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Jeniffer de Jesus Fonseca Celulite Juvenil Canina: Relato de caso. Santos 2018 Jeniffer de Jesus Fonseca Celulite Juvenil Canina: Relato de caso. Relatório de estágio apresentado ao Centro Universitário São Judas Tadeu – Campus Unimonte como exigência parcial para a aprovação na disciplina Introdução ao Estágio Supervisionado do Curso de Medicina Veterinária. Orientador(a): Prof. Dr. José Narciso Rosa Assunção Júnior Coorientador: Prof. Dr. Flávio Viani Santos 2018 LISTA DE ABREVIAÇÕES SRD – Sem raça definida SC – Subcutâneo SID – Uma vez ao dia BID – Duas vezes ao dia CJ – Celulite Juvenil ML – Mililitros MG – Miligramas KG – Quilogramas H – Horas Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7 2. CARACTERÍSTICAS DO LOCAL ............................................................... 8 2.1 PETSHOP E CLÍNICA VETERINÁRIA CÃOQMIA ......................................... 8 3. INSTALAÇÕES FÍSICAS ............................................................................ 9 4. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................... 12 4.1 TABELA DE CASUÍSTICA ........................................................................... 12 5. RELATO DE CASO .................................................................................... 14 5.1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO ........................................................................... 14 5.2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 15 5.2.1 Anatomia e histologia da pele ................................................................ 15 5.2.2 O sistema imune ...................................................................................... 16 5.2.3 Doença Autoimune .................................................................................. 17 5.2.4 Celulite Juvenil Canina ............................................................................ 18 5.2.5 Diagnóstico .............................................................................................. 19 5.2.6 Tratamento ............................................................................................... 20 5.3 DESCRIÇÃO DO CASO .................................................................................. 22 5.4 DISCUSSÃO .................................................................................................... 24 5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 28 6. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 28 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Faixada da Clínica Veterinária e Petshop Cãoqmia. ..................................................... 9 Figura 2: Sala de espera externa com acesso ao corredor externo. ......................................... 10 Figura 3: Sala de espera interna, petshop e corredor interno. .................................................... 10 Figura 4: Banho e tosa. ..................................................................................................................... 11 Figura 5: Consultório 2. ..................................................................................................................... 11 Figura 6: Animal apresentando melhora do quadro de alopecia, eritema e exsudato cutâneo. ............................................................................................................................................................... 23 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Número de animais atendidos por espécie, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. ..................................................................................................................................................... 12 Tabela 2: Sexo dos animais atendidos, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. .............. 12 Tabela 3: Atendimentos clínicos, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. ......................... 