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Direito Constitucional I - 2019-2 - Aula 05 - Poder Constituinte

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Direito Constitucional I
Paulo Máximo
AULA 6
Unidade 1
Poder Constituinte
Conceito:
Para Gilmar Mendes a autoridade máxima da Constituição, reconhecida pelo constitucionalismo, vem de uma força política capaz de estabelecer e manter o vigor normativo do Texto. 
Essa magnitude que fundamenta a validez da Constituição, desde a Revolução Francesa, é conhecida pelo nome de poder constituinte originário.
Alexandre de Moraes destaca que a ideia da existência de um poder constituinte é o suporte lógico de uma Constituição superior ao restante do ordenamento jurídico e que, em regra, não poderá ser modificada pelos poderes constituídos.
É, pois, esse Poder Constituinte, distinto, anterior e fonte da autoridade dos poderes constituídos, com eles não se confundindo.
Gilmar Ferreira Mendes que o poder constituinte originário é a força política consciente de si que resolve disciplinar os fundamentos de modo de convivência na comunidade política. 
O conceito de poder constituinte originário é devedor dos estudos de Sieyès, autor do opúsculo Que é o Terceiro Estado?, considerado um verdadeiro manifesto da Revolução Francesa.
Sieyès enfatiza que a Constituição é produto do poder constituinte originário, que gera e organiza os poderes do Estado (os poderes constituídos), sendo, até por isso, superior a eles. 
Sieyès se propunha a superar o modo de legitimação do poder vigente, baseado na tradição, por um poder político que tem uma decisão originária, não vinculada ao Direito preexistente, mas à nação, como força que cria a ordem primeira da sociedade. 
Para isso, cercou o conceito de poder constituinte originário de predicados colhidos da teologia, ressaltando a sua desvinculação a normas anteriores e realçando a sua onipotência, capaz de criar do nada e dispor de tudo ao seu talante.
Características:
Gilmar Ferreira Mendes aponta três características básicas que se reconhecem ao poder originário: 
Inicial:
 Ilimitado (ou autônomo); e
 Incondicionado.
É inicial, porque está na origem do ordenamento jurídico. 
É o ponto de começo do Direito. 
Por isso mesmo, o poder constituinte não pertence à ordem jurídica não está regido por ela. 
Se ele não se inclui em nenhuma ordem jurídica, não será objeto de nenhuma ordem jurídica. 
O Direito anterior não o alcança nem limita a sua atividade. Por isso ilimitado.
Podendo decidir o que quiser, de igual sorte, não pode ser regido nas suas formas de expressão pelo Direito preexistente, daí se dizer incondicionado.
Para Gilmar Mendes que o caráter ilimitado, deve ser entendido em termos. 
Essa características diz respeito à liberdade do poder constituinte originário com relação a imposições da ordem jurídica que existia anteriormente. 
Mas haverá limitações políticas inerentes ao exercício do poder constituinte.
Outro ponto ressaltado pelo autor é de que os estudos sobre o poder constituinte originário costumam se referir à eficácia atual, como traço distintivo desse ente. 
Quem atua como poder constituinte originário deve-se consistir numa força histórica efetiva, apta para realizar os fins a que se propõe. 
Segundo Gilmar Ferreira Mendes pode-se falar em limitação intrínseca do poder constituinte originário, ainda sob outro ângulo. 
Não há espaço para decisões caprichosas ou totalitárias do poder constituinte originário, já que ele existe para ordenar juridicamente o poder do Estado; portanto vai instituir um Estado com poderes limitados.
Momentos de expressão do Poder Constituinte Originário:
O poder constituinte originário não se esgota quando edita uma Constituição. 
Ele subsiste fora da Constituição e está apto para se manifestar a qualquer momento. 
Trata-se, por isso, de um poder permanente, e como também incondicionado, não se sujeita a formas prefixadas para operar.
Subdivisão:
Para Pedro Lenza o poder constituinte originário pode ser subdividido em:
Histórico: seria o verdadeiro poder constituinte originário, estruturando, pela primeira vez o Estado.
Revolucionário: seriam todos os posteriores ao histórico, rompendo por completo com a antiga ordem e instaurando uma nova, ou seja, um novo Estado.
Poder constituinte originário formal e material:
Formal: é o ato de criação propriamente dito e que atribui a roupagem com status constitucional a um “complexo normativo”;
 
Material: é o lado substancial do poder constituinte originário, qualificando o direito constitucional formal como status de norma constitucional. Será o orientador da atividade do constituinte originário formal que, por sua vez, será o responsável pela “roupagem” constitucional. É aquele que rompe com a ideia de direito e estabelece um novo pacto material, mas sem antes de estabelecer as novas regras.
O material diz o que é constitucional;
O formal materializa e sedimenta a Constituição. 
O material precede o formal, estando ambos interligados.
Para Jorge Miranda o poder constituinte formal confere estabilidade e garantia de permanência e de supremacia hierárquica ou sistemática ao princípio normativo inerente à Constituição material. 
Estabilidade, visto que a certeza do Direito exige o estatuto da regra. 
Garantia, visto que só a Constituição formal coloca o poder constituinte material (ou o resultado da sua ação) ao abrigo das vicissitudes da legislação, da prática quotidiana do Estado e das forças políticas.
Formas de manifestação do poder constituinte originário:
 Se o ato constituinte compete a uma única pessoa, ou a um grupo restrito, em que não intervém um órgão de representação popular, fala-se em ato constituinte unilateral. 
O resultado, como visto, é uma Constituição outorgada.
Em outros casos, aponta o autor, a Constituição é promulgada por uma Assembleia de representantes do povo. 
Destaca-se que Alexandre de Moraes denomina a Assembleia Nacional Constituinte de convenção. 
Este é o sistema clássico de elaboração de constituições democráticas. O método dá origem à chamada Constituição votada.
Fala-se também, em se tratado de Constituição votada, em procedimento constituinte direito, quando o projeto elaborado pela Assembléia obtém validade jurídica por meio da aprovação direta do povo, que se manifesta por meio de plebiscito ou referendo.
Ao lado do procedimento constituinte direito, há a técnica do procedimento constituinte indireto ou representativo. 
A participação do povo esgota-se na eleição de representantes para uma assembléia, que deverá elaborar e promulgar o texto magno.
Constituição de 1988: Resultado de exercício do poder constituinte originário:
A Constituição de 1988, apesar de ter sido resultado de uma Convocação de Assembléia Constituinte, foi efetuada por meio de uma emenda à carta passada.
Para Gilmar Mendes, apesar da Assembléia Constituinte ter sido convocada por emenda à Constituição de 1967/69, isso não reponta como obstáculo a que se veja atuante o poder constituinte originário. 
Afinal, esse poder não se expressa apenas em seguida a graves tumultos sociais, mas se exprime sempre que entende de mudar a estrutura constitucional do Estado nos seus aspectos mais elementares.
Ademais, sendo um poder incondicionado, nada obsta que o poder constituinte originário se valha da autodissolução da ordem anterior para realizar os seus intentos. 
Nada impede que a ordem constitucional se dê por exaurida e convoque o poder constituinte originário para substituí-la, tal qual em 1985.
Não bastasse isso, houve eleições antes da instauração da Assembléia Nacional, e o povo sabia que estava elegendo representantes que também tinham por missão erigir uma nova ordem constitucional para o País.
Questões práticas relacionadas com o poder constituinte originário
Supremacia da Constituição:
Para Gilmar Mendes o conflito de leis com a Constituição encontrará solução na prevalência desta,justamente por ser a Carga Magna produto do poder constituinte originário.
Assim, de acordo com a doutrina clássica, por isso mesmo, o ato contrário à Constituição sofre de nulidade absoluta.
