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Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 
30 de maio a 02 de junho de 2016 
Alfenas – MG 
www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 
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A CONSTITUIÇÃO DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS EM POÇOS 
DE CALDAS (MG): Pluralidade, Identidade e Experiência Religiosa1 
Gustavo Reis Machado (1); Alexandre da Costa (2) 
gustavo.reism@hotmail.com; alexandrecost@yahoo.com.br 
(1) Arquiteto e Urbanista (PUC Minas) e Graduando em Geografia (IFSULDEMINAS). 
(2) Mestre em Ética e Professor na PUC Minas campus Poços de Caldas. 
 
Introdução 
O Brasil é um país marcado por um pluralismo religioso, pois nele se encontra 
uma diversidade religiosa muito rica, que auxilia na construção de uma cultura 
diversificada e oriunda de inúmeras vertentes A Constituição do Brasil, dá o direito a 
qualquer individuo acreditar ou não em Deus, e também o direito de praticar livremente 
sua opção religiosa, assim sendo, ninguém tem o direito de criticar a forma religiosa 
alheia, demonizando seus cultos religiosos e seus ritos. 
Esta pesquisa objetivou compreender e analisar a constituição religiosa afro-
brasileira na cidade de Poços de Caldas, através do contato direto com as lideranças 
religiosas e seus seguidores, transferindo a esse texto a ideologia e formação religiosa 
dos entrevistados que compartilham abertamente suas experiências, fazendo presente 
o orgulho de suas origens e/ou os fatos que levaram a crer nessa manifestação 
religiosa. 
Pautado pela descrição in loco, formando uma ponte entre o pesquisador e a 
etnografia, foram visitados e observados cerimônias, festas, ensaios, atividades 
cotidianas e também realizadas entrevistas com os frequentadores e os lideres 
religiosos. Estas entrevistas foram concebidas de duas formas, informal e formal, 
sempre buscando entender e compreender as experiências dos indivíduos, e 
revelando a formação de uma rede de vínculos significativos nos espaços de devoção 
que mantêm interações com os terreiros. 
 
1Esse texto foi concebido a partir dos resultados da pesquisas realizados para o projeto de iniciação 
científica, financiado pelo Fundo de Incentivo a Pesquisa da PUC Minas. A fim de compreender como se 
constituíram as religiões afro-brasileiras em Poços de Caldas, tendo como fundamento as tradições 
históricas. A pesquisa foi realizada no âmbito da Ciência da Religião, na área de concentração de 
Religião Comparada e perspectivas de Diálogo, na linha de pesquisa Pluralidade e Diálogo. 
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mailto:gustavo.reism@hotmail.com
mailto:alexandrecost@yahoo.com.br
 
Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 
30 de maio a 02 de junho de 2016 
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Este trabalho se pautou pela descrição in loco (pesquisa 
participante/etnografia): observação de cerimônias, festas, ensaios, atividades 
cotidianas e realização de entrevistas (história oral), buscando apreender as 
experiências dos indivíduos, não simplesmente como participantes de instituições 
particulares, mas também seu trânsito por uma rede formada por vínculos 
significativos nos espaços de devoção que mantêm vínculos com os terreiros; espaços 
de referências para os cultos afro-brasileiros por serem considerados domínios de 
entidades espirituais (matas, cachoeiras etc.) e onde se realizaram cerimônias e festas 
religiosas, academias de capoeira, escolas de samba e blocos carnavalescos, 
instituições culturais e acadêmicas. As informações foram registradas por meio de 
tecnologia digital. Por fim, a pesquisa documental foi realizada nos acervos de 
bibliotecas, centros culturais, museus e outras instituições vinculadas de algum modo 
ao tema das religiões afro-brasileiras. 
 
