Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO HOSPITAL VETERINÁRIO JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO UTILIZAÇÃO DE POLIMIXINA B NA ENDOTOXEMIA EQÜINA SÃO PAULO 2005 2 KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO UTILIZAÇÃO DE POLIMIXINA B NA ENDOTOXEMIA EQÜINA Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Lato Sensu em Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos da Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Clube de São Paulo, sob orientação do M.Sc.,M.S. Guillermo Guadalupe Laguna Legorreta. SÃO PAULO 2005 3 UTILIZAÇÃO DE POLIMIXINA B NA ENDOTOXEMIA EQÜINA KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO Monografia apresentada para a obtenção do título de Especialista Lato Sensu pela Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Club de São Paulo. Área de concentração: Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos. BANCA EXAMINADORA Silvio Batista Piotto Junior Mestre / UNISA / HVJCSP Edson Lara Rodrigues Doutor / UNISA Silvia Cristina Oliveira Doutora / UNISA CONCEITO FINAL: ____________ DATA: _____ / _____ / __________ 4 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................. 5 RESUMO.................................................................................................... 6 ABSTRATC ................................................................................................ 7 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 8 2. OBJETIVOS.............................................................................................9 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................... ....9 4. CONCLUSÕES ................................................................................ ...24 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... ...25 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Componentes lipopolissacarídicos da membrana celular externa das bactérias Gram-negativas: região externa polissacarídica (O – antigênica), região central monossacarídica e região interna rica em ácidos lipídicos denominado “lipídeo A” ........................................................ ......11 6 RESUMO Araújo, K.G.S. UTILIZAÇÃO DE POLIMIXINA B NA ENDOTOXEMIA EQÜINA. Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Lato Sensu em Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos da Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Clube de São Paulo, sob orientação do M.Sc.,M.S. Guillermo Guadalupe Laguna Legorreta, São Paulo, 2005. A endotoxemia é um importante distúrbio sistêmico que se origina da resposta do hospedeiro a bactérias Gram-negativas oriundas de várias doenças que afetam tanto os eqüinos adultos quanto os neonatos. Alterações que afetam o trato gastrintestinal, respiratório, reprodutivo, além de condições oportunistas que envolvam o sistema imunológico imaturo dos potros estão comumente associadas ao desenvolvimento da endotoxemia. O lipopolissacarídeo é liberado por bactérias Gram-negativas após bacteriólise ou rápida multiplicação. A porção lipídica A dos lipopolissacarídeos ativa diversos mecanismos de defesa que iniciam um processo inflamatório sistêmico exacerbado. Um dos principais objetivos a ser considerado no tratamento da endotoxemia é a neutralização da endotoxina antes desta interagir com células inflamatórias. A polimixina B, um antimicrobiano polipeptídico bactericida com espectro de ação basicamente sobre bacilos entéricos Gram-negativos, possui a capacidade de se ligar à região lipídeo A da molécula de lipopolissacarídeo, o que a caracteriza também em ser uma droga neutralizante de endotoxinas. Palavras-chave: endotoxemia, Gram-negativa, lipopolissacarídeos, polimixina B. 7 ABSTRACT Araújo, K.G.S. USE OF POLIMIXINA B IN THE EQUINE ENDOTOXEMIA. Monograph presented for attainment of the heading of specialist Lato Sensu in Diagnosis and Surgery of Equines of the University of Saint Amaro in accord with the Hospital Jockey Veterinarian Club of São Paulo, under orientation of the M.Sc., M.S. Guillermo Guadalupe Laguna Legorreta, São Paulo, 2005. The endotoxemia is an important systemic disturb that originates a response from the host against the Gram-negative bacterium from mature horses and foals. The endotoxemia is commonly associated with gastrointestinal, respiratory, reproductive alterations and opportunistic conditions associated with the immature immunologyc system of the foal. The Gram-negative bacteria liberate the lipopolissacaride after bacteriolises or quickly multiplication. The “A lipidic portion” of the lipopolissacaride activates several self defense mechanisms that will start systemic inflammatory process. One of the most important objectives to be considered during the treatment of the endotoxemia is its interaction with the inflammatory cells. The polimixyn B is an bactericide polypeptidic antibiotic that acts basically against the enteric Gram-negative bacillus and it’s capable to bind to lipopolissacaride molecular lipidic A region, what it also characterizes it in being a neutralizing drug of endotoxines. Key words: endotoxemia, Gram-negative, lipopolissacaride, polimixyn B. 8 1. INTRODUÇÃO Em eqüinos, a endotoxemia é uma complicação freqüente e muito séria em diversas enfermidades que afetam tanto neonatos como adultos. Devido a sua importância clínica complexa, a endotoxemia influência decisivamente tanto o prognóstico como a morbidade pelo que, a procura por um tratamento eficiente e economicamente aceitável no combate e prevenção da endotoxemia é de grande interesse (PARVIAINEN et al, 2001). Embora os antibióticos constituam o principal suporte na terapia contra sérias infecções de bactérias Gram-negativas, sua ineficiência em neutralizar lipopolissacarídeos deve ser enfatizada (WEISS et al., 2000). O lipopolissacarídeo constitui o principal componente da membrana externa de bactérias Gram-negativas e é o principal mediador de sepse ou choque séptico (LAZARON; DUNN, 2002). A porção lipídica A dos lipopolissacarídeos induz a expressão dos genes das citocinas através da estimulação de receptores na superfície