13 1. INTRODUÇÃO Sabemos que nos dias atuais a Medicina Veterinária é de grande importância na sociedade, tanto para estudos de patologias animais, quanto para o controle de zoonoses. Porém, além de utilidades sociais e públicas, encontramos nessa profissão a necessidade de atender aos proprietários de animais de estimação no Brasil, que é uma população cada vez maior. Com isso, surge a demanda para que os animais recebam os tratamentos e cuidados de acordo com a evolução médica existente no mundo todo, o que muitas vezes é realizado absorvendo conhecimentos e descobertas da medicina humana e os aplicando em determinado ramo de estudos na área de saúde veterinária. Neste relatório serão apresentadas as atividades relacionadas a tais causas citadas e como isso se aplica na realidade do profissional de veterinária, através da experiência prática do estágio, sempre necessária para a formação de um bom profissional. Este relatório tem como objetivo descrever e apresentar as atividades realizadas durante o Estágio Obrigatório Supervisionado em Medicina Veterinária realizado no Petshop e Clínica Veterinária Cãoqmia de Praia Grande, durante o período de 21/02/2018 a 19/04/2018, de 2ª, 4ª e 5ª feira, das 14h as 18h, totalizando 12 horas semanais, realizadas com a supervisão do médico veterinário Denis Alexandre Barcelos Pinto de Azevedo e orientação dos professores Dr. José Narciso Rosa Assunção Júnior e Dr. Flávio Viani. Os ensinamentos proporcionados por este período de estágio são essenciais para concretizar os ensinamentos teóricos aprendidos em sala de aula, aplicando-os na prática da rotina clínica veterinária, o que desenvolve consequentemente uma habilidade melhor para lidar com situações tanto emergenciais como rotineiras, encontradas por um profissional atuante na área. Assim, adaptando-se melhor à realidade da profissão, podendo acompanhar profissionais experientes e compartilhar conhecimentos práticos e teóricos relacionados a experiências anteriores e atuais. 2. CARACTERÍSTICAS DO LOCAL 2.1 PETSHOP E CLÍNICA VETERINÁRIA CÃOQMIA Na clínica são realizados cirurgias e atendimentos clínicos. Dentre as cirurgias realizadas, as mais comuns são procedimentos como orquiectomia, ovariohisterectomia e mastectomia. Os variados exames laboratoriais, de imagem e histológicos necessários para diagnóstico são encaminhados para o laboratório Anclivet localizado na Praia Grande, e então analisados pelo Médico Veterinário que os solicitou. O responsável pela clínica é o Médico Veterinário Denis Alexandre Barcelos Pinto de Azevedo, que supervisiona e orienta os estagiários no período de funcionamento da clínica, sendo este das 8h às 18h, com separação dos turnos entre manhã e tarde. Neste mesmo horário existe o funcionamento do banho e tosa presente na clínica, onde trabalha um profissional qualificado para tal. Também conta com um profissional auxiliar em serviços gerais. 3. INSTALAÇÕES FÍSICAS A entrada logo após a faixada (Figura 1) é composta por uma sala de espera externa (Figura 2) e uma interna onde se encontra também a área de petshop e venda de produtos pet (Figura 3), sendo esse o mesmo local onde o cadastro dos animais é realizado por fichas e organizado em ordem alfabética. Ao lado, no exterior, há o corredor que dá acesso direto ao banho e tosa, localizado no ultimo cômodo da clínica (Figura 4). Logo após a sala de espera, no interior, existe um corredor que dará acesso primeiro à sala de cirurgia, e depois a dois consultórios de atendimento clínico (Figura 5). Também possui um banheiro no corredor interno e uma área de serviço no corredor externo. Nos consultórios,existe uma mesa de consulta com computador, mesa de atendimento dos animais, armários com medicamentos e equipamentos necessários para o atendimento como seringas, agulhas, luvas e focinheiras para contenção dos animais, além de existir uma bancada com artefatos mais utilizados e que por isso precisam de fácil acesso (pinças, álcool 70%, álcool iodado, algodão, esparadrapo, produtos utilizados para assepsia da mesa de atendimento entre uma consulta e outra, entre outros). Figura 1: Faixada da Clínica Veterinária e Petshop Cãoqmia. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 2: Sala de espera externa com acesso ao corredor externo. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 3: Sala de espera interna, petshop e corredor interno. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 4: Banho e tosa. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 5: Consultório 2. Fonte: Arquivo pessoal. 4. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Os atendimentos são realizados por ordem de chegada. Os proprietários realizam na recepção o preenchimento de um cadastro para os animais que ainda não possuem fichas, contendo dados como o nome e contato do proprietário, além do nome, idade, raça e espécie do animal. As fichas são encaminhadas para o consultório, onde serão chamados e então será realizada a consulta (exame físico, anamnese, pesagem, encaminhamento para exames complementares, diagnóstico e tratamento). As atividades realizadas no estágio incluem: conversa sobre o caso a ser atendido com o Médico Veterinário, exame físico do animal (palpação, auscultação, hidratação, avaliação física e comportamental, aferir temperatura, auxiliar na anamnese), acompanhamento do diagnóstico (observando exames laboratoriais e de imagem), auxílio na contenção e em cirurgias (ajudar no manuseamento dos instrumentos, antissepsia do animal, aplicar medicamentos no pós operatório, checar parâmetros vitais), assepsia da mesa de atendimento, auxílio na preparação da mesa cirúrgica (posicionamento do animal e de instrumentos) e preparação e/ou aplicação de medicamentos quando possível. 