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Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária INFECÇÃO DO PONTO DE VISTA CIRÚRGICO ♦ Conjunto de alterações determinadas pela penetração e desenvolvimento de microrganismos patogênicos no organismo animal ♦ A presença de solução de continuidade na superfície do organismo animal constitui porta de entrada das infecções. ♦ Infecção: conjunto de fenômenos biológicos que se desenvolvem no organismo animal pela ação de microrganismos e suas toxinas, caracterizado por um processo de defesa orgânica com reações locais e gerais: ⚯ dependem: do próprio agente invasor, do local de implantação do agente, das condições do organismo do paciente ♦ Inflamação: conjunto de fenômenos de reação local que se produz nos tecidos irritados por agentes físicos, químicos, biológicos ou bacterianos, os quais modificam a estrutura físico-química dos tecidos ⚯ é frequente em cirurgia, tratando-se, geralmente, de um processo bioquímico, causado pela manipulação mecânica. PROFILAXIA DAS INFECÇÕES ♦ Relacionada com um conjunto de medidas destinadas a impedir o aparecimento de infecções no paciente cirúrgico ♦ Assepsia: conjunto de procedimentos, cuidados e técnica cirúrgica adequada empregados com o intuito de prevenir a contaminação dos tecidos durante a intervenção cirúrgica ⚯ procedimentos/cuidados: ▸ entrar na sala de cirurgia devidamente paramentado ▸ evitar movimentação desnecessária dos membros da equipe cirúrgica ▸ volantes devem ficar a pelo menos 1m de distância da mesa de instrumental cirúrgico, do campo operatório e dos membros da equipe cirúrgica, evitar conversação na sala de cirurgia, ▸ pessoas doentes, com tosse ou espirro, não devem permanecer no interior da sala cirúrgica ▸ as costas dos aventais cirúrgicos, região axilar e abaixo da cintura: contaminadas luvas furadas durante o procedimento cirúrgico devem ser imediatamente trocadas ▸ evitar hospitalização prolongada desnecessária do paciente (pré e pós-operatórios) ▸ não realizar cirurgias em paciente com algum tipo de infecção concomitante, caso seja possível ▸ não realizar tricotomia com mais de duas horas antes do ato cirúrgico ▸ ter área de preparo pré-operatório separada da sala cirúrgica Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária ⚯ técnica cirúrgica adequada: ▸ manipulação cuidadosa dos tecidos e no menor tempo cirúrgico possível ▸ empregar adequadamente a hemostasia ▸ evitar suturas apertadas e excessivamente próximas ▸ realização de justaposição anatômica dos tecidos, em abordagem de órgãos ocos (contaminados), proteger as áreas adjacentes de possíveis extravasamentos de conteúdo e, após a abordagem dessas estruturas, trocar todo material contaminado por outros esterilizados para dar prosseguimento ao procedimento cirúrgico ▸ não utilizar drenos contaminados ♦ Antissepsia: processo que leva ao extermínio de microrganismos em tecidos vivos, como mãos e braços do cirurgião durante a escovação cirúrgica, e a pele do paciente durante a preparação cutânea ⚯ não se obtém esterilização, pois a flora microbiana residente permanece na pele ♦ Esterilização: processo pelo qual se faz a eliminação completa dos microrganismos, incluindo bactérias, vírus e esporos, sobre os objetos inanimados que entram em contato direto com o campo cirúrgico ⚯ roupa cirúrgica, gaze, instrumental cirúrgico, luvas, materiais de curativo e de sutura ⚯ não existe esterilização parcial ♦ Desinfecção: processo pelo qual se faz a destruição de grande parte dos microrganismos patogênicos presentes em objetos inanimados localizados no ambiente cirúrgico ⚯ mesa cirúrgica, equipamentos, bancos, janelas, pisos, paredes, macas, aparelho de anestesia inalatória ♦ Risco de contaminação do paciente: deve ser levado em consideração durante todos os tempos cirúrgicos (pré, trans e pós-operatório). ⚯ utilizar métodos e práticas que evitem contaminação ⚯ obedecer os princípios de assepsia, antissepsia, esterilização e