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*Meningites* EMERGÊNCIAS EM PEDIATRIA: PROTOCOLOS DA SANTA CASA, MEDCURSO, RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE DE INFECCIOLOGIA PEDIÁTRICA E DA SOCIEDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS PEDIÁTRICOS DA SPP. Conceito Meningites bacterianas são processos agudos que comprometem as leptomeninges (aracnoide e pía- máter), provocando reação purulenta detectável no líquido cefalorraquidiano (LCR) em decorrência de um processo inflamatório do espaço subaracnóideo e das membranas que envolvem o encéfalo e a medula espinhal. A meningite é causa de alta morbimortalidade e alvo de grande temor dos pacientes e médicos de modo geral. No Brasil, a faixa de idade mais comum está entre o 3º mês e o 3º ano de vida. Os agentes bacterianos causadores de meningites podem ser os mais diversos, mas predominam a Neisseria meningitidis¹, o Streptococcus pneumoniae² e o Haemophilus influenzae tipo B (Hib)³. ORDEM DOS AGENTES NA FIGURA: 3,2,1. Dentre os lactentes menores de 2 meses de vida, encontram-se como principais agentes as enterobactérias, em particular Escherichia coli e Klebsiella sp e o estreptococo beta-hemolítico do grupo B. Manifesta-se com rebaixamento do nível de consciência, convulsões, aumento da Pressão Intracraniana (PIC) e eventos isquêmicos. Pelo frequente envolvimento do parênquima cerebral, o termo mais adequado para esta grave infecção seria meningoencefalite. As crianças, compreendendo a faixa etária que vai de um mês aos cinco anos de idade, respondem por cerca de 90% dos casos em nosso meio. Com a introdução da vacina conjugada antipneumocócica heptavalente e a ampla vacinação para Hib, ocorreu um dramático declínio da meningite bacteriana nos Estados Unidos, e a idade média dos pacientes passou de 15 meses para 25 anos. Entretanto, esse fato não se observou no Brasil. A grande mudança na frequência dos diversos agentes etiológicos foi a grande queda da frequência de meningite por H. influenzae tipo B, decorrente da vacinação em massa. Apresenta letalidade de cerca de 20% dos casos. Fisiopatologia A meningite bacteriana espontânea tem como evento inicial a colonização das vias aéreas superiores por germes patogênicos, em geral organismos capsulados como meningococo, pneumococo e hemófilo tipo B. Na dependência da virulência do micro-organismo – bem como da competência das defesas do hospedeiro – pode ocorrer invasão do epitélio pelo agente e posterior disseminação para a corrente sanguínea. Na criança é incomum a disseminação pela via sanguínea a partir de focos como endocardite infecciosa, pneumonia e tromboflebite. Menos frequente ainda é o comprometimento das meninges por extensão direta de focos infecciosos em seios paranasais, ouvido médio, mastoide ou osteomielite de crânio. Já se sabe que é a reação imune do hospedeiro à infecção, e não a própria bactéria em si, a grande responsável pelas manifestações neurológicas e complicações da meningite bacteriana. A lise bacteriana e a posterior liberação de elementos de sua parede celular, como o lipopolissacarídeo (bactérias Gram-negativas) e ácido teicoico e peptidioglicano (bactérias Gram-positivas), induzem inflamação intensa das meninges devido à produção de citocinas, principalmente o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) e interleucina-1 (IL-1). As células envolvidas na síntese destes mediadores são: leucócitos (presentes no liquor), células da micróglia, astrócitos e células endoteliais da microvasculatura. As citocinas levam a um aumento da permeabilidade capilar, alterando as propriedades da barreira hematoencefálica. Este fenômeno favorece o aparecimento de edema cerebral do tipo vasogênico e permite o extravasamento de proteínas e leucócitos para o liquor, elementos que determinam a formação de um espesso exsudato. O exsudato pode bloquear a reabsorção liquórica pelas granulações aracnoideas, o que leva à hidrocefalia e ao edema cerebral do tipo intersticial. A liberação de radicais livres derivados do oxigênio e a degranulação de neutrófilos contribuem ainda mais para o edema citotóxico que se instala. A autorregulação cerebrovascular também é perdida nas meningites bacterianas. Caso ocorra hipotensão durante o episódio de meningite (o que é comum, sobretudo na meningocócica), o hipofluxo cerebral