4.1 TABELA DE CASUÍSTICA Foram elaboradas tabelas (1, 2 e 3) onde pode-se analisar os casos atendidos, correlacionando com as respectivas espécies, sexos e seus índices. Tabela 1: Número de animais atendidos por espécie, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. Espécie Atendimentos Cão 38 Gato 8 Total 46 Tabela 2: Sexo dos animais atendidos, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. Espécie Macho Fêmea Total Cão 13 25 38 Gato 2 6 8 Tabela 3: Atendimentos clínicos, clínica Cãoqmia, fevereiro à abril de 2018. Diagnóstico/Suspeita Cães % Gatos % Artrose 2 5,27 - - Castração 2 5,27 - - Herniorrafia 1 2,64 - - Otite 4 10,53 - - Eriliquiose 1 2,64 - - Neoplasias 1 2,64 1 12,5 Dermatites 9 23,49 - - Traumas 2 5,27 1 12,5 Giardia 1 2,64 1 12,5 Vacinação 8 21,05 - - Gastroenterite 3 8 2 25 Mastectomia 1 2,64 - - Celulite Juvenil Canina 1 2,64 - - Insuficiência Renal Aguda - 1 12,5 Infecção Urinária 1 2,64 1 12,5 Gastrite 1 2,64 - - Conjuntivite Bacteriana - 1 12,5 TOTAL 38 100 8 100 5. RELATO DE CASO 5.1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO A celulite juvenil também é conhecida como linfadenite granulomatosa estéril ou pioderma juvenil. É considerado um distúrbio raro, encontrado em cães filhotes, de etiologia desconhecida e sem predisposição pra sexo ou raça (BATISTA, 2015) . É uma afecção de aparecimento súbito e hipóteses mais recentes sugerem uma falha do sistema imune associada à predisposição hereditária do animal. Os sinais clínicos incluem alopecia, edema, pápulas, pústulas e crostas especialmente em pálpebras e região de nariz (LOPES et al., 2016). O diagnóstico definitivo requer exames citológico e histopatológico, além da terapia precoce e agressiva ser preconizada, pois as cicatrizes após recuperação podem ser graves. O tratamento de escolha consiste no uso de altas doses de glicocorticoides, como a prednisona (FONSECA-ALVES et al., 2012). Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de celulite juvenil canina, assim como o tratamento utilizado e acompanhamento do animal, além de expor na revisão bibliográfica quais os métodos adequados para tais procedimentos e por fim discutir o caso relatado com a literatura. 5.2 REVISÃO DE LITERATURA 5.2.1 Anatomia e histologia da pele A pele é formada por duas camadas: a epiderme e a derme, esta repousando sobre uma camada de tecido conjuntivo chamada de subcutânea. A epiderme é constituída de epitélio escamoso estratificado, queratinizado em sua superfície, e sua função é a reposição de células cornificadas como proteção contra radiação, perda e entrada de água no corpo, penetração de parasitas e traumas. A membrana basal é responsável pela separação dermoepidérmica e fixa a epiderme na derme, mantendo a arquitetura da pele (BUDRAS et al., 2012; SOUZA et al., 2009). É constituída por quatro tipos celulares: ceratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel (SOUZA et al., 2009). Entre os principais não queratinócitos encontram-se: As células de Lagerhans (possuem anticorpos e receptores complementares junto a suas membranas celulares que se sensibilizam e permitem que elas se juntem às substâncias estranhas como células apresentadoras de antígenos, a substância estranha reconhecida é então digerida por essa célula e processada para interação linfóide e após o processamento as células migram para um nódulo linfóide vizinho e apresentam ao apitopo de linfócito T as substâncias estranhas processadas) e as células de Merkel (esse tipo de célula encontra-se na camada celular basal e é especializado na transdução sensorial) (SAMUELSON, 2007). Já a derme é uma camada papilar fina, frouxamente disposta, na qual se assentam papilas em depressões correspondentes da epiderme, além de uma camada reticular densa. As duas camadas contém fibras colágenas, mas na papilar elas são frouxamente arranjadas e na reticular são espessas, essas fibras servem para restaurar a textura do tecido após lacerações ou distorções da pele (BUDRAS et al., 2012). Ou seja, a derme é formada por tecido conjuntivo na forma de fibras entrelaçadas, pelos elementos celulares e pelos apêndices epidérmicos (folículos pilosos e glândulas anexas). Também estão localizados vasos sanguíneos, linfáticos, nervos e músculo liso (músculo eretor do pelo). As células predominantes são os fibroblastos, macrófagos e mastócitos. Outras células que podem estar presentes são os linfócitos e plasmócitos, que junto com as células de Langerhans formam o tecido linfoide associado à pele. Além disso, em algumas regiões do corpo, a derme profunda da pele com pelos possui variável quantidade de adipócitos (SOUZA et al., 2009). 