de células alvo. As células ativadas (ex. monócitos, macrófagos) secretam grande quantidade de citocinas inflamatórias como fator de necrose tumoral, interleucina-1, interleucina-6 e interleucina-8; fator de ativação plaquetária, metabólitos do acido aracdônico, eritropoietina e endotelina. Particularmente, o fator de necrose tumoral tem sido reconhecido como o mediador central das sepses e disfunção múltipla de órgãos em pacientes com resposta inflamatória sistêmica após trauma, hemorragia, intervenção cirúrgica, infecção e outras causas que possam produzir uma similar cascata de mediadores endógenos (GHISELLI et al., 2001). Portanto, quando o último mecanismo orgânico de proteção falha, as endotoxinas interagem com proteínas plasmáticas específicas e receptores celulares de superfície, levando a síntese e liberação de mediadores inflamatórios endógenos. A ação destes mediadores induz a apresentação dos sinais clínicos e outrasalterações associadas a endotoxemia (MOORE; BARTON, 2003). A neutralização de endotoxinas representa um importante acesso ao tratamento da endotoxemia. Em adição aos seus efeitos antimicrobianos, a polimixina B se liga a 9 porção lipídea A lipopolissacarídica bacteriana; esta ligação resulta em uma completa neutralização da atividade da endotoxina (MORRISON; JACOBS, 1976). 2. OBJETIVO O embasamento deste trabalho enfoca-se principalmente na atividade neutralizante da polimixina B (sulfato de polimixina B) nas endotoxinas, especialmente na fase anterior a sua interação com as células inflamatórias dos eqüinos. A polimixina B, que se liga avidamente ao lipídeo A da membrana celular externa das bactérias, foi estudada quanto a sua habilidade em melhorar ou prevenir os efeitos clínicos deletérios causados pela endotoxemia nos eqüinos. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A endotoxemia é um importante fator de comprometimento clínico em várias doenças que afetam os mamíferos, incluindo o eqüino. Na clínica veterinária eqüina, a endotoxemia associa-se a doenças com altas taxas de mortalidade. Nos eqüinos adultos, estas doenças incluem varias enfermidades que afetam o trato gastrintestinal, notavelmente as doenças que se caracterizam por inflamação e isquemia intestinal, infecções bacterianas envolvendo as cavidades torácica ou abdominal, assim como outras doenças tais como a retenção placentária. Em potros neonatos, a endotoxemia é mais comumente associada à falência na transferência passiva dos componentes imunitários colostrais e ao desenvolvimento subseqüente de septicemia (MOORE; BARTON, 2003). Aproximadamente 50% dos potros com sinais clínicos de septicemia apresentam endotoxinas em sua circulação sangüínea (BARTON et al, 1998). Septicemia é a principal causa de morte em potros com menos de uma semana de vida, primeiramente devido à ineficácia do sistema imune do potro que apresenta incapacidade em reagir e prevenir uma infecção a partir do foco primário de infecção. Os organismos mais comumente responsáveis pela endotoxemia e septicemia em potros neonatos são bactérias Gram–negativas como E. coli, Klebsiella sp., Enterobacter sp., Actinobacillus sp., e Pseudomonas sp., embora infecções por 10 bactérias Gram-positivas ou outras Gram-negativas também ocorram (PARADIS, 1997). Como mencionado anteriormente, a endotoxemia esta associada a doenças com alto risco de vida nos eqüinos de todas as idades, especialmente em condições de imunodeficiência ou imunocompetência (MOORE, 2001). Os sinais clínicos associados a endotoxemia podem ser facilmente identificados tais como febre, depressão, redução na motilidade intestinal e perda de apetite (MOORE; BARTON, 2003). Taquicardia, taquipnéia, dor abdominal, consistência fecal alterada e evidência de déficit de perfusão também podem ser observados (KUESIS; SPIER, 1998; MOORE, 2001). Alteração na coloração das membranas mucosas, especialmente o “halo toxêmico” gengival foram descritos por MOORE, (2001) como uns dos achados iniciais, enquanto que em outras doenças que afetam as superfícies pleural, serosa, ou peritonial, especialmente nas suas fases iniciais, apresentam sinais clínicos menos óbvios. Estes efeitos são causados pela síntese e liberação de substancias pró-inflamatórias que inibem a atividade muscular gastrintestinal normal, reduzem o limiar ao estimulo doloroso, e/ou causam alterações no fluxo sangüíneo intestinal (MOORE; BARTON, 2003). Além de poder eventualmente causar a morte por colapso cardiovascular e falência múltipla de órgãos, a endotoxemia pode também acarretar com o desenvolvimento da laminite. Conseqüentemente é necessário ao veterinário um completo exame físico e recorrer a diversos exames laboratoriais para análises hematológicas (ex. leucócitos totais, fibrinogênio), análise do fluido peritonial ou pleural, e o uso de outros meios de diagnóstico (ex. ultra-sonografia ou radiografia) para identificar anormalidades clínicas mais sutis (MOORE; BARTON, 2003). As alterações hematológicas observadas nos estágios iniciais da sepse Gram- negativa apresentam neutropenia conseqüente à marginalização vascular, enquanto que em estágios avançados ou tardios acompanham-se de neutrofilia e freqüentemente alterações tóxicas como vacuolização citoplasmática, grânulos tóxicos e neutrófilos segmentados imaturos. Observam-se também aumentos na contagem eritrocitária, no hematócrito, na concentração de hemoglobina e de proteína plasmática após perda de líquido extravascular. O estado de hiperproteinemia é observado precocemente na endotoxemia, mas os níveis protéicos podem diminuir posteriormente de modo significativo devido a perdas intestinais. A circulação periférica diminuída e a hipoxemia 11 acarretam em um aumento do metabolismo anaeróbio periférico, evidenciado por acidose metabólica e aumento de lactato sérico e hiato aniônico. Verifica-se hiperglicemia secundária a glicogenólise hepática nas fases iniciais de sepse e isto é seguido por hipoglicemia secundária a gliconeogênese diminuída e utilização aumentada de glicose periférica. Os produtos de degradação da fibrina mostram-se elevados e o fibrinogênio plasmático