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Familia_Relacoes_Vinculos_e_Aprendizagem_versao_final_

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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
Psicopedagogia 
 
 
Família: Relações, Vínculos 
e Aprendizagem 
 
 
 
 
Autor: Luciano Ferraz Servantes 
 
 
EAD – Educação a Distância 
Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 03 
UNIDADE 1 – A INSTITUIÇÃO FAMILIAR: SUAS CONFIGURAÇÕES E 
FUNÇÕES ............................................................................................................... 05 
1.1 Berço da afetividade e do equilíbrio emocional ................................................. 08 
1.2 As identidades e as relações familiares ............................................................ 19 
1.3 Os diferentes personagens da família ............................................................... 22 
 
UNIDADE 2 – CADA FAMÍLIA TEM SEU MODO DE SER ................................... 26 
2.1 Autoridade: falar a mesma língua é bom ........................................................... 26 
2.2 Rituais familiares ............................................................................................... 31 
2.3 O respeito não é unilateral ................................................................................ 34 
2.4 Capacidade de amar e cuidar ........................................................................... 36 
 
UNIDADE 3 – RELAÇÕES VINCULARES ............................................................ 38 
3.1 Valor dos Vínculos: princípio das relações maternais, paternais e sociais ....... 38 
3.2 Outros vínculos ................................................................................................. 44 
3.3 Teoria do Vínculo .............................................................................................. 46 
 
UNIDADE 4 – ASPECTOS FAMILIARES QUE FAVORECEM O DESEMPENHO 
ESCOLAR .............................................................................................................. 50 
4.1 Os hábitos familiares ......................................................................................... 52 
4.2 A interação entre pais e filhos ........................................................................... 55 
4.3 Práticas educativas: ensinar brincando ............................................................. 59 
4.5 Ambiente cultural ............................................................................................... 62 
 
UNIDADE 5 – FAMÍLIA COMO PONTO DE PARTIDA 
PARA A APRENDIZAGEM ..................................................................................... 67 
5.1 Primeira ensinante ............................................................................................ 67 
5.2 As aprendizagens em família são suportes para as outras aprendizagens ...... 72 
 
UNIDADE 6 – REPENSANDO A FAMÍLIA FRENTE ÁS NOVAS 
CONFIGURAÇÕES: REFLEXÕES NECESSÁRIAS .............................................. 76 
6.1 Contexto familiar influencia o contexto escolar? Diálogos possíveis ................. 76 
6.2 A autoestima do aluno vem de casa, mas é desenvolvida pela escola? ........... 80 
6.3 A disciplina e a indisciplina: enfrentamentos da família e da escola ................. 82 
6.4 A escola e a urgência da presença da família ................................................... 87 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Neste módulo vamos falar de Família (ou da família ou para a família), como o 
nosso primeiro, e mais valioso, grupo social no qual desenvolvemos nossas funções 
aprendentes com base nas nossas necessidades básicas e, ao mesmo tempo, 
desenvolvemos nossas bagagens emocionais e afetivas caminhando, 
progressivamente, como sujeito social, religioso e político. 
No ano de 2008, o Padre Fábio de Melo, evangelizador e cantor, lançou uma 
música que diz exatamente o que é a Família como grupo de dinâmicas muito 
próprias. A música denominada Cara de Família tem na sua letra, a exaltação desse 
precioso grupo e diz assim: 
Meu pai me disse que a vida 
Não tem nada de marcada 
E que o destino não é nada 
Levando a gente na vida 
E toda vez que eu paro e olho 
Pra esse velho companheiro 
Vejo quem deu pra essas paredes 
Essa cara de família 
 
Deixa eu ver a mão machucada 
Te levanta, deixa essa cama 
Estou tão triste, quero falar-te 
Fica calmo filho, não chora! 
E não sabem dar valor pra essas coisas... 
Ter um lar é um tesouro! 
 
Minha mãe me disse umas coisas 
Sobre os ódios do meu peito 
Disse que o ódio que se guarda 
Vai matando só quem sente 
Minha mãe juntou as minhas mãos 
Ainda quando eram pequenas 
E me falou que tinha um Deus 
Que era um tal papai do céu 
Que era Pai! 
... 
E não sabem dar valor pra essas coisas... 
Ter um lar é um tesouro! 
 
Meu Deus, como seria bom 
Seria bem melhor se fosse sempre assim... 
Meu Deus como seria bom 
Só hoje pude ver o que isso fez pra mim... 
Meu Deus como seria bom 
Seria bem melhor pra cada um 
E assim pra todos nós!!! 
 
 
 
 
 
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Essa dinâmica familiar de pais e filhos frente ao novo cenário social, 
composto por diversas condições que somente o mundo moderno, globalizado e, 
sobretudo, capitalista –que valoriza as pessoas pelo que têm e pelo que podem 
produzir - mudou-se, de tal modo, que não é difícil de perceber os choques e 
conflitos familiares. A família composta por pais e filhos foi alterada já há algum 
tempo, quando a família deixou de ser nuclear, para ser composta por muitos 
familiares. 
O grupo familiar nas últimas décadas tem sofrido inúmeras modificações, 
tanto no que concerne ao formato interno 
desse grupo, quanto aos valores e princípios 
sociais que sempre o norteou. Mas, se por um 
lado as mudanças ocorridas não podem ser 
interpretadas totalmente como negativas, por 
outro não foram totalmente positivas, havendo 
necessidade de se refletir sobre o 
desenvolvimento de uma nova identidade 
familiar. 
 
Fonte: http://migre.me/45nBv 
Contudo, a família continua sendo o cerne ou o ponto precípuo que forma as 
características integrais do sujeito, que é a criança que adentra a escola trazendo 
consigo uma bagagem de personalidade identitária que só a família pode construir. 
Porém, sabemos que esta influência tem suas consequências para cada 
sujeito, para sua aprendizagem e para os demais desenvolvimentos e, é numa 
proposta de análise e reflexão que este módulo se propôs a estudar, tendo o 
objetivo de apresentar o quanto de relação há entre a família, o sujeito aprendiz, a 
aprendizagem e a escola, ou seja, os vínculos e as aprendizagens. Seja bem-vindo, 
caro aprendiz a este módulo. 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 1 - A INSTITUIÇÃO FAMILIAR: SUAS CONFIGURAÇÕES E 
FUNÇÕES 
 
“Diga quem sou, De onde vim, Pra onde vou. A nossa aurora é 
assim Começo...Desconheço...Que dirá o fim” (Aurora do Povo 
Brasileiro)1 
 
 
Esta instituição, chamada família, nasce com o homem e para o homem se 
constituiu desde que a humanidade se deu conta de si mesma. Todavia, o termo 
família é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”, termo este 
criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as 
tribos latinas, ao serem introduzidas a agricultura e também a escravidão 
legalizada.2 
É notável como a natureza é sábia, pois os tribais descobrem que há poder 
quando se constitui elemento em um grupo, e que juntos têm mais força para lutar 
pela sobrevivência; mas não são civilizados o bastante para entender que, mais 
tarde, ser grupo significava lutar para sobreviverem na sociedade, a qual criada e 
desenvolvida por eles mesmos, exigiria bem mais que sobreviver, ou seja, produzir e 
desenvolver. 
Tais grupamentos de pessoas não se tratavam de família, mas de grupos de 
homens e mulheres; gerar filhos implicava no ato do sexo por atração instintivaentre 
os gêneros opostos; não havia nem mesmo a compreensão do ato sexual como 
meio de procriação, ou seja, tratava-se de relações instintivas, tal como animais que 
se afinam. Filhos nasciam dessas relações sem serem compreendidos como filhos, 
como seus progenitores não seriam os pais, bem como não havia irmãos. Mas, pela 
afeição e sentimentos desconhecidos, tão inerentes ao homem, essa constelação 
familiar desconhecida assim e, por não compreenderem o que eram os laços 
sanguíneos, acolhiam e protegiam estes novos seres (os filhos) de toda maldade 
que cerceava o entorno desse grupo. E assim caminhava a humanidade! 
Porém, estes grupos de pessoas foram descobrindo a necessidade de 
proteger seus espaços e, conquistar mais espaços, nascendo as guerras e, 
consequentemente, as diversas sociedades e culturas. Segundo Oliveira (2006, 
p.142): 
 
1 Samba da Beija-Flor de Nilópolis, 1996. 
2 Fonte: www.wikipedia.com.br, acesso em agosto de 2010. 
 
 
 
 
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é preciso levar em conta, três gerações passadas, em uma linha 
ininterrupta que considera o parto como ponto zero e que se vetoriza 
em direção à esquerda para as grandezas com sinal menos, 
referentes ao legado do “antes” e, à direita, com sinal de mais para o 
legado do “depois” – pós-nascimento que se traduz pelo que 
chamamos de “ciclo vital”. 
 