5.2.2 O sistema imune É um sistema com a capacidade de reconhecer qualquer antígeno estranho, protegendo o organismo contra vírus, bactérias, fungos e parasitas. As respostas imunológicas resultam em processos patológicos que podem ser parte de uma resposta imune normal a algum antígeno, ou reações de hipersensibilidade e doenças autoimunes. Essas alterações ocorrem devido a defeitos genéticos ou em casos de imunodeficiência adquirida (SNYDER, 2013). Os mamíferos possuem o sistema imune mais complexo e têm três maneiras de resistir aos microrganismos patogênicos: barreiras na pele e nas membranas mucosas, fatores celulares e humorais que agem na imunidade através de mecanismos inespecíficos e sistemas de linfócitos e plasmócitos que apresentam especificidade e memória (CHEVILLE, 2004). Existem duas categorias de respostas imunes: Imunidade inata e imunidade adaptativa. A inata não é específica do antígeno e nem apresenta memória, sendo resultado de propriedades anatômicas (comopele e cílios) e fisiológicas (como pH do estômago e temperatura corporal), além de respostas fagocitárias e inflamatórias. Já a imunidade adaptativa ou específica é caracterizada pela especificidade, diversidade, memória e reconhecimento próprio/não próprio do antígeno; além de consistir na imunidade mediada por células (linfócitos T contra patógenos intracelulares) e imunidade humoral (linfócitos B contra patógenos extracelulares e toxinas) (SNYDER, 2013). O linfócito B é formado e se torna imunocompetente na medula óssea de mamíferos. Morfologicamente, são células pequenas e redondas, com um proeminente núcleo circundado por um halo de citoplasma. Sem a presença de receptores de antígenos específicos de células B, essas células não são diferenciadas de linfócitos T, exceto por sua aparência citológica. Os receptores de antígenos (anticorpos) das células B são construídos de modo que se ligam aos antígenos. Antes de cada célula ser exposta ao antígeno pela primeira vez ela é considerada imatura. Quando a célula imatura entra em contato com um antígeno, desenvolve-se uma cadeia de eventos que resulta na sua ativação e proliferação. As células recém-formadas podem se tornar plasmócitos (produzem anticorpos específicos para tal antígeno) ou células da memória (desenvolvem alta afinidade pelo antígeno mas não se envolvem na resposta imune gerada). As células da memória são capazes de existir por longos períodos e resultam em respostas mais rápidas e poderosas à exposição do mesmo antígeno. Devido à produção continua de anticorpos pelos plasmócitos, é gerada a resposta imune mediada por anticorpos (SAMUELSON, 2007). Já os linfócitos T precisam migrar para o timo para se tornarem imunocompetentes. A principal diferença entre os dois tipos de célula são os receptores de antígeno que cada uma possui. Os receptores de células T não são anticorpos mas possuem propriedades semelhantes. Intracelularmente, o componente ligado à membrana do receptor da célula T interage com outro, separando proteínas ligadas à membrana, cada uma das quais formam um complexo e facilita a ligação receptor-epítopo e o sinal de transdução resultante de um subtipo específico de célula T. Esta célula só se torna ativa quando o receptor está apto a perceber um epítopo de um antígeno que se adere primeiro à membrana celular de outra célula (SAMUELSON, 2007). 5.2.3 Doença Autoimune Uma das principais características do sistema imune é a de ser capaz de descriminar o que é próprio e o que não é. Porém, em algumas situações ocorre falha na tolerância ao que é próprio, resultando em uma resposta de alto poder destrutivo contra o próprio organismo (PAULINO et al., 2015). A autoimunidade é uma resposta imune específica para os antígenos próprios e reflete uma perda da tolerância imunológica para tecidos próprios, caracterizando-se pela reação excessiva das células efetoras imunes. Podendo ser sistêmica, específica de um órgão ou localizada. Também pode ser mediada por autoanticorpos ou linfócitos T autorreativos (SNYDER, 2013). Doenças autoimunes ou imunomediadas resultam no desenvolvimento de respostas humoral contra antígenos próprios ou antígenos que formam complexos com as proteínas, sendo então capazes de dar origem a imunocomplexos ativadores de complemento. Ou seja, os anticorpos ou linfócitos ativados são dirigidos contra as células do próprio organismo (PALUMBO