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Introdução Segurança e design (projeto) Introdução ao manejo da via respiratória e equipamento de suporte Tubos endotraqueais, dispositivos de isolamento pulmonar, dispositivos supraglóticos para a via respiratória, laringoscópios, auxiliares para intubação e técnicas Tubos endotraqueais Tubos endotraqueais para isolamento de um pulmão Dispositivos supraglóticos para via respiratória Laringoscópios Auxílios e técnicas para intubação Intubação nasotraqueal Técnicas orientadas por guia metálica ou tubo Técnica orientada por endoscópio Trocadores de tubo endotraqueal Intubação retrógrada Traqueostomia Faringotomia lateral Técnicas de administração de oxigênio Liberação por máscara Insuflação nasal Insuflação traqueal Gaiolas de oxigênio Toxicidade do oxigênio Introdução ao aparelho de anestesia e aos circuitos anestésicos Fornecimento de gás medicinal Segurança dos gases medicinais Válvula para reduzir a pressão (reguladora) Calibradores de pressão Aparelho de anestesia moderno Fluxo de gás no aparelho de anestesia Fluxômetros Vaporizadores Descrições de vaporizadores comuns na medicina veterinária Manutenção de vaporizadores Uso do anestésico errado em um vaporizador específico para o agente Válvula do fluxo de oxigênio Saída comum de gás Sistemas respiratórios Sistema com retorno respiratório (circular) Sistemas sem retorno respiratório Sistema de eliminação dos resíduos de gás Procedimento rotineiro de verificação do aparelho de anestesia Ventiladores para anestesia Classificação Introdução sobre os ventiladores de circuito único e duplo Ventiladores de circuito único com pistão Ventiladores de circuito único a gás comprimido Ventiladores de circuito duplo Controle do gás que aciona o ventilador Fatores que afetam a liberação do volume corrente Alarmes Ajuste e monitoramento apropriados do ventilador Modelos selecionados de ventilador Dispositivos de assistência respiratória Reanimadores manuais Válvulas de demanda Agradecimentos Referências bibliográficas Introdução A liberação e a manutenção de uma anestesia segura dependem cada vez mais de equipamentos mecânicos e elétricos. É necessário que o anestesista tenha um entendimento abrangente do funcionamento do equipamento e dos riscos potenciais para o paciente e a equipe cirúrgica, antes da adaptação para os cuidados rotineiros do paciente. O equipamento anestésico inclui vários produtos de suporte respiratório, dispositivos para a liberação de oxigênio, aparelhos de anestesia, sistemas de eliminação (limpeza), ventiladores e muitas configurações de monitores do paciente e outros produtos de suporte. Os produtos disponíveis para o anestesista veterinário incluem quase qualquer um usado em pacientes humanos que possa ser adaptado para uso na anestesia veterinária, itens produzidos regularmente de maneira específica para o mercado veterinário e muitos produtos que têm sua quantidade limitada ou são adaptados e só ocasionalmente podem estar disponíveis. Há vários livros excelentes voltados para a descrição com grandes detalhes do equipamento anestésico disponível para uso na anestesia humana1–4 e, embora não inteiramente aplicáveis à anestesia veterinária, grande parte do equipamento usado é a mesma (i. e., vaporizadores, laringoscópios, tubos endotraqueais, alguns aparelhos de anestesia) ou pode ser adaptada de produtos destinados ao uso humano. Como tal, seria impossível comentar todo o equipamento anestésico relacionado e produtos disponíveis hoje em um único capítulo. Neste capítulo, oferecemos ao leitor os princípios operatórios e uma visão geral do trabalho prático com produtos comuns relacionados com anestesia (i.e., tubos endotraqueais, auxiliares para intubação etc.), aparelho de anestesia, vaporizadores, circuitos respiratórios e ventiladores. Além disso, há produtos designados especificamente para uso veterinário que serão descritos aqui em maiores detalhes. Segurança e design (projeto) Desde 1989 e 2000, respectivamente, os circuitos respiratórios para anestesia humana (i.e., sistema circular) e aparelhos de anestesia na América do Norte precisam satisfazer padrões mínimos de projeto e segurança, estabelecidos por organizações como a American Society for Testing and Materials (ASTM) e a Canadian Standards Association (CSA). A atualização mais recente desses padrões foi em 2005, com o documento designado ASTM F1850 (Standard Specification for Particular Requirements for Anesthesia Workstations and Their Components). Os aparelhos de anestesia destinados ao uso veterinário não precisam satisfazer quaisquer projetos ou padrões de segurança específicos, além daqueles associados aos riscos básicos para o operador (i.e., exigências de segurança elétrica). Frequentemente, são acrescentados aspectos de segurança em uma base ad hoc e não há exigências quanto à demonstração da eficácia do equipamento. O ideal é que alguns aspectos de segurança, como alarmes de pressão na via respiratória, façam parte do projeto de qualquer aparelho de anestesia. A inclusão de alguns destes sistemas de segurança nos aparelhos de anestesia pode ajudar a eliminar acidentes anestésicos passíveis de prevenção. No entanto, até que os padrões de segurança e projeto sejam adotados pelos fabricantes de equipamentos de anestesia veterinária, continuará havendo opções de equipamentos de qualidade, eficácia e segurança variáveis para a liberação de anestésicos inalatórios aos animais. O equipamento antigo e de suporte para animais, inclusive monitores e ventiladores, também não é submetido a testes de eficácia e segurança. Felizmente, a maioria dos fabricantes e distribuidores mais confiáveis fornece com presteza as especificações, informação sobre a acurácia e qualquer teste de eficácia de seus projetos. Apesar da existência de padrões, o anestesista veterinário sempre terá de saber bem a função, os princípios de operação e uso de todas as peças do equipamento relacionadas com a anestesia, bem como terá de assegurar que o aparelho ou peça do equipamento tenha um projeto adequado para cumprir sua função com segurança. Introdução ao manejo da via respiratória e equipamento de suporte O manejo e o suporte da via respiratória são vitais para a liberação segura da anestesia. A maioria dos anestésicos, senão todos, causa depressão respiratória nas doses adequadas para anestesia. Além disso, o relaxamento e/ou a perda dos reflexos das vias respiratórias deixam o paciente mais propenso à obstrução das vias respiratórias superiores. Ambos estes fatores implicam maior risco de hipoxia para o paciente anestesiado. Além disso, os anestésicos inalatórios precisam ser liberados para os pulmões ao mesmo tempo que se minimiza a exposição do ambiente e da equipe aos resíduos de gases anestésicos. Por isso, o manejo e o suporte da via respiratória são aspectos críticos da anestesia geral inalatória, quando realizada adequadamente. ■ Tubos endotraqueais, dispositivos de