Desse modo, o início dos grupos, dos quais pode, mais tarde, ter se 
constituído a família, tem seu início não nas relações entre os gêneros, mas a partir 
do parto e imediatamente, após este, mantendo-se como grupo e não como família, 
pois, como já dito anteriormente, os filhos gerados não eram legitimados pelo termo 
“filho”, nem seus progenitores como “pais”. Assim, este esquema poderia ser 
representado da seguinte forma: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Origem dos grupos 
Fonte: Elaboração própria 
 
Com o passar do tempo, as sociedades humanas começam a se estabelecer, 
descobrindo que suas necessidades estavam além da caça e da defesa entre 
grupos. Era o momento de fundar raízes, surgindo as cidades, nas quais cada grupo 
de pessoas formava um nova estrutura e, ao mesmo tempo, fazendo nascer as 
culturas. 
Começa-se a perceber que a relação de dependência entre natureza e cultura 
se estabelece desde as gerações que antecedem à concepção de um novo ser no 
interior do grupo. Sua história não começa com a fase gestacional e o nascimento, 
ela está intimamente ligada aos protagonistas próximos que a antecedem, ou seja, 
aos demais grupos (OLIVEIRA, 2006). Assim, simples laços de afeição, de natureza 
0 
depois antes 
parto 
Ciclo vital 
I Geração 
II Geração 
III Geração 
 
 
 
 
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apenas biológica, que mantinham os grupos unidos naturalmente, são substituídos 
por laços sociais legitimados, surgindo a família natural constituída por pais e filhos. 
No direito romano clássico a "família natural" cresce em importância - esta 
família é baseada no casamento e no vínculo de sangue, pois é o agrupamento 
constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. Esta família tem por base o 
casamento e as relações jurídicas, dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e 
filhos. 
Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um 
vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe – o pai -, 
nos tempos medievais, as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos 
matrimoniais – a mãe -, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia 
também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a 
materna.3 
Contudo, a partir do momento em que as famílias começam a ser compostas 
por integrantes que detinham um papel social, e, sendo inclusas numa cultura que 
se estabelece, surge a necessidade de determinar suas funções e objetivos, de 
forma a garantir uma representatividade social. Segundo Minuchin (1990, p.25), é 
certo que: 
 
Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos, 
sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos 
membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma 
cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às 
mudanças externas e internas de modo a atender às novas 
circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, 
proporcionando sempre um esquema de referência para os seus 
membros. 
 
Desse modo, os objetivos da família ficam, ou são assim exigidos, explícitos. 
Sendo que, como o autor pontua, a proteção psicossocial, objetivo de nível interno, 
poderá ser compreendida como toda forma de acolhimento afetivo, incluindo as 
emoções e sentimentos, bem como todos os conflitos que nascem dessas 
condições, representando a forma subjetiva de proteção de seus membros. Por 
outro lado, tem também o objetivo a nível externo, que visa a correspondência ou 
reprodução da cultura vigente. Assim, a família possui duas funções que estão 
intimamente relacionadas, sendo que: a primeira significa a ensinagem das 
 
3 Fonte: www.wikipedia.com.br, acesso em julho de 2010. 
 
 
 
 
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necessidades básicas essenciais à sobrevivência num grupo, somadas às condições 
puramente humanas de afetividade e emoções e, uma segunda, a ensinagem das 
necessidades sociais essenciais à sobrevivência na sociedade, somada às 
condições de adaptação, relações humanas, produção e ganhos, representando a 
forma objetiva de proteção de seus membros. 
Todavia, as estruturas, bem como as configurações e funções familiares, vão 
tomando rumos muito diferentes em cada época, sendo este fato um indicador de 
que as famílias são estruturas que se organizam em conformidade com os padrões 
sociais, culturais e econômicos de cada época. 
Nessa perspectiva, foi na Revolução Francesa, que surgiram os casamentos 
laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os 
movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor das indústrias. 
Com estas mudanças estruturais, o estreitamento dos laços familiares e as 
pequenas famílias são concretizadas, num cenário similar ao que existe hoje em dia. 
A representação da matriarca, como a mãe que fica em casa com exclusiva 
função de cuidar dos filhos, se altera, pois as mulheres saem de casa e passam 
integrar a população ativa, sendo que a educação dos filhos passa a ser partilhada 
com as instituições escolares. 
Moreira (2007, p.22) afirma que nessa altura, “a família era definida como um 
‘agregado doméstico’ composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, 
consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada”. Nesse 
novo cenário, a família, suas configurações e funções, já não pode mais ser 
considerada estática, mas contemplada por processos diversos e adversidades 
comuns para cada época, mediante as exigências sociais. 
 
1.1 Berço da afetividade e do equilíbrio emocional 
 
“Minha mãe me disse umas coisas... Sobre os ódios do meu peito 
Disse que o ódio que se guarda... Vai matando só quem sente” 
 
(Pe. Fábio de Melo, 2008) 
 
Lembrando que um dos primeiros objetivos da família, uma vez caracterizada 
socialmente, é de nível interno e está denominado como a proteção psicossocial, 
compreendida como toda forma de acolhimento afetivo, incluindo as emoções e 
 
 
 
 
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sentimentos, bem como todos os conflitos que nascem dessas condições, temos na 
família o berço da afetividade e do equilíbrio emocional. 
Mas, é preciso definir os termos para aplicar suas funções, de modo a 
compreender o que é este processo psicossocial, levando em conta que o termo 
psicossocial tem a ver com a vida psicológica particular inserida num campo social. 
Desse modo, o próprio termo sugere um processo, já que nossa constituição 
psicológica depende de vários condicionantes – internos e externos – e, nesseponto, sabemos que temos necessidade de sucessos que perpassam as crises e 
insucessos, para então equilibrarmo-nos psicologicamente. 
Para não adentrarmos nas teorias comportamentais, já discutidas em outros 
módulos desse curso, tomarei aqui os estudos de Erik Erikson. E, por que refletir 
sobre esses estudos? Porque são os mais evidentes no corpo social atual, sendo 
notáveis nas representações que temos hoje de nós e que, de forma progressiva, foi 
nos dado, em princípio, por nossa família. Segundo Erikson (1998), 
 
O crescimento psicológico ocorre através de estágios e fases, não 
ocorre ao acaso e depende da interação da pessoa com o meio que 
a rodeia. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial 
entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. As duas 
vertentes são necessárias, mas é essencial que se sobreponha a 
positiva. A forma como cada crise é ultrapassada ao longo de todos 
os estágios irá influenciar a capacidade para se resolverem conflitos 
inerentes à vida. 
 
O que Erikson afirma com essa premissa não é algo desconhecido para nós, 
pois temos necessidades, também, da aprendizagem de nossas emoções, estando 
elas em uma balança, figurativamente falando, em que um dos lados irá pender para 
as emoções positivas e, em outro, irá pender para as emoções negativas, sendo que 
estas não podem sobrepor-se às emoções positivas. 
Mas quem nos ensina isso, ou como aprendemos a desenvolvê-las e ter 
controle sobre elas? A família é a primeira a contemplar nossos primeiros passos 
afetivos e emocionais e, em certa medida, moldá-las, segundo um padrão de valores 
e crenças já estabelecido por ela conforme sua trajetória histórica. 
Porém, esse processo, assim como qualquer outro, requer uma 
progressividade, porque tudo que se trata de matéria humana não se forma ou 
desenvolve de imediato sem que haja experiências, vivências e relações que 
motivem ou impulsionem suas estruturas gerais. Por isso, há tempo determinado 
 
 
 
 
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para gestar, nascer, crescer, amadurecer e morrer. Nesse sentido, Erikson (1998, p. 
98) apresenta oito estágios de desenvolvimento psicossocial que nos dizem muito do 
que somos e como nos apresentamos ante os moldes que nossa família 
proporcionou: 
1º) Confiança/desconfiança – ocorre de 0 a 18 meses. 
A criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio 
e em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a mãe. Se a 
mãe não lhe der amor e não responde às suas necessidades, a criança pode 
desenvolver medos, receios, 
sentimentos de desconfiança que 
poderão vir a refletir-se nas relações 
futuras. Se a relação é de segurança, se 
a criança recebe amor e as suas 
necessidades são satisfeitas, ela vai ter 
melhor capacidade de adaptação às 
situações futuras, às pessoas e aos 
papéis socialmente requeridos, 
ganhando assim confiança. 
Fonte: http://migre.me/45pir 
Desse modo, a família, representada pela figura materna, tem papel 
preponderante para a formação da segurança e confiança da criança, dando-lhe 
condições de relacionar-se, posteriormente, com outros ambientes além do familiar. 
Vamos fazer a seguinte análise: se a criança não teve suas necessidades 
atendidas nesse período, já tendo desenvolvido medos, receios, desconfiança e toda 
insegurança possível, como poderá aprender na escola? 
Que mãe não se lembra de ter visto o filho ou filha em escandaloso choro na 
porta da escola no seu primeiro dia de aula? Pois é, a insegurança, como fruto da 
desconfiança, não permite que a criança se sinta parte de outro ambiente senão o 
familiar. A angústia da criança é de não poder dar conta dos medos e do sentimento 
de abandono, desenvolvido nesse período. 
Evitando generalizações, é preciso lembrar que este é apenas um fator e, 
dependendo do apego e do nível das relações, outros fatores podem fazer parte 
desse período, implicando na criança e sua aprendizagem escolar. Por essa 
 
 
 
 
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perspectiva, Parolin (2005, p.71), afirma que “é de consenso que uma criança não 
aprende qualquer coisa, em qualquer lugar e com qualquer um, ou seja, que 
elegemos com quem aprendemos (...)”, e, no caso de uma criança insegura esta 
premissa se torna uma verdade constatada. No entanto, nos últimos anos, a escola 
passou a ter maior consciência desse fato e, progressivamente, tem-se planejado 
para estar atenta a estas crianças. 
 
2º) Autonomia/dúvida e vergonha – entre os 18 meses e os 3 anos. 
É caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e 
as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. É o momento 
de explorar o mundo e o seu corpo e o meio deve estimular a criança a fazer as 
coisas de forma autônoma, não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança 
com sentimentos de vergonha. A atitude dos pais aqui 
é importante, eles devem dosar de forma equilibrada a 
assistência às crianças, o que vai contribuir para elas 
terem força de vontade de fazer melhor. De fato, 
afirmar uma vontade é um passo importante na 
construção de uma identidade. É nesse período que a 
criança manifesta as "birras"; período dos porquês, 
que exigem respostas; e, de querer fazer as coisas 
sozinha, se sentido autoindependente. 
 
