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Assepsia e Antissepsia Luciano Sampaio Guimarães - Medicina UFPE 144 · Infecções Exógenas: utilização inadequada de instrumentais cirúrgicos, não observância das boas práticas de limpeza e desinfecção e falhas no reprocessamento de artigos · Infecções Endógenas: decorrentes de micro-organismos no próprio paciente · Descontaminação: processo em que se reduz o número de micro-organismos em um local determinado (material cirúrgico, superfície, etc). São exemplos de métodos de descontaminação a limpeza, a desinfecção, a antissepsia e a esterilização 1. Limpeza: eliminação de material estranho visível (pó, sujeira) de um elemento usado em interação com o paciente ou não. Todos os materiais devem ser limpos antes da antissepsia ou esterilização. 2. Desinfecção: uso de meios físicos ou químicos, conseguindo eliminar todos os microrganismos em forma vegetativa sobre uma superfície inanimada. Pode ser de alto, médio ou baixo nível. 3. Esterilização: elimina todas as formas viáveis de vida microbiana, inclusive os esporos, por meio físico ou químico, de uma superfície inanimada. 4. Antissepsia: uso de agentes químicos no intuito de inibir a reprodução ou eliminar os microrganismos de uma superfície animada (pele/mucosas de paciente, profissional de saúde). Ação germicida de baixa causticidade. 5. Assepsia: práticas que tornam livres de microrganismos os instrumentais (o meio) que entrarão em contato com o paciente durante a cirurgia 6. Degermação: remoção mecânica de detritos e impurezas da pele; não há ação germicida. OBS: germicidas são substâncias químicas que podem ser usadas sobre superfícies animadas ou inanimadas; desinfetantes são germicidas usados apenas sobre superfícies inanimadas, enquanto que os apenas de superfícies animadas são os antissépticos, que têm ação germicida letal/inibitória. · Objetivo: expor o paciente a um ambiente pobre de microrganismos, diminuindo a exposição e a contaminação. · Toda cirurgia tem risco de infecção, mas cerca de 35% delas é evitável, não dependendo da diminuição dos mecanismos de defesa do paciente. · Deve-se, na medida do possível, manter: paciente, equipe cirúrgica e ambiente cirúrgico livres de microrganismos. · Causas: · Fatores dependentes das bactérias · Número e virulência · Interferência com mecanismos de defesa (ex: inibição da fagocitose, resistência à morte intracelular) · A média do nº necessário de bactérias para iniciar uma infecção é de 105 g/tecido e 105 ml/líquido orgânico · Fatores dependentes do hospedeiro que aumentam o risco de infecção · Idade > 60 anos: 3x · Desnutrição: 3x · Infecção ativa: 2-3x · Obesidade: 2x · Corticoterapia: 2x · Diabetes: 2x · Fatores de risco à infecção pós-cirúrgica · Tipo de cirurgia: contaminada (2x) ou infectada (4-6x) · Hospitalização pré-operatória: acima de 1 semana (4x) · Cirurgia de urgência: 3-4x · Duração > 3 horas: 3-4x · Tricotomia inadequada: 2x · Bisturi elétrico: 2x · Drenos laminares: 2x · Cuidados com o paciente: · Identificar fatores de risco (ex: diabético com glicemia > 200; desnutrido; unha encravada – ↑ risco de infecção) · Banho corporal pré-operatório: lavar principalmente cabeça, axila e genitália · Banho completo, água corrente · Uso de detergentes (ex: hexaclorofeno) · 6 horas de antecedência (último consenso: 2-3h antes) · Tricotomia: raspagem de pelos, deve ser evitada sempre que possível · Os pelos são fonte de contaminação, mas pode causar dano superficial na pele · Quebra a barreira de defesa da pele; ↑ nº de microrganismos; foliculites · Há colonização da superfície por bactérias de maior profundidade · Só precisa fazer se os pelos dificultam visualização do campo ou colocação do curativo · Se necessário, fazer o mínimo possível na área 1-2h antes ou na hora da cirurgia com barbeadores elétricos, que não causem abrasões na pele · Antissepsia do campo operatório · Deve ser no momento da cirurgia de forma centrífuga (centro → periferia) · Uso de germicidas pouco tóxicos de ação rápida, residual · Cuidados com a equipe · Roupas: trocar por calça e blusa esterilizadas, cobrir pés · Gorros e máscaras: respiração expele bactérias (especialmente GRAM + como Streptococcus hemoliticus e Staphylococcus aureus). Reduz muito a quantidade de partículas expelidas ao falar. · Mãos: lavar as mãos é a melhor profilaxia contra infecção hospitalar · Para escovação das mãos, manter unhas cortadas e limpas · Usar antissépticos (CDC – Center of Diseases Control and Prevention) · Limpar todos os bordos da mão e enxugar com toalha estéril · Duração de 5 minutos no primeiro procedimento do dia e de 3 minutos nos procedimentos seguintes · Usar solução alcoólica à 95% (antisséptico: PVPI ou clorexidina) · Aventais: estéreis, devem cobrir abaixo dos joelhos e até o punho · Impermeáveis (porosidade de 10 micras) · Luvas: sugere-se trocá-las a cada 2h (OMS não recomenda nada porque não há evidência) · São uma proteção mútua; índice de furos: 20% cirurgião · Cuidados com o ambiente cirúrgico · Os cuidados de assepsia e antissepsia visam diminuir a quantidade de microrganismos do meio externo e flora do paciente, seja ela normal ou patológica · A bactéria hospitalar é selecionada e possui alta virulência · Quanto maior a permanência pré-operatória, maior o risco de infecções · De acordo com a Classificação de Spaulding, distingue-se os instrumentais cirúrgicos: · Artigos Críticos: são destinados à penetração, entram em contato com cavidades ou tecidos estéreis. · Em caso de contaminação, o risco de causar infecção é elevado. · Precisam ser esterilizados (devem estar livres de microrganismos). · Precisam ser termorresistentes (processo físico de esterilização) e termossensíveis (processos químicos ou irradiação) · Ex: lâminas de bisturi, cateteres, próteses, instrumental cirúrgico, soluções injetáveis, roupas do centro cirúrgico, obstétrico e da unidade de queimados. · Artigos Semicríticos: entram em contato com mucosas e pele não íntegra. · Essas áreas são resistentes à esporos bacterianos, mas não às outras formas de microrganismos · Devem ser submetidos à desinfecção de alto nível (ou até mesmo esterilização, dependendo do propósito) · Difícil livrá-los de microrganismos sem danificá-los · Termorresistentes; termossensíveis; alimentos devem sofrer lavagem exaustiva · Ex: instrumentos de anestesia ou suporte ventilatório, cateteres e sondas, endoscópios, medicamentos orais e inaláveis, pratos, talheres e alimentos · Artigos Não Críticos: entram em contato com pele íntegra ou não entram em contato com o paciente · Basta submetê-los a uma desinfecção de baixo/médio nível · Admite-se apenas a presença de pequena qtd. de microrganismos, normalmente encontrada na flora humana · Ex: mesas, aparelhos de raio X, banheiro, microscópio cirúrgico, telefone, mobiliário, artigos de higiene do paciente, recipientes de lixo · Áreas Críticas: limpeza e desinfecção diárias · Pela diminuição da resistência do paciente: sala de cirurgia e parto, sala de recuperação pós-anestésica, UTI, unidade de queimados, hemodiálise, berçário de alto risco · Risco aumentado de transmissão: quarto de isolamento de doenças transmissíveis, banco de sangue, laboratório de patologia, cozinha e lactário, sala de necrópsia, lavanderia · Áreas Semicríticas: limpeza e desinfecção diárias · São as dependências ocupadas por pacientes de doenças não infecciosas ou infecciosas de baixa transmissibilidade · Áreas Não Críticas: limpeza diária · Todas as áreas não ocupadas pelos pacientes, ou cujo acesso é vedado a eles. · Agentes Esterilizantes, Antissépticos e Desinfetantes · Agentes Físicos · Calor úmido: fervura, vapor sob pressão (autoclave) · Calor seco: flambagem, estufas · Pasteurização (aquecer a uma dada temperatura e resfriar bruscamente) · Filtração: filtros · Radiação Ionizante: gama, elétrons de alta energia · Agentes Químicos · Líquidos: álcoois (especialmente isopropílico e etílico), hexaclorofeno, hipoclorito de sódio, clorexidina, formaldeído · Gasosos: formaldeído, óxido de etileno · Antissépticos· A flora microbiana transitória é sensível à ação de degermantes; · Para a flora microbiana permanente, é necessário ação de substâncias antissépticas · Clorexidina: biguanida catiônica de baixo custo · Sua ação depende do pH, sua apresentação deve ser em meio alcalino · Mais atuante contra GRAM +; ação parcial sobre fungos e quase nula sobre vírus e bacilo da tuberculose · Início de ação imediato (15 seg), embora mais demorado que os álcoois · Pouco irritante quando usada sob a pele, é pouco absorvida em pele/mucosas · Efeitos colaterais: ototóxica, pode causar surdez · Efeito residual importante: persistência do efeito antisséptico por até 6 horas · Inibida por: sabão, soro, sangue, detergentes aniônicos e cortiça · Formulações (base aquosa, de álcool e em sol. degermante) ↳ solução alcoólica de gluconato de clorexidina à 0,5%: reduz a microbiota da pele, em única aplicação, em 85-95% ↳ solução aquosa de gluconato de clorexidina à 4%: reduz a microbiota da pele, em única aplicação, em 70-86% · Iodo: mais eficiente dos antissépticos · Início de ação mais lento (2 min) e ação residual mínima – a secagem rápida diminui a disponibilidade · Ação bactericida, tuberculicida, fungicida, viruscida; potencializada pela adição de iodeto de potássio · Há perda da efetividade quando em contato com matéria orgânica (ex: sangue e fezes) · Efeitos colaterais: podem ser absorvidos por pele/mucosas e causar acidose metabólica severa e hipotireoidismo em neonatos. · PVP-I: iodopovidona – não queima, não mancha tecidos, poucas reações alérgicas, mantém ação germicida residual · Aplicação tópica reduz a microbiota da pele de 68-84% em única aplicação e 92-96% em 6 aplicações OBS: as formulações de tintura de iodo provocam acentuados efeitos irritantes sobre pele e mucosas, inviabilizando seu emprego. · Agentes Inadequados · Hexaclorofeno: excelente ação antisséptica; ação rápida e residual, amplo espectro · Efeitos adversos: encefalopatia vacuolar em neonatos, edema cerebral e potencial efeito teratogênico · Álcoois: ação por desnaturação das proteínas de parede celular, excelente ação antisséptica · Ação rápida e amplo espectro; os mais adequados são: etílico e isopropílico · Efeitos adversos: ação residual nula (secagem rápida), voláteis e inflamáveis, lesão cutânea e nas mucosas, ação diminuída na presença de matéria orgânica · Rotinas de limpeza de material cirúrgico vídeo-laparoscópico · Material termossensível de elevado investimento (óptica, cabos, borrachas, câmera, instrumentais) · A desinfecção química traz maior praticidade, rapidez, baixo custo, eficácia comprovada · Padronização: desmontagem, limpeza do instrumental, desinfecção, remoção do germicida, montagem, acondicionamento
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