desinfecção; ⚯ é possível reduzir o risco de infecção da ferida cirúrgica com: manutenção e desinfecção do ambiente cirúrgico, esterilização dos instrumentais cirúrgicos, antissepsia da equipe cirúrgica e do campo cirúrgico, utilização de técnica cirúrgica adequada e tratamento pós-operatório apropriado. MÉTODOS PARA PROFILAXIA DAS INFECÇÕES ♦ De forma geral, superfícies do ambiente, equipamentos, materiais cirúrgicos, pele do cirurgião e pele do paciente devem estar previamente limpos (sem sujidades, sem matéria orgânica e sem sabões) e secos antes de utilizar qualquer um dos métodos a seguir. AGENTES FISICOS Calor ♦ Fervura (água em ebulição): método de calor úmido ⚯ o material a ser esterilizado ou desinfetado, como instrumental cirúrgico, deve ser submerso na água à temperatura de 100º C por no mínimo, 20 minutos ↳ existem esporos e vírus não envelopados que resistem à fervura por 24 horas (desinfecção) ↳ a imersão em água diminui a vida útil de instrumentos cortantes. ♦ Vapor circulante: autoclave - apenas desinfecção, vapor a 100º C. ♦ Calor seco: estufa - apenas desinfecção, a 100º C (forno de Pasteur) Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária ♦ Flambagem: técnica menos recomendada ↳ instrumentos cortantes perdem o fio rapidamente e há desajuste do instrumental devido à dilatação metálica ♦ Corrente de ar quente: obtida por meio de calor seco na estufa ↳ esterilização de instrumentos cortantes e vidraria que poderiam ser danificados pela umidade ⚯ o efeito esterilizante a partir de 160º ↳ relação direta entre temperatura e tempo de exposição do material ⚯ obtida por meio de calor seco na estufa: ♦ Vapor d’água sob pressão: calor úmido na autoclave ⚯ método mais comum de esterilização ⚯ esterilização de instrumentos cortantes (apesar de terem sua vida útil comprometida pela umidade), rouparia cirúrgica, instrumentos de borracha e plásticos ↳ requer um tempo de exposição menor do material e temperatura mais baixa ⚯ alto poder de penetração, eficiência antimicrobiana, facilidade de controle e é um dos métodos de esterilização mais econômicos Filtração ♦ Emprego de filtros adequados nas ventilações artificiais excluem de 90 a 98% dos microrganismos aerotransportados ♦ Consegue-se apenas desinfecção ♦ Para medicamentos líquidos podem ser utilizados filtros impermeáveis para bactérias e vírus ⚯ Exemplos: filtros de celulose, vidro, cerâmica, membranas Radiaçao ♦ Radiação Ionizante: radiações de pequeno comprimento de onda ↳ altíssima energia e penetrabilidade ⚯ devido ao elevado custo e ao perigo deste método, seu uso é restrito ao campo industrial ⚯ materiais cirúrgicos descartáveis (fios de sutura, seringas plásticas e luvas cirúrgicas) ⚯ esterilização por radiação gama (originada a partir de fontes de cobalto-60). ♦ Radiação Não-ionizante: radiações de baixa energia, na forma de luz ultravioleta ⚯ destruição de microrganismos aerotransportados ⚯ para melhor eficiência, devem ser colocadas em ar condicionado central ou ductos de calor ⚯ pouca penetração em sólidos e líquidos ⚯ apenas desinfecção por este método AGENTES QUIMICOS ♦ A morte dos microrganismos ocorre pelo seu contato direto com algum produto químico ♦ Pode ser empregado na sua forma gasosa (esterilização por gás) ou líquida (esterilização química a frio = desinfecção) ⚯ os desinfetantes devem ser atóxicos, solúveis em água e umectantes, e não devem ser inativados por proteínas e sabões. Óxido de Etileno ♦ Exposto ao gás dentro de uma câmara especialmente elaborada para essa finalidade ⚯ grau de umidade ideal: 40%, ⚯ temperatura ideal: entre 52 e 58ºC ⚯ concentração: 450 a 1500 mg/L (12% de óxido de etileno e 88% de CO2) ⚯ tempo de exposição do material: 3 - 6 h ⚯ não esteriliza substâncias dentro de vidro Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária ♦ Desvantagens: altamente tóxico, teratogênico, mutagênico e carcinogênico para os tecidos, irritante para olhos e mucosas. Álcool ♦ Álcool etílico a 70% e álcool