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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS ........................................................................ 4 2.1 Inflamação aguda ............................................................................................... 6 2.2 Inflamação Crônica ............................................................................................. 8 2.3 Mediadores do processo inflamatório e Sistema complemento .......................... 9 2.4 Citocinas Inflamatórias ...................................................................................... 10 3 PRINCIPAIS BIOMARCADORES UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DO ESTADO INFLAMATÓRIO ....................................................................................................... 12 3.1 Proteína C – reativa (PCR) ............................................................................... 13 3.2 Velocidade de hemossedimentação (VHS) ...................................................... 14 3.3 Fibrinogênio e Ferritina ..................................................................................... 14 3.4 Haptoglobina e Pró-calcitonina ......................................................................... 15 4 IMUNIDADE NATURAL E IMUNIDADE ADQUIRIDA........................................ 16 5 PROCESSOS INFECCIOSOS ............................................................................ 17 5.1 Interações fármaco-nutrientes dos agentes atuantes no processo infeccioso .. 18 6 LEUCOGRAMA E SEUS ELEMENTOS ............................................................. 21 6.1 Processo infeccioso agudo e crônico ................................................................ 22 7 Doenças infecciosas......................................................................................... 26 7.1 Endocardite infecciosa ...................................................................................... 27 7.2 Meningite viral e bacteriana .............................................................................. 29 7.3 Pneumonia adquirida na comunidade ............................................................... 30 7.4 Diarreia infecciosa ............................................................................................ 31 7.5 Síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse ...................................... 33 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 37 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Fonte: shre.ink/m18O O processo inflamatório visa eliminar o estímulo prejudicial e iniciar o processo de reparo tecidual. As características, conhecidas como os cinco sinais cardinais da inflamação, são inchaço (tumor), vermelhidão (rubor), calor, dor e perda de função na área inflamada. A inflamação pode ser dividida em aguda e crônica dependendo da velocidade de sua instalação (BARARDI; CAROBREZ; PINTO, 2010). A inflamação é uma resposta complexa do organismo a uma infecção ou lesão tecidual para excluir ou limitar agentes agressivos e proporcionar a reparação tecidual. Pode ser classificada como inflamação aguda ou crônica, dependendo de sua velocidade de instalação contendo diferentes células e mediadores inflamatórios. A prática desse processo é de extrema seriedade para o imunologista clínico alcançar os biomarcadores empregados na avaliação do estado inflamatório (FIUZA, 2021). É um reflexo de proteção suscitada pelo nosso organismo em resultado a um agente agressor, desejando resguardar o corpo contra a lesão celular produzida por microrganismos e suas toxinas, tornando assim consequentemente em necrose. Mediadores essenciais da resposta inflamatória são as células fagocitárias, os macrófagos e neutrófilos, as proteínas do sistema complemento e os anticorpos. Os 5 mediadores são transportados para o sítio da lesão ou necrose, são ativados e agem na anulação de microrganismos nocivos. Deste modo a inflamação é primordial para a identificação da infecção e cicatrização de feridas (DAGNINO, 2020). O papel do sistema imunológico é impedir a entrada de microrganismos no corpo humano e eliminar ou limitar o crescimento de patógenos capazes de colonizar os tecidos. Os principais locais de interação entre os indivíduos e o meio externo, como a pele e o trato gastrointestinal, são revestidos por um epitélio contínuo que atua como barreira para impedir a entrada de microrganismos. Quando esses microrganismos rompem a barreira epitelial, as células do sistema imunológico ingressam em ação para responder à invasão. A inflamação é uma resposta biológica complexa que envolve componentes celulares e vasculares e várias substâncias solúveis. Essa reação leva ao recrutamento de leucócitos e proteínas plasmáticas, seu acúmulo no tecido e sua ativação para eliminar os microrganismos (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015). A maioria dessas respostas envolve citocinas fabricadas por células dendríticas, macrófagos e outros tipos celulares durante as respostas inatas. Os principais leucócitos recrutados são fagócitos, neutrófilos e monócitos, que ingerem microrganismos e células mortas e os destroem liberando enzimas lisossômicas em suas vesículas intracelulares. O acúmulo dessas células, ocorrem entre 30 a 60 minutos, na região da lesão pela ativação, quimiotaxia e diapedese como mostra na figura abaixo. Quando os patógenos enfrentam à defesa nos tecidos, são capazes de adentrar na corrente sanguínea, no local que serão identificados por proteínas da imunidade inata, como os componentes do sistema complemento. O sistema inato contesta de maneira eficaz a infecções, policiando e até erradicando microrganismos. Contudo, muitos microrganismos patogênicos transcorreram para sobreviver a esse sistema. Consequentemente, a proteção contra esses microrganismos circunda mecanismos mais fortes e experientes da imunidade adaptativa. O sistema imune adaptativo luta com os microrganismos por intermédio de três instrumentos: pela ação de anticorpos secretados, fagocitose e pelo falecimento celular (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015). (Figura 1). 6 Figura 1 – Ativação quimiotaxia e diapedese de neutrófilos para o local da inflamação Fonte: Adaptado de Barardi e Pinto (2020, p. 40). 2.1 Inflamação aguda A inflamação aguda é uma reação que se desenvolve com rapidez, como em acidentes em que ocorre dano tecidual subitamente. Caracteriza-se especialmente por despertar leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais lesados com a intenção de eliminar e neutralizar o agente agressor, além de iniciar a digestão do tecido necrótico. É uma reação de curto prazo e possui dois estágios principais: ➢ Alteraçõesvasculares e ➢ Alterações celulares imunológicas. As modificações vasculares são identificadas por um aumento no diâmetro do vaso (vasodilatação) levando ao aumento do fluxo sanguíneo e alterações nas paredes dos vasos que permitem que os neutrófilos e as proteínas plasmáticas saiam da circulação para os tecidos. Além disso, as células que revestem os vasos sanguíneos (células endoteliais) são ativadas, promovendo o aumento da adesão e 7 migração de leucócitos através das paredes dos vasos sanguíneos (ANDRADE, 2016; BARARDI; CAROBREZ; PINTO, 2010). O que caracteriza os eventos celulares são a ativação e migração de neutrófilos da microcirculação para o centro da lesão. Várias razões podem estimular a inflamação aguda, bem como agentes traumáticos, físicos e químicos, processos infecciosos, necrose tecidual e reações imunológicas. As transformações vasculares começam após a lesão ou infecção. Inicialmente acontece a vasoconstrição por alguns segundos, sucessiva de vasodilatação das arteríolas, surgindo em elevação do fluxo sanguíneo, acarretando em vermelhidão e calor. Quando a microcirculação se torna mais permeável, o fluído rico em proteínas pode fluir para os tecidos extravasculares. Além da vasodilatação, a ação de mediadores químicos, como a histamina, faz com que