Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 10 Verde e Competitivo Acabando com o Impasse Michael E. Porter Claas van der Linde r , A NECESSIDADE DE UMA REGULAMENTAÇÃO que proteja o ambiente tem sido objeto de aceitação ampla, mas relutante: am- pla, porque todos querem um planeta habitável; relutante, em razão da crença persistente de que a regulamentação ambiental solapa a cornpetitivi- dade. A visão predominante é no sentido da existência de um dilema in- trínseco e inevitável: ecolo ia versus.economia. De um lado do dilema, situ- am-se os benefícios sociais decorrentes das normas ambientais rigorosas. Do------ ~ outro lado, encontram-se os custos privados da indústria para a prevenção e limpeza - custos mle acarretam au~nto de reços e redução da competi- tividade. Com a questão assim estruturada, o progresso em termos de quali- dade ambiental se tornou uma espécie de queda-de-braço. Um lado se empenhapor norm~ severas; o outro peleja ~lo retrocesso na regula- mentação. O equilíbrio do poder pende para um lado ou para o outro, de- pendendo da direção dos ventos políticos. Essa visão-estática da regulamentação arnbiental, na qual tudo é cons- tante, exceto a regulamentação, é incorreta. Se a tecnologia, os produtos, os processos e as necessidades dos clientes fossem fixas, a conclusão de que a Setembro-outubro de 1995. Os autores agradecem a Benjamin C. Bonifant, Daniel C. Esry, Donald B. Marron, Jan Rivkin, Nicolaj Siggelkow e R. David Simpson pelos comentários extremamente úteis; ao Management Institute for Environment and Business pela pesquisa conjunta; e a Reed Hundt pelas discussões constantes que trouxeram grandes benefícios para o pensamento subjacente a esse artigo. 372 MICHAEL E. PORTER regulamentação eleva os custos seria inevitável. Mas as e~resas operam no mundo real da competição dinâmica, não no mundo estático da teoria eco- nômica. Continuamente descobrem soluções inovadoras para pressões de todos os tipos - impostas pelos concorrentes, pelos clientes, pelos regula- dores. As normas ambientais elaboradas de forma adequada são capazes de de- sencadear inovações que reduzem os custos totais de um produto ou au- mentam seu valor. Essas inovações E-ermitem que as empresas utilizem uma gama de insumos de~aneira mais produtiva - abrangendo matéria-prima, energia e mão-de-obra - compensando, assim, os custos da melhoria ~o impactoambiental e resolvendo o impasse. Em última instância, o aumen- to da produtividade dos recursosfavorece, em vez de comprometer, a compe- titividade das empresas. Considere a maneira como o setor de floricultura holandês reagiu aos problemas ambientais. A cultura intensiva de flores em pequenas áreas esta- va contaminando o solo e os lençóis freáticos com pesticidas, herbicidas e fertilizantes. Ameaçados por uma regulamentação cada vez mais severa so- bre a utilização de produtos químicos, os holandeses compreenderam que a única maneira eficaz de enfrentar o problema consistiria em desenvolver um sistema de ciclo fechado. Atualmente, as flores são cultivadas em sofisti- cadas estufas, em água e lã mineral, e não no solo. Essa alternativa reduz o risco de contaminação, diminuindo a necessidade de.fertilizantes e pestici- das, que já são incluídos na água em circulação e reutilização. O sistema de ciclo fechado, rigorosamente monitorado, também reduz as variações nas condições de cultivo, melhorando, dessa forma, a qualidade do produto. Os custos de manuseio também caíram, pois as flores são culti- vadas em plataformas especialmente projetadas para essa finalidade. Assim, ao enfrentar o problema ambiental, os holandeses introduziram inovações que aumentaram a produtividade na utilização de muitos dos recursos en- volvidos no cultivo de flores. O resultado líquido consistiu não apenas na redução drástica do impacto ambiental, mas também na diminuição dos \ custos, na melhoria da qualidade dos produtos e na ampliação da competi- tividade global. (Ver, a seguir, "Inovando para Ser Competitivo: O Setor de Floricultura Holandês".) COMPETIÇÃO 373 Inovando para Ser Competitivo: O Setor de Floricultura Holandês o setor de floricultura holandês é responsável por cerca de 65 por cento das exportações mundiais de flores cortadas - um número estarrecedor, conside- rando-se que os insumos de produção mais importantes do negócio seriam, a princípio, a terra e o clima. Alguém que tenha estado na Holanda conhece as desvantagens do país em ambos os fatores. Os holandeses são forçados a recu- perar a terra do mar e o clima é notoriamente problemático. r" Como os holandeses conseguem ser os líderes mundiais em floricultura ..-'quando carecem de vantagens competitivas no sentido tradicional? A resposta, entre outros motivos, t.gue inovaram em todos os estágios da cadeia de xalo- res, criando tecnologia e insumos altamente eS.Eecializ~os, que aumentam a produtividade dos recursos e com en~ as desvantagens naturais do país. ~ N as atividades de venda e distribuição, por exemplo, a Holandããrspõe de cinco unidades alfandegárias de leilão, destinadas ao negócio florista. Carrinhos carregados de flores percorrem trilhas computadorizadas na sala de leilão. O processo de compra ocorre em poucos segundos. Os compradores ficam num anfiteatro e o preço de oferta se desloca para baixo no mostrador, até que o primeiro comprador emita um sinal eletrônico. O código do comprador é afi- xado no carrinho, que é encaminhado para a área de embarque e manuseio da empresa. Em poucos minutos, as flores estão num caminhão, em direção aos mercados regionais, ou em contêineres especiais, pré-resfriados, a caminho do aeroporto Schiphol, situado nas imediações. Bons aeroportos e redes ferroviá- rias talvez também sejam abundantes em outros lugares. Mas a infra-estrutura inovadora e especializada da Holanda é uma vantagem competitiva que possi- bilita uma produtividade muito elevada. É um sistema tão bem-sucedido que, na verdade, floricultores de outros países enviam suas flores para a Holanda, por avião, para processamento, venda e reexportação. Paradoxalmente, a escassez de insumos gerais ou mais elementares às vezes se converte em vantagem. Caso houvesse uma grande disponibilidade de terra e o clima fosse mais favorável, os holandeses competiriam da mesma maneira como os demais países. Ao contrário, foram forçados a inovar, desenvolvendo um sistema de alta tecnologia de cultivo em estufas durante todo o ano. Os holandeses aprimoram continuamente a tecnologia exclusiva e especializada que assegura a alta produtividade dos recursos e sustenta a competitividade. Em contraste, a abundância de mão-de-obra e de recursos naturais ou a falta de pressões ambientais às vezes induz as empresas do país a gastar de for- ma improdutiva os recursos naturais. A competição baseada em insumos ba- ratos, suscetíveis de utilização com menor produtividade, era suficiente em economias mais estanques e menos -globais. Hoje, quando os países emergen- tes, com mão-de-obra e matérias-primas ainda mais baratas, participam da economia global, a velha estratégia se tornou insustentável. 