Fonte: http://migre.me/45pv5 
Aqui encontramos as crianças que precisam de autonomia e, ao mesmo 
tempo, de limites bem explicados. 
A autonomia é, sem dúvida, para que a criança aprenda por si só a dar conta 
de seus problemas e conflitos, conquistando sua autoria de pensamento, ou seja, 
sua capacidade de aprender autonomamente. Mas, como diz Fernández (2001, 
p.92), “a autonomia do pensamento só pode se postular ao nível do desejo (desejo 
de conhecer tudo)...” E nesse natural desejo de tudo conhecer, encontramos a 
primeira necessidade que a criança tem de ser limitada, porque nem tudo pode estar 
ao alcance de seu conhecimento até que tenha idade para processar as 
informações. 
 
 
 
 
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Contudo, restringir não significa punir, mas dar condições de a criança refletir 
sobre seus atos aprendendo com seus erros. A atitude de impedir, castigar, tolher a 
criança, desenvolvendo a dúvida sobre o que é certo e errado, e ao mesmo tempo, 
incita à vergonha. Assim, o que às vezes nos parece uma criança tímida, é na 
verdade, uma criança insegura e envergonhada para seguir adiante numa proposta 
de aprendizagem. Mas, dar limite à criança é fazê-la compreender o seu tempo o 
seu momento; estabelecer regras bem definidas, sem abuso de autoridade nem 
austeridade. 
E essa premissa é simples de entendermos se paramos para pensar que nem 
adultos suportam restrições vigiadas; produção sob pressão; convivências hostis e 
impositoras, enfim, pessoas arrogantes e gritantes... precisamos de correção ante 
nossos erros de forma dialogada, combinada e definida, bem como, queremos 
elogios diante de nossos acertos e sucessos. 
 
3º) Iniciativa/culpa – entre os 3 e 6 anos. 
É o prolongamento da fase anterior, mas de forma mais amadurecida: a 
criança já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode fazer e o que não pode 
fazer. Este estágio marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquira o 
sentimento de culpa: a criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em 
grupo, imita os adultos, tem consciência de ser “outro” que não “os outros”, de 
individualidade. Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que 
imagina ser, sem sentir culpa. 
Neste estádio a criança tem uma preocupação com a aceitabilidade dos seus 
comportamentos, desenvolve capacidades motoras, de linguagem, pensamento, 
imaginação e curiosidade. Questão chave: serei bom ou mau? E, assim, nasce a 
inserção social, os primeiros colegas afetivos; surge, progressivamente, a ética da 
convivência, mas para a criança tudo isso é, sem dúvida, experiência nova. 
Nessafase, a criança começa a descobrir que pode ajudar em pequenas 
tarefas diárias. E, para ilustrar tal passagem lembro, por exemplo, de uma criança 
que está ajudando a mãe a colocar a mesa para o almoço. Mas, por descuido, a 
criança deixa cair um copo no chão, que se espatifa em mil pedacinhos. A mãe (ou 
outro adulto) ao presenciar a cena, descarrega sobre a criança, aos gritos – “Saia já 
daqui, vá brincar lá fora, olhe o que você fez, não presta atenção em nada!” A 
 
 
 
 
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criança, entre o susto de seu ato e o terror da chamada de atenção, evidentemente, 
chora e sai dessa cena. Pergunto: Quem já fez isso com um filho ou filha tem idéia 
do que inculcou na criança? Ou, quem já passou por isso quando criança pense: o 
que sente (sentiu) ao reviver esta cena? Outra questão: Será que a falta de iniciativa 
de um adulto nas tomadas de decisão, teria sua origem a partir de cenas como esta? 
Chraim, (2009, p.26), lembra que “é na base familiar que a criança começa a 
construir sua real identidade, que será formada a partir das experiências e da forma 
como aprendeu a lidar com as informações que recebe.” Portanto, a culpa não é 
sinônimo de reflexão sobre o ato, mas um claro e consciente impedimento para as 
iniciativas necessárias ante a vida, tanto pessoal quanto profissional. 
 
4º) Indústria/inferioridade – entre 6 e 12 anos. 
Decorre na idade escolar antes da adolescência; a criança percebe-se como 
pessoa trabalhadora, capaz de produzir, sente-se competente. Neste estágio, a 
resolução positiva dos anteriores estágios tem especial relevância: sem confiança, 
autonomia e iniciativa, a criança não poderá afirmar-se nem sentir-se capaz. O 
sentimento de inferioridade pode levar a bloqueios cognitivos, descrença quanto às 
suas capacidades e as atitudes regressivas: a criança deverá conseguir sentir-se 
integrada na escola, uma vez que este é um momento de novos relacionamentos 
interpessoais importantes. Questão chave: Serei competente ou incompetente? 
Como se percebe a construção gradativa dos aspectos afetivos e emocionais 
passa a ser mais evidenciada nesse estágio, pois as interações sociais já estão 
estabelecidas – a família deixou de ser o único grupo, para ser mais um grupo – e a 
escola já é considerada mais um ambiente em que as relações acontecem. 
Contudo, esse início de entrada na adolescência torna-se um período de 
autorreflexões, pois o sujeito sabe que está deixando sua infância para incorporar 
“um mundo mais maduro”. Quais suas responsabilidades, já que a cobrança por 
suas ações já é de cunho íntimo? Merleau-Ponty (1990, apud SZYMANSKI, 2010), 
afirma que: 
Noção central na psicologia da criança, porque criança é apenas 
desenvolvimento. Noção paradoxal, pois ela não supõe nem 
continuidade absoluta, nem descontinuidade absoluta, ou seja, o 
desenvolvimento não é nem adição de elementos homogêneos, nem 
uma sequência de etapas sem transição. 
 
 
 
 
 
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É muito importante a presença da família nesse período. Pois, é o período em 
que afloram os hormônios; as curiosidades físicas tornam-se mais exacerbadas; há 
maior necessidade de falar e de ser ouvido, de que ouvir; a capacidade criadora e 
produtiva está mais desenvolvida, mas implica motivação e apoio. Do contrário, a 
inferioridade se instala; passa para a necessidade do isolamento e o distanciamento 
das coisas e pessoas; acredita-se incapaz de dar conta de seus projetos pessoais; 
ocorre a introversão ou a extroversão, sendo que ambos constituem prejuízo para o 
pré-adolescente. 
 
 5º) Identidade/confusão de identidade – dos 13 aos 19 anos - marca o 
período da adolescência. 
É neste estágio que se adquire uma identidade psicossocial: o adolescente 
precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade. 
Há uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade já adquiridos – esta 
é a chamada crise da adolescência. 
Fatores que contribuem para a confusão da identidade são: perda de laços 
familiares e falta de apoio no crescimento; expectativas parentais e sociais 
divergentes do grupo de pares; dificuldades em lidar com a mudança; falta de laços 
sociais exteriores à família (que permitem o reconhecimento de outras perspectivas) 
e o insucesso no processo de separação emocional entre a criança e as figuras de 
ligação. Neste estágio a questão chave é: Quem sou eu? E com necessidade de 
responder a esta questão sai em busca de si mesmo. É o período comum das 
desconfianças em relação aos seus laços familiares, dos conflitos e atritos com os 
pais e irmãos, surgindo questões íntimas, tais como: 
 Será que sou adotivo? 
 Por que meus pais gostam mais do meu irmão? 
 Minha irmã é melhor do que eu! 
 Ninguém me entende. 
 Não sou inteligente! 
Na escola, o comportamento pode ser instável, ora calado e tímido, ora 
desafiante e hostil; há necessidade de chamar a atenção e de ser chamado à 
atenção, pois pretende valer-se de sua presença (por bem ou por mal); não crê nos 
seus conhecimentos, tendo uma projeção negativa quanto à sua formação. 
 
 
 
 
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Mas, via de regra, não precisa ser assim, desde que a família compartilhe 
com esse pré-jovem suas ansiedades, dando-lhe a atenção devida, ao mesmo 
tempo em que o orienta para a objetividade. Do contrário, tais conflitos podem 
nascer dos conflitos já existentes na própria família. Por isso, Olivier (2008, p.77) faz 
a seguinte observação: 
 
O que quase ninguém questiona é que o ovelha negra não nasce 
assim, ele é fabricado pela doença familiar (...), assistindo às crises da 
família, aos problemas financeiros, às brigas entre os pais, às 
cobranças em relação a ele próprio e aos outros familiares. 
 
Nesse período, é essencial que a família busque o diálogo, o melhor 
entendimento a fim de sanar estas questões íntimas, firmando e legitimando uma 
identidade de significado, ou seja, que demonstre a importância de sua existência 
nesse grupo, tal como, sua importância como elemento capaz e produtivo que deve 
projetar-se para o futuro. 
 
6º) Intimidade/isolamento – ocorre entre os 20 e os 35 anos, 
aproximadamente. 
A tarefa essencial deste estágio é o estabelecimento de relações íntimas 
(amorosas, e de amizade) duráveis com outras pessoas. A vertente negativa é o 
isolamento, pela parte dos que não conseguem estabelecer compromissos nem 
troca de afetos com intimidade. Questão chave deste estágio: Deverei partilhar a 
minha vida ou viverei sozinho? 
Nesse sentido, a busca por sua estabilização emocional é característica 
desse período. Mas o descobrimento da sexualidade e da íntima necessidade, cada 
vez mais crescente, de dividir ou compartilhar seus espaços e contextos, faz que a 
família seja espelho de seus projetos. Pois, nesse período, o antigo jovem envolvido 
por seus projetos profissionais e sociais, torna-se agora mais próximo de sua família 
e deseja formar a sua. As amizades já estão mais fortalecidas por laços de 
afinidade, enquanto que a vida amorosa requer estruturação. 
Não são apenas pequenas aventuras, nem “ficar por ficar”, há uma 
necessidade de firmar compromisso e constituir a sua família, conquistar o seu 
espaço com alguém. Mas, há um sério problema, de natureza íntima, ao qual a 
família deve dar atenção e estar pronta para os enfrentamentos necessários. 
 
