Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Roberto Guedes de Nonohay Principais objetivos da Produção Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os cinco objetivos da Produção. � Analisar como esses objetivos influenciam na Produção. � Identificar as possibilidades de vantagem estratégica que a em- presa pode alcançar por meio dos objetivos da Produção. Introdução A Produção é uma área de vital importância para uma empresa. Dentre suas tarefas, a Produção tem cinco objetivos principais que ela deve se- guir. Neste texto, você irá estudar quais são esses cinco objetivos. Você verá também que o grande desafio está em tentar atingir esses objeti- vos, visto que algumas vezes eles podem ser conflitantes. Os objetivos da Produção Produzir é realizar o processo de transformação de matéria-prima e energia em bens e serviços para os consumidores. Uma das principais metas da Pro- dução é tentar atingir um nível ideal de produtividade, conseguindo remu- nerar o capital investido. A área produtiva deve sempre almejar ser um fator de diferenciação estratégica para a empresa. Desse modo ela será referência, para o mercado e para os consumidores, de altos padrões de qualidade e de- sempenho de produtos e/ou serviços. Diversas decisões devem ser tomadas para que a Produção consiga atingir suas aspirações e auxiliar a empresa a atingir seus objetivos. Algumas deci- sões estratégicas só podem ser tomadas após os objetivos estratégicos serem delimitados pela empresa. Nesse sentido, existem cinco objetivos que devem ser analisados. São eles, conforme a Figura 1: qualidade, rapidez (ou veloci- dade), confiabilidade, flexibilidade e custo. Como você verá nas duas próximas seções, algumas vezes esses obje- tivos são conflitantes, ou seja, é muito difícil obter excelência ou resultados otimizados em todos eles. Muitas vezes, a escolha deve ser feita em razão da missão ou visão da empresa, características de produto/serviço ou do mercado no qual a empresa se encontra. Figura 1. Os cinco objetivos de desempenho da Produção. Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston (2009). Qualidade Este talvez seja o objetivo em que a grande maioria das empresas busca dife- renciação. Fazer as coisas da maneira certa é garantir que a qualidade delimi- tada para aquele produto está sendo atingida. Cada empresa deve delimitar, dentro do seu projeto de produto e de processo, quais são os padrões de qua- lidade que cada produto/serviço deve ter, obviamente respeitando os padrões legais de qualidade. Variações de qualidade serão percebidas pelos consumidores de produto para produto. Essas variações podem ocorrer tanto por diferenças nos padrões de qualidade determinados (algumas empresas podem usar matérias-primas diferentes) ou por características específicas do processo produtivo. A quali- dade pode ser fator determinante para compra e recompra dos produtos/ser- viços. Um exemplo simples para se pensar em qualidade seriam os carros. Alguns carros conseguem preços mais baratos em razão da diferenciação em qualidade. Utilizam materiais diferentes e principalmente acabamentos dife- rentes para seus produtos. Outras fabricantes preferem materiais mais nobres e diferentes atributos em seus veículos, o que possibilita maior status e possi- bilidade de preços de venda maiores. 25Principais objetivos da Produção Rapidez Fazer as coisas com rapidez vai possibilitar que uma empresa consiga pro- duzir em altos volumes. Também significa que a empresa poderá programar diferentes lotes de produção e estar possibilitada de assumir ordens que não estão em programação. A rapidez pressupõe processos bem controlados que possibilitem correções igualmente rápidas, tendo diminuído ao máximo o tempo de linha parada. Rapidez não significa, necessariamente, queda de qualidade. Neste caso, a rapidez significa que a realização do produto/serviço é feita o mais rápido possível, dentro dos padrões determinados de qualidade. Buscar esse objetivo pode resultar em altos ganhos de escala uma vez que a produção se torna altamente padronizada, a taxa de troca de ferramentas é baixa e o tempo de linha parada também. Confiabilidade Fazer as coisas em tempo traz consigo vantagem em confiabilidade. O termo “em tempo” pode significar um horizonte de tempo bastante dilatado, sem que isso necessariamente venha a ferir a confiabilidade da empresa. Por exemplo, um prédio pode demorar em média de 1 ano e meio a 2 anos. Um prazo re- lativamente longo, mas normal para o setor. Se a empresa determina que seu prédio será entregue em 1 ano e meio, sua confiabilidade será balizada pela data real de entrega. Se acima do tempo perde-se confiabilidade. Se dentro do tempo ou até