374 MICHAEL E. PORTER I Este exemplo ilustra por que o debate sobre a relação entre cornpetitivi- dade e ambiente tem sido conduzido da forma incorreta. Os formuladores depolíticas, os .líderes empresariais e 0S ambientalistas tê-m focalizado o efeito estático dos custos decorrentes da regulamentação ambiental, igno- rando os beneficios compensadores mais importantes, em termos de produtivi- dade, resultantes da inovação. Por conseguinte, com muita freqüencia, sua forma de atuação aumenta os custos e retarda o progresso nas questões am- bientais. Assim, a atitude mental estática criou uma profecia auto-realizável que acarreta normas ambientais ainda mais custosas. Os reguladores ten- dem a impor exigências que tolhem a inovação. As empresas, por sua vez, combatem e obstruem a regulamentação, em vez de inovar na sua obser- I vância. Todo o processo disseminou uma indústria de chicaneiros e consul- ~ tores que drenam os recursos das soluções efetivas. Poluição= Ineficiência Será que casos como o setor de floricultura da Holanda são a exceção, em vez da regra? Seria ingênuo esperar que a redução da poluição au- mente a competitividade? Achamos que não, e a razão é que a poluição geralmente é uma forma de desperdício econômico. A poluição do am- biente com sucatas, substâncias nocivas ou formas de energia é um sinal de que os recursos foram utilizados de forma incompleta, ineficiente ou ineficaz. Além disso, nessas circunstâncias, as empresas são obrigadas a executar outras atividades que adicionam custos mas não criam valor para os clientes: por exemplo, o manuseio, o armazenamento e o descar- te de efluentes. O conceito de produtividade dos recursos proporciona uma nova ma- neira de abordar os custos totais dos sistemas e o valor associado a qualquer produto. As ineficiências dos recursos são mais evidentes na forma de utili- zação incompleta dos materiais e de controles deficientes dos processos, que resultam em. desperdícios, em defeitos e no armazenamento de materiais desnecessários. Mas também há muitos outros custos ocultos, encobertos no ciclo de vida do produto. As embalagens descartadas pelos distribuido- res e clientes, por exemplo, desbaratam recursos e aumentam os custos. Os clientes suportam custos adicionais quando utilizam produtos que poluem ou desperdiçam energia. Esbanjam-se recursos quando se descartam produ- tos que contêm materiais utilizáveis e quando os clientes pagam - de for- ma direta ou indireta - pelo descarte do produto. COMPETIÇÃO 375 Os esforços de melhoria ambiental tradicionalmente ignoram esses cus- tos dos sistemas. No entanto, se concentram no controle da poluição atra- vés da melhor identificação, processamento e descarte de efluentes ou resíduos - uma abordagem dispendiosa. Nos últimos anos, as empresas e os reguladores mais avançados adotaram o conceito de prevenção da polui- ção, às vezes chamado de redução das fontes, que recorre a métodos como substituição de materiais e processos de ciclo fechado, para limitar a polui- ção antes da sua ocorrência. No entanto, embora a prevenção da poluição seja um passo importante na direção correta; as empresas, em última instância, precisam aprender a abordar a melhoria ambiental em termos de produtividade dos recursos. 1 Atualmente, os gerentes e os reguladores se concentram no custo efetivo de eliminar ou tratar a poluição. Ambos devem ampliar o enfoque, de modo a incluir os custos de oportunidade da poluição - o esbanjamento de recur- sos, o desperdício de esforços e o comprometimento do valor do produto para o cliente. Sob a abordagem da produtividade dos recurscsça.melhoria ambiental e a competitividade andam juntas. Essa nova visão da poluição como ineficiência dos recursos evoca a re- volução da qualidade dos anos 80 e seus ensinamentos mais poderosos. Hoje, temos pouca dificuldade em apreender a idéia de que a inovação é ca- Raz de melhorar a qualidade e, ao mesmo tempo, reduzir os custos de forma efetiva. Mas há apenas quinze anos, os gerentes acreditavam tratar-se de uma opção excludente inexorável. A melhoria da qualidade era dispendio- sa, pois seria atingida apenas através da inspeção e do retrabalho dos defei- tos "inevitáveis", que sempre ocorriam no processo. Subjacente à antiga visão, encontrava-se a premissa de que tanto o projeto do produto como o processo de produção eram inalteráveis. Todavia, à medida que repensaram as questões de qualidade, os gerentes abandonaram a velha atitude mental. A visualização da ineficiência como indício de deficiência no projeto do produto e do processo - e não como subproduto necessário da fabricação - representou um marco revolucionário. As empresas agora se esforçam para incorporar a qualidade na totalidade do processo. A~ atitude men- tal liberou o poder da inovação para atenuar ou elimi ar o gQe as empresas de início aceitavam como opções excludentes implacáveis. -- - Como defeitos, a poluição freqüentemente revela falhas no projeto do produto ou no processo de produção. Assim, os esforços para eliminá-Ia po- dem adotar os mesmos princípios básicos de ampla utilização dos progra- mas de qualidade: utilização mais eficiente dos insumos, eliminação da necessidade de materiais perigosos e de difícil manuseio, supressão das ati- 376 MICHAEL E. PORTER vidades prescindíveis. Num estudo recente sobre grandes mudanças de pro- cessos de dez fabricantes de placas de circuitos impressos, por exemplo, constatou-se que o pessoal da área de controle da poluição iniciou treze das trinta e três principais alterações. Das trinta e três mudanças, doze resulta- ram em redução de custo; oito, em melhoria da qualidade e cinco, na am- pliação da capacidade de produção.é Assim, não é surpreendente que a gestão da qualidade total (GQT) se transforme em fonte de idéias para o controle da poluição capazes de redundar em benefícios compensadores. A Dow Chemical Company, por exemplo, identificou de forma explí- cita o vínculo entre melhoria da qualidade e desempenho ambiental, atra- vés da utilização do controle estatístico do processo para reduzir a variação nos processos e diminuir os desperdícios. Inovação e Produtividade dos Recursos Na exploração do papel central da inovação e da ligação entre a melhoria ambiental e a produtividade dos recursos, temos atuado em cooperação com o Management Institute for Environment and Business - MEB (Instituto de Gestão Ambiental e Empresarial) numa série de estudos de ca- sos internacionais de setores e subsetores afetados de forma significativa pela regulamentação ambiental: papel e celulose, tintas e revestimentos, produtos eletrônicos, baterias de célula seca e tintas de impressão (ver Qua- dro 10.1). Os dados mostram com nitidez que o~ustos da observância da regulamentação ambiental são suscetíveis de minimização, se não de elimi- nação, através de inovações que proporcionem outros benefícios competiti- vos. De início, observamos o fenômeno no curso das nossas pesquisas para um estudo da competitividade nacional, A Vantagem Competitiva das Na- ções (Campus, 1993). Considere o setor químico, no qual muitos acreditam que a opção ex- cludente ecologia-economia é sobremodo aguda. O estudo das atividades para prevenir a geração de resíduos em vinte e nove fábricas de produtos químicos descobriu inovações derivadas do esforço preventivo que aumen- taram a produtividade dos recursos. Dentre 181 dessas atividades preventi- vas de desperdício, apenas uma resultou em aumento líquido dos custos. Das setenta atividades com mudanças documentadas no rendimento do produto, sessenta e oito relatavam aumentos; a média para vinte iniciativas documentadas com dados específicos foi de sete por cento. Essas inovações foram atingidas com investimentos surpreendentemente baixos e períodos COMPETIÇÃO 377 de retorno muito reduzidos. Um quarto das quarenta e oito iniciativas com informações detalhadas sobre o custo de capital não exigiram qualquer in- vestimento de capital; das trinta e oito iniciativas com dados sobre o perío- do de retorno, cerca de dois terços recuperaram os investimentos iniciais em seis meses ou menos. As economias anuais por dólar gasto na redução das fontes chegaram à média de três dólares e quarenta e nove centavos para as vinte e sete atividades em que foi possível esse cálculo. O estudo também constatou que os dois dos principais fatores motivadores das atividades de redução das fontes eram os custos do descarte de resíduos e a regulamenta- ção ambiental. A inovação em resposta à regulamentação ambiental é passível de en- quadramento em duas grandes categorias. A primeira é a das novas tecnolo- gias e abordagens que minimizam o custo do tratamento da poluição, quando existente. A chave para essas abordagens geralmente reside na cap- tação dos recursos incorporados na poluição e na sua conversão em algo de valor. As~resas estão ficando.mais inteljgentes.na.reciclggem da sucata, na melhoria dos tratamentos secundários e na conversão de materiais e emissões tóxicas em recursos utilizáveis.Por exemplo, na fábrica da Rhô- ne-Poulenc em Chalampe, França, os subprodutos de nylon, conhecidos como diácidos, costumavam ser incinerados. A Rhône-Poulenc investiu 76 milhões de francos e instalou novos equipamentos para recuperar e vender esses diácidos como aditivos para tinturas e curtimento e como agentes de coagulação. O novo processo de recuperação gerou receitas anuais de 20,1 milhões de francos. As recentes tecnologias de retirada de tintura, desenvol- vidas pela Thermo Electron