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Abstenção de Direitos na Democracia Brasileira

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ANA CAROLINA SOUZA
ELIACI REIS SOUZA 
LEILIANE CARVALHO JULIÃO
ABSTENÇÃO DE DIREITOS
Ensaio solicitado pela docente Raquel Santos, como forma de avaliação da disciplina Ciências Políticas. 
CACHOEIRA – BA
2019
Introdução 
Na política, a abstenção de diretos, é se negar a tomar certas decisões, seja em situações que envolvem o coletivo, ou em situações corriqueiras do cotidiano, em algum momento será preciso se posicionar diante de alguns processos que necessitam da participação popular, e alguns cidadãos preferem não se envolver. Assim surge a questão: Por que a negação do voto vem acontecendo cada vez com mais frequência?
Diante deste questionamento, discutiremos acerca da democracia brasileira e abstenção de direitos, inclusive ao voto, fazendo uma análise literária e social do termo, usando como exemplo o fenômeno que ocorreu nas últimas eleições, resultando em um caos na política brasileira, onde grande parte da população se negou a ir às urnas, o que produziu um governo que não contempla a todos, indo contra ao que se entende como democracia. 
Abstenção de direitos 
A palavra democracia vem do grego “demokratia”, onde ‘demo’ significa povo e ‘kratia’, poder; o que seria uma organização onde o controle das ações decisivas da sociedade se encontra nas mãos do povo, cabendo a este escolher seus governantes, expressar suas vontades e discordar daquilo que foge aos seus direitos. Mas, o que fazer quando o próprio povo escolhe contra si mesmo? Como agir quando parte da população se vê no direito de decidir por todos e assim ferir toda a população?
Após a democratização, as pessoas passaram a escolher e opinar sobre questões individuais e coletivas, podendo escolher representantes que mais se aproximavam de seus ideais, e assim os colocava no poder, como defende Schumpeter (1984), “o papel do povo é produzir um governo, porém, sabemos que atualmente parte da população, mesmo em função de seus poderes de escolher, abre mão de seus direitos, exclui de seu dicionário a palavra democracia e seu significado”.
Seja em grandes decisões, como a escolha de governantes, ou em pequenos atos como resolver uma pendência no banco, ás pessoas ainda tendem a ignorar o todo que as cercam. Hoje não se vê mais discursos de ódio camuflados, as pessoas que se candidatam ao poder, em sua maioria, deixam claras as suas intenções, seus históricos não mentem, suas escolhas gritam por si só, ainda assim a sociedade abraça essas idéia. Seria por falta de informações? Falta de opções?
 Ouso-me dizer que o que está instaurado hoje no meio social, é uma espécie de cansaço, cansaço advindo daqueles que não foram tão favorecidos na vida quanto outros, e por verem que o que prevalece são as vontades de quem tem mais, de quem sabe mais, acabam deixando as coisas como estão.
 Vejo pelo resultado das últimas eleições à presidência da República. Como um país onde já se somam mais de 13,5 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), elege um presidente que diz que ‘passar fome no Brasil é uma grande mentira’? Seria mais uma vez a população abrindo mão de seus direitos mesmo que historicamente falando, já se sabia o que viria do citado representante.
Schumpeter (1984), ainda traz que “os ideais do povo e do Estado, e sobre as manobras que são realizadas por eles para que haja a idéia de que o poder ainda está sobre o povo, brincam com cada indivíduo, seja em seus interesses individuais ou coletivos’. Destaco também a rivalidade entre classes sociais que surge no momento em que os diferentes interesses de diferentes grupos são colocados em pauta. 
Neste contexto, o que temos visto hoje são pessoas com interesses próprios e egoístas que se lançam a ludibriar parte da sociedade provocando seus desejos, e essas pessoas se vêem rendidas a conquistar o máximo de votos para eleger aquele que representa seus ideais, esquecendo que a democracia é um poder de todos, e não de parte da população, e no fim, quem sempre acaba pagando por estas escolhas e por essa negação de direitos, é a classe média-baixa, pois não são mais ouvidos, continuam sendo ignorados e esquecidos.
