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A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL: UMA BREVE ANÁLISE DO PERÍODO COLONIAL AOS DIAS ATUAIS1 Enver Souza Lima2 RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise sobre a evolução dos direitos políticos do Brasil desde o período colonial até as últimas reformas eleitorais nos dias atuais. O país passou por longos períodos de instabilidade dos direitos políticos, ocorrendo constantes progressos e retrocessos, mudanças que moldaram o nosso sistema eleitoral atual. Durante esse percurso evolutivo a sociedade lutou por seus direitos políticos, consequentemente por sua participação na condução da coisa pública, seu direito de votar e ser votado. Assim, buscar-se-á desenvolver uma breve análise acerca da importância dos direitos políticos, da sua evolução e das reformas eleitorais atuais. Palavras-chave: Direitos políticos; evolução; sistema eleitoral; mudanças; reformas políticas. ABSTRACT: This paper presents an analysis of the evolution of the political rights of Brazil from the colonial period to the last electoral reforms in the present day. The country has gone through long periods of political rights instability, with constant progress and setbacks, changes that shaped our current electoral system. During this evolutionary course the citizen fought for his political rights, consequently by their participation in the conduct of the public thing, your right to vote and to be voted. Thus, a brief analysis will be developed on the importance of political rights, of its evolution and of the current electoral reforms Key-words: Rights policy; evolution; electoral system; changes; political reforms. Sumário: Introdução. 1) Contexto histórico; 1.1) Período colonial; 1.2) Período Imperial; 1.2) Período Republicano; 1.3.1) Período ditatorial (1937-1945); 1.3.2) Período ditatorial (1964 – 1985); 1.4) Nova república; 2) Direitos Políticos; 2.1) Relação entre os Direitos Políticos e os Direitos Fundamentais; 2.2) Classificação dos direitos políticos; 2.2.1) Direitos políticos positivos: sufrágio, plebiscito e referendo; 2.2.2) Direitos políticos negativos: inelegibilidade, perda e suspensão; 3) Reformas eleitorais; 3.1) Governo Lula; 3.1.1) Minirreforma eleitoral de 2006; 3.1.2) Minirreforma eleitoral de 2009; 3.2) Governo Dilma; 3.2.1) Minirreforma eleitoral de 2013; 3.2.2) Minirreforma eleitoral de 2015; Considerações finais. 1 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Direito/CERES/UFRN como exigência parcial para a obtenção do bacharelado em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Ubirathan Rogerio Soares. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 INTRODUÇÃO Os direitos políticos sempre fizeram parte do cotidiano da humanidade. Desde os primórdios da existência humana, surgiu a necessidade de as pessoas fazerem escolhas e tomarem decisões coletivas acerca de assuntos que envolviam os seus vilarejos, cidades ou aldeias. Porém, apesar de sempre fazer parte da vida em sociedade, tais direitos sempre desencadearam tensões e conflitos entre seus detentores. Especificamente no caso brasileiro, para que os direitos políticos fossem implantados no ordenamento jurídico pátrio, houveram lutas, progressos e regressos em prol do fortalecimento da democracia, sendo possível a participação do cidadão de maneira ativa, direta ou indireta da administração pública. A legislação eleitoral do Brasil passou por mudanças significativas durante os últimos anos, reformas cujo o objetivo é melhorar o sistema eleitoral nacional. A mudança mais recente foi em decorrência da publicação da Lei nº 13.165, em vigor desde o dia 29 de setembro de 2015 e aplicada pela primeira vez nas eleições municipais de 2016, que de acordo com seu texto, visa reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina. O presente estudo pretende, com base em uma metodologia de pesquisa bibliográfica, gerar um estudo acerca da evolução dos direitos políticos no país, desde sua origem no período colonial até os dias de hoje. Para tanto, se faz necessária a explanação dos direitos políticos, fazendo a classificação destes, bem como esclarecer a ação das reformas eleitorais mais recentes no Brasil. Tais objetivos serão alcançados através de estudo associado à própria história do Brasil, como também das diretrizes constitucionais, das normas infralegais e dos posicionamentos doutrinários sobre o tema sob análise. A estruturação do presente trabalho foi organizada da seguinte forma: no primeiro capítulo, será apresentada a evolução histórica dos direitos políticos no âmbito interno; já no segundo capítulo, serão abordadas as peculiaridades acerca dos direitos políticos como parte dos direitos fundamentais; e por fim, no terceiro capítulo, apresentar de maneira sucinta as reformas eleitorais articuladas durante os dois últimos governos. Justifica-se o trabalho na necessidade de fazer um estudo doutrinário, histórico e conceitual acerca da importância dos direitos políticos na vida dos cidadãos brasileiros e o estudo das mais recentes reformas eleitorais, a título de conhecimento do leitor. 3 1. CONTEXTO HISTÓRICO DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL É possível afirmar que na atualidade vivemos uma fase em que os direitos políticos estão cada vez mais perto do ideal para garantir a soberania popular e a democracia, expressas na Constituição Federal de 1988. Porém, para que essa realidade se tornasse possível, passamos por uma longa evolução, que se iniciou nos primórdios do descobrimento do país. A seguir, faremos um apanhado histórico do surgimento dos direitos políticos no Brasil, para assim compreender as raízes de seu surgimento, analisar a influência das transformações para melhor compreender a realidade atual. 1.1 PERÍODO COLONIAL (1500 – 1822) A primeira eleição no Brasil ocorreu em 23 de janeiro de 1532 e aconteceu de forma indireta na Vila de São Vicente, que era a sede da capitania hereditária de São Vicente, atual São Paulo. Seu objetivo principal era escolher o conselho administrativo da vila e somente seria disputada pelos chamados “homens bons”, que era uma expressão utilizada na época para se referir a pessoas que tinham propriedades, bens ou fossem de famílias tradicionais. Outra regra da primeira eleição, era a proibição de autoridades do Reino nos locais de votação, para que não influenciasse o voto. Faoro3 (2001, p. 214), define bem os critérios de escolha dos homens bons: Na verdade, o escopo íntimo da superioridade institucional do homem bom será o mesmo que inspira os conselhos portugueses: inscrever os proprietários e burocratas em domicílio na terra, bem como seus descendentes, nos ‘Livros da Nobreza’, articulando-os, desta sorte, na máquina pública e administrativa do império. Durante todo o período colonial as eleições tinham um caráter local e municipal, sendo regidos pelo “livro das ordenações”, uma legislação de Portugal, produzido no ano de 1603. A ampliação das eleições para o âmbito nacional surgiu em 1821, um ano antes da proclamação da independência, e pode-se dizer que foi nossa primeira eleição nacional de acordo com os moldes atuais. Apresentando uma análise mais precisa de como funcionaram as primeiras eleições em âmbito nacional, Porto 4(2002, p.23 e 24) definiu que: 3 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Globo, 2001. 