pode determinar alterações isquêmicos. Por outro lado, o aumento da PAM é transmitido com facilidade para o encéfalo, o que pode agravar o edema cerebral. Etiologia A meningite no recém-nascido e no lactente de até três meses é ocasionada mais frequentemente pelo Streptococcus agalactiae (estreptococo do grupo B), pela Listeria monocytogenes e por bactérias Gram- negativas entéricas, por exemplo: Escherichia coli (principal), Enterobacter spp., Klebsiella pneumoniae, Salmonella enteritidis. A aquisição dessas bactérias se dá no momento do parto, devido à colonização da mucosa vaginal. Dos 3 meses aos 18 anos, os micro-organismos mais frequentes passam a ser a Neisseria Meningitidis (meningococo), o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e o Haemophilus influenzae tipo b (Hib). Dos 18 aos 50 anos, o pneumococo se torna mais frequente que o meningococo (que assume a segunda posição no ranking), permanecendo o Hib como o menos frequente dos três. Em indivíduos > 50 anos, o pneumococo também é o principal agente etiológico de meningite bacteriana, seguido agora pela Listeria e pelos bacilos Gram- negativos entéricos, que voltam a ter importância estatística. A meningite pelo Streptococcus pneumoniae determina os quadros clínicos de maior gravidade (letalidade 15- 30%) geralmente deixando mais sequelas entre os sobreviventes. O fator de risco mais significativo é a pneumonia, presente em até 25% dos pacientes. A meningite por Neisseria meningitidis raramente deixa sequelas quando curada. A meningite por Haemophilus influenzae tipo b também é menos letal que a por pneumococo (letalidade 5-15%), porém, costuma deixar sequelas (ex.: surdez neurossensorial) com maior frequência que a meningite por meningococo. A meningite por Listeria monocytogenes, um bacilo Gram-positivo, acomete idosos e pacientes com alteração na imunidade celular, como transplantados, portadores de doença maligna e indivíduos em terapia imunossupressora. O Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis, principalmente o último, são os micro- organismos mais envolvidos em meningite após procedimentos neurocirúrgicos, como derivação ventriculoperitoneal para o tratamento de hidrocefalia e instalação de dispositivos subcutâneos para realização de quimioterapia intratecal. Aspectos clínicos Três síndromes concomitantes caracterizam a apresentação clínica das meningites bacterianas agudas: (1) síndrome toxêmica; (2) síndrome de irritação meníngea; (3) síndrome de hipertensão intracraniana. A presença de duas delas ao mesmo tempo é muito sugestiva do diagnóstico. É digno de nota que, em crianças pequenas, em particular nos lactentes, os sinais e sintomas de irritação meníngea podem estar AUSENTES em até 50% dos casos! Tais pacientes manifestam alterações inespecíficas, como choro intenso e persistente, agitação e recusa alimentar. Por isso, não se deve hesitar quanto à realização de uma Punção Lombar diagnóstica. Dito de outro modo, a PL deve sempre ser realizada, em crianças pequenas, em casos de sepse de foco indeterminado. 1) SÍNDROME TOXÊMICA Assim como acontece em outras infecções graves, na meningite bacteriana o doente desenvolve febre alta, mal-estar geral, prostração e, eventualmente, agitação psicomotora. Curiosamente, o sinal de Faget (dissociação pulso-temperatura, isto é, “muita febre para pouca taquicardia”) é relativamente comum. Em 40 a 60% das meningites meningocócicas, um rash cutâneo hemorrágico, marcado pelo surgimento de petéquias eequimoses disseminadas, pode ser encontrado (dano endotelial nos capilares da derme pela “semeadura” local do meningococo). *OBS.: Pode se apresentar meningococemia (lesão petequial grave) pode com meningite ou sem meningite, ou seja, acometimento do SNC. 2) SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA 3) SÍNDROME DA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA Caracterizada por cefaleia holocraniana intensa, náuseas, vômitos, fotofobia e, muitas vezes, confusão mental. Em geral os vômitos são precedidos por náuseas, mas, classicamente, podem ocorrer vômitos “em jato” sem náuseas antecedentes. Crises convulsivas podem aparecer em 30-40% dos casos de meningite bacteriana. Quando focais, podem indicar a ocorrência de lesões vasculares (vasculite) complicadas por trombose e infarto isquêmico do parênquima cerebral. Diagnóstico