as células endoteliais se contraiam e se formem espaços entre as células. Esta é a causa mais comum de permeabilidade vascular. O vazamento de fluido dos vasos devido ao aumento da permeabilidade leva ao edema. Após o extravasamento, os leucócitos se movem para o local da lesão ou infecção em um processo conhecido como quimiotaxia para remover microrganismos e células mortas por fagocitose. A inflamação aguda pode levar à resolução do processo, com restauração da normalidade estrutural e funcional. Esse processo é chamado de regeneração. No entanto, a transição para inflamação crônica também pode ocorrer se as causas da inflamação não forem eliminadas (ANDRADE, 2016; BARARDI; CAROBREZ; PINTO, 2010). Na inflamação aguda, a ocorrência de edema deve-se ao excesso de líquido nos tecidos intersticiais ou nas cavidades serosas, este líquido pode ser um exsudato ou um transudato. De tal modo, células sanguíneas, proteínas e fluidos ausentam-se dos vasos sanguíneos e se deslocam em direção aos tecidos intersticiais ou cavidades corporais, desenvolvendo o exsudato de fluido extravascular formado pelo aumento dos espaços entre as células endoteliais e a permeabilidade vascular. Pus é caracterizado por um exsudato inflamatório purulento com restos de leucócitos, células mortas e microrganismos. Sob outra perspectiva, um fluido extracelular com baixo teor de proteína, poucas células e baixa gravidade específica é chamado de transudato, e seu extravasamento é causado 8 pelo aumento da pressão hidrostática ou diminuição da pressão osmótica. A inflamação leva à formação de exsudato (DAGNINO, 2020). 2.2 Inflamação Crônica A inflamação crônica desenvolve-se formal e insidiosamente, caracterizada pelo envolvimento de células mononucleares, principalmente linfócitos, plasmócitos e macrófagos, e fenômenos proliferativos. Na inflamação crônica, as respostas inflamatórias agudas, de reparo e imunológicas ocorrem simultaneamente, mantendo o equilíbrio entre o agente agressor e o hospedeiro. Esse processo é encontra em infecções persistentes, causadas por patógenos de difícil eliminação, como a tuberculose, hanseníase e esquistossomose. Além do mais, pode ser encontrada em doenças autoimune, causadas pela ativação insuficiente e excessiva do sistema imunológico contra os próprios tecidos do hospedeiro, causando danos tecidual crônico e inflamação, como nos lúpus eritematoso sistêmico. Pode ser encontrado também com exposição prolongada à partículas tóxicas, como sílica ou com irritação crônica, como úlceras gástricas (ANDRADE, 2016; BARARDI; CAROBREZ; PINTO, 2010). A inflamação crônica é intermediada por citocinas fabricadas pelos linfócitos. Os macrófagos praticam e possuem várias funções na resposta inflamatória, como englobar e eliminar patógenos e tecidos necrosados, iniciar o processo de reparo tecidual e secretar mediadores da inflamação, como citocinas. A comunicação entre macrófagos e linfócitos é fundamental na inflamação crônica. Os macrófagos exibem antígenos aos linfócitos T e produzem citocinas que estimulam as respostas dessas células. Os linfócitos T ativados constituem citocinas que cativam e estimulam os macrófagos, possibilitando maior apresentação de antígenos e secreção de citocinas. Estabelece um ciclo de respostas celulares que abastece e tende a manter, amplificar e prolongar a inflamação crônica (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; ANDRADE, 2016). 9 2.3 Mediadores do processo inflamatório e Sistema complemento A inflamação é uma resposta defensiva do organismo para matar, diluir e isolar ou parar o patógeno invasor. Este processo é possibilitado pela fagocitose e produção de anticorpos, extravasamento de plasma e formação de malha de fibrina, respectivamente. Além disso, a inflamação permite e promove os processos de reparação dos tecidos danificados através da cicatrização e regeneração. Apesar dos benefícios desse processo, a inflamação pode ser prejudicial porque pode atacar o próprio organismo, ainda mais prejudicial do que o próprio patógeno, como na artrite reumatoide. Em geral, ocorre uma lesão, física, química ou biológica e o organismo responde com a produção, liberação ou ativação de substâncias conhecidas como mediadores inflamatórios. Esses mediadores provocam uma série de alterações locais, que se manifestam na vasodilatação da microcirculação. Isto é seguido por aumento do fluxo sanguíneo e permeabilidade vascular com extravasamento de plasma e formação de edema, migração celular para o ambiente extravascular, fagocitose, aumento da viscosidade sanguínea e diminuição do fluxo sanguíneo. Os mediadores inflamatórios podem variar dependendo do estágio da inflamação (aguda ou crônica), mas são formados principalmente pelo sistema complemento e citocinas inflamatórias (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; ANDRADE, 2016). O que compõe o sistema complemento é cerca de 20 proteínas que estão presentes no soro normal de humanos e outros animais. O termo complemento refere-se à capacidade dessas proteínas de se complementarem, potencializando os efeitos de outros componentes do sistema imunológico. É um grupo de glicoproteínas circulantes que promovem a inflamação e desempenham um papel importante nas defesas do hospedeiro. A ativação desse sistema pode ser iniciada por complexos imunes e por várias moléculas não imunológicas, como as endotoxinas. Em geral, esse sistema tem envolvimento com a identificação e destruição de patógenos e células estranhas. Isso pode acontecer por lise direta de células, como bactérias, ou pela produção de mediadores que causam inflamação e atraem fagócitos. O processo de opsonização também pode ser feito favorecendo a intensificação da fagocitose. 10 A intensificação sequencial do sistema complemento pode acontecer através de três vias principais: a via clássica, ativada por determinados anticorpos unidos a antígenos, a via alternativa, ativada na superfície das células microbianas na falta de anticorpos, e a via da lectina, ativada por uma lectina plasmática que se conecta a resíduos de manose em microrganismos. As mais importantes na primeira vez em que o corpo entra em contato com um microrganismo são as vias da lectina e alternativa, pois os anticorpos imprescindíveis para ativar a via clássica não estão presentes. Portanto, as vias da lectina e alternativa são métodos efetores da imunidade inata (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; MCPHERSON; PINCUS, 2013). Por ter sido descoberta primeiro a via clássica foi caracterizada antes das demais. Porém, a via alternativaé filogeneticamente mais antiga. Embora as vias de ativação iniciarem de maneira diferente, todas resultam na geração de complexos de enzimas que são capazes de clivar a proteína C3 em C3b, a molécula central da cascata do sistema complemento. A apresentação de C3b na superfície de um microrganismo o indica como diferente, transformando-o um alvo para extermínio. O C3b possui dois importantes papeis: associa-se a outros componentes para gerar C5 convertase, a enzima que leva à produção do complexo de ataque à membrana; e opsoniza bactérias, já que os fagócitos têm receptores para C3b em suas superfícies (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; LEVINSON, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2013). 