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MANDIOCA Cientificamente, a mandioca é denominada Manihot esculenta, Crantz, da família das euforbiáceas. O nome mandioca é de origem indígena, onde Mani seria o nome da filha de um chefe e oca (casa). A cultura é perene, resistente à seca, com raízes tuberosas, com alto teor de amido, de formato variado, em número de 2 a 20. O caule é um arbusto, ereto, de cor cinza ou prateado ou pardo-amarelada. As folhas são simples com 5 a 7 lóbulos. A planta possui, em todas suas partes (raiz, caule e folhas), dois glicosídicos tóxicos – linamarina e lotaustralina – que possuem nas suas composições o radical cianeto, altamente tóxico, liberado na hidrólise dos glicosídicos no estômago humano e dos animais. A presença destes glicosídeos, onde a linamarina é a mais conhecida e citada, leva-se a classificar a mandioca em: Mandioca mansa: menos de 50ppm de HCN (ácido cianídrico); Mandioca brava: mais de 100ppm de HCN; Intermediária: entre 50 e 100ppm de HCN. As variedades mansas, também chamadas de aipim ou macaxeiras, são usadas para mesa. Geralmente são grossas, curtas, a casca é facilmente removível, polpa branca ou amarelada, odor agradável e rápido cozimento. Para a indústria, deseja-se uma variedade com raízes de diâmetro uniforme, sem cinturas, facilidade de arranquio, casca bem fina, parênquima cortical, entre casca bem claro e fino e com pouco pedúnculo ligando ao caule. A principal qualidade tecnológica da mandioca é a matéria seca, principalmente o amido, que pode ser um indicador para pagamento da matéria prima. O amido se encontra em maior teor no parênquima, que é a parte principal da raiz. 1.3.1 Processamento de amido de mandioca Entre os produtos e subprodutos da mandioca, o mais versátil e valorizado é a fécula, denominação que a Legislação Brasileira dá à fração amilácea originária de raízes e tubérculos. Essa valorização deve-se a suas múltiplas aplicações, que vão da culinária ao uso industrial. Na culinária, a fécula de mandioca destaca-se, assim como as de outras tuberosas, pela neutralidade de aroma, sabor e cor, que permitem seu uso indiscriminadamente em pratos doces e salgados. No uso industrial, é empregada principalmente na indústria de alimentos, seguida das indústrias de papéis e têxteis. A hidrólise da fécula reverte-a à estrutura de açúcar simples (glicose) ou complexo (dextrinas), de uso da fermentação, em bebidas alcoólicas. Na Ásia, a fécula é convertida em açúcares e depois serve de substrato em processos fermentativos, o qual é mais restrito em razão da competição com a sacarose de cana. Além disso, a fécula é considerada uma “commodity”, sendo comercializada no Mundo todo. A Tailândia é o país maior produtor mundial de fécula de mandioca com 2 milhões de toneladas por ano, seguido da China e Índia. O Brasil é o último, destinando para essa produção não mais de 3% do total produzido de raízes, da ordem de 23 milhões de toneladas por ano. A Legislação Brasileira define amido como o produto amiláceo extraído das partes aéreas comestíveis dos vegetais, e fécula como o produto amiláceo extraído das partes subterrâneas comestíveis: tubérculos, raízes e rizomas. Então, o polvilho ou fécula de mandioca é o produto amiláceo extraído da mandioca. O polvilho, de acordo com a acidez, é classificado em polvilho doce ou azedo. Colheita e transporte As raízes de mandioca não apresentam ponto de colheita, diferentemente do que ocorre com outras matérias-primas. Esse fato decorre do crescimento indeterminado das raízes de mandioca que, entretanto, apresentam um ponto de equilíbrio econômico, pois o crescimento após 18 meses não ocorre mais na mesma velocidade. Mas, o fato de não apresentar ponto de colheita permite uma colheita menos concentrada. Para facilitar a colheita são usados afofadores e subsoladores, em seguida faz recolhimento das raízes manualmente. Recebimento As raízes chegam em caminhões e são descarregadas em moegas que possuem transportadores para os silos de armazenamento. Descascamento e lavagem Os lavadores podem ser cilíndricos ou semicilíndricos. Os cilíndricos são rotativos e trabalham, intermitentemente, por cargas. Internamente, há um eixo oco provido de furos, por onde saem jatos de água que lavam as raízes à medida que elas são batidas umas contra as outras, no movimento de revolução. Após a lavagem e descascamento, o lavador é descarregado e, de novo, carregado para nova operação. Os descascadores semicilíndricos são contínuos. Internamente, há um eixo longitudinal móvel, provido de hastes em disposição helicoidal. A carga é contínua por uma das extremidades. As raízes são impelidas para a outra extremidade, com as revoluções do eixo. Um tubo asperge água sobre as raízes, efetuando a lavagem e auxiliando a eliminação da película. Na outra extremidade, as mandiocas são retiradas continuamente, seguindo para as operações