Buscar

Mattos Psicologia Jurídica Uma Interface entre psicologia e o direito

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
1 
 
PSICOLOGIA JURÍDICA: UMA INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA E O DIREITO 
 
Elsa de Mattos*1 
 
Os campos do Direito e da Psicologia se aproximam em razão da 
preocupação com a conduta humana. Essa aproximação teve início na área do 
Direito Penal, da criminologia, mais especificamente no campo da psicopatologia, a 
partir da demanda de diagnósticos psicológicos – psicodiagnóstico – que pudessem 
servir para classificar e controlar os indivíduos. Os psicólogos eram chamados a 
fornecer um parecer técnico (pericial) elaborado a partir do uso de instrumentos e 
técnicas de avaliação psicológica, informando à instituição judiciária, via seus 
representantes, um mapa subjetivo do sujeito diagnosticado. O objetivo era melhor 
instruir a instituição para tomada de decisões mais fundamentadas e, portanto, 
mais justas. No entanto, os profissionais que executavam este tipo de trabalho 
geralmente se centravam na análise da subjetividade individual 
descontextualizada e objetificada. O uso dos testes psicológicos era feito de forma 
acrítica, sem questionamentos, o que terminava por reificar a pessoa em estudo. 
Atualmente, no entanto, outras formas de atuação dos psicólogos vêm 
ganhando força no âmbito da Justiça, fazendo com que haja uma ampliação seu 
campo de atuação, aumentando a interface entre as duas disciplinas. Há uma maior 
reflexão em relação à avaliação psicológica e diversos instrumentos e técnicas – 
além dos testes – passaram a ser utilizados no intuito de compreender a 
subjetividade em seu contexto. 
Do ponto de vista legal, foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 
1990, que deu um novo escopo à atuação dos psicólogos no campo jurídico. O 
Estatuto obrigou o Poder Judiciário a manter uma equipe multidisciplinar 
destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. A princípio, tal equipe 
não estaria vinculada às Varas de Família, pois a Justiça da Infância e Juventude 
protege as crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. Nas Varas 
 
1
 Doutora em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. Participa do grupo de pesquisa 
Desenvolvimento em Contextos Culturais (UFBA). Professora de Psicologia na Faculdade 
Independente do Nordeste – FAINOR (Bahia). Atuou como coordenadora de projetos sociais 
voltados para crianças, adolescentes e jovens na Fundação Clemente Mariani e na ONG Cipó-
Comunicação interativa. Email: e.mattos2@gmail.com 
mailto:e.mattos2@gmail.com
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
2 
 
de Família, no entanto, correm ações que, em princípio, não representam risco 
pessoal ou social, tais como aquelas ligadas à existência de núcleo familiar, 
questões de guarda, regulamentação de visitas, etc. Contudo, é importante 
ressaltar que o art. 151 do ECA trouxe um novo olhar relativo ao papel do 
psicólogo no âmbito da justiça, indicando que uma equipe interprofissional tem 
não somente a atribuição de fornecer subsídios para o julgamento do processo – o 
que se alinha com a ideia de perícia – mas também acrescenta o “aconselhamento, 
orientação, encaminhamento, prevenção” e outros formas de atuação que a 
legislação local lhe reservar. Com isso, o ECA agregou ao trabalho do psicólogo no 
âmbito jurídico funções que não se restringem à perícia stricto sensu. 
Conceitualmente, portanto, a Psicologia Jurídica corresponde a toda 
aplicação do saber psicológico às questões relacionadas ao campo do Direito 
(LEAL, 2008). Entende-se por psicólogos jurídicos não somente aqueles que 
exercem sua prática profissional nos tribunais, mas também os profissionais que 
atuam com questões relacionadas em diversas interfaces com o campo do Direito, 
em Varas de Família, com Direito da Infância e da Juventude, em programas 
voltados para aplicação de medidas socioeducativas, Conselhos Tutelares, entre 
outros. 
De acordo com Lago, Amato, Teixeira, Rovinski e Bandeira (2010), a 
avaliação psicológica ainda segue sendo a principal demanda dos operadores do 
Direito à Psicologia. Porém, outras atividades de intervenção, como 
acompanhamento e orientação, prevenção, bem como práticas alternativas de 
resolução de conflitos e mediação, entre outros, passaram a adquirir igual 
relevância, estendendo a atuação do psicólogo também para a área do Direito de 
Família e do Direito da Infância e Juventude. Ramos e Shine (1994) sugerem que, 
pela especificidade do trabalho que realizado e pela forma de inserção do 
psicólogo nas instituições jurídicas, esses profissionais enfrentam conflitos em sua 
atuação que, por um lado, dever orientar-se por uma ética do cuidado (ideal 
terapêutico) e, por outro, tem que atentar para a lógica da Justiça, especialmente 
para a necessidade de produção da “verdade” por meio da prova/avaliação 
pericial. 
Essa atuação, portanto, está permeada por conflitos entre saberes e 
poderes. Quando o psicólogo se insere numa equipe institucional suas funções são 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
3 
 
