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TEXTO - ANTROPOLOGIA - CONCEITO E OBJETO

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ANTROPOLOGIA – CONCEITO E OBJETO
Profa. Andrea Sotero 
ANTROPOLOGIA
- É a ciência que tem como objeto de estudo o HOMEM e a HUMANIDADE de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.
 - É o estudo do homem como ser biológico, social e cultural.
- É a ciência da humanidade e da cultura.
ETIMOLOGIA
Antrophos = Homem
Logos = Estudo
Significa o estudo do homem
TRÍPLICE ASPECTO
A) CIÊNCIA SOCIAL – homem/grupo sociais – tudo que constitui as sociedades humanas – modo de produção econômico, 
B) CIÊNCIA HUMANA – o homem como um todo – através de sua história, suas crenças, sua arte, seus usos e costumes, sua magia, sua linguagem...
C) CIÊNCIA NATURAL – conhecimento psicossomático do homem e sua evolução, seu patrimônio genético, suas carcterísticas anatômicas e fisiológicas.
OBJETIVO DA ANTROPOLOGIA
O estudo da Humanidade como um todo.
a) Objetivo bastante amplo
b) Homem – expressão global – biopsicocultural
DIVISÕES E CAMPOS DA ANTROPOLOGIA
A) ANTROPOLOGIA CULTURAL OU SOCIAL – Estudo do homem como sujeito e produto da cultura.
1- Ciência Social – Problema da relação entre modo de comportamento instintivo (hereditário) e adquirido (por aprendizagem) 
a) ARQUEOLOGIA – Estuda as culturas do passado, extintas, que desenvolveram culturas, fases da humanidade não registradas em documentos escritos. (Vestígios e restos materiais)
b) ETNOGRAFIA – Observação e análise das Culturas Humanas consideradas em suas particularidades – Levi-Strauss. O Etnógrafo observa, descreve, analisa e reconstitui culturas. Investigador de Campo.
c) ETNOLOGIA – Pesquisadores utilizam os dados coletados e oferecidos pelos etnógrafos. É comparativa, preocupa-se com a análise, a interpretação e a comparação entre as mais variadas culturas existentes. 
d) LINGUÍSTICA – Linguagem – meio de comunicação e instrumento do pensamento.
e) FOLCLORE – Estudo da cultura espontânea dos grupos humanos rurais e urbanos. Estudo de determinados aspectos da cultura humana. Preocupa-se com a cultura material e espiritual, originadas espontaneamente, permanecem no seio do povo com determinada função.
f) ANTROPOLOGIA SOCIAL – Interesse centrado na sociedade e nas instituições, tem como objetivo conhecer as relações sociais que regem as diferenças existentes entre grupos humanos.
g) CULTURA E PERSONALIDADE – O indivíduo como agente de mudança cultural, desempenhando papel dinâmico e inovador. É participante de uma sociedade e uma cultura – É portador de caracteres – biopsicológicos – e de experiência sociocultural próprios, que lhe confere um tipo de personalidade que determina ações e reações, pensamentos e sentimentos, ou seja, seu comportamento na busca de melhor adaptação aos valores socioculturais do grupo.
CIÊNCIAS AFINS
A antropologia relaciona-se com outras ciências, trocando experiências e conhecimentos. Mantém relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências que centram o seu interesse especificamente no ESTUDO DO HOMEM.
INTERDISCIPLINARIDADE – Interação entre duas ou mais disciplinas buscando a composição de um objeto comum entre elas. É necessário porque, na maioria das vezes, os fenômenos científicos e tecnológicos não podem ser explicados somente por um campo do conhecimento.
A) SOCIAL – Oferece e recebe dados teóricos e metodológicos da Sociologia, da História, da Psicologia, da Geografia, da Economia e da Ciência Política. 
B) BIOLÓGICA OU NATURAL – Liga-se à biologia, genética, anatomia, fisiologia, à medicina, à geologia, zoologia, botânica, à química e à física.
PSICOLOGIA – É a ciência que estuda o comportamento humano e animal. Ambas tem como foco de interesse o comportamento humano. ANTROPOLOGIA = Comportamento grupal e PSICOLOGIA = Comportamento individual.