Recepção:
O poder constituinte originário dá início à ordem jurídica. 
Isso, porém, não significa que todos os diplomas que lhe são anteriores perdem vigor com a norma Constituição, pois isso inviabilizaria a ordem jurídica.
Por isso se entende que aquelas normas anteriores à Constituição, que são com ela compatíveis no seu conteúdo, continuam em vigor.
 Nesse caso, opera-se o fenômeno da recepção, que corresponde a uma revalidação das normas que não desafiam, materialmente, a nova Constituição.
Às vezes, a recepção é expressa. 
Contudo, o mais frequente é a recepção implícita, como acontece no sistema brasileiro atual.
 As normas antigas ainda devem ser interpretadas à luz das novas normas constitucionais.
Revogação ou inconstitucionalidade superveniente?
Se a norma anterior à Constituição não guarda compatibilidade de conteúdo com esta, não continuará a vigorar, havendo, aqui, quem considere ocorrer caso de revogação e quem veja na hipótese uma inconstitucionalidade superveniente.
Se o entendido que o caso é de inconstitucionalidade superveniente haveria a possibilidade do STF apreciar a validez da norma em ação direta de inconstitucionalidade. 
Se a hipótese for vista como de revogação, por outro lado, os tribunais não precisariam de quorum especial para afastar a incidência da regra no caso concreto.
No STF a tese vitoriosa foi a da revogação.
CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. 
A lei ou e constitucional ou não e lei. Lei inconstitucional e uma contradição em si. A lei e constitucional quando fiel a Constituição; inconstitucional, na medida em que desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vício da inconstitucionalidade e congênito a lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação a Constituição superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. 
A Constituição sobrevinda não torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as. Pelo fato de ser superior, a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico que a lei fundamental, por ser suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A lei maior valeria menos que a lei ordinária. Reafirmação da antiga jurisprudência do STF, mais que cinquentenária. Ação direta de que se não conhece por impossibilidade jurídica do pedido, nos termos do voto proferido na ADIn n. 2-1/600. (ADI 521, Relator(a):  Min. PAULO BROSSARD, Tribunal Pleno, julgado em 07/02/1992, DJ 24-04-1992 PP-05375 EMENT VOL-01658-01 PP-00047 RTJ VOL-00141-01 PP-00056)
Normas da antiga Constituição compatíveis com a nova Constituição:
Indaga-se sobre o fenômeno da recepção também alcança as normas da antiga Constituição que permanecem compatíveis com a nova ordem constitucional.
Pontes de Miranda sustentou que “as leis continuam em vigor são todas as que existiam e não são incompatíveis com a Constituição nova. 
Inclusive as regras contidas na Constituição anterior, posto que como simples leis. 
Outra a solução seria a de que apenas as normas materialmente constitucionais não poderiam ser recebidas. 
As normas formalmente constitucionais seriam passíveis da recepção tácita, sendo simplesmente “desconstitucionalizadas”, valendo, então como normas ordinárias.
Nenhuma das teses receberam a adesão do STF.
Prevaleceu a ideia de que a antiga Constituição fica globalmente revogada, evitando-se que convivam, num mesmo momento, a atual e a anterior expressão do poder constituinte originário empregada para elaborar toda a Constituição.
Nada impede, no entanto, que a nova Constituição ressalve a vigência de dispositivos isolados da Constituição anterior.
Ex.: art. 34 do ADCT.
Nada impede, no entanto, que a nova Constituição ressalve a vigência de dispositivos isolados da Constituição anterior.
Ex.: art. 34 do ADCT.
Normas anteriores à Constituição e modificação de competência:
Indaga-se também qual a medida cabível em relação a uma lei produzida por um dos entes da Federação quando a nova Constituição entrega a competência para legislar sobre o esmo tema para outro ente.
Segundo Gilmar Mendes o problema é de incompatibilidade formal. 
Para o autor não há cogitar de uma federalização de normas estaduais ou municipais, por força de alteração na regra de competência. 
Por isso sustenta que se o tema torna assunto de competência federal com a nova Carta, não haveria como aceitar que permanecessem em vigor como se leis federais fossem.
Contudo se a norma pretérita era federal e houve a mudança para os entes estadual ou municipal, Gilmar Mendes defende a prorrogação da vigência. 
Nesse caso não haveria empecilho definitivo ao princípio da continuidade do ordenamento jurídico.
Repristinação:
Não se admite a repristinação, em nome do princípio da segurança das relações, o que não impede, no entanto, que a nova Constituição expressamente revigore aquela legislação.
À mesma solução se chega considerando que só é recebido o que existe validamente no momento que a nova Constituição é editada. 
A lei revogada, já não mais existindo, não tem como ser recebida.
Possibilidade de ser declarada inconstitucional norma anterior à Constituição:
Para Gilmar Mendes no sistema brasileiro, em que o controle de constitucionalidade é visto como atividade jurisdicional comum, nada obsta a que o juiz da causa declare inválida norma editada antes da Constituição em vigor que não respeitou formalmente a Constituição que vigorava quando foi editada, ainda que a lei não se aparte, no seu conteúdo, da nova Carta.
Uma vez que vigora o princípio de que, em tese, a inconstitucionalidade gera a nulidade absoluta da lei, uma norma na situação em tela já era nula desde quando editada, pouco importando a compatibilidade material com a nova Constituição, que não revigora diplomas nulos.
O Supremo tem precedentes, posteriores à Constituição de 1988, em que se resolveu problemas de inconstitucionalidade formal de diplomas em face da Constituição vigente quando editados.
Para Ives Gandra da Silva Martins o texto inconstitucional não pode ser recepcionado pela nova ordem, mesmo que esta não considere inconstitucional o que a ordem pretérita assim considerava.
Poder constituinte originário e direitos adquiridos:
Indaga-se acerca da possibilidade de invocar-se direito adquirido contra Constituição.
A Constituição, expressão do poder constituinte originário, não precisa, para ser válida, de corresponder pontualmente a uma dada teoria política. 
O constituinte é livre para dispor sobre a vida jurídica do Estado como lhe parecer mais conveniente. 
Pode combinar princípios políticos no texto que elabora.
Se uma norma da Constituição proíbe determinada faculdade ou direito, que antes era reconhecido ao cidadão, a norma constitucional nova há de ter plena aplicação, não precisando respeitar situações anteriormente constituídas.
A Constituição é o diploma inicial do ordenamento jurídico e que as suas regras têm incidência imediata.
Somente é direito o que com ela é compatível, o que nela retira o seu fundamento de validade. 
Quando a Constituição consagra a garantia do direito adquirido, está prestigiando situações e pretensões que não conflitam com a expressão da vontade do poder constituinte originário. 
O poder constituinte originário dá início ao ordenamento jurídico, define o que pode ser aceito a partir de então. 
O constituinte e apenas ele, pode excepcionar a incidência imediata de alguma de suas normas, por meio de cláusulas de transição, se entender que isso melhor consulta ao interesse da ordem constitucional.Ex.: art. 41 do ADCT.
Se não é possível arguir direito adquirido contra a Constituição, já se questionou, entretanto, que a norma constitucional, em certas hipóteses, deve ser interpretada como a pretender disciplinar certo tema a partir da sua própria edição, sem afetar a causa de um direito, ocorrida antes da promulgação da Carta.
Em um primeiro momento o STF manifestou-se no sentido que, não havendo, em princípio, leis retroativas, a retroação constitucional exigiria determinação expressa do constituinte nesse sentido. 