distintas daquelas que se demanda ao perito stricto sensu. Ao ser convocado a 
desempenhar funções de orientação, aconselhamento, ele pode posicionar-se como 
agente a partir de um lugar diferente do perito. Apesar desta diferença, sua 
inserção no discurso jurídico mantém-se com uma função prioritária de elaborar 
um laudo/relatório que servirá de prova. 
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (Resolução CFP nº 13/2007) 
reconheceu recentemente a Psicologia Jurídica como uma área de especialização 
da Psicologia. O CFP usa o termo Psicologia “Jurídica” para definir uma das 
especialidades do psicólogo e apresenta uma ampla descrição da sua área de 
atuação. 
 
Principais campos de atuação 
Um dos campos nos quais a atuação do psicólogo vem crescendo bastante é 
o Direito de Família. Nessa área, as atividades realizadas pelo psicólogo vêm se 
estendendo para além da avaliação psicológica, ultrapassando a prática 
tradicionalmente entendida como “pericial”, buscando uma atuação que leva em 
conta a subjetividade humana em sua complexidade e dinamicidade, 
compreendendo as particularidades humanas e as relações entre as pessoas e os 
contextos em que estão inseridas (ROVINSKI, 2009). Esse novo paradigma de 
atuação, envolve o tanto o acompanhamento e aconselhamento, quanto o 
encaminhamento assessoramento e mesmo a prevenção. 
Nesse sentido, nas questões envolvendo Direito de Família, a intervenção do 
psicólogo pressupõe uma leitura cuidadosa das relações familiares, tomando-se a 
criança como sujeito inserido num sistema familiar e num contexto mais amplo. 
Quando o trabalho com as famílias é possível, pode-se questionar a verdade que os 
sujeitos construíram no drama familiar, que muitas vezes é ratificada pelo discurso 
judiciário, ao oferecer a cada um o lugar de autor e réu, requerente e requerido, 
culpado e inocente. Assim, quando atuação do psicólogo é possível, abre-se a 
possibilidade de resignificar o conflito. 
Lago e colegas (2010) destacam a participação dos psicólogos em processos 
de divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas. Os processos de 
divórcio litigioso são aqueles que se caracterizam pela inexistência de um acordo 
entre as partes e pode ocorrer um tipo de comunicação patológica entre o casal, 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
4 
 