deprimido, fatos associados a fibrinólise aumentada (KUESIS; SPIER, 1999). As endotoxinas são os componentes lipopolissacarídicos da membrana celular externa das bactérias Gram-negativas entéricas. Esta membrana é formada por três regiões: uma região externa polissacarídica (O - antigênica), uma única região central composta por monossacarídeos, e uma região interna rica em ácidos lipídicos denominado “lipídeo A”, a maioria dos efeitos deletérios das endotoxinas esta ligada à porção lipídeo A (MOORE, 1981). Figura 1. Figura 1- Componentes lipopolissacarídicos da membrana celular externa das bactérias Gram-negativas: região externa polissacarídica (O - antigênica), região central monossacarídica e região interna rica em ácidos lipídicos denominado “lipídeo A” Em condições normais, o trato intestinal do eqüino contém grande quantidade e variedade de bactérias Gram-negativas (MACKAY, 1992). Os microrganismos comensais reduzem o risco de supercrescimento bacteriano virulento através de competição por substratos limitantes, locais de ligação e através da liberação de subprodutos metabólicos que inibem o crescimento de bactérias competidoras. Varias situações clínicas podem constituir uma ameaça para o equilíbrio da flora saprófita 12 como, por exemplo, mudanças bruscas na dieta especialmente com rações com conteúdo alto em carboidratos facilmente fermentáveis; emprego de drogas antimicrobianas enterais e parenterais, alterações que podem inibir seletivamente populações anaeróbias ou Gram-positivas, permitindo conseqüentemente o supercrescimento de coliformes intestinais ou fecais; assim como exposição a bactérias Gram-negativas no útero ou no ambiente inicial pós-parto, predispondo o potro neonato a graves infecções bacterianas (KUESIS; SPIER, 1999). Devido ao fato das endotoxinas serem liberadas pelas bactérias Gram-negativas quando se multiplicam ou morrem, o lúmen intestinal contém normalmente uma grande quantidade de endotoxinas (MACKAY, 1992), porém estas são restritas ao lúmen intestinal por uma eficiente barreira mucosa (MOORE, 1981), que é constituída de células epiteliais, anticorpos e enzimas secretadas por estas células assim como por bactérias residentes adjacentes. Esta barreira mucosa não é 100% eficiente, e algumas moléculas de endotoxina atravessam a barreira e adentram a circulação portal (MOORE; BARTON, 2003). As endotoxinas que atravessam esta barreira se ligam a proteínas plasmáticas específicas neutralizadas por anticorpos circulantes, ou são retiradas da circulação pelas células de Küpffer no fígado (MACKAY, 1992; MOORE, 1981), e não produzem efeitos sistêmicos no animal (MOORE; BARTON, 2003). Aligação da endotoxina por sais biliares no lúmen intestinal serve como barreira adicional à absorção sistêmica destas endotoxinas (KUESIS; SPIER, 1999). Doenças que alteram a barreira mucosa intestinal permitem que as endotoxinas ganhem acesso ou a cavidade peritoneal ou a circulação portal (MACKAY, 1992; MOORE, 1981). Isto pode acontecer no caso de que o suprimento sangüíneo local da mucosa seja alterado, o que ocasiona um desagregado na arquitetura das células epiteliais da mucosa na lamina própria subjacente, situação que também é observada quando a parede intestinal esta inflamada (MOORE; MORRIS, 1992). Deficiência na capacidade de fagócitos mononucleares hepáticos na detoxificação de endotoxinas devido a doenças que afetam primariamente o fígado também deve ser considerada (MOORE; BARTON, 2003). Patógenos entéricos invasivos, incluindo espécies de Salmonella sp. e Clostridium sp., são capazes de causar lesões diretas na mucosa. Drogas antiinflamatórias não-esteroidais (AINEs), incluindo fenilbutazona, flunixin 13 meglumine e cetoprofeno inibem a síntese de prostaglandina e alteram a integridade da mucosa. As prostaglandinas E1, e E2 são importantes para a manutenção do fluxo sangüíneo da mucosa, a epitelização e a barreira muco-bicarbonato. A toxicidade associada aos AINEs resulta em uma sintomatologia clínica de endotoxemia secundária a lesões ulcerativas graves distribuídas por todo o trato gastrintestinal (KUESIS; SPIER, 1999). O movimento transmural de endotoxinas através da parede intestinal inflamada pode persistir por dias em cavalos acometidos com enterite ou colite (MOORE, 2001; MOORE; BARTON, 2003). Sendo que as endotoxinas ricas em lipídeos são capazes de atravessar a barreira mucosa intestinal e ganhar acesso à circulação bem mais rapidamente que as bactérias intactas. As condições clinicas comumente associadas à presença de endotoxinas na circulação incluem obstrução estrangulativa intestinal, colite, enterite proximal, e sobrecarga por carboidratos (MOORE, 2001), que podem resultar em isquemia intestinal, lesão por reperfusão e necrose da mucosa (KUESIS; SPIER, 1999). Após o acesso das endotoxinas à circulação, estas interagem com proteínas e células sangüíneas circulantes ou podem ser removidas por macrófagos fixos no fígado, baço ou vasculatura pulmonar (TOBIAS et al., 1986; MOORE; BARTON, 2003). As endotoxinas são ainda compostas por duas regiões, uma hidrofílica e outra hidrofóbica. A presença de ambas as regiões, hidrofílica e hidrofóbica, dentro da mesma molécula é responsável pela formação de agregados micelares quando as moléculas de endotoxina adentram fluidos biológicos aquosos como plasma ou liquido peritoneal. Devido à natureza hidrofóbica do lipídeo A, as endotoxinas formam agregados no plasma (MOORE; BARTON, 2003), estes agregados interagem com lipoproteínas de alta densidade ou a uma única proteína plasmática denominada proteína ligante de lipopolissacarídeos, e são dispersas em vários monômeros endotoxêmicos (TOBIAS et al., 1986). A ligação das endotoxinas com as lipoproteínas de alta densidade prolonga o tempo da meia–vida das endotoxinas circulantes, mas reduzem sua capacidade de interação com as células pró-inflamatórias (MATHISON et al., 1991). Em contrapartida, as proteínas ligantes de lipopolissacarídeos removem moléculas de endotoxinas 14 individuais dos agregados e facilitam a interação destes monômeros de endotoxinas com os fagócitos mononucleares (monócitos