4As Cortes de Lisboa eram uma assembleia constituinte com representantes do clero, nobreza e povo que culminaram com a aprovação da Constituição portuguesa de 1822. Para a designação dos deputados para as Cortes, o processo eleitoral consistia numa complexa eleição em quatro graus para formação de juntas eleitorais de paróquia, de comarca e de província. As primeiras se comporiam de todos os cidadãos da paróquia que elegeriam onze compromissários, e estes elegeriam o eleitor paroquial; as juntas de comarca se comporiam dos eleitores da paróquia que elegeriam os eleitores de província que elegeriam os deputados de Cortes. Na ausência de uma legislação eleitoral brasileira, utilizaram a Constituição Espanhola para reger o pleito, que trazia algumas novidades, como a possibilidade do analfabeto votar. Nesse pleito, 72 representantes do povo foram eleitos por homens livres. Algumas das instruções das eleições de 1821, apresentavam um sistema dividido em quatro graus: o povo, em massa, escolhia os compromissados; estes, escolhiam os eleitores de paróquia, que, por sua vez, escolhiam os eleitores de comarca; finalmente, estes últimos procediam à eleição dos deputados. (FERREIRA 2005)5. Podemos assim concluir que as eleições no período colonial careciam da vontade da população brasileira, devido ao total controle que as classes dominantes e religiosas tinham perante o eleitorado, baseando-se nas regras eleitorais europeias. Vejamos adiante a continuação da evolução dos direitos políticos no Período Imperial. 1.2 PERÍODO IMPERIAL (1822 – 1889) No ano posterior às primeiras eleições gerais da história do país, no dia 07 de setembro 1822, houve a proclamação da independência do Brasil pelo então príncipe regente Dom Pedro I. Sendo que em 03 de junho de 1822, o príncipe regente já estava convencido de que a independência do Brasil de fato ocorreria naquele ano e, logo, fez a convocação de uma Assembleia Constituinte com o objetivo de elaborar uma Constituição para o novo Estado Soberano. A partir da Assembleia Constituinte alguns ideais foram estabelecidos em relação aos direitos políticos, um deles foi o voto censitário, que seria o voto permissionário a pessoas que possuíssem uma renda anual equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca ou fosse 4 PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Da Colônia à 6ª República. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks Editora, 2002. 5 FERREIRA, Manoel Rodrigues, A evolução do sistema eleitoral brasileiro. 2ª ed. Tribunal Superior Eleitoral, 2005. 5 dono de grandes quantidades de terras. Devido a tal peculiaridade, o projeto passou a ser conhecido como “Constituição da Mandioca” (ARRUDA, PILETTI, 2001)6. A divisão dos poderes proposta pela Assembleia Constituinte contrariou os interesses de Dom Pedro I devido a predominância do poder legislativo sobre o executivo, limitando o seu poder e desafiando as suas pretensões absolutistas. Tal fato o incentivou a dissolver da Assembleia Constituinte com o apoio militar, gerando o acontecimento conhecido como “a Noite da Agonia”. Em sua obra “a evolução constitucional do Brasil”, Paulo Bonavides (2004, p. 385)7, apresenta como foi a dissolução da Assembleia Constituinte: Em 1823, o confronto dos dois poderes, em face da insubmissão do poder constituinte de direito, provocou uma colisão aberta e ostensiva, que teve por desfecho a queda da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, dissolvida pela tropa sob o comando pessoal de D. Pedro I, e, a seguir, a outorga da Carta do Império Após a dissolução da Assembleia, D. Pedro I convocou seis ministros e quatro políticos de sua confiança para redigir junto com ele a nova Constituição Brasileira, que foi outorgada em 25 de março de 1824, com o intuito de garantir o seu poder de imperador. Algumas das características da nova Constituição eram: a concentração do poder nas mãos do imperador, através do poder moderador, a exclusão da maioria da população brasileira do direito de votar, pois apenas o eleitor rico que comprovasse determinada renda teria esse direito, a criação do conselho de estado, onde os representantes eram escolhidos pelo imperador. O artigo 98 da Constituição do Império do Brasil de 1924, estabelecia nitidamente as características da constituição, cujo objetivo era concentrar o poder nas mãos do imperador. Vejamos: Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos. Durante todo o período de império e colônia as fraudes eleitorais eram frequentes, pois além de não haver uma fiscalização eficiente eram permitidas ações que facilitavam as 6 ARRUDA, José Jobson de A.; PILLETI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil, 2001. 11ª edição. São Paulo: Ática. 7 BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 40, p.155-176, 2000. 6 alterações dos resultados. Uma das principais fraudes eleitorais decorreu da possibilidade do voto por procuração, onde pessoas não compareciam aos locais de votação e enviavam um representante munido de um instrumento de procuração para exercer o seu direito de voto. Além disso não existia na época título eleitoral, as pessoas eram reconhecidas pelos integrantes da mesa apuradora e por testemunhas, o que facilitava a ação dos fraudadores, que contabilizavam votos de mortos, crianças e eleitores de outras cidades. O ano de 1881 trouxe grandes mudanças no sistema político da época, nele foi instituído o Decreto nº 3.029 de 9 de janeiro, conhecido como “Lei Saraiva”, em homenagem ao então Ministro do Império José Antônio Saraiva. Tal Decreto trouxe consideráveis avanços para as eleições nacionais, quais sejam: a instituição do título de eleitor, eleições diretas para todos os cargos eletivos do império e possibilidade de um candidato não católico disputar o pleito. Apesar dos avanços que proporcionou, o Decreto recebeu fortes críticas por seguir um caráter de exclusão social. Segundo Porto 8(2002, p. 100): O que se esperava com a eleição direta, segundo Rui Barbosa, é que se excluísse ‘o capanga, o cacetista, o biju, o xenxém, o bem-te-vi, o morte-certa, o cá-te-espero, o mendigo, o analfabeto, o escravo, todos esses produtos da larga miséria social, para abrir margem ao patriotismo, à ilustração, à independência, à fortuna, à experiência’. A Lei Saraiva apresentou retrocessos ao impedir que os analfabetos exercessem o seu direito de voto, e ao condicionar a candidatura dos não católicos que possuíssem renda inferior a duzentos mil reis. Mais uma vez, seguindo a característica do período colonial, a legislação eleitoral era voltada para a manutenção da realidade social existente e respectivas injustiças sociais, visto que excluía da vida política do país parcela significativa da sociedade por critérios pautados no poder econômico dos indivíduos. 