posteriores. Na saída dos lavadores, é comum fazer a seleção, denominada também de repenicagem, que tem por finalidade retirar as partes podres, pedaços de cepas e outras impurezas. Ralação É destinada a romper os tecidos da raiz da mandioca, para facilitar a liberação dos grânulos de fécula. Ela é feita após a lavagem e descascamento, porque estas influem na qualidade final da fécula, reduzindo as impurezas no produto acabado. É denominada de ralação úmida, porque é feita com a introdução de água no ralador. Este opera em maior velocidade e deve ter um alto desempenho, isto é, romper adequadamente os tecido. Dentro de um certo limite, a massa ralada será mais fina quanto menores e mais próximos forem os dentes das lâminas serreadas. Entretanto, quando são excessivamente pequenos, o tempo de operação pode aumentar, assim como o desgaste das serras. Separação da fécula da massa ralada Dos raladores, a massa ralada vai para uma sequência de peneiras cônicas rotativas (GLs), com abertura gradativamente menor. Essas peneiras separam a suspensão de “fécula + água”, do bagaço ou farelo. Em todas as operações de separação há uma etapa de purificação. Esta vai-se intensificando de maneira sequencial, até a obtenção da fécula pura. A massa ralada é enviada por bombas para peneiras onde a fécula é separada. O sistema de separação mais comum é constituído por baterias de extratores providos de peneiras cônicas horizontais, com crivos de 125mm, que giram em alta velocidade. A massa de raízes raladas, suspensa em água, é introduzida na peneira através de um tubo central localizado no fundo do cone. Por causa da injeção contínua e do rápido movimento rotativo das peneiras cônicas, a massa desloca-se do fundo para fora. Ao mesmo tempo em que a força centrífuga age sobre a massa ralada, uma forte injeção de água, por meio de distribuidor coaxial disposto por fora do tubo de alimentação, lava-a intensamente. O leite de fécula e a massa ralada são retirados tangencialmente em relação ao eixo da peneira. A massa passa então para outros extratores em séria, em número suficiente para lavar o restante da fécula que contém. A malha das peneiras chega a 50 a 80mm, onde a massa é novamente lacada para retirar mais fécula e separar mais fibras, sendo o leite de fécula bombeado daí para o tanque agitador. Do tanque agitador, ele é encaminhado à purificação, que é feita em um conjunto de pelo menos duas centrífugas, onde passa de uma concentração de 3º para 40º Baumé (Bé). Purificação Inicia-se em separadoras centrífugas de pratos instalados em série, que giram, ao redor de, 1000rpm. As separadoras eliminam o leite de fécula tangencialmente pela base e, axialmente, por cima, a água, que arrasta substâncias solúveis, como açúcares e material protéico. Essa operação concentra o leite de fécula a 22º a 25ºBé. Dessas separadoras centrífugas, a fécula pode ser enviada a um filtro rotativo a vácuo. A fecularia pode contar com decantador centrífugoconhecido como Piller, muito mais eficiente e mais rápido. Das centrífugas ou dos decantandores centrífugos, a fécula é conduzida aos filtros rotativos a vácuo, de tambor revestido de lona apropriada, de onde é retirada com 45% de umidade. O bagaço fibroso celulósico é eliminado como subproduto ou resíduo, seco ou úmido, conforme seu destino. A água que sai das centrífugas é reaproveitada na lavagem das raízes, levando a uma economia de 20% no total. Nas indústrias modernas não ocorre mais arraste de fécula nessa água. Essa reciclagem ainda é insignificante, perto das realizadas por processos de extração mais modernos, em uso em outras partes do Mundo. Secagem O material amiláceo que sai do filtro a vácuo, esfarelado pela própria raspagem automática do filtro, é encaminhado a um secador pneumático por meio de esteiras ou outro tipo de transportador. No secador, a fécula recebe ar quente a 100 - 110ºC, ou mais, soprado por fortes ventiladores, por meio de radiadores. A secagem é em corrente paralela, e a recuperção da fécula em ciclones que abastecem uma moega do dispositivo de ensacamento. Embora a temperatura do ar seja superior a 100ºC, não ocorre gelificação nem dexterinização, porque a umidade da fécula que entra no secador foi reduzida pelas operações que precedem e por causa da alta velocidade. Nesse sistema de secagem, a fécula é recolhida em pó muito fino, não necessitando de moagem posterior e, normalmente, obedece às exigências dos importadores quanto à finura. Acondicionamento O acondicionamento, em função do mercado, pode ser feito a granel, em sacarias com 25 e 50Kg ou em “big bags” de 200Kg. A Legislação Brasileira obriga a que a embalagem registre o nome fécula para a mandioca, mas a pressão do mercado faz com que muitas empresas imprimam a palavra Fécula mais a palavra Amido entre parêntesis, para facilitar o entendimento do comprador.
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