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AULA 3 RETENÇÃO DE PESSOAS Prof. Dori Luiz Tibre Santos 02 CONVERSA INICIAL Estamos construindo uma trajetória a partir da dita era do conhecimento. O tema será contextualizado e embasado para chegarmos à retenção de pessoas. Nesta aula, falaremos sobre habilidades e competências. Cada uma das categorias abordadas representa um conjunto de indicadores que, à gestão de pessoas adequadas, servirá para desenvolver a capacidade de seu colaborador. CONTEXTUALIZANDO Desde o início desta disciplina, abordamos uma construção histórica que se deu a partir da Revolução Industrial e caminha até os dias de hoje. Construção esta que permeia as práticas de administração de pessoas num distante espaço de tempo até os nossos dias atuais. Essa construção é importante para que entendamos quais os processos e procedimentos necessários para uma retenção de talentos. Por isso, já na primeira aula, nos colocamos diante de uma questão norteadora: como reter uma pessoa em uma empresa? Pelo que foi visto até então, a resposta não é tão simples. Ela precisa ser analisada por vários vieses. O primeiro visto é a construção, como dito acima, das práticas administrativas em torno do seu contingente humano. Vamos dar mais elementos para responder a essa indagação. Por isso, a ideia de que as empresas [...] ‘competem por meio das pessoas’ dá ênfase ao fato de que o sucesso depende cada vez mais da capacidade empresarial de gerenciar essas pessoas, esses talentos, ou o capital humano. A expressão capital humano diz respeito ao valor econômico do conhecimento, das habilidades e das capacidades da empresa. Embora o valor desses ativos possa não aparecer diretamente no balanço patrimonial de uma empresa, seu impacto no desempenho dela é muito grande. As seguintes citações de notáveis diretores-executivos ilustram essa questão (Bohlander; Snell, 2009, p.33). Sobre o assunto, para Gordon Moore, da Intel, “Se você observar nossos semicondutores e sua fusão com o silício, percebera que isso representa uma fração mínima dos custos. O restante inclui intelecto e erros cometidos” (citado por Bohlander; Snell, 2009, p. 33). Para, respectivamente, Jack Welch, da General Eletric, e Lew Platt, da Hewlett-Packard, “A capacidade que uma organização tem de aprender e traduzir rapidamente esse conhecimento em ação é a melhor vantagem competitiva”; “As empresas de sucesso no século XXI serão aquelas 03 que conseguirem captar, armazenar e alavancar melhor o que seus funcionários sabem” (citado por Bohlander; Snell, 2009, p. 34). TEMA 1 – CAPITAL HUMANO Estamos entrando em um contexto muito importante, o Capital Humano. Quando trabalhamos o conceito de Gestão de Pessoas, de Retenção de Pessoas (Talentos) e outras categorias usadas na área de Gestão, torna-se imprescindível pensarmos no termo Capital Humano. Segundo Sullivan e Sheffrin: “Capital humano é o conjunto de capacidades, conhecimentos, competências e atributos de personalidade que favorecem a realização de trabalho de modo a produzir valor econômico. São os atributos adquiridos por um trabalhador por meio da educação, perícia e experiência” (2003, p. 5). Baseada nos estudos de Bohlander sobre capital intelectual e gerenciamento das organizações, Jessyca Cruz avalia que: O capital humano é intangível e não pode ser gerenciado da mesma maneira que as empresas gerenciam cargos, produtos e tecnologias. Uma das razões para isso é que são os funcionários, e não a empresa, os detentores do capital humano. Ao saírem funcionários valiosos de uma empresa, eles levam consigo seu capital humano, e qualquer investimento que a empresa tenha feito no treinamento e desenvolvimento dessas pessoas fica perdido para ela. (Cruz, 2010) Para a professora Joana Batista N. Costa, Para formar capital humano nas empresas, a gestão deve desenvolver estratégias para o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e experiências superiores. Os programas de contratação devem ter como objetivo a identificação, o recrutamento e a contratação dos melhores e mais brilhantes talentos existentes. (Costa, 2017) Essas práticas são complementadas pelos programas de treinamento, principalmente em situações em áreas que não pode haver transferência deste conhecimento. Aí ocorre as oportunidades para aprimoramento das qualificações. Além disso, os funcionários precisam de oportunidades para se desenvolver no trabalho. A competência mais valorizada tende a estar associada a capacidades aprendidas com a