MAGISTRADO. APOSENTADORIA. Magistrado que, antes do advento da Constituição Federal de 1967, já reunira o direito de inativar-se de conformidade com a legislação anterior, inclusive com os acréscimos estabelecidos no art. 3 da lei n 8.533, de 30.12.64, do Estado de São Paulo, vale dizer, com os proventos calculados com base nos vencimentos e vantagens do cargo de padrão imediatamente superior ao de que fosse ocupante e, se desembargador, com o acréscimo de 20 por cento. a circunstancia de a aposentadoria não ter sido requerida na vigência do parágrafo 1 do art. 177 da Carta de 1967, dispositivo esse não reproduzido na Emenda Constitucional n 1, DE 1969, não afasta o direito pretérito a aposentadoria, como também não o afasta o fato de o postulante ter sido promovido a desembargador em 1969. Recurso Extraordinário conhecido e provido em parte. (RE 74541, Relator(a):  Min. ANTONIO NEDER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/05/1981, DJ 03-07-1981 PP-06647 EMENT VOL-01219-02 PP-00312 RTJ VOL-00103-01 PP-00167)
O entendimento está hoje superado. 
Firmou-se, logo mais, que a proibição inserta numa norma constitucional apanha situações constituídas no passado, destinadas a produzir efeitos ao longo do tempo, acentuando-se que as garantias do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada não se dirigem ao constituinte.
A nova Constituição pode afetar ato praticado no passado, no que respeita aos efeitos que deveriam ocorrer na vigência da nova Carta.
Os efeitos futuros de fatos passados são atingidos pelo novo preceito constitucional, respeitados apenas – exceto se a Constituição expressamente declarar ao contrário – os efeitos que ocorreram antes da vigência do novo texto constitucional. 
A Constituição, ao aplicar-se de imediato, não desfaz os efeitos passados de fatos passados (salvo se expressamente estabelecer o contrário), mas alcança os efeitos futuros de fatos a ela anteriores (exceto se os ressalvar de modo inequívoco).
O STF passou a entender, portanto, que somente quando a nova norma constitucional claramente ressalva uma situação, que seria agora inválida, mas criada licitamente antes dela, somente nessa situação merece continuar a ser protegida. 
De qualquer forma, os efeitos do ato praticado anteriormente que se exauriram antes da nova norma constitucional não sofrem a influência da nova norma constitucional, a não ser que esta seja expressa nesse sentido.
Gilmar Ferreira Mendes reconhece, assim, como típico das normas do poder constituinte originário serem dotadas de eficácia retroativa mínima: 
Eficácia retroativa mínima: atingem efeitos futuros de fatos passados. 
Eficácia retroativa média: alcançam prestações vencidas anteriormente e a essas normas e não pagas;
Eficácia retroativa máxima: alcançam fatos constituídos no passado.
De regra as normas constitucionais têm eficácia retroativa mínima, mas para que opere com retroatividade média ou máxima, o propósito do constituinte deve ser expresso.
IMPORTANTE: o legislador comum não pode afetar ato jurídico perfeito ou direito adquirido, nem mesmo nos efeitos futuros dos atos praticados antes da mesma lei, sob pena de contrariar o art. 5º, XXXVI da Constituição. 
Poder Constituinte derivado:
Pedro Lenza ensina que o poder constituinte derivado é uma criação do originário. 
Ao contrário de seu criador o poder constituinte derivado deve obedecer às regras colocadas e impostas pelo poder constituinte originário, sendo, nesse sentido limitado e condicionado aos parâmetros a ele impostos.
Alexandre de Moraes destaca que o poder constituinte derivado está inserido na própria Constituição, pois decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional.
Parte da doutrina prefere a utilização da terminologia competência, em vez de poder constituinte derivado, pois só seria poder constituinte o que derivasse diretamente da soberania popular e fosse ilimitado.
Características:
derivado: pois retira sua força do Poder Constituinte originário;
 
subordinado: porque se encontra limitado pelas normas expressas e implícitas do texto constitucional, às quais não poderá contrariar, sob pena de inconstitucionalidade; e
 
condicionado: porque seu exercício deve seguir as regras previamente estabelecidas no texto da Constituição Federal.
Subdivisões:
Para Alexandre de Moraes o poder constituinte derivado subdivide-se em poder constituinte reformador e decorrente. 
Pedro Lenza, por sua vez, derivam do poder constituinte originário o reformador, o decorrente e o revisor.
Poder Constituinte Derivado de Reforma:
Alexandre de Moraes explica que o poder constituinte derivado reformador, ou competência reformadora, consiste na possibilidade de alterar-se o texto constitucional respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria Constituição exercida por determinados órgãos com caráter representativo.
Para Alexandre de Moraes a manifestação do poder constituinte derivado, embora se possa traduzir na alteração de muitas disposições da Constituição, sempre conservará um valor integrativo, no sentido de que deve deixar substancialmente idêntico o sistema originário da Constituição.
Pedro Lenza ressalta o fato do processo previsto no texto constitucional ser estabelecido pelo poder constituinte originário, a qual resultará a modificação da Carta Magna, sem uma verdadeira revolução.
A manifestação do poder constituinte reformador verifica-se através das emendas constitucionais.
Gilmar Ferreira Mendes aponta que sendo um poder instituído, o poder de reforma está sujeito a limitações de forma e de conteúdo. 
Pedro Lenza e Alexandre de Moraes afirmam que há duas grandes espécies de limitações ao Poder reformador, as expressas ou explícitas e as implícitas. 
Há ainda a possibilidade de uma limitação temporal ao poder reformador, contudo, como se verá, esta não foi contemplada pela Constituição de 1988.
Restrições/limitações procedimentais ou formais:
Referem-se às disposições especiais, em relação ao processos legislativo ordinário, que o poder constituinte originário estabeleceu para permitir a alteração da Constituição Federal.
No sistema constitucional pátrio a liberdade do órgão reformador sofre restrições de ordem procedimental.
Iniciativa:
O art. 60 da Constituição aponta quem pode apresentar proposta de Emenda à Constituição:
1/3, no mínimo dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal;
O Presidente da República;
Mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
A Constituição não contemplou a iniciativa popular.
Segundo Pedro Lenza, havendo proposta de emenda constitucional por qualquer pessoa diversa das taxativamente enumeradas, estar-se-á diante de vício formal subjetivo, caracterizador de inconstitucionalidade.
O início da tramitação da proposta de emenda no Senado Federal está em harmonia com o disposto no art. 60, inciso I da Constituição Federal, que confere poder de iniciativa a ambas as Casas Legislativas. (ADI 2.031, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3-10-02, Plenário, DJ de 17-10-03)
Fase Constitutiva:
Em âmbito parlamentar exige-se a discussão da proposta em ambas as casas legislativas, bem como sua aprovação por quórum especialmente qualificado de 3/5 de votos favoráveis dos membros de cada Casa do Congresso Nacionale em dois turnos de votação em cada uma. (CF. art. 60, § 2º)
Ambas as casas devem anuir ao texto da emenda, para que ela prospere.
Não basta para que a proposta de emenda seja aprovada, que a Casa em que iniciou o processo rejeite as alterações à sua proposta produzida na outra Casa. 
Contudo ressalva-se que não será necessária a reapreciação da casa iniciadora pela expressão suprimida pela casa revisora em texto de projeto de emenda constitucional que, na redação remanesce, aprovada por ambas as casas, não perdeu sentido normativo.
Por isso o Congresso tem utilizado a técnica da PEC Paralela, ou seja, a parte que não foi modificada é promulgada e a parte da proposta de emenda modificada volta para a reanálise, e como se fosse uma nova emenda constitucional, para a Casa iniciadora.
Não existe participação do Presidente da República na fase constitutiva do processo legislativo de uma emenda constitucional. 