desencadeando uma exacerbação da competitividade, e podendo acarretar um 
processo de rejeição de um cônjuge pelo outro, fenômeno presente 
frequentemente em conflitos maritais. Nesses momentos, conforme apontam Costa 
e colegas (2009), os ex-cônjugespassam a competir entre si, Podendo inclusive 
levar à eclosão de uma verdadeira guerra entre as partes, que pode resultar no 
fenômeno da alienação parental. 
A alienação parental ocorre nos casos mais conflituosos de divórcio, nos 
quais a disputa entre os ex-côjuges/ex-parceiros pode levar um dos genitores a 
promover uma destruição da imagem do outro, desmoralizando e desacreditando 
o ex-parceiro/ex-cônjuge frente aos(s) filho(s) (SOUZA; BRITO, 2011). Os filhos 
são utilizados como instrumento de agressividade contra o ex-parceiro/ex-
cônjuge, induzidos a odiar o outro genitor. Trata-se de uma verdadeira campanha 
de desmoralização, na qual a criança é levada a afastar-se do pai ou da mãe, 
gerando uma contradição de sentimentos e destruição do vínculo afetivo positivo 
entre ambos. O processo cria fortes sentimentos de ansiedade e temor na criança 
em relação ao outro genitor. 
Em geral, o divórcio litigioso engloba partilha de bens, guarda de filhos, 
estabelecimento de pensão alimentícia e direito à visitação. Nesses casos, 
conforme apontam Lago e colegas (2010), o psicólogo pode atuar como mediador 
ou como avaliador. No primeiro caso, ao atuar como mediador, ele vai buscar 
solucionar o conflito manifesto e/ou latente entre as partes, buscando restabelecer 
a comunicação, posto que a deverá ter uma continuidade, especialmente quando 
existem filhos pequenos ou adolescentes. No segundo caso, a depender da 
demanda do juiz, o psicólogo pode realizar a avaliação psicológica de uma das 
partes ou do casal e, inclusive, sugerir o encaminhamento das partes para 
tratamento psicológico quando necessário. Nessa situação é importante promover 
um distanciamento entre a criança e a situação conflitiva, de forma a preservar seu 
direito a viver uma condição de proteção (COSTA; PENSO; LEGANI, SUDBRACK, 
2009). 
Outra questão que vem demandando uma atuação do psicólogo é a 
regulamentação de visitas de filhos pequenos ou adolescentes. Essa situação surge 
a partir de fatos novos que ocorrem após concluído o processo de divórcio. São 
questões posteriores de ordem prática, ou envolvendo novos conflitos, que 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
5 
 
emergem e que fazem com que as partes busquem mais uma vez o Judiciário, 
solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitas que foram 
anteriormente acordados. De acordo com Maciel e Cruz (2009), nesses casos, o 
psicólogo deve procurar compreender a dinâmica relacional das famílias, 
identificando a natureza e a qualidade dos vínculos que se estabelecem, bem como, 
as formas de cuidados parentais, levando em conta o sistema familiar como um 
todo em sua complexidade. Além disso, conforme sugerem Lago e colegas (201), o 
psicólogo pode também atuar como mediador, procurando apontar a interferência 
de conflitos intrapessoais na dinâmica interpessoal dos cônjuges, de forma a 
promover a colaboração e transformar o conflito, buscando preservar a autonomia 
da vontade das partes. 
A disputa de guarda é conflito que emerge nos processos de divórcio 
quando é preciso definir qual dos ex-cônjuges deterá a guarda ou a custódia dos 
filhos. Em casos mais graves, conforme aponta Silva (2012), tais disputas podem 
ocorrer em âmbito judicial e pode ser adotada a mediação para solução do conflito 
ou o juiz pode solicitar uma perícia ou avaliação psicológica para que se identifique 
qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito. Nesses casos, 
além dos conhecimentos sobre avaliação, psicopatologia, psicologia do 
desenvolvimento e psicodinâmica do casal, é fundamental conhecer temas como 
guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e alienação parental que 
vêm emergindo com bastante frequência nesse tipo de processo. É importante 
ressaltar, em casos extremos, existem pais que colocam seus próprios interesses e 
vaidade pessoal acima do interesse dos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o 
ex-marido/mulher, apresentando dificuldade para exercer a parentalidade de 
forma saudável e responsável (SILVA, 2012). Recentemente, com o advento da Lei 
da Guarda Compartilhada (Lei 11.628/2008), determinando que ambos os 
genitores dividam os direitos e deveres em relação aos filhos, os operadores do 
Direito vêm se voltando para esse tipo de tutela dos direitos. 
Além das áreas de atuação já destacadas anteriormente, vinculadas ao 
Direito de Família, o psicólogo jurídico também tem sido chamado a atuar na 
promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, especialmente após a 
publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Nesses casos, destaca-
se o papel do psicólogo junto aos processos de adoção e destituição de poder 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
6 
 