isolamento pulmonar, dispositivos supraglóticos para a via respiratória, laringoscópios, auxiliares para intubação e técnicas Tubos endotraqueais Os tubos endotraqueais são usados comumente para manter uma via respiratória em um paciente anestesiado. Dispositivos supraglóticos para via respiratória (DSGVRs ou SGADs, de supraglotic airway devices) também foram avaliados em várias espécies domésticas e podem ser alternativas adequadas em algumas circunstâncias.5–9 Um tubo endotraqueal ou dispositivo supraglótico para via respiratória bem colocado com coxim insuflado adequadamente proporciona uma via respiratória para o paciente, facilita a ventilação com pressão positiva, protege os pulmões contra a aspiração de líquidos e impede a contaminação do ambiente de trabalho com resíduos de gases anestésicos. Ocasionalmente, é melhor limitar o manejo da via respiratória a um único pulmão (i.e., toracoscopia), dispondo-se de equipamento projetado especialmente para cumprir esta tarefa em cães. Há muitos estilos e tipos de tubos endotraqueais que podem ser usados na medicina veterinária. A maioria é fabricada parapacientes humanos, mas também pode ser usada na maioria dos pequenos animais. Há alguns produtos veterinários específicos para pacientes que precisam de tubos maiores e menores do que os disponíveis para uso humano. Os tubos endotraqueais fabricados para pacientes humanos precisam ter várias marcações e abreviaturas diretamente no tubo que descrevam cada característica do mesmo e também a profundidade de inserção. As marcações podem incluir o fabricante, o diâmetro interno (I.D.) e o externo (O.D.), seu comprimento e códigos de identificação, indicando a toxicidade tecidual ou testes de implantação (p. ex., F29) (Figura 3.1). Não há exigências para marcações semelhantes nos tubos fabricados exclusivamente para uso veterinário, mas é comum constarem neles, no mínimo, o diâmetro e o comprimento. Em geral, o tamanho dos tubos endotraqueais é dado de acordo com seu diâmetro interno. Por exemplo, um tubo endotraqueal de tamanho 6.0 é aquele com diâmetro interno de 6 mm. Alguns tubos fabricados especificamente para uso veterinário têm o tamanho indicado pela escala de calibre francês para cateter, e, em geral, isto reflete, embora nem sempre, seu diâmetro interno. O diâmetro externo de um tubo de qualquer tamanho pode variar, dependendo da construção do tubo. Nos tubos endotraqueais com paredes mais espessas, a diferença entre o diâmetro interno e o externo é maior, o que pode ser importante ao se escolher um deles para animais muito pequenos. Os tubos de parede muito espessa terão, de fato, o diâmetro interno da via respiratória muito reduzido, em comparação com um de parede fina, pois o tamanho de um tubo endotraqueal que pode ser colocado em um paciente é limitado pelo seu diâmetro externo, não pelo interno. Contudo, os tubos macios de parede muito fina são suscetíveis à obstrução decorrente da compressão externa ou por causa de dobras (Figura 3.2). Os materiais comuns de tubos endotraqueais incluem cloreto de polivinil, silicone ou borracha vermelha. Os tubos endotraqueais preferidos são, em geral, os transparentes, porque podem ser inspecionados visualmente quanto à presença de muco ou sangue, no período intraoperatório, ou de resíduos após a eliminação. Em geral, deve-se usar o tubo endotraqueal do tamanho maior, que se adapte à traqueia do paciente sem causar traumatismo. Embora haja várias regras básicas para selecionar o tamanho de um tubo, provavelmente é mais fácil estimar o tamanho mais apropriado do tubo palpando-se a área cervical da traqueia do paciente. O tubo não deve estender-se distalmente além da entrada torácica e o ideal é que não se estenda rostralmente além dos dentes incisivos do paciente, pois qualquer tubo que faça isso aumentará o espaço morto mecânico. Se o tubo endotraqueal for muito comprido, e a inserção adicional levar à possibilidade de intubação endotraqueal, a extremidade do aparelho pode ser cortada e o conector do tubo, reinserido. Figura 3.1 A. A maioria dos tubos endotraqueais tem aspectos comuns no projeto. Contudo, o projeto e os materiais específicos podem variar entre os diversos fabricantes. B. Os tubos podem ser feitos de silicone, cloreto de polivinil e borracha vermelha (de cima para baixo). (Fonte: B. Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá.) (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) Figura 3.2 Tubos endotraqueais de parede muito fina são propensos à oclusão em decorrência de compressão externa ou dobras. É necessária a avaliação contínua da permeabilidade do tubo endotraqueal quando são usados tubos endotraqueais de parede fina muito flexíveis. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. O tipo de tubo endotraqueal mais comumente usado, tanto para grandes como pequenos animais, é o do tipo Murphy com manguito, mostrado na Figura 3.1. Os tubos do tipo Cole e os protegidos (espiral embutida, blindada) também são usados ocasionalmente na medicina veterinária. Os tubos Cole ficam em um tubo sem manguito que tem um diâmetro menor na extremidade do paciente (distal) com relação à extremidade do aparelho (proximal). A parte do tubo com o diâmetro distal menor é inserida na traqueia até onde o ombro entra em contato com a laringe, formando uma vedação. Entretanto, os tubos Cole não têm a mesma segurança de via respiratória de um tubo padrão com manguito e normalmente são usados apenas em pacientes muito pequenos, para intubação por pouco tempo (Figura 3.3). Tubos protegidos incorporam uma espiral de metal ou náilon que reforça o arame no tubo e, assim, ajuda a impedir que ele se feche (colapse) e haja oclusão (Figura 3.4). Os tubos protegidos são úteis nas situações em que há probabilidade de o tubo ser comprimido ou dobrar-se, como nos procedimentos que requerem extrema flexão da cabeça e do pescoço (p. ex., coleta de líquido cerebrospinal cervical e procedimentos oftalmológicos) ou aqueles que envolvem compressão da traqueia (p. ex., retração traqueal durante abordagem ventral à coluna vertebral cervical). Figura 3.3 Tubo endotraqueal Cole, demonstrando o ombro afilado, usado para posicionar o tubo na laringe, formando uma vedação. Notar que o tubo não tem manguito ou balão-piloto. Figura 3.4 Tubos protegidos contêm uma espiral metálica ou de náilon (A), que impede seu colapso (fechamento) se encurvados ou dobrados (B). Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. A extremidade do tubo que o conecta ao aparelho contém o conector do tubo endotraqueal. A parte mais proximal do conector, usado para pequenos animais e seres humanos, tem um tamanho uniforme (15 mm de diâmetro externo [O.D.]), facilitando a conexão universal a todos os circuitos anestésicos considerados dentro do padrão. Tubos projetados para grandes animais costumam ter conectores maiores, que incluem tipos de metal e funil. O tamanho da extremidade distal (do paciente) do conector varia de acordo com o diâmetro do tubo endotraqueal. Adaptadores do tubo endotraqueal também podem incorporar saídas para amostragem de gás (Figura 3.5), particularmente úteis em pacientes pequenos, nos quais a minimização do espaço morto pode ser importante e pode melhorar a acurácia da amostragem de gases em pacientes pequenos, em que costumam ser usados sistemas não respiratórios. Figura 3.5 Dois adaptadores de tubo endotraqueal que incorporam uma saída para amostragem de gás. Notar o diâmetro interno (volume) do projeto pediátrico à direita. Este tipo de projeto pode ajudar a melhorar a acurácia da amostragem do gás corrente e residual em pacientes menores. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Os tubos endotraqueais destinados aos grandes animais normalmente são fabricados com um adaptador afunilado de silicone (Figura 3.6), projetado para se adaptar a uma peça em Y para grandes animais (54 mm de O.D.). Também há adaptadores de aço inoxidável (22 mm de O.D.), projetados para adaptação ao dispositivo de inserção Bivona, às vezes, encontrado em peças em Y para grandes animais. A extremidade do paciente (distal) do tubo endotraqueal normalmente é biselada. Os tubos do tipo Murphy têm um orifício na parede do tubo oposta à do bisel, com referência ao olho ou orifício de Murphy (ver Figura 3.1A). A finalidade do orifício é proporcionar uma via alternativa para o fluxo de gás se a abertura biselada ficar obstruída. Os tubos endotraqueais sem olho de Murphy são conhecidos como do tipo Magill. É possível encontrar a maioria dos tamanhos de tubo endotraqueal sem manguito inflável, embora o uso de tubos com manguito proporcione uma via respiratória mais confiável. Os tubos sem manguito tendem a ter o diâmetro muito pequeno, de modo que o acréscimo de um manguito pode não ser viável ou limitar o diâmetro máximo do tubo que pode ser usado em um paciente. O manguito fica na extremidade do aparelho em que se localiza o olho de Murphy nos tubos com manguito e pode ser um projeto de volume baixo e alta pressão ou de volumealto e baixa pressão (Figura 3.7). Em geral, os manguitos de volume alto e pressão baixa são preferidos para minimizar o risco de lesão traqueal isquêmica, que pode resultar de pressão excessiva contra a parede traqueal. Quando se usa um tubo endotraqueal com manguito de alto volume e pressão baixa que se adapta bem, a pressão exercida pelo manguito sobre a parede traqueal é similar àquela dentro do manguito. Isto permite uma estimativa melhor da pressão exercida pelo manguito na parede traqueal. Quando se usa um tubo endotraqueal com manguito de alta pressão e volume baixo, a pressão dentro do manguito não reflete aquela na parede traqueal, mas sim a criada pela espiral elástica do manguito, dificultando as estimativas da pressão exercida pelo manguito sobre a parede traqueal. Pressões na parede traqueal que ultrapassem 48 cmH2O podem impedir o fluxo sanguíneo capilar, com o potencial de causar lesão traqueal isquêmica, e pressões abaixo de 18 mmHg podem aumentar o risco de aspiração.10 Também há vários casos de ruptura da traqueia ou seus relatos na medicina veterinária, ocasionando pneumotórax, pneumomediastino e/ou enfisema subcutâneo.11 Figura 3.6 Dois tubos endotraqueais usados para anestesia em grandes animais. Estes tubos costumam ser de silicone e fabricados com um funil adaptador, também de silicone, que é compatível com a peça em forma de Y da maioria dos circuitos respiratórios para anestesia em grandes animais. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Figura 3.7 O tubo endotraqueal de cima tem um manguito de alto volume e baixa pressão, enquanto o tubo de baixo é um exemplo de um manguito de alta pressão e baixo volume. Notar o volume que pode ser associado ao primeiro, em comparação com o segundo. O volume associado a alguns manguitos pode limitar o tamanho do tubo endotraqueal, o que pode causar problemas em pacientes muito pequenos. Entretanto, os manguitos de alto volume e baixa pressão podem ajudar a reduzir o dano endotraqueal resultante da hiperinsuflação do manguito. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Um método confiável para assegurar que as pressões do manguito estejam dentro da faixa recomendada é usar um monitor de manguito para insuflar aqueles de volume alto e pressão baixa. Um monitor de manguito é essencialmente um manômetro de pressão baixa, similar ao usado para medir a pressão arterial com o Doppler, inserido ao balão-piloto do manguito para fornecer uma medida da pressão dentro dele. Há outros guias de insuflação de manguito disponíveis no comércio para o mercado humano que podem ser adaptados para uso veterinário (Figura 3.8). Como alternativa, é mais comum usar um teste de vazamento, que é realizado insuflando-se o manguito até não se ouvir mais um vazamento, enquanto são mantidas pressões na via respiratória de 20 a 30 cmH2O. O balão-piloto usado para insuflar o manguito de um tubo endotraqueal é conectado ao manguito por um canal incorporado no tubo endotraqueal e, normalmente, inclui uma seringa com sistema de válvula de vedação ativado automaticamente. No entanto, também há balões-pilotos sem válvulas e sem sistema de autovedação, que precisam ser fechados com uma pinça ou rolha. ■ Figura 3.8 Pode-se usar um guia ou monitor de insuflação de manguito para avaliar as pressões dentro do tubo endotraqueal e ele pode ajudar a evitar lesão traqueal secundária a pressões excessivas sobre a parede traqueal. Há vários estilos disponíveis. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Recentemente, foi lançado no mercado veterinário um tubo endotraqueal autosselante sem manguito (Safe-SealTM, Innovative Animal Products, Rochester, MN, EUA, 55901), com uma série de orlas aneladas flexíveis na extremidade que fica no paciente e se deformam, adaptando-se aos contornos da traqueia, formando uma vedação contra a parede traqueal, que elimina a necessidade de insuflação do manguito (Figura 3.9). Atualmente, não há estudos de pesquisa independentes avaliando a efetividade deste tubo para uso na anestesia veterinária. Ele está disponível em um número apenas limitado de diâmetros internos e difere de um tubo endotraqueal convencional por não ter o olho de Murphy nem o manguito inflável. Tubos endotraqueais para isolamento de um pulmão Além dos tubos endotraqueais que acabamos de descrever, existem outros projetados especialmente para isolar e ventilar um só pulmão. As indicações para o uso destes tubos incluem melhora das condições cirúrgicas em vários procedimentos torácicos (i.e., toracoscopia), controle de contaminação ou hemorragia e uso nas circunstâncias em que há patologia unilateral. Em geral, há três métodos de isolamento ou ventilação de um único pulmão: um tubo de lúmen duplo (TLD), um bloqueador brônquico ou o uso de um tubo endotraqueal padrão longo. É provável que a intubação endobrônquica para a ventilação ou o isolamento de um único pulmão