1.3 PERÍODO REPUBLICANO (1889 – 1930) Em 1891 foi promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, a primeira constituição republicana da história do país, tendo como principais contribuições as grandes modificações no regime político e jurídico. A construção desta Carta8 PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Da Colônia à 6ª República. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks Editora, 2002. 7 Magna foi baseada no positivismo francês e na constituição norte americana, se estabelecendo o modelo presidencialista e federalista. Sobre o assunto, Silva (2000, p. 103)9 apresenta a definição de federalismo: O federalismo, como expressão do direito constitucional, nasceu com a Constituição norte-americana de 1787. Baseia-se na união de coletividades políticas autônomas. Quando se fala em federalismo, em Direito Constitucional, quer-se referir a uma forma de Estado, denominada Federação ou estado federal, caracterizada pela união de coletividades públicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. A Magna Carta de 1891 ainda trouxe avanços como o voto direto masculino e não secreto para os representantes do poder executivo e legislativo, a alteração do Estado em laico e a exclusão do poder moderador (afastando do Imperador o poder político) e do Conselho de Estado. Ainda no período republicano, foi instituído o primeiro Código Eleitoral brasileiro, precisamente no ano de 1932, por meio do Decreto nº 21.076, cujo principal objetivo era a reforma da legislação eleitoral pátria, trazendo mudanças consideráveis, como a instituição do voto secreto e obrigatório, do voto feminino10, a adesão do sistema proporcional de votação, a regularização das eleições federais, estaduais e municipais e a delegação à Justiça Eleitoral pela organização de todo o processo eleitoral. No mesmo ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi inaugurado no estado do Rio de Janeiro, que na época era a capital do país.11 Outra grande inovação que o Código Eleitoral de 1932 trouxe foi a criação dos Tribunais Regionais Eleitorais, cujo objetivo era fazer o cumprimento das decisões do Tribunal Superior Eleitoral, o julgamento de recursos e a divisão sua jurisdição em zonas eleitorais. Dois anos depois, em 16 de julho de 1934, no governo Vargas, foi promulgada a Constituição Brasileira de 1934. A nova Carta chamava atenção por suas características progressistas e nacionalistas. Os principais avanços que trouxe foi o voto feminino, a criação da justiça eleitoral e a justiça do trabalho, o voto obrigatório para maiores de 18 anos e o voto secreto. 9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo: Malheiros: 2000. 10 “Pela primeira vez, as mulheres conquistavam o exercício da cidadania, o que, além de ter um significado político muito importante, implicava um acréscimo substancial no corpo de votantes. (FAUSTO, 2007, P.22) 11 "Primeiro Código Eleitoral do Brasil completa 81 anos”. Tribunal Superior Eleitoral. 2013. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Fevereiro/primeiro-codigo-eleitoral-do-brasil-completa-81- anos >. Data de acesso: 30 de outubro de 2016. 8 Apesar do pouco tempo em que esteve em vigor, a Constituição Federal dos Estados Unidos do Brasil de 1934 deixou seu legado para as questões sociais brasileiras. Sobre tal legado e suas consequências, Arruda e Caldeira (1986)12 expõem que: Com a Constituição de 1934, a questão social passou a assumir grande destaque no país: direitos democráticos foram conquistados, a participação popular no processo político aumentou, as oligarquias sentiram-se ameaçadas - juntamente com a burguesia - pela crescente organização do operariado brasileiro e de suas reivindicações. Nessa conjuntura registrou-se a primeira grande campanha nacional em que a Imprensa esteve envolvida: o debate a respeito do apelo nacionalista apregoado pelo Integralismo, movimento anti-liberal, anti-socialista, autoritário, assemelhado ao Fascismo italiano.Em conseqüência disso, o equilíbrio era algo difícil e já se previa naquela época que alcançá-lo iria levar tempo, para as novas forças políticas brasileiras. A valorização e atenção às questões sociais incomodou de certa forma a classe burguesa brasileira, ameaçando também as oligarquias, que mantinham em suas mãos o poder. Logo surgiram movimentos anti-socialistas e de cunho fascista, elementos tidos como essenciais a nova forma de governo que se iniciaria em 1937. 1.3.1 PERÍODO DITATORIAL (1937- 1945) Apesar dos avanços que trouxe, o primeiro Código Eleitoral brasileiro foi revogado no ano de 1937, após início do Estado Novo, como era conhecida a “nova ordem” instituída pelo presidente Getúlio Vargas. Em 10 de novembro foi outorgada a Constituição de 1937, conhecida como “polaca”, trouxe um regresso considerável dos direitos políticos do cidadão brasileiro, abolindo os partidos políticos, suspendendo as eleições livres, estabelecendo eleições indiretas para presidente da República, no qual teria um mandato de 6 anos. Durante o período de 10 anos não houve eleições no país, período caracterizado por abolir vários direitos políticos, concentrando o poder nas mãos das autoridades governantes. Paulo Bonavides (2008)13 em sua obra Curso de Direito Constitucional, apresenta considerações acerca da Carta de 1937, afirmando que esta: 12 Apud ARRUDA, Marcos. CALDEIRA, Cesar. Como Surgiram as Constituições Brasileiras. Rio de Janeiro: FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e educacional). Projeto Educação Popular para a Constituinte, 1986. 