As diferenças individuais são explicadas pelas variáveis – biológicas, ambientais e culturais. A antropologia busca nos dados levantados pela psicologia, explicações para a complexidade das culturas e do comportamento humano.
A BASE DA NOVA ANTROPOLOGIA
Há na base da nova antropologia a afirmação do Princípio de Alteridade e a negação do Etnocentrismo.
Alteridade = Um apelo ao homem para reconhecer-se no outro, especificamente para reconhecer-se nas carências do outro e enxergar os seus privilégios como expressão direta das privações do outro.
Negar o Etnocentrismos = Posicionar-se contra a atitude que consiste em supervalorizar a própria cultura e considerar as demais como inferiores, selvagens, bárbaras e atrasadas.
A ausência de alteridade e a presença do etnocentrismo explicam porque algumas práticas dos índios da costa brasileira, como a antropofagia e a nudez, foram condenadas e consideradas selvagens pelos europeus. A avaliação dos padrões culturais dos índios não foi feita em relação ao contexto cultural dos próprios índios, mas de acordo com os valores éticos morais predominantes na cultura europeia. 
TÉCNICA DO ESTRANHAMENTO
Segundo Levi-Strauss, os homens da Renascença, ao estudarem outras culturas, especialmente a cultura greco-romana, desenvolveram um método intelectual denominado técnica do estranhamento. 
Estranhamento = Perplexidade diante de um cultura diferente, permite reconhecer que existem outras culturas e que o homem é dotado de uma aptidão capaz de inventar novos modos de vida e formas de organização social.
1- Fascínio pelo estranho – Contrapor a figura do bom selvagem a do mau civilizado. 
2- Recusa do estranho – Contrapor a figura do mau selvagem a do bom civilizado. Desrespeito pela diversidade cultural. A ideologia da recusa do estranho forneceu ao colonialismo as justificativas para o uso da força no sentido de escravizar os índios ou integrá-los à cultura europeia. Essa ideologia também serviu para negar a humanidade aos negros africanos e submetê-los ao regime de escravidão nas colônias americanas. 
Assim, o colonizador europeu, impôs a sua cultura inspirada na ideologia da recusa do estranho, razão pela qual o direito brasileiro perpetuava e garantia os interesses dos colonizadores. 
O racismo é o desdobramento moderno mais nefasto e cruel da ideologia da recusa do estranho. Os seus efeitos devastadores sobre as relações humanas justificam o interesse que antropólogos e juristas dedicam ao assunto.
CULTURA COMO OBJETO DA ANTROPOLOGIA
Talcott Parsons – não existe um consenso a respeito da definição de cultura. Deve-se levar em consideração a tríade de forças que moldam a ação = personalidade, relações sociais e ideias e valores. Já foram classificadas 164 definições, dentre estas, 157 elaboradas por antropólogos. 
Valores, leis, práticas, crenças e instituições variam de formação social para formação social. Os antropólogos falam de culturas no plural e não em cultura, no singular. Em síntese, pode-se dizer que cultura é o modo próprio e específico da existência dos seres humanos. É a cultura que distingue os homens dos outros animais – os animais são seres naturais e os homens são seres culturais. 
Cultura e Valores = os valores constituem as propriedades mais características e mais importantes da cultura e os valores são variáveis e relativos. O núcleo central da cultura consiste em ideias tradicionais, especificamente, em valores a elas vinculados. 
CULTURA E DIREITO
Antropólogos – as características mais significativas da cultura são seus valores.
Teóricos do Direito – Os valores são fundamentais para compreender o fenômeno jurídico.
Miguel Reale (1999) O Direito é fruto da experiência e localiza-se no mundo da cultura, portanto ele possui uma dimensão valorativa e não pode ser desprezada. Reale elabora a Teoria Tridimensional – Fato, valor e norma. A norma disciplina os comportamentos individuais e coletivos, pressupõe dada situação de fato, referida a determinados valores. A categoria do jurista é do dever-ser e na esfera do valor – a pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. 