seja menos desejável, pois ela proporciona um controle menos direto para fazer alterações no pulmão não intubado. Contudo, não requer equipamento especializado, além de um tubo endotraqueal com comprimento suficiente, e é relativamente fácil de fazer. Tem sido usada com sucesso em cães e pode ser uma alternativa quando não se dispõe de TLDs e bloqueadores brônquicos.12,13 Os TLDs tendem a ser a opção preferida na medicina humana. Todos os TLDs disponíveis no comércio foram projetados especificamente para pacientes humanos e adaptados para uso em cães. Vários tipos deles foram avaliados em cães de uma grande variedade de tamanhos e raças.14–17 Os TLDs, na verdade, consistem em dois tubos unidos em um lúmen único e estão disponíveis para o lado direito e o esquerdo (Figura 3.10), conforme o brônquio principal ao qual deve adaptar-se. A maioria dos TLDs é projetada com uma extremidade distal angulada para facilitar a colocação em um ou outro brônquio. Os três estilos mais comuns são o Robertshaw, o Carlens e o White. Eles têm dois manguitos elípticos, um para ocluir a traqueia e outro para ocluir o brônquio (Figura 3.11). O manguito brônquico e o balão-piloto normalmente são azuis, para diferenciá-los do manguito traqueal. Figura 3.9 Um exemplo de tubo endotraqueal autosselante (A). Ele não tem manguito inflável e, em vez disso, contém uma série de orlas moles flexíveis para dar segurança à via respiratória (B). Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Figura 3.10 Um exemplo de tubo endotraqueal de lúmen duplo esquerdo de Robertshaw. Os TLDs podem ser usados para ventilar seletivamente um ou ambos os campos pulmonares em cães de tamanho apropriado. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) O formato e o projeto dos manguitos brônquicos direitos variam para facilitar a ventilação do lobo pulmonar direito superior em seres humanos. O uso de tubos direitos em cães pode resultar em maior incerteza na colocação e falhas, pois o brônquio do lobo pulmonar cranial direito do cão se ramifica mais proximal que no ser humano, e o manguito brônquico pode ocluir o brônquio ou ocorrer falha no isolamento completo do hemitórax. Em geral, os tubos esquerdos são usados com maior frequência e podem ser efetivos tanto nos procedimentos do lado esquerdo como do direito. Mesmo se houver necessidade de pinçamento ou transecção proximal do brônquio principal esquerdo, o tubo do lado esquerdo pode simplesmente ser retirado da traqueia, de modo que a parte distal do tubo no brônquio não interfira no pinçamento. O lúmen interno da parte traqueal do tubo é oval ou em forma de D e os tamanhos são projetados usando-se a escala francesa, que varia de 26 a 41. O lúmen reduzido aumenta a resistência à respiração, em comparação com o lúmen de um tubo de tamanho padrão apropriado, mas isto é superado pelo uso frequente de ventilação com pressão positivaintermitente nestes casos. Os TLDs permitem que o anestesista ventile cada campo pulmonar independentemente do outro ou ambos em conjunto, sem trocar ou mover o tubo, mas requer desconexão e reconexão do circuito anestésico ao adaptador apropriado do tubo endotraqueal (brônquico ou traqueal) ou ambos, usando-se um adaptador com peça em Y (Figura 3.12). Figura 3.11 Imagem de perto demonstrando a extremidade distal de um tubo endotraqueal de lúmen duplo Robertshaw esquerdo. Notar o ângulo da extremidade distal do tubo e os dois manguitos. O manguito azul mais distal é o brônquico. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A capacidade de ventilar de maneira seletiva cada campo pulmonar ou ambos simultaneamente é uma vantagem distinta sobre os sistemas de bloqueio brônquico ou intubação endotraqueal, quando as condições cirúrgicas exigem operar em ambos os lados do tórax. Contudo, os tamanhos que costumam estar disponíveis limitam o uso dos TLDs em cães de 5 a 20 kg de peso. Alguns TLDs (Carlens, White) também têm incorporado um gancho de carina projetado para ajudar na colocação apropriada do tubo e evitar movimentação após o posicionamento. Em animais, esta modificação, na verdade, pode ser prejudicial em vez de contribuir para a colocação correta do tubo.14 Também é preciso cuidado ao colocar TLDs com um gancho de carina, para assegurar que ele não se prenda em quaisquer tecidos ou estruturas ao se introduzir o tubo na traqueia. Por isso, é provável que o TLD Robertshaw esquerdo seja o tipo mais versátil para uso em cães. Em animais, a colocação correta de um TLD em geral é confirmada por visualização direta, usando-se um broncoscópio de pequeno diâmetro. Recentemente, também foi descrita uma técnica toracoscópica assistida.14 A colocação correta e completa também é confirmada pela ventilação de ambos os campos pulmonares, direito e esquerdo, auscultando-se os sons pulmonares. A colocação correta e completa deve ventilar todos os campos pulmonares pretendidos (i.e., direito ou esquerdo), sem ventilar qualquer um dos campos do lado contralateral. Embora a colocação às cegas de alguns tubos seja possível, está associada a um índice de falhas relativamente alto no sentido da colocação correta e completa do tubo.14 Pequenos movimentos do tubo e/ou do paciente podem anular a colocação correta e completa, ocasionalmente com prolapso do manguito brônquico para a traqueia, causando obstrução completa da via respiratória. É necessário vigilância por parte do anestesista para reconhecer e corrigir quaisquer problemas de posicionamento que possam ocorrer (p. ex., desinsuflação do manguito brônquico). Figura 3.12 Os TLDs podem ser usados para ventilar (ou colapsar) cada campo pulmonar independentemente ou ambos ao mesmo tempo (A). A configuração do adaptador necessário para ventilação (ou colapso) de um campo pulmonar independente e (B) o uso de um adaptador em Y para facilitar a ventilação simultânea de ambos os campos pulmonares. Notar o balão-piloto azul e o tubo azul correspondentes à parte brônquica do tubo. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) Os bloqueadores brônquicos representam outro sistema para facilitar o isolamento ou a ventilação de um pulmão em cães (Figura 3.13).13,15,18,19 Na anestesia humana, em geral são usados quando o tamanho do paciente impede o uso de um TLD ou há anormalidades ou diferenças anatômicas que impeçam a adaptação ideal de um tubo. O fato de serem muito adaptáveis para uso em uma ampla variedade de tamanhos de pacientes e não tão específicos em termos anatômicos como os TLDs constitui vantagens distintas de seu uso na anestesia veterinária. Entretanto, não é possível a ventilação pulmonar independente sem retirá-los e recolocá-los no brônquio contralateral. Os bloqueadores brônquicos são essencialmente cateteres longos, com um manguito ou balão inflável elíptico ou redondo na ponta (Figura 3.14). Os manguitos e balões-pilotos da maioria dos bloqueadores brônquicos projetados são azuis para diferenciá-los daqueles dos tubos endotraqueais. Como seria esperado, cateteres de Foley ou do tipo balão, usados como bloqueadores brônquicos, não seguem este esquema de cor. Os bloqueadores brônquicos podem ser usados coaxialmente ou em paralelo com um tubo endotraqueal padrão. Vários adaptadores giratórios são comercializados com bloqueadores brônquicos para facilitar o uso coaxial. Os adaptadores giratórios conectam-se ao adaptador do tubo endotraqueal e têm saídas para a passagem do bloqueador brônquico, um broncoscópio e um conector para o circuito anestésico (Figura 3.15). Figura 3.13 Um exemplo de sistema de bloqueio brônquico de uso comum em veterinária. O sistema consiste em um bloqueador brônquico (cateter com balão na ponta) e um adaptador giratório, que permite a colocação coaxial do bloqueador. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. As saídas são projetadas de maneira a impedir vazamento e fixar o bloqueador brônquico assim que for colocado. Também há um produto coaxial para uso humano no comércio (tubo Univent®, Teleflex Inc., Limerick, PA, EUA), que incorpora o bloqueador brônquico em um canal que passa pelo lúmen do tubo endotraqueal. Todavia, o comprimento do bloqueador brônquico é limitado e pode não ser suficiente para pacientes maiores. Também se pode usar um cateter com balão (de Fogarty ou Foley) como bloqueador brônquico, colocado em paralelo com o tubo endotraqueal ou coaxialmente com um adaptador modificado para isso (Figura 3.14). Figura 3.14 O cateter amarelo (mais externo) com o óbvio balão-piloto é projetado especificamente para uso como um bloqueador brônquico. O cateter interno mais curto é um cateter de Foley com balão na ponta. Embora os cateteres de Foley não sejam projetados para uso como bloqueadores brônquicos, têm sido colocados com tubos endotraqueais e usados com sucesso para bloqueio brônquico, mas seu uso e sua colocação não são tão simples como os de um bloqueador brônquico projetado para isso. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. (Esta figura encontra- se reproduzida em cores no Encarte.) Figura 3.15 Um exemplo do adaptador de via respiratória fornecido com o Arndt Endobronchial Blocker™ (Cook Medical, Bloomington, IN, EUA). O adaptador é colocado entre o do tubo endotraqueal e o circuito respiratório. Na saída para a direita, encaixa-se no adaptador do tubo endotraqueal; as saídas que se movimentam em sentido horário incluem a saída brônquica (com uma adaptação anular de compressão), uma saída para um broncoscópio e a saída do circuito do paciente. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Os bloqueadores brônquicos requerem visualização direta com broncoscópio de fibra óptica para a colocação correta. Um dos únicos aspectos em que os bloqueadores brônquicos superam os TLDs é que podem ser usados para isolar um único lobo pulmonar, além do hemitórax inteiro. O bloqueador brônquico pode ser direcionado para o brônquio para ser bloqueado pela manipulação direta de sua parte proximal ou pela colocação de uma guia metálica no brônquio a ser bloqueado, deslizando o bloqueador sobre ela. Um bloqueador brônquico (Arndt Endobronchial BlockerTM, Cook Medical, Bloomington, IN, EUA) tem uma pequena alça metálica que sai da sua extremidade distal (Figura 3.16). A alça pode ser usada para facilitar a colocação, deslizando-a sobre a extremidade do broncoscópio. Assim que se consiga a colocação correta, pode-se insuflar o balão ou manguito, impedindo a ventilação daquela região. Deixa-se então que o pulmão colapse, abrindo-se o canal do cateter do bloqueador brônquico. O canal aberto pode ser usado para aplicação de pressão positiva contínua da via respiratória (CPAP, de continuouspositive ■ airway pressure), insuflação de oxigênio e/ou aspiração. A colocação do bloqueador brônquico no brônquio direito pode ser um desafio, por causa do ramo proximal do lobo pulmonar cranial. O prolapso de um bloqueador brônquico na traqueia pode ocasionar obstrução completa da via respiratória, mais provável quando a colocação é proximal no brônquio e/ou se o tubo montado com o bloqueador brônquico for retirado inadvertidamente ao se mover ou manipular o paciente. Dispositivos supraglóticos para via respiratória Tais dispositivos (DSGVRs ou SGADs), também conhecidos como máscaras laríngeas para vias respiratórias (MLVRs ou LMAs, de laryngeal mask airways), estão ficando cada vez mais populares para uso veterinário. Há um grande número de produtos projetados para os seres humanos que têm sido adaptados para uso veterinário. No entanto, estes produtos foram otimizados especificamente para a anatomia orolaríngea/faríngea de seres humanos e podem não servir bem para a anatomia variada, o tamanho do paciente, as espécies e as raças comumente encontradas na medicina veterinária. O uso apropriado destes produtos é importante porque um SGAD impróprio e/ou a escolha inadequada de um paciente podem levar a dificuldades ou falhas na colocação, dano aos tecidos da região orofaríngea e/ou proteção inapropriada e permeabilidade das vias respiratórias. Recentemente, foi lançado no mercado um SGAD veterinário específico (v-gel® para gatos e coelhos, Docsinnovent Ltd, Londres, RU), projetado para uso em gatos e coelhos (Figura 3.17). Figura 3.16 A extremidade distal de um Arndt Endobronchial Blocker™ (Cook Medical, Bloomington, IN, EUA) mostrando a alça metálica usada para facilitar a colocação adequada usando-se um broncoscópio. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. ■ Figura 3.17 Máscaras laríngeas específicas veterinárias (v-gel®) projetadas para uso em gatos (A) e coelhos (B). Elas podem ser usadas como alternativas à intubação traqueal e são mais fáceis de colocar que tubos endotraqueais em algumas espécies. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Os SGADs representam uma alternativa à intubação endotraqueal para manutenção de uma via respiratória patente, e há alguma evidência de que sua colocação seja mais simples e rápida que a dos tubos endotraqueais em algumas espécies.20–22 Também há alguma evidência de que a necessidade de anestésico é menor com a colocação de um SGAD, em comparação com um tubo endotraqueal. A colocação dos SGADs não requer o uso de um laringoscópio e eles não entram na laringe ou na traqueia. Um dispositivo típico consiste em um tubo, similar a um tubo endotraqueal, conectado a uma máscara elíptica que tem uma borda externa inflável. Quando colocados e insuflados corretamente, formam uma vedação em torno da glote. Os critérios para corrigir a colocação de um SGAD foram descritos em várias espécies e devem ser revistos antes do uso destes dispositivos.20,22,23 SGADs colocados e insuflados corretamente não estão associados a maior vazamento de gases anestésicos, em comparação com tubos endotraqueais, e a ventilação com pressão positiva mediante o uso de um SGAD foi realizada com sucesso e avaliada em várias espécies veterinárias.6,8,20,24–26 O uso de SGADs ainda é relativamente comum