experiência e não são facilmente ensinadas. Segundo a ideia de Bohlander e Snell, a meta dos gerentes consiste em realizar um bom trabalho. Para isso, devem realizar ações que promovam o desenvolvimento dos funcionários de sua empresa, assim, será mais fácil 04 comprovar se há, de fato, crescimento e aprendizagem da parte deles com toda a vivência de tal processo. Na sociedade informacional o trabalho deixa de ser percebido como um mero meio de sobrevivência onde o acúmulo de riquezas e passa a ser encarado como meio de desenvolvimento profissional e pessoal deixa- se de administrar os funcionários como recursos e passa-se a trata-los como seres em evolução constante e co-criadores de bem-estar e riquezas. (Teixeira; Zaccarelli, 2008) Contudo, quando se trata de gestão de pessoas, fala-se muito sobre algumas categorias consideradas imprescindíveis dentro da organização: habilidades, competências, talentos etc. Fala-se, inclusive, sobre métricas para mensurar tais categorias. É evidente que toda e qualquer empresa quer ter profissionais acima da média. Mas nos esquecemos, às vezes, de deixar claro o que é isso. É preciso que as empresas considerem seus colaboradores o maior patrimônio que uma organização pode reunir para alcançar competitividade e sucesso. Para isso, é importante entender duas questões, como cita Chiavenato: As empresas necessitam de profissionais dotados de conhecimentos, habilidades e competências que são constantemente reforçados, atualizados e recompensados. Contudo, não se pode pensar em ter esses profissionais como um sistema fechado. Os profissionais precisam existir e coexistir dentro de um contexto que lhe permitam liberdade, autonomia e retaguarda para poder se expandir. 1) É necessário para empresa, entender seu contexto. Ele é o ambiente interno adequado para que esses profissionais floresçam e cresçam. Sem esse contexto, esses profissionais não se expandem. O contexto é determinado por aspectos como: a) Desenho organizacional flexível, com uma divisão de trabalho que coordene as pessoas e o fluxo dos processos e das atividades de maneira integrada. b) Cultura organizacional democrática e participativa que inspire confiança, comprometimento, satisfação de equipe e solidariedade. c) Estilo de gestão, baseado na liderança renovadora e no coaching, com descentralização do poder, delegação e empowerment. (2004, p. 54) Assim, não basta ter profissionais “acima da média” para dispor de capital humano. É preciso que eles sejam colocados em um contexto adequado, o qual lhes assegure sua permanência na empresa ou que não fiquem amarrados dentro da organização. É preciso, ainda, trabalhar com os conceitos de algumas categorias muito comentadas e utilizadas dentro das nossas organizações. São os indicadores profissionais, de pessoas “acima da média”, dentro de uma organização. 05 TEMA 2 – HABILIDADES Leia o exemplo a seguir, retirado de um site da internet: Imagine a seguinte situação: o setor de Recursos Humanos da sua empresa trabalha intensamente para efetuar as melhores contratações e manter uma folha de pagamento justa e satisfatória e, ainda assim, os resultados da organização estão abaixo do desejado. Não é difícil perceber que há algo errado com o capital pessoal da empresa com certeza um ou mais fatores relacionados aos colaboradores e seu desempenhotêm prejudicado o alcance ou a manutenção do sucesso. Os indicadores são instrumentos de monitoramento e avaliação que permitem uma análise completa e aprofundada de informações atuais e sua comparação com dados anteriores, para a construção de um diagnóstico fiel e eficaz da situação organizacional. A utilização correta e efetiva dos Indicadores é um desafio, uma vez que cada empresa possui características únicas que vão determinar quais são os indicadores mais pertinentes e como tratar as informações obtidas ali. É importante lembrar que os dados não trazem conclusões e, menos ainda, orientações sobre como agir, mas apenas apontam informações que podem ser sintomas de falhas e fragilidades. (Os 5 indicadores..., 2016) Na organização, existem uma série de indicadores, que podem ser financeiros, estratégicos, logísticos, de RH etc. Em relação aos de RH, geralmente abrangem a organização como um todo no aspecto dos seus recursos humanos. Dessa forma, categorias como turn over, absenteísmo, treinamentos e avaliações são mensuradas para dar sentido e ação ao RH. Estamos falando, no entanto, de algumas categorias específicas de RH usadas especificamente com os