et al., 2010). A hipersensibilidade tipo II (Hipersensibilidade citotóxica) é mediada por anticorpos. Ocorre como resultado do desenvolvimento de anticopos direcionados contra antígenos na superfície de uma célula ou em um tecido, tendo como resultado a destruição da célula ou do tecido. Ou seja, os anticorpos são dirigidos contra os antígenos na superfície de tecidos ou células de modo que a célula seja destruída ou a função seja alterada, essas reações mais frequentemente envolvem IgM e IgG e ocorrem poucas horas após a exposição em um hospedeiro sensibilizado. Já a hipersensibilidade tipo III (Hipersensibilidade por Imunocomplexos) é uma reação que ocorre por formação de complexos antígeno-anticorpo que ativam o complemento, resultando em lesão tecidual. Os produtos da ativação do complemento resultam na infiltração e ativação de neutrófilos, que liberam suas enzimas, resultando em dano tecidual (SNYDER, 2013). A etiologia é desconhecida, já que geralmente as doenças autoimunes são multifatoriais, tendo um componente genético e outro ambiental (como infecções virais, radiação UV, desequilíbrio hormonal ou reações a medicamentos) (GERONYMO et al., 2005; RODRIGUES, 2010). Tanto os animais quanto o ser humano possuem alto potencial para desenvolver doenças autoimunes, podendo ser por predisposição genética ou por fatores exógenos. Esses fatores contribuem para que ocorram falhas no processo de seleção negativa ou no equilíbrio que os organismos possuem para manter as células autorreativas em seu estado de anergia, ou com atividade suprimida (PAULINO et al., 2015). 5.2.4 Celulite Juvenil Canina A Celulite Juvenil Canina ou Linfadenite Granulomatosa Estéril é uma doença vesículo-pustular incomum que acomete filhotes de cães de três semanas a seis meses de idade. A causa é desconhecida, sem predisposição sexual. Possui predisposição nas raças Daschshund, Golden Retriever, Labrador Retriever, Beagle e Pointer. É caracterizada por granulomas ou piogranulomas estéreis na pele que afetam as junções muco-cutâneas faciais, assim como pinas e acompanhadas de linfadenopatia (BATISTA, 2015; FONSECA-ALVES et. al, 2012; MEDLEAU & HNILICA, 2003; SOUZA et al., 2013). Sua etiologia é incerta, estando relacionada à reação de hipersensibilidade e/ou doença viral (LOPES et al., 2016). Acredita-se que esta doença tenha relação com o sistema imune, onde este deixa de reconhecer células ou componentes teciduais normais e passa a considerá-los como estranho, reagindo contra os tecidos do próprio indivíduo ou contra células alteradas por infecções virais ou neoplasias. As reações de hipersensibilidade são consideradas na origem da celulite juvenil, principalmente as de tipo II e III que são resultantes de respostas imunológicas exacerbadas direcionadas aos antígenos (BATISTA, 2015; DIAS et al., 2013). As lesões cutâneas observadas nessa enfermidade incluem alopecia, edema, pápulas, pústulas, crostas e cicatrizes especialmente em pálpebras, lábios e região mentoniana, podendo ocasionalmente aparecer em extremidade de membros, abdome, tórax, vulva, prepúcio e ânus. Os locais e lesões mais característicos sendo edema de pálpebras, lábio e focinho. Além dos sinais clínicos observados, que envolvem otite bilateral purulenta não pruriginosa, linfonodomegalia submandibular e em alguns casos abscedação dos linfonodos (DIAS et al.,2013; FONSECA-ALVES et al., 2012; LOPES et al., 2016). 5.2.5 Diagnóstico O diagnóstico dessa enfermidade baseia-se no histórico, achados clínicos, exames de base e histopatologia. No exame citopatológico de exsudatos ou de aspirado pode existir presença de bactérias, se ocorrer infecção secundária, mas não é comum. Na citologia aspirativa de linfonodos, pústulas e nódulos, há uma inflamação granulomatosa ou piogranulomatosa estéril, ou seja, não há microrganismos (BATISTA, 2015; FONSECA-ALVES et al., 2012). Os diagnósticos diferenciais estabelecidos podem incluir acne mentoneana, piodermite profunda, piodermite bacteriana, demodiciose, farmacodermia e cinomose (BATISTA, 2015; SOUZA et al., 2013). Exames diferenciais para o diagnóstico da celulite juvenil consistem em citologia e histopatologia (FONSECA- ALVES et al., 2012). A citologia do aspirado de linfonodos apresenta inflamação granulomatosa, piogranulomatosa ou supurativa, e também podem ser encontrados neutrófilos degenerados. Na histopatologia da pele e linfonodos observa-se epidermenormal, acantótica ou ulcerada, dermatite granulomatosa ou piogranulomatosa com macrófagos epitelióides contendo vários neutrófilos de diferentes tamanhos. Os piogranulomas estão ao redor dos folículos. Em casos avançados pode haver furunculose e inflamação supurativa. As glândulas sebáceas e epiteliais podem estar obliteradas. Pode haver degeneração folicular acompanhada de edema e hemorragia dérmica (ROHR, 2016). A pioderma bacteriana é uma infecção comumente encontrada em condições dermatológicas em cães, apresentando semelhança com outras afecções, podendo dificultar o diagnóstico correto e ser facilmente confundida com celulite juvenil canina. A resposta à terapia imunossupressora também é útil no diagnóstico, e pode ajudar a diferenciar das demais possibilidades citadas (MEDLEAU & HNILICA, 2003; ROHR, 2016). 