 
 
 
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Dependendo de como os estágios anteriores se sucederam e da relação 
estabelecida entre o sujeito e a família, pode haver conflitos quanto à escolha da 
parceria que será estabelecida. Pois, somado a alguns fatores4, o sujeito pode optar 
pela homossexualidade ou bissexualidade, ou sem problemas quaisquer, pela 
heterossexualidade. 
Segundo Olivier (2008, p.94): 
 
A questão da afinidade deve ser fator desencadeante de relações 
homossexuais, pois é certo que mulheres identificam-se muito mais 
com outras mulherese homens com outros homens, em ideias, 
intenções, objetivos, carências, etc. Outro fator relevante é a beleza 
física, pessoas muito bonitas ou, no mínimo, carismáticas ou 
exóticas, enfim, pessoas que atraem muitas atenções, geralmente, 
atraem muitas pessoas de ambos os sexos. 
 
Ressalta-se que não é regra para todos essa vivência, mas, como já dito há 
alguns fatores que se somam como, por exemplo, a distância da família nas 
orientações quanto à sexualidade, a qual se inicia pelo auto-conhecimento físico e 
consciência de suas manifestações. O diálogo franco e a parceria amiga da família 
influenciam na formação das escolhas do sujeito. 
 
7º) Generatividade/estagnação: entre os 35 e 60 anos. 
É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da família. Há a 
possibilidade do sujeito ser criativo e produtivo em várias áreas. Existe a 
preocupação com as gerações vindouras; produção de ideais; maior participação 
política e cultural; educação e criação dos filhos. A vertente negativa leva o indivíduo 
à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à 
preocupação exclusiva com o seu bem-estar, posse de bens materiais e egoísmo. 
Um período marcadamente relacional, ou seja, a família é seu principal ponto 
de apoio, como dizem – o porto seguro. Se há filhos, a preocupação é com a 
formação e relacionamentos sociais; se não tem filhos, os deseja ter porque a 
maturidade vem acompanhada pelo medo da solidão no futuro. 
 
4 Antes de qualquer colocação, é preciso lembrar que são muitas as teorias e as justificativas 
envolvendo a homossexualidade e a bissexualidade, que vão desde influência genética até tendência 
psicopata, passando pelo hipererotismo sexual precoce (...) Segundo estudos comprovados, podem 
ser sociológicos, comportamentais, hormonais, citológicos e até mitológicos, além dos psicológicos 
(OLIVIER, 2008, p.93). 
 
 
 
 
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O sujeito começa a perceber que a família de antes, e não a que constituiu, 
não é mais a mesma, pois alguns familiares se distanciaram e outros já partiram 
deste mundo – descobre-se que a vida e a morte fazem parte do mesmo processo. 
Há uma necessidade premente de estabelecer-se financeiramente e atingir 
com maior rapidez seus projetos pessoais; mas, há um maior equilíbrio entre os 
desejos e as possibilidades – uma vez que a ansiedade da pré-maturidade já deixou 
de existir, dando lugar à maturidade equilibrada. 
Os amigos são escolhidos a dedo e a socialização se caracteriza pela 
convivência; a ideia de velhice começa a ser uma companheira diária, sobretudo, 
com a vinda dos netos. 
 
8º) Integridade/desespero – ocorre a partir dos 60 anos. 
É favorável uma integração e compreensão do passado vivido. É a hora do 
balanço, da avaliação do que se fez na vida e, sobretudo do que se fez da vida. 
Quando se renega a vida, se sente fracassado pela falta de poderes físicos, 
sociais e cognitivos, este estágio é mal ultrapassado. 
 De um lado, a integridade é o balanço positivo do seu percurso vital, mesmo 
que nem todos os sonhos e desejos se tenham realizado; esta satisfação prepara 
para aceitar a idade e as suas consequências. Por outro, o desespero, como um 
sentimento nutrido por aqueles que consideram a sua vida mal sucedida, pouco 
produtiva e realizadora, que lamentam as oportunidades perdidas e sentem ser já 
demasiado tarde para se reconciliarem consigo mesmos e corrigir os erros 
anteriores. Neste estágio a questão chave é: Valeu a pena ter vivido? O que fiz de 
verdade na vida? O que conquistei? A convivência com os mais jovens se torna 
difícil, bem como fazer novas amizades, sendo a reclusão a melhor forma de viver 
bem consigo mesmo. 
A família tornou-se outros grupos, cada filho em sua casa recomeçando o 
ciclo natural da vida de família; então, a família deixou de ter o tom alegre, mas 
contempla-se o que restou dela com apreço, saudade e inquietação, pois a 
sensação de perda e morte agora é uma constante. 
Não vamos relembrar as teorias já estudas sobre o desenvolvimento e 
aprendizagem humana, mas apresento o esquema seguinte que sae articula com as 
ideias de Erikson, fazendo sentido ao que estudamos até aqui: 
 
 
 
 
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Figura 2 – Do desenvolvimento humano nas suas relações familiares 
Fonte: Elaboração própria 
 
Construir e Reconstruir conhecimentos é um ato de prazer 
Inteligência (construída 
interacionalmente) 
Desejo (energia 
inconsciente) 
Corpo (construído 
pelas experiências) 
Organismo (individual 
herdado) 
Aprender depende 
O cognitivo depende 
do método aplicado 
Relação Afetiva entre 
ensinantes e aprendentes 
Componente emocional Componente intelectual 
Conhecer é desejar 
 
 
 
 
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Exercício 1 
 
1. O início dos grupos, que se poderia, mais tarde, constituir em família, tem 
surge: 
a) Não nas relações entre os gêneros, mas a partir do parto e, após este. 
b) Após as relações entre os gêneros. 
c) Após todos os sujeitos se juntarem, formando um único grupo. 
d) Pelos laços de afinidade e afeição. 
 
2. As funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um: 
a) De nível objetivo (proteção psicossocial dos membros) e o de nível cultural 
(acomodação a uma cultura e sua transmissão). 
b) De nível interno (proteção intersocial dos membros) e o de nível externo 
(assimilação a uma cultura e sua transmissão). 
c) De nível interno (proteção psicossocial dos membros) e o de nível externo 
(acomodação a uma cultura e sua transmissão). 
d) De nível familiar (interação psicossocial dos membros) e o de nível social 
(associação a uma cultura e sua transmissão). 
 
3. A família é a primeira a contemplar nossos primeiros passos afetivos e 
emocionais e, em certa medida, moldá-los, conforme: 
a) A sua formação e identidade, ante os padrões sociais. 
b) Os padrões familiares e sociais, frente aos papéis que assume. 
c) As suas funções internas e externas, de acordo com a sua identidade familiar. 
d) Um padrão de valores e crenças, estabelecidos na sua trajetória histórica. 
 
 
1.2 As identidades e as relações familiares 
 
“Espere minha mãe já vou voltando Que falta faz pra mim um beijo 
seu”. (Fogão de Lenha, Chitãozinho e Xororó) 
 
As identidades familiares são aquelas que dão, para cada membro familiar, 
um papel dentro dela e faz com que sua dinâmica funcione havendo, assim, uma 
relação íntima de cada identidade com as relações estabelecidas no seu interior. 
(STANHOPE, 1999, p.502): 
 
Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada 
membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto 
como, por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados 
por papéis. Papéis estes, que não são mais do que, as expectativas 
de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados 
a uma dada posição na família ou no grupo social. 
 
 
 
 
 
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Assim, cada pessoa ou familiar assume um papel que lhe concede direitos e 
deveres e, sobretudo, obrigações que dão o formato ao que se denomina família. 
Em psicopedagogia, quando se fala em família, deve ser entendida como uma 
realidade sistêmica. Essa realidade é sistêmica, porque há uma interação de 
aprendizagens e ensinagens que promovem o desenvolvimento de ambientes 
propícios à integração social e interações com os conhecimentos que são adquiridos 
e incorporados à família e em cada um de seus membros. 
Assim, aos pais cabe: 
 a socialização da criança: gerando, desde o seu nascimento, as 
atividades que promovem o desenvolvimento das capacidades mentais e 
sociais, as habilidades e potencialidades de aprendizagem e conhecimento 
da criança; 
 os cuidados às crianças: desde quando nascem, atendendo-lhes as 
necessidades básicas essenciais, tanto físicas -como afetivas e 
emocionais-, quantoas estruturais relativas aos ambientes; 
 o papel de suporte familiar: que inclui a obtenção dos recursos 
necessários para o sustento da família e sua interação social; 
 o papel de encarregados dos assuntos domésticos: onde estão 
incluídas as atividades de organização do ambiente familiar, propiciando o 
conforto e o acolhimento saudável; 
 o papel de manutenção das relações familiares: ao que diz respeito 
aos relacionamentos interfamiliares, como contato e convivência com os 
parentes, implicando, se necessária, a ajuda em situações de crise; 
 os papéis sexuais: considerando que os parceiros precisam de tempo 
para, na intimidade, discutirem a relação entre ambos, além das relações 
sexuais, com o propósito de preservarem sua cumplicidade; 
 o papel terapêutico: que implica o apoio afetivo e emocional quando os 
problemas familiares surgem e, inevitavelmente, interferem na rotina 
familiar; 
 o papel recreativo: indica a necessidade de promoção de atividades de 
lazer e recreação, tendo o objetivo de descontração, desenvolvimento 
pessoal e interações sociais. 
 
