considerando as pessoas como reais beneficiárias da atividade. Na Europa, por volta de 1830, inúmeros países desenvolviam a ginástica em diversas modalidades: cívica, militar e médica higiênica, esta última amplamente difundida como instrumento gerador da saúde da população, tida até então como o estado físico de bem-estar, vigor e ausência de doença (SIGOLI; DE ROSE JR., 2004; SOARES, 2007). A Educação Física no Brasil foi muito influenciada pelas correntes de ginástica da Europa, sobretudo pelas ginásticas militares sueca e francesa, introduzidas pelas escolas militares e depois difundidas em todo o ensino civil. A medicina brasileira também se espelhou no modelo europeu e disseminou forte campanha para a prática de atividades físicas. No início do século XX, o objetivo era formar o indivíduo “saudável”, com uma boa postura e aparência física. Posteriormente, com a implantação do Estado Novo, na década de 1930, surge a tendência militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia da raça. O exercício físico, segundo as concepções da época, tornaria o povo mais saudável e forte, ajudando a acabar com os degenerados, uma concepção declaradamente racista (PITANGA, 2002; SOARES, 2007). Na década de 1970, diversos laboratórios de avaliação física e fisiologia do exercício foram instalados por universidades e centros de pesquisa, visando obter conhecimentos biológicos para a área da Educação Física. Essa abordagem foi questionada pela corrente mais crítica de estudiosos, pois reforçava o ponto de vista higiênico e até eugênico. A linha de pensamento biológico coexiste, atualmente, em paralelo a correntes críticas, humanistas, construtivistas e desenvolvimentistas, sendo vista como uma abordagem renovada da atividade física como instrumento de promoção de saúde e qualidade de vida (DARIDO, 2001). Atualmente, a saúde é definida não apenas como a ausência de doenças. O conceito contemporâneo de saúde se identifica por meio de diversos aspectos do comportamento humano voltados a um estado 128 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III de completo bem-estar físico, mental e social. A Educação Física contemporânea se relaciona com essa concepção abrangente e múltipla de saúde. Age como ferramenta de promoção de saúde, atuando na esfera física, melhorando o condicionamento corporal e combatendo o sedentarismo. Atua também nos aspectos psicológicos da saúde ao promover melhora significativa da autoestima e a formação de uma autoimagem positiva e ainda age em benefício da saúde no âmbito social, promovendo a inclusão em grupos de convívio em academias, clubes e centros esportivos (PITANGA, 2002). Além da atividade física, outros fatores comportamentais e ambientais são importantes geradores de saúde, tais como hábitos alimentares, segurança, infraestrutura sanitária, relacionamento afetivo- social estável com amigos, familiares e parceiros. Dessa forma, pode-se entender como saúde as formas e condições de vida promovidas pelas pessoas que geram um estado de bem-estar geral e não apenas físico. 8.3.1 Educação Física e saúde mundial A tendência mundial de aproximação da Educação Física com a área da saúde pode ser evidenciada com as resoluções da 57ª Assembleia Mundial, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, evento que propôs aos países-membros a “Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde”, aprovada pela resolução WHA 57.17. A seguir, algumas determinações da resolução, que delega responsabilidades aos países-membros. A formulação e a promoção de políticas e as estratégias e os planos nacionais de ação devem incentivar a alimentação saudável e a atividade física. As prioridades na elaboração de instrumentos dependem da situação de cada país. Em virtude das grandes diferenças que existem nos países e entre eles, os organismos regionais devem colaborar na formulação de estratégias específicas, proporcionando apoio aos países na aplicação de seus planos nacionais (OMS, 2004). A função dos governos é decisiva para alcançar mudanças duradouras em saúde pública, aprovando estruturas e processos existentes que abordam diversos aspectos da alimentação, da nutrição e da atividade física. Os governos devem esforçar-se em estabelecer um mecanismo de coordenação nacional que se ocupe da alimentação e da atividade física no contexto de um plano de prevenção integral das doenças não transmissíveis e da promoção da saúde, sendo que as autoridades locais devem participar ativamente dessas atividades (OMS, 2004). As estratégias nacionais devem compreender ações, metas e objetivos específicos semelhantes aos delineados na estratégia mundial, dando ênfase a elementos necessários para aplicar nos planos de ação, com inclusão da determinação de recursos indispensáveis e de centros de coordenação nacionais (institutos nacionais importantes), bem como a colaboração entre setores da saúde e outros setores fundamentais, como agricultura, educação, planejamento urbano, transportes e comunicação; e o acompanhamento e a vigilância (OMS, 2004). As políticas públicas e outros incentivos devem garantir o acesso e a segurança de atividades físicas, como caminhar e andar de bicicleta. As políticas de transporte devem incluir o uso de meios não motorizados e as relativas