na medicina veterinária, mas, à medida que seu uso aumenta e mais estudos prospectivos em grande escala são completados, podem ser detectadas mais vantagens e desvantagens relacionadas com eventos relativamente raros (p. ex., refluxo gastresofágico e aspiração subsequente, irritação significativa da via respiratória após a extubação). Laringoscópios Consistem em um cabo e uma lâmina iluminada, sendo usados para ajudar na intubação traqueal e na avaliação orofaríngea durante a intubação. Infelizmente, os laringoscópios em geral são considerados uma peça opcional do equipamento relacionado com anestesia, mas seu uso apropriado pode ser vital para a intubação bem-sucedida em alguns pacientes (p. ex., os braquicefálicos e aqueles com traumatismo laríngeo/oral). Qualquer que seja a necessidade absoluta de intubação assistida com laringoscópio, seu uso é recomendado em todas as intubações para assegurar que o anestesista mantenha suas habilidades motoras e a coordenação para usar adequadamente um laringoscópio e, assim, possa realizar uma avaliação orofaríngea. Há vários estilos e tipos de laringoscópios e lâminas disponíveis. Alguns laringoscópios têm uma lâmina fixa (i.e., de tipo e tamanho determinados) e podem ser feitos de plástico, enquanto outros são projetados para uso com lâminas de vários tamanhos e estilos, sendo feitos de aço inoxidável. Como na medicina veterinária há uma grande variedade de tamanhos de pacientes, com configurações diferentes da cavidade oral, a opção de usar múltiplas lâminas é uma vantagem significativa ao se escolher um laringoscópio. O tamanho do cabo também pode variar e, embora isto raramente cause impacto no uso funcional do laringoscópio, um cabo menor pode ser mais confortável e fácil para alguns anestesistas manipularem, em particular quando usados para intubar pacientes muito pequenos. Em geral, os cabos são específicos para iluminação com fibra óptica ou bulbo na lâmina, embora haja alguns cabos que possam aceitar qualquer tipo de sistema de iluminação da lâmina. Não há uma vantagem nítida de um sistema de iluminação sobre outro. Existem dois tipos de lâminas usadas na medicina veterinária, a MacIntosh e a Miller. Ambas são comercializadas em vários tamanhos (000 a 5). A MacIntosh é uma lâmina curva com flange (ou orla) vertical proeminente, enquanto a Miller é uma lâmina reta com flange vertical menos proeminente; ambas são adequadas para intubação da maioria dos pacientes e a decisão de usar uma ou outra costuma ser determinada pela preferência pessoal (Figura 3.18). Entretanto, o flange proeminente da MacIntosh pode interferir na visualização da laringe, quando usada para intubar animais (ver adiante). Além das lâminas de tamanho padrão disponíveis na medicina humana, também existem lâminas do estilo Miller extremamente longas (cerca de 300 mm), úteis para intubar suínos, camelídeos, ovinos e caprinos. ■ ■ Figura 3.18 Cabo de laringoscópio com lâminas de Miller (no alto) e MacIntosh (abaixo). Notar o flange vertical mais proeminente na MacIntosh. Este flange pode prejudicar a visualização da laringe ao se intubar um paciente em decúbito esternal usando-se a mão direita. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. É interessante o fato de que a maioria das lâminas de laringoscópios e tubos endotraqueais destinados a uso humano seja projetada para anestesistas que usam a mão direita para passar o tubo endotraqueal, enquanto seguram o laringoscópio com a esquerda. O bisel do tubo endotraqueal fica para a esquerda, se o tubo for visto a partir do aspecto côncavo, e o flange da lâmina do laringoscópio normalmente fica à direita da lâmina, quando ela é vista do alto. Esta configuração proporciona uma ótima visualização da laringe quando se intuba um paciente na posição supina (decúbito dorsal), caso em que o laringoscópio é mantido com a superfície côncava para cima. Contudo, a maioria dos animais é intubada em decúbito esternal, situação em que o flange do laringoscópio na mão esquerda pode obscurecer a visualização, e o bisel do tubo endotraqueal será pequeno para melhorá-la quando na mão esquerda. Há lâminas MacIntosh para uso à esquerda que podem ser mais apropriadas para a intubação rotineira de espécies veterinárias, pois tais lâminas colocam o flange no lado esquerdo da lâmina, melhorando a visualização da área laríngea quando o laringoscópio é segurado com a mão esquerda em posição ereta. Como o flange da lâmina Miller é menos proeminente, não há necessidade real de um projeto para a mão esquerda. Auxílios e técnicas para intubação A intubação orotraqueal na maioria dos animais não requer qualquerequipamento especial, além do uso de um laringoscópio e familiaridade com a anatomia normal do paciente. Todavia, há circunstâncias e situações resultantes de aspectos anatômicos, patologia ou traumatismo que dificultam ou impossibilitam a intubação. É importante que o anestesista esteja familiarizado com as técnicas alternativas e preparado para usá-las, de modo a conseguir uma via respiratória. As seções a seguir mostram algumas opções disponíveis, o equipamento associado e descrevem as técnicas em termos gerais. Para detalhes mais específicos, o leitor deve consultar os capítulos deste livro sobre as espécies ou outras referências sobre anestesia veterinária.27 Intubação nasotraqueal É uma técnica útil para procedimentos que envolvem a cavidade oral em que um tubo endotraqueal pode impedir ou limitar o acesso cirúrgico ou diagnóstico, ou ser usada para procedimentos em animais conscientes sedados que não toleram um tubo orotraqueal, mas precisam de suplementação de oxigênio e suporte. A intubação nasotraqueal também pode ser usada com segurança para a administração de anestésicos inalatórios para indução anestésica em alguns animais (potros e bezerros).28,29 A técnica para intubação nasotraqueal foi descrita em potros, bezerros, cavalos, camelídeos, coelhos e um canguru, mas certamente foi empregada e não relatada em muitas outras espécies de animais.28–32 As características de uma intubação nasotraqueal ideal incluem um tubo com curvatura mínima e comprimento adequado para passar distal à laringe. O tubo deve ser feito de material inerte (p. ex., borracha de silicone) e ter paredes relativamente finas, para maximizar o diâmetro interno, embora isso possa aumentar o risco de compressão ou dobramento do tubo. Manguitos de baixo volume e alta pressão costumam ser menos volumosos e podem ser menos traumáticos durante a colocação, mas os de alto volume e baixa pressão podem ser melhores no caso de anestesia mais prolongada. O tamanho do tubo vai depender da espécie e do tamanho do paciente, mas, em geral, será menor do que um tubo orotraqueal de tamanho apropriado. O diâmetro interno menor pode aumentar a resistência ao fluxo de gás e ser um problema para alguns pacientes que estejam respirando espontaneamente. A intubação nasotraqueal envolve a passagem de um tubo endotraqueal de tamanho