O desenvolvimento da cidade de Poços de Caldas e das suas raízes religiosas 
Existem algumas poucas publicações de cunho antropológico, e sociológico e 
geográfico sobre expressões culturais e religiosas relacionadas à presença da cultura 
negra na cidade de Poços de Caldas, ainda assim, nenhuma especificamente sobre 
religiões afro-brasileiras. Há uma lacuna neste sentido, e pretende-se, com este 
estudo diminuir este hiato. Também se pode dizer que têm aumentado a procura e a 
oferta dessas religiões nas cidades, principalmente pelo crescimento dos “terreiros” e 
religiosos adeptos nas Minas Gerais. No entanto, não é possível confirmar nossa 
afirmação em números exatos porque os órgãos de pesquisa nacional, como por 
exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não consideram os 
fenômenos de dupla pertença, como é o caso dos adeptos das religiões afro-
brasileiras. 
Como umas das vertentes fomentadoras da formação cultural de um povo, a 
religião vem auxiliar na caracterização do ser humano e na consciência de si mesmo. 
As influências afro constituem uma das matrizes religiosas brasileiras e estão presente 
em sua maioria na diversidade de crenças e rituais. A religião afro-brasileira se faz 
presente na cidade de Poços de Caldas, e por volta de 1944 registram-se os primeiros 
cultos de Umbanda, trazidos por Vergílio Fiunza, do Rio de Janeiro, e seguido pela 
abertura do primeiro Núcleo Umbandista – Centro Espírita Nossa Senhora Auxiliadora 
– pelo ‘filho de santo’ João Avelino de Melo. 
No processo de formação do povoado, a vida religiosa centrava-se na Igreja de 
Bom Jesus da Cana Verde, hoje a Igreja de Santo Antônio, localizada à Rua São 
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Paulo, a primeira a ser construída. A paróquia de Poços de Caldas foi criada a 24 de 
Dezembro de 1874, pela lei 2085, com a denominação de Nossa Senhora da Saúde 
das Águas de Caldas. A tradição cristã católica teve muita influência na historia da 
cidade de Poços de Caldas. 
Partindo de uma compreensão da institucionalização das religiões afro-
brasileiras, podemos dizer que a presença e o crescimento das culturas afro-
brasileiras e indígenas, em um município tradicional de Minas Gerais, possivelmente 
possibilitaram outros significados existenciais que se constituíram em outras 
experiências religiosas dos seus moradores. Podemos citar como exemplo, segundo 
exposto, a presença das culturas afro-brasileiras e indígenas na cidade de Poços de 
Caldas na tradicional festa cultural denominada como Congada2, ou para os indígenas 
o Caiapós. A chamada Congada chegou a Poços por meio do negro Herculano Cintra 
que, pela devoção a São Benedito, iniciou um movimento de construção da primeira 
igreja do santo, no ano de 1902: 
(...) a Câmara Municipal naquela época autorizou Herculano de Araújo 
Cintra a edificar uma capela para São Benedito na praça do cemitério 
velho (...). A primeira Festa de São Benedito que se tem documentado 
data de 1904 e realizada no dia 13 de maio, já com os grupos culturais: 
congada, moçambique e caiapós. (Fonseca, 2004, p.10) 
 
É interessante observar que os devotos do Congo em Poços de Caldas 
afirmam-se como católicos. No entanto, partindo das vivências religiosas herdadas de 
tradições africanas e indígenas, tais como: os rituais, cultos e processos específicos 
de iniciação – o congado tornou-se uma prática religiosa que tem características que 
se identificam com a tradição católica e outras, se distanciam. 
Ao mesmo tempo, que as tradições afro-brasileiras e indígenas foram aos 
poucos se introduzindo na cidade de Poços de Caldas, seu crescimento enquanto 
cidade – urbanização, comércio e turismo hidromineral – foi também prosperando. 
Assim, cogitamos que a modernização da cidade de Poços de Caldas, com sua 
urbanização e a tecnologia social, foram importantes para que as pessoas 
começassem a esvaziar-se da experiência religiosa (mundo do sagrado), assumindo a 
vida secular. De acordo com Beger e Luckmann (2003),há uma forte evidencia que na 
modernização das culturas, as crenças religiosas tradicionais se tornaram vazias de 
sentido, não somente nos vastos setores da população, como também nos 
pertencentes de determinadas igrejas. É interessante notar que esse fenômeno se deu 
 
2O congado, também chamado de congo, mescla cultos católicos com africanos num movimento 
sincrético. Em Poços de Caldas, os ternos de Congos (grupos) se apresentam acompanhados pelos de 
Caiapós. Esta característica torna a celebração especial na cidade, já que em poucas regiões do Brasil se 
observa a participação de bailantes (pessoas que comemoram o dia santo através da dança dramática) 
que representam a figura do índio em comemorações marcadas pela cultura negra. 
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pelas características peculiares que a modernidade possui, tais como: o imperativo da 
racionalidade (científica), a idéia de autonomia do sujeito e a diferenciação das 
instituições, como destaca Hervieu-Léger (2008). 
 