ao trabalho devem favorecer a prática de atividades físicas e a criação 129 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA de instalações desportivas e recreativas que concretizem o conceito de “esporte para todos”. As políticas públicas e a legislação influem na possibilidade de executar atividades físicas (OMS, 2004). Os Estados devem promover a participação das organizações não governamentais, da sociedade civil, das comunidades, do setor privado e dos meios de difusão em atividades relacionadas com a alimentação saudável, a atividade física e a saúde. Os ministérios da saúde, em colaboração comoutros ministérios e organismos conexos, devem estabelecer mecanismos que fortaleçam a cooperação intersetorial. Deve-se encorajar a participação comunitária (OMS, 2004). Diante das orientações da “Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde”, cabe ao profissional de Educação Física se posicionar de forma ativa junto aos órgãos governamentais, associações, ONGs e lideranças comunitárias para o desenvolvimento e a aplicação de projetos que promovam a saúde associada à prática da atividade física e a orientação para uma alimentação saudável. Juntamente aos profissionais da área de nutrição, os profissionais de Educação Física devem pleitear fomentos para as ações que sigam os princípios estipulados pela 57ª Assembleia Mundial da Saúde. De forma convergente a essas resoluções, as ações específicas priorizadas pela Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), criada em 2006, incluem a prática corporal e a atividade física (PCAF) nas ações na rede básica de saúde e na comunidade, fundamentando a inserção do profissional da Educação Física no Serviço de Atenção Básica ao compor as equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012). Lembrete A justificativa para a intervenção do profissional de Educação Física no NASF é um entendimento mais abrangente do conceito de saúde, como bem-estar físico, mental e social (OMS, 2004). As equipes do NASF são multidisciplinares e visam melhorar a qualidade de vida da população em ações ativas domiciliares e também em unidades básicas de saúde (UBS). São médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que agem em programas organizados voltados para o atendimento às necessidades de saúde e para a propagação de informações e bons hábitos geradores de qualidade de vida de forma preventiva (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012). A ação dos profissionais de Educação Física junto às equipes do NASF se apoia no conceito de educação para a saúde. O papel da educação na promoção da saúde é fortalecer a ação individual e coletiva, gerando a promoção da autonomia da comunidade, além do desenvolvimento de habilidades individuais de modo a contribuir para que sua participação seja efetiva. A promoção da saúde deverá ser viabilizada por meio da educação em saúde, enquanto processo político de formação para cidadania ativa, contribuindo para a construção de posturas autônomas em relação à própria saúde, sendo de fundamental importância a sedimentação de novos significados e valores para melhoria da sua qualidade de vida (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012). 130 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III No NASF, o profissional de Educação Física tem uma perspectiva de atuação voltada à capacitação da comunidade para melhorar a sua qualidade de vida, considerando não apenas as necessidades percebidas, mas o seu contexto cultural. Favorece a mudança de atitude para a adoção de um estilo de vida saudável a partir da problematização e compreensão de seus reais interesses e vontades e, diante de uma perspectiva educativa, visando à formação de sujeitos autônomos. A importância do profissional de Educação Física é evidenciada ao favorecer abordagens da diversidade das manifestações da cultura corporal presente localmente, bem como das difundidas nacionalmente, procurando expandir as possibilidades de exercícios em programas que não se restrinjam a ações tecnicistas dos clássicos da Educação Física, pois os resultados da adesão da comunidade dependem do nível de adequação das propostas aos costumes e contexto locais. Dessa forma, o profissional da Educação Física inserido no serviço de Atenção Básica do SUS deve participar do processo de implementação e concretização da Política Nacional de Promoção da Saúde, com base em um enfoque social e inclusivo (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012). 