colaboradores. Estas propiciam à empresa, indicativos quanto ao rendimento, à avaliação, à escolha, à comparação entre funcionários etc. A habilidade é uma destas categorias. De acordo com o dicionário de significados, “habilidade é o substantivo feminino que indica a qualidade de uma pessoa hábil, que revela capacidade para fazer alguma coisa”. (2017) Ainda: O conceito de habilidade está intimamente relacionado com a aptidão para cumprir uma tarefa específica com um determinado nível de destreza. Alguns sinônimos de habilidade podem ser: capacidade, inteligência, engenho, destreza, agilidade. Por vezes esta palavra é usada no plural, ou seja, habilidades, servindo para descrever um conjunto de características que ajudam o indivíduo a alcançar algum objetivo. Ex: O policial usou todas as suas habilidades para destruir a rede de crime organizado. Alguns exemplos: Habilidade cognitiva: são mecanismos do cérebro que estão relacionados com processos de aprendizagem e de memorização de informações. É possível treinar o cérebro através de exercícios cognitivos, para adquirir ou melhorar habilidades cognitivas, como o processamento de novos estímulos ou dados, por exemplo. 06 Habilidade motora: consistem em movimentos realizados com precisão. Um indivíduo hábil em termos motores demonstra uma elevada capacidade de coordenação de movimentos. Este tipo de habilidade está relacionado com o equilíbrio, estabilidade e manipulação de outros objetos. A habilidade motora pode ser treinada através de exercícios ginásticos de agilidade e destreza. Habilidade social é a aptidão para interagir socialmente com outras pessoas e são características essenciais para todos aqueles que estão inseridos em uma sociedade. A capacidade de comunicação e persuasão, o trabalho em equipe e a empatia são algumas habilidades sociais de elevada importância. Habilidade profissional é toda a particularidade de um indivíduo que lhe permite ter sucesso profissionalmente. Podem ser características psicológicas como motivação e autoconfiança ou outras que são adquiridas através da formação em uma área específica. (Habilidade, 2017) Além disso, para o professor José Antonio de Barros, De forma sintética, uma habilidade pode ser definida como a capacidade de realizar uma tarefa ou um conjunto de tarefas, em conformidade com determinados padrões exigidos pela organização. Caracterização de uma Habilidade 1) Conhecimentos: constituem um conjunto de conceitos, técnicas, teorias e metodologias relacionadas ao trabalho. É o saber adquirido, podendo ser transmitido e aprendido 2) Aptidões Pessoais: relacionam-se às características do indivíduo, tais como capacidade de concentração e coordenação motora. 3) Aplicação Prática: relaciona-se à mobilização dos conhecimentos teóricos e das aptidões pessoais, aplicados no trabalho. Definição de uma Habilidade As habilidades são determinadas de acordo com a realidade de cada organização: 1) Com base na análise das habilidades de um grupo de especialistas ou profissionais em diferentes momentos da carreira de um determinado cargo, função ou processo de trabalho 2) A partir da análise de um grupo de profissionais com alto desempenho em um determinado cargo, função ou processo de trabalho; Com base na análise dos processos atuais e dos processos a serem criados ou desenvolvidos futuramente, que proverão apoio aos objetivos estratégicos da organização. (Barros, 2011) TEMA 3 – COMPETÊNCIAS – DIFICULDADES COM O TEMA Antes de prosseguirmos com as discussões, é importante ressaltar que o próprio conceito de competência não está completamente consolidado. Por isso, é preciso atentar para o excesso de liberdade com que alguns consultores e profissionais de recursos humanos empregam os termos competência e habilidade. Para ilustrar, basta ver o que dizem alguns dicionários de língua portuguesa. O site AppProva, por exemplo, define competência como “qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade”. (2017). 