sangüíneos periféricos e macrófagos). Esta proteína especial de ligação com os lipopolissacarídeos que efetua o lançamento das endotoxinas dos agregados para as células inflamatórias, é uma pequena glicoproteina sintetizada por hepatócitos e existe em quantidades vestigiais no plasma sangüíneo. É importante notar que a proteína ligante de lipopolissacarídeos facilita, mas não é essencial na interação das células fagocitárias mononucleares, linfócitos, neutrófilos, e células endoteliais com a endotoxina e que a proteína ligante de lipopolissacarídeos também transfere moléculas de endotoxinas a lipoproteínas de alta densidade, e desse modo reduz a interação das endotoxinas com as células inflamatórias (WURFEL, 1995).Como parte da fase aguda de resposta ao estimulo inflamatório como uma cirurgia, infecção, ou a própria endotoxemia, as concentrações circulantes desta proteína ligante de lipopolissacarídeos aumentam, sendo que esta proteína tem uma grande interação com a porção lipídeo A da endotoxina (MOORE, 2001). Devido a sua função em lançar endotoxinas às células inflamatórias do hospedeiro, as proteínas ligantes de lipopolissacarídeos aumentam substancialmente a sensibilidade do hospedeiro às endotoxinas. Elas alcançam este efeito pela transferência de monômeros de endotoxinas a receptores de superfície celular denominados CD14, que existem principalmente em fagócitos mononucleares. A interação entre endotoxina, proteína ligante de lipopolissacarídeo, e CD14 aumenta a sensibilidade destas células às endotoxinas resultando na síntese de mediadores pró- inflamatórios (TAPPING; TOBIAS, 1997). O início da resposta inflamatória a endotoxina ocorre quando a proteína ligante de lipopolissacarídeos transfere o monômero de endotoxina a um receptor superficial celular denominado antígeno de diferenciação de agrupamentos 14 (CD14), que existe principalmente em fagócitos mononucleares. CD14 é um receptor proteico de reconhecimento padrão que identifica endotoxinas como um padrão indicativo de patógenos. O CD14 existe como glicosil-fosfatidil-inositol ancorado na proteína da membrana ou como uma forma solúvel em fluidos biológicos. A forma de ligação à membrana de CD14 esta presente principalmente em fagócitos mononucleares, mas também existe em outros tipos de células, incluindo neutrófilos. A forma solúvel de 15 CD14 também interage com endotoxinas e proteínas ligantes de lipopolissacarídeos e, subseqüentemente com células que não possuem CD14 em sua membrana, como as células endoteliais; esta interação final confere às células endoteliais responsividade as endotoxinas (STELTER, 2000). Embora o receptor CD14 tenha o papel principal na resposta as endotoxinas, falta a este a habilidade em transmitir efetivamente a presença da endotoxina ao interior da célula. O receptor de superfície esta ancorado, por um carboidrato, somente ao exterior da célula, o que não inclui a porção transmembranar e conseqüentemente não há o estimulo inicial direto do sistema mensageiro secundário ou caminho para a transdução de sinais para a síntese de mediadores pró-inflamatórios intracelulares. Como o CD14, os receptores “Toll-like” são receptores de reconhecimento padrão de patógenos, com os subtipos de receptores “Toll-like” individuais reconhecendo diferentes ligantes (ex. endotoxinas, peptideoglicanos, DNA bacteriana, flagelina). Diferente do CD14, entretanto, os receptores “Toll-like” possuem componentes transmembranares e intracelulares, o que os permite fazer a comunicação entre os aspectos interno e externo da célula. O receptor “Toll-like” 4 é responsável pela liberação dos sinais da endotoxina para o interior da célula. A ligação da endotoxina a CD14 de monócitos e macrófagos resulta na transmissão de sinais destas endotoxinas ao interior da célula, mobilização de mensageiros intracelulares, e interação com o núcleo que induz a decodificação de genes para a síntese de substâncias pró- inflamatórias. Muitos dos efeitos deletérios das endotoxinas são mediados pela síntese e liberação de citocinas e substâncias pró-inflamatórias pelos fagócitos mononucleares (MOORE, 2001). A complexa natureza da endotoxemia é imediatamente evidente quando a lista de mediadores inflamatórios sintetizados em resposta as endotoxinas é considerada. Existem numerosos níveis de interação e influência entre os mediadores e células,e muito poucos efeitos clínicos da endotoxemia podem ser associados com um único mediador ou tipo de mediador (MOORE, 1999). Existe um foco polêmico atual entre os diversos autores consultados com referência a importância dos diversos mediadores da inflamação por endotoxemia, seja as citocinas (fator de necrose tumoral e as interleucinas), os eicosanóides (metabólitos 16 do ácido aracdônico), fator tissular (MOORE, 2001; MOORE; BARTON, 2003), fator de ativação plaquetária (FAP), e fatores de coagulação e fibrinolítico (MOORE, 1999). O fator de necrose tumoral (FNT) é uma pequena citocina polipeptídica sintetizada por fagócitos mononucleares expostos a endotoxinas e outros estímulos pró-inflamatórios (MOORE, 1999); parece distribuir-se preferencialmente para o fígado, a pele, os rins, e o trato gastrintestinal, onde interage com receptores específicos. As manifestações clínicas da sepse Gram-negativa são mediadas pelo FNT por meio da ativação de populações de células hospedeiras, incluindo neutrófilos, linfócitos, células mononucleares e células endoteliais que agem amplificando a resposta inflamatória (KUESIS; SPIER, 1999), também iniciam uma cascata de respostas que incluem hipotensão, hemoconcentração, acidose metabólica, e coagulação intravascular disseminada. O fator de necrose tumoral exerce estes efeitos ao estimular a síntese de outros mediadores inflamatórios (incluindo as interleucinas 1 e 6, eicosanóides, e fator tissular), a resposta de fase aguda, e febre (MORRIS et al.,1990; MOORE, 1999). MOORE (1999) cita que a administração de fator de necrose tumoral recombinante causa virtualmente os mesmos efeitos da administração de endotoxinas, e que o fator de necrose tumoral parece ter um importante e precoce papel em resposta a