apropriado pela narina, pelo meato nasal e pela laringe até a traqueia. Um gel contendo lidocaína pode facilitar a colocação e proporciona lubrificação para o tubo, devendo ser aplicado na narina e na parte rostral da passagem nasal, antes de se avançar o tubo em animais acordados ou sedados. Um lubrificante hidrossolúvel estéril sem lidocaína é apropriado para pacientes anestesiados. O tubo deve ser passado com delicadeza, e pode ser necessária alguma rotação para facilitar a passagem entre os cornetos nasais. Ocasionalmente, ocorre hemorragia nasal ou outro dano tecidual durante esse procedimento, em particular se for empregada força excessiva ou um tubo muito grande com relação às vias nasais, ou se o tubo for passado no meato nasal incorreto. Em geral, a cabeça e o pescoço do paciente devem ser estendidos para facilitar a passagem do tubo desde a nasofaringe até a traqueia. No entanto, por causa das diferenças entre as espécies, pode ser necessário um posicionamento alternativo ou mais manipulação do posicionamento da cabeça, do pescoço e da laringe. O ar deve circular livremente através do tubo, colocado corretamente durante a ventilação espontânea. Pode-se confirmar logo de início se o tubo endotraqueal foi colocado corretamente usando-se o bulbo de uma seringa adaptada à sua extremidade. Assim que o tubo estiver no lugar certo, o bulbo pode ser esvaziado e adaptado ao tubo; se ele se expandir logo, deve estar em uma via respiratória e, se isso não ocorrer, é provável que tenha entrado no esôfago (Figura 3.19). Para uma confirmação definitiva da colocação correta do tubo, os sons pulmonares devem ser auscultados durante a ventilação manual ■ e/ou verificando-se a confirmação da onda na capnografia. A extubação após intubação nasotraqueal deve ser feita com cuidado. Após a desinsuflação do manguito, deve-se retirar o tubo devagar e deliberadamente, com a cabeça do paciente contida, para evitar quaisquer movimentos espasmódicos súbitos. A extubação rápida e sem cuidado pode causar hemorragia nasal. Figura 3.19 Pode-se usar um bulbo de aspiração adaptado à extremidade do tubo endotraqueal para a avaliação rápida da intubação endotraqueal correta. O bulbo é desinsuflado e adaptado ao tubo, usando-se um adaptador de tamanho apropriado. Se o tubo endotraqueal estiver na traqueia, o bulbo deve voltar a ficar insuflado imediatamente, mas, se estiver no esôfago, em geral isso não vai acontecer. Esta técnica proporciona uma avaliação rápida da intubação correta, quando a visualização direta não é possível (i.e., intubação nasotraqueal), mas sempre deve ser usada em conjunto com outros métodos para se confirmar a intubação endotraqueal apropriada (i.e., observação da onda à capnografia ou auscultação dos sons pulmonares durante a ventilação manual). Fonte: Thomas Riebold, College of Veterinary Medicine, Oregon State University, Corvallis, Oregon, EUA. Reproduzida, com autorização, de Thomas Riebold. Técnicas orientadas por guia metálica ou tubo Às vezes, são empregadas técnicas orientadas por guia metálica ou tubo, quando a visualização direta da abertura laríngea não é possível ou está obscurecida. Isto costuma resultar de características anatômicas específicas da espécie (p. ex., coelhos, raças caninas braquicefálicas) e do tamanho do paciente com relação ao equipamento disponível. Por exemplo, o laringoscópio pode ser muito pequeno para ser efetivo em uma vaca, em que se costuma usar a palpação manual e um tubo-guia de diâmetro menor para facilitar a passagem do tubo endotraqueal desejado; em pacientes muito pequenos, a presença simultânea de um laringoscópio e um tubo endotraqueal pode obscurecer a visualização, podendo-se colocar logo de início uma guia metálica fina para facilitar a intubação.33 Em alguns pacientes, traumatismo ou condições patológicas (pólipo ou massa nasofaríngeos) podem obscurecer a abertura laríngea, ficando apenas uma pequena parte visível. Em tais circunstâncias, pode-se introduzir um tubo ou guia metálica de diâmetro pequeno para facilitar a colocação de um tubo endotraqueal do tamanho apropriado (Figura 3.20). A técnica envolve o uso de uma guia (metálica ou tubo) com diâmetro externo menor do que o diâmetro interno do tubo endotraqueal que se pretende introduzir. Essa guia também deve ter um comprimento suficiente para possibilitar a intubação completa (cerca de metade da distância desde a cartilagem cricóidea até a entrada torácica), permitindo ainda que o tubo seja colocado sobre ela e uma parte dela fique disponível para o operador poder segurar enquanto avança o tubo (Figura 3.21). O tubo ou guia metálica deve ter a extremidade cega (romba) para não causar dano à traqueia ou às estruturas associadas. Guias metálicas associadas a alguns cateteres intravenosos (p. ex., cateteres jugulares de lúmen múltiplo) têm a extremidade romba e servem como guias excelentes para alguns pacientes de pequeno porte. Em primeiro lugar, coloca-se a guia de maneira apropriada e, em seguida, o tubo endotraqueal sobre ela e através da abertura laríngea às cegas; ocasionalmente, é necessário fazer uma leve rotação com o tubo, e passá-lo através da laringe durante a inspiração, quando as aritenoides estão completamente abduzidas, facilitando a passagem suave. A guia é então removida e o tubo, fixado no lugar. ■ ■ Figura 3.20 Exemplos de combinações de várias guias metálicas e tubos para intubação endotraqueal orientada. Coloca-se primeiro, na traqueia, uma guia metálica ou tubo de diâmetro menor, e muito mais fácil de introduzir, do que o tubo endotraqueal do tamanho apropriado. Em seguida, passa-se o último sobre a guia, normalmente sem mais visualização. Assim que se consegue fazera intubação endotraqueal, remove-se a guia. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Técnica orientada por endoscópio A laringoscopia com um endoscópio flexível ou rígido pode ser útil para ajudar a intubação em pacientes com anatomia anormal ou processos mórbidos que envolvam a faringe, a cabeça ou o pescoço. Também costuma ser usada em pacientes nos quais se pode tentar a intubação usando visualização direta (p. ex., coelhos pigmeus e outros pequenos mamíferos). Dependendo da espécie e das condições específicas, pode-se colocar o endoscópio dentro do tubo endotraqueal para orientar a intubação diretamente ou passá-lo por via oral ao lado do tubo endotraqueal para orientar visualmente a colocação correta. Coelhos e outros pequenos mamíferos são intubados frequentemente empregando-se essa técnica.34 Quando necessário, os endoscópios também podem ser usados para facilitar a intubação nasotraqueal. Esta técnica pode ser particularmente vantajosa em equinos (e outros grandes animais) com anatomia orofaríngea, laríngea e/ou nasal anormal, em que a visualização direta com um laringoscópio é praticamente impossível sem equipamento especializado adaptado. Trocadores de tubo endotraqueal Às vezes é necessário trocar os tubos endotraqueais