O diagnóstico de meningite deve ser confirmado por uma punção lombar diagnóstica (raquicentese). No entanto, a presença de REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA, SINAL NEUROLÓGICO FOCAL, CONVULSÕES, PAPILEMDEMA OU OUTROS SINAIS DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA (CUSHING, BRADICARDIA, RESPIRAÇÃO IRREGULAR, HIPERTENSÃO ARTERIAL) E PACIENTES IMUNOCOMPROMETIDOS, QUE TÊM MAIOR PROBABILIDADE DE LESÃO DE MASSA DEVEM REALIZAR UMA TC DE CRÂNIO ANTES DA PUNÇÃO LOMBAR. Diante desta última conduta, a primeira dose do antibiótico intravenoso deve ser ministrada antes do transporte para a radiologia, e após coleta de hemoculturas. Em pacientes com nível de consciência normal, sem papiledema ou deficits focais, a punção liquórica é realizada na região lombar, entre L1 e S1, sendo mais indicados os espaços L3-L4, L4-L5 ou L5-S1. A única contraindicação ABSOLUTA à punção liquórica é a presença de infecção no local da punção (piodermite). ESTUDO DO LÍQUOR Pressão de Abertura Paciente em decúbito lateral. Em adultos, a pressão normal situa-se abaixo de 18 cmH2O. Na meningite bacteriana, os valores estão acima de 18 cmH2O em 90% dos casos. Coloração Aumento de elementos figurados (células) causa a turvação no LCR, variando sua intensidade de acordo com a quantidade e o tipo desses elementos. Os neutrófilos degenerados geralmente o tornam turvo e de aspecto purulento. Xantocromia verdadeira encontra-se associada à hemorragia subaracnoidea, em que o LCR não se torna límpido após centrifugação. Contagem de Células LÍquor normal apresenta até 4 células/mm3, sendo constituído de linfócitos e monócitos. Em casos de meningite bacteriana, a contagem celular é maior do que 500 células, com predomínio de neutrófilos (> 70%). Os linfócitos e eosinófilos predominam nos casos subagudos e crônicos. Em cerca de 1/3 dos pacientes com meningite por L. monocytogenes pode haver predomínio de mononucleares. Bioquímico O valor da glicose no LCR é maior do que 2/3 do valor do sangue. Em meningites bacterianas ocorre hipoglicorraquia, representada por glicose inferior a 40 mg/dl ou por uma relação inferior a 0,40, este último método sendo mais confiável. Aglutinação pelo Látex O látex apresenta especificidade de 95 a 100% na meningite por pneumococo e meningococo. Sendo assim, um resultado positivo confirma o agente infeccioso. Infelizmente a sensibilidade do exame já não é tão elevada, sendo de 33 a 70% na meningite meningocócica e 70 a 95% na pneumocócica. Exame microbiológico Os mais utilizados são a bacterioscopia pelo Gram e a cultura. Se disponível, também podemos empregar a pesquisa de ácidos nucleicos por meio da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). A coloração pelo método de Gram apresenta positividade em cerca de 80 a 85% das vezes, mas pode não revelar micro-organismos em até 60% dos casos de meningite por L. monocytogenes. A cultura é positiva em > 80%. Nos métodos de neuroimagem, a ressonância é preferível do que a tomografia. Em casos de meningite associada à meningococcemia, as hemoculturas costumam ser positivas e a biópsia de lesões petequiais costuma revelar o micro-organismo, inclusive de forma rápida pelo método de Gram. Tratamento As evidências atuais mostram que o início do tratamento com antibiótico deve ser o mais precoce possível e que qualquer retardo no tratamento inicial pode comprometer o prognóstico. Em função da prevalência de isolados de Hib ampicilino- resistentes e S. pneumoniae resistente à penicilina (SPRP), a utilização da penicilina G ou ampicilina como droga de primeira linha não é mais recomendável. Na eventualidade de isolamento de N. meningitidis antes da instituição da medicação antimicrobiana, a penicilina G pode ser utilizada. Quando houver a possibilidade de Hib ou S. pneumoniae como agente causal, é necessário iniciar o tratamento com uma cefalosporina de 3ª geração (CEF3). Em caso de fracasso clínico com essa droga ou identificação de isolados de SPRP, deve ser introduzida a vancomicina no esquema terapêutico. A utilização de vancomicina no tratamento inicial empírico das meningites é desaconselhada em virtude da excelente ação das CEF3 sobre os Hib produtores de betalactamase, SPRP e N. meningitidis, que constituem a imensa maioria dos agentes bacterianos envolvidos nessas infecções. A