mesmo antes, ganha-se confiabilidade. Atingir níveis satisfatórios de confiabilidade requer que o processo pro- dutivo esteja bem alinhado e balanceado, especialmente se a empresa tra- balha com mix muito alto de produtos/serviços, exigindo maior flexibilidade na linha. O controle da saída de cada parte do processo deve ser muito bem regulado, possibilitando convicção na determinação de datas de entrega para o cliente. Atualmente, a importância dos serviços cresce, e a confiabilidade está se tornando cada vez mais importante para a empresa. É ela que pode ser fator determinante para a retenção e fidelização dos clientes. Administração da produção26 Flexibilidade Produzir tipos e formatos diferentes de produtos, customização, fabricação na medida, todas essas possibilidades se concretizam se a produção consegue ter altos graus de flexibilidade. A flexibilidade exige maquinário e processos adaptados para as diferentes possibilidades. As trocas de ferramentas e as trocas de lotes devem ser feitas nos menores tempos possíveis, utilizando-se de técnicas como a Troca Rápida de Ferramentas, por exemplo. Atingir esse objetivo é muito importante para empresas que querem ter uma gama ampla de produtos ou oferecer alto grau de customização em seus produtos/serviços. A Dell Computadores seria um exemplo. Seu principal di- ferencial à época de sua criação era justamente a possibilidade de configurar o computador da maneira que o cliente quisesse. A partir de um mesmo pro- duto base, o cliente pode escolher memória RAM, tamanho de disco rígido, qualidades da tela, tamanho, etc. Atualmente são diversas as empresas que oferecem customização em seus produtos. A flexibilidade naturalmente incorre mais custos para a organização, seja pelos tempos de para de linha para trocas de produtos e ferramentas, seja pelo estoque de matéria-prima que se faz necessário (ligeiramente maior que uma empresa com menos flexibilidade), ou até mesmo pelo treinamento dos(as) operadores(as) em diversas formas de produção. Custo O custo é sempre um alvo dentro de qualquer empresa. É algo que deve ser constantemente controlado e se possível cortado, desde que não acarrete pro- blemas de qualidade e/ou execução do produto/serviço. Em um ambiente de alta competitividade e produtos que são similares, o custo é o principal dife- rencial competitivo. Muitas vezes, melhorias simples no processo produtivo em áreas que por vezes não se dá muita atenção podem trazer economias de custo significativas para a empresa. Para atingir quaisquer um dos outros objetivos, a empresa precisa incorrer em dispêndio de custos. Por essa razão, torna-se muito difícil que a empresa demonstre excelência em todos os cinco objetivos. Normalmente se faz neces- sário escolher quais deles serão o foco para que o custo seja minimizado e o desempenho maximizado. 27Principais objetivos da Produção Figura 2. Efeitos internos e externos dos objetivos. Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston (2009). A Figura 2 mostra os efeitos tanto internos quanto externos do bom de- sempenho nos objetivos. Cabe à empresa determinar os objetivos que pre- tende adotar para ter um bom desempenho. Isso deve ser alinhado com a visão e missãoda empresa. Também, por outro lado, pode ser o produto ou os processos necessários para a produção que irão definir quais os objetivos são possíveis de serem alcançados. Por exemplo, a produção de energia elétrica não pode, por motivos operacionais, oferecer flexibilidade no processo de produção. A Troca Rápida de Ferramenta é uma técnica de qualidade que prega que toda troca de ferramentas nas máquinas pode ser feita em menos de 10 minutos, independente- mente da máquina. Administração da produção28 A influência dos objetivos na Produção A diferente combinação de foco nos objetivos pode trazer benefícios para a empresa. Conforme você já viu anteriormente, muitas vezes são as próprias características dos produtos e/ou do projeto de processo que irão definir quais os objetivos que podem ser atingidos com maior efetividade pela produção. Os objetivos que inerentemente são os mais focados em quase todos os pro- cessos produtivos são: qualidade e custo. Afinal de contas, a empresa sempre buscará menor custo e maior qualidade, seja lá quais forem os outros objetivos e estratégias que escolher. Um carro popular e um carro de luxo vão diferir em termos de confiabili- dade e rapidez de processo produtos. Porém, ambos buscam a maior qualidade possível e o menor custo de produção em termos do preço e da qualidade de seu segmento. Para exemplificar a influência dos objetivos no processo pro- dutivo podemos fazer uso de três produtos/serviços: um carro, energia elétrica e