isopropílico a 50 – 70%, são bactericidas, mas têm pouco efeito contra vírus e esporos ♦ Em concentrações mais fracas são apenas bacteriostáticos ♦ Efetivos contraProteus e Pseudomonas ↳ são efetivos apenas à medida que permanecem na forma líquida em contato com o local ♦ Antissépticos em tecidos saudáveis (no processo de antissepsia) ♦ Não devem ser usados para curativo em feridas, pois lesionam os tecidos e desnaturam proteínas, formando coágulos. Aldeídos ♦ Glutaraldeído a 2%: em solução aquosa é ácido e não tem ação esporicida. ⚯ faz apenas desinfecção, tempo de imersão de 10 minutos ⚯ em solução alcalinizada, com pH entre 7,5 e 8,5 torna-se esporicida ⚯ tempo de imersão de 8 - 10 horas, utilizado em artigos que não podem ser submetidos aos métodos físicos ⚯ desvantagens: toxicidade, dermatite e sensibilização da pele, irritação de olhos e mucosas, desprende vapores tóxicos para o sistema respiratório. ♦ Formaldeído: gás disponível na forma líquida em soluções de 37 a 40%, chamadas formalina, e na forma sólida polimerizada em paraformaldeído (formalina sólida) ⚯ descontaminação de ambientes fechados, por fumigação, esterilizante de artigos críticos ↳ requer um tempo de exposição de 24 horas ⚯ apresenta ampla atividade, inclusive em micobactérias, fungos, vírus e bactérias vegetativas e em forma de esporos ⚯ ação esporicida lenta, requerendo tempo de contato longo ⚯ desvantagens: altamente tóxico, endurecimento e esbranquiçamento da pele, dermatite de contato e reações de sensibilização, irritante para olhos e sistema respiratório, potencial carcinogênico, ⚯ rotineiramente é dissolvido em detergente e é usado para desinfecção de ambientes (inativa parvovírus) Fenóis ♦ Ação bactericida, fungicida, viricida e tuberculicida ↳ alguns estudos mostram que não têm ação esporicida ♦ São de escolha para tratar contaminação fecal por Salmonella ♦ Altamente tóxicos para felinos ♦ Não são recomendados para artigos críticos, pois o resíduo que permanece nos materiais é irritante para os tecidos do paciente, além de não terem efeito esporicida ↳ descontaminação de superfícies inanimadas ♦ Triclosan: não apresenta efeitos irritativos para a pele ⚯ pó branco e inodoro, geralmente associado a detergentes aniônicos e com pH ácido a neutro, ⚯ possui compatibilidade com iodo povidona e álcool ⚯ utilizado para: lavagem pré-cirúrgica da pele, antisséptico bucal, desinfetante de superfícies ↳ na concentração de 0,3% desodorizante no banho de pacientes humanos ♦ Alquifenóis (cresóis) e compostos difenílicos (hexaclorofenol): ⚯ os cresóis (creolina) são extremamente tóxicos, têm alto poder carcinogênico, ação corrosiva e odor desagradável Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária ⚯ o hexaclorofeno causa fotossensibilidade e despigmentação da pele, irritação em olhos e mucosas e pode ser neurotóxico. Halógenos ♦ Compostos clorados: hipoclorito de sódio ⚯ desinfetante mais amplamente utilizado ⚯ devem ser armazenados em água tamponada com pH 8,0, em embalagem opaca ↳ ação germicida decai à medida que o pH aumenta ⚯ os alvejantes caseiros possuem concentração em torno de 5,25% ↳ a diluição deve ser de 500 a 5000 ppm = 1:100 à 1:10 ⚯ desinfecção de superfícies inanimadas: bactérias vegetativas, esporos e vírus ↳ inativa parvovírus. ♦ Compostos iodados: iodo ⚯ são utilizadas soluções à base de iodo para ação desinfetante e antisséptica ⚯ preparações pré-operatórias: antissepsia cirúrgica das mãos e dos braços da equipe cirúrgica e do campo cirúrgico ↳ não é indicados para desinfecção de metais e plásticos (corrosão) ⚯ alguns podem manchar a roupa e provocar reações alérgicas na pele e mucosas ⚯ Preparação: Iodo 5% em solução de álcool etílico a 70% ⚯ desinfecção de superfícies inanimadas: esporicida, fungicida e um pouco viricida (dependendo do tempo de exposição), ⚯ reduz efetivamente a microbiota cutânea do campo cirúrgico em um minuto (pele do paciente), ⚯ iodóforos: combinação entre o iodo e agente