 
 
 
 
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Essas identidades, quanto aos seus papéis, não são estáticas e, como 
sabemos, nos dias atuais, há muita mãe que é arrimo de família, sem parceiro para 
ajudá-la e, também pai que é o único a sustentar a família sem parceria alguma. 
Desse modo, os papéis nas são estáticos e as relações entre os pais não são mais 
obrigadas a se manter, mesmo por laços filiais, religiosos, sociais, etc. 
Os filhos, consequentemente, irmãos – ou mesmo filho ou filha única – são os 
aprendizes necessários, já que suas primeiras relações são de aprendizagem para 
desenvolver a independência de atenção às suas próprias necessidades básicas e, 
mais tarde, interagirem num campo social além da família. 
São os receptores das normas e regras sociais que a família desenvolveu na 
sua trajetória histórica e cultural; são os que carregaram a bagagem que a família 
transmitiu; então, se esta bagagem – estrutural, relacional, emocional e intelecto-
cognitiva – for bem estabelecida, orientada e definida, mesmo que haja problemas 
comuns de qualquer grupo familiar, com certeza, os filhos serão os transmissores 
fiéis dessa bagagem. As interações de modo geral, inclusive com a aprendizagem, 
serão sadias e convencionalmente adequadas ao que a sociedade chama de 
“padrão normal”. 
No entanto, sendo a bagagem marcada por conflitos generalizados, que 
comprometem os filhos na sua formação geral, será transmitida também de forma 
fiel por eles. Pois, a tendência dos filhos é repetir o que lhe é dado, primeiro porque 
crescem acreditando que é assim e, estenderão esse entendimento a todas as 
outras relações. Para ilustrar essa premissa, por exemplo, acreditam que a melhor 
relação é a que tem brigas, porque é assim que os pais vivem e, por conseguinte, 
todas as demais relações passam a ser conflituosas porque assim sempre foram 
concebidas. 
Segundo Chraim (2009, p.91), “alguns pais talvez não estejam preparados 
para serem pais, pois ainda não aprenderam a ser filhos. Mas, lembre-se que uma 
das grandes virtudes da aprendizagem é a prática.” 
É, certo, que tanto uma bagagem familiar boa como uma ruim podem formar 
pessoas que não se encaixam nas premissas acima, porque pode haver elementos 
que contornem as situações. Assim, as pessoas não se tornam más porque sua 
família é má; há condições maiores para isso, mas sempre haverá uma tendência 
natural, da personalidade, que se afina ou não à condição. Desse modo, Stanhope 
 
 
 
 
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(1999, p.502), ao descrever as relações e identidades dos filhos, no contexto da 
família, afirma que estes: 
 
Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo 
de defensores e protetores, interpretando o mundo exterior, 
ensinando os outros sobre equidade, formando alianças, discutindo, 
negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns dos 
outros. 
 
Portanto, os filhos passam, desde muito cedo, a acompanhar as atitudes e 
posturas dos pais, condicionando suas crenças 
e valores, crendo nelas como determinantes 
para toda realidade que se inserem e, mais 
tarde, renovam o entendimento desses 
princípios tomando uma identidade própria, a 
qual, se repetirá na transmissão de valores e 
crenças para seus filhos. 
 Fonte: http://migre.me/45vQd 
 
 
1.3 Os diferentes personagens da família 
 
“Família, família, Papai, mamãe, titia, 
Família, família, Almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania.” 
(Titãs, Família) 
 
Como podemos ver até aqui, a família é um grupo formado por pessoas e que 
sofre a influência de outros grupos de pessoas. É um grupo dinâmico, estabelecido e 
formado, tendo objetivos e propostas de convivência de acordo com os valores e 
crenças que se formaram na sua trajetória histórica. 
Os diferentes personagens que a compõem, são os que dão à família um 
aspecto peculiar e diferenciado. Mas, família é tudo igual, só muda de endereço, 
como dizem. 
As famílias atuais não são mais naturais ou nucleares, ou seja, aquelas 
compostas apenas pelos pais e pelos filhos. Na sua maioria, as famílias passaram a 
se diferir tanto no seu agrupamento, quanto nos personagens que a compõem. 
Desse modo, algumas das famílias atuais possuem os pais como o centro de 
tudo; trabalham em tempo integral dedicando-se ao sustento da casa; enquanto que 
 
 
 
 
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os filhos são legados aos cuidados dos avós – tanto 
paternos quanto maternos, sendo estes os 
responsáveis pela educação e formação dos valores 
necessários. Esta realidade provocou mudanças 
sérias quanto à formação afetiva e emocional da 
família comprometendo, inclusive, as identidades de 
cada membro. 
Fonte: http://migre.me/45wbG 
Para ilustrar este fato, tomarei como exemplo uma situação que presenciei 
quando tive experiência escolar: a mãe é chamada para comparecer à escola, a fim 
de ser informada sobre os problemas de comportamento do filho. Contudo, no 
horário marcado, comparecem a mãe e a avó (materna), o pai estava em trabalho no 
exterior e, não comparecia fazia três anos, a não ser por poucos contatos 
telefônicos; a mãe se explica afirmando que quem cuida da criança em tempo 
integral, desde bebê, é a avó, e ela (mãe) não é reconhecida pelo filho como mãe, 
mas a avó, sim. Resultado: a criança não atendia a mãe em nada que lhe fosse 
pedido e, pior ainda, se lhe chamasse a atenção, a criança diziam “você não é a 
minha mãe, não me manda!”; o detalhe é que essa mesma frase era repetida pela 
criança toda vez que a professora, na escola, lhe chamava a atenção. Então, vamos 
aos personagens dessa história: 
 uma criança que sabe que é filho só não sabe de quem; 
 um neto que não sabe que é neto; 
 um pai, que só tem o termo; 
 uma mãe que não é mãe; 
 uma avó que não pode ser avó porque se tornou mãe e, 
 uma professora que não é nada. 
Com exceção da professora, que personagens compõem esta família? 
Ressalto que não há nada contra os pais trabalharem para o sustento 
qualitativo de sua família, contudo, a pouca presença deve ser mais valorizada que a 
dura ausência provocada. Mas Sarti (2010, p.25)5 alerta que: 
 
 
5 Cynthia A. Sarti, Famílias enredadas, p.21-36, in Acosta e Vitale, 2010. 
 
 
 
 
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Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado à 
família. No que se refere às relações conjugais, quem são os 
parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as 
relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo 
conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de 
casamentos, divórcios, recasamentos de casais em situações tão 
diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma 
enorme elasticidade. 
 
As pessoas gestam seus problemas com o trabalho, porque necessitam dele, 
sabendoque há uma vida fora dele. No entanto, não gestam a paciência necessária 
- já que há mais cansaço que saudade – quando são chamados a assumir seus 
papéis. Deixam para os avós, os tios, os primos fazerem o que não acreditam ter 
tempo para fazer. Mas, tais adultos precisam lembrar que a presença valorizada é 
aquela que demonstra a importância das pessoas por quais lutamos (e amamos!). 
Não serão os demais responsáveis por cuidar dos nossos filhos, que poderão dar o 
amor que eles exigem; podem amar sim, como relações duradouras e subjacentes, 
mas que não substituem o afeto dos pais. E isso se aplica inclusive para os filhos 
adotivos, pois em seus íntimos há um vazio, que se explica mediante cada situação 
e que se torna superável mediante os afetos dos pais adotivos. 
Também para ilustrar tais premissas, tomo como exemplo um relato de uma 
mãe que chega a casa e, de cara, vem o filho a lhe pedir “uma coisa”. Antes que o 
filho pudesse completar a frase, a mãe se coloca na postura das compensações, 
prometendo que o levaria ao shopping; que lhe daria um carrinho novo; que lhe 
traria um doce bem gostoso no dia seguinte desde que ele ficasse quietinho e a 
deixasse descansar. 
A criança desolada sai de cena. Mais, tarde, notando o silêncio da casa, 
pergunta para a avó onde está o filho; a mesma diz que já está dormindo. A mãe 
resolve então saber da avó o que a criança queria. A avó diz que o neto queria 
apenas uma foto (da mãe) para colocar num cartão de homenagem que a escola 
estava organizando. Será que é preciso dizer que a avó já havia lhe dado uma 
fotografia da mãe, já que ela não estava só ausente, mas totalmente fora da 
realidade de seu filho.6 
 
6 Ao me referir à mãe, a avó, não pretendo atingir o universo feminino de forma restritiva, são apenas 
configurações, pois incluo pais, avós e todos os demais membros que compõe uma família. 
 
 
 
 
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Portanto, o fato de trabalhar fora, de forma que os filhos fiquem aos cuidados 
de outros, não é o problema, mas é a despersonalização da família que preocupa, 
sobretudo, a escola. Já que nisso há relações envolvidas, há afetos condicionados e 
emoções que não estão sendo tratadas, nem atendidas. Creio que os professores 
sabem bem o que estou falando, porque o maior desafio da escola é aproximar-se 
da família e obter respostas aos comportamentos de seus filhos. 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 - CADA FAMÍLIA TEM SEU MODO DE SER 
 
2.1 Autoridade: falar a mesma língua é bom 
 
Nessa unidade o objetivo é não perdermos o foco da família e de sua 
dinâmica, de forma que possamos entender quem é este grupo e como as questões 
relativas aos processos de aprendizagem e de ensinagem estão muito relacionadas 
a ele. 
Há algum tempo, sem surpresa, ouvimos que toda família é igual, só muda o 
endereço. Em muitos aspectos, o dito popular está correto, pois as funções e papéis 
que garantem à família suas características centrais não mudam de um grupo para 
outro. No entanto, já não se pode dizer que todas as famílias são semelhantes na 
constituição de seus valores e de suas crenças, pois estes princípios implicam num 
conjunto de experiências que incluem uma história, uma cultura, um organismo 
social, ético e político. 
Assim, família se constitui por meio de um processo que soma tempo e 
história, em que cada um de seus membros tem um caráter social assumido e 
dinâmico. Esse caráter também é uma constituição histórica e que marca uma 
representação como, por exemplo, a de autoridade – concebida ao homem, como o 
responsável pela proteção, sustento e manutenção da família. Segundo Lyra (2010, 
p.80), assim se configura esse homem na história: 
 
Esse homem caçador, segundo podemos inferir pela configuração da 
estrutura familiar, e que nesse momento da história não tinha 
consciência de sua condição de pai, era um sujeito que se ausentava 
para as caçadas e as lutas a fim de garantir o necessário à 
sobrevivência. No entanto, era uma pessoa visivelmente envolvida 
na instrução das crianças, nos ritos, na caça e nas lutas. 
 