A modernização urbana e a pluralismo religioso 
O município de Poços de Caldas ainda possui certas características que 
foram/são importantes para o seu desenvolvimento urbano. Em primeiro lugar, 
destacamos a estância hidromineral, a partir do qual muitas pessoas visitam o 
município em busca de tratamento de saúde através das águas sulfurosas. E dentro 
deste aspecto se desenvolve muitas pesquisas científicas. Os personagens de maior 
destaque foram os doutores Mário de Paiva, Orozimbo Corrêa Netto e Antônio de 
Oliveira Fabriano, que escreveram tratados sobre as águas medicinais de Poços de 
Caldas, e Mário Mourão, líder político, médico consagrado, cuja bagagem literária 
inclui vários estudos sobre Crenoterapia. Nesse sentido, temos uma característica 
fundamental da modernidade que é a cientificidade com seu imperativo racional 
(HERVIEU-LÉGER, 2008). Além disso, a cidade de Poços de Caldas cresceu também 
a partir da imigração italiana. 
Como ocorre em cidades do interior mineiro, há uma forte presença de famílias 
oligárquicas proprietárias das fazendas e hegemônicas por décadas na política 
predominante do município. E, foi exatamente de uma fazenda, que se iniciou o 
processo de urbanização; urbanização esta, que, além de outros traços, foi marcada 
por uma forte influência do catolicismo tradicional. Assim, é possível identificar outra 
característica da modernidade, que é o próprio processo de urbanização com suas 
redes sociais (HERVIEU-LÉGER, 2008). Ainda, neste processo, outras expressões 
religiosas, como dito acima, também foram criando seus espaços, tais como: as 
tradições Afro-brasileira, o Kardecismo e o protestantismo. Por fim, identificamos outra 
característica da modernidade que é a pluralidade de crenças, concomitante a isto, a 
idéia de autonomia e diferenciação das instituições (HERVIEU-LÉGER, 2008). 
Ao mesmo tempo, a sociedade poços-caldense, na medida em que sua cidade 
foi se tornando mais urbanizada e moderna, presenciou o advento de uma sociedade 
laica. Nesse sentido, a religião que antes era hegemônica (católica) agora passa para 
o território do indivíduo, como destaca Berger e Luckmann (2003). 
Com a modernização da cidade de Poços de Caldas, a experiência presente 
nas tradições religiosas hegemônicas, passaram não ter mais um significado social e 
existencial, como em outras épocas. Podemos dizer que é no “mundo da vida 
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cotidiano” 3 (Lebenswelt), que as pessoas realizam suas atividades significativas 
juntamente com outras pessoas. No entanto, destaca Berger (1985, p.36) “toda 
sociedade está empenhada na empresa nunca completada de construir um mundo de 
significado humano”. Com a urbanização e a construção do mundo moderno, as 
pessoas integradas ao sentido cientifico, racional e tecnológico, têm buscado modos 
inteiramente seculares de cosmificação (sensusreligiosus). 
No caso de Poços de Caldas, as religiões afro-brasileiras possivelmente 
apareceram nesse contexto, ou seja, de mudanças e transições sociais. Com isso 
temos outras constituições sociais de sentido humano que possibilitaram aberturas e 
movimentos em direção às outras tradições. As influências do catolicismo são 
perceptíveis na maioria dos Terreiros visitados, que, contrastando com as raízes 
africanas, resulta em um sincretismo, bem com na tendência pela busca da cura física 
e espiritual. 
É notório verificar no Brasil – que já não é um país de hegemonia religiosa – 
como destaca Prandi (2000), pouco mais de um quarto população adulta (26%) já teria 
passado por uma “experiência de conversão” religiosa. Isso é que provavelmente 
aconteceu com diversos poços-caldenses, que com a crise de sentido migrassem para 
outras denominações locais (afro-brasileiras). 
 É interessante o estudo da socióloga francesa Daniele Hervieu-Léger, que faz 
uma distinção entre o peregrino (que é o religioso em movimento) e convertido (figura 
exemplar do crente). Porque muitos adeptos das religiões tradicionais são também, ao 
mesmo tempo, adeptos das afro-brasileiras. Para Hervieu-Léger (2008) o convertido é 
aquele que é marcado por uma identidade religiosa, podendo assumir três 
modalidades diferentes: aquele que muda totalmente de religião, aquele que se integra 
a uma tradição religiosa de forma inaugural e aquele que se re-afirma ou re-afilia-se a 
mesma tradição. 
Por meio dessas categorias (peregrino e convertido) é que fundamentamos 
nossa compreensão das experiências religiosas das tradições afro-brasileiras em 
Poços de Caldas. Porque parece que a busca ou o querer dar um sentido existencial – 
uma nova constituição social de sentido humano – por meio destas experiências, seja 
mais significativo que pertencer a uma determinada tradição religiosa. Talvez seja esta 
uma das razões para um grande transito nestas tradições, mas sem uma identificação 
formal. 
 
3O termo Lebenswelt (mundo-da-vida) escrito pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938) em “A 
crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental” (1934-1937). O mundo-da-vida 
na concepção de Husserl é o mundo das experiências originárias ou pré-científicas que são 
evidentes por si mesmas e trazer uma saber (sentido) universal. 
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Bibliografia 
BERGER, Peter L. & LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade. 
Petrópolis: Vozes, 2003. 
BERGER, Peter L. O Dossel Sagrado – Elementos para uma teoria sociológica da 
religião. São Paulo: Paulus, 1985. 
FONSECA, Alexandre. 100 anos de registros históricos da Festa de São Benedito. 
Poços de Caldas – MG: Divisão de Cultura da Secretaria Municipal de Educação, 
2004. 
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. 
Petrópolis: Editora Vozes LTDA, 2008. 
PRANDI, Reginaldo. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião. Revista 
da USP,São Paulo, n. 46, p. 52-65, jun./ago. 2000. 
 
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