2.4 Citocinas Inflamatórias As citocinas são substâncias químicas fabricadas por diversos tipos de células, sendo as mesmas um fator de necrose tumoral (TNF, do inglês tumor necrosis factor), interleucina 1 (IL-1) e interleucina 6 (IL-6) as principais incluídas na inflamação (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; ANDRADE, 2016). O TNF é um mediador da resposta aguda a bactérias e outros microrganismos infecciosos. Ele recebe o nome também de TNF-α para diferenciá-lo do TNF-β, produzido por linfócitos T ativados. Os resultados de TNF-α transformam de acordo com a sua concentração. Em baixas concentrações, ele acrescenta a síntese de moléculas de adesão pelas células endoteliais, consentindo que neutrófilos consigam aderir aos vasos sanguíneos no local de infecção. Ainda, incentiva a atividade 11 respiratória no interior dos neutrófilos, o que aumenta o efeito de eliminação dessas células. Em concentrações elevadas, ele faz intermediação do choque séptico induzido por endotoxina, pela indução de febre e hipotensão causada pela vasodilatação e pelo aumento da permeabilidade vascular. Conforme indicado pelo nome, o TNF-α ocasiona a morte e necrose de alguns tumores em modelos animais. Podendo ser induzido pelo desenvolvimento de coágulos intravasculares que acarretam na morte do tecido tumoral (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; LEVINSON, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2013). A IL-1 Trabalha na mediação da resposta inflamatória aguda e tem resultados semelhantes ao TNF. Os fagócitos mononucleares ativados, são as principais fontes dessa citocina. Contudo, é produzida também por outros tipos de células, como os neutrófilos, as células epiteliais e as endoteliais. Existem duas formas de IL-1 (IL-1α e IL-1β), porém ambas se conectam aos mesmos receptores celulares desempenhando as mesmas atividades biológicas. A IL-1 age em conjunto com o TNF para induzir inflamação, é um pirógeno (indutor de febre) endógeno que atua no hipotálamo para ocasionar a febre adjunta a infecções e outras reações inflamatórias. A IL-1 induz também a geração de proteínas de fase aguda pelo fígado (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; LEVINSON, 2016). A IL-6 induz a síntese de vários mediadores inflamatórios no fígado, estimulando a produção de neutrófilos na medula óssea, promovendo a distinção de células T produtoras de IL-17, dessa forma, possui efeitos locais e sistêmicos. Essa citocina é fabricada por células endoteliais vasculares, macrófagos, fibroblastos e outras células em resposta aos PAMPs (padrões moleculares associados a patógenos) e em resposta à IL-1 e ao TNF. Refere-se de uma citocina pró-inflamatória que induz febre através de sua interação com o hipotálamo. O quadro 1, mostra as principais características do TNF- a, da IL-1 e da IL-6 (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015; LEVINSON, 2016). 12 Quadro 1 - Principais características do TNF – a, da IL-1 e da IL-6 3 PRINCIPAIS BIOMARCADORES UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DO ESTADO INFLAMATÓRIO Fonte: shre.ink/m18L Quando acontecem lesões teciduais, infecções, reações imunológicas e processos inflamatórios e neoplásicos, o corpo rebate com um conjunto de modificações chamado de resposta inflamatória aguda, que tem por finalidade eliminar o agente agressor e auxiliar no reparo tecidual. Durante o desenvolvimento dessa resposta, vários elementos do sistema imune são envolvidos em diferentes etapas. Anticorpos são produzidos e citocinas e outros mediadores são liberados, provocando 13 modificações localizadas e sistêmicas, além de alterações na concentração de determinadas proteínas plasmáticas, chamadas de proteínas de fase aguda (APPs). Determinadas proteínas contêm sua concentração diminuída (APPs negativas), como a transferrina, a albumina e a globulina, enquanto outras têm a sua concentração aumentada no decorrer da inflamação (APPs positiva). As APPs positivas mais empregadas como biomarcadores inflamatórios são a haptoglobina, a pró-calcitonina, a ferritina, a VHS (velocidade de hemossedimentação) e a proteína C- reativa (PCR). A avaliação da concentração desses biomarcadores oferece uma valorosa informação sobre as patologias que cursam com inflamação. O uso dessa avaliação poderá ser tanto para diagnóstico quanto para monitoramento da evolução e da resposta ao tratamento. A seguir, iremos destacar os principais biomarcadores inflamatórios positivos (TEVA; FERNANDEZ; SILVA, 2010). 3.1 Proteína C – reativa (PCR) A Proteína C Reativa (PCR) é uma proteína de fase aguda, sua produção é feita pelo fígado em resposta a IL-6, TNF-α e IL-1. Seus níveis séricos acrescentam na presença de infecções ativas ou processo inflamatório agudo. Nesta situação, o aumento acontece no período de seis a oito horas iniciais, podendo atingir valores de até 300 mg/dl em 48 horas. Pequenas elevações dos níveis de PCR estão presentes em situações crônicas inflamatórias, como a aterosclerose, e níveis triplicados podem ser notados na presença de risco de doenças vasculares periféricas. Portanto, a PCR, associado a outros parâmetros clássicos, como a creatina kinase (CK) e a lactato desidrogenase (LDH), é usada como preditora de risco para doenças cardiovasculares (TEIXEIRA et al., 2014; VOLP et al., 2008). Ela está envolvida na patogênese da aterosclerose por intermédio de diversos mecanismos, como inibição da transcrição da óxido-nítrico-sintase endotelial (eNOS) nas células endoteliais, conduzindo a expressão de moléculas de adesão (CAMs) pelas células endoteliais e estimulando os monócitos a produzir o fator tissular e citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-α), entre outros. A PCR possui um papel importante no reconhecimento e na remoção de microrganismos ou células danificadas, tal como na ativação do sistema complemento e de células fagocíticas. Na prática clínica, a PCR é solicitada quando existe suspeita de inflamação aguda, 14 crônica ou infecção (NICOLL; LU; MCPHEE, 2019; TEIXEIRA et al., 2014; VOLP et al., 2008). 3.2 Velocidade de hemossedimentação (VHS) A velocidade de hemossedimentação, é conhecida também como velocidade de sedimentação globular ou velocidade de sedimentação eritrocitária, regula, indiretamente, o grau de inflamação do organismo. O VHS é definido pela agregação de hemácias e suas cargas negativas que, em conjunto com outras moléculas carregadas positivamente, neutralizam-se e permitem a formação de um agregado de hemácias em torno do mesmo eixo. Devido ao seu peso molecular, esse agregado é depositado no fundo de uma pipeta. É uma medida da velocidade de sedimentação (queda) das hemácias (eritrócitos) em uma amostra de sangue que foi posicionada em um tubo vertical fino e alto, comumente uma pipeta do tipo Westergren. No plasma, geralmente as hemácias se depositam lentamente. Contudo, quando elas se ajuntam por algum motivo, como por influência de proteínas de fase aguda, a deposição acontece rapidamente. Essa sedimentação ocorre devido a densidade dessas células serem maior do que a densidade do plasma. O VHS mede a distância da queda das hemácias por um período de 1 hora, e o resultado é liberado em milímetros/hora. Ele avalia a resposta de faseaguda lentamente, porque sua avaliação é indireta e depende de proteínas para se alterar. Este biomarcador está elevado em infecções, doenças inflamatórias, malignidades e outras condições que causam uma resposta inflamatória. O teste é indicado para o diagnóstico e monitoramento de arterite temporal, vasculite sistêmica e polimialgia reumática e não é considerado sensível ou específico para outras condições (GUIMARÃES et al., 2014; NICOLL; LU; MCPHEE, 2019). 3.3 Fibrinogênio e Ferritina A produção do fibrinogênio é realizada pelo fígado e possui meia-vida de aproximadamente quatro dias. É um componente da coagulação e um determinante da viscosidade do sangue. É uma proteína de fase aguda conhecida como um 15 importante marcador no acompanhamento da evolução do processo inflamatório aterosclerótico, porque atua no início do processo aterotrombótico regulando a adesão e a proliferação celular e promovendo vasoconstrição no local da lesão. De tal modo, impulsiona a agregação de plaquetas e a viscosidade sanguínea. A ferritina é a proteína de armazenamento de ferro mais importante no corpo, o ferro dos alimentos é absorvido no intestino e transportado na forma férrica no soro. Ligado à transferrina, pode atingir tecidos periféricos a partir de receptores específicos. O ferro em sua forma ferrosa combina-se com a ferritina, é produzido nas células é encontrado nas hemácias. Os níveis de ferritina no soro estão ligados às reservas de ferro do corpo. O teste é utilizado para detectar deficiência de ferro, monitorar a terapia de ferro e a terapia de remoção de ferro em situações de excesso de ferro. A ferritina sérica é útil na distinção entre anemia ferropriva e anemia por doença crônica ou talassemia. Este é o teste de escolha para diagnosticar a anemia por deficiência de ferro. No entanto, com infecção, inflamação ou lesão, os níveis de ferritina aumentam nas primeiras 24 a 48 horas, atingem o pico no terceiro dia e permanecem elevados por várias semanas. Portanto, a ferritina também é considerada um marcador de fase aguda. No entanto, o mecanismo exato da elevação da ferritina na inflamação não é claro (AZEVEDO et al., 2015; JUSTI; TATSCH; SIQUEIRA, 2019; NICOLL; LU; MCPHEE, 2019). 