familiar e também o desenvolvimento e aplicação de medidas socioeducativas dos 
adolescentes autores de ato infracional. Em função do escopo do presente trabalho, 
vamos ressaltar somente as duas primeiras formas de atuação. 
Os psicólogos participam do processo de adoção por meio de orientação e 
acompanhamento constante das famílias em processo de adoção, tanto antes 
quanto depois da colocação da criança. Conforme apontam Lago e colegas (2010), 
os psicólogos jurídicos vêm atuando no sentido de recrutar candidatos para as 
crianças que precisam de uma família e de ajudar os postulantes a se tornarem 
pais capazes de satisfazer às necessidades de um filho adotivo. Nesse sentido, tanto 
programas anteriores quanto posteriores são fundamentais no sentido de garantir 
o cumprimento da lei e prevenir a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução 
das crianças adotadas. 
Já os processos de destituição do poder familiar envolvem a suspensão, 
revogação ou destituição do direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma 
distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e 
educação dos filhos. Esta medida acarreta a perda dos direitos que os pais têm 
sobre os filhos, que poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil. 
Esses casos são de natureza muito séria e é preciso considerar que a decisão de 
separar uma criança de sua família pode acarretar desdobramento que afetarão, 
em maior ou menor grau, toda a vida futura da criança. Esses aspectos levam à 
constatação, conforme propõem Lago e Bandeira (2009; 2008), de que a atuação 
cuidadosa por parte do psicólogo jurídico demanda uma constante atualização 
desses profissionais. 
Outra possibilidade de atuação do psicólogo no campo jurídico está no 
atuação como mediador de conflitos. A Mediação se origina da palavra latina 
"mediatio" e corresponde a uma técnica não adversarial de resolução de conflitos 
na qual um terceiro (mediador) neutro e imparcial, auxilia as partes a entenderem 
seus reais conflitos e buscarem seus verdadeiros interesses, por intermédio de 
uma negociação cooperativa (CEZAR-FERREIRA, 2009). É uma intervenção com 
que se busca produzir uma solução pacífica de conflitos, cujo desfecho não é 
imposto às partes. 
A mediação tem avançado no âmbito do direito de família como uma prática 
de resolução de conflitos de forma mais breve e com menor desgaste emocional 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
7 
 
para a família. Nela não existem ganhadores nem perdedores, pois a prioridade é 
dada à cooperação entre os envolvidos, evitando processos litigiosos. Diferente do 
processo litigioso, a mediação representa uma tentativa de encontrar um 
denominador comum entre as partes, fomentando entre elas o diálogo. Ela é uma 
ferramenta que confere mais autonomia às partes para que possam resolver suas 
desavenças da maneira mais conveniente para elas, com o apoio de um terceiro 
que atua como facilitador(KRUGER, 2009). 
Para Gonçalves e Brandão (2008), a mediação pode ser geral ou específica. 
É geral quando contempla todos os assuntos a serem resolvidos no divórcio e 
específica quando aborda somente alguns aspectos. Dentre questões que podem 
ser tratadas numa mediação familiar, encontram-se: definição da guarda dos filhos, 
pensão alimentícia, regulamentação de visitas ou divisão de bens. Outro aspecto 
frequentemente abordado nas mediações familiares é a responsabilidade pelo 
cuidado com idosos. 
Cabe ao mediador ouvir atentamente a necessidade das partes, com uma 
postura acolhedora às diferenças, facilitando a comunicação e evitando 
imposições, orientando a busca de ideias que facilitem a construção de uma 
responsabilidade mútua, especialmente no que diz respeito à parentalidade. 
Diferente do processo litigioso há uma tentativa de encontrar um denominador 
comum entre os envolvidos. No entanto, embora a aceitação da mediação venha 
crescendo no Brasil, ela não foi ainda regulamentada em nosso país. 
 