13 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22 ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 9 representa na tela do constitucionalismo um largo esboço de limitação da autoridade do governante. O rei, príncipe ou Chefe de Estado enfeixa em suas mãos poderes absolutos, mas consente unilateralmente em desfazer-se de uma parcela de suas prerrogativas ilimitadas, em proveito do povo, que entra assim no gozo de direitos e garantias, tanto jurídicas como políticas, aparentemente por obra apenas e graça da munificência real. No ano de 1945 a Justiça Eleitoral foi reestabelecida por meio do Decreto nº 7586. No mesmo ano Getúlio Vargas anuncia eleições gerais e sofre o golpe militar. Após o golpe, o presidente do Supremo Tribunal Federal se estabeleceu no poder durante o período aproximado de 3 meses, período conhecido como hiato eleitoral. Esse lapso temporal trouxe uma ideia de cidadão/trabalhador, valorizando o cidadão que participava de alguma forma da economia do país. O Código Eleitoral instituído por meio do Decreto nº 7586, trouxe novidades para o cenário político, como: a obrigatoriedade da vinculação dos candidatos a partidos políticos e a redução da idade mínima para votar, que passou de 21 anos para 18 anos. Além disso, a Lei Agamenon, como também era conhecido o Código Eleitoral, trouxe mais segurança às urnas com a finalidade de garantir o sigilo do voto, utilizavam sobrecartas oficiais, uniformes e opacas; para evitar as fraudes, o código determinava pena de detenção de três meses a um ano a quem se escrevesse mais de uma vez e pena de seis meses a um ano para o eleitor que votasse no lugar de outro.14 1.3.2 PERÍODO DITATORIAL (1964 – 1985) Em 1964 instaurou-se o golpe militar, trazendo mais regressos para a manifestação da cidadania, proibindo o voto direto para presidente da república e aos cargos de governador, prefeito e senador, permitindo apenas o voto para deputado estaduais e federais e vereadores. Segundo (FAUSTO 2008)15, para controlar o poder de Estado durante 21 anos, o regime ditatorial produziu 17 atos institucionais, regulamentados por outros 104 atos complementares. Os atos Institucionais, decretos que davam aoExecutivo poderes 14 “Código Eleitoral completa 50 anos nesta quarta feira”. Tribunal Superior Eleitoral. 2015. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Julho/codigo-eleitoral-completa-50-anos-nesta-quarta-feira- 15 >. Data de Acesso em: 01 de novembro de 2016. 15 FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp, 2008; HERKENHOFF, João Baptista. Gênese dos Direitos Humanos. Editora Santuário, 2002. 10 excepcionais, constituíram o principal instrumento utilizado para revestir de legalidade as ações do governo de exceção. No período entre 1964 e 1985 (fim da ditadura militar), o povo era tratado como ignorantes políticos, que não tinham consciência política suficiente para exercer o seu direito de voto, e isso impedia que o cidadão agisse como um ser político e transformador da democracia, o cidadão observou os seus direitos políticos serem ceifados durante vinte e um anos mediante atos institucionais. 1.3.3 NOVA REPÚBLICA (1985 – atual) Com o fim da ditadura militar, em 1985, foi eleito indiretamente o presidente Tancredo Neves, que morreu logo após a sua eleição, sendo a presidência ocupada por José Sarney. O período que se iniciou com o fim do regime militar é conhecido como Nova República e trouxe diversos avanços, como as eleições diretas para a presidência e prefeituras das cidades, a concessão do direito de votar aos 16 anos e a permissão do voto ao analfabeto. A nova república ganhou esse nome devido ao surgimento de um período democrático novo e diferenciado, onde havia grande oposição ao sistema militar que proporcionou aos cidadãos 20 longos anos de censura, repressão dos movimentos sociais e regresso democrático. O período da nova república se iniciou em 1985 e vivemos ele até os dias de hoje. Em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal, conhecida como a Constituição cidadã, que estabeleceu as eleições diretas, a eleição por maioria absoluta para presidente, governadores e prefeitos (municípios acima de 200 mil eleitores, caso não haja maioria absoluta na primeira votação terá segundo turno), estabeleceu o período de cinco anos para o mandato do presidente, vedando a reeleição para o período subsequente, fixou a desincompatibilização até seis meses antes das eleições, para presidente, governador e prefeito que almejasse concorrer a outro cargo. A Carta Magna de 1988 também permitiu o voto do analfabeto, tornou o voto facultativo para os maiores de 16 anos e menores de 18 e deu maior autonomia aos partidos políticos, tornando-os pessoa jurídica de direito privado.16 Os anos 90 foram marcados por avanços consideráveis no sistema eleitoral brasileiro. Em 1993 mais de 67 milhões de pessoas foram às urnas para decidir, através de 16 “Década de 80: ad diretas já”. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93436-DECADA-DE-80:-AS-DIRETAS- JA.html >. Acesso em 13/10/2016. 11 plebiscito, a forma e o sistema de governo, sendo escolhidos a república e o presidencialismo. No ano posterior, foi aprovada a Emenda Constitucional nº5, de 7 de junho de 1994 que reduzia o mandato presidencial de cinco para quatro anos.17 Nas eleições municipais de 1996 o brasileiro passou a votar de maneira diferente: surgiram as urnas eletrônicas, uma inovação tecnológica que trouxe mais segurança, confiabilidade, agilizou bastante a apuração dos votos e reduziu consideravelmente as fraudes. Nos anos 2000 a máquina passou a ser utilizada nas eleições em todo o país, sendo o Brasil o único país em que o sistema de apuração de votos é totalmente eletrônico. A Constituição Federal de 1988 vedou em seu texto a reeleição para o período subsequente, porém, no ano de 1997 a emenda Constitucional nº 16, de 4 de junho de 1997 foi aprovada, possibilitando a reeleição. Tal decisão foi alvo de críticas, tendo em vista que o candidato que concorre à reeleição já tem o contato com a máquina administrativa. Nos anos 2000 a internet passou a ser uma das principais ferramentas das campanhas eleitorais. Os candidatos utilizam blog e redes sociais para fazer uma espécie de marketing pessoal. O candidato ainda pode receber doações online, através do cartão de crédito. Após a análise histórica e evolutiva dos direitos políticos no Brasil, surge a necessidade da análise conceitual desses direitos, assim como a sua relação com os direitos fundamentais e classificação de acordo com a Constituição Federal de 1988, vejamos no capítulo adiante. 2.DIREITOS POLÍTICOS O Título II da Constituição Federal de 1988 – CF/88 dedica-se ao estabelecimento dos chamados “direitos e garantias fundamentais” que, por sua vez, divide-se em espécies, quais sejam: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos, que são objeto principal do presente estudo, e, por fim, os partidos políticos. Tais direitos estão plenamente interligados, de forma que a ausência de um compromete a plenitude dos demais e, consequentemente, dos direitos fundamentais como um todo. 17 “Década de 90: avanços no sistema eleitoral”. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93435-DECADA-DE-90-AVANCOS-NO- SISTEMA-ELEITORAL.html >. Acesso em 16/10/2016. 