3.4 Haptoglobina e Pró-calcitonina A haptoglobina é uma glicoproteína fabricada principalmente no fígado e se associa à hemoglobina livre. Tem como função principal determinar o caminho da hemoglobina liberada pelas hemácias após a hemólise intravascular. A haptoglobina está acrescentada em infecções agudas e crônicas, malignidades, colite ulcerativa, entre outros acontecimentos. O teste possui baixa peculiaridade, assim sendo seu resultado necessita ser correlacionado com a história clínica e outros exames laboratoriais (NICOLL; LU; MCPHEE, 2019). A pró-calcitonina é um peptídeo de 116 aminoácidos produzido pelas células parafoliculares da tireoide, pelas células neuroendócrinas, pulmões e do intestino. Ela 16 está presente em concentrações baixas na circulação, permanecendo no interior das células como precursor da calcitonina. A pró-calcitonina permanece aumentada de maneira especial em infecções bacterianas, e os seus níveis séricos são correlacionados com a gravidade da sepse (ANDRIOLO; COSTA; NOVO, 2004; NICOLL; LU; MCPHEE, 2019). 4 IMUNIDADE NATURAL E IMUNIDADE ADQUIRIDA Fonte: shre.ink/m18f A proteção do organismo contra agentes infecciosos inclui diversos mecanismos, que se dividem em: não específicos e específicos. Os inespecíficos são semelhante e geralmente aplicáveis a muitos organismos patogênicos desiguais, enquanto os específicos possuem efeito encaminhado para um antígeno específico ou um microrganismo específico. As defesas não-específicas, geralmente são capazes de uma resposta rápida, chamada de imunidade inata ou natural, de tal maneira que os indivíduos saudáveis nascem com ela e a manifestam como primeira linha de resposta de defesa. Elas abrangem: barreiras mecânicas, como a integridade da epiderme e das membranas mucosas; barreiras físico-químicas, como a acidez do fluido estomacal; presença de substâncias antimicrobianas, como, por exemplo, a lisozima presente em secreções externas, muito importante na proteção dos olhos e algumas defensinas, substância antimicrobiana que resguarda os epitélios contra patógenos invasores; presença de células com capacidade fagocitária, células 17 dendríticas e as NK; presença das proteínas citocinas que orientam as células da imunidade inata; presença de proteínas mediadoras da inflamação, entre elas, as que compõem o sistema complemento (RODRIGUES, 2020). As respostas imunes inatas são a primeira linha de defesa contra patógenos invasores sujeitando-se da capacidade do corpo de distinguir características conservadas de patógenos que não estão presentes no hospedeiro não infectado. Determinados microrganismos resistem à defesa inicial, sendo imprescindíveis para destruição de mecanismos mais específicos, em que se destaca a imunidade adquirida ou adaptativa. Comumente, essa resposta é criada durante a vida do indivíduo como parte de uma cadeia complexa de eventos envolvidos no reconhecimento e apresentação de antígenos. (RODRIGUES, 2020). Ao relacionarmos o funcionamento do sistema imune como um todo, abrangendo a interação da imunidade inata com a adaptativa, da apresentação de antígenos a resposta efetora, didaticamente nesse período introdutório, você pode pensar em etapas sequenciais separadas de introdução, sequência e efeito. 5 PROCESSOS INFECCIOSOS Fonte: shre.ink/m1eJ Os seres viventes da terra convivem com um frágil equilíbrio entre os mundos microbiológico (organismos microscópicos, como bactérias, vírus, fungos e protozoários) e macrobiológico (organismos macroscópicos, como plantas, animais e seres humanos). Quando ocorre o rompimento desse equilíbrio, ou seja, esses 18 organismos microscópicos invadem o tecido de um ser vivo e começam a se proliferar, liberando toxinas no hospedeiro, temos o que se chama popularmente de infecção. São utilizados para o tratamento das infecções causadas por bactérias, vírus, protozoários ou fungos, medicamentos da classe dos antimicrobianos, com finalidade curativa, se tratando de uma infecção já instalada, e profilática, no caso de prevenção à infecção, como nos casos de tratamentos em períodos pós-cirúrgicos. Os antimicrobianos são classificados em: antibacterianos, antifúngicos, anti- helmínticos e antivirais. Os antibióticos fragmentam-se em: sintetizados por fungos (hoje em dia, manipulados quimicamente, dando origem aos semissintéticos) e quimioterápicos. O bacteriologista Alexandrer Fleming, em 1928, fez a descoberta ao acaso da penicilina, em seu laboratório do Hospital St. Mary em Londres, certificada como uma das maiores evoluções da história da Ciência e da Medicina, visto que, com o advento desse medicamento, muitas infecções – que eram incuráveis, como a tuberculose e a endocardite bacteriana – passaram a ser controladas e até curadas. Com o sucesso dos tratamentos contra doenças infecciosas veio e continua vindo o uso indiscriminado desses medicamentos, levando ao grave resultado conhecido como resistência bacteriana. O uso indiscriminado de antimicrobianos em infecções não suscetíveis e doenças não infecciosas, ou o não cumprimento do esquema terapêutico já estabelecido (esquecimento da dose e não administração da dose na hora certa) pode criar bactérias que desenvolvem diferentes sistemas que as protegem de ataque, o que acaba complicando o tratamento de infecções, uma vez que o desenvolvimento de novas drogas, não acompanha o rápido surgimento de cepas resistentes (BELLICANTA, 2018). 5.1 Interações fármaco-nutrientes dos agentes atuantes no processo infeccioso Fármaco é entendido como o princípio ativo de uma formulação, é aquele que possuipoder terapêutico. O efeito dos medicamentos também é influenciado pelas condições do paciente, tanto seu metabolismo, as doenças que o paciente sofre, suas características genéticas e seus hábitos, incluindo dieta e suplementação. A exposição a substâncias presentes no ambiente e o uso de outras 19 drogas também são fatores que contribuem para a forma como a droga é absorvida, distribuída, metabolizada e excretada. A seguir, você identificará algumas das interações medicamentos – nutrientes mais relevantes (Quadro 2). Quadro 2 – Interações principais de agentes que atuam no processo infeccioso e nutrientes. Vitamina C A utilização concomitante de vitamina C pode, teoricamente, aumentar a atividade antimicrobiana e apoiar a resposta imune. Alguns antimicrobianos, como a ampicilina e a cefotaxima, podem diminuir os níveis plasmáticos de vitamina C. Ferro O ferro pode ser quelado por antibióticos como as cefalosporinas, afetando a absorção e a biodisponibilidade, o que pode levar a redução da atividade terapêutica de ambos os agentes, quando administrados com frequência. A sulfassalazina pode causar uma interação farmacocinética com o ferro, reduzindo a absorção e a biodisponibilidade do fármaco, prejudicando a atividade terapêutica do medicamento. As fluoroquinolonas interagem também com o ferro, resultando na diminuição da absorção e da biodisponibilidade de ambos os agentes. Deficiência ou depleção de ferro podem acontecer durante o tratamento. As tetraciclinas quelam o ferro, e prejudicam a absorção de ambos. O uso de ferro, mesmo em doses pequenas, pode reduzir significativamente a atividade da tetraciclina. Probióticos De uma maneira geral, a administração de antibióticos, particularmente quando administrados em doses altas e repetidas, pode ocasionar danos na flora intestinal. A manutenção dessas bactérias presentes na flora intestinal através da utilização de probióticos pode ser benéfica para o manejo de várias condições e patologias, possuindo o mínimo de implicações adversas. Entretanto, os mecanismos e os efeitos ainda não são totalmente conhecidos, por isso é imprescindível a ajuda de um profissional habilitado para que a utilização desses probióticos seja com segurança. Determinados antibióticos, como a amoxicilina, podem ter sua eficácia aumentada, de três a quatro vezes, no tratamento da Helicobacter pylori. 