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ARBOVIROSES Recebem este nome por parte do ciclo biológico ocorrer envolvendo mosquitos (artrópodes hematófogos) e hospedeiros vertebrados. O aumento do número de casos tem ocorrido devido a: urbanização desordenada, condições sanitárias precárias, rápidas mudanças climáticas, desabastecimento de água, desmatamento, intensa migração populacional. Falaremos das arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti: DENGUE · Causada por um flavivírus. · Possui 4 sorotipos. Sinais clássicos de dengue: · Febre (2 a 7 dias) · Náusea · Vômitos · Exantema · Mialgia e artralgia · Cefaleia · Dor retro-orbital · Petéquias · Prova do laço + · Leucopenia Fase febril: febre alta que dura de 2 a 7 dias, de início abrupto, acompanhada de mialgia e dor retro-orbital. Diarreia pastosa, com frequência de 3 ou 4x ao dia. Após esse período, grande parte das pessoas se recuperam gradativamente, com melhoria do estado geral e retorno do apetite. Fase crítica: pode evoluir para formas graves. - Com sinais de alarme: ocorre declínio da febre entre o terceiro e sétimo dia, mas surgem sinais de alarme, em sua maioria devido ao aumento da permeabilidade vascular. · Dor abdominal intensa e contínua · Vômitos persistentes · Acúmulo de líquidos · Hipotensão postural e/ou lipotimia · Hepatomegalia (>2cm) · Sangramento de mucosa · Letargia ou irritabilidade · Aumento dos hematócritos - Dengue grave: volume de plasma perdido pelo extravasamento vascular, geralmente precedido dos sinais de alarme. Pode ocorrer choque ou acúmulo de líquidos levando ao desconforto respiratório, sangramento grave e disfunção de órgãos como coração, pulmões, rins, fígado e SNC. Fase de recuperação: reabsorção gradual do conteúdo extravasado, progressiva melhora clínica. ----------------------------//------------------------- Classificação de risco: - Grupo A: ordem de chegada · Sem sinais de alarme · Prova do laço – · Sem comorbidades · Recomendar dipirona, hidratação e repouso - Grupo B: prioridade não-urgente · Sem sinais de alarme · Sangramento da pele (petéquias ou prova do laço +) · Comorbidades · Exames complementares e acompanhamento até os resultados · Recomendar dipirona, hidratação e repouso · Verificar evolução. Caso haja, seguir conduta do grupo C - Grupo C: urgência · Presença de algum sinal de alarme · Reposição volêmica · Oxigenoterapia · Observação por 48h · Exames complementares obrigatórios e para confirmação de dengue · Acompanhamento contínuo · Recomendar dipirona, hidratação e repouso - Grupo D: emergência · Sinais de choque, sangramento grave ou disfunção de órgãos · Reposição volêmica · Oxigenoterapia · Exames complementares obrigatórios e para confirmação de dengue · Se persistência de choque, considerar reposição plaquetária · Pode haver necessidade de inotrópicos Diagnóstico: · Sorologia partir do 6º dia de sintomas, pelo método de ELISA, em que se detectam os anticorpos IgM. · Detecção de antígenos virais: NS1 na fase inicial, isolamento viral (padrão ouro) para identificação do sorotipo viral, detecção de genoma viral por PCR (definição diagnóstica, especialmente em casos de óbito). · Prova do laço: (PS+PD)/2, insuflar o manguito até esse valor e permanecer por 5min (adultos) ou 3min (crianças). Num quadrado de 2,5cm de lado, a prova será + se houver mais de 20 petéquias nessa área (adultos) ou 10 (crianças). ZIKA · Causada por flavovírus · Período de incubação de 2 a 14 dias após a picada do mosquito. · Doença febril aguda, autolimitada na maioria dos casos. · Febre mais baixa ou inexistente, exantema máculopapular, artralgia, mialgia, hiperemia conjuntival (sem secreção ou prurido), cefaleia, lifonodomegalia, edema (periarticular), odinofagia, tosse seca, inflamações no TGI, especialmente vômitos. · O RNA do vírus já foi encontrado no sangue, urina, sêmen, saliva, líquor, líquido amniótico e leite materno. · O tratamento inclui dipirona para a febre, hidratação, repouso e pode haver indicação de anti-histamínico para as erupções pruriginosas. Não se devem usar antiinflamatórios até que seja descartado o diagnóstico de dengue. Diagnóstico: · Sorologia IgM (grandes chances de falso positivo para dengue). · Isolamento viral. · Detecção do RNA pela técnica de PCR (transcriptase reversa). Microcefalia · Malformação congênita em que não ocorre desenvolvimento cerebral de maneira adequada. · Ocorrência inédita: aumento dos casos