12 Especificamente com relação aos direitos políticos, dá-se grande destaque em nosso atual sistema eleitoral, devido as prerrogativas e deveres que eles transferem a população. É através deles que é possível a participação do cidadão na vida pública, na organização e no funcionamento do Estado. Pedro Lenza (2009, p. 785)18, na sua obra “curso de direito constitucional esquematizado”, conceitua os direitos políticos como: os direitos políticos nada mais são do que instrumentos por meio dos quais a Constituição Federal (CF) garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta, seja indiretamente. Seguindo esta mesma linha de raciocínio, José Afonso da Silva (2004)19 citando Pimenta Bueno também define que os direitos políticos são as prerrogativas, os atributos, faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou só indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade de gozo desses direitos. Os cidadãos gozam dos seus direitos políticos, exercendo o seu direito de participação popular, que surge da vontade manifestada individualmente por cada pessoa, com a finalidade de contribuir de maneira direta ou indireta para a organização do estado e manutenção da democracia. 2.1 RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS POLÍTICOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS Os Direitos Fundamentais têm o objetivo de assegurar aos indivíduos o respeito, a dignidade e a garantia das mínimas condições para que o ser humano se desenvolva. Tais direitos são positivados nas constituições federativas dos respectivos países com a função de garantir a proteção do indivíduo. Apresentando um conceito claro e importante, Moraes (2002)20 define os direitos fundamentais como: O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana. 18 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. 19 SILVA, José Alfonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Editora Malheiros. 23º Edição. 2004. página 344. 20 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: Teoria Geral. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2002. 13 De acordo com a evolução de cada época, baseadas nos preceitos constitucionais das nações, nasceu a necessidade, por parte dos teóricos, de fazer a divisão dos direitos fundamentais em três gerações. Em breve síntese, a primeira geração compreende os direitos civis, políticos e as liberdades clássicas, a segunda geração compreende os direitos econômicos, sociais e culturais e a terceira geração, por sua vez, trata do direito ao meio ambiente equilibrado, qualidade de vida saudável, paz e autodeterminação. Preciosas são as palavras de (BONAVIDES, 1993)21, ao fazer referência aos direitos de primeira dimensão, quando afirma que os direitos fundamentais de primeira dimensão representam exatamente os direitos civis e políticos, que correspondem à fase inicial do constitucionalismo ocidental, mas que continuam a integrar os catálogos das Constituições atuais (apesar de contar com alguma variação de conteúdo), o que demonstra a cumulatividade das dimensões. Conclui-se então, que os direitos políticos estão intimamente relacionados com os direitos fundamentais, tendo em vista que estes são divididos em três gerações, na qual os direitos políticos fazem parte da primeira geração. Além disso, como apresentado no tópico anterior, a Constituição Federal de 1988, traz em seu Título II os “Direitos e garantias fundamentais”, tendo como espécie os direitos políticos. Dando continuidade ao trabalho, para melhor análise e compreensão do dos direitos políticos, se faz necessário um tópico que trata da sua classificação. 2.2CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS Podemos classificar os direitos políticos em positivos e negativos. Os primeiros se vinculam ao sufrágio e à capacidade eleitoral ativa e passiva, ou seja, a capacidade de eleger e de ser eleito. Já os direitos negativos, por sua vez, são os impedimentos que o indivíduo sofre na atividade política, privando-o de exercer a sua cidadania, tendo em vista o não cumprimento dos requisitos expressos na Constituição Federal. Corroborando este entendimento, colaciona-se posicionamento de Sylvio Clemente da Motta Filho22 (2008, p. 207), segundo o qual existem os direitos políticos positivos, cujo âmago é o direito de sufrágio e suas consequências, ladeado pelo direito de ser 21 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993. 22MOTTA FILHO, Sylvio Clemente. Direito constitucional: teoria, jurisprudência e questões. 20. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 14 eleito, exercer sua atividade política e assumir encargos públicos. Direitos políticos negativos são os que importam na privação na qualidade de eleitor (cidadão). Conclui-se que há a necessidade de classificação dos direitos políticos, tendo em vista a sua importância no exercício da atividade política. Vejamos, mais adiante e de maneira mais clara, no que consistem os direitos políticos positivos e negativos. 2.2.1 DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS: SUFRÁGIO, PLEBISCITO E REFERENDO O direito político positivo do sufrágio é pedra angular de um regime democrático, pois um dos preceitos do regime democrático é a escolha dos seus representantes políticos e a possibilidade de também se tornar representante, caso preencha os requisitos. Ou seja, o sufrágio representa o direito de votar e ser votado. Segundo Araújo (2006)23, o direito de sufrágio não é um direito individual, pois tem o condão de possibilitar o cidadão de participar da vida política do Estado, atuando como agente transformador do regime democrático, assumindo um direito-dever. Em posicionamento parecido sobre o direito de sufrágio, Pontes de Miranda24 (1967, p.560) defende que: O direito de sufrágio posto que não seja mero reflexo das regras jurídicas constitucionais, como já se pretendeu, não é só direito individual no sentido em que o é o habeas corpus e o mandado de segurança, pela colocação que se lhes deu na Constituição. É função pública, função de instrumentação do povo: donde ser direito e dever. Diante do apresentado, observa-se que o sufrágio é um dos direitos políticos mais importantes e é constantemente confundido com o sinônimo do voto. Porém, vale salientar que o sufrágio é um direito público subjetivo, já o voto é o instrumento pelo qual exercemos o sufrágio. Também há uma dúvida comum, acerca do que seria o escrutínio, sendo este a forma do voto, público ou secreto. Além do sufrágio os outros direitos políticos positivos estão previstos no Art. 14 da Constituição Federal de 1988, o presente artigo estabelece que: “A soberania popular será 23 ARAÚJO, Luiz Aberto David. Curso de Direito Constitucional. Editora Saraiva. 10ª Edição. 2006. pg. 239. 24 MIRANDA, de Pontes. Comentários à constituição de 1967. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967. 15 exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III- iniciativa popular. O Plebiscito e o referendo são direitos políticos expressos na Carta Magna de 1988 e regulamentados pela Lei nº 9709, os dois tem o mesmo objetivo, consultar o povo para que tomem decisões sobre algum tema de relevância nacional nas questões de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. Apesar de possuírem o mesmo objetivo de consulta popular, eles se diferenciam quanto o momento da consulta. O plebiscito é convocado antes da criação do ato legislativo ou administrativo, para que o povo decida se o ato será criado ou não. Já o referendo se dá após o ato, e o cidadão tem que escolher pela ratificação ou rejeição da proposta apresentada. 