Com o mesmo ponto de vista, o Prof. Dr. Silvio Venosa (2006, p.122) relata-nos acerca do valor da seguinte forma:
A medida de valor que se atribui ao fato transporta-se inteiramente para a norma. Exemplo: suponha que exista númerogrande de indivíduos em uma sociedade que necessitem alugar prédios para suas moradas. Os edifícios são poucos e, havendo muita demanda, é certo que pela lei da oferta e da procura os preços dos imóveis a serem locados elevem-se. O legislador, apercebendo-se desse fato social, atribui valor preponderante à necessidade dos inquilinos, protegendo-os com uma Lei do Inquilinato, que lhes dá maior proteção em detrimento do proprietário. Há aqui um fato social devidamente valorado que se transmutou em norma.[...]
Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/a-teoria-tridimensional-do-direito/16039/#ixzz42ILW1j00
RACISMO
1. DOUTRINA RACISTA
Johann Blumenbach, considerado o fundador da antropologia física – dividiu a espécie humana em cinco raças e explicou as diferenças raciais como consequência das influências ambientais sobre uma forma ancestral única e comum a todos os homens.
Ao afirmar a existência de raças, estabelece-se um vínculo entre raças e culturas. Nessa ideia, as diferenças culturais e sociais são entendidas como diferenças raciais – A raça determinaria a cultura e existiriam raças e culturas superiores. 
O racismo pode ser definido como uma doutrina em que as manifestações culturais, históricas e sociais do homem e os seus valores dependem da raça. Segundo essa doutrina, existe uma raça superior (ariana ou nórdica) que se destina a dirigir o gênero humano. As concepções racistas constituem um fenômeno antigo (recusa do estranho), porém sua arquitetura teórica tem início no final do século XIX como o francês Gobineau, considerado o fundador da teoria racista. 
Para ele, as grandes raças primitivas que formavam a humanidade nos seus primórdios – branca, amarela, negra – não eram só desiguais em valor absoluto, mas também diversas em suas aptidões particulares. 
Depois da Primeira Guerra Mundial, os nazistas viram no racismo um mito consolador. Hitler, transformou o racismo no carro-chefe de sua política – afirma um rigoroso determinismo racial ao estabelecer que qualquer manifestação cultural de um povo depende de sua raça. Assim, a diversidade de culturas reforçava uma teoria racial da diferença. Esse determinismo será combatido por Franz Boas – afirma categoricamente: a raça não determina a cultura.
Em síntese as teorias racistas pretendem provar:
- Que existem raças.
- Que as raças são biológicas e geneticamente diferentes.
- Que há raças atrasadas e adiantadas, superiores e inferiores.
- Que as raças inferiores não são capazes de desenvolvimento intelectual e estão naturalmente destinadas ao trabalho manual, pois sua razão é muito pequena e não consegue entender as ideias mais complexas e avançadas.
- Que as raças mais avançadas estão naturalmente destinadas a dominar o planeta e que, se isso for necessário para o seu bem, têm o direito de exterminar as raças atrasadas e inferiores. 
- Que para o bem das raças inferiores e superiores, deve haver segregação racial (separação dos locais de moradia, de trabalho, de educação, de lazer...) pois a não segregação, pode fazer as inferiores arrastarem as superiores para o nível mais baixo, ou fazer as superiores tentarem inutilmente melhorar o nível das inferiores. 
Observa Chauí que as teorias racistas estão a serviço da violência, da opressão, da ignorância e da destruição. A biologia e a genética afirmam que as diferenças na formação anatômico-fisiológica dos seres humanos, não produzem raça. Raça é uma palavra inventada para avaliar, julgar e manipular diferenças biológicas e genéticas. 
Embora a ciência moderna conteste a existência de raças e confirme a impossibilidade de afirmar a superioridade ou inferioridade intelectual de um grupo étnico em relação a outro, a doutrina racista continua em evidência e insiste na relação raça-cultura. Pretende transformar diferenças étnicas e culturais em diferenças biológicas naturais imutáveis e separar os seres humanos em superiores e inferiores e reforçar a relação de dominação. 
