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Direito Penal – Parte Geral - Arts. 1º ao 120 André Estefam Capítulo 7 – LEI PENAL NO TEMPO 1. INTRODUÇÃO (p.157) Morte Revogação Nascimento Entrada em vigor Vida Período de vigência · A partir do momento em que uma lei penal entra em vigor, o Estado passa a ter o direito de exigir de todas as pessoas que se abstenham de praticar o comportamento definido como criminoso. Relação jurídica pelo direito de punir Estado Sujeito ativo Objeto Abstenção de conduta (mandamento de ação, no caso dos crimes omissos) Pessoas penalmente imputáveis Sujeitos passivos · Vacatio legis – intervalo de tempo que separa a publicação e a entrada em vigor de uma lei. · Lei Complementar nº95/98 Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. § 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial. (p. 158) 2. É POSSIVEL APLICAR LEI PENAL ANTES DE CONSUMADA SUA VACÂNCIA? · Durante a vacância não há lei nova, mas apenas a expectativa da lei. · Serve inclusive para leis de caráter benéfico, as quais, uma vez consumada sua vacância, entrarão em vigor e se aplicarão a fatos pretéritos, mesmo quando já houver trânsito em julgado[footnoteRef:1]. [1: é uma expressão usada para uma decisão ou acórdão judicial da qual não se pode mais recorrer, seja porque já passou por todos os recursos possíveis, seja porque o prazo para recorrer terminou ou por acordo homologado por sentença entre as partes.] 3. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO 3.1. Introdução · Conflito de leis penais – duas ou mais leis penais que tratam do mesmo assunto de modo distinto se sucedem. (p.159) · Deve-se estabelecer qual lei deverá reger o caso concreto, se a vigente no tempo da prática ou a revogada. · Extra-atividade – quando uma lei aplicar-se fora do seu período de vigência · Atividade fenômeno pelo qual uma lei se aplica a fatos ocorridos durante sua vigência. Extratividade Quando uma lei aplicar-se fora do seu período de vigência. Só ocorrerá se for benéfica[footnoteRef:2] ao agente. [2: Ex.: lei que reduza a pena imposta a um crime.] Retroatividade – aplicação da lei e a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor Ultratividade – aplicação de uma lei depois de sua revogação. Lei penal (de regra) Somente se aplica a fatos praticados sob sua vigência (atividade) Lei penal (benéfica) (lex mitior) Retroagirá, atingindo fatos anteriores à sua entrada em vigor. Pode ser novatio legis in mellius e abolitio criminis. Novatio legis in mellius [footnoteRef:3]– estende-se a nova lei penal que, mantendo a incriminação, dá ao fato tratamento mais brando. Ex.: redução de pena. [3: Melhora de algum modo a situação do réu] Abolitio criminis [footnoteRef:4]– Nova lei penal descriminaliza condutas ou, a lei supressiva a incriminação. (p. 160) Deixa de considerar determinado fato como infração penal. O que era crime passa a ser irrelevante. É previsto como causa extintiva da punibilidade. Com a sua entrada em vigor o Estado perde o direito de punir. Quando ocorre antes do trânsito em julgado, ficam impedidos todos os possíveis efeitos de uma condenação penal. Se ocorrer após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, extinguir-se-ão todos os efeitos penais da condenação (mantem apenas os efeitos extrapenais). [4: é uma forma de tornar atípica penalmente uma conduta até então proibida pela lei penal, gera como consequência a cassação imediata da execução e dos efeitos penais da sentença condenatória.] Lei penal (revogada) Deverá aplicar-se depois da sua revogação, quando o fato for praticado sob sua égide e for sucedida por lei mais gravosa (lex gravior). Lei penal gravosa: 1. Novatio legis in pejus[footnoteRef:5]: mantendo a incriminação, dá ao fato tratamento mais rigoroso. Ex.: aumento da pena prevista. [5: refere-se à lei nova mais severa do que a anterior. Ante o princípio da retroatividade da lei penal benigna, a novatio legis in pejus não tem aplicação na esfera penal brasileira.] 2. Novatio legis incriminadora: passa a definir o fato como penalmente ilícito. Uma conduta penalmente atípica passa a ser definida como crime ou contravenção. (p. 164) 3.8. Lei excepcional e lei temporária (CP, art. 3º) Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) · Excepcional – Lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc. · Temporária – É aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante um certo período de tempo. · Lei excepcional e temporárias são consideradas pela doutrina como leis ultrativas, que produzem efeitos mesmo após o término da sua vigência. · (p.165) A regra constante do art. 3º do CP tem ainda uma razão prática evidente, declarada na Exposição de Motivos da Parte Geral do Código Penal: “Esta ressalva visa impedir que, tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais”. 