07 O termo também gera dúvida pelo seu uso popular. Por exemplo, quando o locutor esportivo diz "o jogador não tem/teve competência para fazer um lançamento desses", ele quer dizer que o jogador não tem ou não teve "capacidade" para realizar certo tipo de jogada, que ele falhou na "entrega" de um resultado. Esse é o uso comum da palavra, o uso corriqueiro, popular provoca dúvidas. Continuemos com alguns exemplos, citados por estudos do Senac São Paulo: Na empresa: quando um gerente diz que seu funcionário não tem competência, em geral está querendo dizer que ele não entrega o que se espera dele, o que se espera que uma pessoa em tal ou tal cargo realize. Esse uso parece uma mera "transposição" do uso comum para o ambiente empresarial, muito embora haja algum "refinamento" do conceito, refinamento esse expresso pelas "descrições de cargos". Tais descrições, quando bem-feitas, especificam quais as "entregas" que se espera de uma pessoa neste ou naquele cargo, com que qualidade e em que prazos. Ou ainda quando dizemos que "compete à Área de RH" ou "compete aos Diretores da Empresa..." estamos "transpondo" para o ambiente empresarial esse "uso jurídico". No jargão jurídico: quando alguém diz "compete ao Poder Legislativo elaborar as Leis do País" está querendo dizer que é uma das "atribuições" desse Poder elaborar as leis. Ou, num sentido muito parecido, que é da "alçada" desse Poder elaborar as leis. Esse é um uso que podemos chamar de "uso jurídico" da palavra competência. (2006) Será que podemos nos contentar com estes conceitos "transpostos pura e simplesmente" para o ambiente empresarial e utilizá-los nas políticas e práticas de RH? Isto já é feito há muito tempo! Qual a novidade? Por que essa "onda" de Gestão (de RH) por Competências, se já estamos “carecas" de fazer assim? Suponhamos que nossos RHs já utilizam esses conceitos como "eixo central" de todas as suas práticas: seleção, avaliação, treinamento, remuneração e outras. Utilizar, pois, as Competências como "eixo central" dessas práticas é a proposta da Gestão por Competências. Continuemos! 3.1 Competências = CHA? Vejamos o que dizem dois grandes consultores em Gestão de Pessoas sobre competência. Para Gil: [...] um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionadas, que afeta uma parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos, e que pode ser melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento. (2014) 08 Gerald Ledford Jr, por sua vez, entende que “são características percebidas nas pessoas que envolvemconhecimentos, habilidades e atitudes, que levam a um desempenho superior. Envolve comportamentos observáveis e mensuráveis que se relacionam com o trabalho”. Ambos autores creem, portanto, na competência como: [...] conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, carinhosamente apelidado de CHA. Também encontramos pessoas que trazem um "refinamento" ao CHA: "Competência é a capacidade de mobilizar Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para entregar resultados, na qualidade e prazo esperados". Outros usam outra linguagem: “Competente é alguém que não só sabe o que fazer (know-what), mas também o como fazer (know-how) e o porquê fazer (know-why). Isto é, o competente consegue entregar um bom resultado porque possui plena confiança e consistência do que tem a fazer que faça com "conhecimento de causa". (Daólio, 2015) O que se vê, então? Muita conceituação, não é mesmo? Por que o CHA não é utilizado com eficácia para fazer a Gestão (de RH) por Competências? O problema estaria na falta de ferramentas adequadas desenhadas para realizar para sua aplicação nas empresas. Sem dúvida, para tornar prático algum conceito, necessitamos de ferramentas de aplicação, testadas e aprovadas. Contudo, acreditamos que esta abordagem não toca em um ponto importante. Voltemos ao conceito. Como se descobre qual é o CHA de uma função ou de um cargo? Eis algumas técnicas utilizadas: examinar a descrição do cargo, observar in loco o profissional, conversar com o profissional ou com sua chefia. Ou, no caso de um cargo novo, visitar outras empresas e consultar o CBO. Utilizando uma ou várias dessas técnicas, um analista de RH pode obter uma bela e completa radiografia do cargo ou função, do CHA, e utilizar esse retrato para selecionar, treinar, avaliar etc. Porém, esse tipo de análise capta algo como se fosse o retrato do operário padrão, a média, o normal, o necessário. Se esse for o objetivo, se esse é o foco, tudo bem, vá fundo. No entanto, isso realmente é satisfatório? Essa maneira de ver as coisas traz "algo mais" para as práticas e políticas de RH, para uma boa Gestão de Competências? Qual é o valor agregado dessa metodologia? Aí é que está. Será que Competência é só isso? Deve ser algo mais... O movimento de Competências, iniciado há 30 anos, objetivava apenas isso? TEMA 4 – AFINAL, O QUE SÃO COMPETÊNCIAS? Essa onda, por assim dizer, esse movimento, que hoje tem a feição de Gestão por Competências, não começou assim tão completo. Teve início como 09 uma nova abordagem para seleção