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1 2 Apresentação Quando em 1985 publicamos este trabalho, a nossa idéia foi apresentar os principais problemas do Setor Pesqueiro e as alternativas de soluções. Realmente essa foi a nossa intenção. Queríamos provocar a atenção de todos para as dificuldades, acordar os responsáveis direta ou indiretamente pelas decisões, de tal modo à não se perder mais tempo com soluções paliativas demagógicas. Infelizmente, 10 anos depois, quase nada mudou. Os problemas até se agravaram. O peixe continua caro e escasso. Incentivado por amigos estou publicando esse trabalho, atualizado, na esperança de um novo tempo. Continuarei na luta até o dia em que as nossas autoridades se conscientizarem que a maior dádiva que a natureza deixou para nós amazonenses, o peixe, tenha tratamento prioritário. 3 Introdução Há muito tempo ouvimos falar da importância que os governos se propõem a dar para o Setor Pesqueiro. O Governo Federal, apesar da criação da Superintendência do Desenvolvimento da Pesca-SUDEPE, em 1962, sentia que a pesca não acompanhava o desenvolvimento de outros países e até mesmo dos outros setores da economia brasileira. Por isso, a partir de 1967, através da criação dos Fundos de Investimentos Setoriais, tentou estimular o Setor Pesqueiro oferecendo incentivos fiscais. Acontece que o avanço tecnológico e os atrativos fiscais basicamente se concentravam na pesca litorânea. Nos Estados interiores e, por incrível que pareça, principalmente no Amazonas, nada ou quase nada se faz para melhorar as atividades pesqueiras. Em governo algum sentimos concretamente uma ordenação da política pesqueira. A antiga SUDEPE-AM, infelizmente, por problemas diversos, políticos e econômicos, não conseguia se afinar com os responsáveis pelo abastecimento e a produção no Estado. Hoje, com o IBAMA ainda não existe programação ou planejamento para resolver os problemas do pescado; existem soluções paleativas, demagógicas e que prejudicam a atividade, porque mascaram os custos e desanimam os produtores e futuros investidores do Setor. Quando menino, já acostumávamos ouvir pronunciamentos inflamados de candidatos e nunca se fazia referência à pesca. O peixe aqui estava, abundante e não era motivo para preocupação. Não deveria se esgotar. A natureza encarregar-se-ia de promover o equilíbrio das espécies, o povoamento de nossos lagos e rios. Vinha sendo assim há muitos séculos e os homens públicos tinham coisas mais importantes para pensar. As primeiras manifestações de preocupação com a pesca, que merecem respeito, começaram no final dos anos setenta. A partir de então lemos com freqüência pronunciamentos de políticos, pareceres de técnicos em programas de governo, tais como "a pesca detém relevante papel na vida sócio-econômica estadual, pois as relações da população com essa atividade são de quase total dependência". (CEPA - Projeto de Apoio à Pesca, 1982). O peixe hoje faz parte de qualquer plataforma eleitoral. Inúmeros têm sido os posicionamentos de políticos sobre a pesca predatória, defesa do consumidor, guerra aos atravessadores, fim dos despachantes e outros assuntos que apaixonam a opinião pública e contabilizam votos. Mas, infelizmente, fica somente nisso. O peixe nunca lhes faltou à mesa. Durante nossa permanência na SUDEPE até 1984 nunca recebemos visita de um político interessado em resolver os problemas da pesca. No entanto, de quando em vez os noticiários são ocupados por críticas agressivas, sem contudo oferecerem sugestões. É bastante fácil e dá maior "ibope" atacar os despachantes, os atravessadores ou os fiscais de pesca, que oferecer soluções ou ajudar na busca dessas soluções. Temos certeza de que, se procurassem conhecer essas discutidas figuras, veriam que, apesar de tudo contribuem, a seu modo, principalmente pela omissão do Poder Público, para que não falte o peixe à mesa do amazonense. O Governo do Professor, José Lindoso, em sua visão de homem preocupado em fazer história, rejeitou um projeto elaborado pela SUDEPE, em 1977, para construção do Terminal Pesqueiro de Manaus. Os recursos estavam alocados e a área definida. O Governo achava que o problema da pesca no Amazonas não estava somente na falta de um Terminal Pesqueiro em Manaus. A solução deveria ser abrangente, atacando de uma 4 só vez todos os segmentos: captura, frigorificação, salga, comercialização, extensão pesqueira e piscicultura. Concordamos. Todavia não entendemos porque não se construiu o Terminal Pesqueiro com recursos a fundo perdido e se preferiu pedir dinheiro emprestado ao BNDES, para execução de um novo projeto do próprio governo Estadual que acabou também não sendo construído. Que se construísse o Terminal Pesqueiro com os recursos da SUDEPE e para as outras obras se solicitasse financiamento ao BNDES. O interessante é a história continuar se repetindo. Os esquemas continuam funcionando. Devem as coisas ficar como estão: assim "todos" ganharão mais. Os amazonenses teimam em não reconhecer que o peixe é a nossa principal vocação. Os nossos dirigentes preferem inventar novas opções, deixando escapulir por entre os dedos aquilo que a natureza nos deixou. A Amazônia representa para o Brasil uma esperança na produção de alimentos. O Estado do Amazonas muito poderia contribuir nessa produção. As nossas várzeas são férteis e precisam ser exploradas "racionalmente", com planificação, sem querer inventar, plantando o que realmente temos vocação e necessidade, não esquecendo que só temos acesso às "restingas"que margeiam os nossos rios. A potencialidade de nossos 45.000 km de rios também poderia ser melhor administrada. Os recursos pesqueiros do Amazonas, se manejados convenientemente, ofereceriam pescado em abundância para consumo interno e para exportação. Basta para isso que se leve a sério a atividade pesqueira e não nos esqueçamos de que o peixe é um recurso natural facilmente renovável, desde que bem administrado. Dispõe o Estado do Amazonas, 2.189.457 habitantes, distribuídos em 62 municípios, com uma área total de 1.558.987 Km2. A distribuição dessa população é muito irregular. Manaus, com 1.115.414 habitantes, representa 51% da população do Estado. A população rural, distribuída esparsamente, tem maior concentração na microrregião 10, Baixo-Amazonas, exatamente a mais desenvolvida. Nessa área encontram-se localizadas, além de Manaus, as maiores cidades do interior amazonense: Itacoatiara, Manacapuru, e Parintins. (1) As demais microregiões são de densidade demográfica muito pequena, ocasionada principalmente pela falta de opções econômicas. Com a crise da borracha, levas e mais levas de seringueiros, em sua maioria nordestinos, abandonaram os altos rios em busca de centros populacionais para conseguirem a sobrevivência. Os nossos seringais foram abandonados e os seringalistas, em sua grande maioria, procuraram vender suas propriedades para grupos do Sul, interessados em projetos agroindustriais ou agropecuários. A partir de 1973, com a crise do petróleo, a produção de borracha sintética apresentou um aumento de custo incompatível com os países dependentes de importação de petróleo. O Brasil, através da criação do PROBOR (PROGRAMA DE INCENTIVO À PRODUÇÃO DE BORRACHA NATURAL) tentou sem êxito, retornar a posição de grande produtor de borracha natural. Com esse instrumento alguns seringais foram repovoados e novos projetos para seringais de cultivo foram implantados. Todavia, ficamos ainda, muito aquém dos objetivos preconizados, apesar do gigante esforço desprendido pela Superintendência do Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVEA). Esse esforço para repovoamento dos seringais talvez tivesse surtido efeito se não houvesse o fascínio que as cidades exercem sobre as populações do interior e os "empresários" do asfalto tivessem levado a sério às intenções do Governo Federal. 5 A criação daZona Franca de Manaus aumentou a tendência do interiorano de abandonar a sua terra em busca de "melhores" condições de vida. Contribuíram para isso a educação acadêmica que recebe, totalmente inadequada para a Região, a falta de uma política voltada para o interior e os preços desestimulantes para a pouca produção do setor primário. Por todas essas razões, nos municípios com maior densidade populacional temos encontrado problemas seríssimos envolvendo pescadores e ribeirinhos. Ocorre que, com o aumento da população de Manaus principalmente pela falta de estrutura nesta capital para desembarque, estocagem e comercialização de pescado, temos períodos de abundância, com preços acessíveis aos consumidores e não remunerando muitas vezes aos produtores e período de escassez quando os preços atingem patamares absurdos. Em 1982, com a enchente atingindo a cota de 27,94m os igapós e cabeceiras dos rios, onde os peixes ficavam protegidos e com maior abundância de alimentos, transbordaram provocando a saída das espécies, aumentando, em conseqüência, as facilidades de captura, fazendo com que a produção ultrapassasse as 30 mil toneladas, mesmo levando-se em consideração a falta de interesse dos pescadores em capturá-los no período abril/junho, pelo preço não remunerado, ausência de compra pela indústria e falta de estrutura de frigorificação à disposição dos armadores de pesca. De 1984 em diante, infelizmente não temos dados oficiais sobre a produção de pescado, já que os controles de desembarques, ontem executados pela SUDEPE, hoje foram pelo IBAMA desativados, entretanto, em 1992, dez anos depois, o fenômeno se repetiu. O consumo de pescado per capita do amazonense, o maior do Brasil, que já ultrapassou 56 kg/ano vem decrescendo em razão dos preços proibitivos, chegando-se a pagar por um quilo de peixe nobre, Tambaqui e Pirarucu, mais caro que por um quilo de carne de primeira. O consumo per capita do nosso caboclo do interior já chegou a ultrapassar 150 kg/ano, o que demonstra claramente que o peixe é o principal alimento do amazonense. Hoje, o peixe tem no frango importado do sul do Brasil, um sério concorrente até mesmo no interior do Estado. Analisando-se a produção do pescado desembarcado, observa-se que vinha se mantendo na mesma média anual, razão pela qual os preços dos peixes nobres e especiais têm subido, uma vez que o consumo, em face da "inchação"de Manaus, tem aumentado assustadoramente. Em compensação os preços dos peixes de 3a Categoria têm épocas que praticamente são doados pelos pescadores, já que o valor cobrado pelos despachantes não cobre sequer as despesas com o diesel usado pelos barcos que chegam a vender um cento de jaraqui por mil cruzeiros, como ocorreu no mês de maio/92, não somente em Manaus mas em todo o Estado do Amazonas. 