Recursos Teórico-Metodológicos 
Conforme sugere Cezar-Ferreira (2007), o trabalho dos profissionais que 
atuam em Psicologia Jurídica envolve a investigação da subjetividade em 
diferentes níveis de complexidade. Voltados para esse objetivo, esses profissionais 
se utilizam de diferentes recursos teórico-metodológicos em suas abordagens, 
podendo partir de diversas perspectivas teóricas (p. ex. Psicanálise, Terapia 
Familiar, Terapia Narrativa, Gestalt, entre outras) e realizar observações, 
entrevistas, testes psicológicos, trabalhos em grupos, visitas às residências das 
famílias, escolas e outros ambientes frequentados pelas crianças. 
De uma forma geral, a perícia psicológica ainda continua sendo o campo de 
maior demanda para os psicólogos no judiciário. No campo do Direito, a perícia é 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
8 
 
um tipo de prova produzida durante o processo judicial. O magistrado nomeia um 
perito de acordo com a necessidade que tem de conhecer melhor os fatos 
envolvidos no caso. O perito, em geral, deve realizar uma avaliação da situação e 
apresentar um laudo que será incluído como documento no processo (PIZZOL, 
2009). A produção pericial é um elemento importante que compõe o discurso 
jurídico da prova, entretanto, é preciso ressaltar que ela não define a decisão do 
magistrado. Ele pode decidir contrariamente ao laudo pericial, pois sua decisão 
provém do “livre convencimento”, desde que fundamentado nas normas legais. 
No campo da Psicologia Jurídica, a perícia demanda um estudo detalhado da 
dinâmica relacional da família em conflito, englobando aspectos tanto psicológicos 
quanto sociais. Esse tipo de estudo vem recebendo diversas denominações, tais 
como: estudo psicológico, estudo técnico, estudo psicossocial, estudo social, 
avaliação psicológica, reavaliação psicológica. A terminologia que usaremos aqui é 
estudo psicossocial, por entendermos que ele envolve simultaneamente aspectos 
psicológicos e sociais, a subjetividade no contexto em que está inserida. Conforme 
sugere Cezar-Ferreira (2007), o principal objetivo desse tipo de estudo é investigar 
de maneira contextual as inter-relações familiares, para compreender a estrutura 
do funcionamento da família e verificar a flexibilidade para a realização de 
mudanças. 
O estudo psicossocial envolve entrevistas e observações com os vários 
membros da família, crianças e/ou adolescentes, com os genitores e com as 
famílias de origem, bem como testes psicológicos e visita à residência dos dois 
genitores ou dos avós, ou ainda de outro familiar envolvido no processo, quando 
necessário (BRANDÃO; COSTA, 2004). Dependendo da situação encontrada junto 
ao grupo familiar estudado, podem também ser feitas visitas a instituições públicas 
e privadas a que a família esteja vinculada, assim como contatos com profissionais 
que a acompanhem ou a tenham acompanhado alguns de seus membros (crianças 
ou adolescentes). 
Um dos aspectos mais relevantes do estudo psicossocial é o seu caráter 
processual. De acordo com Rosenberg (2000) a essas avaliações não se aplicaria o 
termo “diagnóstico”, mas sim o de "processo de estudo das dinâmicas psíquicas", 
nas quais maior relevância é dada ao movimento da subjetividade da criança, no 
senti de um processo dinâmico. É importante escutar as narrativas das histórias de 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
9 
 