terapêutica empírica é escolhida de acordo com as faixas de idade, conforme a Tabela 3. De forma geral, é preferível o uso de CEF3 exclusiva nas crianças acima de 3 meses porque esse antimicrobiano ainda é ativo contra S. pneumoniae, H. influenzae tipo B e N. meningitidis. Esses antibióticos apresentam bons níveis liquóricos e vantagens do ponto de vista farmacocinético com possibilidades posológicas de 1 a 2 doses a cada 24 horas. Em razão da alta frequência de choque associada à doença meningocócica e a meningites, a terapêutica de suporte é de vital importância. Em caso de imunossuprido, deve ser acrescido ao tratamento a ampicilina, devido ao risco de Listeria. TEMPO DE TRATAMENTO: N. meningitidis por 7 dias H. influenzae por 7 a 10 dias S. penumoniae por 10 a 14 dias A manutenção de vias aéreas pérvias, o fornecimento de oxigênio e a estabilidade hemodinâmica e eletrolítica, instituídos precocemente, podem definir o prognóstico. A monitoração de sinais vitais, nível de consciência, diurese e avaliação neurológica sequencial devem ser rigorosamente mantidos nas primeiras 48 horas de evolução. A constatação de instabilidade hemodinâmica, sinais de irregularidade respiratória, oscilações de nível de consciência e sinais de hipertensão intracraniana são condições clínicas para a indicação, sempre que possível, de transferência para unidade de atendimento terciário, preferencialmente para uma UTI. A reposição hídrica e de eletrólitos, na ausência de instabilidade hemodinâmica, é feita segundo necessidades basais, seguindo a regra de Holliday e Segar. A reposição volêmica agressiva, particularmente na meningococcemia em que a evolução para choque pode ser extremamente rápida, pode ser feita inicialmente em acesso venoso periférico calibroso com solução salina a 0,9%, 20 mL/kg em bolus, repetindo, se necessário, em alíquotas de 20 mL/kg (até média de 60 mL/kg na primeira hora), objetivando diurese > 1 mL/kg/h, enchimento capilar < 2 segundos, pulsos normais, extremidades aquecidas, bom nível de consciência e normalização da pressão arterial. Após 60 mL/kg sem melhora, considerar o uso de coloide (albumina humana a 5%, 20 mL/kg); a manutenção do choque, apesar do volume já administrado, justifica associação de droga vasoativa, em acesso venoso profundo, inicialmente dopamina (5 a 20 mcg/kg/min). Medidas para controle da hipertensão intracraniana (HIC) incluem decúbito elevado a 30°, com alinhamento de cabeça, pescoço e tronco, hiperventilação para manter PaCO2 entre 30 e 35 mmHg acompanhada de monitoração da pressão intracraniana (PIC), sedação e analgesia para evitardor e agitação e controle das crises convulsivas. O uso de potentes antibióticos bactericidas, como as cefalosporinas de terceira geração, acarreta a liberação de produtos da parede bacteriana que estimulam a produção de TNF-alfa e IL-1, potentes ativadores da inflamação e da permeabilidade da barreira hematoliquórica, responsáveis pela resposta inflamatória decorrente e parte da letalidade e das sequelas da meningite, especialmente a surdez. A dexametazona, ao bloquear a produção dessas citocinas, diminui a resposta inflamatória secundária à administração dos antibióticos parenterais. O uso de dexametazona tem sido alvo de controvérsias há anos. Inicialmente recebidos com entusiasmo, pela redução da mortalidade e das sequelas, estudos posteriores não conseguiram confirmar os achados iniciais. Ainda assim, com base nas pesquisas bem conduzidas, a maioria dos autores defende o uso rotineiro da dexametazona, permitindo que essa droga passasse a fazer parte da rotina das meningites até mesmo em nosso meio. Mesmo nos estudos em que não houve significância estatística, a grande maioria mostra taxas menores de letalidade e sequelas neurossensoriais, motivo pelo qual o Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o uso de dexametazona de rotina nas meningites bacterianas, com exceção daquelas no período neonatal. A dosagem é 0,6 mg/kg/dia dividido em 4 doses por dois dias. ISOLAMENTO: retirar se for viral ou após 24 horas do início do ATB nas bacterianas. A resposta ao tratamento antimicrobiano corretamente instituído costuma ser RÁPIDA, havendo melhora da confusão mental nas primeiras seis horas de terapia. A febre também costuma melhorar já nas primeiras 6-12h. Os sinais e sintomas da síndrome de