8.3.2 Atividade física e nível socioeconômico O sedentarismo é o fator de risco das doenças crônicas não transmissíveis mais importantes na sociedade contemporânea. Os índices de sedentarismo alcançam níveis maiores que outros indicativos para doenças degenerativas, tais como o fumo, a hipertensão arterial e o excesso de peso corporal, sendo que esses fatores estão muitas vezes associados. Entretanto, percebe-se que pessoas ativas fisicamente possuem índices de morbidade e mortalidade menores, mesmo apresentando outros fatores de risco, tais como diabetes, obesidade e hipertensão arterial (MATSUDO et al., 2002). De acordo com a recomendação do Centro de Controle de Doenças do American College of Sports Medicine (CDC/ACSM), importante órgão de pesquisa norte-americano relacionado ao exercício físico e à saúde, todo indivíduo deve acumular ao menos 30 minutos de atividade física, na maioria dos dias da semana, em intensidade moderada, de forma contínua ou acumulada. Entretanto, a porcentagem de indivíduos que atinge a recomendação atual de atividade física para promoção da saúde é de aproximadamente 46% no estado de São Paulo, sendo que os dados variam conforme o gênero, a idade, o nível socioeconômico e a região do Estado. Em função do nível socioeconômico, é observado maior índice de indivíduos muito ativos na classe A. No entanto, os maiores indicativos de indivíduos que não atingiram a recomendação de atividade física foram encontrados nas classes A e E (MATSUDO et al., 2002). Devido à atividade física regular ser considerada componente importante para a saúde, é de extrema importância torná-la um hábito entre os indivíduos. Aspectos socioeconômicos parecem estar relacionados ao grau de envolvimento com atividades físicas na vida diária. As condições socioeconômicas têm uma forte associação com a morbidade e com a mortalidade, incidindo sobre a prevalência de fatores de riscos para algumas doenças, tais como obesidade e doenças associadas com o hábito de fumar e com o sedentarismo (PALMA, 2000). O nível de escolaridade indica que indivíduos com menor grau de instrução possuem menores índices semanais de atividade física. A escolaridade está diretamente relacionada com a ocupação profissional e a remuneração. Indivíduos com maior escolaridade tendem a ter melhor nível socioeconômico. As pessoas com menor escolaridade tendem a ter ocupações profissionais com maior carga horária semanal, o que diminui o tempo livre para a prática de exercícios físicos. As 131 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA pessoas com menor remuneração tendem a usar o transporte público e possuem residência em locais periféricos, distantes de seus locais de trabalho. Em consequência disso, tendem a gastar um tempo maior no trajeto da residência ao trabalho, diminuindo o tempo destinado para o lazer e para o exercício físico (PALMA, 2000). O fator do cansaço gerado pela extensa carga horária de trabalho semanal, associado à grande carga horária de locomoção em meios de transporte coletivos, diminui a motivação para a prática de exercícios físicos em pessoas com menor escolaridade e menor nível socioeconômico. Durante o reduzido tempo livre semanal, destinado ao lazer, a população de renda menor se dedica à reposição das horas de sono, ao descanso e ao hábito de assistir à televisão (PALMA, 2000). A prática de exercícios físicos regulares na vida adulta tem relação com a prática de exercícios na Educação Física escolar e com a prática esportiva extracurricular durante a infância e a adolescência. Percebe-se que as crianças e os jovens de nível socioeconômico mais elevado possuem mais acesso à prática de exercícios físicos sistematizados. O desenvolvimento de hábitos saudáveis durante a infânciaé de grande importância para que esses hábitos sejam mantidos na vida adulta (PALMA, 2000). Os aspectos sociais e econômicos podem ter alguma influência sobre o estado de saúde da sociedade, bem como sobre a prevenção primária das doenças. O enredo de globalização da economia, que provoca alta competitividade, desemprego, insegurança no trabalho, desigualdades sociais, baixa coesão social etc., poderia estar provocando uma elevada pressão sobre os trabalhadores e, por isso, favoreceria o aumento do estresse, da pressão arterial e das doenças cardiovasculares. Por outro lado, o trabalhador estaria com seu tempo diminuído para cuidar de si próprio, além do maciço programa de marketing desenvolvido para vender cigarros, alimentos do tipo “fast-food” e/ou refrigerantes, os quais, notadamente, favorecem uma pior condição de saúde (PALMA, 2000). A sociedade deve mudar sua interpretação sobre a saúde e deixar de entendê-la apenas como estado de ausência de doenças, passando a visualizá-la como um estado de bem-estar físico, social e mental. Dessa forma, os esforços e os gastos públicos com a saúde deveriam ser deslocados para ações preventivas que melhorassem a qualidade de vida da população e evitassem o surgimento de doenças degenerativas. Essas ações passam pela estabilidade econômica, que permitiria uma melhor condição socioeconômica para as pessoas e maior tempo livre para o lazer e para a prática de exercícios físicos sistematizados (PALMA, 2000). Resumo Esta unidade aborda temas relacionados à Educação Física e ao esporte no Brasil. Inicialmente, falamos sobre a introdução do futebol no País, feita por clubes formados por colônias estrangeiras. O futebol foi, em seus primórdios, uma modalidade elitizada na qual apenas ricos e brancos se confrontavam dentro da ética do sportsman inglês. O vocabulário, as posições jogadas e árbitros eram todos pronunciados em inglês, conferindo ao Football Association um tom mais inacessível à população pobre brasileira, que muitas vezes se reunia para assistir as partidas. 