endotoxemia, pois animais e pessoas endotoxêmicas apresentam aumentos séricos deste mediador de acordo com a evolução e severidade do processo que os aflige. O termo interleucinas refere-se a uma grande família de citocinas sintetizadas por fagócitos mononucleares, que funcionam como reguladores das respostas inflamatória e imunológica normais dos hospedeiros. Das 17 interleucinas identificadas até hoje, estudos envolvendo interleucinas na endotoxemia eqüina apenas focaram a interleucina 6. A maior ação desta interleucina é a indução da produção de proteínas da fase aguda pelo fígado e diferenciação de linfócitos B em células produtoras de anticorpos. As concentrações séricas de interleucina 6 se aproximaram a resposta febril induzida pela endotoxina (MOORE, 1999). A interleucina 1 atua ativando linfócitos T e estimulando a síntese de linfócitos B; é em maior parte produzida durante a endotoxemia por macrófagos em resposta a lipopolissacarídeos, FNT ou leucotrienos. Durante a endotoxemia, a interleucina 1 age ativando populações celulares hospedeiras 17 e compartilha bioatividade sobreposta ao FNT e potencializa o efeito do FNT (KUESIS; SPIER, 1999). Existem evidencias de que além do estímulo para a síntese de pró-inflamatórios, as endotoxinas também causem a síntese e liberação de mediadores antiinflamatórios. A interleucina 10 é sintetizada por monócitos, macrófagos e linfócitos; sua síntese parece ser regulada por algumas espécies de fator de necrose tumoral, interleucina 1, fator de crescimento conversor β, e interferon γ. O principal efeito antiinflamatório da interleucina 10 parece envolver uma desativação dos fagócitos mononucleares e inibição da síntese de citocinas pró-inflamatórias (FIORENTINO et al., 1991). Outros mediadores anti-inflamatórios com potencial que merecem estudo em eqüinos incluem as interleucinas 4, 6, 11, e 13 e fator de crescimento conversor β (MOORE, 2001). O ácido aracdônico (ácido graxo carbono – 20) é um componente dos fosfolipídeos de membrana celular e é clivado pela enzima fosfolipase A2. Sob condições basais, a enzima fosfolipase A2 esta livre dentro do citoplasma. Na ativação da célula pelos diversos estímulos como endotoxinas, citocinas, ou simplesmente pela aplicação de estímulos liberadores sobre a membrana, a fosfolipase A2 liga-se a superfície interna da membrana; a enzima ligada à membrana libera o acido aracdônico, que deve ser metabolizado por outras enzimas ligadas a membrana, isto é metabolizado pela cicloxigenase ou lipoxigenase. Quando o acido aracdônico é liberado da fosfatidilcolina, a estrutura fosfolipídica resultante serve como precursora do fator de agregação plaquetária (MOORE, 1999). Os metabólitos derivados da cicloxigenase mais estudados incluem tromboxano A2, prostaglandina I2, prostaglandina E2, e prostaglandina F2ά. Relativamente pouco é conhecido sobre os metabólitos do acido aracdônico derivados da lipoxigenase do eqüino (leucotrienos), pois existe marcada instabilidade destes no plasma. Embora os metabólitos derivados da cicloxigenase estejam associados à redução do limiar de certos estímulos dolorosos, seus efeitos na atividade da musculatura lisa vascular e, por conseguinte a perfusão tecidual é mais comumente discutida. O tromboxano A2 e a prostaglandina F2ά causam vasoconstrição pela diminuição da concentração de AMPc nas células de musculatura lisa vascular, enquanto que as prostaglandinas I2 e E2 causam vasodilatação pelo aumento de AMPc. Muitos dos efeitos hemodinâmicos precoces da endotoxemia são mediados por estes 18 metabólitos do acido aracdônico derivados da cicloxigenase (PARADIS, 1997). MOORE (1999) descreve que a hipertensão pulmonar, dispnéia, e hipoxemia que ocorre pouco depois do inicio dos experimentos da endotoxemia em casos experimentais mostraram- se paralelos ao aumento da concentração plasmática de tromboxano A2. Este mesmo autor descreve que o aumento na concentração circulatória do metabólito estável prostaglandina I2 geralmente ocorre mais tardiamente e esta associada à descoloração da membrana mucosa, inícios de sinais clínicos de dor abdominal, prolongamento do tempo de preenchimento capilar, e inicio de hipotensão sistêmica. A prostaglandina E2 esteve associada a respostas tardias da endotoxemia, incluindo febre. Portanto, muitos dos precoces efeitos clínicos aparentes da endotoxemia parecem estar associados à síntese de alguns metabólitos vasoconstritores do acido aracdônico, e alterações subseqüentes estão associadas aos metabólitos vasodilatadores (MOORE, 1999). O fator tissular (“atividade pró-coagulante” ou tromboplastina) é uma glicoproteina sintetizada por monócitos, macrófagos, e em um menor grau, pelas células endoteliais em resposta a endotoxina. A maior parte do fator tissular sintetizado por estas células permanece na superfície e pode ser exposta ao fator de coagulação VII no plasma. Como resultado, o ramo extrínseco da cascata de coagulação pode ser estimulado, levando as células estimuladas a se tornarem foco para a formação de micro trombos (PARADIS, 1997). O fator de ativação plaquetária (FAP) é um mediador inflamatório derivado de lipídeos (fosfoglicerol), que é sintetizado por leucócitos ativos, células endoteliais, plaquetas e outras populações celulares. Hipóxia tecidual, endotoxina e FNT resultam em atividade aumentada da fosfolipase e na liberação hidrolítica de ácido aracdônico de fosfolipídeos da membrana celular. O lisofosfolipídeo de membrana restante é convertido em FAP através da ação da acetiltransferase. O FAP funciona em processos fisiológicos normais bem como em processos inflamatórios. O FAP induz hipotensão por diminuição do tônus vascular e através de suas propriedades inotrópicas negativas; também aumenta a permeabilidade vascular, induz edema pulmonar e brônquico e necrose intestinal isquêmica (KUESIS; SPIER, 1999). Sua administração produz muitas das mesmas respostas observadas na endotoxemia ou septicemia, e concentrações séricas e teciduais de fator de ativação plaquetária aumentam em modelos de choque 19 circulatório.Aumento na permeabilidade microvascular, formação de trombos, indução