de crianças nascidas com microcefalia quando a gestante apresentou infecção pelo zika vírus na gestação. · O vírus passa pela placenta e desacelera o crescimento dos neurônios, alterando a taxa de crescimento do osso. Quando ocorre muito precocemente na gestação, pode gerar uma calcificação responsável pelo mau desenvolvimento cerebral. CHIKUNGUNYA · Causada por alphavírus · Incubação por 3 a 7 dias. · Sintomas semelhantes aos da dengue, com exceção das dores articulares muito intensas. · A fase aguda (febril) dura aproximadamente 10 dias, com febre abrupta e alta, artralgia intensa, edema periarticular e exantema maculopapular. Podem surgir, ainda, queratodermia palmo-plantar, cefaleia, dor nas costas, náuseas, vômitos e conjuntivite. · Com o desaparecimento do quadro febril e a persistência das dores articulares (especialmente em punhos e tornozelos) e edema, de até 3 meses, inicia-se a fase subaguda. · Após 3 meses, tem-se início a fase crônica, caracterizada por continuidade das dores articulares e musculares. Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade maior que 45 anos, lesão articular preexistente e maior intensidade da dor na fase aguda. Pode haver limitação do movimento articular, deformação, cefaleia, bursite, parestesia, dores neuropáticas, alopecia, alterações na memória, concentração, humor e depressão. · Nas formas atípicas, encontram-se sintomas como meningoencefalite, encefalopatia, miopatia, neurite óptica, nefrite, insuficiência renal aguda, hiperpigmentação por fotossensibilidade e dermatose vesiculobolhosa. · Mães que adquiriram chikungunya na gestação podem transmitir no momento intraparto, causando infecções neonatais. · O tratamento inclui dipirona para a febre, hidratação, repouso e pode-se utilizar tramadol para a inflamação nas articulações. Há indicação de corticoides quando AINEs e analgésicos não surtiram efeito em casos crônicos ou subagudos. Diagnóstico: · Sorologia e diferencial das outras arboviroses. FEBRE AMARELA · Causada por um flavivírus · Em 1937 foi eliminada das áreas urbanas em decorrência do surgimento da vacina e do combate ao vetor. · Período de incubação entre 3 e 6 dias. · Período de transmissibilidade: indivíduo com febre amarela pode contaminar um Aedes por 3 a 5 dias. · Quadro clínico clássico: febre alta de surgimento súbito, contínua, cefaleia intensa e duradoura, inapetência, náuseas e mialgia por um período de 2 a 4 dias. (fase prodrômica) · Formas graves e malignas: cefaleia e mialgia muito intensas, náuseas e vômitos frequentes, icterícia, oligúria e manifestações hemorrágicas (epistaxe, hematêmese e metrorragia). Remissão de 48h entre o 3º e 5º dias, seguida de agravamento da icterícia, insuficiência renal e fenômenos hemorrágicos mais intensos (vômitos como borra de café). (fase toxêmica) · A infecção confere imunidade duradoura. · O tratamento inclui medidas de suporte: dipirona, hidratação. Diagnóstico: · Indivíduo residente em área de risco ou com exposição recente com febre aguda intensa por até 7 dias acompanhada por dois ou mais dos sintomas citados. · Sorologia · PCR-RT · Isolamento viral Imunização · Vírus vivo atenuado · Dose única subcutânea a partir dos 9 meses de vida · Indicada para pessoas residentes ou visitantes de áreas de risco · A vacinação deve ocorrer pelo menos 10 dias antes da exposição ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DO VETOR · Controle mecânico: eliminação e vedação de depósitos, limpeza dos locais, coleta de lixo. · Controle biológico: utilização de predadores naturais. · Controle químico: uso de repelentes e inseticidas. HIV – AIDS · O HIV é um lentivírus da família dos retrovírus,ou seja, em seu núcleo há duas cadeias de RNA simples, é envolto por uma camada proteica, e o vírus apresenta um capsídeo composto por uma bicamada fosfolipídica. Os genes que codificam as proteínas estruturais e enzimas virais são a gag (codifica p55), pol (codifica p66 e p51) e env (codifica a integrasse p31, responsável por integrar o DNA do vírus ao do hospedeiro, e a protease p10, que cliva os precursores proteicos das unidades menores ativas). · A maior parte das infecções por HIV ocorrem por meio das mucosas da região genital ou retal após relações sexuais. O vírus atravessa as barreiras da mucosa e infecta linfócitos TCD4+, macrófagos e células dendríticas. Após a transmissão, por 10 dias o vírus fica indetectável (fase eclipse). Geralmente, a infecção