vida longitudinais e transversais das famílias, afastando os psicólogos da busca por 
fatos reais. O que se investiga é a potencialidade que os sujeitos envolvidos nos 
conflitos judiciais teriam para criarem novos sentidos de si mesmos e do mundo 
em que se inserem. O que está em jogo aqui é a possibilidade de promover uma 
reorganização dos sistemas em conflito. 
O estudo psicossocial pode, ao final das intervenções, conduzir 
encaminhamentos para que as famílias procurem os recursos da comunidade, a fim 
de serem tratados os conflitos que estão gerando sofrimento, especialmente às 
crianças e adolescentes. Após a finalização do estudo, é redigido um relatório, que 
se constitui em subsídio para a decisão do magistrado (COSTA; PENSO; LEGANI; 
SUDBRACK (2009); GRANJEIRO; COSTA, 2008). Tal relatório contém uma 
apresentação descritiva e/ou interpretativa “acerca de situações ou estados 
psicológicos e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais” (Conselho 
Federal de Psicologia, Resolução nº 17/2002). É importante ressaltar que a 
elaboração desse relatório deve se revestir da necessária preocupação ética, pois 
seu conteúdo tem o potencial de transformar definitivamente a organização 
familiar e instaurar rupturas afetivas. 
Além disso, a lei também faculta às partes a contratar o serviço particular de 
um psicólogo que poderá atuar como assistente técnico, acompanhando o trabalho 
do perito designado pelo juiz, confirmando, ou não, a avaliação realizada por 
aquele. O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a realização 
dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do psicólogo 
perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e qualidade do 
serviço realizado (Conselho Federal de Psicologia, Resolução nº 08/2010). O perito 
e o assistente técnico, entretanto, devem atuar de forma colaborativa, cada qual 
exercendo suas competências, sendo que o assistente técnico pode formular 
questões que serão respondidas pelo perito. 
 
Estruturação do Setor Psicossocial na Justiça 
Desde a promulgação do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – em 
1990, o Poder Judiciário vem estruturando setores com equipes interdisciplinares, 
especialmente destinadas a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. 
Progressivamente, essas equipes passaram também a atender as Varas de Família. 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
10 
 
Sendo assim, os Tribunais de Justiça de todos os Estados contam com um Setor 
Psicossocial no qual atua uma equipe composta por profissionais de Psicologia, de 
Serviço Social e Terapia Familiar. 
Na Bahia, o Setor de Atendimento e Orientação Familiar – SAOF – encontra-
se em funcionamento desde 1999, sofrendo algumas modificações em sua 
estrutura ao longo do tempo. Sua principal responsabilidade é o desenvolvimento 
das atividades de apoio técnico especializado, nas áreas de psicologia e serviço 
social, às Varas de Família, ao Núcleo de Conciliação de Primeiro Grau e às Varas da 
Infância e da Juventude, dos feitos Relativos aos Crimes contra a Criança e 
Adolescente e de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 
 
Considerações Finais 
Este artigo buscou esclarecer pontos de convergência entre as áreas da 
Psicologia e doDireito. Em especial, destacamos o papel do psicólogo que atua no 
campo do Direito de Família e do Direito da Infância e Juventude. Ao analisar os 
campos de atuação do psicólogo jurídico, percebe-se um predomínio da atuação 
desses profissionais enquanto peritos/avaliadores. Contudo, a demanda pela 
atuação do psicólogo no campo jurídico vem se ampliando cada vez mais: são 
acompanhamentos, orientações familiares, participações em políticas de cidadania, 
combate à violência, participação em audiências, entre outros. Nesse sentido, os 
profissionais da área precisam buscar constante atualização. 
Finalizando, destacamos a necessidade de ampliar o espaço para discussão 
acerca da Psicologia Jurídica no ambiente acadêmico, mediante a criação de 
disciplinas nos cursos de Direito e de Psicologia, além da promoção de encontros 
voltados para ampliação do conhecimento e troca de experiências. Um grande 
desafio que se apresenta para os profissionais de psicologia jurídica é não se 
limitar aos conhecimentos de uma única área, buscando redimensionar a 
compreensão do agir humano, considerando a complexidade da subjetividade 
humana em seus aspectos legais, afetivos e comportamentais. 
 