de trombocitopenia, e ser agente causador de profunda hipotensão são alguns de seus efeitos clínicos, além de ocasionar agregação plaquetária, e induzir a produção de tromboxano B2 após ser exposto a macrófagos (MOORE, 1999). KUESIS & SPIER, (1999) citam que ocorre ativação disseminada dos sistemas extrínseco e intrínseco de coagulação sob o comando dos lipopolissacarídeos e mediadores derivados. O lipopolissacarídeo inicia a cascata intrínseca através da exposição de colágeno subendotelial e ativação de fator XII. Lesão endotelial extensa resulta na liberação de tromboplastina (fator tissular) e ativação da cascata extrínseca. As plaquetas são ativadas para agregar, contrair e desgranular com exposição ao colágeno subendotelial. O FNT regula descendentemente o sistema anticoagulante natural através de atividade diminuída de trombomodulina e da proteína C e expressão aumentada do inibidor/ativador plasminogênio. Os monócitos contribuem para o estado hipercoagulável através da expressão induzida pela endotoxina de atividade pró- coagulante. A progressão do estado hipercoagulável causa depleção de antitrombina III, uma proteína anticoagulante circulante essencial. Coagulação Intravascular Disseminada (CID) ocorre com trombose da microvascularização e hemorragia secundária ao consumo de fatores de coagulação. Isto se manifesta por hemorragia excessiva associada à cirurgia abdominal, punção venosa ou cateterização intravenosa. Hemorragias petequiais e equimóticas envolvendo as escleróticas e mucosas também são comumente observadas em eqüinos com Coagulação Intravascular Disseminada. MOORE (2001) e MOORE & BARTON (2003) enfatizam que a compreensão dos meios de ação das endotoxinas perante o organismo animal e seus conseqüentes efeitos deletérios são a chave para a busca de novos métodos de tratamentos efetivos e prevenção das endotoxemias. Sendo que atualmente existem cinco principais objetivos a serem considerados: 1) prevenção da movimentação da endotoxina para a circulação, 2) neutralização da endotoxina antes desta interagir com células inflamatórias, 3) prevenção da síntese, liberação, ou ação dos mediadores inflamatórios, 4) prevenção da ativação celular induzida pela endotoxina e 5) suporte geral com fluidos intravenosos ou agentes coloidais e inotrópicos. 20 Segundo SPINOSA (2002) a polimixina B é um antibiótico de estrutura polipeptídica catiônica cíclica produzido pelo Bacillus polymyxa; seu espectro de ação é relativamente curto, atuando preferencialmente sobre bacilos entéricos Gram-negativos (Escherichia coli, Enterobacter e Klebsiella spp, e Pseudomonas aeruginosa), sendo que todas as bactérias Gram-positivas são resistentes as polimixinas. São antibióticos bactericidas, pois atuam na membrana citoplasmática da bactéria, ligando-se a radicais fosfato; esta ligação desorganiza a estrutura da membrana citoplasmática, fazendo-a perder sua seletividade e permitindo a saída de pequenas moléculas para o exterior da bactéria. Este antibiótico é administrado sistemicamente, de preferência por via intramuscular; não é absorvida quando administrada por via oral, porém é ativa na luz intestinal. Ligam-se moderadamente às proteínas plasmáticas e a distribuição pelos tecidos do animal é pobre, provavelmente devido ao seu alto peso molecular. A excreção se faz através dos rins na sua forma ativa, por filtração glomerular, podendo acumular-se em indivíduos com insuficiência renal. Sua administração sistêmica pode causar nefrotoxicidade, neurotoxicidade (letargia, apatia, ataxia transitória) e bloqueio neuromuscular. Topicamente não provocam toxicidade (ANDRADE et al.,2002). Aspectos importantes da polimixina B são a conveniência no armazenamento do produto (material liofilizado), fácil administração (pode ser infundido em bolus I.V.), relativa disponibilidade e efeito endotoxina-neutralizante que longamente supera seu tempo de meia vida farmacológico no sangue (BARTON, 2004). Devido à natureza catiônica da polimixina B, e ambos, o lipídeo A e a porção central oligossacarídica do lipopolissacarideo, serem de natureza aniônica, forças eletrostáticas podem contribuir com a ligação da endotoxina e neutralização dos peptídeos catiônicos (HANCOCK, 1997). A habilidade da polimixina B em se ligar à porção lipídeo A da molécula de lipopolissacarideo altera a conformação tridimensional desta última. Esta alteração conformacional possivelmente inibe a molécula polimixina-endotoxina de se ligar ao receptor CD14 nos monócitos, o que inibe a liberação de mediadores inflamatórios como o fator de necrose tumoral. A ligação da polimixina B a membrana externa de leucócitos alvo pode produzir uma proteção residual contra as endotoxinas (BUCKLIN et al., 1995). Devido à razão de ligação ser uma molécula de polimixina B para uma 21 molécula de lipopolissacarideo, uma resposta dose-dependente é esperada (ISSEKUTZ; BIGGAR, 1978). Embora a habilidade da polimixina B de se ligar e neutralizar endotoxinas tenha sido conhecida há décadas, seu uso clinico tem sido desencorajado devido a preocupação com seus efeitos tóxicos nos tecidos neural e renal (RAISBECK et al.,1989; MACKAY et al., 1999; MOORE, 2001). Em um estudo para a avaliação da polimixina B em três doses (3600, 15000 e 30000 UI/kg de peso vivo, via intravenosa, a cada 6 horas por 48 horas) em eqüinos submetidos a sobrecarga por grãos, foi relatado um efeito benéfico mínimo na prevenção da laminite e o desenvolvimento de severas manifestações clínicas de neurotoxicose (hipermetria transitória, ataxia e agitação de cabeça) na dose de 30000 UI/kg. Efeitos tóxicos da polimixina B na dose de 15000 UI/kg não foram observados. (RAISBECK et al., 1989). Afortunadamente, as concentrações necessárias para a captação de endotoxinas são muito menores que as associadas com o efeito tóxico desta droga. A polimixina tem sido avaliada em vários estudos experimentais recentes e tem sido corriqueiramente utilizada em casos clínicos (MOORE; BARTON, 2003). Em um estudo experimental de endotoxemia em eqüinos, a administração de polimixina B (1000 a 5000 UI/kg, via intravenosa) antes ou uma hora após