6 PRODUÇÃO DESEMBARCADA E CONTROLADA NO ESTADO DO AMAZONAS FONTE: SUDEPE – AM 7 AS ESPÉCIES O Estado do Amazonas, segundo Wolfang Junk, tem mais de 2.000 espécies de peixes, agrupados em dois tipos: COMESTÍVEIS e ORNAMENTAIS. Sem sombra de dúvida somos possuidores da mais rica fauna ictiológica do mundo. Possuímos uma verdadeira jazida de proteínas, mas infelizmente não estamos sabendo explorá-la. PEIXES COMESTÍVEIS Das espécies de peixes, usados na alimentação humana e que habitam o nosso emaranhado de rios e lagos, menos de 50 são exploradas comercialmente. Os peixes comestíveis são classificados em quatro categorias, de acordo com a preferência dos consumidores. 8 ESPÉCIES DE PEIXES COMESTÍVEIS QUE TÊM MAIOR VALOR COMERCIAL, COM SUA CLASSIFICAÇÃO POR ESPÉCIE NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO CATEGO RIA Acará-Açu Pescada Tucunaré Astronutos oceallatus (Cuvier) Plagioscion esquamosissimus (Beckel) Cichla ocellaris (Schneider) Especial Especial Especial Matrinxã Tambaqui Sardinha Pacu Pirarucu Brycon hilarii (Valencíennes) Colossoma macropomum (Spix) Triportheus angulatus (Spix) Metynnis hypsauchen (Mueller & Troschel) Arapaima gigas (Cuvier) 1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria Curimatã Aracu Jaraqui Pirapitinga Branquinha Prochilodus nigricans (Agassiz) Leporinus fasciatus (Bloch) Prochilodus insigniss (Schomburgk) Colossoma bidens (Cope) Anodus laticeps (Valenciennes) 2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria Surubim Dourado Jandiá Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus) Brachyplatystoma flavicans (Castelnau) Rhandia schomburgkii (Bleeker) Brachyplatystoma vaillantii (Valencieennes) 3a Categoria 3a Categoria 3a Categoria 3a Categoria Piraíba Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein) 3a Categoria Essa classificação hoje precisa ser revista. Os novos hábitos incorporados à população, trazidos a partir da implantação da Zona Franca, com a chegada de pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo, com certeza fizerem com que o Pirarucu fosse considerado como especial e os peixes lisos (bagres) deixassem de ser de terceira categoria. O filé de peixe de pele (lisos) está freqüentando as cozinhas dos melhores restaurantes e das mais ricas residências de Manaus. O Tambaqui, até pelo seu preço, tem que ser considerado especial. 9 O amazonense precisa adquirir novos hábitos alimentares, consumir outras espécies de pescado. Alguns de nossos peixes são consumidos, aqui mesmo no Amazonas, por estrangeiros ou brasileiros de outros Estados e causam admiração e espanto aos nossos conterrâneos. Um dos fatores que limita o consumo de algumas espécies é a grande quantidade de espinhas que possuem. As classes mais abastadas normalmente não procuram os peixes com muitas espinhas, pelos riscos que elas representam, principalmente às crianças.Como solução costuma-se "ticar" os peixes, de forma que as espinhas sejam todas cortadas em minúsculos pedaços e possam ser ingeridas sem dificuldade. Essa operação para quem não tem prática é demorada e nada agradável. Seria interessante que se desenvolvesse um método industrial, que possibilitasse "ticar" mecanicamente os peixes, a exemplo das máquinas de descascar camarões. Outra fórmula seria o trituramento e cozimento das espécies hoje não aproveitadas, transformando-se em filés ou postas. Muitas seriam as espécies que poderiam ser aproveitadas nesse processo, mas damos ênfase a Piracatinga (Callothysus macropterus) pequeno bagre que está se constituindo num problema para os pescadores face à grande quantidade existente em nossos rios e à sua voracidade, além dos peixes que vêm nas redes, capturados juntamente com os do cardume (fauna acompanhante), que são jogados fora, como peixe-cachorro e o próprio Jaraqui, por sua abundância. Estas espécies também poderiam ser utilizadas como matéria-prima de pequenas indústrias que se dedicassem a produção de produtos tais como: fish-burguer, lingüiça de peixe, peixe em conserva e "delicatessem", produtos esses que acreditamos ter mercado garantido a nível nacional e que se constituiriam uma atração para os turistas que visitam Manaus. Vale salientar que o INPA, em convênio com a SUDEPE à época, desenvolveu estudos a esse respeito, obtendo resultados positivos restando somente divulgação e uma ação concreta do Governo do Estado que incentive a implantação dessas indústrias.Como exemplo citamos o tratamento que hoje algumas indústrias dão aos camarões de água doce (Macrobrachium amazonicus): após serem cozidos e prensados são transformados em camarões grandes, com sabor de camarão marinho e exportados para o exterior. Esse mesmo método poderia ser utilizado para preparar filés, almôndegas e bifes de peixe não comercializados ou das espécies menos nobres como Jaraqui, Curimatã e Branquinhas. Uma das formas de aproveitamento de outrasespécies não conhecidas.e até mesmo do excedente de jaraquis e outros peixes populares, seria a fabricação de farinha de peixe ou Piracuí.de Concentrado Proteico de Peixe (peixe em pó) e especialmente de peixe em Flocos para a alimentação escolar. Os peixes sem valor comercial, caputados juntamente com os cardumes, seriam transformados por pequenas fábricas desses produtos e vendidos a Merenda Escolar para a alimentação de nossos estudantes. O Peixe em Flocos, popularíssimo na Ásia, principalmente entre a população infantil, poderia ser produzido até mesmo nas escolas, usando-se dos utensílios básicos da cozinha ao moderno equipamento industrial. 10 CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES DE MAIOR VALOR COMERCIAL 1 - PESCADA É um Sciaenidae que pode atingir até 65 centímetros. Carnívoro que habita os ambientes calmos. Vive normalmente em abrigos de pedras, permanecendo no fundo pela manhã e saindo a procura de alimentos pela parte da tarde. A noite vive nas proximidades das praias e embocaduras dos rios. É pescado, de setembro a novembro, época em que os cardumes são maiores. A pesca é feita com rede de arrastão, malhadeiras e anzol. A pesca com anzol, quase sempre usando-se camarão como isca, efetuada com linha-de- mão e na "boca" dos rios, é das mais interessantes e divertidas. 2 –TUCUNARÉ Peixe dos mais bonitos e saborosos do Amazonas de coloração prateada, carregada de pigmentos de cor sépia no dorso, com três barras transversais sobre os flancos, nadadeira dorsal escura com manchas circulares amarelo-brancacentas, e olho negro marginado de amarelo na base de nadadeira caudal, vive em águas calmas e remansos. A exemplo da Pescada, é carnívoro e se alimenta principalmente de insetos e pequenos peixes. Pode atingir até 80 centímetros e doze quilos de peso. A sua maturidade se completa entre 11 e 12 meses, com desova mais freqüentemente de julho a dezembro. Peixe agressivo, faz com que ainda se mantenha a pesca tradicional, com anzol, pinauaca e currico. Atualmente, para a sua pesca está sendo muito usado como isca, pequenos peixes vivos fisgados em anzóis com linha comprida. A captura fica acentuada no período da vazante dos rios, de agosto a dezembro, contribuindo, inclusive para um grande aumento da pesca turística amadora, principalmente nos rios de águas pretas, como o NEGRO e o UATUMÃ. 3 - ACARÁ-AÇU Cichlidae de hábitos similares ao tucunaré. Conhecido em outras regiões como APAIARI. De tamanho pequeno, atingindo em média 15 cm e 500 gramas de peso. Espécie de abundante cria. Desenvolve-se rapidamente em águas calmas, atingindo a maturidade entre 10a 12 meses. A sua desova é parcelada sendo que, em ambientes controlados, pode ter três desovas por ano. Cuida muito bem de sua prole, chegando a guardar os filhos na boca quando ameaçador Preferindo os ambientes calmos, a alimentação é composta em boa parte por insetos. 4 – MATRINXÃ Peixe de dentição forte, carne saborosa que atinge até 50 cm de comprimento. Prateado com nadadeiras caudal e anal lavadas de vermelho. Habitam águas limpas e a sua pesca se faz com redes e anzol com iscas de frutas e carne de outros peixes. Habitante das "cabeceiras" dos rios, desce em "piracema" no período da enchente. Sua alimentação onívora é preferencialmente carnívoro, faz com que seu conteúdo em 11 graxas situe- se entre moderado e fraco. A sua captura, com anzol e espinhei, antes importantes, atualmente pouco representa na comercialização em Manaus. 