Segundo Alexandre de Moraes, o titular do poder constituinte derivado reformador é o Poder Legislativo. 
Assim, não haverá necessidade de deliberação executiva, ou seja, sanção ou veto. 
A emenda constitucional aprovada pelas duas casas do Congresso Nacional seguirá, diretamente, à fase complementar, para promulgação e publicação.
Fase complementar:
A promulgação da emenda será realizada pelas Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, com o seu respectivo número de ordem (CF, art. 60, § 3º).
O número de ordem nada mais é do que o numeral indicativo da quantidade de vezes que a Constituição foi alterada (pelo poder constituinte derivado reformador desde sua promulgação.
Acerca da publicação do texto, a Constituição é omissa.
Pedro Lenza e Alexandre de Moraes afirmam que deve-se entender que essa é competência do Congresso Nacional.
Proíbe-se a reapresentação Proposta de Emenda Constitucional, na mesma sessão legislativa, quando proposta de emenda já apresentada com a mesma matéria tiver sido rejeitada ou tida por prejudicada.
Considera-se, contudo, perfeitamente constitucional que a matéria rejeitada em uma sessão legislativa possa ser reapreciada em sessão legislativa extraordinária, desde que em outro ano, e não no mesmo. 
O STF entende que a matéria rejeitada ou dada prejudicada em uma sessão legislativa somente poderá ser reapreciada em sessão legislativa de outro ano, independendo que seja sessão legislativa ordinária ou sessão legislativa extraordinária, não se aplicando a exceção do art. 67 da Constituição, que trata-se do processo legislativo das leis.
A matéria votada em destaque na Câmara dos Deputados no DVS n. 9 não foi aprovada em primeiro turno, pois obteve apenas 298 votos e não os 308 necessários. Manteve-se, assim, o então vigente caput do art. 39, que tratava do regime jurídico único, incompatível com a figura do emprego público. (...) Vícios formais e materiais dos demais dispositivos constitucionais impugnados, todos oriundos da EC 19/98, aparentemente inexistentes ante a constatação de que as mudanças de redação promovidas no curso do processo legislativo não alteraram substancialmente o sentido das proposições ao final aprovadas e de que não há direito adquirido à manutenção de regime jurídico anterior. (...). (ADI 2.135-MC, Rel. p/ o ac. Min. Ellen Gracie, julgamento em 2-8-07, DJE de 7-3-08) 
Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos Deputados expressão suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redação remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, não perdeu sentido normativo. (ADI 3.367, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 13-4-05, Plenário, DJ de 22-9-06). No mesmo sentido: ADI 2.666, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3-10-02, Plenário, DJ de 6-12-02. 
Não ocorre contrariedade ao § 5º do art. 60 da Constituição na medida em que o Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara prejudicada a proposição que tiver substitutivo aprovado, e não rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V). É de ver-se, pois, que tendo a Câmara dos Deputados apenas rejeitado o substitutivo, e não o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, não se cuida de aplicar a norma do art. 60, § 5º, da Constituição. Por isso mesmo, afastada a rejeição do substitutivo, nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que não pode ser votado na mesma sessão legislativa é a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, e não o substitutivo que é uma subespécie do projeto originariamente proposto. (MS 22.503, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 8-5-96, Plenário, DJ de 6-6-97) 
Restrições circunstanciais:
Se proíbe a mudança em certos contextos históricos adversos à livre deliberação dos órgãos constituintes, como a intervenção federal, estado de sítio ou o estado de defesa (CF, art. 60, § 1º).
Restrições temporais:
Algumas constituições estabelecem restrição temporal, vedando emendas durante certo período de tempo.
Na história constitucional brasileira, apenas a Constituição do Império, de 1824 previu a vedação temporal de alterabilidade das normas constitucionais. 
Art. 174. Se passados quatro annos, depois de jurada a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece roforma, se fará a proposição por escripto, a qual deve ter origem na Camara dos Deputados, e ser apoiada pela terça parte delles.
Na Constituição brasileira de 1988 não há limitação expressa temporal para o poder constituinte derivado reformador. 
Pedro Lenza explica que a regra do art. 3º do ADCT destinada ao poder constituinte derivado revisor, determinando a revisão constitucional após 5 anos contados da promulgação.
Logo, não se configurou qualquer limitação temporal ao poder de reforma, mas apenas previsão de prazo para a revisão constitucional já esgotada.
Limitações materiais:
Se a reforma da Constituição tem por objetivo revitalizar a própria Constituição como um todo, é de entender que a identidade básica do texto deve ser preservada, o que, por si, já significa um limite à atividade da reforma. 
O próprio constituinte originário pode indicar os princípios que não admitem sejam modificados, como forma de manter a unidade no tempo do seu trabalho.
92
Tais limites não têm, segundo Gilmar Mendes, força para impedir alterações por meios revolucionários, mas se, com desrespeito a essas cláusulas pétreas, impõe-se a mudança da Constituição, ao menos se retira do procedimento a máscara da legalidade.
93
A ideia de que haja limites ao exercício do poder de rever a Constituição é motivo de controvérsia. 
Segundo Gilmar Ferreira Mendes a perplexidade surge de uma verificação: se ambos os poderes – originário e de reforma – são exercidos por representantes do mesmo povo, por que um desses poderes deve estar subordinado a outro?
94
Em teoria constitucional, já se buscou desfazer a ideia de que se estaria impondo a vontade de uma geração a outra. 
Parte-se do pressuposto de que o poder constituinte originário é a expressão da vontade do povo e que as limitações que este impõe destinam-se a restringir a vontade dos representantes do povo, no exercício dos poderes constituídos.
95
O próprio procedimento de elaboração da Constituição, com uma suposta perspectiva universalista atemporal a dominar os seus trabalhos, justificaria limitações aos poderes constituídos, mais voltados para a contingência imediata da política comum.
A consagração dessas cláusulas de perpetuidade é o argumento de que elas perfazem um núcleo essencial do projeto do poder constituinte originário, que ele intenta preservar de quaisquer mudanças institucionalizadas. 
96
A geração seguinte não se vê inexoravelmente presa às decisões da geração anterior. Ela as segue enquanto entender que deve. 
Nada impede que o povo, fazendo-se ouvir por meio do poder constituinte originário, rompa com as limitações impostas pela Constituição em vigore se dê um outro diploma magno. 
97
Natureza da cláusula pétrea:
Gilmar Ferreira Mendes que em torno das cláusulas pétreas aglutinam-se três correntes doutrinárias:
Há os que discutam a sua legitimidade e eficácia jurídica. 
Os que admitem a restrição, mas a têm como relativa, sustentando que ela pode ser removida pelo mecanismo da dupla revisão. 
Os que aceitam a limitação e a têm como imprescindível e incontornável.
98
Função Política:
O argumento dos que sustentam ser juridicamente inaceitáveis as cláusulas pétreas, dentre os quais estão Loewenstein e Joseph Barthélemy, apega-se à ideia de que não haveria uma diferença substancial entre o poder constituinte de revisão e o originário, sendo ambos formas de expressão da soberania do Estado.
99
Ambos são exercidos num regime democrático, por representantes do povo, por ele eleitos. 
Não haveria por que considerar o poder constituinte exercido num momento como superior à vontade do poder de revisão expressa posteriormente. 
A declaração de intangibilidade, por isso, teria uma função política, mas não força jurídica.
100
Vinculação relativa (dupla revisão):
As normas que impedem a revisão de certos preceitos básicos são juridicamente vinculantes, mas não seriam elas próprias imunes a alteração e à revogação. 
Se forem suprimidas, num primeiro momento, abre-se caminho para, em seguida, serem removidos os princípios petrificados.