20 Vitamina do complexo B B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), B6 (piridoxina) e vitamina B12. Os antibióticos, podem destruir a flora intestinal e desregular a saúde do intestino, incluindo a produção de vitamina B. Esse mecanismo já é conhecido, mas, os efeitos a longo prazo, as implicações e a significância clínica ainda necessitam de mais estudos para serem compreendidos. A tiamina e outras vitaminas do complexo B, como B2 (riboflavina), B3 (niacina) e B6 (piridoxina), influenciam na farmacocinética das tetraciclinas, se for empregado em conjunto pode acarretar uma redução de biodisponibilidade desses antibióticos. Pessoas com HIV ou aids manifestada tendem a ter níveis de B12 baixos, e a má absorção de B12. Contudo, a coadministração de B12 nesses indivíduos não apresenta prevenir a supressão de medula óssea. Vitamina K Como a síntese de vitamina K2 (manaquinona) acontece no intestino, a utilização de antibióticos pode interferir nessa produção. As cefalosporinas podem também interferir na síntese de fatores de coagulação, inibindo a vitamina K epóxi-redutase hepática. Essas consequências dependerão do tempo de tratamento e da dose administrada, podendo ser rápidas ou graves, principalmente em pacientes que estão sob tratamento de warfarina (anticoagulante). Determinados antibióticos, de maneira especial a trimetropina associada com sulfametoxazol e as fluoroquinolonas, elevam o efeito da warfarina, independente do seu efeito na produção de vitamina K na flora intestinal. As cefalosporinas, principalmente a cafazolina e cefmetazol, causam depleção de vitamina K e hipoprotrombinemia, prejudicando a síntese de fatores de coagulação, por inibição da vitamina K epóxi-redutase, que é uma enzima indispensável para que a vitamina K volte a sua forma ativa. Zinco O zinco possui um importantíssimo papel na imunocompetência e pode aumentar a resposta imune aguda. A combinação de zinco com antibióticos orais é capaz de beneficiar alguns pacientes, principalmente os indivíduos deficientes desse nutriente. O zinco também atua como um ajudante do sistema imune da pele. Possui ação bacteriostática contra a acne e sua ação nos leucócitos polimorfonucleares ajuda no tratamento da acne inflamatória. Fonte: Adaptado de Bellicanta (2019). 21 6 LEUCOGRAMA E SEUS ELEMENTOS Fonte: shre.ink/mwJS O leucograma é a parte do hemograma completo que se avalia de um paciente a normalidade das células sanguíneas brancas, também conhecidas como leucócitos. Os leucócitos são células que fazem parte do sistema imunológico, possuem a função de defesa do organismo contra agentes patogênicos. Eles podem ser divididos nos seguintes subtipos: neutrófilos, basófilos, monócitos, linfócitos e eosinófilos. Uma das principais finalidades do leucograma é auxiliar no diagnóstico de processos infecciosos, inflamatórios e relacionados com câncer (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). Veremos no quadro 3, exemplos de doenças e Leucograma característico. Quadro 3 – Exemplos de doenças e Leucograma. Pneumonias Bactéria Leucocitose por neutrofilia e desvio à esquerda. Granulações tóxicas, vacúolos citoplasmáticos e corpos de Döhle nos neutrófilos. Meningite meningocócica Bactéria Grande neutrofilia, desvio à esquerda e eosinopenia Endocardites Bactéria Neutrofilia moderada, com ou sem desvio à esquerda; monocitose 22 Artrites sépticas Bactéria Neutrofilia Difteria Bactéria Neutrofilia com desvio à esquerda Rubéola Vírus Linfocitose Coqueluche Bactéria Linfocitose Caxumba Vírus Neutrofilia, linfocitose ou hemograma norma Dengue Vírus Neutropenia e desvio à esquerda, linfócitos atípicos Mononucleose infecciosa Vírus Linfocitose com linfócitos atípicos Hepatite A Vírus Linfocitose com linfócitos atípicos na fase aguda e linfopenia na fase crônica Aids Vírus Linfocitose com linfócitos atípicos na fase aguda e linfopenia na fase crônica Tuberculose Bactéria Linfocitose, monocitose e neutrofilia Fonte: Adaptado de Failace; Fernandes (2015). 6.1 Processo infeccioso agudo e crônico A finalidade principal do leucograma é auxiliar no diagnóstico de processos infecciosos. Um processo infeccioso ou infecção é definido como a entrada de microrganismos, como bactérias, fungos e parasitas intracelulares, como vírus, nos tecidos do corpo de um organismo hospedeiro (SIGNORE, 2013). Essa invasão, na maioria dos casos, leva à ativação do sistema imunológico, que desencadeia uma reação defensiva do organismo contra o patógeno. Entre as diferentes maneiras de classificar as infecções, o processo infeccioso pode ser dividido em agudo e crônico, conforme a duração de permanência do organismo invasor no hospedeiro. Observe o Quadro 4, a seguir, que compara a infecção aguda e a crônica. 23 Quadro 4 – Comparação entre infecção aguda e crônica. Fonte: Adaptado de Autoimenunity Research Foundation (2019). A genética e a fisiologia do organismo infectante são a solução para estabelecer se a infecção será aguda ou crônica. Patógenos de infecções agudas possuem um processo de replicação mais rápido e, por conseguinte, uma taxa de crescimento mais acelerada. Já patógenos de infecções crônicas possuem um processo de replicação mais lento e, consequentemente, uma taxa de crescimento que é mais devagar (FURUKAWA; KUCHMA; O'TOOLE, 2006). Nas infecçõesagudas, observa-se que a carga patogênica geralmente é alta e, nas infecções crônicas, em níveis baixos. O vírus influenza, é o agente causador da gripe, é um exemplo de infecção aguda que possui intensa capacidade de replicação com comprometimento do sistema respiratório. Nas infecções crônicas, o vírus não é totalmente eliminado, mantendo-se aproximadamente em níveis baixos, acarretando sintomas clínicos ou não. As infecções crônicas, por exemplo, têm-se as causadas pelos vírus herpes simples, vírus HIV (Figura 2) e vírus da hepatite (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). 24 Figura 2 – Infecção da célula alvo pelo vírus HIV Fonte: Adaptada de Alila Medical Media/Shutterstockcom. A infecção sendo aguda ou crônica, os patógenos envolvidos podem atuar no meio intracelular ou no meio intracelular. No meio extracelular, os patógenos são encontrados entre as células, na matriz extracelular de tecidos ou órgãos, ou ainda circulam na corrente sanguínea e na linfa. Por outro lado, os patógenos intracelulares são encontrados no interior das células e, para que esses patógenos sejam eliminados, geralmente é necessário destruir a célula infectada. Dependendo da bactéria, pode atuar no meio extracelular ou intracelular. Exemplos de bactérias extracelulares: a Staphylococcus aureus, que causa vários tipos de infecções; a Escherichia coli, que causa infecção intestinal; a Vibrio cholerae, que causa a cólera; e a Clostridium tetani, que causa o tétano (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). Quando um processo infeccioso agudo bacteriano extracelular se inicia, o sistema complemento é o primeiro componente do sistema imunológico a atuar, ele libera fatores quimiotáticos que atraem macrófagos, neutrófilos e outros leucócitos, tanto teciduais quanto os que estão circulando na corrente sanguínea, instalando, 25 assim, um processo inflamatório. Para ausentar-se da corrente sanguínea e migrar para o tecido infectado, os leucócitos passam por um processo conhecido como diapedese, que envolve uma mudança de conformação dos leucócitos, que passam entre as células da parede do vaso