5 – SARDINHA Peixe de pequeno porte, que não ultrapassa 20 cm de comprimento. Tem como alimentação básica os microrganismos da própria água. Vivem em cardumes e tem oscilação relativa no desembarque em Manaus, aparecendo com maior quantidade no período de Agosto a Novembro. 6 – TAMBAQUI Caracídeo. É um peixe muito abundante, atingindo até 80 cm de comprimento por 35 cm de largura, com 30 kg de peso. Apresenta as escamas pretas ou amareladas, dependendo da região onde habita e da alimentação predominante. A sua alimentação é onívora, nela predominando as frutas das matas ciliares. Pequenos peixes, crustáceos e insetos constituem a sua complementação alimentar. Mais de 80% de sua pesca é efetuada com redes. Presente nos mercados da região durante todo o ano, tem o preço mais caro das espécies amazônicas. Representa, hoje, a melhor opção dos piscicultores já que habita os açudes de todas as regiões do Brasil. De uma só desova pode-se produzir mais de 350.000 alevinos. 7 –PACU De tamanho entre 20 a 30 cm, possui hábitos alimentares semelhantes ao TAMBAQUI. Caracídeo ovalado de coloração prateada e rico em gorduras. Os seus cardumes apresentam espécies de tamanhos variados o que faz com que os pescadores que usam redes selecionem os menores jogando-os de volta ao rio. Já "sambados", são levados às margens em relativa quantidade gerando o desperdício condenado pelas populações ribeirinhas e principalmente pelas "organizações de defesa do peixe" ligadas a partidos políticos e/ou a Igreja Católica. 8 - PIRARUCU (Peixe vermelho) Peixe de grande porte, os exemplares adultos chegam a atingir 2,00m de comprimento, pesando até 120 kg. Habita, normalmente os Lagos Amazônicos, alimentando-se de peixes, insetos e vermes fluviais. É o maior peixe de escamas do Brasil. De desenvolvimento lento, alcança a maturidade sexual após o quinto ano de vida. No início da enchente, de novembro em diante, busca os lugares de águas rasas para preparar seu ninho, ou "panelas" como chamam os pescadores. Chega a desovar até 50.000 óvulos. A carne fresca, salmorada, salgada ou seca é muito saborosa. A língua é usada para ralar o guaraná e as escamas para lixar as unhas. Os pescadores afirmam que os adultos dão proteção aos filhotes que sempre acompanham o pai. Costuma defender os filhos escondendo-os na boca. Os jacarés e as piranhas são os seus maiores predadores. A sua captura realiza-se cerca de 50% com redes e 15% com malhadeiras, ainda persistindo a pesca com arpão e anzol. Tem sua pesca regulamentada, com proibição no período de outubro a março. 12 9 – CURIMATÃ Peixe que pode atingir 50 cm e 6 kg de peso. A sua alimentação principal é constituída de substâncias orgânicas depositadas por gravidade nas águas, o que dificulta a sua captura com iscas e anzol. Peixe de grande fecundidade com desova que pode atingir 1.000.000 de ovos por espécie. Está sendo usado na piscicultura como "faxineiro", responsável pela "limpeza" dos açudes, tanques ou gaiolas. 10-ARACU Espécie de peixe com tamanho variando entre 30 e 40 cm, podendo, seu peso atingir os 2,5 Kg. Peixe de piracema, considerado de segunda categoria. 11 – PIRAPITINGA Da mesma família do Tambaqui, seu "primo", pode atingir 50 cm de comprimento e com os mesmos hábitos de seu parente mais próximo. 12 – JARAQUI Considerado parente do Curimatã, com quem se parece muito. É o peixe mais conhecido dos amazonenses. Tem dois tipos: escama fina e escama grossa. Estes últimos chegam a medir 45 cm e pesar mais de 3 kg. Peixe de piracema, sua migração se realiza de dezembro a julho. É um dos peixes que mais se reproduz e que forma os maiores cardumes, principalmente na época da vazante dos rios. Tem hábitos alimentares semelhantes ao do Curimatã.Ostenta na cauda listras amarelas que lhe dão uma característica especial e o carinhoso apelido de "brasileirinho". 13-BRANQUINHA Peixe de segunda categoria, com até 18 cm. Não tem muita representatividade na comercialização e não agrada muito aos consumidores. Tem escamas prateadas e muito miúdas. 14-SURUBIM Peixe de pele (Bagre) de grande dimensões, podendo freqüentemente atingir comprimento de mais de 1,50m, havendo informações de que algumas espécies capturadas atingiram os 3 metros. Carnívoro por excelência. 15-PIRAÍBA É o maior "peixe liso" ou peixe de pele (bagre) de água doce da Bacia Amazônica, excedendo2,50m de comprimento e 140 kg de peso. 13 Carnívoro, alimenta-se de peixes menores, sendo pescado fundamentalmente com anzol. Quando jovem é conhecido como "Filhote". Os ribeirinhos acreditam que a Piraíba engole crianças e ataca os adultos. 16-PIRAMUTABA Bagre que tem por hábito acompanhar os cardumes de peixes em piracema. Carnívoro, alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos e insetos. Pode atingir até 1m de comprimento e 10 kg de peso. Constitui-se um problema para os pescadores que tem suas redes destruídas pela veracidade desses bagres que atacam os cardumes capturados. Foi responsável por considerável exportação porá os Estados Unidos, principalmente congelada pelos frigoríficos paraenses. 17 – DOURADO Bem diferente do Dourado das outras regiões do Brasil, este bagre assemelha-se à Piraiba embora com menor porte, atingindo no máximo 1.50m de comprimento. 18 – JUNDIÁ/JANDIÁ Bagre de menor porte, sendo pescado tradicionalmente com anzol. A sua carne é de boa qualidade, mas como todos os "peixes lisos" é considerado de terceira categoria. PEIXES ORNAMENTAIS Existem em nosso Estado aproximadamente 150 espécies de peixes ornamentais. Somente 52 são comercializadas. A SUDEPE somente catalogou 41 dessas espécies para a exportação. Destas contribui o Amazonas com 26. Os peixes ornamentais à primeira vista podem não parecer importantes, mas representam considerável fonte de divisas para o Estado do Amazonas. Em nosso Estado existem 9 empresas que se dedicam à Exportação de peixes ornamentais, algumas carentes de melhor estrutura física e de orientação técnica compatível com suas atividades. A Coordenadoria Regional da SUDEPE, cônscia dá importância desse segmento de mercado, estava montando um departamento que se encarregaria de dar as orientações técnicas necessárias e tentaria descobrir uma linha de crédito que pudesse ser utilizada por essas pequenas empresas. Com a criação do IBAMA a idéia desapareceu. A captura de peixes ornamentais é executada por cerca de 20 pequenos barcos, cujas condições de transporte são precárias e responsáveis por uma mortalidade superior a 50% do capturado. As principais áreas produtoras estão localizadas nos municípios de Barcelos. São Gabriel, Santa Izabel do Rio Negro e Novo Airão, todos situados no Rio Negro. A melhor solução seria as empresas ou até mesmo um grupo de pescadores construírem um barco de tamanho razoável, equipado com bombas, que transportasse a 14 produção de todos os pescadores mediante a cobrança de serviços, de tal forma que os pescadores não tivessem de vir a Manaus somente com a finalidade de entregar aos exportadores a produção. Vejo aqui uma rara opção de investimentos na Região do Rio Negro: Fazer piscicultura, em gaiolas, com peixes ornamentais destinados ao mercado externo. A EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS precisa receber das autoridades melhor atenção, principalmente no que se refere a quantidade e espécies exportadas. Muitas espécies de peixes comestíveis tem sido enviadas para o exterior as "escondidas" como "cardinais ou neons". O IBAMA chegou ao absurdo de incluir a PIRANHA como peixe ornamental. O que é pior,alguns amazonenses chegaram a propor ao IBAMA que além da Piranha, Mandii, a Pirarara, o Cará-Bararuá, a Arraia, o Puraquè, a Aruanã e o Jacundá, pudessem ser exportados como ornamentais. CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES MAIS COMERCIALIZADAS 1 - ACARÁ DISCO (Symphsom discus) Peixe de temperamento calmo e social. Atinge até 20 centímetros de comprimento. Tem o formato redondo parecido com um disco. A sua cor varia do amarelo castanho ao marrom, dependendo de seu estado psíquico. É uma das espécies de maior aceitação no mercado nacional e internacional. 2 - ACARÁ BARARUÁ (Uaru Amphiacanthoides) O mais comum da espécie. Há quem afirme ser a sua criação em cativeiro, devido a sua reprodução em grande escala em ambiente calmo, açudes por exemplo, ideal para consorciamento com espécies de hábito alimentar carnívoro. Tucunaré, Pirarucu entre outros. Tem a cabeça cinza escura e nadadeiras em todo o seu dorso. 3 - ACARÁ BANDEIRA (Pterophllum scalares) Peixe agressivo e anti-social que ataca as espécies menores. Popularmente são chamados de peixe-anjo. Apresentam três listras pretas verticais sobre escamas prateadas, formando um harmonioso conjunto com suas nadadeiras e filamentos alongados. 4 - CARDINAL TETRA (Cheirodon Axeirodii) Principal espécie exportada- Pequeno e bonito peixe, dotado de um colorido fascinante, caracterizado por uma faixa azul quase brilhante em todo o seu corpo. Felizmente não se reproduz em águas paradas, aquário por exemplo, razão pela qual ainda não perdemos o seu mercado externo. 