de pessoas. Vamos contar essa estória e chegar ao conceito de Competências utilizado por esse movimento. Vamos pensar sobre a história relatada por Daólio: Era uma vez um professor PHD em Harvard que estava muito curioso quanto à seguinte questão: O que melhor prediz o sucesso futuro de uma pessoa, no trabalho, na vida? Certamente ele olhava para seus alunos e pensava: Qual vai ser o futuro do John, o melhor "crânio" da turma? Onde vai chegar o Paul, o mais irrequieto? E o Bill, o camarada de todo mundo, o mais popular? Notava que selecionadores das empresas "invadiam" as universidades, todos os anos, sempre à cata das "melhores cabeças". Qual era a crença básica desses selecionadores? Que os melhores alunos eram os que mais "prometiam", que o desempenho escolar era o melhor sinal preditivo do desempenho profissional futuro. Ora, qual é o objetivo maior de qualquer selecionador, de qualquer head hunter? É tentar adivinhar, tentar predizer se é o John, ou o Paul, ou o Bill, que contribuirá mais para uma empresa. [...] Esse professor, curioso e cuidadoso como ele só, começou a buscar exaustivamente por pesquisas e estudos que poderiam trazer respostas à sua questão. Porém, o que descobriu? Que os estudos não demonstravam "correlação" entre os altos desempenhos escolares e o sucesso nas empresas, que o sucesso escolar não predizia o sucesso futuro nas empresas ou na vida. Qual a saída? Que tal investigar profissionais em ação, ao invés de confiar em Desempenho Escolar, em Testes de Inteligência ou Testes de Aptidão? Se quero contratar um bom motorista, procuro testar sua habilidade em dirigir. Isso parece tão óbvio hoje em dia... Mas, como escolher "o melhor"? Testar uma habilidade pode nos levar apenas ao "operário padrão". Aí entram as Competências. Como? Um exemplo bem simples: um Frentista de Posto de Gasolina "padrão" é aquele que sabe desatarraxar a tampa do tanque, colocar combustível, fechar, etc. Mas alguns Frentistas são mais proativos, mais gentis: pedem licença para olhar o óleo, oferecem a limpeza dos vidros, enfim, fazem um "atendimento melhor". Provavelmente esse tipo de atendimento irá gerar, no Cliente, reações de "fidelização de cliente", isto é, o Cliente tenderá a voltar mais vezes ao Posto, gerando mais faturamento ou outros serviços, "agregando valor". Pois bem, a este conjunto de características simpáticas do Frentista, suas atitudes e suas posturas, que fazem a diferença, podemos chamar de uma Competência e dar-lhe um "rótulo": Orientação para Servir o Cliente. Então, Competência não é o "conhecimento" do que fazer, não é a "habilidade necessária", nem mesmo a "aptidão potencial". Seria a capacidade de colocar tudo isso em ação, mas de uma maneira que excede esses requisitos. (Daólio, 2015.) TEMA 5 – COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS Pela crescente complexidade da competição entre os negócios, o conhecimento passou a ser o elemento fundamental na criação e desenvolvimentos de novas competências. Fala-se hoje, em “trabalhador do conhecimento”, aquele que detém mais autonomia, que inova continuamente o seu trabalho, que busca um aprendizado permanente, que se compromete com a alta qualidade do desempenho e com os resultados da organização como um todo. (Marcondes, 2006, p. 260) Essa é a grande transformação que ocorreu a partir do trabalho operacional do século XIX, tendo-se chegado agora à sociedade do conhecimento. 010 Ainda de acordo com Marcondes, houve uma pesquisa realizada com organizações norte-americanas, no fim da década de 90, que já revelava algumas competências pessoais mais significativas para as empresas de padrão global. Interessante verificar sua atualidade com os seguintes pontos: Aprendendo a aprender: é o desenvolvimento da habilidade de analisar situações ligadas ao negócio da empresa, questioná-la, pensar criativamente em oportunidades e menos em problemas; Comunicação e colaboração: compreende o desenvolvimento da competência de trabalhar em equipe; Raciocínio criativo e resolução de problemas: afinal um questionamento: não somos contratados para resolver problemas? Conhecimento da tecnologia: é a competência para utilizar os meios e recursos oferecidos pela Internet e Intranet, de maneira a aumentar a eficácia da comunicação dentro da empresa e entre equipes de trabalho; Conhecimento de negócios globais: compreende o chamado tino comercial e as habilidades técnicas do estrategista de negócios. Desenvolvimento de liderança: é a competência de desenvolver novas