101
Portanto, aceita-se que o poder constituinte originário estabeleça que certas cláusulas estejam ao abrigo de mudanças.
Mas se propõe que essa determinação somente deverá ser observada enquanto ela própria estiver em vigor, podendo ser revogada pelo poder de revisão.
102
O sentido básico do estabelecimento de limites materiais seria, assim, o de aumentar a estabilidade de certas opções do constituinte originário, assegurar-lhe maior sobrevida, por meio do agravamento do processo da sua substituição.
103
Absolutamente vinculante:
O argumento dos que tem a limitação como absolutamente vinculante e imprescindível ao sistema.
Parte do pressuposto de que o poder de revisão, criado pela Constituição, deve conter-se dentro do parâmetro das opções essenciais feitas pelo constituinte originário.
104
Se o poder revisional enfrenta a lógica da Constituição que o previu, e se desgarra do núcleo essencial dos princípios que a inspiraram e que lhe dão unidade, ocorreria um desvio de poder.
O propósito do poder de revisão não é criar uma nova Constituição, mas sim ajustá-la – mantendo a sua identidade – às novas conjunturas.
105
Se o poder de revisão se liberta totalmente da Constituição há uma nova Constituição, o poder de revisão ter-se-á arrogado, então, a condição de poder constituinte originário.
Raciocina-se, ainda, contra a tese da dupla revisão, que só faz sentido declarar imutáveis certas normas se a própria declaração de imutabilidade também o for.
106
Gilmar Mendes destaca que as cláusulas pétreas além de assegurar a imutabilidade de certos valores, além de preservarem a identidade do projeto do constituinte originário, participam, elas próprias, como tais, também da essência inalterável desse projeto. 
Assim, eliminar a cláusula pétrea já é enfraquecer os princípios básicos do projeto do constituinte originário garantidos por ela.
Predomina no Brasil esse entendimento.
107
Finalidade da cláusula pétrea:
Para Gilmar Ferreira Mendes a cláusula pétrea não existe tão-só para remediar situação de destruição da Carta, mas tem a missão de inibir a mera tentativa de abolir o seu projeto básico. 
Pretende-se evitar que a sedução de apelos próprios de certo momento político destrua um projeto duradouro.
108
Alcance das cláusulas pétreas:
As cláusulas pétreas não protegem dispositivos constitucionais, mas os princípios neles modelados.
 
A mera alteração redacional de uma norma componente do rol das cláusulas pétreas não importa, por isso somente, inconstitucionalidade, desde que não afete a essência do princípio protegido e o sentido da norma.
109
Há quem defenda que conquanto fique preservado o núcleo essencial dos bens constitucionais protegidos, isto é, a essência do princípio intocada, elementos circunstanciais ligados ao em poderiam ser modificados ou suprimidos.
Flávio Novelli destaca que a mais categorizada doutrina rejeita hoje, incisivamente, uma apriorística identificação entre inviolável e inemendável ou irreversível. 
110
Para Gilmar Mendes a garantia de permanência que consiste a cláusula pétrea imuniza o sentido dessas categorias constitucionais protegidas contra alterações que aligeirem o seu núcleo básico ou debilitem a proteção que fornecem. 
Nesse sentido se deve compreender o art. 60, § 4º, da CF, como proibição da proposta tendente a abolir, isto é, a mitigar, a reduzir, o significado e a eficácia da forma federativa do Estado, do voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais.
111
Portanto, uma cláusula pétrea pode ser alterada, desde seja para sofisticar a norma nela prevista ou ampliar sua normatividade (FERNANDES, 2017, p. 138).
112
Controle de constitucionalidade:
Para Gilmar Mendes as limitações ao poder de reforma teriam reduzido efeito prático se não se admitisse o controle jurisdicional da observância das restrições que o constituinte originário impõe ao poder constituído.
Desde 1925 o Supremo Tribunal Federal entende ser possível o exame de constitucionalidade de emendas constitucionais. 
113
O STF entende, inclusive, que é possível mandado de segurança, contra propostas de emendas constitucionais, que desrespeitem cláusulas pétreas.
Portanto, o Judiciário pode afirmar a inconstitucionalidade de emenda à Constituição depois da emenda haver sido promulgada, em casos concretos, por qualquer juiz, podendo também se efetivar o controle abstrato, pelo STF, por meio de ação direita de inconstitucionalidade e ainda de forma preventiva, através de mandado de segurança. 
114
Uma Emenda Constitucional, emanada, portanto, de constituinte derivado, incidindo em violação à Constituição originária, pode ser declarada inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função precípua é de guarda da Constituição. A Emenda Constitucional n. 3, de 17-3-1993, que, no art. 2º, autorizou a União a instituir o IPMF, incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor, no parágrafo 2º desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica o art. 150, III, b e VI, da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): o princípio da anterioridade, que é garantia individual do contribuinte (art. 5º, § 2º, art. 60, § 4º, inciso IV e art. 150, III, b da Constituição). (ADI 939, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento em 15-12-93, Plenário, DJ de 18-3-94) 
115
Emenda constitucional: limitações materiais (cláusulas pétreas); controle jurisdicional preventivo (excepcionalidade); a proposta de reforma previdenciária (PEC 33-I), a forma federativa de Estado (CF, art. 60, § 1º) e os direitos adquiridos (CF, art. 60, § 4º, IV, c/c art. 5º, 36): alcance das cláusulas invocadas: razões do indeferimento da liminar. (MS 23.047-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 11-2-98, Plenário, DJ de 14-11-03) 
116
As cláusulas pétreas em espécie:
As cláusulas pétreas estão previstas no art. 60, § 4º da Constituição:
Art. 60 (...)
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
117
Forma federativa do Estado:
A forma federativa do Estado não pode ser abolida. 
Portanto, não seria possível, via emenda constitucional, a afronta à autonomia dos entes federados.
Relaciona-se a essa cláusula também o princípio daindissolvibilidade da federação.
118
A competência dos entes federados equivale, na prática, à amplitude do poder de cada um deles.
A competência pode ser alterada, desde que seja resguardado um grau de autonomia para cada um dos entes.
119
(...) a idéia de Federação – que tem, na autonomia dos Estados-membros, um de seus cornerstones – revela-se elemento cujo sentido de fundamentalidade a torna imune, em sede de revisão constitucional, à própria ação reformadora do Congresso Nacional, por representar categoria política inalcançável, até mesmo, pelo exercício do poder constituinte derivado (CF, art. 60, § 4º, I). (HC 80.511, voto do Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 21-8-01, 2ª Turma, DJ de 14-9-01) 
120
Na espécie, cuida-se da autonomia do Estado, base do princípio federativo amparado pela Constituição, inclusive como cláusula pétrea (art. 60, § 4º, inciso I). Na forma da jurisprudência desta Corte, se a majoração da despesa pública estadual ou municipal, com a retribuição dos seus servidores, fica submetida a procedimentos, índices ou atos administrativos de natureza federal, a ofensa à autonomia do ente federado está configurada (RE 145.018/RJ, Rel. Min. Moreira Alves; Rp 1426/RS, Rel. Min. Néri da Silveira; AO 258/SC, Rel. Min. Ilmar Galvão, dentre outros). (ADPF 33-MC, voto do Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 29-10-03, 2ª Turma, DJ de 6-8-04) 
121
Emenda Constitucional n. 15/1996, que deu nova redação ao § 4º do art. 18 da Constituição Federal. Modificação dos requisitos constitucionais para a criação, fusão, incorporação e desmembramento de municípios. Controle da constitucionalidade da atuação do poder legislativo de reforma da Constituição de 1988. Inexistência de afronta à cláusula pétrea da forma federativa do Estado, decorrente da atribuição, à lei complementar federal, para fixação do período dentro do qual poderão ser efetivadas a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios. Precedente: (...). Ação julgada improcedente. (ADI 2.395, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 9-5-07, 2ª Turma, DJE de 23-5-08). No mesmo sentido: ADI 2.381-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 20-6-01, 2ª Turma, DJ de 14-12-01. 