5 - RODOSTOMOS (Hemigrammus Rhodostomus) 15 Conhecido entre os ribeirinhos da Região como Cara-de-Sangue ou Tetra Nariz Vermelho. Peixe muito pacífico que gosta de viver em comunidade. Adapta-se, nos aquários, facilmente ao convívio com as outras espécies. Tem hábito alimentar onivoro. podendo atingir até cinco centímetros de comprimento. Seu colorido varia de verde-cinza ao amarelo-cinza. PRINCIPAIS ESPÉCIES EXPORTADAS ANO: 1981 DENOMINAÇÃO PARTICIPAÇÃO RELATIVA NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO S/VALO R S/QUANTID ADE Cardinal Cheirodon Axeirodii 53.11 80,54 Rodostomus Hemjgrammus Rhodostomus 5,03 6.34 Borboleta Carnegiella Strigata 1,58 2,75 Corredoras C o ry do rãs elegans 1.58 2,03 Discus Symphosodon discus 24.39 0,71 Outros 14,30 7,63 FONTE: SUDEP/PDP MERCADO EXTERIOR EXPORTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NA PAUTA DO ESTADO ANO QUANTIDADE VALOR CR$ 1.000 VALOR 11$ 1.000 PAUTA 1978 17.903.485 14.693 775 1.83 1979 19.352.254 26.506 934 1.53 1980 16.301.049 35.525 602 0.96 1981 15.951.624 62.346 642 1.02 1993 8.585 297 - 886 0.08 FONTE: SUDEPE/PDP/SEFAZ 16 PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983 PAÍSES PARTICIPAÇÃO RELATIVA ALEMANHA ESTADOS UNIDOS HOLANDA OUTROS 36,83 23,19 21,01 18,97 FONTE: SUDEP/PDP A participação relativa na pauta de exportações do Estado do Amazonas que, em 1982, representava quase 2% tem decrescido em função de nossas atividades industriais, mas de certa forma a qualidade dos Cardinais exportados, nos meses de maio/julho, não se apresentava em condições ideais, em razão de estarem os peixes ovados ou magros devido à recente desova. Esse problema foi superado com uma Portaria proibindo a captura do Cardinal nessa época do ano. Com tal medida, solicitada pelos próprios exportadores, a qualidade dos peixes nos meses subsequentes à proibição melhorou consideravelmente, permitindo preços mais lucrativos. Os exportadores do Amazonas precisam descobrir o mercado interno, difundir o uso de aquários nos escritórios, consultórios, repartições públicas e residências. Mas precisamos urgentemente proteger esse tipo de atividade. O comércio de peixes ornamentais está ameaçado. A maioria das espécies, as principais, não se reproduz em cativeiro. A sua reprodução terá de ser induzida. Mas infelizmente, temos notícias de que cientistas alemãs e japoneses estão trabalhando na reprodução do Cardinal em cativeiro. Precisamos contra atacar desenvolvendo estudos que nos permitam dominar a técnica de desova induzida dessas espécies o que possibilitaria a substituição do extrativismo predador por uma atividade sólida de reprodução e criação de peixes ornamentais. Em Hong Kong já se produz o NEON espécie da família do Cardinal oriundo de Benjamin Constant, fato que acabou com o nosso mercado de exportações dessa espécie. Pode até parecer utopia pensar em reprodução de peixes ornamentais. No mínimo parecerá uma atividade supérflua, uma vez que ainda temos alguns problemas com a reprodução dos peixes comestíveis. Quem sabe, uma vez que a tecnologia é semelhante, pelo tamanho das instalações para peixes ornamentais não seria umexcelente laboratório onde faríamos as experiências que serviram de suporte para a piscicultura dos peixes comestíveis. As tabelas que publicamos a seguir servirão de embasamento a todos que quiserem analisar essa atividade com maior profundidade, embora os dados sejam de 1983, segundo os exportadores o comércio se manteve em níveis semelhantes. 17 PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983 PAÍSES QUANTIDA DE PESO/KG US/FOB Cr$ ESTADOS UNIDOS 2.710.985 57.461 111.241 40.104.490, ALEMANHA OCIDENTAL 1 395.187 16.821 49.296 16.601.360, PAÍSES BAIXOS 980.065 11.880 35.765 10.942.452, FRANÇA 280.325 3.701 8.767 2.774.508, DINAMARCA 138.772 2.237 5791 1.637.387, SUÉCIA 74.816 1.000 3.355 964914, SUÍÇA 65.974 978 2647 876.054, BÉLGICA/LUXEMBU RGC 60.791 1.182 2109 729.205, ITÁLIA 42.948 830 1976 564.123, JAPÃO 40.236 1.000 4.400 1.497.542, AGENTINA 26.296 111 3.372 1 .283.858, REINO UNIDO 22.716 476 796 227.391, CHILE 8.752 130 740 291.603, CINGAPURA 8.700 160 417 100.024, ESPANHA 8.062 162 270 70.130, PORTUGAL 5.430 02 186 73.315, NORUEGA 4.748 100 183 72.132, HONG KONG 3891 288 679 320.566, ÁUSTRIA 3.558 02 449 211.992, FINLÂNDIA 3.475 300 593 142.240, SUL AFRICANA, REP 3.200 08 352 91.429, CANADÁ 1.090 01 71 30.110, TOTAL 5 890 044 98.799 233.455 79.606.925, FONTE: CACEX AEROPORTOS EXPORTADORES JANEIRO/JUNHO-1983 CIDADE/UF QUANTIDADE PESO/KG US/FOB Cr$ MANAUS/AM 5.357.812 87.658 201.921 67.182.134, BELÉM/PA 456.996 10.609 24.386 9.970.438, R. DE JANEIRO/RJ 41.200 121 3.527 1.094.796, SÃO PAULO/SP 26.296 111 3.372 1.283.858, PORTO ALEGRE/RS 7.740 300 249 75.699, FONTE: CACEX 18 PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS NA EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS JANEIRO/JUNHO-1983 PARTICIPAÇÃO RELATIVA ESTADO S/ QUANTIDADE S/VALOR AMAZONAS 90,96 84,39 PARÁ 7,76 12,52 RIO DE JANEIRO 0,70 1,38 SÃO PAULO 0,45 1,61 RIO GRANDE DO SUL 0,13 0,10 FONTE: CACEX MERCADO INTERNACIONAL EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS EM 1983 PAÍSES/IMPORTADOS QUANTIDADE (n) VALOR (US$) Alemanha 3.583.076 296.388,20 Áustria 5.912 362,00 Bélgica 112.893 4.524,00 Chile 8,752 740,00 Dinamarca 359.618 14.166,00 Espanha 20.762 827,00 Finlândia 30.431 2.365,00 França 590.930 22.636,50 Holanda 2.306.421 92.141,10 Hong Kong 6.201 1.569,00 Inglaterra 43.834 1.762,00 Itália 45.830 2,411,00 Japão 40.293 4.400,00 Noruega 7.339 308,00 Peru 36.575 3.925,00 Portugal 2.169 104,00 Singapura 32.584 1.222,00 Suécia 218.254 9.238,00 Suíça 131.554 5.093,00 Taiwan 640 640,00 U. S. A. 5.297.399 220.501,50 TOTAL 12.881.467 685.323,30 FONTE: SUDEP/AM 19 FATORES DE PRODUÇÃO O Estado do Amazonas, sem sombra de dúvidas, possui as condições ideais e indispensáveis para um grande produtor de pescado. A sua localização em região equatorial, com clima do tipo Am na classificação de Kopper, com todos os seus dias geralmente cálidos, proporciona a temperatura ideal para a reprodução de animais aquáticos. A insolação recebida no Amazonas chega a ser superior a 2.000 horas anuais, fazendo com que a temperatura média seja de 27° C. Somando-se a esses dados a umidade realtiva do ar, em média de 85%, e a precipitação pluviométrica anual variando entre 1.600mm e 2.800mm, concluímos ser a Amazônia, e em especial o Amazonas, o paraíso dos animais que vivem nas águas. Em nosso emaranhado de rios, paranás, lagos, igarapés, furos e igapós, vivem mais de 2.000 espécies de peixes, das mais exóticas possíveis e desconhecidas, as mais famosas e admiradas por todo o mundo. Embora com tamanha potencialidade, somos deficientes de recursos financeiros e técnicos que nos possibilitem explorar racional e economicamente essa riqueza. Somos dependentes de vícios tradicionais que impossibilitam melhor desempenho do Setor Pesqueiro. Para as atividades da pesca os recursos não estão disponíveis na proporção de sua importância. Os bancos oficiais não oferecem recursos para o Setor com os mesmos atrativos que oferecem ao comércio e as indústrias. Reconhecemos as dificuldades de oferecer garantias, principalmente pelos pescadores artesanais, ou seja, aqueles que não possuem equipamentos sofisticados para a pesca: seus barcos são simples "geleiros". No Amazonas a rede de bancos particulares não opera na pesca e limita-se a operações de empréstimos a alguns despachantes de pescado, conhecidos depositantes com saldo médio invejáveis. O Banco do Brasil dispunha de um teto mínimo dentro da própria Carteira de Crédito Rural, com recursos para todo o País numa ordem de Cr$ 2,5 bilhões em 1983. E, por incrível que possa parecer, teve dificuldades de aplicação no Amazonas, principalmente em Manaus, face a ausência de interessados realmente pescadores. Normalmente, em Manaus, os despachantes tomam dinheiro emprestado na rede particular e financiam o custeio dos barcos de pesca. A SUDEPE, até 15.10.84, dispunha de um programa de crédito, PROPESCA, cujo agente financeiro era o Banco Nacional de Crédito Cooperativo - BNCC, com principal objetivo de renovar a frota pesqueira nacional e incentivar a criação de peixes e crustáceos. Infelizmente os financiamentos que foram liberados para o Estado do Amazonas não atingiram totalmente os objetivos. Foram construídos novos barcos, mas com as mesmas características e os mesmos problemas dos já existentes, ou seja com as caixas de gelar sem divisões e sem melhor aproveitamento da capacidade de carga dos barcos. Com a nova Constituição de 1988, foi criado o FNO, Fundo Constitucional do Norte e âmbito estadual o FMPE - Fundo de Fomento a Micro e Pequena Empresa, que entre os seus objetivos figura o financiamento a pesca artesanal e a piscicultura. Poucos são os projetos financiados por esses Fundos, até porque qualquer projeto de piscicultura no Amazonas esbarrava na mais elementar das dificuldades, pasmem: não produzíamos alevinos. Quanto à criação de peixes, os poucos projetos financiados não estão surtindo os efeitos desejados pelas dificuldades de obtenção dos alevinos, falta de seriedade de alguns piscicultores e recursos com custo muito elevado. 