A autoridade do homem, assim, nasce no conjunto de seus propósitos, pois 
sua posição lhe concedia o poder de acolher, manter e lutar para garantia de 
sobrevivência. No entanto, a mulher também já detinha algumas funções que 
auxiliavam o homem, sendo que ambos conduziam o grupo sob seus domínios – ao 
homem cabia proteger e manter e, à mulher cabia a procriação. 
Mais tarde, porém, essas posições de liderança foram tomando outras 
formas, pois se o instinto de liderança era inerentemente humano, a vontade e o 
poder passariam a sobrepor-se à vontade dos demais. Assim surgia a autoridade, a 
 
 
 
 
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qual culturalmente foi imposta à figura masculina. Desse modo, liderança e poder 
são os elementos centrais da autoridade. Lembrando que quem autoriza tem 
autoridade para isso e, assim, o homem se afasta dos cuidados e atenção com os 
filhos, pois há uma imagem pública que exige outras funções, tais como a de 
autorizar o seu grupo, em outras palavras, o homem é quem manda. A mulher, 
então, assume diretamente estes cuidados com os filhos, sendo-lhe culturalmente 
imposta esta função. 
Essa ideia de autoridade em que o pai detém o poder, consequentemente a 
autoridade, porque sua imagem pública assim requer, e à mãe cabe a educação e 
proteção dos filhos, porque ela é predestinada a isso, socialmente falando, passa a 
ser cultuada nas mais diversas sociedades, notando-se a diversidade de gêneros. 
Nesse sentido Lyra (2010, p.84) analisa que: 
 
Sabe-se que qualquer discussão sobre o cuidado é remetida 
imediatamente ao “universo masculino”, pois desde a infância, com a 
educação familiar e escolar, há um claro 
incentivo e uma cobrança de que o cuidado 
esteja presente na postura das meninas, o 
que é maciçamente reforçado pela mídia, que 
não se cansa de lançar novos modelos de 
bonecas, casinhas, cozinhas, etc. Em 
contrapartida, aos meninos é reservado o 
espaço da rua, com brincadeiras que na 
maioria das vezes exigem esforço físico, 
visando a competição e ao enfrentamento de 
riscos como algo natural e incentivado. 
Fonte: http://migre.me/45ACs 
Dessa análise não é difícil nos defrontarmos com o cenário que envolve 
homens e mulheres quanto aos seus papéis socialmente estabelecidos. Contudo, é 
importante lembrar que as mulheres conquistaram espaços, antes ocupados apenas 
pela figura masculina. Porém, mesmo com essa conquista, continuam a ela 
relegados os cuidados com os filhos, enquanto o homem contribui para o sustento 
da família. 
Mas, é dessa alteração de condutas e papéis, de homens e mulheres, que 
poderemos notar que a conhecida autoridade passou a não ser mais exclusividade 
dos homens. Por mais que discursos machistas afirmem seus preconceitos, a 
mulher passou também a ter uma parcela social de poder e, consequentemente, de 
 
 
 
 
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autoridade, sobre a família, sobre seu trabalho e, até mesmo, sobre alguns de seus 
parceiros na relação conjugal. 
Quanto à criança, é preciso não esquecer que se não der a ela o 
direcionamento necessário, ela se perderá pelo caminho. Em outras palavras, a 
criança, por sua natural necessidade, passa por desenvolvimentos que lhe dão 
comportamentos sobre os quais ela não tem controle, porque não distingue o certo 
do errado, não tem noção dos perigos e das consequências de seus atos, não sabe 
até onde ir e como poder chegar. Enfim, a criança desfruta, em parte, uma liberdade 
com a qual não sabe lidar porque desconhece os princípios e regras que lhe dão 
segurança para agir, necessitando assim da autoridade, seja do pai ou da mãe. 
O fato, é que toda criança copia (reproduz) o que é de comportamento dos 
adultos, bem como a linguagem que usam. Para ilustrar esta premissa, lembro-me 
de uma situação peculiar no dia a dia da escola,a qual tinha por hábito permitir que 
as crianças trouxessem para o contexto um brinquedo, uma vez por semana. Todas 
as crianças passavam pela sala da coordenação pedagógica para poderem se dirigir 
às suas salas de aula. 
Vítor, assim vou chamá-lo figurativamente, com oito anos, é um daqueles 
alunos que além de ser uma criança muito bonita, não sabe o que é ficar quieto, 
deixando boa parte dos funcionários da escola quase enlouquecidos com suas 
peripécias. Naquele dia, em especial, quis saber o que Vítor havia trazido para 
escola para brincar, enfim, qual era o seu brinquedo. Sem delongas, Vítor atende ao 
meu pedido, abrindo a mochila para pegá-lo. Ele retira da mesma uma faca de 20 
centímetros com cabo em madeira e excelente corte, e, ainda me diz que aquilo é a 
melhor “espada” que tinha para brincar. De modo a não deixá-lo assustado – já que 
eu estava – pedi-lhe que me entregasse o suposto “brinquedo”, pois queria mostrar 
para todos a linda espada que o Vítor trouxera e até ia ver se achava uma para mim 
também. Fui aos guardados (e perdidos) da escola e achei uma espada de 
brinquedo, fazendo a troca com Vítor que ficou um pouco desapontado. Mas, 
notando a minha disposição em elogiar o brinquedo verdadeiro, afirmando que 
combinava com ele, ficou feliz com a minha proposta e deixou o objeto cortante 
comigo e foi para sala de aula. 
Apavorado, liguei para a avó e relatei o ocorrido; ela também se assustou e 
disse – “Já disse para ele não brincar com faca.” 
 
 
 
 
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Vamos analisar este caso, fazendo as seguintes reflexões: 
- Vítor não tem limites que, em certa medida, é comum para todas as crianças 
que desconhecem os riscos de alguns objetos que os adultos utilizam; 
- Vítor não sabe, mesmo com oito anos, as consequências de seus atos – 
alguém ainda não o ensinou; 
- Ao falar para Vítor que não é para brincar com faca, não está claro que faca 
não é brinquedo, pois se trata apenas de uma restrição, mas não do sentido que o 
objeto tem. Nesse caso, o certo é, diante do objeto, a avó explicar para o menino 
que faca não é brinquedo, mas sim um objeto que pode machucá-lo tanto quanto a 
outras pessoas. Segundo Grunspun (2004, p.35), “a criança tem necessidade da 
autoridade, além da função primordial da liberdade.” 
Pais, avós e/ou demais responsáveis, devem exercer a autoridade de modo 
que a criança descubra como são importantes suas escolhas, e como a pertinência 
delas dará sentido a todos os segmentos de sua vida, inclusive, na escola. Ainda 
Grunspun (2004, p.35) afirma que: 
 
Conseguindo suprimir impulsos conflitivos e recebendo a ajuda na 
escolha dos seus julgamentos, a criança se capacitará a enfrentar a 
realidade. A autoridade orienta a criança em sua evolução da fase 
inicial instintiva, com busca de prazer pela satisfação das 
necessidades, para a outra fase em que passa a sentir sofrimento 
pela realidade. Se a criança não tiver ajuda da autoridade ficará em 
busca de satisfações imediatas, sem conseguir se ajustar ao 
princípio da realidade. 
 
O que o autor pretende com essa afirmativa é alertar para a necessidade de 
uma autoridade que não é restritiva ou castradora, que não coloca o impedimento, 
ou que toma o lugar das escolhas da própria criança. Estamos de acordo com o 
autor quando assumimos que autoridade é aquela que faz a criança entender sua 
realidade é lhe dá condições de refletir sobre ela. 
Percebemos isso quando, por exemplo, os pais levam com eles a criança ao 
supermercado e, permite que a criança pegue (tudo) o que gosta. O que acontece? 
A criança vai tomando tudo o que gosta e que lhe chama a atenção. Ilustrando: outro 
dia, estava numa loja de brinquedos para escolher um presente para a filha de um 
amigo que aniversariava. Ao meu lado, na sessão das bonecas Barbie, uma mãe 
zangada com a filha pequenina (a qual devia ter uns 4 anos), porque toda boneca de 
que ela gostava, queria que a mãe comprasse. Evidentemente, choro e lágrimas 
 
 
 