2.2.2 DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS: INELEGIBILIDADE, PERDA E SUSPENSÃO Os direitos políticos negativos estabelecem impedimentos e restrições acerca do exercício do direito de eleger certo candidato ou impossibilidade de este assumir algum cargo, eletivo ou não. Para que a pessoa tenha qualidade de cidadão, deve cumprir alguns requisitos relacionados ao direito de sufrágio, não incorrendo nos casos de suspensão, inelegibilidade ou perda dos seus direitos políticos. Pedro Lenza (2004)25, define os direitos políticos negativos da seguinte forma: individualizam-se ao definirem formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos Os direitos políticos negativos (inegibilidade, perda e suspensão dos direitos políticos), estão expressos no artigo 14, §4º ao §11º, da Carta Magna de 1988 e São ações que privam o cidadão do direito de participação no procedimento político nos órgãos governamentais. As causas de inelegibilidade estão previstas no art. 14, §§ 4º a 7º e § 9º, da CF/88, e elas ocorrem quando o candidato não tem capacidade eleitoral ativa, não podendo consequentemente ser votado. A inelegibilidade restringe total ou parcialmente a possibilidade de o indivíduo ser eleito a algum cargo público. 25 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 7 ed. São Paulo: Método, 2004. 16 O próprio texto constitucional em seu art. 14, § 9º, estabelece que a finalidade da inelegibilidade é proteger a normalidade e legitimidade das eleições contraa influência do poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta, conforme expressa previsão constitucional (art.14, § 9º, CF/88). É importante salientar que devido ao aspecto constitucional da inelegibilidade, é possível que outros casos e situações sejam tratados por lei complementar. Segundo Pedro Lenza26, as inelegibilidades estão previstas tanto na CF (art. 14, §§ 4º a 8º), normas estas que independem de regulamentação infraconstitucional, já que de eficácia plena e aplicação imediata, como em lei complementar, que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação” (2009, p. 789). Ainda podemos classificar as inelegibilidades em absolutas e relativas. A primeira diz respeito ao impedimento de exercer qualquer cargo eletivo, seguindo os casos taxativos expressos pela CF/88, já a segunda diz respeito a cargos eletivos cujo caso concreto e a situação em que o indivíduo se encontra o impedirá de exercer o cargo. Assim como a inelegibilidade, os casos de perda e suspensão dos direitos políticos estrão elencados na Carta Magna de 1988, o artigo 15 estabelece que: “É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. A evolução dos direitos políticos continua até os dias de hoje, podemos observar tal evolução através das reformas eleitorais, que nos últimos dois governos ocorreram com certa frequência, objetivando a melhoria, o equilíbrio e a transparência das nossas eleições, vejamos no próximo capítulo as principais reformas eleitorais. 3. REFORMAS ELEITORAIS Neste capítulo, serão expostas as reformas eleitorais ocorridas nos últimos dois governos presidenciais, Luís Inácio Lula da Silva (2003 a 2011) e Dilma Rousseff (2011 a 26 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. 17 2016). Porém, antes de adentrar nas reformas propriamente ditas, importante a diferenciação entre reforma política e reforma eleitoral, que não podem ser utilizadas como sinônimos. Reforma política seria um termo mais amplo, utilizado para designar mudanças no próprio sistema político como um todo, motivado por pressões sociais que não se veem representadas pelos governantes e clamam por mais participação. Ao definir reforma política, Frei Sérgio Antônio Gorgen (2016) fala de uma “crise de representação” que, em suas palavras, “é quando os representados não se sentem mais representados por seus governantes formais e deixam de acreditar no próprio sistema de representação, pois sabem antecipadamente que seus anseios e necessidades não estarão sendo minimamente atendidos”. Um dos motivos dessa crise de representação advém da influência do poder econômico em nosso sistema político. Pode-se dizer que os maiores empresários do país estão no poder, seja como políticos ou como financiadores das campanha dos políticos aliados. Nestes dois casos, os eleitos não trabalhariam em prol da população e do bem comum, pelo contrário: desenvolveriam suas ações no sentido de manter os privilégios sempre existentes. Já a reforma eleitoral, por sua vez, tem um campo de abrangência menor. Ela busca alterar as regras da campanha para que o pleito possa ocorrer de forma igualitária, sem que uma parcela da sociedade, em geral os mais ricos, seja beneficiada em detrimento de outra. Ao tratar dos objetivos das reformas política e eleitoral, Fernando de Lascio (2015) afirma que: Enquanto na reforma política o principal objetivo é a inclusão da sociedade nos processos decisórios das políticas públicas, portanto, a implementação da democracia participativa, na reforma eleitoral o objetivo geral é aperfeiçoar as normas de campanha, tais como financiamento de público de campanha, reeleição, prazos, inelegibilidade, ficha limpa, etc. Feita esta diferenciação inicial, a seguir serão expostas as principais reformas eleitorais ocorridas na legislação brasileira entre os anos de 2003 a 2015. Serão abordadas as principais mudanças como também sua importância para um processo eleitoral limpo e honesto, cada vez menos sujeito ao poderio econômico. 3.1 – GOVERNO LULA (2003 - 2011) Durante o governo Lula ocorreu duas minirreformas eleitorais, a Lei 11.300/2006 e a Lei nº 12.034/2009, ambas com o objetivo de trazer melhorias para o nosso sistema 18 eleitoral no tocante à contenção de gastos no período eleitoral, a regularização da publicidade eleitoral e da prestação de contas dos candidatos. 3.1.1 Minirreforma eleitoral de 2006 (Lei nº 11.300/2006) Durante os 8 anos de governo Lula, a legislação eleitoral passou por algumas alterações. Entre elas, citamos as inovações trazidas pela Lei nº 11.300, de 10 de maio de 2006, chamada de "minirreforma eleitoral", o objetivo principal desta lei era conter gastos e o excesso de recursos publicitários envolvidos nas eleições. Na parte financeira, podemos falar da responsabilidade solidária do tesoureiro de campanha, que a partir da Lei de 2006, passou a dividir a responsabilidade da administração financeira com o candidato. Além disso, devem ser abertas contas durante o período eleitoral, com a finalidade de apenas movimentar custos da campanha, não devendo ser utilizada nenhuma outra conta além da exclusiva. 