5.2.6 Tratamento O tratamento da Celulite Juvenil baseia-se numa terapia precoce e agressiva, pois as cicatrizes após recuperação podem ser graves. O tratamento de escolha consiste no uso de altas doses dos glicocorticóides, como prednisona, que são as drogas mais frequentemente utilizadas como agentes imunossupressores e anti- inflamatórios. Agem sobre a circulação linfocitária diminuindo as respostas das células T e sua produção de citocinas, minimiza a atividade bactericida em neutrófilos e a quimiotaxia em macrófagos, além de evitar edema e deposição de fibrina. Uma vez induzida a resposta clínica, a dose deve ser reduzida, pelo aumento no intervalo entre as doses. Porém, por suprimir a inflamação e a fagocitose, esses fármacos podem tornar os animais susceptíveis a infecções (BATISTA, 2015; LOPES et al., 2016). O tratamento indicado pela literatura é a administração de prednisona ou prednisolona na dose de 2mg/kg, a cada 24h, por via oral, até a remissão da doença, geralmente observada em 14 a 28 dias, variando com o indivíduo. Após isso, 2mg/kg a cada 2 dias, durante duas a três semanas, reduzindo gradativamente a dose e a frequência para evitar recidivas (SANTOS NETO et al., 2017). Geralmente, a avaliação citológica e a cultura bacteriana das lesões não revelam bactérias. Porém, caso haja evidência citológica ou clínica de infecção secundária, o uso de antibióticos, a exemplo da cefalexina, cefadroxil e Amoxicilina com Clavulanato de Potássio, podem ser associados ao tratamento com corticosteróides (LOPES et al., 2016). Também pode ser feita a lavagem com água morna tópica diária, para remoção de crostas e exsudatos. O xampu que contém 2% de clorexidine é indicado no tratamento auxiliar das grandes afecções bacterianas da pele, pois tem rápida ação bactericida e efeito contra uma variedade de bactérias gram positivas e negativas, podendo ser usado de duas a três vezes por semana, para melhorar a condição da pele desses animais (BATISTA, 2015). 5.3 DESCRIÇÃO DO CASO Um canino, fêmea, SRD de 1 ano, pesando 15 kg, chegou a clínica com reclamação de lesões cutâneas na região mentoneana. Durante a anamnese foi apresentado o fato de que os donos do animal trabalham com produtos químicos no polimento de barcos e que o animal os acompanha, vai à praia, entra na piscina e no mar, brinca na areia e toma sol. No exame físico durante sua primeira consulta, o animal apresentava edema e eritema em região de queixo e região frontal de mandíbula, além de hiperemia, alopecia e exsudato cutâneo, com prurido moderado, e presença de alguns pontos com crostas. Não possuía presença de sintomas sistêmicos, apenas aumento dos linfonodos mandibulares. Foi aplicado durante a consulta dexametasona (1 mg/10 kg) 1,5 ml e pentabiótico (1 mg/10 kg) 1 ml, os dois medicamentos foram aplicados de forma SC. Foi então prescrito prednisolona (20 mg) ¾ do comprimido SID por no mínimo 15 dias e, devido a presença de exsudato cutâneo, que indica uma infecção bacteriana secundária na lesão, foi receitado também cefalexina (500 mg) na dose de 30 mg/kg BID por 10 dias. O tratamento local foi feito com o uso cutâneo da pomada Ganadol ® (composta por ureia, penicilina e dihidroestreptomicina), havendo solicitação de raspado de pele para ácaros, cultura para fungos e bactérias. Foi recomendado então que após o tratamento com o antibiótico o proprietário retornasse para acompanhamento do tratamento e observação das lesões, pra que fosse possível decidir se seria necessário continuar com tal medicamento ou não, onde foi decidido que o tratamento com antibiótico seria encerrado. Nesta segunda consulta, houve melhora do edema na região das lesões com aumento de alopecia. Para a realização dos exames laboratoriais dermatológicos, foi recomendado que o proprietário mantivesse o animal sem banho por 10 dias após o tratamento com o antibiótico para posterior realização do exame. O proprietário, no entanto, não realizou o retorno na data correta e nem os exames requisitados, além disso, realizou o tratamento incorretamente, interrompendo-o devido a uma viagem e permitindo a presença do animal em ambientes que possivelmente piorariam o quadro clínico, havendo piora do caso do animal, com lesões se espalhando também para área ventral de pescoço e periocular, além das áreas que já estavam acometidas. Apesar do não retorno à clínica e o tratamento indicado sendo aplicado tardiamente, é possível visualizar uma melhora no quadro clínico do animal, onde após a disseminação das lesões, houve redução do quadro de alopecia, eritema e exsudato cutâneo (Figura 6). Figura 6: Animal apresentando melhora do quadro de alopecia, eritema e exsudato cutâneo. Fonte: Arquivo pessoal. 