 
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compunham a cena. O mais acertado seria a mãe conversar com a criança fora 
desse ambiente - ou antes, ou mesmo na hora do ocorrido. Explicando para a filha 
que nem tudo o que se gosta se pode ter, inclusive ela (mãe). Filhos precisam de 
modelo e de nada adianta zangar com a criança sem colocar-se como modelo. Por 
isso a ideia que o autor descreve como a fase de sofrimento da criança pela 
realidade. 
Que bom seria se filhos viessem com manual de instrução e baterias 
ajustáveis. Também seria interessante que as pessoas antes de se tornarem pais 
fizessem graduação e pós-graduação para atuarem com seus futuros filhos. Mas 
sabemos que essas bem humoradas ideias são apenas trocadilhos. Então só nos 
resta aprender como a autoridade não pode retirar da criança sua função de 
liberdade, mas ensiná-la a conduzir com segurança suas escolhas. 
Ao chamar a atenção da criança, é preciso olhar diretamente em seus olhos, 
falar em voz baixa, demonstrando firmeza na voz e na ideia. Do mesmo modo, a 
delicadeza deve ser exercitada nos gestos e nas palavras, elogiando o que é de 
valor e explicando o certo. Nesse sentido, é preciso ser razoável, sendo justo ao que 
é pertinente à criança de acordo com sua faixa etária. E a consistência aos 
comandos deve ser mantida, não havendo contradições entre o dito e o feito. Assim 
temos as quatro qualidades da autoridade. (GRUNSPUN, 2004) 
Por outro lado, o excesso de autoridade não permite à criança entender onde 
fracassou, porque se sente ameaçada e intimidada, sendo obediente somente 
quando for ameaçada. Geralmente, nesse tipo de comportamento encontramos pais 
muito inseguros e frustrados, porque espelham suas dificuldades quando foram 
filhos nos seus filhos. Assim, querem que a criança seja o que não foram, que 
consiga o que não conseguiram, enfim, detonam com a identidade da criança. 
Já os pais tiranos, aplicam penas severas, cruéis e injustas; tais medidas são 
mais acessíveis, custam pouco e não requerem valores mais aprofundados. Então, é 
mais fácil agredir que conversar; é mais fácil gritar que ouvir; é mais fácil coibir que 
dirigir. Esses pais são dominadores e acreditam que isto ou aquilo é o melhor para 
os seus filhos, fazendo com que estes tenham medo do mundo e nenhuma ambição. 
E, há pais que exercitam o excesso ou nenhuma autoridade, sendo os que 
mandam, gritam, batem, menosprezam os sentimentos dos filhos e os castigam; 
 
 
 
 
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mas, horas depois, dão presentes, levam ao shopping, como forma de fazer com 
que as crianças tenham sentimentos de culpa, mais que a clareza sobre seus atos. 
Desse modo, a superautoridade, a tirania e a autoridade instável, são as 
patologias da autoridade. (GRUNSPUN, 2004) 
Agora, o pior disso tudo é que a criança vai buscar, na escola, na figura do(a) 
professor(a), tais autoridades, porque são seus modelos, refletindo no 
desenvolvimento de sua aprendizagem. Nesses casos, sugere-se que os 
professores não assumam a autoridade que a criança está projetando, mas que 
demonstrem pelo acolhimento, diálogo e parcerias, a autoridade que contradiz aos 
modelos que ela adquiriu em suas famílias. Desse modo, a criança poderá não só 
alterar seu comportamento, mas identificar sua liberdade ante suas escolhas. 
 
2.2 Rituais familiares 
 
“Todo dia ela faz sempre tudo igual...me sacode as 6 horas da 
manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com boca de hortelã.” 
 
(Cotidiano, Chico Buarque) 
 
Os rituais familiares, os quais vamos resumidamente analisar e, em certa 
medida, refletir, são um dos mais importantes elementos para a formação de hábitos 
de aprendizagem das crianças. Não estamos falando de rotinas uniformes com 
caráter pragmático e, até mesmo, missionário; mas, de rituais que são necessários 
para fortalecer as relações entre os membros da família e que, progressivamente, 
vão dando significado aos rituais sociais.Mas, afinal que são estes rituais familiares e qual a sua influência na vida das 
pessoas? 
A comemoração de uma criança que nasce; um 
batizado religioso; comemorar o aniversário da 
criança,..., são rituais familiares. Tais situações 
parecem, além de muito subjetivas, simples eventos 
comemorativos. De certa forma, são sim, mas estes 
têm um caráter social. Mas, tomar o café, almoçar, 
lanchar ou jantar, todos juntos à mesa, não são eventos 
simples, tampouco, subjetivos. 
Fonte: http://migre.me/45B56 
 
 
 
 
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Mas, em que isso se aplica à aprendizagem? Aplica-se ao processo de grupo 
e sua ritualização. Porque a criança aprende, primeiramente, em grupo familiar, se 
insere a outros grupos para aprender com outros elementos deste e, na escola 
aprende em grupo. Como se percebe, os rituais não são simples eventos, mas um 
processo de grupo que se organiza para o fim, um objetivo que é igual para todos. 
Nota-se, assim, alguma semelhança muito clara com o processo de aprendizagem 
que tem que ser organizada para um fim, tendo um objetivo igual para todos. 
Mas, com a globalização e as demandas sociais – de trabalho, produção e 
capital – cada vez mais acentuadas, tais rituais têm perdido a força nos grupos 
familiares, sendo que sua importância é nada, ou quase nada, comparada a outras 
preocupações que as pessoas estão vivenciando. 
Em contrapartida, assistimos crianças que não conseguem ficar sentadas em 
suas carteiras, que não sabem a hora certa para falarem, que não respeitam os mais 
velhos diante de seus atos, que teimam em suas façanhas, numa postura desafiante 
e, até mesmo, ameaçadora. Defrontam-se com os professores, independente de sua 
idade, desafiando aos demais e à própria família. Assistimos, com certo temor, aos 
noticiários nos quais crianças são apontadas como delinquentes marginais, ladrões, 
assassinos, prostitutas. 
Para ilustrar, o que acabo de afirmar, difícil será aquele que não assistiu na 
tevê à notícia de que fora apreendido um ladrão de carros, numa cidade do interior 
paulista, que roubara mais de trinta carros; detalhe: foi preso porque foi abordado 
por um guarda de trânsito, quando dirigia em alta velocidade pelas ruas da cidade. O 
mais surpreendente: o ladrão de carros tinha só onze anos de idade. Os pais foram 
chamados à delegacia para prestarem esclarecimentos sobre o menor infrator; ao 
ser questionado pelo delegado, o pai, como o único responsável a comparecer, 
afirmou que não dava conta do menino e pedia sugestões à autoridade ali presente. 
O que se perdeu no interior dessa família? Aliás, de muitas famílias? Perdeu-
se a natureza das relações, na qual os ritos de grupo passaram a ser insignificativos. 
Dessa forma, a criança não toma café em casa antes de ir para escola, vai lanchar lá 
com o dinheiro que os pais já lhe deram. A criança não vai almoçar com os pais, pois 
estes trabalham em tempo integral e não possuem um horário fixo para este 
momento. Os responsáveis pela criança não vão contrariar a criança se ela quiser 
 
 
 
 
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fazer as refeições (todas elas) na frente da tevê, mal acomodada no sofá da sala, 
afinal, a “coitadinha” já não vê os pais o dia todo, para que forçar? 
Em contrapartida, a criança não vai ficar quieta, sentada na sua cadeira, não 
vai falar no seu tempo, não vai respeitar os demais na fila do lanche, etc. Porém, não 
estamos falando aqui de criança que não é criança -pois todas possuem energia de 
sobra para pularem, correrem e gritarem o tempo todo; o oposto disso, é criança 
doente- mas de crianças que conhecem as regras a partir de rituais familiares que 
são importantes para essa formação de postura. 
A indisciplina que assistimos na escola é fruto dessa ausência de rituais de 
grupo, pois como a criança poderá aprender a disciplina na ausência de seu grupo 
modelo, a família. Ressalto, que pais que se ausentam por questões de sustento, 
são respeitáveis, mas, como já disse anteriormente, a presença deve superar a 
ausência. Segundo Vasconcellos (2004, p.26) é certo que: 
 
Atualmente o grande foco da crítica e da atribuição de 
responsabilidades pelos problemas da indisciplina na escola é o 
aluno e, em particular, sua família. De fato, percebemos muitas 
famílias desestruturadas, desorientadas, com hierarquia de valores 
invertida em relação à escola, transferindo responsabilidades suas 
para escola, etc. Tudo isso é verdade. Objetivamente, a família não 
está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória: 
estabelecer limites, desenvolver hábitos básicos. 
 
A organização prévia das atividades de grupo, os rituais, pode ser uma 
maneira de alterar esse cenário de indisciplina. Pois, aos pais cabe orientar aqueles 
que cuidarão de seu filhos para que os rituais sejam atendidos, tais como, fazer as 
refeições à mesa. Assim, se poderá exigir que a criança tenha uma postura 
adequada perante outros grupos como, por exemplo, o grupo da escola. 
 Por outro lado, na escola, os professores podem mediar situações grupais 
em que a criança perceba a necessidade de se organizar para partilhar das 
atividades. Brincadeiras e jogos em grupo podem fazer a diferença, sobretudo, se 
estabelecer regras e condutas para a participação. 
 
 
 
 
 
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Exercício 2 
 
1. A sociedade chama de “padrão normal”: 
a) As relações que a família possui no seu contexto social. 
b) As aprendizagens reprodutoras da escola. 
c) As manifestações familiares que a sociedade exige. 
d) As interações e a aprendizagem, sadias e convencionalmente adequadas. 
 
2. Toda família é igual quanto às suas funções e papéis. No entanto, as 
famílias não são semelhantes quanto: 
a) À constituição de seus valores crenças, ou seja, princípios e experiências. 
b) À formação de seus membros, ou seja, natural ou multinuclear. 
c) Estruturas culturais e históricas, ou seja, sua origem e sua adaptação. 
d) Seus elementos e suas funções, ou seja, pais e avós. 
 
3. As quatro qualidades da autoridade são: 
a) Diálogo, comunicação, inserção e amabilidade. 
b) Firmeza, delicadeza, razoabilidade e consistência. 
c) Objetividade, serenidade, acolhimento e diálogo. 
d) Certeza, diálogo, objetivo e razão. 
 