132 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Unidade III Com o passar do tempo, o futebol passou a ser praticado nas periferias, em campos menores e irregulares, auxiliando no desenvolvimento das destrezas individuais dos jogadores, e o drible, o domínio e a condução foram mais bem trabalhados em função dos terrenos acidentados da periferia. Os campeonatos cresceram e as ligas relutaram em aceitar os atletas pobres e negros, fato que aconteceu gradativamente e mediante muitos atos de racismo e segregação. O sucesso de atletas negros, como Friedenreich, Leônidas da Silva, Garrincha e Pelé, democratizou o acesso do negro ao futebol, no entanto, não acabou com o racismo arraigado na cultura brasileira até os dias de hoje. Esta unidade apresentou também os primórdios da Educação Física brasileira no Colégio Pedro II, onde a ginástica europeia foi a metodologia norteadora da instrução física. No final do século XIX, os pareceres de Rui Barbosa tornaram pública a importância da Educação Física na educação de meninos e meninas em igualdade de condições. Em suas origens, a Educação Física brasileira tinha como objetivo a higienização da população, buscando, através do exercício e do desenvolvimento de bons hábitos de saúde, a revigoração do povo brasileiro. A Educação Física brasileira seguiu as orientações nacionalistas e higienistas da ginástica europeia, sobretudo a ginástica francesa, principal influência das escolas de Educação Física do Brasil, criadas a partir de um intercâmbio militar com a França que teve início em 1907. Nas décadas seguintes, a Educação Física no País passou a ser aparelhada para a eugenização e o fortalecimento da raça. A ideia era selecionar e treinar mulheres saudáveis e brancas para a geração de filhos fortes. A miscigenação era inaceitável, a ideia de pureza da raça era uma influência das estreitas relações políticas que o Brasil manteve com a Alemanha nazista nas décadas de 1930 e 1940 por ocasião do governo de Getúlio Vargas. Nas décadas seguintes, o esporte serviu de fator de disciplinação da população e de promoção do Estado em eventos internacionais. As ações de gestão e fomento ficavam todas centralizadas no Conselho Nacional de Desportos (CND). Na década de 1980, muitos professores que haviam ido fazer pós-graduação no exterior voltaram ao País. cada um com uma ideia de abordagem filosófica e pedagógica para a Educação Física nacional. As principais abordagens eram a desenvolvimentista, a construtivista, a crítico superadora e a crítico emancipatória. Essas abordagens motivaram 133 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA muitas pesquisas e alinhamentos teórico-filosóficos, muitas discussões e desentendimentos, e deixaram um hiato quanto à orientação metodológica da Educação Física escolar. No final da década de 1990, uma força tarefa de pedagogos especialistas de cada área foi convocada pelo MEC, e foram produzidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que nortearam de forma conciliadora a Educação Física através de abordagens plurais de temas transversais. A Educação Física evolui para uma aproximação cada vez maior com a saúde. Pareceres da Organização Mundial da Saúde e a criação de programas do Sistema Único de Saúde envolvem a Educação Física em ações multidisciplinares preventivas através da educação para a saúde. É o caso do Núcleo de Apoio e Estratégia à Saúde da Família (NASF). De forma geral, a prática de exercícios visando prevenir e combater doenças relacionadas ao estilo de vida sedentário e aos maus hábitos de alimentação parecem se desenvolver em todas as esferas da sociedade. A adesão a esses programas parece estar relacionada ao grau de escolaridade e informação a respeito da saúde. 134 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 09-PREHISTORY-A.JPG. Disponível em: <http://www.tarpits.org/sites/all/themes/tarpits/images/ timeline/09-prehistory-a.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 2 TLACH3.GIF. Disponível em: <http://home.scarlet.be/an.bloemen/images/tlach3.gif>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 3 A_E2AD5C64398D72C920C4EA6CC7339C9BTORA.JPG. Disponível em: <http://www.esportes.mt.gov. br/arquivos/A_e2ad5c64398d72c920c4ea6cc7339c9btora.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 4 EBERS, G. Egypt: Descriptive, Historical, and Picturesque. New York: Cassell & Company, 1878. v. 1. p. 166. Figura 5 ORIG_22083.JPEG. Disponível em: <http://www.theguideistanbul.com/sites/default/files/styles/place_ content_type_slider_style_/public/orig_22083.jpeg>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 6 PELOPWARMAP.JPG. Disponível em: <http://www.crystalinks.com/pelopwarmap.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 7 PICÓN, C. A. et al. Art of the Classical World in the Metropolitan Museum of Art: Greece, Cyprus, Etruria, Rome. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2007. p. 386. Figura 8 MÍRON. Discóbolo. 455 a.C. Mármore. 1,7 m. The British Museum. Figura 9 3476_B.PNG. Disponível em: <http://www.namuseum.gr/collections/sculpture/archaic/images/3476_b. png>. Acesso em: 5 jan. 2017. 135 EF IS - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 7/ 01 /2 01 7 Figura 11 ZEUS-STATUE.JPG. Disponível em: <http://www.kidspast.com/images/zeus-statue.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2017. Figura 13 DELLA VALLE, P. Milo of Croton. 1824. Accademia Nazionale di San Luca. Óleo em tela. Figura 14
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