a administração de endotoxina, reduziu significantemente a febre, a taquicardia, e a atividade sérica do fator de necrose tumoral ά quando comparado com eqüinos que receberam solução salina placebo. Doses administradas na taxa de 500 UI/kg de polimixina B inibiram 50% da atividade do fator de necrose tumoral induzida pela endotoxina por 12 horas, sugerindo que mesmo baixas doses de polimixina B podem potencialmente produzir algum beneficio durante a endotoxemia. Teoricamente, estas baixas doses de polimixina B são menos prováveis de causar toxicose renal mesmo em animais criticamente doentes. Entretanto, a polimixina B deve ser usada cuidadosamente em animais hipovolêmicos ou azotêmicos, especialmente quando outra droga potencialmente nefrotóxica for administrada concomitantemente (PARVIAINEN et al., 2001). Resultados similares foram relatados em potros tratados com polimixina B, 6000 UI/kg (aproximadamente 1 mg/kg), antes da 22 administração de endotoxina ou mesmo 45 minutos após a administração da mesma (DURANDO et al., 1994). Em 2004, BARTON et al. em um novo ensaio obtiveram resultados semelhantes aos apresentados anteriormente. O trabalho consistiu em administração de polimixina B (1000 UI/kg ou 5000 UI/kg, via intravenosa) 30 minutos antes ou 30 minutos após a administração de endotoxinas. Os animais tratados com polimixina B antes ou após a administração de endotoxina reduziram significativamente a febre, taquicardia e o fator de necrose tumoral sérico, comparado com os cavalos que receberam solução salina. As diferenças em resposta a endotoxemia foram maiores entre eqüinos que receberam solução salinaversus os que receberam 5000 UI/kg de polimixina B antes da administração de endotoxinas. Este resultado indica o benefício do tratamento profilático contra a endotoxemia, mas ainda demonstra significativo efeito mesmo quando administrado após seu início. Segundo MORRISON (1996), citado por WEISS III (2000), a administração de antibióticos que promovem lise da parede celular como as drogas β-lactâmicas quando comparadas ao tratamento com amicacina ou a combinação de amicacina e ampicilina, acarretam a liberação maciça de lipopolissacarídeos durante sérias infecções bacterianas Gram-negativas com concomitante efeitos detrimentais aos hospedeiros. Baseado em recentes estudos experimentais realizados em leucócitos de neonatos, a morte da bactéria Escherichia coli com agentes antimicrobianos β-lactâmicos parece aumentar mais significativamente a liberação de endotoxinas e a síntese celular de fator de necrose tumoral ά que a amicacina ou a combinação de amicacina e ampicilina. Baseado nestes achados pode ser vantajoso à administração de polimixina B para a neutralização de endotoxinas quando for necessário agentes antimicrobianos β- lactâmicos (BENTLEY, et al., 2002). No presente, a polimixina B é utilizada na dosagem de 1000 a 5000 UI/kg, por via endovenosa, seja diluída em solução salina, glicose 5% ou dextrose, duas a três vezes ao dia; recomenda-se que esta terapia seja iniciada o mais precoce possível no curso clínico da doença. Também é recomendada a instituição de fluidoterapia e estabilização em animais hipovolêmicos, com particular atenção a concentração sérica de creatinina. Esta última preocupação deve ser especialmente relevante em potros neonatos com 23 azotemia, pois eles podem ser mais suscetíveis aos efeitos colaterais de nefrotoxicidade da polimixina B (PARVIAINEN et al., 2001). A polimixina B tem sido administrada rotineiramente de modo profilático e/ou no tratamento da endotoxemia eqüina no Hospital Veterinário da Universidade da Geórgia, por mais de três anos, na dose de 1000 a 5000 UI/kg, via intravenosa, a cada 12 horas, com duração total de terapia não excedendo 72 horas, com resultados significativos (MOORE, 2004). Outras modalidades de tratamento contra a endotoxemia como agentes antiinflamatórios e fluidoterapia são freqüentemente associados ao tratamento com polimixina B (BARTON; PARVIAINEN et al.,2004). Na Universidade do Tennessee, a terapia com a polimixina B consiste na dose de 2000 a 6000 UI/kg diluídas em pelo menos 60 ml de solução salina 0,9%, água destilada ou em um litro de solução poliiônica como Ringer Simples ou Ringer Lactato, por via intravenosa, a cada 6 ou 8 horas, com duração total de 24 a 48 horas. Foi observado que além de nefrotoxicidade relatada por diversos autores, o paciente pode mostrar sinais clínicos como tremores musculares e até mesmo síncope (CASTRO, 2005). Na evidência de que são numerosos os mediadores pró-inflamatórios ativados pelas endotoxinas, além dos prostanóides (metabólitos do acido aracdônico derivados da cicloxigenase), outros também estão envolvidos nos efeitos adversos das endotoxinas, sendo assim a resposta a inibidores seletivos como o flunixin meglumine é incompleta, pelos quais os tratamentos mais eficazes associam-se também ao uso com drogas endotoxina-neutralizantes (DURANDO et al., 1994). 24 4. CONCLUSÕES A dose de polimixina B recomendada para a neutralização de endotoxinas (1000 a 6000 UI/kg, via intravenosa) é muito menor que a necessária para produzir o efeito antimicrobiano sistêmico. A administração de 10000 UI/kg de polimixina B sugeriu uma estreita margem de segurança, já que os experimentos foram feitos em eqüinos saudáveis. Fatores associados a endotoxemia podem alterar a farmacocinética desta droga e predispor os pacientes a sua toxicidade, portanto pacientes enfermos, principalmente os com comprometimento renal, devem receber doses mais baixas (1000 UI/kg). A conduta e a função renal de eqüinos submetidos à terapia com polimixina B devem ser monitorados cuidadosa e freqüentemente, mesmo que os estudos tenham indicado as doses de 1000 a 6000 UI/kg como seguras (nenhum indício de neurotoxicidade e/ou nefrotoxicidade), pois a não evidencia de aumentos significativos nas taxas de creatinina (um indicador de doença tubular renal), não descarta efeitos nefrotóxicos subclínicos. O clínico tem a escolha de fazer um balanço entre os efeitos benéficos e os possíveis efeitos adversos da polimixina B; a dose a ser utilizada deve ser ajustada individualmente de acordo com o histórico e estado geral de cada paciente eqüino. Na minha opinião os resultados promissores desta droga descritos na literatura revisada para o tratamento das endotoxemias principalmente as de origem entérica, a facilidade em sua aquisição, fácil aplicação e fácil controle de seus efeitos colaterais, deve contrabalancear seu custo aparentemente alto e dar mérito a sua utilização rotineira visando à recuperação de um número maior de eqüinos afetados por endotoxemia, a diminuição dos custos e tempo dos tratamentos pós-operatórios e na diminuição de complicações freqüentemente observadas tais como laminite e insuficiência renal; sendo assim não encontro objeções maiores para iniciar seu uso nos hospitais. 