um tabelionato. Carro Conforme a Figura 3, existem diferentes tipos de carros no mercado. Cada carro poderá ter uma maneira diferente de ser produzido. Em geral, as em- presas automotivas primam por buscar qualidade, rapidez, confiabilidade e custo como principais objetivos. A rapidez se propõe pela maneira como é configurada a produção do carro, normalmente em linha, o que possibilita maior taxa de saída de produtos prontos e, consequentemente, menor custo mantendo o nível de qualidade desejado. A linha de produção é composta por máquinas altamente especializadas com tarefas repetitivas, o que, de certo modo, limita as possibilidades de flexibilidade no processo. Cada carro pode sofrer alterações em pequenas partes, e grandes mudanças irão determinar um projeto diferenciado e tempos de produção maiores que o normal. As empresas automobilísticas tendem então, a focar em quatro dos cinco objetivos, determinando maior controle e balanceamento de produção para que se consiga altas taxas de produção com um ritmo e velocidades confiáveis dentro do padrão de qualidade. 29Principais objetivos da Produção Figura 3. Diferentes modelos de carro. Fonte: Delices/Shutterstock.com Energia elétrica Por questões operacionais e de segurança as empresas de geração de energia elétrica tendem a focar nos objetivos de qualidade e rapidez. A geração e dis- tribuição de energia elétrica é, por si só, um sistema fechado. Conforme você observa na Figura 4, a energia gerada na usina é distribuída ao longo da cadeia por meio de fios de alta e/ou baixa tensão até chegar ao consumidor. O tipo de energia ali gerado não tem propriedades que facilitem o seu armazenamento por longos períodos de tempo. A energia elétrica é altamente volátil e perde-se com facilidade. Desse modo, as empresas de energia devem focar em oferecer seus serviços com maior rapidez e qualidade. Muitas vezes, esse processo apresenta custos elevados, e a confiabilidade fica de certa forma prejudicada, pois muitas variáveis externas à empresa podem alterar o processo. Momentos de excesso ou escassez de chuva, variações na oferta e custo de matéria-prima (para as termoelétricas, por exemplo), entre outros, podem afetar a geração de energia. Tempestades e vandalismo podem afetar a distribuição. Todos esses fatores podem prejudicar a confiabilidade. Finalmente, você precisa notar que para a energia elétrica é praticamente impossível obter qualquer tipo de flexibilidade no processo produtivo. Uma vez que a fonte de geração seja escolhida, é ela que irá gerar a energia daquela maneira. Seja solar, eólica, hidrelétrica, termoelétrica, nuclear. Administração da produção30 https://www.shutterstock.com/gallery-758767p1.html Figura 4. Cadeia de distribuição da energia elétrica. Fonte: aurielaki/Shutterstock.com Tabelionato Este é um serviço de alto valor para o público. É requisito legal para várias transações. Em geral, este serviço busca qualidade, rapidez e confiabilidade como objetivos principais. É um serviço extremamente padronizado; por isso, deve ser oferecido com a maior qualidade possível e o mais rápido possível, 31Principais objetivos da Produção https://www.shutterstock.com/gallery-806674p1.html dado que para todos os tabelionatos, o processo de reconhecimento de firma, por exemplo, é o mesmo (requisito legal). O que o tabelionato pode fazer é disponibilizar mais estações de atendimento para facilidade o serviço, tra- zendo a rapidez desejada e a confiabilidade de que o serviço será executado no menor tempo. Custo e flexibilidade são difíceis de atingir com esse serviço. Os valores para quaisquer serviços no tabelionato são, em grande parte, tabelados. Os serviços que os tabelionatos podem prestar são também limitados por lei. É possível ver que o tipo de produto ou processo escolhido pode deter- minar muitas vezes a influência que os objetivos têm na empresa. A empresa pode, para atingir um objetivo ou vários, determinar mudanças em processos e/ou produtos/serviços. Os cinco objetivos influenciam de maneiras diferentes a estratégia da empresa. Deve- -se sempre controlá-los, mesmo os que não são o foco da organização. Possibilidades de vantagens estratégicas Conforme foi visto na figura, os objetivos podem ter efeitos tanto internos quanto externos para a empresa. Diferentes combinações de atuação nos ob- jetivos pode levar a empresa a ter vantagens estratégicas frente a seus concor- rentes. A Tabela 1 mostra alguns exemplos de comportamentos que levam a vantagens estratégicas em cada um dos objetivos. Administração da produção32 Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston (2009). Empresa de seguros Fábrica de aço Os aspectos de cada objetivo de desempenho incluem