Para o teórico Schumpeter, 
(...) o método democrático deva garantir que as questões sejam decididas e as políticas sejam estruturadas de acordo com a vontade do povo, deve aceitar também o fato de que, mesmo que tal vontade do povo deva aceitar também o gato de que, mesmo que tal vontade seja inegavelmente real e definida, a decisão por maiorias simples ira; em muitos casos, destorcê-la, em lugar de efetivá-la. (Schumpeter, 1984)
Podemos usar como exemplo dessa distorção, o grande fato que ocorreu nas últimas eleições, onde o número de votos brancos e nulos foram alarmantes. Como justificativa destas ações, a população se valia do seguinte argumento “me abstenho de votar como forma de protesto”, um protesto que culminou na derrota dos direitos do proletário e ascendeu o mecanismo de distorção da democracia.
Foi entendido por parte da sociedade que, se todos negassem ir às urnas, poderia haver um novo processo eleitoral, ou que a vontade do povo fosse ser escutada de forma clara, porém, por estarem alienados de forma tão grotesca, mais uma vez a população abriu mão de seu direito de escolha, de buscar quem mais se assemelhasse com seus ideais. 
Dentro deste ideal não se atentaram para o fato de que muito provavelmente, os votos que não foram dados nesse “protesto” poderiam sim ter exercido a vontade do povo, e não permitiria que a vontade da maioria fosse feita, pois a vontade da maioria não é a vontade do povo, como afirma Schumpeter. 
Esta abdicação do voto gerou um caos populacional, criando um ciclo vicioso; parte da sociedade abre mão de seu direito de escolher, o que dá suporte para que a maioria escolha por todos, e o povo acabada por não ter condições de se impor e escolher, e os poucos direitos que lhes restam, ainda continuam sendo violados. Schumpeter ainda defende que, 
partido e máquina política são simplesmente a resposta ao fato de a massa eleitoral ser incapaz de qualquer ação que não seja o “estouro da boiada” e constituem uma tentativa de regular a competição política que é exatamente semelhante às práticas correspondentes de uma associação comercial. (Schumpeter, 1984) 
Sendo assim, faz-se necessário um levante populacional, onde haja forças e autoridade para de fato exercer o significado da palavra democracia, pois, é de conhecimento mundial que teorias não mudam situações, e sim a prática delas. 
Conclusão 
Embora no último pleito eleitoral tenha havido um número grande de abstenção de votos, diante dos expostos, fica nítido o quão importante é que o cidadão exerça seu direito de escolha, pois em uma política representativa democrática, para o autor, a vontade da maioria não deve se tornar a vontade de todos, uma vez que não resolverá os problemas da população em geral. Na medida que o cidadão é carregado de direitos e deveres pelo Estado, é preciso que se tenha meios para que haja participação ativa da população no processo de escolha de seus representantes.
Havendo escolha por parte do povo, fica assegurado que os escolhidos representem de forma mais fidedigna a população, evitando que se predomine interesses próprios ou mesmo que o poder se concentre nas mãos de uma pequena parcela da sociedade, pois caso isso aconteça, há grandes chances desse poder ser usado com finalidades privadas, fazendo que o povo perca o controle das decisões a serem tomadas, fugindo totalmente do conceito de exercício democrático do voto, violando um direito que é de todos. 
 Assim, parte do eleitorado se frustra ao ver que suas demandas não foram atendidas, pois ás intenções do representante eleito não o contempla, gerando perda do interesse em participar desse processo de escolha de um novo representante, o que causa mais abstenções de votos. 
Referências
SCHUMPETER, Joseph A. Outra teoria da democracia. In: SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio deJaneiro: Zahar Editores, [1984]. Cap. 22. p. 336-353.
JIMÉNEZ, Carla. Extrema pobreza sobe e Brasil já soma 13,5 milhões de miseráveis. 2019. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/06/politica/1573049315_913111.html>. Acesso em: 26 nov. 2019.
Democracia. 2019. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/democracia/>. Acesso em: 26 nov. 2019.
MERELES, Carla. Democracia representativa de fato nos representa? 2017. Disponível em: <https://www.politize.com.br/democracia-representativa-de-fato-nos-representa/>. Acesso em: 09 dez. 2019

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