5.4 DISCUSSÃO A celulite juvenil é uma dermatite granulomatosa ou piogranulomatosa estéril que acomete filhotes entre três semanas e seis meses. É considerada uma afecção rara, como comprova o estudo retrospectivo feito por Rohr (2016) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde em foram analisados um total de sete casos durante o período de 2005 a 2015. Dachshund, Golden retriever, Labrador retriever, Gordon setter, Beagle e Pointer são consideradas as raças predispostas, encontradas nos casos relatados por Fonseca-Alves et al. (2012), onde dois dos animais eram de tais raças (Pointer Inglês e Golden Retriever) e Rohr (2016), que relatou a doença diagnosticada em cães das raças Dachshund e Labrador Retriever. No atual caso o animal relatado foi SRD, não corroborando com a literatura. Não foram encontradas evidências de uma prevalência relacionada a sexo, apenas em respeito a raças (BATISTA, 2015; MEDLEAU & HNILICA, 2003). A margem de idade em que geralmente essa doença se apresenta nos animais não foi encontrada no caso relatado, já que o animal possui 1 ano de idade. Na maioria dos casos relatados, os animais possuem menos de 6 meses, como nos relatos de Batista (2015) e Fonseca-Alves et al. (2012). Porém, as exceções, como no caso atual, não são completamente descartadas: Bezerra et al. (2017) relata que em um dos casos encontrados em seu estudo retrospectivo, o animal possuía 38 meses de idade. Em relação à etiologia, ainda é desconhecida, mas foi levantada uma hipótese por Malik et al., (1995), relatou três cães que desenvolveram a CJ após a primeira dose da vacina óctupla. Porém ainda existem muitos casos, como o relatado por Batista (2015) em que o animal não havia sido vacinado. Dentre as lesões dermatológicas mais comumente encontradas no exame físico e clínico, estão alopecia, edema, pápulas, pústulas e crostas especialmente em pálpebras, região nasal e de queixo (BEZERRA et al., 2017; LOPES et al., 2016). As lesões encontradas no atual caso condizem com a literatura , sendo elas edema em região de queixo e região frontal de mandíbula, além de hiperemia, alopecia e exsudato cutâneo, com prurido moderado, além da presença de alguns pontos com crostas (MEDLEAU & HNILICA, 2003). Também existemcasos em que os animais apresentam alterações sistêmicas, como no caso descrito por Santos Neto et al. (2017) em que além das lesões similares às encontradas no caso aqui descrito (lesão alopécica, pustular, exsudativa e eritematosa em região de focinho), o animal apresentou leve prostração e no exame físico foi identificado o aumento dos linfonodos submandibulares, pré-escapulares e poplíteos. Esse aumento dos linfonodos submandibulares também foi encontrado no animal aqui citado. As lesões cutâneas podem também evoluir para quadros mais graves, como no caso de Batista (2015), em que após quinze dias da primeira consulta, o animal encontrava-se apático e com piora no quadro dermatológico e notavam-se nódulos subcutâneos firmes encimados por crostas, além das ulcerações que ainda estavam presentes. Isso ocorreu porque o tratamento inicial instalado neste caso não foi direcionado à imunossupressão, o diagnóstico presuntivo de celulite juvenil foi feito apenas após 15 dias. Para evitar casos do tipo, a literatura indica que o tratamento com prednisona ou prednisolona seja instalado precocemente, evitando então o agravamento das lesões e cicatrizes finais, como feito no caso relatado nesse trabalho, por isso não foi esperado o resultado de exames laboratoriais (LOPES et al., 2016). Alguns dos possíveis diagnósticos diferenciais, que devem ser descartados em suspeita de CJ são: Angioedema, demodicose, piodermite bacteriana severa e reações adversas cutâneas a drogas (BEZERRA et al., 2017). Após o diagnóstico ser instituído tendo em vista o histórico e os sinais clínico, apesar da ausência de exames citológicos e histológicos como sugere a literatura, foi instituído o tratamento indicado para celulite juvenil. O diagnóstico também pode ser dado com base na resposta terapêutica positiva (SANTOS NETO et al., 2017). No caso atual, foi utilizado prednisolona e