 
2.3 O respeito não é unilateral 
 
O respeito é um dos comportamentos que deve ser ensinado à criança pelos 
pais, como parte que integra a autoridade; e os pais devem ser o modelo para que a 
criança não tenha dúvida quanto à importância do respeito. 
Mas, na maioria das vezes, a questão do respeito perpassa até mesmo o não 
entendimento dos pais sobre isso. Pois são eles mesmos que deturpam este 
comportamento, dando exemplos nas suas relações que contradizem o que 
ensinam. 
Segundo Grunspun (2004, p.42), “o respeito é uma relação estabelecida para 
com uma determinada pessoa ou situação, relação esta envolvida de consideração, 
interesse e de particular atenção.” Desse modo, o respeito deve ser ensinado de 
modo que a criança entenda que as relações que envolvem pessoas requerem 
consideração, pois cada pessoa tem um papel formado na relação – seja familiar ou 
não; deve haver um interesse, porque toda relação é intencional, não no sentido do 
oportunismo, mas de necessidades que se complementam; e, deve ter particular 
 
 
 
 
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atenção, porque cada pessoa tem um repertório íntimo e crenças que são parte de 
sua identidade. 
Assim, as relações estabelecidas com base no respeito que são ensinadas 
para a criança lhe proporcionam uma formação de relações sadias, nas quais ela 
terá mais segurança e iniciativa para o diálogo. 
No entanto, como disse anteriormente, há pais que deturpam este 
comportamento, dando exemplos nas suas relações que contradizem o que 
ensinam. Então, falam uma coisa, mas fazem outra. Exemplo comum é aquele em 
que os pais ensinam que não deve bater no coleguinha da escola, mas se apanhar 
deve retrucar. Outro exemplo comumé os pais ensinarem que não se deve mentir, 
mas quando não querem atender o telefone, pedem à criança que atenda e minta 
dizendo que não estão presentes. E o pior, na minha opinião, é dizer que a criança 
precisa respeitá-los porque são seus pais. Na primeira oportunidade, a mãe chama 
atenção da criança porque fez algo que não devia, o pai diz para criança que a 
mamãe está nervosa e que ela não precisa se preocupar, porque está tudo bem. 
Assim, fica claro que não falam a mesma língua. 
Respeito não é uma condição unilateral: ou se tem ou não se tem; não existe 
meio respeito ou se respeita mais ou menos. É como dizer à criança que ela precisa 
ir para escola porque lá aprenderá coisas muito legais e que ela terá uma professora 
que lhe ensinará bastante coisas. Essa imagem da escola é muito gratificante. 
Contudo, na primeira chamada de atenção que a professora der, a criança irá se 
assustar e reclamar para os pais – com certeza, alguém vai lá tirar satisfação. 
Agora a imagem da escola é outra e, pior, dos seus atores também. Poderia 
não ser assim, se os pais ensinassem que a criança terá mais um novo ambiente 
para aprender, mas que são os professores que cuidarão disso, por isso deve 
respeitá-los e, somando-se a este diálogo, fazer a parceria necessária para que 
todos falem a mesma língua e a criança aprenda que o respeito não deve ser 
unilateral. 
Nesse sentido, Grunspun (2004, p.101) afirma que “a educação da família 
depende das atitudes dos pais. Quando as atitudes dos pais são corretas e sadias, a 
educação da família se torna perfeita.” 
 
 
 
 
 
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2.4 Capacidade de amar e cuidar 
 
“Quem me chamou...Quem vai querer voltar pro ninho...Redescobrir 
seu lugar. (Brincar de viver, Guilherme Arantes) 
 
A família é o único grupo capaz de amar e cuidar, protegendo-se no seu 
interior, sendo a primeira ensinante mais importante em todas as sociedades do 
mundo. Tem uma representação própria, marcadamente intercultural, ou seja, é um 
grupo com uma identidade histórica, que tem seus ritos diários, a rotina específica, 
que tem discursos próprios devido aos princípios e valores conquistados na sua 
trajetória de existência. 
Assim também, diferencia-se na sua forma de amar, sendo este um 
sentimento que implica em intimidade, cumplicidade, companheirismo, afeição, 
emoção e acolhimento, desenvolvido de acordo com as origens emocionais que os 
progenitores herdaram. Vou explicar isso da seguinte forma: o nível de amor que os 
pais recebem é o mesmo nível de amor que darão a seus filhos. Mas já aviso que 
isso não é uma regra estabelecida e não pode ser generalizada, porque há pessoas 
capazes de superar suas privações afetivas e na simplicidade que as conforta 
aceitar, com alegria, o pouco de afeto que puderam lhe ofertar. 
Poderia se dizer que algumas pessoas aprenderam a amar, 
incondicionalmente, porque descobriram que este sentimento tem uma extensão 
mais ampla nas vivências que se propõe experienciar. Parolin (2005, p.54-55), nesse 
sentido, afirma que: 
 
À medida que cresce, cabe aos pais mostrar-lhe que ela é importante 
sim, porém, não é a única pessoa importante no mundo; que ela é 
amada sim, porém não é o único objeto de amor de seus pais. 
Localizar a criança em um contexto socioafetivo mais amplo é tarefa 
importantíssima para sua adequação social. 
 
Portanto, o amor vivenciado na família tem uma influência enorme e 
importantíssima na vida de todos os seus membros e irá refletir na continuação 
dessa família. 
E, a dimensão do sentimento de amor pode ser mais evidente na forma de 
cuidar e cuidar-se enquanto família. Em outras palavras, a forma de cuidar, um dos 
outros, assim como da criança, é a expressão de seus sentimentos. Assim, pessoas 
que se cuidam mutuamente expressam o valor que tem umas com as outras. O 
cuidar, solicitado até em forma legal aos pais, inclui desde sua concepção, todas as 
 
 
 
 
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atenções para o pleno desenvolvimento do indivíduo, a sua formação como pessoa, 
como sujeito social e, sobretudo, a formação como pessoa capaz de cuidar dos seus 
entes. E isso ultrapassa as barreiras do tempo e das eras, como diz Pinheiro e 
Biasoli-Alves (2008, p.25): 
 
Conforme as transformações sociais vão ocorrendo, surgem, ao 
mesmo tempo, diferentes resultados que afetam a dinâmica da família 
e do casal, o que nos permite situar as questões que envolvem o 
papel desempenhado por cada um dos seus membros, 
particularmente, pai e mãe. 
 
Essa premissa apenas confirma o muito do que já dissemos nessa unidade, a 
família é a nossa primeira ensinante, nosso berço afetivo, nossa introdução ao 
mundo social. Cabendo a ela a responsabilidade total e irrestrita de cuidar, proteger 
e amar, independente dos fatores e das condições que nela se inserem. Qualquer 
outro contexto é incapaz de cumprir com exatidão as tarefas que somente cabem à 
família. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 - RELAÇÕES VINCULARES 
 
3.1 Valor dos Vínculos: princípio das relações maternais, paternais 
e sociais 
 
Minha dor é perceber que apesar de termos, feito tudo o que fizemos. 
Ainda somos os mesmos. E vivemos. Como os nossos pais. (Como 
nossos pais, Elis Regina) 
 
O desenvolvimento emocional de um ser humano está vinculado à maneira 
como ele consegue estabelecer relações, assim como do jeito que lida com as crises 
ou conflitos naturais à convivência humana. O primeiro contato relacional que o ser 
humano institui é com os pais, mais especificamente com a 
mãe. O relacionamento mãe-filho é decisivo para a 
formação emocional. 
No decorrer da gravidez, as emoções, os conflitos da 
mãe, as circunstâncias de nascimento, tudo isso, de certa 
forma, nos influencia emocionalmente. É uma forma de 
entendermos melhor as atitudes do dia a dia de uma 
pessoa. 
Fonte: http://migre.me/46os0 
O momento emocional da mãe, como ela se sente, os medos, as ansiedades, 
são percebidas/sentidas pelo bebê. Ideias de interromper a gravidez e fazer um 
aborto são emoções captadas pelo feto em formação. Certos acontecimentos 
traumáticos, brigas, também são percebidos e até de certo modo influenciam a 
criança. 
Muitas vezes, esta relação mãe e filho se torna simbiótica ao longo de muitos 
anos, impedindo que este cresça e se fortaleça a partir do enfrentamento da vida, 
das crises, das carências. É a falta que promove a busca e é a aventura da busca 
que faz o homem. Provavelmente, os pais também foram "mal formados" através da 
educação que receberam, podem ser neuróticos ou mal resolvidos emocionalmente. 
As influências familiares e as regras sociais acabam tolhendo o nosso eu real; na 
realidade, muitas pessoas não têm tempo para expressar essa verdadeira natureza, 
pois pela educação recebida, desde muito cedo, vão sendo "moldados" segundo o 
padrão da família e da sociedade. 
 
 
 
 
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Estas solicitações acabam impondo que nos moldemos num tipo adequado 
de pessoa. Comentários repressores, críticos, que vão podando o eu genuíno, e 
impondo um padrão certo, o qual achamos que temos que seguir, para garantir que 
sejamos aceitos, amados, respeitados. 
A mulher só aprende a ser mãe, quando se torna mãe e devido à falta de 
preparo, às vezes fica confusa e não percebe a dimensão e importância de seu 
papel. Na verdade, a mãe segue seus instintos, passando para o filho seus 
componentes de personalidade, conduzindo o desenvolvimento de seu filho de 
acordo com o que aprendeu com seus pais, transmitindo sentimentos, pensamentos, 
medos e expectativas oriundas de gerações anteriores e assim ela vai rascunhando, 
isto é, formando uma nova personalidade. A mãe oferece na realidade, o seu 
conteúdo emocional enquanto filha, esposa e mulher. 
A criança inevitavelmente passará por todas as fases biológicas de 
desenvolvimento, do desmame aos primeiros passos, do seu engatinhar ao balbucio 
das primeiras

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