irritação meníngea, por outro lado, levam de três a cinco dias para desaparecer. Eventualmente, na doença meningocócica, a febre se mantém ou reaparece após alguns dias, devido ao surgimento de um quadro de artrite reativa. Nesta situação, não é indicado manter ou reintroduzir o antibiótico: o tratamento é feito apenas com as drogas anti-inflamatórias habitualmente empregadas nestes quadros. Quando nos defrontamos com febre de evolução prolongada, devemos afastar COMPLICAÇÕES DA MENINGITE como efusão subdural (mais comum em RN e lactentes), tromboflebites sépticas, febre por antibiótico, abscesso cerebral e infecção urinária. Uma nova punção lombar após 72h de tratamento é classicamente indicada para avaliar a evolução das alterações inflamatórias do liquor, bem como para demonstrar a esterilização dele. No entanto, nos casos em que a evolução clínica do paciente é boa, pode-se prescindir da repetição do exame... Quando a resposta clínica não é satisfatória (ex.: o paciente permanece em estado grave), ou quando a evolução é arrastada, suscitando dúvidas a respeito do correto diagnóstico etiológico e/ou do perfil de sensibilidade do germe, podem-se realizar punções lombares seriadas, de modo a permitir um acompanhamento mais amiúde da evolução do quadro (garantindo, quando indicado, uma mudança mais precoce nas decisões terapêuticas). A raquicentese é o método complementar mais OBJETIVO e FIDEDIGNO para demonstrar a evolução de um quadro de meningite. Prevenção A melhor maneira de prevenir é a imunização. A N. meningitidis é a maior causa de septicemia bacteriana e meningite no Brasil. A maior taxa de doença ocorre em crianças menores de 1 ano. A N. meningitidis é um diplococo Gram-negativo, com pelo menos 13 sorogrupos. As cepas pertencentes aos grupos A, B, C, Y e W-135 são as mais frequentemente implicadas nas doenças sistêmicas. No Brasil, atualmente, os dois sorotipos mais frequentes são os sorotipos B e C. No Estado de São Paulo, os outros sorotipos (A, Y e W135) são responsáveis por cerca de 7% dos casos. Desses sorotipos, o mais frequente é o W135. A vacina Meningo A+C está recomendada para pessoas acima de 2 anos e necessita revacinação a cada 5 anos. Para o meningococo A, essa vacina é imunogênica a partir dos 3 meses de idade e pode ser utilizada durante surtos epidêmicos de meningococo A em esquema de 2 doses. Para o meningococo C, a vacina induz a uma baixa resposta imunológica. As vacinas conjugadas para o meningococo C são as que melhor imunizam para esse sorotipo. Complicações Coma: edema cerebral com herniação dos lobos temporais ou cerebelo/lesão cortical difusa (aumento da PIC, oclusão de vasos cerebrais). Choque séptico: mais comumente associado à meningite meningocócica. Comprometimento de pares cranianos: na criança, o facial (VII par) e o ramo acústico do vestibulococlear (VIII par) são os mais afetados. Secreção inapropriada do ADH: levando à hiponatremia e piora do edema cerebral. Efusão subdural estéril: típica dos lactentes infectados por pneumococo ou hemófilo; caracteriza-se por retorno ou manutenção da febre, irritabilidade, vômitos, crises convulsivas. A Ultrassonografia (US) de crânio geralmente diagnostica. O tratamento consiste em punções repetidas. Empiema subdural: menos frequente que a efusão, tem as mesmas características clínicas e epidemiológicas da efusão, porém, aqui existe infecção da coleção. Ventriculite: mais comum em crianças menores de dois meses. Está relacionada à demora do início da terapia e à meningite por enterobactérias. O comprometimento ventricular leva a aumentos da PIC e hidrocefalia. A US é diagnóstica e revela aumento da ecogenicidade da membrana ependimária e duplo contorno da parede ventricular. A conduta muitas vezes envolve o posicionamento de uma válvula de derivação externa e a administração intraventricular de antibióticos. Hidrocefalia: pode surgir durante o episódio de meningite ou após a resolução do processo infeccioso. É importante o acompanhamento ambulatorial de crianças, através de medidas seriadas do perímetro cefálico. Sequelas: a surdez, a hidrocefalia, a epilepsia, a cegueira, a hemiplegia, o retardo psicomotor e o deficit intelectual são as sequelas mais comuns. Quimioprofilaxia Pacientes que entraram em contato com meningococo devem receber profilaxia antimicrobiana e, se possível, a