solubilizante (detergente) ↳ iodo povidine (iodo e polivinilpirrolidona) ↳ ação bactericida, micobactericida, pouco fungicida e viricida (dependendo do tempo de exposição = mínimo de dois minutos), ↳ relativamente livre de toxicidade e irritabilidade. Peróxido de Hidrogênio ♦ Desinfetante e esterilizante ⚯ concentração de 3% (10 volumes): desinfetar superfícies, limpeza doméstica para desinfetar banheiros e lavar frutas e verduras, desinfetar feridas, tratar erupções cutâneas, e como um eficaz e barato antisséptico bucal ♦ Usado como desinfetante e esterilizante, na concentração de 6% (20 volumes) a 7,5%, com tempo de exposição de 60 minutos ↳ para instrumentos médicos e cirúrgicos termossensíveis, substituindo o glutaraldeído a 2% ♦ Desvantagens: ⚯ propriedades corrosivas para zinco, cobre e latão ⚯ episódios de enterite ou colite ↳ pacientes submetidos à endoscopia e/ou colonoscopia com equipamentos desinfetados por esse agente ⚯ em concentrações elevadas pode causar queimaduras dérmicas graves e a respiração do seu vapor ou a sua ingestão integral pode ser perigosa e até mesmo fatal Desinfetantes de Baixo Nível ♦ Não destroem esporos, Mycobacterium tuberculosis e nem vírus não envelopados, mesmo em tempo prolongado. ♦ Para limpeza doméstica ♦ Não devem ser usados como antissépticos ou como desinfetantes em recipientes por imersão ♦ Microrganismos, como Pseudomonas, são capazes de se multiplicar nessas condições ♦ Compostos quaternários de amônio: bactericidas, fungicidas e viricidas ⚯ ineficazes contra vírus não envelopados e micobactérias ⚯ cloreto de benzalcônio é um detergente efetivo ⚯ redução na sua ação antimicrobiana ⚯ uso limitado para desinfecção de superfícies ↳ pisos, mobiliários e paredes Maria Lídia Resende - Medicina Veterinária ⚯ Desvantagens: irritação e sensibilização da pele, são poluentes ambientais, danificam borrachas sintéticas e alumínio. ⚯ são bacteriostáticos, necessitando de grandes concentrações para alcançar o efeito bactericida ⚯ não são mais utilizados: aumento da resistência dos micro-organismos, efeitos tóxicos sobre os tecidos, são corrosivos para metais, são pouco ativos nos líquidos corporais, são inativados por matéria orgânica, Metais ♦ Antissepsia em oftalmologia ♦ Nitrato de prata 60% de prata e vitelinato de prata 20% de prata ⚯ ação menos irritante, porém com menor eficácia antisséptica ♦ Quando utilizado por um período prolongado ou em altas doses, pode causar argiria ↳ argiria: coloração cinzenta- pardolenta ou azulada de pele e mucosa ocular Clorexidina ♦ Desinfetante de médio nível ♦ Não destrói esporos, mas tem ação contra bactérias, fungos e leveduras ♦ Amplamente empregada na antissepsia da equipe cirúrgica e do campo operatório ♦ Formulações comerciais mais utilizadas estão entre 0,5 a 4% de concentração ↳ o sal mais utilizado é o gluconato de clorexidina ♦ Em pH neutro é um excelente antisséptico cutâneo, pois atua sobre bactérias gram-negativas e gram-positivas ♦ Não apresenta absorção cutânea significativa, por isso não tem efeito adverso por essa via ⚯ ocasionalmente produz sensibilização cutânea na região genital ♦ Concentração de 4%: atua rapidamente na paramentação cirúrgica e preparo da pele do paciente ⚯ reduz a microbiota transitória (patogênica) a 1% em 15 segundos, ⚯ reduz a microbiota resistente (não patogênica) a 0,1 % em 30 segundos ♦ Tempo mínimo de 2 minutos para lavagem de mãos e braços ⚯ bom efeito imediato, mas tem efeito cumulativo quando usado regularmente ⚯ a ação bactericida é potencializada a cada lavagem de mãos e braços ⚯ tem ação persistente, tanto na pele do cirurgião quanto no campo operatório ⚯ impede o crescimento da microbiota cutânea durante longo período (intervenção cirúrgica) ♦ Desvantagens: ⚯ soluções concentradas podem produzir hematúria ↳ utilização em casos de lavagem vesical ⚯ possui ototoxicidade, ⚯ causa irritação das conjuntivas e outros tecidos sensíveis.
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