20 Dispunha ainda a SUDEPE de um instrumento de financiamento, o Fundo de Investimento Setorial - Pesca (FISET - Pesca), constituído de incentivos fiscais, que no Estado não conseguiu financiar um projeto sequer. As razões que levaram a esse desinteresse são principalmente a estrutura familiar das empresas de pesca, temerosas de perder o controle de seus empreendimentos, já que passariam a ser sociedades de capital aberto, e o desinteresse dos empresários de outras atividades em investir numa área não considerada como nobre. A mão-de-obra utilizada na pesca no Amazonas pode ser classificada em pescadores ribeirinhos e pescadores profissionais. Os pescadores ribeirinhos são aqueles residentes no interior do Estado que fazem da pesca sua principal atividade, porém não possuem nenhum vínculo com Colônias ou Associações de Pescadores e quase sempre não estão registrados no IBAMA e Capitania dos Portos. Normalmente são ligados umbilicalmente a pequenos comerciantes por quem são financiados e para quem vendem as suas produções. Em sua grande maioria dedicam-se à pesca do pirarucu e peixes de pele (lisos). Eles defendem rigorosamente a proibição da pesca nos lagos vizinhos, não com intuito de preservar, mas tão somente de não dividir com os pescadores de outros municípios o pescado que poderão conseguir independente de proibições ou épocas de captura. Ainda como ribeirinhos são enquadrados aqueles que pescam regularmente para o sustento de suas famílias, usando apetrechos modestos, e que vendem as sobras para a própria comunidade. Os pescadores profissionais vivem exclusivamente da pesca, mas são ligados, ou deveriam ser, às Colônias ou Associações de Pescadores, e registrados no IBAMA e Capitania dos Portos. Podem ser subdivididos emdois grupos: Motorizados e não motorizados. No grupo dos motorizados estão os pescadores que compõem as tripulações das embarcações de pesca e que por lei deveriam estar filiados às instituições de classe e ao IBAMA. Infelizmente isso não ocorre e uma grande maioria não possui nem mesmo uma simples Certidão de Idade. Além do grupo dos motorizados, existem os pescadores profissionais de canoas: pescam individualmente ou em pequenos grupos com apetrechos pequenos, tais como caniços, tarrafas, arpões, zagaias, pequenas malhadeiras ou redes, e vendem a produção nas pequenas cidades do interior. Um bom exemplo são os pescadores de Itacoatiara, que executam suas atividades no Lago do Canaçari, e aqueles que pescam bem próximo à própria cidade. Tanto em Itacoatiara como em Parintins, Tefé, Coari e Tabatinga, alguns pescadores se reúnem em grupos, alugam um barco e saem para pescar individualmente. A produção de cada um é transportada em conjunto e comercializada individualmente. Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas vivendo exclusivamente de pesca. Segundo os órgãos que trabalham com a pesca no Amazonas, Federação dos Pescadores, IBAMA/AM e EMATER/AM, os pescadores estão distribuídos conforme os quadros seguintes: 21 PESCADORES PROFISSIONAIS DO AMAZONAS COLÔNIA/ASSOCIAÇÃO MUNICÍPIO N° DE PESCADORES Colônia de Pescadores Z - 12 Manaus 2.346 Colônia de Pescadores Z - 17 Parintins 775 Colônia de Pescadores Z - 16 Maués 517 Colônia de Pescadores 2-13 Itacoatiara 436 Colônia de Pescadores Z - 09 Manacapuru 632 Colônia de Pescadores Z - 04 Tefé 394 Associação de Pescadores Barreirinha 317 Associação de Pescadores U rucará 041 Associação de Pescadores Coari 332 Associação de Pescadores Boca do Acre 276 Associação de Pescadores Tabatinga 703 TOTAL 6.769 FONTE. FEDERAÇÃO DOS PESCADORES DO ESTADO DO AMAZONAS 22 PERFIL DOS PESCADORES AMAZONENSES REGISTRADOS NO IBAMA Cadastrados - Embarcado 1.104 - Desembarcado 24 1.128 Instrução - Não alfabetizados 115 - Semi alfabetizado 258 - 1° Grau incompleto 627 - 1° Grau completo 96 - 2° Grau incompleto 11 - 2° Grau completo 21 1.128 Sexo - Masculino 1.121 - Feminino 07 1.128 Possuem Embarcação - Sim 473 -Não 655 1.128 Vínculo Empregatício - Autônomo 1.126 - Contrato 02 1.128 Possuem Embarcação -Sim 473 -Não 655 1.128 FONTE: IBAMA/AM 23 POTENCIALIDADE - ESTOQUE PESQUEIRO Demais se tem discutido no Amazonas o nível atual de nosso estoque de pescado. Muitos acreditam que a nossa ictiofauna tem sofrido nos últimos anos decréscimo razoável em seu estoque. Alegam que tempos atrás os barcos pesqueiros não precisavam viajar por mais de sete dias para carregar suas "geladeiras". Alegam, ainda, que hoje os pescadores têm dificuldades de encontrar cardumes dos peixes chamados especiais e de primeira categoria, mesmo nos rios e lagos mais distantes, e completam afirmando que, quando encontram,na maioria das vezes são peixes que não atingiram a idade de reprodução. Caso típico do Tambaqui que dificilmente é encontrado com mais de 15 quilos. Outros, todavia, argumentam e defendem que os peixes, em virtude do barulho das cidades e do tráfego crescente em alguns rios, simplesmente se refugiaram nos locais mais distantes e isolados, onde encontram alimentos suficientes e melhor proteção. Ficamos com os primeiros, e baseados nas nossas observações de homem nascido no interior, feito a ouvir os mais velhos e experientes, principalmente o mestre em assuntos amazônicos, o nosso caboclo; ele costuma dizer que os nossos peixes estão desaparecendo. Realmente estão, não para se esconder. O desaparecimento em virtudes de nosso atual esforço de pesca e de ausência de providências que possam proteger a época de reprodução. O pescador tradicional em suas observações acredita que está havendo redução de estoque. As causas mais aparentes dessas diminuições de estoque são a proliferação dos predadores, normalmente não combatidos, como o boto, o mergulhão e os peixes lisos; a impossibilidades de atingir a idade de reprodução em algumas espécies, em particular o Tambaqui, e principalmente a pesca de peixes em época da piracema para desova. Apesar de tudo isso não podemos definir o nosso estoque baseado em observações científica. Não existe trabalho de pesquisa sobre o assunto. Não se faz até hoje um acompanhamento da migração das espécies. As dificuldades de obter essas informações são muitas e vamos conviver com elas por longos tempos. Os únicos dados de que dispomos são os que nos foram fornecidos pela SUDEPE até 1983 e que dizem respeito ao desembarque de pescado nos principais municípios amazonenses, inclusive em Manaus. Esses dados, coletados por funcionários da SUDEPE e das colônias, através de informações verbais dos pescadores, não espelham a realidade e servem somente como indicadores da produção e da produtividade. O IBAMA que substituiu a Sudepe acabou com isso. Analisando-se o gráfico da produção desembarcada em Manaus (página 19), observa-se que a produção, no período de 1979 a 1983, oscila em torno de 30 a 40 mil toneladas. À primeira visita poderíamos ter uma idéia de estabilização, no entanto, se atentarmos para o fato de que o esforço da pesca tem aumentado consideravelmente, não somente pela entrada de novos barcos na pesca, mais de 300 nos últimos anos, mas também pelo aumento do contingente de pescadores em conseqüência do excedente de mão-de-obra no interior não aproveitada na agricultura e pela difusão de aparelhos de pesca mais eficientes tais como as malhadeiras de fio sintético e as grandes redes de cerco, concluiremos que precisaríamos no mínimo ter duplicada a produção para acompanharmos o crescimento populacional de Manaus. Isso não ocorre por várias razões, a principal hoje é realmente a diminuição assustadora de nosso estoque pesqueiro. Mesmo assim, paradoxalmente, contrariando todas as leis econômicas, 24 continuamos irresponsavelmente desperdiçando pescado em grandes quantidades como, aliás, se faz com outros alimentos no Brasil. 25 26 27 ANOS 1979 1980 1981 1982 1983 MUNICÍPIOS MANAUS 24.575 19.210 21.304 24.252 38.546 TABATINGA 1.785 2.450 2.213 2.163 2.121 ITACOATIARA 1.648 1.418 1.517 1.587 1.383 TEFÉ 1.412 925 970 1.247 1.214 COARI 900 840 1.259 1.037 1.028 PARINT1NS 836 848 765 925 920 MANACAPURU 787 1.009 1.356 1.494 1.747 MAUÉS 326 288 446 518 533 32.270 26.988 29.830 33.223 47.493 FONTE: SUDEPE/PDP e COLÔNIA Z-12 ( Manaus } A tendência no aumento da produção demonstra claramente o aumento do esforço de captura a partir de 1980, quando se iniciou o Programa do Governo do Estado de interferência no comércio de Pescado, com a participação maior dos frigoríficos particulares, preocupados em comprar peixe barato na época de entre-safra e vender depois ao Governo por preços bastante compensadores. O fato merece profunda reflexão pelos responsáveis por essa política: não resolve o problema da população, contribui para remuneração menor dos pescadores, pois os frigoríficos compram por preços irrisórios, e serve somente para aumentar o esforço da captura e desperdiçar grande quantidade de pescado, sem ter onde ser armazenado. No próximo capítulo, que trata da captura, poderemos observar mais alguns fatos: eles certamente ajudarão a perceber que não podemos continuar ininterruptamente pescando como estamos fazendo, sem ter de tomar providências sérias para evitaro desperdício e a exaustão de nosso estoque de peixes. De uma coisa porém estamos certos: a política adotada pela SUDEPE, no período de 1982/84 ativando a fiscalização e principalmente proibindo a pesca em mais de 50 lagos considerados como criatórios em época de piracema para desova, contribuiu para um aumento significativo da produção neste últimos anos, fazendo com que atingíssemos níveis nunca antes alcançados, como ocorreu em maio/84. Esse fato comprovou a necessidade de se estruturar Manaus com uma capacidade de estocagem que possibilite a instituição de períodos de defeso para nossas principais espécies e até mesmo a proibição da pesca comercial em Manaus e outros municípios que disponham de estrutura de armazenamento no período da piracema para desova (dezembro a fevereiro). Felizmente esse brado, depois de longos anos foi adotado pelo IBAMA para algumas espécies, no entanto a falta de fiscalização resulta na inocuidade da proibição. A solução que defendemos para eficiência dessa medida é a proibição por áreas geográficas. Cada ano se proibiria a pesca em um grande Rio e seus afluentes. O conceito de estocagem, principalmente no interior do Estado, precisa ser revisto. Acreditamos que o armazenamento de peixes vivos em gaiolas ou tanques redes seja uma solução mais racional e que merece ser testada com seriedade. 