Corporation, situada em Massachusetts, entre outras, estão possibilitando o uso mais amplo de papel reciclado. A Molten Metal Technology, de Waltham, Massachusetts, desenvolveu um método de extração catalítica que reduz custos no processamento de muitos tipos de resíduos perigosos. O segundo tipo de inovação, muito mais interessante e importante, ataca as causas básicas da poluição a partir da melhoria da produtividade dos recur- sos. Suas conseqüências assumem muitas formas, incluindo a utilização mais eficiente de insumos específicos e o aumento do rendimento e a melhoria dos produtos. (Ver, a seguir, "A Melhoria Ambiental É Capaz de Beneficiar a Produtividade dos Recursos".) Considere os seguintes exemplos. A produtividade dos recursos aumenta quando se empregam materiais menos dispendiosos como substitutos ou quando os existentes são melhor utilizados. O complexo da Dow Chemical, na Califórnia, remove as impu- rezas de gases hidroclóricos com substâncias cáusticas para fabricar uma 378 MICHAEL E. PORTER QUADRO 10.1 • A Regulamentação Ambiental Apresenta Implicações Competitivas Setor/Subsetor Questão Ambiental Soluções Inovadoras Conseqüências da Inovação Papel e Celulose Dioxina liberada pelo Melhoria dos processos de Redução dos custos branqueamento com cozimento e lavagem. operacionais através da cloro. Eliminação do cloro, pelo maior utilização de fontes de uso de oxigênio, ozônio ou energia secundárias. peróxido na lavagem. Adicional de preço inicial de Processos de ciclo fechado 25% para papéis sem cloro. (ainda problemáticos). Tintas e Compostos orgânicos Novas formulações das Adicional de preço para Revestimentos voláteis (COVs) nos tintas (tintas com baixo tintas sem solventes. solventes. conteúdo de solventes, tintas Melhoria da qualidade dos à base de água). revestimentos em alguns Melhoria das técnicas de segmentos. aplicação. Benefícios para a segurança Revestimentos tratados por do trabalho. radiação ou pulverização. Maior eficiência na transferência de revestimentos. Redução dos custos dos revestimentos através de economias de materiais. Fabricação de Compostos orgânicos Agentes de limpeza Melhoria na qualidade produtos eletrônicos voláteis (COVs) nos semi-aquosos, à base de da limpeza e, portanto, na agentes de limpeza. terpeno. qualidade do produto. Sistemas de ciclo fechado. Redução de 30% a 80% nos Soldagem sem limpeza, custos de limpeza, com quando possível. período de retorno geralmente de um ano. Eliminação de um passo de produção desnecessário. Refrigeradores Uso de Resfriadores alternativos 10% de melhoria na clorofluorcarbonos (mistura eficiência energética, com (CFCs) como propano-isoburano). mesmo custo. resfriadores. Isolamento mais espesso. 5% a 10% de adicional de Melhores gaxetas. preço inicial para Aprimoramento dos refrigeradores "verdes". compressores. Baterias de célula Vazamentos de cádmio, Baterias recarregáveis de Quase duas vezes mais seca mercúrio, chumbo, níquel-hidreto (para eficientes, ao mesmo custo. níquel, cobalto, lírio e algumas aplicações). Maior eficiência energética. zinco em aterros ou na Baterias recarregáveis de lítio Expectativa de atmosfera (após a (em desenvolvimento). competitividade no preço, incineração) . no futuro próximo. Tintas para COVs em tintas de Tintas à base de água e à Maior eficiência, cores mais impressão petróleo. base de soja. brilhantes e aumento da rentabilidade (dependendo. das aplicações). Fontes: Benjamin C. Bonifant, lan Ratcliffe e Claas van der Linde. COMPETIÇÃO 379 ampla variedade de produtos químicos. A empresa costumava armazenar as águas usadas em bacias de evaporação. A regulamentação exigiu que a Dow fechasse as bacias de evaporação até 1988. Em 1987, sob pressãopara cum- prir a nova legislação, a empresa reprojetou o processo de produção. Redu- ziu o uso de soda cáustica, diminuindo os resíduos cáusticos em cerca de 6.000 toneladas por ano e os resíduos de ácido hidroclórico em oitenta to- neladas por ano. A Dow também descobriu que seria capaz de captar parte do fluxo de resíduos para reutilização como matéria-prima em outras partes da fábrica. Embora sua implementação tenha custado apenas US$250.000, o processo proporcionou economias anuais de US$2,4 milhões.3 A 3M também aumentou a produtividade dos recursos. Forçada a cumprir novas normas que exigiam a redução das emissões de solventes em 90 por cento, a 3M descobriu um modo de evitar completamente o seu uso, através do revestimento dos produtos com soluções mais seguras, à base de água. A empresa conquistou a vantagem do pioneirismo no desenvolvi- mento de produtos em relação aos concorrentes, muitos dos quais só adota- ram o novo processo bem mais tarde. A empresa também abreviou o prazo de lançamento dos produtos no mercado, pois os itens à base de água não estavam sujeitos à necessidade de aprovação prévia, obrigatória para os re- vestimentos a base de solventes.Í A 3~scobri~ue as inovações são capazes de melhorar a consistên- cia dos processos, reduzir as paralisações e . . uir substancialmente os custos. A empresa costumava produzir adesivos em lotes, que eram então transferidos para os tanques de armazenagem. Um lote ruim era capaz de comprometer todo o conteúdo do tanque. As conseqüências eram perdas do produto, paralisações e maiores riscos no descarte dos resíduos. A 3M desenvolveu uma nova técnica para a execução de testes de qualidade rápi- dos nos novos lotes. O resultado foi a redução dos resíduos perigosos em 110 toneladas por ano, quase sem custo, proporcionando uma economia anual superior a US$200.000.5 Muitos processos de produção química exigem um período inicial de partida, após interrupções da produção, de modo a estabilizar o produto e trazê-lo para dentro das especificações. Durante esse tempo, a produção se resume a sucata. A elevação dos custos de descarte dos resíduos, em decor- rência da nova regulamentação, motivou a DuPont a instalar equipamen- tos de monitoração de melhor qualidade, que, por sua vez, reduziram as interrupções na produção e os conseqüentes períodos de partida. Assim, não apenas diminuiu a geração de resíduos, como ainda abreviou o tempo em que não produzia nada.6 380 MICHAEL E. PORTER A Melhoria.Ambiental É Capaz de Beneficiar--a Produtividade dos Recursos Benefícios para o processo: • Economias de materiais, resultantes do processamento mais completo, da substituição, da reutilização ou da reciclagem dos insumos de produção. • Aumentos nos rendimentos do processo. • Menos paralisações, através do maior cuidado na monitoração e na manu- tenção. • Melhor utilização dos subprodutos. • Conversão dos desperdícios em formas de valor. • Menor consumo de energia durante o processo de produção. • Redução dos custos de armazenamento e manuseio de materiais. • Economia em razão de um ambiente de trabalho mais seguro. • Eliminação ou redução do custo das atividades envolvidas nas descargas ou no manuseio, transporte e descarte de resíduos. • Melhorias no produto como resultado indireto das mudanças nos proces- sos (como melhorias nos controles dos processos). Benefícios para o produto: • Produtos com melhor qualidade e mais uniformidade. • Redução dos custos do produto (por exemplo, com a substituição de mate- riais). • Redução nos custos de embalagem. • Utilização mais eficiente dos recursos pelos produtos. • Aumento da segurança dos produtos. • Redução do custo líquido do descarte do produto pelo cliente. • Maior valor de revenda e de sucata do produto. COMPETIÇÃO 381 Asmudanças nos processos para reduzir as emissões e utilizar os recur- sos de forma mais eficiente geralmente proporcionam rendimentos mais elevados. Em conseqüência de novas normas ambientais, a Ciba-Geigy Corporation reexaminou os fluxos de água já usada na fábrica de tinturas de Torri's River, Nova Jersey. Os engenheiros introduziram duas mudanças nos proce~sos de produção. Primeiro, substituíram o ferro gerador de lama por um agente de conversão química menos prejudicial. Segundo, elimina- ram o despejo de um produto potencialmente tóxico nos fluxos de água usada. Assim, não apenas reduziram a poluição, mas também aumentaram o rendimento do processo em 40 por cento, proporcionando uma econo- mia de custo anual de US$740.000. Embora essa área da fábrica tenha sido fechada, o exemplo ilustra o papel da