 
 
 
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
11 
 
 
Referências 
CEZAR-FERREIRA, V.A.M.. Família Separação e Mediação: Uma Visão Psicojurídica. 
São Paulo: Editora Método, 2007. 
COSTA, L.F.; PENSO, M. A.; LEGNANI, V.N.; SUDBRACK, M.F.O. As competências da 
psicologia jurídica na avaliação psicossocial de famílias em conflito. Psicologia & 
Sociedade, v.21, n.2, p. 233-241, 2009. 
GONÇALVES, Hebe S; BRANDÃO, Eduardo P. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de 
Janeiro: Nau, 2004. 
GRANJEIRO, I.A.C.L.; COSTA, L.F. O estudo psicossocial forense como subsídio para 
a decisão judicial na situação de abuso sexual. Psicologia Teoria e Pesquisa, v. 24, n. 
2, p. 161-169, 2009. 
KRUGER, L.L. Mediação e divórcio: pressupostos teóricos para a prática sistêmica. 
In: ROVINSKI, S.L.; CRUZ, R.M. (Orgs.) Psicologia Jurídica: Perspectivas Teóricas e 
Processos de Intervenção. São Paulo: Vetor, 2009, pp. 235-246. 
LAGO, V.M., AMATO, P., TEIXEIRA, P.A., ROVINSKI, S.L.R., BANDEIRA, D.R. Um breve 
histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação. Estudos de 
Psicologia, Campinas, v. 26, n. 4, p. 483-491, 2009. 
LAGO, V.M., BANDEIRA, D. R.. As práticas em avaliação psicológica envolvendo 
disputa de guarda no Brasil. Avaliação Psicológica, v. 7, n. 2, p. 223-234, 2008. 
LAGO, V.M., BANDEIRA, D.R. A Psicologia e as Demandas Atuais do Direito de 
Família. Psicologia Ciência e Profissão, v. 29, n. 2, p. 290-305, 2009. 
LEAL, L.M. Psicologia jurídica: história, ramificações e áreas de atuação. Diversa, v. 
I, n 2, p. 171-185, 2008. 
MACIEL, S.K.; CRUZ, R.M. Violência psicológica contra crianças nas interações 
familiares: Problematização e diagnóstico. In: ROVINSKI, S.L.; CRUZ, R.M. 
(Orgs.). Psicologia jurídica: perspectivas teóricas e processos de intervenção. São 
Paulo: Vetor, 2009, pp. 89-106. 
PIZZOL, A.D. Perícia psicológica e social na esfera judicial: aspectos legais e 
processuais. In: ROVINSKI, S.L.; CRUZ, R.M. (Orgs.) Psicologia Jurídica: Perspectivas 
Teóricas e Processos de Intervenção. São Paulo: Vetor, 2009, pp. 23-44. 
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=COSTA,+LIANA+FORTUNATO
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=PENSO,+MARIA+APARECIDA
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=LEGNANI,+VIVIANE+NEVES
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=SUDBRACK,+MARIA+FATIMA+OLIVIER
Capítulo publicado no livro: Psicologia, Família e Direito, Ed. Juruá (2013), Org. Lúcia Vaz de 
Campos Moreira. 
 
12 
 
RAMOS, M. e SHINE, S. A família em litígio. In: RAMOS, M. (Org.). Casal e família 
como paciente. São Paulo: Escuta. 1994, pp. 95-122. 
ROSENBERG, S.A.M. Provocando o inconsciente: questões sobre o psicodiagnóstico 
na clínica psicanalítica. Disponível em: 
http://www.oocities.org/hotsprings/villa/3170/AnaMariaSigalRosenberg.htm 
Acesso em 03 de novembro de 2013. 
ROVINSKI, S.L.R. Psicologia Jurídica no Brasil e na América Latina: dados históricos 
e suas repercussões quanto à avaliação psicológica. In: CRUZ, R.M. e ROVINSKI, 
S.L.R. Psicologia Jurídica: perspectivas teóricas e processos de intervenção. São 
Paulo: Vetor, 2009, pp. 11-22. 
SILVA, D.M.P. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro. RJ: Forense, 2ª. ed., 
2012. 
SOUSA, A.M.; BRITO, L.M.T.. Síndrome de alienação parental: da teoria Norte-
Americana à nova lei brasileira. Psicologia Ciência e Profissão, v.31, n.2, pp. 268-
283, 2011. 
http://www.oocities.org/hotsprings/villa/3170/AnaMariaSigalRosenberg.htm

Continue navegando