28 29 30 31 32 33 34 35 AS ARTES E OS APETRECHOS DE PESCA A FROTA PESQUEIRA No Estado do Amazonas a atividade pesqueira realiza-se de forma contínua e praticamente ininterrupta; entretanto a produtivadade aumenta ou diminui de acordo com o regime dos rios. Também na pesca o "rio" comanda a "vida". Durante as enchentes, com extensas áreas inundadas, principalmente as "cabeceiras" dos rios, igapós e igarapés, os peixes se dispersam dificultando a sua captura - é a época da entre-safra. Durante o período de vazante, por razões exatamente contrárias, há maior concentração de peixes em áreas menores, facilitando as operações de pesca- é a safra ou época do "bafafá"ou "bamburrá". No quadro seguinte, percebemos claramente essa distribuição das épocas de captura, cujas pequenas variações decorrem da influência da lua ou de algum fenômeno climático não previsto. Épocas e ocorrências que influenciam a captura de Pescado no Estado do Amazonas PERÍODO OCORRÊNCIAS DEZ/JAN Época de peixe ovado. Os peixes saem em piracema para a desova facilitando a captura, ocasionando um aumento considerável na produção e paradoxalmente contribuindo para exaurir o nosso estoque pesqueiro. FEV/MAR Ocasião em que a Lua está em quarto crescente,permitindo que ainda se tenha uma pequena fartura, todavia os peixes já estão bastante magros, são os que desovaram. ABRIL Tradicionalmente o mês de menor produção do ano. MAIO Época de safrinha, com peixes gordos e brancos principalmente jaraqui e matrinxã. J U N/J U L Dependendo do comportamento da vazante dos rios, será maior ou menor a dificuldade de captura. Neste período estamos na fase de menor produtividade, onde inclusive vários barcos, principalmente no interior, se retiram da pesca e se dedicam ao transporte de gado e outros produtos. AGO/NOV Época de fartura ou do "bafafá" ou "bamburrá". Há volume excessivo de pescado, quando a produção atinge o seu ponto máximo, ocasionando um desperdício por falta de frigorificação. Esse fato se repete em quase todos os meses do ano, com execeção, talvez, em abril e julho. Analisando dados de produção fornecido pela SUDEPE do período 79/ 83, concluiremos que somente em abril a produção não ultrapassa as 2.000 toneladas. Por coincidência nesse período a Igreja Católica celebra a quaresma e a Semana Santa, quanto o consumo de peixes aumenta, e, com a diminuição da oferta, os preços sobem assustadoramente. 36 A captura, no Estado do Amazonas, com volume significativo é realizada pelos barcos de pesca "os geleiros", que seguem para os locais de pesca distribuindo em quase todos os nossos principais rios. Entre os que mais contribuem para o abastecimento de pescado em nossas cidades, destacam-se o Solimões, Purus, Juruá e o Madeira. Muitos são os métodos de captura. Também, muitos os apetrechos ultilizados pelos nossos pescadores. O principal equipamento é, sem sombra de dúvidas, a canoa. É o ponto de partida. Com ela a pesca pode ser executada com linha-de-mão e até mesmo com criminosos explosivos ou entorpecentes, mas, fundamentalmente, com arrastão, tarrafa e rede. Os principais apetrechos de pesca, utilizados pelos pescadores no Amazonas, são: REDE OU REDINHA: É o aparelho mais empregado na região, porque serve tanto a pescaria em lagos como no leito dos rios, desde que haja um espaço mínimo para ser lançada, também por que não custa caro quanto a arrastadeira. Tem malhas com os mesmo tamanhos da arrastadeira, mesma altura em média, mas seu comprimento é bem menor. Os maiores arrastões chegam a medir 60 braças de comprimentos, mas o comprimento médio gira em torno de 28 braças. O número de lances numa pescaria é maior para o arrastão do que para redes. Seu emprego é realizado com auxílio de 02 canoas que transportam em média 06 pescadores: o proeiro, responsável pela estratégia de localizar e fechar o cardume, geralmente é o pescador mais experiente do grupo. Sentado logo atrás do proeiro está o segundo lanceiro, que tem a função de remar e puxar o chumbo da rede; atrás dele situa- se o largador de rede e finalmente o popeiro que "calça"a canoa para que ela não entre na rede ao colher a cortiça do entralhe superior, impedindo o peixe de saltar para fora da rede. Em outra canoa, menor, está o cambiteiro: ele segura o cabo da rede batendo-o na água para espantar o peixe, a fim de que penetre na rede. Quando uma certa porção do lago é cercada para capturar cardume, que nem sempre precisa ser visto, pois às vezes a sua presença é percebida indiretamente (a Pescada, por exemplo, emite um barulho típico que a denuncia ), a canoa grande faz um círculo largando a redinha e vai se aproximando da canoa pequena que começa a se mover em sua direção. Quando elas se encontram o cardume é "fechado"e o chumbo é então puxado para dentro da canoa grande, onde se realiza a despesca. A canoa pequena encosta-se bem à canoa grande para servir-lhe de apoio à medida que o peso da rede mais o do pescado aumenta. ARRASTÃO OU ARRASTADEIRA (OU REDE GRANDE): É um aparelho de grande dimensões, chegando em alguns casos a medir 500 metros de comprimento por 13 metros de altura. A malha pode ter 20,22 ou 25 mm entre os nós opostos. Geralmente é empregada nas margens dos grandes rios (por isso alguns pescadores a chamam de Arrastão de Praia), em locais às vezes previamente preparados chamados "lanços". O "lanço" é um local estratégico onde o peixe deverá passar fatalmente nas épocas de migração, quando forma grandes cardumes. Assim, nesse local, os pescadores eliminam a vegetação para facilitar o emprego do aparelho em época que precedem a migração, preparando o sítio para a pesca. 37 Quando o nível das águas está baixo não é necessário o feitio do "lanço"a pesca é feita nas praias naturais do rio ou nos grandes lagos, embora seja difícil porque no fundo dos lagos a quantidade de "pauzada"(tronco do fundo) é bem maior, impedindo o emprego adequado do aparelho. MALHADEIRA (CAÇOEIRA OU REDE DE ESPERA): É um aparelho que tem dimensões muito variáveis. Na pescaria são empregadas malhadeiras cujo tamanho da malha entre nós opostos vai de 10 até 300mm. O comprimento varia de 8 a 30 braças (1 braça média + erro padrão = 172 + 0,24 cm). Sua altura pode atingir até 5 metros, tendo em média de 2 a 3 metros. É empregada principalmente em lagos, podendo também ser armada no'remanso dos rios. Seu emprego está em grande expansão porque é um aparelho que custa relativamente pouco, de manuseio cômodo e pode ser armado em grandes quantidades. Ao contrário da arrastadeira a pescaria com malhadeira tem característica mais individualizada. Um pescador montado numa canoa tem a tarefa de armar certo número de aparelhos e zelar por eles enquanto estiver pescando. Na maioria das vezes é empregado à noite. O lote é armado no fim da tarde e recolhido nas primeiras horas da manhã. Há alguns pescadores que a deixam operando o tempo todo, revezando-se em grupos. Em intervalos, que dependem da densidade local de predadores é feita a "corra" onde o aparelho é levantado sem ser desarmado, permitindo que o pescador retire os peixes já capturados. O intervalo entre uma "corra" e outra pode ser estimado em 3 horas. A pescaria com malhadeira é muito seletiva. Para cada tipo de pescado que se deseje capturar, emprega-se malhas de tamanho adequado. Assim, para apturar pescada, usa-se malha de 70 a 100mm; para capturar tambaqui usa- se malhas de 150, 200, 280 e até 300mm entre nós opostos. TARRAFA É uma pequena rede em forma de disco, dotada de um cordel no centro, que fica preso à mão esquerda do tarrafeador. Para usá-la, com a mão direita junta-se uma grande parte da tarrafa e lança-se na água. A tarrafa é aberta como uma teia de aranha, apanhado os peixes que se encontram naquele círculo. Alguns pescadores usam a boca para facilitar a abertura da tarrafa quando fazem o arremeço. Em seu redor a tarrafa é guarnecida com chumbo e uma prega dividida em pequenos espaços que, quando puxada fora, faz com que os peixes não possam escapar, ficando nas bolsas. O chumbo é para que a tarrafa afunde mais depressa, não dando aos peixes tempo de escapar. ESPINHEL : É uma grande linha de nylon ou de manilha na qual se prendem, em espaço, linhas armadas de anzóis. O espinhei é colocado em lagos, paranás, igarapés e rios; captura quase todas as espécies de peixes principalmente o Tambaqui- Colossoma Bidens(Spix), variando com os tamanhos dos anzóis e dos tipos de iscas usadas. ARPÃO : Empregado principalmente na pescaria do Pirarucu. Consta de uma haste longa e pescada, fabricado em "pau d'arco", com uma porta de ferro que se encaixa em uma de 38 suas extremidades. Presa ao arpão está uma corda (arpoeira) , com 20 a 30 braças, em cuja extremidade está amarrada uma bóia de madeira (molongó) ou plástico. O arpoador, sentado na proa da canoa, ao ver o Pirarucu boiar marca o local de memória e rema a canoa vagarosamente até suas proximidades. Quando o peixe bóia novamente, o arpão é vigorosamente lançado em sua direção, atingindo-o geralmente no dorso. A ponta solta-se da haste, que é recolhida pelo pescador. O peixe começa a vaguear e o pescador segura fortemente na arpoeira. Se o comprimento da arpoeira é pequeno e o peixe é grande, ele pode soltar a arpoeira com a bóia presa em sua extremidade. Após alguns minutos ela irá denunciar a presença do peixe, já cansado, que algum tempo depois, ainda vivo, é puxado para fora d'água pela corda presa