pressão regulamentária no processo de inovação. A~~ões nos processos para..a observância da re ulamenta ão ani-_ biental são até capazes de melhorar a uniformidade e a gualidade dos pro- duros. Em 1990, o Protocolo de Montreal (Montreal Protocol) e a Lei da Atmosfera Limpa (Clean Air Act) dos Estados Unidos exigiram que as em- presas de produtos eletrônicos eliminassem os clorofluorcarbonos (CFCs) destruidores do ozônio. Muitas delas utilizavam essa substância como agente de limpeza para a remoção de resíduos na fabricação de placas de cir- cuitos impressos. Os cientistas da Raytheon afrontaram o desafio. De iní- cio, acharam que a completa eliminação dos CFCs seria impossível. Após as pesquisas, contudo, descobriram um agente de limpeza alternativo, suscetí- vel de reutilização em sistemas de ciclo fechado. O novo método melhorou a qualidade média do produto - às vezes comprometida pelo velho agente de limpeza à base de CFC - ao mesmo tempo em que reduziu os custos operacionais. Reagindo à mesma regulamentação, outros pesquisadores identificaram aplicações que não exigiam qualquer tipo de limpeza e desen- volveram as chamadas tecnologias de soldagem sem limpeza, que reduzi- ram os custos operacionais, sem comprometimento da qualidade. Sem a regulamentação ambiental, essa inovação não teria ocorrido. As inovações destinadas a atender à regulamentação àmbiental também são capazes de reduzir os custos de produção e impulsionar a produtividade dos re~ursos através da diminuição das embalagens desnecessárias ou da simplificação dos projetos. No Japão, uma lei de 1991 estabeleceu normas para facilitar a reciclagêm dos produtos. A Hitachi, juntamente com outros produtores de eletrodomésticos japoneses, reagiu com o redesenho dos pro- dutos, de modo a reduzir o tempo de desmontagem. Nesse processo, cortou em 16 por cento o número de componentes de uma lavadora de roupa e em 382 MICHAEL E. PORTER 30 por cento o número de componentes de um aspirador de pó. A menor quantidade de componentes facilitou não apenas a desmontagem dos pro- dutos, mas, sobretudo, a própria montagem. ~ regulamenta.ç:ácLQue exige a reciclagem dos produtos tem condições de reduzir os custos de descarte dos produtos pelos usuários e estimular projetos que permitam à-empresa a.re-. cuperação de materiais valiosos com maior facilidade. O~~e ou o fab '- cante que recebe produtos !illI-doS-Obtém-maior valor. --Embora essas inovações nos produtos tenham sido provocadas pelos re- guladores e não pelos clientes, a demanda mundial está atribuindo maior valor aos produtos mais eficientes na utilização dos recursos. Muitas em- presas estão recorrendo às inovações para impor adicionais de preços aos produtos "verdes" e para desbravar novos segmentos de mercado. Como a Alemanha adotou as normas de reciclagem antes da maioria dos demais países, as empresas alemãs desfrutaram das vantagens do pioneirismo rio desenvolvimento de produtos com menos embalagem, que envolvem cus- tos mais baixos e que são mais procurados no mercado. Nos Estados Uni- dos, o desenvolvimento, pela Cummins Engine Company, de motores a diesel menos poluidores para caminhões e ônibus - inovação estimulada pela regulamentação ambiental do1Estados Unidos - está proporcionando ganho de posições nos mercados internacionais, onde estão aumentando as exigências no mesmo sentido. Esses exemplos e muitos outros não demons.tram que as empresas sem- pre são capazes de inovar com baixo custo no processo de redução do im- pacto ambiental. Todavia, eles mostram que são muitas as oportunidades de redução da poluição através de inovações que reprojetem os produtos, processos e métodos de operação. Esses exemplos são comuns, apesar da re- sistência das empresas à regulamentação ambiental e não obstante a fre- qüente hostilidade das próprias normas ambientais às soluções inovadoras e produtivas em termos de recursos. O próprio fato da freqüência dos exem- plos contém uma mensagem importante: atualmente, necessita-se com ur- gência de um novo referencial para o pensamento sobre as melhorias ambientais. Será que de Fato Precisamos de Regulamentação? Se a inovação em resposta à regulamentação ambienta] tem condições de ser lucrativa - se as empresas são de fato capazes de compensar o custo da conformidade através do aumento da produtividade dos recursos - qual a - COMPETIÇÃO 383 necessidade da regulamentação? Se existem essas oportunidades, será que as empresas não as uscari~aturalmente, tornando desnecessária a regula- mentação? Isso equivale a afirmar que raramente se encontram no chão no- tas de dez dólares, pois alguém já as terá recolhido. Sem dúvida, algumas empresas perseguem essas inovações sem a neces- sidade de regulamentação ou a elas se antecipando. Na Alemanha e na Escandinávia, onde as empresas e os consumidores estão muito sintoniza- dos com as questões ambientais, a inovação não é incomum. Nos Estados Unidos, à medida que as empresas e os clientes assumirem a atitude mental da produtividade dos recursos e à proporção que aumentar o conhecimento sobre as tecnologias inovadoras, talvez a regulamentação se torne menos ne- cessária. Mas a crença de que as empresas aproveitarão as oportunidades lucrati- vas sem o impulso regulamentário parte de premissas falsas sobre a realida- de competitiva - ou seja, de que todas as boas oportunidades de inovação já foram descobertas, de que todos os gerentes dispõem de informações per- feitas sobre essas oportunidades e de que os incentivos organizacionais estão alinhados com a inovação. De fato, no mundo real, os gerentes freqüente- mente dispõem de informações muito incompletas, além das limitações de tempo e da falta de atenção. As barreiras à mudança são inúmeras. O pro- grama Luz Verde (Green Lights) da Agência de Proteção Ambiental (Envi- ronment Protection Agency), que trabalha com as empresas na promoção de formas de iluminação poupadoras de energia,' mostra que muitas notas de dez dólares ainda estão à espera de que alguém as apanhe no chão. Se- gundo uma auditoria, quase 80 por cento dos projetos ofereceram períodos de retorno de dois anos ou menos, e mesmo assim as empresas que os anali- savam ainda não haviam partido para a ação? Esses projetos altamente lu- crativos só foram implementados depois que as empresas aderiram ao programa e se beneficiaram das informações e da persuasão da EPA. Estamos a ora numa fase de transição da história industrial.em que as empresas ainda são inexperientes no gerenciamento criativo das questões ambientais. Os clientes também não estão cientes de que a ineficiência na utlIlzãção dos recursos implica que terão que arcar com custos da polui- ção. Por exemplo, os consumidores tendem a ver a embalagem descartada c~ algo gratuito, pois não é cobrada em separado, e hoje inexistem al- ternativas de baixo custo. Como não dispõem de um meio direto para re- cuperar o valor dos recursos desperdiçados, pelos quais já pagaram, os clientes imaginam que o descarte de produtos usados não gera para eles custos adicionais. 384 MICHAEL E. PORTER A regulamentação, ainda que em modalidade diferente da atualmente praticada, é necessária por seis principais razões: • Para criar pressões que motivem a inovação.pelas.ernpresas.Nossa pesquisa mais abrangente sobreacornpetitividade destaca a impor- tância do papel das pressões externas na superação da inércia organi- zacional e na instigação do pensamento criativo. •• Paramelhorar a qualidade ambiental, nos casos em CUK-ainovação e o conseqüente aprimoramento na produtividade dos recursos não compensam o custo total da conformidade; ou nas situações em que os efeitos do aprendizado levam algum tempo para reduzir o custo total das soluções inovadoras. • Para alertar e educar as empresas a respeito de ineficiências l'rQyá.Yejs nQD:eCillsos e deáreaspojenciais ~ara aprimoramentos tecnoló icQ.s (embora os governos não disponham de melhores condições do que as empresas para tratar de ambas as questões). • Para aumentaLa..probabilidage de quea inova ão nos rodutos e nos processosseia.mais.amisrcsa em relação ao ~mbienreJ • Para-ffi.a..t:.