sanguíneo. Os neutrófilos são os primeiros leucócitos a realizarem a diapedese e chegam ao local da infecção para realizar a fagocitose dos patógenos invasores. Então os outros leucócitos são atraídos por citocinas, liberadas por outras células leucocitárias já presentes no processo inflamatório (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). Figura 3 – Processo de diapedese, seguido de fagocitose de microrganismos pelo neutrófilo. Fonte: Adaptada de Vectormine/Shutterstock.com. O processo infeccioso agudo quando é viral, as células infectadas pelo vírus liberam substancias consideradas como interferons, ativando os linfócitos NK citotóxicos. Os linfócitos circulantes ativados saem do sangue migrando para o tecido 26 infectado, promovendo assim a destruição das células infectadas. Ao mesmo tempo, esses linfócitos liberam citocinas que atraem macrófagos para o local e ajudam a combater a infecção, realizando fagocitose. Os macrófagos operam como apresentadores de antígenos (APC) que ativam os linfócitos T auxiliares visto que, agem ativando os linfócitos B, que sintetizam anticorpos (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). Normalmente, em infecções agudas, o sistema imunológico reage ativamente atacando o patógeno e, na maioria dos casos, consegue proteger o organismo do invasor. Nas infecções crônicas, o sistema imunológico é ativado e tenta combater o patógeno, pois possui mecanismos de fuga e acaba ficando no organismo. Com infecções crônicas ativas, o sistema imunológico é constantemente ativado e tenta combater o patógeno, que gradualmente enfraquece lentamente o corpo (FAILACE; FERNANDES, 2015; SILVA et al., 2016; SILVA; RIBEIRO NETO, 2017, AZEVEDO, 2019). 7 DOENÇAS INFECCIOSAS Fonte: shre.ink/m1eR A patogênese das doenças infecciosas relaciona-se à relação entre o hospedeiro, o ser humano, o agente infeccioso (que é um microrganismo/ patógeno) e o ambiente interno ou externo ao organismo. Os agentes infecciosos, exógenos ou endógenos provavelmente são vírus, bactérias, parasitas ou fungos. Ocorre a infecção 27 quando um patógeno acomete células ou tecidos do organismo do hospedeiro a partir do ambiente. Em seguida da invasão, o microrganismo apresenta a capacidade de driblar as defesas imunológicas celulares ou humorais do hospedeiro, ocasionando a doença. Essas infecções alcançam, especialmente, indivíduos com a imunidade afetada, como crianças, idosos, pacientes portadores de doenças crônicas, indivíduos desprovidos de recursos, entre outros (RODRIGUES, 2020). As doenças infecciosas acontecem quando microrganismos se apropriam do organismo de um hospedeiro, destacam-se quanto as defesas imunológicas do mesmo, multiplicando e se alimentando, deixando o hospedeiro cada vez mais doente. A busca do organismo pela eliminação imediata do patógeno provoca reações inflamatórias, resultando em reações desagradáveis para o hospedeiro, como febre, diarreia, náuseas, vômitos, entre outras. Os microrganismos patogênicos podem se originar de fontes externas, como água ou alimentos contaminados, ou dos próprios tecidos do hospedeiro. Nesse último exemplo, as bactérias que normalmente colonizam a pele podem entrar na corrente sanguínea devido um desequilíbrio ou lesão, causando uma doença infecciosa e desencadeando condições graves, como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS, do inglês systemic inflammatory response syndrome), sepse ou quadros ainda mais graves, como o choque séptico, que pode levar à morte. 7.1 Endocardite infecciosa A endocardite infecciosa é causada por bactérias ou fungos que causam uma infecção microbiana que afeta uma das válvulas do coração ou a parede do endocárdio. Esta doença é causada principalmente por infecção bacteriana das válvulas atrioventriculares direita e esquerda e das válvulas da aorta e do tronco pulmonar (HAMMER; MCPHEE, 2016; O'GARA, 2011; TORTORA; DERRICKSON, 2017). A infecção valvar nativa equivale em uma infecção de valvas cardíacas naturais normais ou anormais, mas o contribuinte mais comum para a endocardite infecciosa é a presença de valvas cardíacas com estruturas anormais prévias à infecção. As pessoas que apresentam riscos elevados de desenvolver a endocardite são os que apontam cardiopatia reumática ou congênita, valva cardíaca protética (valvas 28 artificiais implantadas) ou histórico prévio de endocardite. Determinados fatores hemodinâmicos que predispõem à endocardite são (HAMMER; MCPHEE, 2016): ➢ corrente em jato de alta velocidade, causando fluxo sanguíneo turbulento ao atravessar a valva defeituosa, resultando em exposição de proteínas da matriz extracelular, possibilitando o depósito de fragmentos celulares e proteínas da coagulação (plaquetas e fibrina), gerando vegetações estéreis. A endocardite infecciosa ocorre quando microrganismos são depositados sobre as vegetações estéreis durante o curso de bacteremia. Após a invasão do microrganismo, essas vegetações permanecem crescendo através do depósito de fibrina e plaquetas, fornindo às bactérias artifícios contra os mecanismos de defesa celular e/ou humoral do hospedeiro. ➢ fluxo de uma câmara cardíaca de alta pressão para uma de baixa pressão em pessoas com histórico de alguma doença prévia (febre reumática, anomalias congênitas, condições degenerativas): as lesões da endocardite infecciosa tendem a se originar na superfície da valva na câmara cardíaca com a pressão mais baixa, como exemplo, na superfície ventricular de uma valva aórtica anormale na superfície atrial de uma valva mitral anormal. Os agentes etiológicos que causam com maior frequência a endocardite infecciosa são as bactérias gram-positivas, como: Streptococcus (do grupo viridans, costumam infectar pacientes em tratamento dentário), Staphyloccocus aureus ou S. epidermidis (comum em usuários de drogas injetáveis ou com valvas cardíacas protéticas) e Enterococcus (conseguem ser decorrentes de infecção urinária). Os S. aureus podem adentrar até mesmo o endotélio intacto, resultando em endocardite na ausência de anormalidades valvares preexistentes. Echerichia coli é um exemplo de bactéria gram-negativa que pode causar endocardite, por ser uma causa frequente de urossepse na população feminina principalmente, contudo, é rara sua ocorrência. A taxa de mortalidade por endocardite e complicações graves é alta, e a cura definitiva geralmente requer administração prolongada de antibióticos intravenosos, além de cirurgia para substituição de válvulas cardíacas infectadas devido à extensão da lesão. A morte na maioria dos casos é causada por colapso hemodinâmico ou êmbolos sépticos que 29 movem para o sistema nervoso central, resultando em abscessos encefálicos ou aneurismas micóticos e hemorragia intracerebral (HAMMER; MCPHEE, 2016; MARQUES et al., 2020). 7.2 Meningite viral e bacteriana A Meningite é uma inflamação das meninges do sistema nervoso central. As meninges são as três camadas de tecido conjuntivo que cobrem a medula espinal e do encéfalo, chamada de dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter, ambas têm como principal função proteger esse sistema (TANK; GEST, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Ela pode ser causada por uma multiplicidade de microrganismos (bactérias, vírus, fungos e parasitas), porém as bactérias e os vírus são os principais agentes infecciosos. Os sintomas que geralmente estão associados, tanto na meningite bacteriana quanto na viral, são: início agudo de febre, cefaleia, rigidez de nuca, fotofobia e confusão mental. A meningite bacteriana, apesar de ser menos frequente do que a viral, possui tendência a ser mais agressiva, ocasionando morbidades (sequelas neurológicas como perda auditiva neurossensorial) e mortalidade significativas, dessa maneira, o tratamento com antibiótico deverá ser imediato. Em contrapartida, nos casos de meningite viral em sua maioria (chamada também de meningite asséptica), é necessário apenas terapia de suporte com analgésicos, antitérmicos e hidratação até a conclusão do ciclo viral (HAMMER; MCPHEE, 2016). Para que se conclua o diagnóstico de meningite não é uma tarefa fácil, devido a existência de outras doenças e infecções do sistema nervoso que apresentam características similares. Para que ocorra a diferenciação dos tipos de meningite, principalmente, a bacteriana da viral, serão necessários exames laboratoriais, especificamente, amostras do líquido cerebrospinal (líquor ou líquido cefalorraquidiano). Esse líquido é transparente, circula entre as meninges aracnoide- máter e pia-máter e possui a função de proteger o sistema nervoso central, nutrir esse sistema, promover a remoção de resíduos, entre outras. 