3.9. Retroatividade da lei penal e lei penal em branco · A revogação do complemento da norma penal em branco somente opera efeitos retroativos quando o complemento não apresentar características de temporariedade e excepcionalidade (de forma como ocorre no art. 3 do CP). 3.10. Retroatividade benéfica do entendimento jurisprudencial · (p. 166) As decisões proferidas por tribunais não têm caráter vinculante. Há exceções (súmula vinculante e controle concentrado de constitucionalidade do STF), somente nestes casos, terá relevância verificar se há entendimento mais brando por parte da jurisprudência (p. 167) 3.11. Tempo do Crime · Aplicação da lei penal no tempo é determinada pelo momento do crime. · Se o agente praticar um crime cuja conduta ocorra antes da entrada em vigor de uma nova lei mais grave, ainda que o resultado se verifique depois de exaurido o período de vacância da novatio legis in pejus, esta não será aplicável ao delito. · O tempo do crime é o da conduta e não da consumação. · Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) – torna possível fixar o exato momento em que o agente passará a responder criminalmente por seus atos – se dará somente se a ação ou omissão houver sido praticada quando ela já tiver completado 18 anos de idade - Crime permanente – quando se prolonga no tempo (delito de extorsão mediante sequestro (art. 159 CP), mesmo tendo a ação ou omissão se iniciado antes da maioridade penal, se o agente a prolongou conscientemente ao período de sua imputabilidade penal, terá aplicação do CP. - Crime continuado – sujeito comete vários delitos em continuidade delitiva (art. 71 do CP). Curso de Direito Penal – Vol. 1 (2018) 22ª ed. Fernando Capez (p. 136) 7. LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 7.1. Considerações preliminares · São leis de curta duração que perderiam toda a sua força intimidativa se não tivessem a ultratividade. · São chamadas de autorrevogáveis. · Podem ser: 1. Lei excepcional: vigora em períodos anormais (guerra, calamidadesetc.). Duração coincide com a do período (dura enquanto durar a guerra, calamidade etc). 2. Lei temporária: vigora em um período de tempo previamente fixado pelo legislador. Traz a data de cessação de sua vigência. Desde sua entrada em vigor está marcada para morrer. 7.2. Características 7.2.1. Autorrevogabilidade · São autorrevogáveis. · Regra geral: uma lei só poderá ser revogada por outra lei posterior que a revogue expressamente (LINDB. Art. 2º, §1º) LICC - Decreto Lei nº 4.657 de 04 de Setembro de 1942 Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. (Vide Lei nº 3.991, de 1961) (Vide Lei nº 5.144, de 1966) § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. · Leis de vigência temporária são exceção. Se autorrevogam na data fiada em seu próprio texto; a excepcional, quando se encerrar o período anormal (data incerta). (p. 137) 7.2.2. Ultratividade · É a possibilidade de uma lei se aplicar a um fato cometido durante a sua vigência, mesmo após a rua revogação. · Art. 5º, XL (40), da CF, consagrou o princípio da ultratividade in mellius (para favorecer o réu). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. · Ocorre sempre que ainda prejudique o réu. · um fato praticado sob a vigência de uma lei temporária ou excepcional continuará sendo por ela regulado, mesmo após sua autorrevogação e ainda que prejudique o agente. (p. 138) 7.3. Hipótese de retroatividade da lei posterior · quando a lei posterior for mais benéfica e fizer expressa menção ao período anormal ou ao tempo de vigência, passará a regular o fato praticado sob a égide da lei temporária ou excepcional. 7.4. Alteração do complemento da norma penal em branco · Quando o complemento da norma penal em branco advém da mesma fonte legislativa, ou seja, também for lei, sua revogação retroagirá em benefício do agente, tornando atípico o fato cometido. · Agora, quando o complemento for de origem legislativa diversa, ou seja, ato normativo infralegal, sua supressão somente repercutirá sobre a conduta quando a norma complementar não tiver sido editada em uma situação temporária ou de excepcionalidade. (p. 139) (p. 140) · quando se vislumbrar no complemento a característica da temporariedade, típica das normas de vigência temporária, também se operará a sua ultratividade. · Quando inexistir a característica da temporariedade, haverá retroatividade in mellius.