RAÇA E GENÉTICA
Jornal Folha de S. Paulo (19/10/2007), o geneticista norte-americano James Dewey Watson, tido como codescobridor da estrutura do DNA e agraciado em 1962 com o Prêmio Nobel de Medicina, em entrevista ao Sunday Times (outubro/2007) declarou ser “pessimista em relação ao futuro da África” porque todas as nossas políticas sócias são baseadas no fato de que a inteligência deles (os negros) é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não é bem assim” (não explicou que testes são esses). 
Embora tenha se desculpado por suas ideias, Watson sugere que são os genes ou sequências de DNA que determinam a capacidade intelectual e o comportamento moral das pessoas. E nessa linha, outras pessoas, procuram essas diferenças no campo da genética ou biologia para justificar a superioridade de uma etnia sobre outra. 
Reflexão: O comportamento moral (racista) dessas pessoas é genético ou cultural?
Os antropólogos entendem que as diferenças entre umas e outras nações se devem à cultura. A cultura não é herdada geneticamente e sim, assimilada, aprendida, adquirida. A originalidade entre as culturas deve-se a circunstâncias geográficas, históricas, políticas e sociológicas e não a aptidões distintas ligadas à anatomia. 
NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL
Cesare Lombroso foi um professor universitário e criminologista italiano, nascido a 6 de novembro de 1835, em Verona. Tornou-se mundialmente famoso por seus estudos e teorias no campo da caracterologia, ou a relação entre características físicas e mentais. Lombroso tentou relacionar certas características físicas, tais como o tamanho da mandíbula, à psicopatologia criminal, ou a tendência inata de indivíduos sociopatas e com comportamento criminal. Assim, a abordagem de Lombroso é descendente direta da frenologia, criada pelo físico alemão Franz Joseph Gall no começo do século IX e estreitamente relacionada a outros campos da caracterologia e fisiognomia (estudo das propriedades mentais a partir da fisionomia do indivíduo). Sua teoria foi cientificamente desacreditada, mas Lombroso tinha em mente chamar a atenção para a importância de estudos científicos da mente criminosa, um campo que se tornou conhecido como antropologia criminal.
Lombroso no anseio de buscar as motivações das práticas criminosas, concentrou-se no estudo da essência do criminoso, desenvolvendo uma extensa pesquisa empírica de traços físicos e mentais com indivíduos encarcerados, doentes mentais e soldados, denominada Antropologia Criminal. Considerando tais elementos, a pesquisa de Lombroso estabeleceu esses traços em “estigmas” passíveis de determinação de um potencial delitivo. Neste sentido, despida de qualquer tipo de livre arbítrio, a prática criminosa estaria sujeita apenas às características patológicas do indivíduo.
O autor restringiu sua pesquisa à caracterização e dedução de tendências criminosas conforme a figura do delinquente, focando a análise empírica de diferentes fatores: composição física (como fisionomia, sensibilidade, agilidade, sexualidade, peso e idade), anomalias cranianas, composição biológica (como hereditariedade, reação etílica) e psicológica (como senso moral, inteligência, vaidade, preguiça e astúcia).
Os conceitos de Lombroso, fundamentados na pesquisa das características do indivíduo delituoso, a denominada “Antropologia Criminal”, acabou por definir o “Delinquente Nato”, o agente criminoso símbolo do trabalho lombrosiano. Tendo como principal fonte conceitual o livro “O Homem Delinquente”, o dito “Delinquente Nato” teria como origem comportamental o atavismo, levando-se em conta a teoria evolucionista de Charles Darwin, pela qual o sujeito atávico é aquele menos desenvolvido na escala evolutiva, sendo ele ainda submetido ao estado selvagem. Neste contexto, era objeto de atenção de Lombroso na determinação do criminoso nato, por exemplo, a tatuagem, sendo ela um indício de sua insensibilidade e selvageria, fatores intrínsecos ao atavismo. Assim, o desenho, a região do corpo, o número de tatuagens presente no indivíduo, pode revelar muito de sua vida e personalidade, levando-nosa traçar o seu potencial delitivo.