-demar:lda--p~G-aprimoramento ambiental até que as em- presas e os clientes sejam capazes de melhor perceber e mensurar a ineficiência dos recursos como fonte da poluição. . • Para nivelar o campo-de-joge-durante-o período dê-triiftS·i~e às soluções ambientais baseadas na inovação, assegurando que nenhu- ma empresa será capaz de ganhar posição por não efetuar os investi- mentos ambientais. A regulamentação proporciona um amortecedor para as empresas inovadoras, até a validação das novas tecnologias e a redução de seus custos através dos efeitos do aprendizado. Os que acreditam que apenas as forças do mercado instigarão a inova- ção talvez argumentem que os programas de gestão de qualidade total fo- ram iniciados sem a intervenção regulamentária. No entanto, a GQT atingiu os Estados Unidos e a Europa através de diferentes tipos de pressão. Décadas antes, a GQT se difundira por todo o Japão - como resultado de um grande esforço governamental para transformar a qualidade do produto em objetivo nacional, inclusive com a criação do Prêmio beming. Apenas após serem devastadas pelas empresas japonesas no mercado, as empresas americanas e japonesas aderiram à GQT. COMPETIÇÃO 385 o Custo da Atitude Mental Estática Assim, o~eguladores ~as empresas devem concentrar-se na atenuação da opção excludente entre.proteção ambieatal-e-competitividade, atra- vés do estímulo à inovação e à produtividade dos recursos. No entanto, o atual clima de rivalidade impulsiona o custo da conformidade com normas ambientais e restringe os benefícios da inovação, agravando ain- da mais o dilema. Para começar, a luta por poder subjacente ao estabelecimento e apli- cação das normas ambientais consome uma enorme quantidade de recur- sos. Um estudo de 1992 do Rand Institute for Civil Justice, por exemplo, descobriu que 88 por cento do dinheiro pago pelas seguradoras, entre 1986 e 1989, aos pedidos de indenização pelo Superfund se destinaram ao reembolso de despesas legais e administrativas, enquanto apenas 1'2 por cento foram utilizados para a efetiva recuperação das Iocalidades.f A lei do Superfund talvez seja a mais ineficiente legislação ambiental dos Esta- dos Unidos, mas não é a única causa de ineficiência. Acreditamos que uma parcela substancial das despesas com o meio ambiente e que uma grande proporção das receitas das empresas de produtos e serviços ambi- entais se relacione com o contencioso regulamentário em si e não com a melhoria do meio ambiente. Um problema do processo de rivalidade é o.fato de confinar as empre- sas aope~nto estático e de inflar de forma sistemática as estimativas se- t~riais do custo da regulamentação. Um exemplo clássico ocorreu nos Estados Unidos, durante os debates sobre a Lei da Atmosfera Limpa, de 1970. Lee Iacocca, então vice-presidente executivo da Ford Motor Com- pany, previu que a observância da nova regulamentação imporia enormes aumentos nos preços dos automóveis, forçaria a paralisação da produção americana em 1975 e provocaria sérios danos à economia. A gova legislação acabou sendo promulgada e as previsões sombrias de Iacocca se revelaram errôneas. Histórias semelhantes são comuns. O pensamento estático induz as empresas a combater normas ambien- tais que, na realidade, seriam capazes de reforçar a sua competitividade. A' maioria dos destiladores de alcatrão de hulha dos Estados Unidos, por exemplo, se opuseram à regulamentação de 199}, que exigia reduções subs- tanciais nas emissões de benzeno. Na época, a única solução consistia em cobrir os tanques de armazenamento de alcatrão com dispendiosos cober- tores de gás. Mas as novas normas incitaram a Aristech Chemical Corpora- tion, de Pittsburgh, Pensilvânia, a desenvolver um meio de remover o 386 MICHAEL E. PORTER benzeno do alcatrão de hulha no primeiro passo do processamento, elimi- nando, assim, a necessidade dos cobertores de gás. Em vez de sofrer um au- mento de custo, a Aristech economizou US$5,3 milhões. Ademais, a atitude mental das empresas faz com que o custo do trata- mento dos problemas ambientais pareçam mais elevados do que são na rea- lidade. Muitas empresas não levam em conta a curva de aprendizagem, embora os custos efetivos da conformidade tendam a declinar com o tem- po. Um estudo recente no setor de papel e celulose, por exemplo, descobriu que o custo efetivo da conformidade era de quatro dólares a cinco dólares e cinqüenta centavos por tonelada, ao passo que as estimativas iniciais ti- nham sido de até dezesseis dólares e quarenta centavos.l' Do mesmo modo, o custo da observância da regulamentação de 1990, controlando as emis- sões de dióxido sulfúrico, correspondem hoje a apenas metade das previsões iniciais dos analistas, ainda com tendência declinante. Com o foco na ino- vação e na produtividade dos recursos, os atuais custos da conformidade re- presentam o limite superior. Há uma controvérsia legítima sobre os benefícios decorrentes das nor- mas ambientais específicas para a sociedade. A mensuração dos efeitos da atmosfera limpa, em termos de saúde e de segurança, tem sido objeto de um constante debate científico. Alguns acreditam que os riscos da poluição fo- ram superestimados. Mas quaisquer que sejam os níveis comprovados dos benefícios sociais, os custos privados para as empresas ainda são muito mais elevados do que o necessário. Regulamentações Boas e Más Além do alto custo, o atual sistema de regulamentação arnbiental dos Esta- dos Unidos freqüentemente frustra ou inviabiliza as soluções inovadoras. Seu problema não está no rigorismo. É a maneira pela qual as normas são redigidas e a pura ineficiência com que são administradas. Normas severas podem e devem promover a produtividade dos recursos. No entanto, o processo regulamentário americano malbaratou esse potencial por concen- trar-se na recuperação, e não na prevenção, impondo tecnologias específi- cas, estabelecendo prazos de conformidade irrealisticamente curtos e subme- tendo as empresas a níveis de incerteza desnecessariamente elevados. O atual sistema desencoraja a assunção de riscos e a experimentação. A exposição a contingências passivas e a inflexibilidade do governo na aplica- ção da legislação, entre outros fatores, contribuem para o problema. Por COMPETIÇÀO 387 exemplo, uma empresa que inova e atinge 95 por cento do objetivo de re- dução das emissões, ao mesmo tempo em que registra compensatórias substanciais reduções de custo, ainda se encontra 5 por cento abaixo da con- formidade e sujeita a penalidades. Por outro lado, os reguladores a recom- pensariam pela adoção de tratamentos secundários seguros, mas baratos. (Ver, a seguir, "A Regulamentação Favorável à Inovação".) A Regulamentação Favorável à Inovação A regulamentação, conduzida de forma adequada, não precisa aumentar os custos. Os seguintes princípios da elaboração regulamentária promovem a inovação, a produtividade dos recursos e a competitividade: -ifFocalizar osresultados, e não a tecnologia. As regulamentações do passado ge- ralmente prescreviam soluções específicas, como catalisadores ou purificadores para a poluição do ar. Expressões como "melhor tecnologia disponíveis" e "me- lhor tecnologia decontrole disponível" têm raízes profundas na prática ameri- cana e implicam que uma tecnologia é a melhor, desencorajando a inovação. Estabelecer uma regulamentação severa, em vez de leniente. As empresas tra- tarão da regulamentação leniente de forma incremental, geralmente com so- luções improvisadas ou secundárias. Assim, a regulamentação deve ser bastante rigorosa para promover a efetiva inovação. Regulamentar tendo em vista, tanto quanto possível, o usuário final, ao mes- mo tempo em que estimula as soluções a montante. Essa abordagem geralmente possibilitará maior flexibilidade para a inovação no produto final e em todos os estágios do processo de produção e distribuição. A completa prevenção da poluição ou, como segunda melhor alternativa, sua ~tenuação nos primeiros elos da cadeia de valores, é quase sempre uma solução menos dispendiosa do que as correções ou recuperações nos últimos estágios. Adotar fases de implantação. A previsão de fases de implantação amplas, mas bem definidas, vinculadas aos ciclos de investimentos de capital do setor, permitirão que as empresas desenvolvam tecnologias inovadoras de economia de recursos, em vez de forçá-Ias a implernentar apressadamente soluções dis- pendiosas que apenas remendam os problemas. A Califórnia impôs prazos de atendimento tão curtos ao setor de móveis de madeira, que muitos fabricantes optaram por abandonar o estado, ao invés de adquirir custosos equipamentos de controle. Utilizar os incentivos de mercado. Os incentivos de mercado, como a co- brança de encargos pela poluição ou os esquemas de depósitos reembolsáveis, chamam a atenção para a ineficiência dos recursos. Além disso, as licenças ne- gociáveis proporcionam incentivos contínuos à inovação e encorajam o uso criativo de tecnologias que superem as normas vigentes. 