30 7.3 Pneumonia adquirida na comunidade A pneumonia ou pneumonite é uma doença inflamatória ou infecciosa comum, possuindo alta taxa de morbidade, mortalidade e hospitalização, particularmente em idosos e indivíduos imunodeprimidos (raro em indivíduos imunocompetentes). A pneumonia adquirida na comunidade, como o nome sugere, é uma infecção adquirida fora dos hospitais ou instituições de longa permanência geralmente, em ambientes comuns. As manifestações clínicas mais comuns podemos citar: febre, tosse, taquipneia, taquicardia e um infiltrado na radiografia de tórax. Indivíduos imunocompetentes geralmente possui um sistema de defesa eficiente, incluindo barreiras anatômicas e mecanismos de limpeza da nasofaringe, vias aéreas superiores e fatores locais humorais e celulares nos alvéolos, o que evitando que a doença se instale (HAMMER; MCPHEE, 2016). Em qualquer tipo de pneumonia, existe infecção do tecido pulmonar, principalmente, à nível dos alvéolos, que pode ser causada por bactérias, vírus, parasitas e fungos. Comumente, os patógenos podem atingir os tecidos por inalação direta de gotículas respiratórias infecciosas nas vias aéreas inferiores, da aspiração de conteúdo da orofaringe, da disseminação direta ao longo da superfície da membrana mucosa do sistema respiratório superior para o inferior ou por disseminação hematogênica. Ao penetrar nos pulmões dos indivíduos suscetíveis, os microrganismos liberam toxinas nocivas, estimulando a inflamação e as respostas imunes, que têm efeitos colaterais danosos. Já que, as toxinas e a resposta imune lesionam os alvéolos e as túnicas mucosas dos brônquios. A inflamação e o edema se resultam no enchimento dos alvéolos com detritos e fluidos, e esse acúmulo de exsudato interfere na ventilação pulmonar e nas trocas gasosas. Para que isso aconteça, na maioria dos casos, a infecção começa nos alvéolos e possui disseminação secundária para o interstício. Além disso, pode se espalhar para o espaço pleural, ocasionando inflamação da pleura (membrana que reveste o pulmão), provocando dor durante a inspiração no paciente (queixa dor logo abaixo da última costela). Derrame parapneumônico é o nome dado para resposta inflamatória exsudativa da pleura à pneumonia e, no caso de infecção bacteriana estar presente na pleura (produção de pus), denomina-se empiema (HAMMER; MCPHEE, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2017). 31 Em mais da metade dos casos de pneumonia adquirida na comunidade, o agente causador não é identificado antes da realização do tratamento, porque o teste microbiológico é demorado (requer pelo menos 48 horas) e, geralmente, não é permitido essa esperar para iniciar a antibioticoterapia. Devido os sintomas não serem específicos, não permitem a diferenciação confiável das várias causas de pneumonia. A escolha do antibiótico é realizada em relação aos agentes etiológicos mais prevalentes nos casos de pneumonia, aos sintomas apresentados pelo paciente e aos fatores de riscos (alcoolismo, uso de drogas, etc.), em particular, as doenças crônicas (doença pulmonar, aids). Em indivíduos imunocompetentes quanto em imunodeprimidos, Streptococcus pneumoniae é o agente etiológico mais observado na pneumonia adquirida na comunidade., (HAMMER; MCPHEE, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2012). 7.4 Diarreia infecciosa A diarreia é um distúrbio intestinal que acontece, no intestino grosso na maioria das vezes e consiste em um movimento rápido de matéria fecal ao longo desse órgão, para que exista a eliminação do que for inadequado para o organismo. A diarreia infecciosa, é também conhecida como enterite ou gastrenterite, trata-se de uma infecção provocada por microrganismos como vírus, bactérias, fungos e parasitas no tubo intestinal. Há ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas no período de 24 horas, normalmente. Um adulto em condições normais, libera por volta de 150 mL de líquidos nas fezes. Com diarreia, o paciente poderá eliminar mais de 1 litro por hora, o que predispõe a uma significativa desidratação, podendo acarretar à morte se não tratada corretamente (RODRIGUES, 2020). A morbimortalidade desta doença deve-se à perda de volume intravascular e eletrólitos com consequente insuficiência cardiovascular. A infecção pode ser transmitida de pessoa para pessoa, fecal-oral, pela água ou por alimentos, e do tratamento com medicamentos que aniquilam a flora gastrointestinal, como antibióticos ou antiácidos. O organismo invasor necessita sobreviver à passagem pelo ambiente gástrico ácido e ser capaz de sobreviver com a flora bacteriana existente no trato gastrointestinal, apesar do peristaltismo e da competição por nutrientes escassos. A adesão pode ocorrerem qualquer área do trato intestinal. 32 Após a colonização e proliferação do microrganismo, a fase de lesão do hospedeiro está completa (GUYTON; HALL, 2017; HAMMER; MCPHEE, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2012, BRASIL, 2017). Os sintomas relacionados à diarreia infecciosa variam conforme o local afetado. Em geral, são desencadeados, principalmente: ➢ sintomas do trato superior, como náusea, vômitos e dor epigástrica em cólica; ➢ sintomas do intestino delgado, como diarreia aquosa profusa; ➢ sintomas do intestino grosso, como tenesmo, urgência fecal e diarreia sanguinolenta. Entretanto, na maioria dos casos, os sintomas apresentados são autolimitados, e não é realizada a avaliação diagnóstica. Um diagnóstico específico é procurado em pacientes que apresentam sintomas mais graves, como febre alta ou hipotensão, e em idosos, imunocomprometidos ou com quadros diarreicos com longa duração (p. ex., 14 dias ou mais). Para que tenhamos um diagnóstico específico, testes laboratoriais, como testes microbiológicos - de coprocultura, para identificação da bactéria causadora, ou de semeadura em meio de cultura específico, são indispensáveis como pesquisa de Shigella/Salmonella, testes sorológicos ou testes moleculares, de acordo com a suspeita clínica (HAMMER; MCPHEE, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2012). Quanto ao tratamento da diarreia infecciosa, o mesmo pode ser feito dependendo do microrganismo causador, quando identificado. Como exemplo, infecções bacterianas necessitam ser tratadas com antibióticos específicos, infecções parasitárias, com antiparasitários etc... O tratamento com medicamentos antieméticos (prevenção de vômitos), medicamentos para febre e dor, vitamina A, probióticos (para reconstrução da flora intestinal), pode ser necessário. Considerando sempre o nível de hidratação do paciente, pois o mesmo deve manter-se o mais hidratado possível, portanto, deverá aumentar a oferta de líquidos (sopas, água de coco, água e sucos de frutas com baixo teor de fibras, como o maracujá) para além do que ingere normalmente. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a indicação de soro de reidratação oral e suplementação de zinco, potássio e outros eletrólitos é feita. O 33 paciente deverá ser acompanhado por um profissional onde irá receber orientações para a manutenção da alimentação, ou seja, para evitar alimentos que não agravem a diarreia. O consumo de refrigerantes, líquidos açucarados, sucos industrializados, café, é considerado inadequado. Existem casos de desidratação em que é necessária a administração de soro fisiológico puro, com glicosado e/ou cloreto de potássio (BRASIL, 2017). 