Para a complementação de sua pesquisa, no ímpeto de traçar a essência do Delinquente nato, o autor também estudou outras características físicas e psíquicas do criminoso, relacionando-as e complementando-as. Conforme foi se aprofundando nos seus estudos, Lombroso gradativamente ampliou sua teoria de modo a fundamentar a potencialidade delitiva de forma complexa e variável. Neste sentido Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro “Tratado de Direito, Penal Parte Geral”, 2013, p. 104: “Ao longo dos seus estudos foi modificando sucessivamente a sua teoria (atavismo, epilepsia, loucura moral). Em seus últimos estudos, Lombroso reconhecia que o crime pode ser consequência de múltiplas causas, que podem ser convergentes ou independentes. Todas essas causas como ocorre com qualquer fenômeno humano, devem ser consideradas, e não atribuir causa única. Essa evolução no seu pensamento permitiu-lhe ampliar sua tipologia de delinquentes: a) nato; b) por paixão; c) louco; d) de ocasião; e) epilético.” 
A loucura moral, por exemplo, considerando os estudos de Lombroso, seriam uma espécie de atrofia do senso moral a qual impele o sujeito a práticas criminosas. Na epilepsia, por sua vez, muito tratada no livro "Os Anarquistas", o autor encontra nas crises epiléticas um dos fundamentos para caracterizar o criminoso.
Diante das definições médico-científicas dada por Lombroso, dizia ele ser mais adequado encaminhar os delinquentes para médicos ao invés de manda-los a juízes, pois aqueles poderiam determinar a real potencialidade delitiva do indivíduo através da complexa relação das características físicas e mentais cientificamente definidas.
Com a finalidade de trazer o estudo da realidade e da essência da delinquência para medidas de manutenção da ordem social, depreende-se da opinião de Lombroso, apesar de seus esforços para evitar polêmicas e de sua promessa de cura da criminalidade, possíveis medidas práticas para a prevenção da delinquência, como a educação das crianças cujo potencial delitivo não se manifestou por inteiro, ou ainda, o isolamento perpétuo dos indivíduos com potencial de características criminosas, conforme seus conceitos e estudos, da convivência com a sociedade ou a própria morte. Neste sentido, Lombroso, em um opúsculo de 1893 denominado “As mais recentes descobertas e aplicações de psiquiatria e antropologia criminal” (Introdução do livro “O homem Delinquente”, Ícone Editora, 2ª reimpressão, 2013), diz: “Na realidade, para os delinquentes-natos adultos não há muitos remédios; é necessário isolá-los para sempre, nos casos incorrigíveis, e suprimi-los quando a incorrigibilidade os torna demasiado perigosos”
Lombroso ansiou detectar as causas da criminalidade, e o fez através de pesquisas científico-empíricas das características físicas, fisiológicas e psicológicas do indivíduo criminoso. Nasceu, a partir daí, o que chamamos hoje de Criminologia, uma ciência autônoma que se propõe a estudar o crime e as suas motivações a partir do indivíduo.
O HOMEM DELINQUENTE
Lombroso em sua análise da aplicação dos estudos zoológicos na ciência penal conclui que as mesmas relações de hierarquia, dominação e busca por liderança observadas, bem como os sentimentos de rivalidade, ambição, cobiça, exclusão e disputa por fêmeas são razões para agressões e mesmo morte nos integrantes inferiores do reino animal, tal qual para o homem delinquente. Percebe que os atos reputados mais criminosos pelos homens em sociedade são aqueles mais naturais.
Adepto da escola positivista da psicologia criminal, procura estabelecer características anatômicas, bem como manifestações de traços psicológicos comuns e predominantes, ao homem delinquente.
Na visão de Lombroso – baseada em Moreau, Perez e Bain – os germens do delinquente são notáveis logo nos primeiros anos de um ser humano. Para comprovar seu estudo, ele exemplifica 13 características de crianças que podem contribuir para desenvolver um delinquente: cólera, vingança, ciúmes, mentiras, senso moral, afeto, crueldade, preguiça e ócio, gíria, vaidade, alcoolismo e jogo, tendências obscenas e imitação.