388 MICHAEL E. PORTER ljarmonize ou alinhe as regula11!:entaçõesem campoS-.afins. A exposição a contingências passivas nos Estados Unidos leva as empresas a aderirem a abor- dagens seguras, do tipo "melhor tecnologia disponível", e as regulamentações inconsistentes sobre tecnologias alternativas frustram as inovações benéficas. Por exemplo, um meio de eliminar os agentes de esfriarnenro de refrigerado- res, suspeitos de danificar a camada de ozônio, envolve sua substituição por pequenas quantidades de propano e butano. Mas algumas normas de seguran- ça de concepção estreita, que tratam desses gases, parecem ter impedido o de- senvolvimento da tecnologia nos Estados Unidos, enquanto muitas das principais empresas européias já estão comercializando os novos produtos. Desenvolver as regulamentações em sincronia com os outros países ou ligeira- mente àfrente deles. É importante minimizar possíveis desvantagens competi- tivas em relação a empresas estrangeiras que ainda não estejam sujeitas às mesmas normas. O desenvolvimento das regulamentações ligeiramente à frente dos demais países também maximizará o potencial de exportação do se- tor de controle da poluição através do aumento dos incentivos à inovação. Quando as normas nos Estados Unidos lideram as iniciativas mundiais, as empresas internas desfrutam de oportunidades para a conquista de valiosas vantagens decorrentes do pioneirismo. No entanto, se as normas forem muito avançadas ou de natureza muito divergente, em comparação com as que pro- vavelmente serão aplicadas aos concorrentes estrangeiros, talvez o setor esteja inovando na direção errada. Torne oprocesso regulamentário mais estável eprevisível. O processo regu- lamentário é tão importante quanto as normas. Se as normas e os períodos de implantação forem estabelecidos e aceitos com suficiente antecipação e os reguladores se comprometerem a manter sua vigência por cinco anos, por exemplo, a empresa será capaz de aderir com firmeza e atacar o mal pela raiz, em vez de se proteger contra a própria reversão ou mudança na filosofia go- vernamental. Exigir a participação do setor no estabelecimento das normas desde o começo. A regulamentação americana difere muito da européia por sua abordagem de rivalidade. O setor deve ajudar na definição dos períodos de implantação, no conteúdo das normas e na determinação de um processo regulamentário mais eficaz. Um conjunto predeterminado de pedidos de informações e de intera- ções com os representantes setoriais deve ser um componente obrigatório des- se processo. O setor e os reguladores devem atuar com vistas ao desenvolvimento de um clima de confiança, pois o setor precisa proporcionar informações efe- tivamente úteis e os reguladores precisam levar a sério os insumos do setor. Desenvolver fortes capacidades técnicas entre os reguladores. Os reguladores devem entender a economia do setor e o que impulsiona a sua competitivida- de. O melhor intercâmbio de informações evitará jogadas custosas, nas quais empresas mal informadas recorrem a um aparato de advogados e consultores na tentativa de protelar ou eliminar regulamentações mal concebidas por re- guladores mal informados. COMPETIÇÃO 389 7't Minimizar O tempo e os recursos consumidos no processo regulamentário em si. Os atrasos nas concessões de licenças são, em geral, custosos para as empre- sas. A auto-regulamentação, com inspeções periódicas, seria mais eficiente do que a exigência de aprovações formais. Os litígios potenciais ou reais geram incerteza e consomem recursos. A adoção de procedimentos obrigatórios de arbitragem ou de medidas rígidas de arbitragem antes do litígio reduziria os custos e encorajaria a inovação. Para uma análise mais ampla das propostas de mudança na regulamentação ambien- tal, ver Michael E. Porter e Claas van der Linde. "Toward a New Conception of the Environrnent-Cornpetitiveness Relationship",journaL ofEconomic Perspectives 9, n. 4 (outono de 1995). Assim como a má regulamentação é capaz d~rejudicar a cornpetitivi- dade, a.boa regulamentação.rem condições de reforçá-Ia. Considere as dife- renças entre os setores de papel e celulose dos Estados Unidos e da Dinamarca. Nos Estados Unidos, uma rigorosa regulamentação foi impos- ta nos anos 70, sem fases de implantação adequadas, forçando as empresas a adotarem com rapidez as melhores tecnologias disponíveis. Na época, as exigências significavam, invariavelmente, a instalação no fim do processo, de sistemas de tratamento comprovados mas custosos. Na Escandinávia, por outro lado, a regulamentação permitia abordagens mais flexíveis, pro- porcionando condições para que as empresas focalizassem o processo de produção em si, e não apenas o tratamento secundário dos resíduos. As em- presas escandinavas desenvolveram tecnologias inovadoras de polpação e branqueamento que, não apenas cumpriam as especificações das emissões, como também reduziam os custos operacionais. Embora os Estados Uni- dos tenham sido os precursores da regulamentação, as empresas americanas foram incapazes de auferir qualquer vantagem do pioneirismo, pois os re- guladores ignoraram um princípio crítico da boa norma ambiental: criar o máximo de oportunidade para a inovação, permitindo que as empresas des- cubram como resolver os próprios problemas. Infelizmente para o setor de celulose e papel dos Estados Unidos, um segundo princípio da boa regulamentação também foi negligenciado: fo- mentar a melhoria contínua, não se trancar numa tecnologia específica ou na situação vigente. A agência reguladora sueca adotou uma abordagem mais eficaz. Enquanto os americanos impuseram rigorosas metas de emis- são e estabeleceram prazos de atendimento muito apertados, a Suécia co- 390 MICHAEL E. PORTER meçou com normas mais complacentes, mas deixou claro que logo seriam substituídas por outras mais severas. Os resultados eram previsíveis. As em- presas americanas instalaram sistemas de tratamento secundários e se limi- taram a essa medida. Já os produtores suecos, antecipando normas mais rigorosas, incorporavam continuamente tecnologias ambientais inovadoras nos ciclos normais de substituição e inovação da capacidade. ~. favorável à inovação produziu o efeito colareral de au- mentara competitividade do setor de equipamentos local. Estimulados pela demanda escandinava por sofisricatias'rnelhorias nos pro~e~s, os for- necedores locais de equipamentos para o setor de celulose e papel, como Sunds Defibrator e Kamyr, acabaram auferindo grandes ganhos no merca- do internacional com a venda de equipamentos inovadores. Finalmente, o setor de celulose e papel da Escandinávia foi capaz de co- lher inovações compensatórias que iam além das que decorriam diretamen- te das pressões regulamentárias. Em princípios dos anos 90, os produtores perceberam que a crescente conscientização pública quanto aos problemas ambientais relativos aos efluentes das usinas de celulose estava criando um mercado de nicho. Durante algum tempo, as empresas escandinavas que produziam papéis totalmente isentos de cloro dispunham de condições de cobrar significativos adicionais de preços e de atender a um segmento de mercado em rápido crescimento, composto de clientes ambientalistas. Implicações para as Empresas Com certeza as abordagens regulamentárias mal orientadas impuseram um pesado ônus p'ãra as empresas. Mas os gerentes que reagiram finc~"ndo o pé na oposição a toda a regulamentação também demonstraram miopia. Não é segredo que os fabricantes de automóveis japoneses e alemães desenvolve- ram carros mais leves e com maior eficiência energética, em resposta às no- vas normas de consumo de combustível, enquanto a indústria automobilística americana, menos competitiva, combateu essas normas, na esperança de que fossem abandonadas. A indústria automobilística americana acabou re- conhecendo que estava