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1 UNIÃO ESTÁVEL Prof. Gustavo Kloh A Constituição Federal, no seu art. 226, parágrafo 3º, assevera que “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.” Dessa forma, duas devem ser as conclusões após a leitura desse artigo. A primeira é a de que o instituto da união estável não é o mesmo instituto do casamento, tendo em vista que, se fossem iguais, não poderiam ser convertidos um no outro. A segunda conclusão é a de que não há hierarquia entre casamento e união estável (TARTUCE, 2016). Dessa forma, o conceito e as características da união estável podem ser extraídos do art. 1.723 do Código Civil, que dispõe o seguinte: “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura, e estabelecida com o objetivo de constituição de família.” Dessa forma, entendem-se como características da união estável: diversidade de sexos; qualificação dos parceiros; publicidade; coabitação; estabilidade da convivência; continuidade e finalidade. No que tange à primeira característica, insta salientar que esta já restou superada pelo Supremo Tribunal Federal, que, por meio da ADPF 132/RJ1 e da ADI 4.277, reconheceu que casais homoafetivos podem celebrar a união estável nos mesmos termos dos casais heteroafetivos. No que tange à qualificação dos parceiros, entende-se que pode haver a comprovação de uma união estável enquanto um dos parceiros estiver casado, desde que este esteja separado de fato (OLIVEIRA, 2018). 1Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633>. Acesso em: fev. 2019. 2 No que tange ao postulado da coabitação, o Superior Tribunal de Justiça2 já entendeu que, embora seja uma característica fundamental da união estável, não se trata de requisito indispensável para a caracterização da união estável. Quanto à estabilidade da convivência, em que pese a Lei nº 8.971/1994 estabelecer um prazo mínimo de cinco anos, a doutrina majoritária entende que o Código Civil de 2002 passou a exigir que apenas exista uma convivência considerada duradoura entre os companheiros. Além disso, temos também o atributo da continuidade, que significa que os companheiros permaneceram juntos sem que haja uma interrupção significativa dessa relação. Por fim, tem-se como finalidade da união estável o desejo de constituir família (OLIVEIRA, 2018). Posto isso, é importante destacarmos que um contrato de casamento não cria, necessariamente, uma união estável, pois esta precisa atender aos requisitos legais para a sua constituição. Além disso, a união estável também não se confunde, necessariamente, com um contrato de namoro, tendo em vista que isso vai depender do nível de comprometimento do casal (DIAS, 2017). Por fim, também não há igualdade entre união estável e concubinato, haja vista que esse último depende de uma traição, ou seja, de o cônjuge ter um relacionamento fora do casamento quando não está separado de fato (OLIVEIRA, 2018). Na Constituição Federal e no Código Civil, são três as principais características da união estável: res – é necessário que haja uma vontade expressa de constituir família; tractus – é necessário que haja uma união duradoura no tempo e fama – é necessário que essa união seja notória. Sob esta ótica, podemos entender que namoro e noivado não são formas de união estável, mas apenas pessoas que, por meio das suas atitudes, demonstram não querer, no presente, constituir família nem arcar com as responsabilidades de uma família. Da mesma forma, dois amigos não podem estar em união estável. Além disso, a partir da ADPF 132, podemos entender que duas pessoas homoafetivas que não querem constituir família não estarão em união estável, logo não terão de arcar com o ônus de dividir patrimônio ou de ter de pagar alimentos. Dessa maneira, concluímos que a união estável é semelhante ao casamento nas consequências financeiras e existenciais. 2STJ, Terceira Turma, AgRg. No Agravo em Recurso Especial 59.256-SP, Re. Min. Massami Uyeda, julgado em 18/09/2012. 3 Referências bibliográficas DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 12. ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes de. Direito Civil: família. Rio de Janeiro: Forense, 2018. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
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