A falta de freio desses hábitos reflete a má educação dada pelos pais, possibilitando então a delinquência nestas crianças, embora – segundo Lombroso – nem mesmo a boa educação salve as crianças pré-dispostas a esse mal.
Segundo Lambroso, os homicidas teriam olhar duro e cruel, com os globos oculares injetados de sangue, lábios finos, mandíbulas enormes e os ladrões teriam olhar vivo, errante, nariz comprido, retorcido ou achatado. Também consistiam em caracteres do delinquente nato: malformação das orelhas, maxilares proeminentes, cabelos abundantes, barba escassa, rosto pálido, uso da mão esquerda, daltonismo, estrabismo, preguiça, vaidade desmedida, uso de tatuagens...
Sobre as penas, Lombroso considera que o conceito de pena é consequência do delito. Sem delito, então, não há sanção.
O CRIMINOSO NATO
Em meados do ano de 1876, publicou-se o Tratado Antropológico Experimental do Homem Delinquente, do italiano Cesare Lombroso. Com a divulgação deste estudo empírico, propagou-se, a nível internacional, a chamada Teoria do Criminoso Nato, que, a partir de certas características físicas encontradas em alguns indivíduos, sobretudo mestiços, atestaria sua pré-disposição à vida criminosa.
O estudo teve sua publicação feita em uma época particularmente singular, o que erroneamente lhe indicou supostos subsídios de conclusão: era o século XIX e o mundo respirava entusiasmadamente as ideias da seleção natural de Charles Darwin e de outros tantos estudos eugênicos que, infelizmente, muitas vezes foram corrompidos e utilizados para timbrar — com falsa legitimidade — alguns dos regimes autoritários e totalitários da Era dos Extremos, o século XX.
Com estudos empíricos (consubstanciados na prática), a Teoria do Criminoso Nato “foi formulada com base em resultados de mais de quatrocentas autópsias de delinquentes e seis mil análises de delinquentes vivos; e o atavismo que, conforme seu ponto de vista, caracteriza o tipo criminoso — ao que parece —, contou com o estudo minucioso de vinte e cinco mil reclusos de prisões europeias.” (MOLINA; GOMES, 2006, p. 148)
A teoria lombrosiana do criminoso nato implicava que, mediante a direta análise das características puramente físicas, seria possível prever os indivíduos que se voltariam à vida criminosa, tendo a reincidência como um trajeto posterior e natural. Seria uma propensão congênita e irrenunciável à delinquência. “O delinquente padece uma série de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliares, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, orelhas em forma de asa, tubérculo de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de um determinado jargão [gíria], altos índices de reincidência etc.).” (MOLINA; GOMES, 2006, p. 149, acréscimo nosso)
Contudo, Lombroso não teria se atentado ao que notavelmente ocorria — e ainda ocorre — nos diversos níveis socioeconômicos da mesma sociedade: a mistura entre “raças”, o que gera indivíduos “fora” do típico padrão europeu, dá-se em maior número nas classes mais pobres, diferentemente do evidenciado na sua porção abastada. Isto é, essa divisão social enseja mais indivíduos mestiços numa mesma parcela da sociedade e geralmente ocorre por questões financeiras, que acabam por criar “castas econômicas”, que, de modo exemplificado, tornaram-se as classes baixa e alta. Esta procura manter distância do povo; aquela, entretanto, é o próprio povo.
Outro ponto que teria grandemente alicerçado a tese corresponde ao fato de que o mundo, a partir do século XV, colonizado foi em grande parte por brancos, sobretudo por europeus, e que a escravidão representou seu traço distintivo, desumano e gerador da divisão clara entre colonizadores e colonizados. Esta época, que perdurou por séculos, simplificadamente,representou a era Colonialista onde as metrópoles começaram a comandar o mundo.
À época, a ideia do Eurocentrismo — a Europa como o centro do planeta — se encontrava em franca propagação e a noção de superioridade da “raça europeia” sobre as demais seduziu autores e entusiastas que publicaram uma série de estudos até bizarros, se vistos com a visão de hoje. Naturalmente, a raça tida como caucasiana (branca) foi posta como a de maior expressão, a “superior”, sendo as demais seu contraponto, as “inferiores”.