condenada à extinção se não aprendesse a competir através da inovação. A prolongada aderência à atitude mental estática cus- tou bilhões de dólares e muitos milhares de empregos. Para não incorrer nos mesmos erros, os gerentes devem começar a per- ceber as melhorias ambientais como uma oportunidade econôrnicge com- petitiva, e não como um custo embaraçoso ou uma ameaça inevitável. Em COMPETIÇÃO 391 vez de se ate r a uma perspectiva focalizada na observância da regulamenta- ção, as empresas devem formular perguntas como "Q~e estamos desper- di ando?" e "Como seríamos capazes de reforçar o valor para o cliente?" As empresas percursoras - aqllefas que são as primeiras a visualizar a oportu- nidade e a abraçar soluções inovadoras - colherão os maiores benefícios competitivos, do mesmo modo como os fabricantes de automóveis alemães e japoneses. (Ver, a seguir, "Os Novos Ambientalistas".) No atual estágio, as questõesarnbienrais, para a maioria das empresas, ainda são assunto para profissionais e especialistas externos. O que não é surpreendente. Qualquer novo tema gerencial tende a trilhar um ciclo de vida previsível. Ao aparecef pelá t>rimeira vez, as empresas contratam espe- cialistas externos para ajudá-Ias na navegação. Quando a prática se torna mais desenvolvida, os especialistas internos assumem o controle. Apenas quando a área chega à fase de. maturidade, as....empresasa integram nas fun- ções contínuas da gestão de linha. Muitas empresas ~garam a análise e a solução dos problemas arnbi- entais a advogados e consultores externos. Esses especialistas no processo regulamentário baseado na rivalidade, que não dispõem de grande familia- ridade com as operações e as tecnologias gerais da empresa, inevitavelmente se concentram na conformidade, e não na inovação. Eles sempre favorecem as soluções de fim de processo. Na realidade, muitos consultores estão asso- ciados a empresas que vendem essas tecnologias. Algumas empresas já se encontram na segunda fase, em que as questões ambientais são atribuídas aos especialistas internos. Mas esses especialistas - por exemplo, das áreas jurídica, de relações com o governo ou de assuntos ambientais - carecem de plena responsabilidade pelo lucro e estão isolados da organização de li- nha. Novamente, o resultado é, quase sempre, soluções estreitas e incre- mentais. Os Novos Ambientalistas Os ambientalistas têm condições de fomentar a inovação e a produtividade dos recursos ao reivindicarem as espécies corretas de normas regulamenta- res e ao educar o público no sentido de exigir soluções ambientais inovado- ras. A seção alemã do Greenpeace, por exemplo, descobriu, em 1992, que uma mistura de propano e butano era mais segura para o esfriamento de re- frigeradores do que as substâncias então predominantes - hidrofluorcar- bonos ou hidroclorofluorcarbonos - propostas como substitutos para os 392 MICHAEL E, PORTER clorofluorcarbonos. Pela primeira vez na história, o Greenpeace começou a endossar um produto comercial. Na verdade, lançou uma campanha pu- blicitária de um refrigerador projetado pela Foron, um pequeno fabricante à beira da falência. A ação foi fortemente alavancada pela ampla cobertura da mídia e se constituiu numa das principais causas da subseqüente de- manda por refrigeradores de propano-butano fabricados pela empresa e da posterior conversão dos demais fabricantes de refrigeradores da Alemanha para a mesma tecnologia. As organizações ambientais são capazes de apoiar a indústria, ao se' tr~arem em-f~ntes-d.~ção sobre as melhores práticas, que tal- vez não sejam bem conhecidas fora do círculo de umas poucas empresas pioneiras. Ao constatar que os editores e os leitores das revistas alemãs não estavam cientes da qualidade muito superior do papel isento de cloro, o Greenpeace da Alemanha editou uma revista impressa com este tipo de pa- pel. Era grande a sua semelhança com o semanário político alemão Der Spie- gel, e o lançamento encorajou os leitores a exigirem que os editores passassem a utilizar papel sem cloro. Em breve, o Der Spiegel e várias outras grandes revis- tas efetuaram a conversão. Outras organizações ambientais também poderiam deslocar parte dos recursos hoje concentrados em litígios, direcionando-os para o financiamento e divulgação de pesquisas sobre inovações referentes aos pro- blemas ambientais. Entre os grupos ambientalistas dos Estados Unidos, o Fundo de Defesa Arnbiental (Environmental Defense Fund - EDF) tem assumi- do uma postura inovadora na sua disposição de promover sistemas regu- lamentários baseados no, mercado e de trabalhar diretamente com as empresas. O grupo apoiou o sistema de intercâmbio enxofre-dióxido, pelo qual as empresas reduzem as próprias emissões ou adquirem concessões de emissões de empresas que conseguiram superaram suas cotas de redução a um custo inferior. A Força-Tarefa para a Redução de Resíduos EDF-McDonald's, constituída em 1990, induziu a empresa a alterar de forma substancial as embalagens, eliminando inclusive os recipientes de espuma de polistireno. Atualmente, o EDF está trabalhando com a Gene- ral Motors, nos esforços para retirar das estradas os automóveis altamente poluentes; e com a] ohnson & ] ohnson, MacDonald' s, N ationsBank, The Prudential Insurance Company of America, Time Warner e Duke Univer- siry, para promover o uso de papel reciclado. Fonte: Benjamin e. Bonifant e Ian Ratcliffe, "Cornperitive Implications of Environ- ment Regulation in the Pulp and Paper Industry", Managemeilt Institute for Envi- ronment and Business,Washington, D.e., 1994. COMPETIÇÃO 393 Para que pelo menos se considerem os tipos de redesenho de produtos e processos imprescindíveis à verdadeira inovação, sem falar em implernenta- ção, as estratégias ambientais devem transformar-se em assunto da alta ge- rência. O _impacto ambiental precisa ser incorporado no processo mais amplo de melhoria da produtividade e da competitividade, O modelo da produtividade dos recursos, ao invés do modelo do controle da poluição, deve nortear o processo decisório. Çomo os gerentes serão capazes de acelerar o-progresso da empresa rumo a ~ma abordagem ambiental mais competitiva? Primeiro, devem cp~ensurar os impactos ambientais.diretos e indiretos. Uma das principais razões pelas quais as e~as não são muito inovadoras em relação aos pro- blemas ambientais é a ignorância. Um grande fabricante de produtos quí- micos orgânicos, por exemplo,contratou um consultor para explorar as oportunidades de redução dos seus 40 fluxos de resíduos. Uma auditoria cuidadosa revelou 497 diferentes fluxos de resíduos - a empresa errara em mais de dez por cento. 10 Nossas pesquisas indicam que a simples rnensura- ção induz a.enorrnes oportunidades de aumento da produtividade. As empresas que adotam o referencial da.produtividade dos recursos e vão além das áreas atualmente regulamentadas são as que auferem os maio- res benefícios. As empresas devem efetuar um levantamento de todos os r~s e embalagens não utilizados, liberados como emissões ou descarta- dos. Alguns recursos mal utilizados são mantidos nas fábricas, outros são descartados e outros ainda colocados em contêineres do tipo dumpsters. *As ineficiências indiretas dos recursos ocorrem no nível dos fornecedores, ca- nais de distribuição e' clientes. Quanto a estes últimos, as ineficiências apa- recem no uso do produto, na embalagem descartada e nos recursos remanes- centes no produto utilizado. Segundo, QS gerentes deve ' aprender a reconhecer o custo de oportu- nidade dos recursos não utilizados, Poucas empresas analisaram o verdadei- ro custo da toxidade, dos resíduos c do material descartado, e muito menos os impactos de segunda ordem dos resíduos e despejos sobre outras ativida- des. Uma quantidade ainda menor de empresas vai além dos custos desern- bolsáveis do tratamento da poluição, para avaliar o custo de oportunidade do desperdício de recursos e do não aproveitamento de oportunidades. Ra- ras são as que pensam em termos de valor para o.cliente e consideram o cus- to de oportunidade dos recursos desperdiçados por ele. * Marca registrada de contêineres destinados ao armazenamento e transporte de resíduos, (N.T.) 394 MICHAEL E. PORTER Muitas empresas sequer r3streiam de forma cuidadosa as despesas am- bientais e possuem sistemas contábeis convencionais