à ponta de ferro. Quando o peixe aparece à tona d'água o pescador com um pedaço de madeira golpei-Ihe a cabeça, matando-o e em seguida colocondo na canoa. Após eviscerado é colocado na geladeira do barco. A haste do arpão é conhecida pelo pescadores como"astia". ZAGAIA: Empregada principalmente na pescaria do tucunaré, e que se denomina de "pescaria de facho". A zagaia é um tridente usado para pescaria com auxílio de uma luz forte (lanterna elétrica, luz ligada a bateria de automóvel ou lanterna de carbureto) à noite. O pescador procura, sentado na proa da canoa, o peixe que fica quase parado na margem dos lagos, como se estivesse dormindo. Quando o focaliza com a lanterna, ele fica imóvel; disso se aproveita o pescador para espetar-lhe a zagaia, capturando-o. ANZOL - LINHA DE MÃO : Utilizado principalmente por amadores para pesca de peixas lisos. Também é muito usado para a pescaria da Pescada. Consta de uma linha comprida com um único anzol, iscado com pedaço de peixe ou camarão, que, após atirada ao longe, é deixada descer até o fundo. O pescador pode deixa-la imóvel ou, com movimentos ritmados, sobe e desce a linha em pequena amplitude até que o peixe morda a isca e seja capturado. Essa decisão depende do tipo do peixe que se está tentando capturar. CANIÇO : Como é comum, consta de uma linha com anzol e chumbo presa numa haste. Dependendo do peixe que se quer capturar o tamanho do anzol varia bastante. A isca também varia, dependendo do pescado e da época do ano. Na pescaria do Tambaqui com caniço (que nesse caso particular é chamado "canicão") os pescadores usam os frutos da temporada colhidos no igapó. Na pescaria do Tucunaré usam isca de peixe vivo. PINAUACA : É um caniço com anzol, onde se prende um pedaço de tecido encarnado ou pena de Arara. O pescador começa então a resvalar o anzol na superfície da água num movimento de vai-e-vem ritmado até capturar o peixe. 39 CURRICO : Consta de uma colher de metal niquelado com anzol camuflado, preso a uma linha comprida que se arrasta à popa da canoa com motor. Quando a canoa se põe vagarosamente em movimento, a colher começa a brilhar um pouco abaixo da superfície da água imitando um pequeno peixe que atrai o predador que é capturado. É usado principalmente por amadores para a pesca do Tucunaré. ESTIRADEIRA É uma linha comprida de mais ou menos dez metros com quatro anzóis. Fica à meia água como um espinhei. Bastante usada na pescaria do Tambaqui no igapó, onde a linha fica presa em ramos finos das árvores. A isca, como a do caniço, varia bastante. ARCO E FLECHA : Apetrecho conhecidíssimo, legado a nós pelos indígenas, ainda hoje é utilizado. Interessantíssimo o seu uso pelos caboclos na "pesca" da tartaruga. Incrível a noção de balística no cálculo da distância e no caminho que a flecha percorrerá para atingir o alvo a algumas dezenas de metros. Esse tipo de pesca ainda é executado na região do Município de Urucurituba, em pleno leito do rio Amazonas. CACURI: É constituído de duas cercas de madeira fixas no chão , com duas esteiras móveis no centro. São construídas paralelamente de uma margem à outra com duas esteiras móveis. A do centro, funcionando como portão, abre-se ao impulso do cardume, fechando-se em seguida, após a passagem não dando tempo aos peixes para se libertar. O pescador com a tarrafa ou arpão, dependendo do tamanho do peixe aprisionado, faz a captura. TÓXICOS: Praticamente o Timbó ( Rotenona ) é o único tóxico utilizado para a pesca. Sabe- se que, desde a época do descobrimento do Brasil, os indígenas da região Amazônica já o utilizavam para a captura do peixe. Entre algumas plantas com as propriedades ictiotóxicas do Timbó (rotenona), podemos destacar as dos gêneros Derris, Lanchacarpos, Mundules, Spatholobos, Tephosia, Milletis. Para usá-la o caboclo faz um macerado e joga na água. O poder narcótico da rotenona faz com que os peixes subam à superfície,mortos ou narcotizados, e sejam apanhados por um puçá ou rapixé. CERCA: São construídas com varas resistentes e unidas entre si com arames, pregos ou cipós. Tem por finalidade bloquear a saída dos peixes dos lagos na época em que as águas começam a diminuir. Às vezes, devido à grande quantidade de peixes retidos nos lagos, o desperdício é enorme. O aquecimento da água geraa diminuição da concentração de oxigênio dissolvido, ocasionado a morte dos peixes. 40 EXPLOSIVOS : Embora seja também proibido o uso de explosivos, ainda são utilizados nas adjacências de Manaus, por pescadores amadores, e na região de Tefé, por influência de antigas pesquisas da Petrobrás, ocasionando um grande desperdício de pescado. O pescador arremessa a dinamite ou bomba caseira acesa na mão em ;ima do cardume que passa. Apenas uma pequena fração é aproveitada, pois a maioria vai ao fundo. A coleta dos peixes é feita por um puçá. Muitos têm sido os casos de acidentes fatais neste tipo de pescaria, Drincipalmente no Lago deTefé, onde os pescadores se utilizam de "bananas" te dinamite encontradas nas linhas de pesquisas efetuadas naquele município. FOCO : É basicamente construído de um farol de carro que funciona à bateria 3u a carbureto; é direcionado para o leito dos rios, lagos, igarapés, paranás, 3tc. Os peixes ficam imóveis quando atingidos pela forte luz; disso se aproveita ) pescador para fazer a captura de zagaia ou terçado (facão). É um método muito pouco utilizado. MATAPI : Cerca de palha de inajá ou curuá, traçada de margem à margem nas cabeceiras dos lagos, impedindo a saída dos peixes. Feita batição os peixes aglomeram-se perto da cerca; após é construída nova cerca a um metro de distância da primeira. Os peixes são então capturados com arpão ou zagaia. PARI : Em qualquer época do ano este método de pesca pode ser aplicado. É constituído de possantes varas fixadas nos leitos dos igarapés e lagos com um ou até quatro portões. Na frente de cada portão fincam-se quatro varas que, na passagem do peixe, se abrem em forma de leque, o suficiente para o pescador, que está observando armado de arpão, fazer a captura. Há outros variados métodos de captura, dependendo da imaginação do caboclo da Amazônia, mas não possuem significância no esforço da pesca. ARTES E APETRECHOS UTILIZADOS DE ACORDO COM A SITUAÇÃO DOS RIO PERÍODO APETRECHOS USADOS Enchentes Malhadeiras, espinheis, arpões e zagais Vazante Rede ou Redinha Cheia Malhadeiras com batição Seca Arrastão ou arrastadeiras nos lances de praias 41 42 43 Entre todas as formas e métodos de pescaria, o mais característico do Amazonas é a pesca nos "lances" "Lances ou Laços" são locais previamente escolhidas nas margens dos rios e que foram observados como passagem costumeira dos cardumes em piracema. São considerados propriedades dos pescadores que as preparam e lhes dedicam o máximo de respeito entre si por esse direito tradicional. Os "lances" podem ser transferidos de proprietário mediante a compra do terreno, em cuja margem está situado, ou, em caso de terras devolutas, até ser a área requerida ou adquirida por alguém. Existem muitos "lances" provenientes de acordo entre proprietários de terrenos e pescadores, para exploração desse locais. Como tais áreas são consideradas "áreas de Marinha", não sabemos até que ponto esses acordos têm validades, no entanto servem para eliminar possíveis atritos. Após capturados, levam-se os peixes para os barcos de pesca onde sào acondicionados nas "caixas de gelar ou geladeiras", na proporção de um quilo de gelo para um quilo de peixe. O gelo pode vir sob a forma de barras com peso variado de 20 a 50 kg ou em tabletes conhecidos como "escamas". O "gelo em pedra" ainda deverá ser quebrado para sua utilização. A operação é executada com pequenas marretas, normalmente em cima do próprio pescado, prejudicando sua qualidade e aumentando a mão-de-obra do pescador. O gelo do tipo "escama" já vem em condições de ser utilizado. Devido às condições das "caixas" sem divisões, não há possibilidade de classificar ou separar as espécies capturadas. O fato prejudica o pescador/ armador, por não poder vender o peixe com melhor preço. Terá de esperar que a "caixa" vá sendo esvaziada. Como a maioria dos barcos têm cargas quase sempre de peixe de uma só qualidade, o problema não chega a ser percebido pelos armadores, mas a seleção bem que ajudaria a comercialização. Mas, se não chega a prejudicar pela não classificação dessas espécies, com absoluta certeza deteriora a qualidade do pescado estocado por primeiro na "caixa", o último a sair para a comercialização. A frota pesqueira do Estado do Amazonas está classificada em quatro categorias: - canoas motorizadas, com capacidade de até 02 toneladas; - barcos pequenos, com capacidade de até 10 toneladas; - barcos médios, com capacidade de 10 a 20 toneladas; - barcos grandes, com capacidade superior a 20 toneladas; Segundo o Registro Geral da Pesca da SUDEPE/AM de 1984, a frota no Amazonas apresentava a seguinte evolução, por estimativa: Além dos 646 barcos registrados, deveriam existir pelo menos mais de 350 barcos operando de forma ilegal, principalmente no período da safra, ou seja, nos meses de agosto a novembro. Hoje, com o IBAMA substituindo a SUDEPE, não temos dados coitados sobre a atividade pesqueira no amazonas. Alegam seus dirigentes que essa informações não eram confiáveis, por isso foi mais fácil eliminá-las. Cremos que mais responsável seria fazê-las confiáveis. 