Assim, baseados nos antecedentes seculares e enxergando o mundo sob o crivo das bandeiras europeias, Lombroso deu cabo aos seus estudos que acabaram por estigmatizar, como delinquentes, os mais diversos indivíduos inocentes que, por simplesmente trazerem consigo sinais característicos de sua origem, miscigenada ou não, foram marginalizados e algumas vezes “hasteados” como inimigos públicos.
No Brasil, o país mais miscigenado do planeta, assim como no tempo de Lombroso (e em quase toda a História), é notável e recorrente a restrição que alguns homens criam sobre seus semelhantes, de modo que sempre se pareceu buscada uma posição de destaque para si em detrimento dos demais e, dessa forma, afastando-se ou reduzindo de si o mútuo convívio por diversos motivos, principalmente sob os pretextos racial e econômico (este muitas vezes visto como algo diretamente ligado ao status social).
Por fim, ao deixar de lado os fatores exógeno, social e econômico do indivíduo, Cesare Lombroso amaldiçoou o fruto da miscigenação (mestiçagem) com o carimbo da recém-nascida ciência empírica.
Depois dos inesquecíveis e aterradores acontecimentos da primeira metade do século XX, acontecimentos estes como a política hitlerista da raça ariana que acabou por arrebatar o mundo a mais devastadora guerra da História, a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), procurou-se enterrar de vez essa e qualquer outra teoria que pusesse homens e mulheres em níveis diferentes por sua própria natureza.
Notável foi a repulsa à teoria de Lombroso que, em 21 de dezembro de 1965, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a convenção internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, sendo esta acolhida pelo Brasil, e dispondo, dentre outras, da terminante justificativa:
Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, não existe justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum.”
Atualmente, tal teoria apenas é utilizada para ensinamentos sobre a evolução histórica da Criminologia e do Direito Penal, também servindo como um macabro aviso às gerações posteriores para que não incorram no mesmo erro.
REFERÊNCIAS
PICK, Daniel. Faces of Degeneration: A European Disorder, C. 1848-1918
LOMBROSO, Cesare. O Homem Delinquente, Ed. Icone, 2013
LOMBROSO, Cesare. Os Anarquistas. Fuente: Editorial Antorcha
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal I, Editora Saraiva, 2013, 19ª Edição
PRADO, Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. Editora RT. 2008
FERREIRA, Antonio Carlos. Monografia "A Escola Positiva no Brasil: a influência da Obra "O Homem Delinquente", de Cesare Lombroso, no pensamento penal e criminológico brasileiro entre 1900 e 1940, 
BLAINEY, GEOFFREY. UMA BREVE HISTÓRIA DO SÉCULO XX. SÃO PAULO, SP: FUNDAMENTO, 2008.
HOBSBAWM, J. ERIC. A ERA DOS IMPÉRIOS, 1875-1914. TRAD. SIENI MARIA CAMPOS E YOLANDA STEIDEL DE TOLEDO. 18 ED. RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 2014.
BRASIL. DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969. PROMULGA A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL. SENADO FEDERAL. ACESSO EM: 12 MAIO 2015.
MATOS, DEBORAH DETTMAN. RACISMO CIENTÍFICO: O LEGADO DAS TEORIAS BIOANTROPOLÓGICAS NA ESTIGMATIZAÇÃO DO NEGRO COMO DELINQUENTE. ACESSO EM: 12 MAIO 2015.
MOLINA, ANTONIO GARCÍA-PABLOS; GOMES, LUIZ FLÁVIO. CRIMINOLOGIA: INTRODUÇÃO A SEUS FUNDAMENTOS TEÓRICOS; INTRODUÇÃO ÀS BASES CRIMINOLÓGICAS DA LEI Nº 9.099/95, LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS. 5. ED. SÃO PAULO: REVISTA DOS TRIBUNAIS, 2006.
SÉMELIN, JACQUES. PURIFICAR E DESTRUIR: USOS POLÍTICOS DOS MASSACRES E GENOCÍDIOS. TRAD. JORGE BASTOS. RIO DE JANEIRO: DIFEL, 2009.

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