mal equipados para mensurar a subutilização dos recursos. As empresas avaliam os projetos am- bientais como investimentos distintos e isolados. Os investimentos diretos na redução de resíduos ou de despejos são selecionados com base em taxas de corte elevadas que presumem seu risco - deixando as notas de dez dóla- res no chão. A adoção de melhores métodos de informação e avaliação aju- dará os gerentes a ~duzir o impacto ambiental e, ao mesmo tempo, a melhorar a produtividade dos recursos. ~ Terceiro, as empresas precisam criar um viés em favor das solu ões ino- vaaoras e promotoras da produtividade. Devem esquadrinhar os despejos, as sucatas, as emissões e as atividades de descarte, próprias e dos clientes, monitorando-as do seu interior, de modo a facilitar os ínsíghts sobre mu- danças no projeto dos produtos, nas embalagens, nas matérias-primas e nos processos. Estamos impressionados com o poder de certas soluções sistêrni- cas: a reconfiguração de grupos de atividades ou a substituição de insumos e embalagens, que ampliam a utilização dos recursos e o potencial de recupe- ração. As abordagens que focalizam o tratamento de despejos isolados de- vem ser submetidas à reanálise. Os atuais sistemas de recompensas são tão contrários às inovações quanto as políticas regulamentárias. Em relação às fábricas, as empresas recompensam a produção, mas ignoram os custos arnhientais e os desper- dícios de recursos. A...Qunição 120ruma solução inovadora e economicamen- te eficiente que fique aquém das expectativas é geralmente muito maior do que a recompensa por uma solução custosa, mas "bem-sucedida". ~Finalmente, as ~mpresas devem tornar-se mais roativas na defini ão de novos tipos de relacionamento com os re uladores e com os ambientalis- tas. Para tanto, necessitam de uma nova atitude mental. Como é possível ~ proclamem de modo estrepitoso que a regulamentação compromete a competitividade e esperem que os reguladores e ambientalistas sejam flexí- veis e confiantes, quando elas mesmas reivindicam prazos para a busca de soluções inovadoras? A Economia Mundial em Transição Já é hora de a realidade da moderna competição impregnar o nosso raciocí- nio sobre o relacionamento entre competitividade e meio ambiente. Tradi- cionalmente, os países eram competitivos se suas empresas tivessem acesso a COMPETIÇÃO 395 insumos de custo mais baixo - capital, trabalho, energia e matérias-primas. Nos setores dependentes de recursos naturais, por exemplo, as empresas e os países competitivos eram aqueles com suprimentos locais abundantes. Como a tecnologia evoluía com lentidão, a vantagem competitiva nos insu- mos era suficiente para o sucesso. Atualmente, a lobalização tornou obsoleto o conceito de vantagem comparativa. As empresas dispõem de condições para adquirir.insumos de baixo custo em qualquer lugar e as novas tecnologias, em rápido desenvol- - ---vimento, são capazes de compensar as desvantagens no custo dos mesmos. Ao enfrenWem, no país de origem, altos custos de mão-de-obra, por exem- plo, as empresas podem eliminar a necessidade de trabalhadores não quali- ficados, através da automação. Ao se depararem com a escassezde determinada matéria-prima, as empresas são capazes de encontrar algum material alter- nativo ou de desenvolver um produto sintético. Para superar os altos custos do espaço físico, as empresas japonesas foram precursoras na produção just-in-time e evitaram a manutenção de estoques no chão da fábrica. Não é mais suficiente apenas dispor dos recursos. Hoje, a competitivi-~ dade depende de sua produtiva utilização. As empresas têm condições de melhorar a produtividade dos recutsos através da fabricação dos produtos existentes com maior eficiência ou do desenvolvimento de produtos que se- jam mais valiosos para os clientes - pelos.quais os clientes estejam dispos- tos a pagar preços mais elevados. Cada vez mais, os países e as empresas <l!:le apr~~ntam maior competitividade não são aqueles com acesso aos insumos de custo mais baixo, mas os que empregam a tecnologia e os métodos mais avançados na sua utilização. Como a tecnolQgLue encontra.em.consranre processo de mudança, o novo p-;radigrn.;da competitividade global exige a capacidade de inovar com rapidez. ;: Esse novo paradigma tem profundas implicações no debate sobre po- )ítica ambiental - sobre como abordá-Ia e regulamentá-Ia e sobre sua ábrangêncja. O novo paradigma entrela ou a melhoria ambiental e a coml'eti- tividade. Eimportante utilizar os recursos de forma rodutiya, sejam eles naturais e físicos ou humanos e de capital. O ~gr~sso ambiental exige que as empresas sejam inovadoraspara aumentar a rodutividad~dos re-. cursos - e é exatamente nesse ponto que se situam os novos desafios da cornpetitividade global. A resistência às inovações que reduzem a polui- ção, como no caso da indústria automobilística americana nos anos 70, redundará não apenas em danos ambientais, mas também na perda da competitividade na economia global. Os países em desenvolvimento que se aferrarem a métodos esbanjadores de recursos e negligenciarem as nor- 396 MICHAEL E. PORTER mas ambientais, por serem muito "dispendiosas", continuarão não com- petitivos e relegados à pobreza. A maneira como as empresas res ondem aos problemas ambientais tal- vez seja, de fato, um indicador-chave ~a sua com etitividade geral. A regu- lamentação ambiental não induz, inevitavelmente, à inovação e à cornpetiti- vidade ou ao aumento da produtividade para todas as empresas. Apenas aquelas que inovarem com êxito serão vencedoras. Um setor competitivo apresenta maior probabilidade de encarar a nova norma como desafio e reagir através de inovações. Por outro lado, aquele não competitivo talvez não esteja propenso à inovação e se veja tentado a combater toda a regulamentação. Não é surpreendente que o debate que lança o meio ambiente contra a cornpetitividade tenha tomado tal rumo. Na realidade, os conflitos eco- nomicamente destrutivos a respeito da redistribuição prevalecem em muitas áreas da política pública. Mas agora é o momento em que a mu- dança de paradigma nos impulsionará para a frente, rumo ao próximosé- culo. A competição internacional mudou drasticamente nas últimas décadas. Os gerentes seniores que cresceram na época em que a regula- mentação ambiental era sinônimo de litígio se depararão com evidências crescentes de que.a.rnelhoria ambiental é um bom n~ócio. Os ambienta- listas, as agências reguladoras e as empresas bem-sucedidas rejeitarão as ve- lhas opções excludentes e se desenvolverão com base na lógica econômica subjacente, que interliga o meio ambiente, a produtividade dos recursos, a inovação e a cornpetitividade. NOTAS 1. Um dos esforços pioneiros para a visualização das melhorias ambientais sob esse en- foque é The E-Factor: The Bottom-Line Approach to Environmentally Responsible Business, de Joel Makower (Nova York: Times Books, 1993). 2. Andrew King, "Improving Manufacturing Resulting from Learning from Waste: Causes, Importance, and Enabling Conditions", Stern School of Business, Nova York Universiry, Nova York, 1994. 3. Mark H. Dorfman, Warren R. Muir e Carherine G. Miller, Environmental Divi- dends: Cutting More Chemical Wastes (Nova York: INFORM, 1992). 4. Don L: Boroughs e Betsy Carpenrer, "Helping the Planet and the Economy", U'S. News and World Report 11O, n. 11, 25 de março de 1991, p. 46. 5. John H. Sheridan, "Attacking Wastes and Saving Money ... Some of the Time", lndustry Week, 17 de fevereiro de 1992, p. 43. 6. Gerald Parkinson, "Reducing Wastes Can Be Cosr-Effective", Chemical Enginee- ring97, n. 7, julho de 1990, p. 30. COMPETIÇÃO 397 7. Stephen J. OeCanio, "Why Do Profitable Energy-Saving Projects Languish?", Se- cond International Research Conference of the Greening ofIndustry Network, Cambrid- ge, Massachusetts, 1993. 8. Jan Paul Acton e Lloyd S. Oixon, "Superfund and Transaction Costs: The Experi- ences ofInsurers and Very Large Industrial Firrns", Rand Instirute for Civil justice, Santa Mônica, Califórnia, 1992. 9. Norman Bonson, Neil McCubbin e John B. Sprague, "Kraft Mil! Effluents in Ontario", relatório preparado para o Technical Advisory Committee, Pulp and Paper Sec- tor of MISA, Ontario Ministry of the Environment, Toronto, 29 de março de 1988, p. 166. 10. Parkinson, p. 30.
Compartilhar