44 45 FROTA PESQUEIRA DO AMAZONAS ANO CANOA MOTORIZAD A (ale 2 TAB) BARCO PEQUENO (de 2 a 10 TB) BARCO MÉDIO (de 10 a 20 TAB) GRANDE BARCO (d* + 20 TAB) TOTAL 1968 - 03 07 - 10 1969 - 12 13 - 25 1970 - 15 18 04 37 1971 - 16 22 04 42 1972 - 17 23 07 47 1973 - 26 24 10 60 1974 - 73 39 16 128 1975 - 137 67 21 255 1976 02 173 80 24 279 1977 03 210 99 30 342 1978 03 223 102 36 364 1979 03 234 107 41 385 1980 04 295 141 50 490 1981 04 322 149 56 531 1982 04 362 164 65 595 1983 04 393 175 74 646 FONTE : SUDEPE/ REGISTRO GERAL DA PESCA Dados até maio/ 83. 46 FREQÜÊNCIA MENSAL DE CHEGADA DOS BARCOS PESQUEIROS A MANAUS, COM COMERCIALIZAÇÃO NO MERCADO ADOLPHO LISBOA-1983 Embarcação com capacidade em toneladas MÊS 02 10 20 35 50 70 Acima de 71 TOTAL JANEIRO 12 151 33 13 06 03 01 219 FEVEREIRO 19 136 41 12 05 03 - 216 MARÇO 09 138 36 13 07 - . 203 ABRIL 12 106 34 11 09 07 - 179 MAIO 11 121 62 22 13 07 . 236 JUNHO 12 163 38 10 06 01 - 230 JULHO 14 147 50 15 06 05 - 237 AGOSTO 05 209 76 16 07 02 - 315 SETEMBRO 10 167 72 21 10 02 - 282 OUTUBRO 03 177 62 20 08 03 . 273 NOVEMBRO 08 138 51 16 04 05 - 222 DEZEMBRO 10 157 53 22 09 03 - 254 FONTE : Colônia Z- 12 de Manaus OBS : Neste quadro não contam a chegada dos barcos aos portos da PANAIR. Compensa. Gloria e São Raimundo 47 A frota pesqueira do Amazonas é constituída em 60% de barcos do tipo pequeno. São na realidade aqueles que têm maior produtividade relativa, nos dias atuais, em face dos custos elevados das despesas de custeio, onde o diesel e o lubrificante representam mais de 50% dessas despesas. Quanto ao comprimento dos barcos, com menos de 20 toneladas de arqueação, varia com o mínimo de seis metros e o máximo de 18 metros, e intervalo de 9 a 15 metros. Constituem 85% das embarcações pesqueiras. Para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidades o comprimento varia entre 18 e 34 metros, com 55,8% do total no intervalo de 16 a 20 metros. A boca (maior largura do casco) varia entre 3,50 e 6,20 metros, sendo que a maior frequência se encontra nos barcos com 4,40 a 5,00 metros, participando com a quota de 40,4%. Com relação ao calado (distância vertical entre a superfície da água ea parte mais baixa da embarcação) para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidade, há variação desde 0,50 a 2,10 metros, sendo 73,1% na faixa de 0,90 a 1,50 metros. O pontal (distância vertical da embarcação entre a guilha e o convés) varia de 1,11 a 2,70 metros; na faixa de 1,11 a 1,90 metros encontra-se a maioria de Manaus, o YANMAR e o MWM 38%, dividem as preferências dos motores. A potência dos motores varia de 03 a 250 HP. As embarcações da frota pesqueira de Manaus, ou "geladeiras", são construídas a nível de artesanato, sem nenhum projeto ou desenho antes de sua estrutura. Não há, pois, padronização. As escotilhas podem estar dispostas de três maneiras diferentes:. nas laterais, na parede anterior frontal ou na parte superior. Os barcos não dispõe de qualquer instrumento auxiliar de navegação. Existe a bordo, porém rádio portátil para captar recados transmitidos por estações da capital. A conservação do pescado é feito na "geladeira". Ela possui caimento nos sentidos transversal e longitudinal, com dreno para escoamento. O isolamento térmico das caixas é feito, em cada parede, por duas folhas de zinco separadas por pranchas de madeira (itaúba ou cedro) e isopor em placas colocadas com juntas desencontradas. A madeira empregada na construção dos casco dos barcos é itaúba; na cobertura ou tolda e nos fechamentos laterais dos camarotes, casa do leme, etc; usa-se cedro; os arcos das cavernas, que exigem boa resistência e flexibilidade, são feitos de raízes ou galhos de itaúba ou piquiá. Embora sirva à construção de embarcação mais resistentes e duráveis, o ferro é pouco empregado nesta região. Basta verificar o número de estaleiros de contrução e reparos em Manaus e localidades adjacentes: três para construção e reparos de barcos de ferro e 87 para barcos de madeiras. Muitos barcos médios e grandes mudaram de atividades ou só se dedicam à pesca na época da safra, uma vez que despesas de "armação" são realmente grandes. Se um barco pequeno utiliza 600 litros de diesel para uma viagem de 15 dias, os médios gastarão três e os grandes até dez vezes mais. Como nem sempre são bem sucedidos em suas pescarias, para os barcos médios e principalmente grandes será mais difícil recuperar o prejuízo acumulado de viagens anteriores. A maioria dos armadores de pesca, para equipar seus barcos, é obrigada a recorrer aos "despachantes" que lhe adiantam recursos para os investimentos da "campanha"ou seja, da viagem. São pagamentos de gelo, combustíveis e lubrificantes, ranchos e "abonos" para as famílias dos pescadores. Os barcos de pesca quase todos são mal dimensionados. Têm potência exagerada forçando consumo desnecessário de combustível. Mas o principal defeito está nas 48 "caixas de gelar", fabricadas com pouco material isolante e sem as necessária divisões.Tais falhas fazem com que o pescado transportado e comercializado em Manaus não tenha condições de congelamento. Muito se poderia melhorar as condições de transporte do pescado se fossem tomadas as seguintes providências: - Dividir as "caixas de gelar" em urnas ou prateleiras, possibilitando menor volume por módulo e facilidade de reposição de gelo durante a viagem. - Imersão do pescado em água misturada com gelo, antes de ser arrumado nas urnas ou prateleiras; - Antes da construção da caixa, procurar um especialista em tecnologia de pescado, para calcular o tamanho da caixa, o tipo de isolamento, a espessura e o material a ser usado; - Isolar o espaço entre a "caixa de gelar" e o casco, mesmo com material mais barato, auxiliaria bastante a eficiência da conservação. Essas medidas melhorariam substancialmente a qualidade do produto, evitando também o desperdício hoje em torno de quase 30% do pescado transportado, principalmente porque seria descarregado rapidamente quando chegasse a Manaus. A necessidade de estocar o pecado nos barcos por vários dias, à espera dos compradores, faz com que a sua qualidade não permita, após 2 ou 3 dias, ser congelado. A perda de calor pela abertura da caixa é altamente significativa e deve ser evitada ao máximo. O ideal seria a descarga do barco de uma única vez. O peixe seria classificado e estocado em câmaras de resfriamento, acondicionados em "caçapas" com gelo. Nessa mesma embalagem seria comercializado nas feiras e mercados. BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL) 49 BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL) 50 BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS (ESCOTILHAS LATERAIS) 51 BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS (ESCOTILHA SUPERIOR) 52 COMERCIALIZAÇÃO, INDUSTRIAL E EXPORTAÇÃO Na comercialização do pescado está a principal dificuldade de nossa atividade pesqueira. É assunto que apresenta os maiores problemas e cujas conseqüências atingem diretamente os consumidores. O sistema de comercialização efetuado no Amazonas tem seu principal mercado na cidade de Manaus. A comercialização nas cidades do interior, com raríssimas exceções, é feita sem interferência dos atravessadores. Os pequenos pescadores comercializam diretamente com os consumidores a sua produção. Um dos poucos municípios do interior do Amazonas onde a comercialização é realizada por feirantes é Itacoatiara, onde por sinal o pescado acompanha os preços de Manaus. Em Tabatinga ocorre um fato interessante. Os pescadores, que trazem o peixe para ser comercializado na cidade, não podem deixar as suas canoas amarradas à margem do rio e levar a produção para vender no Mercado. Caso aconteça, quando voltarem as embarcações já terão desaparecido, roubadas, e, como se trata de fronteira, nunca mais as encontrarão. Por isso entregam o pescado a menores, que vendem no Mercado por preços majorados em mais de 100%. Nos municípios menores , onde não existem pescadores organizados, ou em alguns casos até mesmo com Associação de Pescadores, a comercialização acontece no próprio rio, diretamente de suas canoas. Em certos municípios os prefeitos tentam disciplinara Comercialização, obrigando os pescadores individuais de pequenas canoas a vender o produto no Mercado. Às1 vezes não oferecem nem dez peixes. Cremos com a experiência de três gestões como Prefeito, que obrigar um pobre pescador, após um dia de trabalho solitário com apetrechos primários, com produção insignificante, a vender 04 ou 05 peixes no Mercado, chega a ser desumano. A taxa paga à Prefeitura nem cobrirá as despesas com a limpeza de sua banca. Também os Prefeitos Municipais, com base na tradição e nos costumes locais, tabelam o preço do peixe e da carne evitando que os preços sejam violados. Outras vezes cobram uma taxa de 3 a 5% para manutenção dos Mercados. Somando-se às taxas cobradas pelas Colônias e Associações, até 5%, o pescado chega aos consumidores onerado de aproximadamente 10%. Em Manaus o sistema de comercialização é bem mais complexo. Ao chegarem a Manaus os barcos pesqueiros ficam à espera do leilão noturno, às 22:00 horas. Neste horário, mesmo aos domingos e feriados, realiza-se a comercialização do pescado. Ontem, ao largo do Mercado Adolpho Lisboa, hoje, no porto da Feira da Panair, com uma frota que pode somar 60 barcos, dependendo da época, o peixe é leiloado sob o pregão dos despachantes e a bordo de cada barco, com a participação dos feirantes. Munidos de apenas um caderno e uma "esferográfica"os despachantes vão anotando os peixes adquiridos pelos feirantes, que os deverão pagar antes da próxima compra, geralmente no dia
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