122
Separação dos Poderes:
A emenda que suprima a independência de um dos Poderes ou que lhe estorve a autonomia é imprópria. 
Essa cláusula pétrea revela como problemática uma proposta de emenda à Constituição que pretende instaurar o parlamentarismo, por exemplo.
123
Voto direto, secreto, universal e periódico:
A escolha dos agentes políticos pelo voto direto da população está assegurada, impedindo-se as eleições indiretas.
A garantia do voto secreto, entendida como elemento fundamental do sistema democrático, tampouco pode ser suprimida por meio de emenda.
124
Ao tornar o voto universal cláusula pétrea, o constituinte cristalizou também o universo mínimo dos indivíduos que entendeu aptos para participar do processo eleitoral. 
Impede-se, assim, que uma emenda venha a excluir o voto do analfabeto ou de menores entre 16 e 18 anos, que o constituinte originário facultou.
125
A periodicidade dos mandatos é conseqüência do voto periódico estabelecido como cláusula pétrea. 
Assim, uma emenda não está legitimada para transformar cargos políticos que o constituinte originário previu como suscetíveis de eleição em cargos vitalícios ou hereditários.
Mas isso não quer dizer que o período do mandato não possa ser alterado. 
126
Os direitos e garantias individuais:
Gilmar Ferreira Mendes que as mudanças que minimizem a sua proteção, ainda que topicamente, não são admissíveis. 
Não poderia o constituinte derivado, por exemplo, contra garantia expressa no rol das liberdades publicas, permitir que, para determinada conduta, fosse possível retroagir a norma incriminante.
127
IMPORTANTE: o art. 5º enumera direitos e garantias individuais, mas há outros direitos na Constituição, trazidos de forma esparsa. Ex.: art. 145.
128
Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira- CPMF (arts. 84 e 85, acrescentados ao ADCT pelo art. 3º da Emenda Constitucional n. 37, de 12 de junho de 2002). Ausência de inconstitucionalidade material. O § 4º, inciso IV do art. 60 da Constituição veda a deliberação quanto à proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais. Proibida, assim, estaria a deliberação de emenda que se destinasse a suprimir do texto constitucional o § 6º do art. 195, ou que excluísse a aplicação desse preceito a uma hipótese em que, pela vontade do constituinte originário, devesse ele ser aplicado. (ADI 2.666, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3-10-02, Plenário, DJ de 6-12-02) 
129
Proposta de emenda à Constituição Federal – Instituição da pena de morte mediante prévia consulta plebiscitária – Limitação material explícita do poder reformador do Congresso Nacional. Inexistência de controle preventivo abstrato (em tese) no direito brasileiro. (ADI 466, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-4-91, Plenário, DJ de 10-5-91) 
130
Direitos sociais e cláusula pétrea:
Há polêmica quanto ao enquadramento dos direitos sociais como cláusulas pétreas. 
De um lado, nega-se que os direitos sociais participem do rol dos limites materiais o poder de reforma, argumentando-se que aquele dispositivo da Lei Maior fala em “direitos e garantias individuais” e não em direitos fundamentais, gênero de que tanto os individuais como os sociais seriam espécies.
131
Diz-se, ainda, que essa teria sido uma opção do constituinte, atenta à diferenciada estrutura entre direitos individuais e direitos sociais.
Por serem direitos a prestação, estão na dependência de condições variadas no tempo dos recursos disponíveis, não podendo ser afirmados com imodificáveis.
132
De outro lado, argui-se que os direitos sociais não podem deixar de serem considerados cláusulas pétreas.
No Título I da Constituição (Dos Princípios Fundamentais) fala-se na dignidade da pessoa humana como fundamento da República e essa dignidade deve ser compreendida no contexto também das outras normas do mesmo Título em que se fala no valor social do trabalho, e em redução de desigualdades sociais.
133
Se a função das cláusulas pétrea é preservar o núcleo essencial da Constituição, e sendo os direitos sociais centrais para a sua ideia de Estado democrático, eles não podem deixar de ser considerados cláusulas pétreas.
Gilmar Mendes aponta que a objeção de que os direitos sociais estão submetidos a contingência financeiras não impede que se considere que a cláusula pétrea alcança a eficácia mínima desses direitos.
134
Os adeptos desta última corrente veem cláusulas pétreas em diversos dispositivos constitucionais além daqueles enumerados nos arts. 6º a 11 da Constituição. 
Um exemplo de aplicabilidade prática seria o ensino fundamental obrigatório e gratuito. 
135
Criação de novos direitos fundamentais:
A proteção fornecida pela cláusula pétrea não tolhe o legislador reformista de ampliar o catálogo já existente. 
Contudo resta saber se os novos direitos também serão cláusulas pétreas.
136
Para Gilmar Mendes é útil para resolver a questão, ter presente que as cláusulas pétrea fundamentam-se na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma. 
Não faz sentido, portanto, que o poder constituinte de reforma limite-se a si próprio. 
Como ele é o mesmo agora ou no futuro, nada impedirá que o que hoje proibiu amanha permita. 
137
Portanto, para Gilmar Mendes, não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. 
Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo.
138
Para o autor é possível que uma emenda constitucional acrescente dispositivo à Carta Magna, referente a direitos fundamentais sem que, na realidade, esteja criando direitos novos. 
O direito já existia passando apenas a sermais bem explicitado. 
Exemplo: o inciso LXXVIII, inserido pela Emenda Constitucional nº 45/04.
139
Em sentido contrário Ingo Sarlet aponta que o art. 5º, § 2º da CF é uma decisão fundamental do constituinte originário.
Ademais, há de se considerar a existência de limites implícitos ao poder constituinte derivado reformador. 
Logo, a inserção de um direito fundamental, que poderia ser implicitamente consagrado, não poderia ser retirado, pois apenas reforçaria o status desse direito como fundamental.
140
Bernardo Gonçalves Fernandes, por sua vez, ressalta que eventual distinção entre direitos fundamentais originários ou criados por emenda constitucional é, no mínimo, questionável, pois criaria direitos fundamentais de duas classes.
O que, por sua vez, enfraqueceria a própria proteção dos direitos fundamentais. 
141
Por fim, o art. 60, § 4º da Constituição não faz nenhuma distinção sobre quando o direito fundamental é inserido na Carta.
Ele veda apenas a emenda tendente a sua abolição.
Logo, uma vez inserido um direito fundamental, não é possível sua abolição, aplicando-se ainda o princípio da vedação do retrocesso.
142
Direitos previstos em tratados sobre direitos humanos:
Parte da doutrina sustenta que os direitos humanos previstos em tratados internacionais configurariam não apenas normas de valor constitucionais, como também cláusulas pétreas. 
Tal tese, contuso não obteve adesão do STF antes da Emenda Constitucional nº 45/04.
143
A partir da emenda constitucional 45/04, passou-se, entretanto, a admitir que os tratados aprovados nos termos do art. 5º, § 3º da CF, seriam equivalentes às emendas constitucionais.
A emenda não impediu que se opte pela aprovação de um tratado sobre direitos humanos pelo procedimento comum, meio que facilita seu ingresso no ordenamento brasileiro. 
Nesse caso as normas do tratado valerão com status infraconstitucional. O STF entendeu que o status normativo dessas normas seria então supralegal.