27 A respeito das doações de campanha, a minirreforma trouxe novidades, impondo que estas somente poderão efetuadas em contas do partido ou do próprio candidato, pessoas jurídicas não podem fazer doações em dinheiro, devendo transferir ou depositar cheque cruzado e pessoas físicas podem doar dinheiro em espécie, desde que o depósito seja identificado da forma correta. A Lei 11.300/06 ainda trouxe no seu art. 26, um rol de gastos eleitorais que devem ser feitos registros, gastos com aluguel de bens particulares, montagens de carros de som, gastos com propaganda e publicidade, entre outros. A coibição das irregularidades aumentou, diante da possibilidade que a Lei trouxe de cassar o candidato após as eleições, caso este tenha cometido irregularidades durante o pleito. Quanto ao marketing de campanha, houve alterações consideráveis. Passou a não ser mais permitida qualquer meio de propagandas em bens públicos, como permitia a Lei 9504/97; também foi proibida a distribuição de brindes como: bonés, camisas, chaveiros, entre outros, com o objetivo de coibir a vantagem do candidato. Os conhecidos Showmícios também foram proibidos. Os outdoors não podem ser utilizados na campanha eleitoral, sujeitando-se a empresa responsável ou partido a retirada e o pagamento de multa. 27 “Novas regras para as eleições de 2006”. 2006. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/8580/novas- regras-para-as-eleicoes-de-2006 >. Data de Acesso em: 03 de novembro de 2016. 19 Outra importante mudança foi a proibição de candidatos que possuíam programas de rádio ou televisão, que a partir da lei devem encerrar suas atividades a partir do resultado da convenção, que ocorre em junho, como forma de evitar o abuso de poder pela mídia. Por último, se faz necessária a apresentação de mais uma mudança. O artigo 73 da Lei 11.300/06, apresentou o seguintetexto que fala da proibição da doação de bens e valores pela Administração pública: "no ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa." 3.1.1 Minirreforma eleitoral de 2009 (Lei nº 12.034/2009) A segunda minirreforma eleitoral do governo Lula foi a Lei nº 12.034 de 2009, que segundo os eu texto, altera as Leis nos 9.096, de 19 de setembro de 1995 - Lei dos Partidos Políticos, 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições, e 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código eleitoral. Se faz necessário uma breve análise acerca das mudanças que a Lei trouxe para o nosso sistema eleitoral, iniciando pela internet, devido a evolução da era tecnológica. A lei permitiu o uso de redes sociais, sites e blogs, como meio de propaganda eletrônica, permitiu a doação pela internet através do cartão de crédito e direito de resposta na internet. No tocante a prestação de contas houve uma “suavização” nas punições, tendo em vista que o candidato ou partido que não prestar as contas corretamente sofrerá sanção de forma proporcional, por um a doze meses e não poderá ser aplicada a esta suspensão caso as contas não tenham sido julgadas depois de cinco anos de sua apresentação, ainda cabendo recurso em todas as instâncias com efeito suspensivo. Em relação às campanhas nas ruas, a lei proibiu a propaganda em bens públicos de uso comum, propriedades comerciais, árvores e jardins de área públicas, cercas. No dia das eleições estão proibidas as aglomerações e manifestações coletivas com roupas de propagandas. A lei proibiu os trios elétricos nas carreatas, podendo ser utilizados apenas nos comícios, sendo permitidas as movimentações de entrega de material de campanha e caminhadas até às 22 horas do dia anterior ao pleito. 20 As propagandas antecipadas, ou seja, material divulgado antes do dia 5 de julho do ano eleitoral, serão aplicadas multas aos responsáveis, que vão de cinco mil reais a vinte e cinco mil reais. Os candidatos também devem ter cuidado, pois a nova reforma estabeleceu o prazo de um ano para julgamento definitivo de processo de perda de mandato pela Justiça Eleitoral. Também é de grande importância a apresentação de propostas por parte dos candidatos, que são obrigatórias para a validação do registro de candidatura. 3.2 GOVERNO DILMA ROUSSEFF (2011 a 2016) Foi durante o Governo da Presidenta Dilma Rousseff que a legislação eleitoral sofreu transformações significativas, sobretudo no que diz respeito à busca pela moralidade e honestidade dos que concorrem no pleito, como pela procura em acabar, ou no mínimo diminuir, a influência do poder econômico no resultado das eleições. 3.2.1 Minirreforma eleitoral de 2013 (Lei n.º 12.891/2013) A primeira minirreforma eleitoral que ocorreu durante o governo de Dilma Rousseff foi a de 2013. Aprovada por intermédio do Projeto de Lei n.º 441, de 2012 (no 6.397/13 na Câmara dos Deputados), que altera dispositivos da Lei dos Partidos Políticos (Lei n.º 9.096/95), da Lei das Eleições (Lei n.º 9.504/97) e do Código Eleitoral (Lei n.º 4.737/65), destacando as inclusões normativas promovidas nas mencionadas leis e as modificações ocorridas nas regras que se encontravam vigentes. A finalidade da minirreforma eleitoral de 2013 é diminuir os custos das campanhas eleitorais, apresentando aperfeiçoamentos da legislação eleitoral. 28 Uma das mudanças consideráveis foi o cancelamento de filiação a partido político, onde para ter o cancelamento imediato da filiação partidária, basta o candidato se filiar a outro partido, passando a vigorar a filiação do partido mais recente, diferente das regras anteriores, que exigiam o cancelamento da antiga filiação. 28 "Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2013”. Justiça Eleitoral. 2014. Disponível em: < http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-artigo-breves-notas-sobre-a-minirreforma-eleitoral-de-2013 >. Data de acesso: 05 de novembro de 2016. 21 Em relação a ata da convenção, esta deve ser feita e publicada em qualquer meio de comunicação em até 24 horas após a realização da convenção. E caso não seja obedecida a norma, o juiz eleitoral pode determinar o seu cumprimento obrigatório. Antes da minirreforma a substituição de candidatos às eleições majoritárias poderia ocorrer a qualquer tempo e dos candidatos às eleições proporcionais em até 60 dias antes do pleito. Porém, o prazo para substituição de candidatos foi estabelecido em 20 dias, tanto para majoritária quanto para proporcional. Em relação aos gastos de campanha, 10 % (dez por cento) foram limitados com alimentação do pessoal que presta serviços às candidaturas e 20% (vinte por cento) ao aluguel de veículos. Os gastos com a contratação do pessoal em campanha estão expressos pelos artigos 100-A e 30-A, que estabelecem a contratação direta ou terceirizada para a prestação de serviços de militância e a contratação está vinculada aos limites impostos aos seus candidatos. São excluídos dos limites fixados a militância não remunerada, pessoal contratado para apoio administrativo e operacional, fiscais e delegados credenciados para