Objetivos de desempenho Os aspectos de cada objetivo de desempenho incluem � Profissionalismo da equipe � Amizade da equipe � Precisão da informação � Habilidade para mudar detalhes no futuro Qualidade � Porcentagem de produtos que estão conforme a sua especificação � Especificação absoluta dos produtos � Utilidade da consultoria técnica � Tempo de resposta do centro de atendimento � Pronta resposta da con- sultoria � Decisão de cotação rápidas � Resposta rápida para reclamações Velocidade � Lead time da solicitação à cotação � Lead time do pedido à entrega � Lead time da consultoria técnica � Confiança da data original prometida � Clientes mantidos infor- mados Confiança � Porcentagem de entregas “na hora, completas” � Clientes informados das datas de entrega � Personalização das con- dições de cobertura do seguro � Habilidade para enfrentar mudanças em circuns- tâncias, como nível de demanda � Habilidade para controlar a grande variedade de riscos Flexibilidade � Variedade de tamanhos, medidas, camadas, etc., possíveis � Taxa de lançamento de um novo produto � Habilidade para mudar a quantidade, a composi- ção e o momento de um pedido � Prêmio orçado � Custos dos planos � Acordos para não haver ações judiciais � Taxas de excesso Custo � Preço dos produtos � Preço da consultoria téc- nica � Descontos disponíveis � Condições de pagamento Tabela 1. Análise comparativa entre os objetivos e empresas de manufatura e serviços. 33Principais objetivos da Produção Cada elemento na tabela pode influenciar a competitividade da empresa no mercado. Para obter essas vantagens, é preciso que a organização planeje como será feito e abordado cada um dos objetivos.Uma maneira de se fazer isso é por meio da Matriz da Estratégia de Operações, conforme a Figura 5. Figura 5. Matriz da Estratégia de Operações. Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston (2009). Partindo de cada objetivo e de cada parte das decisões estratégicas da operação, a empresa vai definir quais as estratégias e/ou ações que serão de- finidas em cada objetivo. Por exemplo, na coluna de Decisões do projeto, o foco pode ser: em velocidade (ou rapidez) com a estratégia de implementar o Just-in-time e custo com a estratégia de ganhos de escala e diminuição de estoques. Nesse caso, somente as células que dizem respeito a custo e veloci- dade e decisões de projeto serão preenchidas. O mesmo repete-se para as outras decisões. Aproveite o modelo dado na Figura 5 e tente montar a Matriz pensando na sua empresa como objeto das decisões. Administração da produção34 É possível utilizar outras ferramentas para determinar o foco dos objetivos da pro- dução. A Matriz GUT é uma delas. 1. Defina o objetivo da Qualidade: a) Fazer as coisas da maneira certa. b) Fazer as coisas do modo mais rápido independente da maneira. c) Fazer as coisas com qualquer tipo de matéria-prima. d) Fazer as coisas na maior quanti- dade possível. e) Fazer as coisas na quantidade correta. 2. Defina o objetivo da Velocidade: a) Fazer as coisas em tempo. b) Fazer as coisas da maneira certa. c) Fazer as coisas o mais rápido possível. d) Fazer as coisas na maior quanti- dade possível. e) Mudar a maneira como fazemos as coisas. 3. Defina o objetivo do Custo: a) Fazer as coisas com o melhor tipo de matéria-prima. b) Fazer as coisas gastando o sufi- ciente para se ter uma produção com a qualidade desejada. c) Fazer as coisas podendo mudar de produção rapidamente. d) Fazer as coisas da maneira certa. e) Fazer as coisas em tempo. 4. Defina o objetivo da Confiabilidade: a) Fazer as coisas da maneira certa. b) Fazer as coisas com a melhor matéria-prima possível. c) Fazer as coisas de acordo com os desejos dos clientes. d) Fazer as coisas em tempo. e) Fazer as coisas de acordo com o determinado pela legislação. 5. Defina o objetivo da Flexibilidade: a) Fazer as coisas gastando o suficiente. b) Fazer as coisas com a melhor matéria-prima possível. c) Realizar a produção no nível má- ximo da capacidade instalada. d) Fazer as coisas o mais rápido possível. e) Mudar o que se faz. 35Principais objetivos da Produção SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2009. Leituras recomendadas ANTUNES, J. et al. Sistemas de produção: conceitos e práticas para projeto e gestão da produção enxuta. Porto Alegre: Bookman, 2008. JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração da produção e de operações: o essencial. Porto Alegre: Bookman, 2009. PAIVA, E. L.; CARVALHO JR., J. M.; FENSTERSEIFER, J. E. Estratégia de produção e de opera- ções: conceitos, melhores práticas, visão de futuro. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. Referência Administração da produção36 Conteúdo:
Compartilhar