144
O sentido básico do estabelecimento de limites materiais seria, assim, o de aumentar a estabilidade de certas opções do constituinte originário, assegurar-lhe maior sobrevida, por meio do agravamento do processo da sua substituição.
145
	Tratados de direitos humanos	
	Internalização	Status
	Antes da Constitucional Emenda nº 45.	Norma supralegal
	Após a Emenda Constitucional nº 45 com aprovação por meio do art. 5º, § 3º, da CF.	 Norma constitucional
	Após a Emenda Constitucional nº 45 com aprovação normal.	Norma supralegal
146
A cláusula pétrea e a garantia do direito adquirido:
O poder constituinte derivado deve respeitar o direito adquirido?
147
A primeira posição sustenta que na história da garantia do direito adquirido, o destinatário da sua vedação é o legislador ordinário. 
A garantia do direito adquirido estaria ordenada apenas para restringir a atividade do legislador infraconstitucional, não obstando à ação do constituinte derivado. 
O art. 5º, XXXVI da CF, prevê que a lei não pode prejudicar o direito adquirido. 
148
A segunda posição parte do suposto de que a garantia do direito adquirido foi concebia também em face do legislador constitucional. 
O revisor da Constituição não poderia suprimir essa garantia do texto constitucional, nem poderia menosprezar direitos adquiridos anteriormente. 
O termo lei previsto no art. 5º XXXVI da Constituição não é referido em sua acepção estrita, mas abrange todos os instrumentos normativos, inclusive as emendas à Constituição. 
149
Em outra linha argumenta-se que a proteção ao direito adquirido busca conferir eficácia a outro princípio, referido no art. 5º, caput da Constituição, ou seja, o da segurança jurídica, reforçando-se a ideia de que uma emenda não está apta para atuar em descaso para com situações consolidadas antes dela.
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Emenda Constitucional nº 41/03 entendeu que o direito adquirido é insuscetível de ser atingido por emenda constitucional.
150
(...) a Constituição assegurou diretamente o direito à irredutibilidade de vencimentos - modalidade qualificada de direito adquirido, oponível às emendas constitucionais mesmas. (MS 24875, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 11/05/2006, DJ 06-10-2006 PP-00033 EMENT VOL-02250-02 PP-00284 RTJ VOL-00200-03 PP-01198)
151
Cláusulas pétreas implícitas:
As limitações matérias ao poder de reforma não estão exaustivamente enumeradas no art. 60, § 4º, da Constituição. 
O que se puder afirmar como incito à identidade básica da Constituição ideada pelo poder constituinte originário deve ser tido como limitação ao poder de emenda, mesmo que não haja sido explicitado no dispositivo.
152
J. J. Canotilho refere-se a certas garantias que pretendem assegurar a efetividade das cláusulas pétreas como limites tácitos.
As Constituições que não contêm quaisquer preceitos limitativos do Poder de revisão, mas entende-se que há limites não articulados ou tácitos, vinculativos do poder de revisão. 
Esses limites podem desdobrar-se em limites textuais implícitos, deduzidos dos próprios textos constitucionais, e limites tácitos imanentes numa ordem de valores pré-positivos, vinculativa da ordem constitucional concreta.
153
Um exemplo claro é o de a própria cláusula de imutabilidade (art. 60, § 4º) não pode ser tida com objeto de ab-rogação, não obstante não haja proibição expressa nesse sentido. 
Os princípios que o próprio constituinte originário denominou fundamentais, devem ser considerados intangíveis.
154
Gilmar Mendes traz um rol exemplificativo de elementos intangíveis ao revisor constitucional:
as normas concernentes ao titular do poder constituinte, porque este se acha em posição transcendente à Constituição, além da soberania popular ser inalienável;
as normas referentes ao titular do poder reformador, porque não pode ele mesmo fazer a delegação dos poderes que recebeu, sem cláusula expressa que o autorize; e
as normas que disciplinam o próprio procedimento de emenda, já que o poder delegado não pode alterar as condições da delegação que recebeu.
155
Poder Constituinte derivado decorrente:
Alexandre de Moraes conceitua poder constituinte derivado decorrente como a possibilidade que os Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto-organizarem por meio de suas respectivas constituições estaduais, sempre respeitando as regras limitativas estabelecidas pela Constituição Federal.
156
Gilmar Mendes aponta que o poder constituinte originário, ao adotar a opção federalista, confere aos Estados-membros o poder de auto-organização das unidades federadas. 
Os Estados membros exercem um poder constituinte, que não se iguala, entretanto, ao poder constituinte originário, já que é criatura deste e se acha sujeito a limitação de conteúdo e forma.
157
Pedro Lenza, por sua vez, aponta que sendo um poder derivado do poder constituinte originário, não se trata de um poder soberano, pois não é dotado de capacidade de autodeterminação plena.
A sua legitimidade é a Constituição Federal. 
A previsão do poder constituinte ao Estado-membro está prevista na Constituição Federal nos art. 25 da parte permanente e art. 11 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias.
158
Os limites do poder constituinte derivado decorrente podem ser reunido em três grandes grupos:
Princípios constitucionais sensíveis.
Princípios constitucionais extensíveis.
Princípios constitucionais estabelecidos.
159
Princípios constitucionais sensíveis:
Referem-se ao regime político, representando a essência da organização constitucional da federação brasileira. 
Sensíveis no sentido de que podem ser facilmente sentidos, de fácil percepção, ou seja, eles são indubitavelmente mostrados pela Constituição (SILVA: 2010, p. 612) 
São sensíveis ainda pelo fato de que a reação à sua inobservância podeser severa, implicando em uma intervenção federal. 
Eles estão previstos no art. 34, VII da Constituição.
Princípios constitucionais extensíveis:
Tratam-se de normas organizatórias da União que se estendem, expressa ou implicitamente aos Estados (NOVELINO: 2017, p. 580).
 
Princípios constitucionais estabelecidos:
São os demais princípios consagrados assistematicamente ao longo da Constituição que são identificáveis através de uma interpretação sistemática da Carta (NOVELINO: 2017, p. 581). 
Poder Constituinte derivado decorrente e os Municípios:
A maioria da doutrina entende que após a Constituição de 1988, os Municípios alçaram status de entes federados.
Em função desse status, os Municípios também gozam de autonomia.
Considerando isso, a auto-organização dos Municípios se dá através de sua Lei Orgânica.
164
Poder Constituinte derivado decorrente e o Distrito Federal:
A Constituição Federal garante ao Distrito Federal a natureza de ente federativo autônomo.
Logo, ele é dotado da capacidade de auto-organização.
O exercício da auto-organização do DF se dá por meio de sua Lei Orgânica. 
165
O DF cumula a competência dos Estados e dos Municípios.
Contudo, está afastada da competência do Distrito Federal a organização e manutenção da Polícia Civil, Polícia Militar, Bombeiros Militares, do Judiciário e do Ministério Público. Todos mantidos pela União.
Poder Constituinte derivado revisor:
O poder constituinte derivado revisor, assim como o reformador e o decorrente, é fruto de criação do originário, estando, portanto, a ele vinculado. 
É ainda, um poder condicionado e limitado às regras instituídas pelo originário, sendo, assim, um poder jurídico.
167
O art. 3º do ADCT instituiu um procedimento simplificado da alteração do texto constitucional, excepcionado a regra geral das emendas constitucionais.
O procedimento foi regulamentado pela Resolução nº 1 do Congresso Nacional, de 18.11.1993.
O objetivo do constituinte foi atualizar e adequar a Constituição à realidade que a sociedade apontasse como necessária.