cefalexina, já que o animal apresentava também exsudato cutâneo, indicando infecção secundária bacteriana. A prednisolona é utiliza em muitos casos, como o descrito por Dias et al. (2013). Em quatro casos relatados por Rohr (2016) foi usado também a cefalexina, obtendo resultados favoráveis. Em casos de infecção bacteriana secundária onde deve ser administrado o antibiótico juntamente com o corticoide, geralmente o antibiótico é receitado por menos tempo, como por exemplo, tratamento antibiótico com duração de 30 dias, enquanto o tratamento com corticoide pode durar até 3 semanas, ou mais se necessário. Isso porque a antibioticoterapia é utilizada até o controle da infecção secundária, que pode ocorrer rapidamente quando comparada com o controle das lesões imunomediadas, sendo solucionadas em até 21 dias após o começo do tratamento antimicrobiano (BEZERRA et al., 2017; FONSECA-ALVES et al., 2012). Apesar da duração da doença ser descrita como de 1 semana a 2 meses, existem casos onde não foi relatado se houve melhora (ROHR, 2016). Na maioria dos casos, também é indicado a realização da limpeza das lesões de pele com solução antisséptica ou xampu (DIAS et al., 2013; ROHR, 2016). No caso atual, foi indicado o uso da pomada Ganadol ®, sendo esta antibiótica e antiinflamatória. Quando o tratamento não oferece resultados positivos, as lesões podem ser tão severas que levam alguns proprietários a requisitarem a eutanásia, pra evitar que o animal sofra (BEZERRA et al., 2017). Souza et al. (2013) diz que, apesar de não ser o indicado pela literatura, em casos onde o animal não pode ser imunossuprimido, pode-se utilizar como tratamento apenas a antibioticoterapia sistêmica, já que esta oferece melhoras no quadro dentro de cinco dias. Também, segundo Santos Neto et al. (2017), em animais não vacinados, onde sua imunossupressão pode ser prejudicial, pode-se usar uma dose menor de prednisolona para se instituir o tratamento, resultando em regressão dos sintomas. A redução da dose recomendada pela literatura para prevenir maior imunossupressão foi utilizada no atual caso, sendo o fato de tal tratamento ter sido indicado um sucesso em tantos casos indicativo de que o animal aqui relatado não apresentou melhora devido a aplicação errônea do tratamento indicado para o animal pelos proprietários. Já que o tratamento pra essa doença deve ser sempre instalado precocemente e de maneira agressiva, é necessário que o proprietário colabore e realize os exames requisitados pelo veterinário, além do acompanhamento correto do tratamento, para ter certeza de que a conduta terapêutica escolhida para o caso está trabalhando em prol da remissão dos sintomas clínicos e dermatológicos da doença (LOPES et al., 2016). Também se torna muito relevante ressaltar que mesmo com o tratamento adequado e introduzido corretamente, existe a chance de recidiva pelo caráter genético e hereditário da doença juntamente com fatores predisponentes que podem e deveriam ser evitados, o que pode gerar grande sofrimento ao animal, já que as lesões causadas podem ser tornar graves e incrivelmente dolorosas (FONSECA-ALVES et al., 2012; SANTOS NETO et al., 2017; ROHR, 2016). 5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A celulite juvenil é uma dermatopatia que exige um conhecimento epidemiologico, clinico e laboratorial do médico veterinário para que consiga realizar o diagnóstico e tratamento de forma correta. Também é importante ressaltar que apesar do nome da doença, ela também acomete animais adultos. Apesar de ser uma afecção rara e por isso ser pouco relatada na literatura, o prognóstico é considerado bom quando precocemente estabelecido, o que é de grande importância para o sucesso do tratamento. É um tratamento relativamente demorado que exige dedicação do proprietário e quando não realizado ou realizado incorretamente, o animal pode obter piora das lesões e quadro clínico, ou até mesmo vir a óbito. Com o tratamento tardiamente estabelecido, ao fim do tratamento as cicatrizes das lesões podem ser graves. 6. REFERÊNCIAS BATISTA, P. R. Celulite Juvenil em cão: Relato de caso. 2015. 46 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2015. BEZERRA, J. A. B.; SANTOS, J. P. S.; FILGUEIRA, K. D. Canine juvenile cellulitis: a retrospective study (2009-2016). Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 4, n. 54, p.407-411, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1678- 4456.bjvras.2017.133694>. Acesso em: 25 abr. 2018. BUDRAS, K. D.; MCCARTHY, P. H.; FRICKE, W.; RICHTER, R.; HOROWITZ, A.; BERG, R. Anatomia do cão: Texto e atlas. 5. ed. Barueri: Manole, 2012. p 4-5. CHEVILLE, N. F. 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