visões do negócio e buscar o comprometimento das demais pessoas para a realização, de maneira compartilhada com as visões maiores da empresa. Autogerenciamento de carreira: compreende a iniciativa e pró-ação do funcionário em busca do seu crescimento pessoal e profissional. (Marcondes, 2006, p. 261) Torna-se fácil visualizar, do exposto até então, uma necessidade do desenvolvimento não somente das competências individuais, mas de um olhar coletivo organizacional. Com isso, remete-se a contribuição de Prahalad e Hamel. No livro Competindo para o futuro (1995), os autores utilizam a expressão “competência essencial” quando tratam das capacidades que levas as empresas à liderança em seu setor. O foco desses autores é nas competências coletivas. Seus argumentos afirmam que as portas do sucesso se abrirão para as organizações que souberemidentificar e desenvolver as competências que serão necessárias; assim, esses autores definem competência essencial como: “Uma competência é um conjunto de habilidades e tecnologias, e não uma única habilidade e tecnologia isolada […] A integração é a marca de autenticidade das competências essenciais. Competências essenciais são o aprendizado coletivo na organiza- ção, especialmente como coordenar as diversas habilidades de produção e integrar diversas correntes de tecnologia […] Competências essenciais são a comunicação. O envolvimento e um profundo comprometimento para trabalhar através das fronteiras organizacionais […] A ligação tangível entre as competências centrais identificadas e os produtos finais são o que chamamos produtos centrais- manifestação física de uma ou mais competências (Prahalad; Hamel, 1995, p. 38 citado por Martino, 2003, p. 10-11). Não basta a organização ter uma série de profissionais competentes individualmente. Eles devem saber trabalhar juntos, pensando coletivamente, e 011 fazendo com que a empresa tenha uma vantagem competitiva. De acordo com a metodologia exposta por Phahalad e Hamel, tem-se competência essencial depois de passar por três testes: 1) Valor percebido pelos clientes: uma competência essencial deve permitir à empresa agregar valor de forma consciente e diferenciada a seus clientes. 2) Diferenciação entre concorrentes: uma competência essencial deve diferenciar a empresa de seus competidores. Precisa ser algo percebido pelo mercado como específico da marca, do produto ou da própria empresa; 3) Capacidade de expansão: uma competência essencial deve abrir as portas do futuro para a empresa. (Citado por Guimarães, 2015.) Cabe à organização saber gerir essas competências, e cabe ao colaborador desenvolvê-las. Continuaremos essas discussões oportunamente. Para o momento, é necessário enfatizar que algumas empresas não têm estabelecido critérios, indicadores ou um perfil de competência. Para construir o perfil de Competências (PC) é preciso identificar os indicadores de Competências imprescindíveis para o cargo. Isso só é possível com a participação de todos os setores da empresa, fornecendo à área de Gestão de Pessoas informações sobre: Atualização da descrição do cargo Missão da área Principais desafios do cargo Principais erros cometidos no cargo Expectativas da área em relação ao cargo Dificuldades e pontos críticos do cargo Principais projetos a serem desenvolvidos Todas essas respostas são indicadores de competências que dará origem ao Perfil de Competências e com base neste perfil a área de Gestão de Pessoas vai preparar as ferramentas que usará em processos seletivos. (Afonso, 2003, p. 28) Além disso, a área de Gestão de pessoas pode ser utilizada nos programas de treinamento e desenvolvimento, em critérios na avaliação de desempenho, nos processos de remuneração, inclusive em remuneração estratégica, em promoções, na retenção de talentos, entre outros que farão parte do planejamento completo de uma gestão de pessoas eficaz e eficiente. FINALIZANDO Abordamos, nesta aula, duas categorias essenciais para o processo de gestão de pessoas e auxílio na retenção de talentos. Contudo, a utilização de uma única nomenclatura não é suficiente: faz-se necessário dispor de um ótimo planejamento dos recursos humanos e uma cultura favorável para a utilização e extração do potencial dos colaboradores. É preciso também definir critérios ou 012 indicadores de habilidades e competências para cada área da organização. Nosso próximo passo é a definição do termo talento e sua consecutiva gestão. 013 REFERÊNCIAS AFONSO, C. C. 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