168
Iniciativa de proposta de emenda constitucional de revisão:
O art. 4º da Resolução nº 1 RCF previu como legitimados para propor propostas de emenda constitucional de revisão:
Qualquer congressista;
Representação partidária com assento no Congresso nacional, por meio de seu líder;
169
As Assembleias Legislativas de 3 ou mais unidades da Federação manifestando-se cada uma delas, pela maioria de seus membros
Representação popular subscrita por 15.000 ou mais eleitores, em listas organizadas por, no mínimo, três entidades associativas legalmente constituídas, que se responsabilizaram pela idoneidade das assinaturas, obedecidas as condições fixadas na resolução.
170
Fase constitutiva:
O art. 3º do ADCT determinou que a revisão constitucional seria realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.
171
Limites do poder constituinte derivado revisor:
O poder constituinte derivado revisor, deve respeitar os limites materiais, previstos no art. 60, § 4º da Constituição, sendo vedada proposta de emenda constitucional de revisão tendente a abolir:
A forma federativa de Estado;
O voto direto, secreto, universal e periódico;
A separação dos Poderes;
Os direitos e garantias individuais.
172
A Resolução nº 1 RCF (art. 4º, § 3º) ainda limitou propostas de emendas que:
Substituam integralmente a Constituição
Digam respeito a mais de um dispositivo, a não ser que se trate de modificações correlatas;
Contrariem a forma republicana de Estado e o sistema presidencialista de governo.
173
Resultado do procedimento de revisão:
No ordenamento jurídico pátrio, a competência revisional do art. 3º do ADCT proporcionou a elaboração de 6 Emendas Constitucionais de Revisão.
174
Atualmente não é mais possível uma nova manifestação do poder constituinte derivado revisor em razão da eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da norma.
175
Poder Constituinte Difuso:
Pedro Lenza explica que o poder constituinte difuso pode ser caracterizado como um poder de fato e se manifesta por meio das mutações constitucionais.
A expressão “difuso” é utilizada porque vem tal poder apesar de não vir formalizado nas constituições, está presente na vida dos ordenamentos jurídicos.
176
Trata-se de mais um mecanismo de modificação da Constituição, produzida pelo poder constituinte difuso instrumentalizada de modo informal e espontâneo como verdadeiro poder de fato e que decorre dos fatores sociais, político e econômicos, encontrando-se em estado de latência. 
Trata-se de processo informal de mudança da Constituição.
177
Poder Constituinte Supranacional:
Pedro Lenza ensina que o poder constituinte supranacional busca a sua fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania.
Trata-se de um conceito intimamente ligado à proteção multinível de direitos, advinda, principalmente dos processos de integração regional.
178
Constitucionalismo multinível de Ingolf Pernice:
O professor da Humboldt-Universität, de Berlin e ex-professor da Goeth-Universiät de Frankfurt, Ingolf Pernice, em uma série de artigos, escritos desde 1996, desenvolveu a teoria do constitucionalismo multinível, tendo por base a experiência da integração europeia. 
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Para ele a Europa não precisa necessariamente de uma Constituição, tendo em vista o continente já é composto de um constitucionalismo multinível, composto das constituições dos Estados-Membros que são ligadas por um corpo constitucional complementar consistente nos tratados da União Europeia.
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O autor parte de um conceito de constituição pós-nacional, que inclui todos os instrumentos (nacionais, subnacionais e supranacionais) que estabelecem, organizam e limitam a autoridade pública sendo considerados por todos como vinculantes (PERNICE, 2009, p. 17).
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Na proteção do direito comunitário o autor aponta a existência do chamado princípio da primazia. 
Prevalece o direito europeu sobre qualquer tipo ou qualidade de norma nacional. 
Trata-se de uma condição para o funcionamento do sistema legal europeu e forma de efetiva proteção dos direitos e liberdades garantidas pela lei europeia. 
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O interconstitucionalismo de J. J. Gomes Canotilho:
Para J. J. Gomes Canotilho (2008, p. 185), o Direito Constitucional deixou de ser uma disciplina dirigente para tornar-se uma disciplina dirigida. 
A Constituição corre o risco de perder sua dimensão nuclear de um "direito do político e para o político", para ser um direito residual, tendo em vista a transferência de competências e atribuições do Estado para organizações supranacionais.
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O direito era concebido como um sistema artificial de programação de comando e organização social por um órgão ou poder público superior à sociedade
Esse modelo, atualmente, se esvaziou com as ideias de direção não estatal da sociedade, subsidiariedade dos regulamentos heterônomos, delegação dos serviços públicos. 
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Portanto, para o autor, retirou-se a centralidade teórica e dogmática da Constituição Dirigente, transpondo-a aos tratados internacionais. 
Não obstante a inoperabilidade da teoria do Estado para a explicação da atual realidade, J. J. Gomes Canotilho aponta que a categoria jurídica e política do Estado não deve ser abandonada.
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Portanto, para o autor, retirou-se a centralidade teórica e dogmática da Constituição Dirigente, transpondo-a aos tratados internacionais. 
Não obstante a inoperabilidade da teoria do Estado para a explicação da atual realidade, J. J. Gomes Canotilho aponta que a categoria jurídica e política do Estado não deve ser abandonada, mas sim remoldado:
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Estado supervisor e estratega:é o Estado que tem a capacidade de prover e definir as responsabilidades (autônomas ou partilhadas no contexto das organizações pós-nacionais) nas resoluções de dissonâncias cognitivas do sistema político e social. 
Estado-garantidor: trata-se de um Estado concentrado em tarefas nucleares, em especial as de autoridade. 
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Estado regulador: é o Estado institucionalizador de entidades com competência reconhecida para estabelecer “esquemas regulativos” das regras do jogo e dirimir conflitos em espaços especializados, com independência.
Estado contratualizador: que se contrapõe ao Estado-estatutário, pois estabelece relações contratuais com seus servidores, de forma semelhante ao setor privado
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Estado econômico: que substitui o Estado financeiro e fiscal, pois deixa de ter a centralidade político-financeira para ter centralidade econômica, fundada em seu orçamento.
Estado europeísta: orientado para iniciativas de colaboração com os demais Estados da UE, formando o “espaço administrativo europeu”, caracterizado pela homogeneização de standards de ação administrativa.
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Canotilho se aproxima das concepções de Peter Häberle, relativas a uma teoria da constituição como cultural, combatendo posições ainda presentes atualmente do formalismo, estatismo, decisionismo e positivismo, bem como de sua visão do fenômeno da integração europeia como uma "comunidade constitucional específica“.
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O autor trata o fenômeno de integração europeia como uma rede constitucional.
O interconstitucionalismo tem precedentes históricos na ordem jurídica medieval, em que havia um conglomerado de direitos no mesmo espaço jurídico, e na articulação de uma Constituição Federal, com as constituições estaduais em Estados que adotaram o federalismo. 
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A Constituição, ao mesmo tempo que funda a identidade de um Estado, acaba por abrir esse mesmo Estado às normas comunitárias. 
Portanto, apesar de interligadas, a chamada rede constitucional não retira das Constituições Estatais suas principais características.
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A rede formada por novas constituições nacionais e por normas europeias ou constitucionais ou de valor constitucional (ex: normas princípios constantes de Tratados institutivos da União Europeia) faz abrir as portas dos estados fechados (“castelos”) e relativizar princípios estruturantes da estabilidade (soberania interna e externa, independência, hierarquia de normas, competência das competências), mas não dissolve na própria rede as linhas de marca das formulações constitutivas dos Estados-Membros. (CANOTILHO, 2008, p. 269).
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REFERÊNCIAS:
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo, 2016.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 33ª Ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2010.
ALEXY, Robert. Teoria discursiva do direito. 1ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2010. 
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. 3ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. 
MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO. Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.

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