trabalhar nas eleições e os advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações. Quanto ao marketing eleitoral, passou a ser proibida a veiculação de propaganda eleitoral em vias públicas utilizando cavaletes, bonecos e cartazes, sendo permitido apenas o uso de bandeiras móveis. A minirreforma limitou o tamanho dos adesivos, tendo as dimensões máximas de 50cm por 40cm, porém, proibiu adesivos em taxis e ônibus. O marketing sonoro também foi reformado, estabelecendo um limite de volume e de funcionamento do dia 6 de julho até as eleições, das 8 às 22 horas, com distância nunca inferior a 200 metros de órgãos públicos e de hospitais, fóruns, escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros. O volume máximo permitido para o funcionamento do som é de 80 decibéis de pressão sonora. Um importante assunto, tendo em vista a sua atualidade, que a minirreforma trouxe, foi a possibilidade de manifestação e posicionamento pessoal sobre questões políticas nas redes sociais antes do período destinado a propaganda eleitoral, em decorrência do direito fundamental da livre manifestação do pensamento. Por fim, a nova lei também estabeleceu que a prestação de contas deve ser realizada mediante escrituração contábil, sendo necessária fiscalização de documentos contábeis e fiscais apresentados pelo partido, contendo as despesas da campanha eleitoral como um todo. 22 3.2.2 Minirreforma eleitoral de 2015 (Lei nº 13.165/2015) A segunda e última minirreforma eleitoral do governo Dilma Rousseff foi a Lei nº 13.165, aprovada em 9 de setembro de 2015, por intermédio do Projeto de Lei nº 5.735/13 na Câmara dos Deputados e nº 75/15 no Senado Federal, que altera dispositivos da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97), da Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95) e do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), destacando as inclusões normativas promovidas nas mencionadas leis e as modificações ocorridas nas regras que se encontravam vigentes. A finalidade da lei estudada é reduzir os custos das campanhas eleitorais (a mesma atribuída à minirreforma anterior, implementada pela Lei nº 12.891/2013),simplificar a administração dos partidos políticos e incentivar a participação feminina.29 O presente estudo trará uma breve análise das novidades mais relevantes que a lei trouxe. Inicialmente se faz necessário abordar as mudanças na cassação do registro, que com a nova lei as decisões dos Tribunais Regionais acerca das ações que tenham como objeto a cassação de registro, anulação geral de eleições ou perna de diplomas, deverão ser tomadas mediante a presença de todos os juízes integrantes; segundo o Art. 257, §2º da Lei 13.165/15, os recursos das respectivas ações serão recebidos pelo tribunal competente com efeito suspensivo. 30 No tocante ao registro de candidatura, alterações foram feitas no prazo para o candidato dar entrada no registro de candidato a cargo eletivo, passando a ser até o dia 15 de agosto do ano das eleições, alterando o prazo anterior que era de até 90 (noventa) dias antes do pleito. Já o prazo para julgamento dos registros era de setenta dias antes do pleito, sendo alterado para até 20 dias antes do pleito. As convenções partidárias que têm como objetivo a escolha de candidatos nas eleições majoritária e proporcional, são abordadas na nova lei e o seu prazo para realização deverá ser entre os dias 20 de julho a 05 de agosto do ano do pleito. A Reforma Eleitoral de 2015 também trouxe novas regras para os candidatos eleitos nas eleições proporcionais, ou seja, vereador, deputado federal, deputado estadual e 29 "Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2015”. Justiça Eleitoral. 2015. Disponível em: < http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-breves-notas-sobre-a-minirreforma-eleitoral-de-2015- 1449677024470 >. Data de acesso: 06 de novembro de 2016. 30 "Série Reforma Eleitoral 2015: conheça os principais pontos alterados no Código Eleitoral”. Tribunal Superior Eleitoral. 2015. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Outubro/serie- reforma-eleitoral-2015-conheca-os-principais-pontos-alterados-no-codigo-eleitoral >. Data de acesso: 06 de novembro de 2016. 23 deputado distrital, estabelecendo que serão eleitos apenas os candidatos que tenham obtido um número igual ou superior a 10% do quociente eleitoral. Outro importante avanço que a minirreforma trouxe para os nossos direitos políticos é a ampliação do voto em trânsito. A partir de agora o código eleitoral assegura que o eleitor que estiver dentro do estado em que vota poderá votar para diversos cargos políticos em cidades com mais de 100 mil eleitores. Os militares também poderão votar na circunscrição em que estiverem laborando, mesmo que não seja no seu domicílio eleitoral. A Lei 13.165 de 2015 trouxe diversas outras novidades e alterações do nosso sistema eleitoral, porém, como apresentado no início do tópico, o objetivo deste capítulo é fazer apenas uma breve análise das reformas eleitorais em um contexto evolutivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os direitos políticos fazem parte da terceira geração dos direitos fundamentais, sendo de grande importância para garantir ao povo a sua soberania e participação direta ou indireta da administração do Estado. Porém, os direitos políticos surgiram sob uma égide diferente dos dias de hoje, sofrendo forte influência das classes dominantes. Observa-se esta tendência ao analisar que os primeiros códigos restringiam o direito de votar e ser votado, estabelecendo condições para o exercício da cidadania, baseados no poder e status econômico da população, ás questões relacionadas ao gênero e idade do indivíduo. Acompanhando a evolução das questões sociais e luta pelos direitos fundamentais, os direitos políticos passaram a fazer parte de um contexto mais igualitário. Embora a realidade atual seja bastante diferente do que existia na época do seu surgimento, sobretudo no que diz respeito a amplitude dos direitos, que hoje podem ser exercidos por homens e mulheres, pobres e ricos, observadas as disposições legais e constitucionais, não podemos deixar de admitir que violações ainda existem, sobretudo no que diz respeito ao abuso do direito econômico. Sob esses aspectos, surgiu a necessidade de leis com a finalidade de reformar o nosso sistema eleitoral, tornando o pleito mais igualitário entre os candidatos e abolindo o máximo possível a autopromoção dos candidatos que através do poder econômico e político. Apesar das minirreformas eleitorais e dos avanços que estas trouxeram, o país necessita de uma reforma política incisiva, que traga mudanças significativas para o nosso sistema político e eleitoral, consequentemente possibilitando um maior desenvolvimento do país. 24 REFERÊNCIAS Apud ARRUDA, Marcos. CALDEIRA, Cesar. 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