atinge primeiramente um único foco de linfócitos, o que ativa a resposta imune inata, atraindo mais linfócitos, o que acaba favorecendo a replicação viral. Então, ele se dissemina para os linfonodos e estabelece um reservatório latente em linfócitos TCD4+ de memória. · A replicação viral ativa, a livre circulação do vírus pelo sangue e ao declínio do número de linfócitos TCD4+ fazem com que ocorra um pico de viremia entre o 21º e o 28º dias de infecção. Nessa fase de expansão sistêmica, é gerada uma resposta imunológica tardia, insuficiente para combater a infecção, mas que produz uma quantidade maior de linfócitos TCD4+ que acabam se tornando mais alvos para as infecções. O número aumentado de linfócitos TCD8+ consegue controlar um pouco a infecção, mas não o suficiente para impedir (sem a terapia) a depleção de linfócitos TCD4+ e a progressão da AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). Os anticorpos da resposta imune humoral têm papel importante na redução da infecção do HIV na fase crônica. Diagnóstico: - Imunoensaio: · 1ª geração: os anticorpos específicos são detectados por um conjugado constituído de anticorpo anti-IgG humana. O vírus é obtido do sobrenadante da cultura de HIV em linhagens de células humanas. As proteínas virais não são obtidas com tanta eficiência e podem sofrer degradação. Janela de soroconversão de 35 a 45 dias. · 2ª geração: antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV, que são alvos preferenciais da resposta imune humoral. São mais sensíveis e específicos. Janela de soroconversão de 25 a 35 dias. · 3ª geração: utiliza antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos na fase sólida e de conjugado e detecta, simultaneamente anticorpos anti-HIV IgG e IgM, o que torna o ensaio ainda mais sensível. Janela de soroconversão de 20 a 30 dias. · 4ª geração: detecta simultaneamente anticorpos específicos anti-HIV e o antígeno p24. Janela de soroconversão de, aproximadamente, 15 dias. - Teste rápido: · São realizados em, aproximadamente, 30 minutos, de forma presencial, podendo ocorrer em ambiente não laboratorial, utilizando sangue total (punção digital) ou fluido oral. · São utilizados os dispositivos ou tiras de imunocromatografia de fluxo lateral (A), imunocromatografia de duplo percurso (B) e imunoconcentração (C). · Eles aceleram a interação antígeno/anticorpo, usando maior concentração do antígeno e detecção do complexo formado com reagentes sensíveis à cor. · O fluido oral apresenta menor quantidade de anticorpos quando comparado ao sangue total, mas é o suficiente para detectar a infecção, exceto em casos de exposição recente. Fatores que aumentam o risco de transmissão: - Sanguínea: · Gestação, parto e aleitamento (transmissão vertical) · Ocupacional - Sexual: · Alta viremia (grande número de víus, especialmente no início da infecção e na presença de comorbidades). · Imunodeficiência avançada. · Relação sexual anal receptiva desprotegida. · Relação sexual no período menstrual. · Presença de outra IST. Prevenção combinada: · Ações de prevenção envolvendo tanto o combate ao HIV como os fatores envolvidos na infecção. · Devem ser centradas no indivíduo e no contexto em que está inserido. · Intervenções biomédicas: redução do risco de exposição ao HIV, de forma que impeça a transmissão direta. · Intervenções comportamentais: abordagem dos diferentes graus de risco a que os indivíduos estão expostos. · Intervenções estruturais: interferem nos aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, para que deixem de criar ou potencializar a vulnerabilidade em relação ao HIV. Prevenção pós-exposição: · Até 72h após a exposição, se o indivíduo tem exame de HIV não reagente. · TDF+3TC+DTG por 28 dias. Falha terapêutica aos antirretrovirais: · Não adesão ao tratamento · Resistência viral prévia · Absorção alterada · Interações medicamentosas · Uso prévio de esquemas inadequados · Potência inadequada daquele esquema Teste de genotipagem: detecção de resistência do HIV aos antirretrovirais. · Possibilita a troca de esquemas terapêuticos com resistência identificada · Propicia o uso de drogas ativas por períodos mais prolongados · Evita trocas desnecessárias de antirretrovirais · Evita a toxicidade desnecessária de drogas inativas · Economiza custos relacionados à troca de drogas · Promove noção mais realista do desempenho futuro do tratamento.
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