25 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, S.F.; GIUFFRIDA, R.; RIBEIRO, M.G. Quimioterápicos, Antimicrobianos e Antibióticos In: ANDRADE, S.F.; GIUFFRIDA, R.; RIBEIRO, M.G. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo: Editora Roca Ltda., 2002, p. 44. BARTON M.H.; MORRIS, D.D.; NORTON, N., et al. Hemostatic and fibrinolytic indices in neonatal foals with presumed septicemia. J Vet Intren Med, v.12, p.26-35, 1998. BARTON, M.H., PARVIAINEN, A., NORTON, N. Polymyxin B protects horses against induced endotoxemia in vivo. Equine Veterinary Journal, v.36, n.5, p. 397-401, 2004. BENTLEY, A.P., BARTON, M.H., LEE, M.D., et al. Antimicrobial-induced endotoxin and cytokine activity in an in vitro model of septicemia in foals. Am J Vet Res, v.63, n.5, p. 660-668, 2002. CASTRO, F.A. Relato pessoal, 2005 BUCKLIN, S.A., PHILIP, P., LOGDBERG, L., et al. Therapeutic efficacy of a polymyxin B-dextran 70 conjugate in an experimental model of endotoxemia. Antimicrob Agents Chemother, v.39, p. 1462-1466, 1995. DURANDO,M.M, MACKAY, R.J., LINDA, S., et al. Effects of polymyxin B and Salmonella typhimurium antiserumon horses givenendotoxin intravenously. Am J Vet Res, v.55, n.7, p.921-927, july, 1994. FIORENTINO, D.F.; ZLOTNIK, A.; MOSMANN, T.R., et al. IL-10 inhibits cytokine production by activated macrophages. J Immunol, v.147, p.3815-3822, 1991. GHISELLI, R., GIACOMETTI, A., CIRIONI, O., et al. Therapeutic Efficacy of the Polymyxin-like Peptide Ranalexin in an Experimental Model of Endotoxemia. Journal of Surgical Research, v.100, p. 183-188, 2001. HANCOCK, R.E.W. Peptides antibiotics. Lancet, v. 349, p. 418, 1997. ISSEKUTZ, A.; BIGGAR, W. Effects of methylprednisone and polymyxin B sulfate on endotoxin-induced inhibition of human neutrophil chemotaxis. J Lab Clin Med, v.92, p. 873-882, 1978. KUESIS, B.; SPIER, S.J. Endotoxemia. In: REED, S.M.; BAYLY, W.M. Medicina Interna Equina. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 1998, p. 550-561. LAZARON, V.; DUNN, D.L. Molecular biology of endotoxin antagonism. World J Surg, v.26, n.7, p. 790-798, 2002. 26 LPS-2<http://www.ehu.es/biomoleculas/HC/lps-2.gif. Acesso em: 31 maio 2005. MACKAY, R.; CLARK, C.; LOGDBERG, L. et al.Effect of a conjugate of polymyxin B- dextran 70 in horses with experimentally induced endotoxemia. Am J vet Res, v.60, p.68-75, 1999. MACKAY, R. Endotoxemia. In: ROBINSON N.E. Current Therapy in Equine Medicine, Philadelphia: Saunders, p.225-323, 1992. MOORE, J.N. II: A Perspective onEndotoxemia. AAEP PROCEEDINGS, v.47, p. 61-74, 2001. MOORE, J.N. Endotoxemia and Septicemia as Causes of Shock. In: COLAHAN, P.T.; MAYHEW, I.G.; MERRITT, A.M.; MOORE, J.N. Equine Medicine and Surgery. 5.ed. Missouri: Mosby, 1999. 2v. v.1, p.218-224. MOORE, J.N.; MORRIS, D.D. Endotoxemia and septicemia in horses: experimental and clinical correlates. J Am Vet Med Assoc, v.200, p.1903-1914, 1992. MOORE, J.N. Endotoxemia: definition, characterization, and host defenses. Compend Cont Educ, v.3, p. 355-359, 1981. MOORE, J.N.; BARTON, M.H. Treatment of endotoxemia. The Veterinary Clinics - Equine Practice, v.19, p. 681-695, 2003. MORRIS, D.D.; CROWE, N.; MOORE, J.N. Correlation of clinical and laboratory data with serum tumor necrosis factor activity in horse with experimentally induced endotoxemia. Am J Vet Res, v.51, p.1935-1940, 1990. MORRISON, D.C.; JACOBS, D.M. Binding of polymyxin to the lipid A portion of bacterial lipopolysaccharides. Immunochemistry, v. 13, p. 813, 1976. MORRISON, D.; BUCKLIN, S. Evidence for antibiotic-mediated endotoxin release as a contributing factor to lethality in experimental gram-negative sepsis. Scand J Infect Dis Suppl, v.101, p. 3-8, 1996. PARADIS, M. Neonatal septicemia. In: ROBINSON, N.E. Current Therapy in Equine Medicine. Philadelphia: Saunders, 1997. p.595-601. PARVIAINEN, A.K., BARTON, M.H., NORTON, N.N. Evaluation of polymyxin B in an ex vivo model of endotoxemia in horses. Am J Vet Res, v.62, n.1, p. 72-76, January, 2001. RAISBECK, M.F., GARNER, H.E., OSWEILER, G.D. Effects of polymyxin B on selected features of equine carbohydrate overload. Vet Hum Toxicol, v.31, p. 422-426, 1989. 27 SPINOSA, H.S. Antibióticos: Aminoglicosídeos, Polimixinas, Bacitracina e Vancomicina. In: SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2002. p.418 – 419. STELTER, F. Structure/function relationships of CD14. Chem Immunol, v.74, p. 25-41, 2000. TAPPING, R.I.; TOBIAS, P.S. Cellular binding of soluble CD14 requires lipopolysaccharide (LPS) and LPS-binding protein. J Biol Chem, v.27, p.23157-23164, 1997. TOBIAS, P.S.; SOLDAU, K.; ULEVITCH, R.J.; et al. Isolation of lipopolysaccharide binding acute phase reactant from rabbit serum. J Exp Med, v.164, p.777-793, 1986. WEISS III, C.A., WASILUK, K.R., KELLOG, T.A. Bactericidal and endotoxin neutralizing activity of a peptide derived from Limulus antilipopolysaccharide factor. Surgery, v.1287, n.2, p. 339-344, 2000. WURFEL, M.M., HAILMAN, E., WRIGHT, S.D. Soluble CD14 acts as a shuttle in the neutralization of lipopolysaccharide (LPS) by LPS-binding protein and reconstituted high density lipoprotein. J Exp Med, v. 181, n. 5, p. 1743-1754, 1995. KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO BANCA EXAMINADORA DATA: _____ / _____ / __________ SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS RESUMO ABSTRACT 4. CONCLUSÕES
Compartilhar