7.5 Síndrome da resposta inflamatória sistêmica e sepse A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) é estabelecida como uma condição inflamatória sistêmica inespecífica, sua origem pode ser infecciosa, metabólica ou traumática. Os casos de pancreatite, embolia pulmonar e infarto do miocárdio, podem ser citados como exemplo de condições não infecciosas. A definição da sepse se dá as manifestações graves que acontecem em todo o organismo resultantes de uma infecção instigada por algum microrganismo, podendo ser vírus, bactéria, parasitas ou fungos. É uma infecção generalizada, e sua evolução provavelmente origina-se de uma determinada infecção e local. Como exemplo, uma infecção que atinge um órgão específico como os rins importuna, em todo o organismo, uma resposta com inflamação. A resposta inflamatória acontece para que ocorra a eliminação ou a ação reduzida do agente da infecção (microrganismo). Portanto, consequentemente, o comprometimento do funcionamento de diversos órgãos do paciente poderá ser afetado. Inicialmente a sepse era conhecida como septicemia ou infecção no sangue. A definição de sepse grave é a sepse associada com disfunção de órgãos (disfunção orgânica), hipoperfusão ou hipotensão, podendo haver acidose lática, oligúria ou alterações agudas do nível de consciência. Já o choque séptico é definido como a evolução do quadro de sepse, uma condição de falência circulatória aguda definido por hipotensão persistente (pressão sanguínea sistólica inferior a 90 mmHg ou diminuição de 40 mmHg abaixo da pressão sistólica na linha de base) que não responde à reposição de líquidos, além das anormalidades de hipoperfusão. A SIRS é descrita por uma série de eventos fisiológicos que abrangem todas as células do organismo. Ela é desencadeada frente a uma agressão física, química ou biológica, levando ao processo inflamatório, com liberação dos mediadores 34 químicos (HAMMER; MCPHEE, 2016; LEVINSON, 2016). As respostas inflamatórias (sinais clínicos) mais comuns de SIRS são: ➢ temperatura inferior a 36°C ou febre com temperatura superior a 38°C (decorrente da liberação de interleucinas); ➢ hipotensão (decorrente de vasodilatação); ➢ taquicardia (frequência cardíaca superior a 90 batimentos por minuto), a qual acontece para compensar a queda da pressão arterial; ➢ taquipneia (frequência respiratória superior a 20/min ou PaCO2 inferior a 32 mmHg); ➢ Modificação no número de leucócitos: leucocitose - superior a 12 × 109/L; leucopenia - inferior a 4 × 109/L; ou presença superior a 10% de formas imaturas, com predomínio de bastonetes. É necessária a presença de dois dos sinais clínicos acima, para ser considerado uma SIRS. Associada à sepse, a leucopenia e hipotermia acarreta um prognóstico insatisfatório. Independentes de serem leves ou moderadas, todas as respostas inflamatórias servem como defesa do hospedeiro. Contudo, se tornam extremas, elas podem resultar em dano tecidual extenso, como na sepse (HAMMER; MCPHEE, 2016; LEVINSON, 2016). Em paciente com sepse, na ordem decrescente de frequência, as regiões mais comuns de infecção são: ➢ trato respiratório; ➢ trato urogenital; ➢ fontes abdominais, como a vesícula biliar e o colo; ➢ locais relacionados a dispositivos (como cateter); ➢ feridas ou tecidos moles. Os sintomas da sepse iniciam sutilmente, podendo ser confundidos com facilidade com doenças de menor gravidade, atrapalhando o início precoce do tratamento. Para que ocorra um correto diagnóstico para iniciar o tratamento, são indispensáveis exames laboratoriais de hemocultura, e pode ser avaliada a presença de microrganismos em outros líquidos corporais, de modo direto, cultural, sorológico ou molecular (HAMMER; MCPHEE, 2016; MCPHERSON; PINCUS, 2012). 35 Sepse, sepse grave e choque séptico são um grave problema de saúde pública, especialmente em unidades de terapia intensiva (UTI). Para a equipe de controle de infecção hospitalar a prevenção dessas doenças e, consequentemente, as complicações e mortalidade dos pacientes hospitalizados, pois mesmo com exames de rotina (por exemplo, hemocultura), além de cuidados diários de biossegurança (especialmente assepsia) e treinamento da equipe que cuida do paciente continua sendo um grande desafio. Sendo que no Brasil, é a 2ª causa de morte que ocorre em unidades de terapia intensiva essas doenças (BARROS; MAIA; MONTEIRO, 2016). O paciente apresentando o quadro de SIRS à sepse ou a quadros mais graves, como o choque séptico sua evolução poderá acontecer de forma muito rápida, em dias ou até mesmo em horas, o que contribuirá para essa evolução do quadro será o grau da resposta inflamatória e o potencial de virulência do agente etiológico, além das condições gerais de saúde do hospedeiro. Essas condições que acarretam uma infecção localizada e sua evolução para sepse, sepse grave ou choque séptico são (HAMMER; MCPHEE, 2016): ➢ envelhecimento; ➢ procedimentos invasivos; ➢ pacientes imunossuprimidos; ➢ infecção pelo HIV; ➢ uso de agentes imunossupressores e citotóxicos; ➢ desnutrição; ➢ alcoolismo; ➢ Diabetes mellitus; ➢ procedimentos de transplantes; ➢ infecçõesnosocomiais e comunitárias; ➢ infecções por microrganismos multirresistentes aos antibióticos. Geralmente a sepse se inicia com uma infecção localizada, assim, as bactérias entram diretamente na corrente sanguínea, causando bacteremia e consequentes resultados positivos de hemoculturas, podendo se multiplicar no local e liberar toxinas no sangue. As toxinas aparecem de um componente estrutural das bactérias, como as endotoxinas. 36 Além de toxinas, o hospedeiro libera vários mediadores inflamatórios, incluindo citocinas, fator ativador de plaquetas, endorfinas, fator relaxante proveniente do endotélio, metabólitos do ácido araquidônico, fatores depressores do miocárdio, óxido nítrico e outros. As consequências clínicas da sepse incluem modificações hemodinâmicas (taquicardia, taquipneia e alterações de temperatura e do leucograma), vasodilatação inadequada e má perfusão tecidual, com disfunção orgânica, induzindo a sepse grave (GUYTON; HALL, 2017; HAMMER; MCPHEE, 2016). Todos os tipos de choque, resultam em perfusão inapropriada dos tecidos e disfunção celular e morte subsequente. A hipovolemia ocorre no início do choque séptico, devido à dilatação arterial e venosa inapropriada (baixa resistência vascular sistêmica) e ao extravasamento de plasma para o espaço extravascular. A resistência vascular sistêmica mantém-se baixa, mesmo realizando a correção da hipovolemia, mesmo com o aumento compensatório do débito cardíaco. O consumo ineficaz de oxigênio e a hipoperfusão tecidual resultando em um aumento no conteúdo de oxigênio da artéria pulmonar (GUYTON; HALL, 2017; HAMMER; MCPHEE, 2016). É comum no começo do choque séptico ser observada depressão do miocárdio; há baixas pressões de enchimento cardíaco e baixo débito cardíaco secundariamente à depleção de volume e à vasodilatação. Após a reposição de líquidos o débito cardíaco passa a normal ou aumentado, porém a função ventricular é anormal. No decorrer de 24 a 48 horas do início da sepse, há uma diminuição nas frações de ejeção ventricular esquerda e direita e aumento nos volumes finais diastólico e sistólico. Essa depressão miocárdica ocorre devido aos efeitos tóxicos diretos do óxido nítrico, fator de necrose tumoral e interleucina 1. Existe possibilidade em reverter a fração de ejeção diminuída e a consequente depressão do miocárdio nos pacientes que sobrevivem ao início do choque séptico (HAMMER; MCPHEE, 2016). É muito importante que os profissionais de saúde tenham conhecimento da detecção da sepse e dos eventos que levam à sepse grave e/ou choque séptico de qualquer condição infecciosa. Pois a detecção precoce (clínica e baseada em exames laboratoriais) e consequentemente o tratamento estão diretamente relacionados ao prognóstico do paciente. As condutas que visam estabilizar o paciente têm prioridade e devem ser adotadas imediatamente. 37 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILAI, S. 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