vacina. Os portadores temporários são característicos das infecções pneumocócicas, meningocócicas e por H. influenzae tipo B. A quimioprofilaxia deve ser feita em contactantes íntimos até 7 a 10 dias após o contato. A infecção pelo Streptococcus pneumoniae continua sendo grande causa de preocupação para os clínicos pela sua frequência, letalidade e morbidade, que persiste alta em todas as faixas etárias. O S. pneumoniae é a bactéria mais associada com otite média, meningites e pneumonia. Essa bactéria ganhou ainda maior importância nos últimos anos, principalmente com o surgimento de cepas resistentes. A resistência à penicilina é mediada pela diminuição da afinidade dos antibióticos betalactâmicos a enzimas conhecidas como penicilin binding protein (PBP). Na realidade, o S. pneumoniae constitui-se em diversas cepas diferentes, que se distinguem umas das outras pela cápsula polirribossacarídica que envolve a bactéria. Atualmente, mais de 90 sorotipos diferentes de pneumococos foram identificados em todo o mundo, sendo que os mais importantes no Brasil são o 1, 5, 6, 14, 19 e 23F. Além da alta letalidade e do alto número de sequelas, ainda existe o agravante da presença de cepas com suscetibilidade diminuída à penicilina. Existem dois tipos de vacinas para pneumococo disponíveis no comércio: 1. Vacina polissacarídica 23-valente, que inclui uma mistura de polissacarídeos capsulares, não conjugados, de 23 sorotipos de pneumococo. Essa vacina, por ser polissacarídica, é indicada para crianças acima de 2 anos e adultos, sendo utilizada no ProgramaNacional de Imunização para os Idosos do Ministério da Saúde (PNI/MS) e tendo uma cobertura estimada em 90%; 2. Vacina conjugada 7-valente, que inclui os sorotipos 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F e 23F, que são prevalentes como causa de doença invasiva nos países do Hemisfério Norte. Essa vacina é indicada para crianças até 5 anos, com uma cobertura potencial estimada entre 60 e 75% sobre as cepas invasivas isoladas no Brasil. IMPORTANTE! LEMBRAR: Em imunossuprimidos, é comum a Listeria monocytogenes (bacilo gram +) N. meningitidis: é um diplococo gram negativo, apresenta vários sorotipos. A doença pode se apresentar em surtos. Pode se apresentar meningococemia (lesão petequial grave) pode com meningite ou sem meningite, ou seja, acometimento do SNC. H. influenzae é um bacilo gram negativo. Vem apresentando uma queda importante devido à vacinação. S. pnumoniae é um coco gram positivo aos pares. Costuma apresentar-se em pacientes com doenças crônicas. A resistência ao pneumococo é pequena. LCR Viral Bacteriana Bioquímica Cor incolor ou opalescente e límpido Cor branco- leitosa e turva Celularidade Aumento discreto Neutrófilos aumentados Proteinorraquia Aumento discreto Elevação acentuada Glicorraquia Normal Baixa Outra forma de diagnóstico seria gram e culturas e provas imunológicas. **As meningites virais são entidades comuns e ocorrem em crianças maiores do que um ano, adolescentes e adultos jovens. Os vírus mais comumente envolvidos são os da caxumba, o Epstein-Baar, acompanhando uma síndrome de mononucleose infecciosa, enterovírus outros (Cocksackie, echovirus etc.) o CMV e o HIV. No lactente, a presença de meningite com o liquor claro nos faz sempre pensar em comprometimento sifilítico. No adulto jovem e sexualmente ativo, a pesquisa de HIV é mandatória. O início é agudo com náuseas, vômitos, cefaleia, diarreia e rash maculopapular, em casos de enteroviroses. Uma infecção respiratória alta pode preceder a instalação do quadro. Alguns doentes manifestam também envolvimento do encéfalo, com agitação, rebaixamento do nível de consciência e crises convulsivas, justificando o termo meningoencefalite. O aumento das parótidas pode preceder, ser concomitante ou aparecer durante a convalescença da meningite por paramixovírus. Determinados vírus comprometem o encéfalo preferencialmente, como é o caso do herpes- -simplex (encefalite com acometimento preferencial do lobo temporal). Na maioria das vezes é de suporte, com reposição hidroeletrolítica e controle das convulsões, quando presentes. O isolamento respiratório deve ser feito em casos de meningite pelo vírus da caxumba enquanto durar o aumento das parótidas ou até nove dias a partir do início de doença.
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