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Meningoencefalites Vivianne Beatriz – Infectologia 7p – Medicina UFAL Infecção purulenta das meninges e espaço subaracnóideo. As meningoencefalites estão relacionadas a uma intensa reação inflamatória no SNC, manifestando-se com rebaixamento do nível de consciência, convulsões, aumento da PIC e eventos isquêmicos. Podem acometer quaisquer faixas etárias, no entanto, 90% dos casos correspondem a faixa etária de 1 mês a 5 anos de idade. Fisiopatologia · Tem como porta de entrada a via aérea, posteriormente ganhando a via hematogênica, alcançando o plexo coroide e se disseminando para o espaço subaracnóideo e líquor; · O líquor possui baixa concentração de imunoglobulinas e proteínas do sistema complemento: sítio favorável à multiplicação de bactérias! · A reação imune do hospedeiro é a maior responsável pelas manifestações neurológicas do quadro; · As citocinas inflamatórias levam a um aumento da permeabilidade capilar, alterando as propriedades da BHE; · Favorece o aparecimento de edema cerebral e extravasamento de proteínas e leucócitos para o líquor; · Ocorre a formação de um exsudato espesso, que pode bloquear a reabsorção liquórica pelas granulações aracnoideas (granulações de Pacchioni), o que acarreta hidrocefalia e edema cerebral. · Ocorre perda da autorregulação cerebrovascular, levando a alterações graves em casos de hipotensão (hipofluxo cerebral irá determinar alterações isquêmicas), e hipertensão (aumento da PAM, sem a autorregulação, agrava o edema cerebral); · A vasculite favorece a disseminação do processo infeccioso para o encéfalo, determinando o aparecimento de abscessos cerebrais; Etiologia · Recém-nascido e lactente até 3 meses: Estreptococo do grupo B, Listeria monocytogenes e bactérias gram negativas entéricas (E coli, Enterobacter ssp., Klebsiella pneumoniae, Salmonella enteritidis); · Adquiridas no parto, devido colonização da mucosa vaginal; · 3 meses aos 60 anos: Meningococo, pneumococo e H. influenzae; · Predomina meningococo. · > 60 anos: Pneumococo, Listeria e bacilos gram negativos entéricos; · Meningite por pneumococo: · Streptococcus pneumoniae; · Maior gravidade (letalidade 15-30%); · Maiores sequelas. · Meningite por meningococo · Neisseria meningitidis (diplococo gram negativo) · Raramente deixa sequelas quando curada; · Letalidade de 5-15%; · Replica rápido e é agressiva; · Meningite por H. influenzae · Letalidade de 5-15%; · Deixa mais sequelas do que a meningite por meningococo; · Meningite por Listeria monocytogenes · Diagnóstico de exclusão; · Bacilo gram positivo; · Acomete principalmente extremos de idade e pacientes com imunodepressão. · Pode haver ainda meningite criptocócica, porém esta não dá febre! Aspectos clínicos · Quadro clínico de início SÚBITO; · Em lactentes, os sinais de irritação meníngea podem estar ausentes em até 50% dos casos; · A criança irá apresentar alterações inespecíficas: choro intenso e persistente, agitação e recusa alimentar. · O exame físico deve buscar sufusões hemorrágicas (teste de Tumbler/teste do copo), avaliar quadros de otites, mastoidites, sinusites ou faringoamigdalites; · Pode haver abaulamento de fontanela em lactentes; · SÍNDROME TOXÊMICA · Febre alta, mal-estar geral, prostração e agitação psicomotora; · Sinal de Faget: Dissociação pulso-temperatura, "muita febre pra pouca taquicardia" · Rash cutâneo hemorrágico em 40-60% dos casos: marcado por surgimento de petéquias, equimoses disseminadas; · SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA · Rigidez de nuca: contratura reflexa da musculatura cervical posterior; · Sinal de Kernig · Sinal de Brudzinski · Sinal do desconforto lombar: sensação de choque elétrico na região lombar ao flexionar um joelho e exercer resistência contra a região plantar ipsilateral. · SÍNDROME DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA · Cefaleia intensa, náuseas, vômitos, fotofobia e confusão mental; · Vômitos em jato e crises convulsivas; TRÍADE CLÁSSICA VÔMITOS + FEBRE ALTA OU HIPOTERMIA + CEFALEIA INTENSA OCCIPITAL Diagnóstico laboratorial · Hemocultura, hemograma, glicemia periférica; · LCR: PADRÃO OURO!!! · Punção entre L3-4, ou L4-L5, L5-S1; · Estudo do LCR: · Pressão de abertura: NORMAL < 18cmH2O; meningite bacteriana > 18 cmH2O; · Coloração: NORMAL – água de rocha; meningite bacteriana – turvo e com aspecto purulento, ou xantocrômico (diferenciar em casos de acidente de punção); · Celularidade: NORMAL até 4 células/mm³ (linfócitos e monócitos); meningite bacteriana > 500 células/mm³ (> 70% neutrófilos); · Bioquímica: glicose NORMAL – 2/3 do valor do sangue; glicose meningite – hipoglicorraquia (< 40mg/dl); proteínas NORMAL – até 30mg/dl; proteínas meningite – > 45mg/dl · Aglutinação pelo látex: especificidade de 95-100% para meningite por meningococo e pneumococo; · Microbiologia: bacterioscopia com gram e cultura No pedido do líquor, especificar: bacterioscopia, cultura e pesquisa de antígenos bacterianos. Se não especificar, virá somente a rotina para líquor (citologia + citometria + bioquímica). · Exames de imagem: quando fazer? · Rebaixamento do nível de consciência; · Convulsões; · Déficits focais (déficits motores, afasia...); · Papiledema; · Sinais de HIC (Cefaleia intensa, vômitos em jato, fotofobia, confusão mental...) · Biópsia de lesões cutâneas. Contraindicações para coleta de líquor: plaquetopenia, HIC, instabilidade hemodinâmica grave, infecção de pele no local da punção. Tratamento · NÃO POSTERGAR O INICIO DA ANTIBIOTICOTERAPIA! · A aplicação da dose inicial diante da suspeita de meningite bacteriana altera um pouco a sensibilidade dos métodos diagnósticos, porém diminui drasticamente a morbimortalidade da doença; · A droga de escolha deve atravessar a barreira hematoencefálica; · Fazer escolha da droga de acordo com a faixa etária; · Primeira droga de escolha: CEFTRIAXONE; · Adulto: 2g de 12/12h · Criança: 100mg/kg/dia · Até 3 meses de idade: · Ampicilina 400mg/kg/dia EV 6/6h + gentamicina (para bebês) ou ceftriaxone em dose dobrada (100mg/kg/dia); · De 3 meses até 4 anos de idade: · Ampicilina + ceftriaxone + corticoide (minutos antes ou junto com a primeira dose do antibiótico); · Corticoide de escolha: dexametasona EV · Medidas gerais: · Isolamento respiratório nas primeiras 24h de antibiótico; · Hidratação com solução isosmolar (evitar hiper-hidratação); · Cabeceira elevada 30 graus; · Manitol: melhora a HIC e o edema cerebral; · Diazepam: em casos de crises convulsivas; · Ventilação mecânica: melhora a HIC, e deve ser feita em casos de coma ou arritmias respiratórias. Evolução e controle · A resposta ao tratamento costuma ser rápida, havendo melhora da confusão mental nas primeiras 6 horas; · A febre costuma ceder nas primeiras 6-12h; · Os sintomas de irritação meníngea podem persistir por 3-5 dias; · Eventualmente pode surgir artrite reativa: não volta o antibiótico, trata somente com anti-inflamatórios habituais; · Uma nova punção pode ser feita após 72h de tratamento para acompanhamento, no entanto, se o paciente apresenta boa evolução, a coleta do líquor pode ser postergada; · Complicações: · Coma (herniação cerebral); · Choque séptico (meningite meningocócica); · Comprometimento de pares cranianos (VII e VIII); · Síndrome da Secreção Inapropriada do ADH (SIADH); · Efusão subdural estéril; · Empiema subdural; · Ventriculite; · Hidrocefalia; · Outras sequelas: surdez, hidrocefalia, epilepsia, cegueira, hemiplegia, retardo psicomotor e déficit intelectual; · Profilaxia · Contactantes íntimos (<1m por >5h) · Doença meningocócica; · Contato com secreções (procedimentos de intubação orotraqueal e aspiração); · Rifampicina, ceftriaxone (gestantes) ou cipro; · Vacinação: sorotipo específico (meningococo C está no calendário vacinal básico); · MAU PROGNÓSTICO: · Rebaixamento do nível de consciência à admissão; · Convulsões em 24h de admissão; · Extremos de idade; · Sinais de HIC; · Choque ou uso de ventilação mecânica; · Atraso no início da terapia; · Líquor com glicose < 40 ou proteínas > 300 Considerações · Meningite viral · EBV, caxumba, enterovírus, CMV e HIV; · Quadro clínico semelhante;· Diagnóstico semelhante; · Tratamento de suporte: reposição hidroeletrolítica e controle de convulsões; · Encefalites são mais comuns em crianças e imunossupressos, e são especialmente de origem viral; · Diagnóstico de exclusão: líquor normal, imagem normal e quadro clínico instalado! · Investigar infecções pregressas; · Quanto mais tempo de doença, maior a hiperproteinorraquia; · Meningite fúngica: · Faz muita HIC; · Não muda macroscopia do líquor; · Meningite viral · Não muda macroscopia do líquor; · Herpes simples, EBV; · Meningite tuberculosa: · 2 meses RIPE + 10 meses de RI; · Corticoide nos 2 primeiros meses de tratamento; · Meningite criptocócica: · Anfotericina B na indução + fluconazol de manutenção;
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