durante um procedimento cirúrgico ou diagnóstico em um animal anestesiado, por falha do manguito ou quando é preciso usar um tubo de tamanho ou comprimento alternativo. Pacientes posicionados e já com os campos cirúrgicos para a cirurgia, em geral, não estão em uma situação ideal para a intubação. A troca do tubo orientada por uma guia metálica ou outro tubo provavelmente é uma técnica mais fácil e eficiente de fazer o procedimento. Dependendo do tamanho do paciente, podem ser usados trocadores padrões comerciais disponíveis para uso humano. Como alternativa, pode-se usar qualquer tubo ou guia metálica de diâmetro e comprimento suficientes, como, por exemplo, sondas gástricas e cateteres metálicos. ■ Figura 3.21 Diagrama ilustrando a passagem de um tubo endotraqueal na traqueia de um cão, usando-se um dispositivo que serve como guia (cateter urinário). Fonte: Hartsfield SM. Alternate methods of endotracheal intubation in small animals with emphasis on patients with oropharyngeal pathology. Tex Vet Med 1985; 47:25. Reproduzida, com autorização, de TVMA. Para trocar tubos endotraqueais, insere-se a guia (metálica ou tubo) através do tubo endotraqueal original para a área da traqueia mesocervical. Deve-se notar que, se o paciente estiver sendo mantido sob anestesia inalatória, é melhor interrompê-la durante a troca do tubo. Dependendo do tempo necessário para trocar o tubo, a profundidade da anestesia pode tornar-se muito leve, devendo-se ter à mão um anestésico intravenoso e um meio de administrá-lo sem demora. A seguir, o manguito do tubo endotraqueal é desinsuflado e o tubo endotraqueal é empurrado sobre a guia, sem removê-la da traqueia. Em seguida, o novo tubo endotraqueal é manobrado através da laringe e para a traqueia, usando-se a guia para direcionar sua passagem. O manguito do novo tubo é insuflado para proteger a via respiratória, e o novo tubo é fixado da maneira apropriada para a espécie em questão. Intubação retrógrada Se a visualização direta de pelo menos uma parte da glote for impossível, pode-se fazer a intubação retrógrada, que foi avaliada como uma técnica alternativa para a intubação endotraqueal em camelídeos e camundongos da América do Sul,35,36 além da realização de um estudo cadavérico em coelhos.37 A técnica envolve essencialmente a passagem de uma agulha através da pele da parte ventral do pescoço e para a traqueia, entre os anéis traqueais superiores. Em pacientes humanos, a agulha é passada através da membrana cricotireóidea. Uma guia metálica é então manobrada através da agulha rostralmente para a laringe, a faringe e a cavidade oral, até que possa ser usada como guia para a passagem do tubo endotraqueal (Figura 3.22). O tubo endotraqueal é então passado sobre a guia e manipulado na laringe. Depois que a extremidade do tubo endotraqueal está dentro da laringe, a agulha e o tubo-guia são removidos, e o tubo endotraqueal é manipulado em sua posição final, com a extremidade do manguito perto da entrada torácica. O manguito deve ficar caudal ao local de punção da agulha hipodérmica, para evitar forçar gases subcutaneamente ou para o mediastino durante a ventilação com pressão positiva. Enfisema subcutâneo e pneumotórax são complicações possíveis com esta técnica. Figura 3.22 Ilustração da intubação usando-se um dispositivo como guia retrógrada em um cão. Cateteres ou outros dispositivos metálicos usados como guias são ótimos para este procedimento, graças ao seu pequeno diâmetro. Esta técnica deve ser reservada para os casos em que não se pode fazer a intubação por outros métodos. Fonte: Hartsfield SM. Alternate methods of endotracheal intubation in small animals with emphasis on patients with oropharyngeal pathology. Tex Vet Med 1985; 47:25. Reproduzida, com autorização, de ■ TVMA. Traqueostomia É possível fazer uma traqueostomia temporária para manejo da via respiratória durante anestesia, porém, como é um procedimento invasivo, ela costuma ser reservada para os pacientes que, mesmo com assistência orientada, a intubação oro ou nasotraqueal não é possível em decorrência da anatomia, das patologias ou do procedimento cirúrgico em questão. Em alguns casos, pode-se recomendar uma traqueostomia para facilitar um procedimento cirúrgico que envolva a orofaringe, embora um tubo de faringostomia possa ser uma alternativa mais desejável, se apropriado. Também se pode colocar um tubo de traqueostomia quando há uma expectativa razoável de que o paciente venha a precisar de traqueostomia após o procedimento anestésico (p. ex., ressecção incompleta de tumor laríngeo). Ocasionalmente, os pacientes podem chegar para receber anestesia já com uma traqueostomia de emergência, em decorrência de obstrução aguda da via respiratória. É relativamente simples fazer a intubação via traqueostomia, mas pode ser complicado em pacientes com traqueia de diâmetro muito pequeno ou naqueles com anéis traqueais muito espessados e calcificados (p. ex., algumas raças caninas braquicefálicas). Pode-se usar um tubo endotraqueal padrão ou de traqueostomia para a intubação, porém é preciso cuidado ao usar um tubo endotraqueal de comprimento padrão, pois facilmente pode resultar em intubação endobrônquica. Em geral, os tubos de traqueostomia são curtos, têm uma curvatura pronunciada e um estilete interno para facilitar a colocação (Figura 3.23). A curvatura também permite fixar o tubo achatado contra o pescoço do paciente e os tubos são normalmente fixados com um adaptador padrão de 15 mm para tubo endotraqueal, manguitos infláveis e balões-pilotos, embora muitos dos tubos de tamanho menor não tenham manguito. Alguns tubos de traqueostomia também têm uma cânula interna removível, para facilitar a limpeza e a manutenção mais prolongada nos pacientes. É muito importante cuidar do tubo. Tubos negligenciados que não são limpos regularmente podem ficar obstruídos por muco, que resseca dentro do lúmen. ■ Figura 3.23 Um exemplo de tubo de traqueostomia com manguito e estilete interno para facilitar a colocação. Alguns tubos também contêm um tubo interno removível que facilita sua limpeza. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. A traqueostomia tem sido associada a infecção, granulomas, estenose da traqueia, dano à cartilagem, hemorragia, pneumotórax, enfisema subcutâneo, fístula traqueocutânea ou traqueoesofágica, aspiração, disfagia e malacia traqueal, motivos pelos quais não se deve considerar a traqueostomia um procedimento inócuo. As técnicas específicas, indicações e desfechos são revistos nos textos sobre bovinos, equinos, cães e gatos.38–42 Faringotomia lateral É uma alternativa para uma traqueostomia e facilita procedimentos cirúrgicos na mandíbula, no maxilar e na cavidadeoral. Melhora ainda a visualização dentro do campo operatório durante cirurgia orofaríngea e a oclusão dentária normal, ajudando, assim, na redução adequada de fraturas mandibulares ou maxilares. Também é uma alternativa potencialmente menos invasiva a uma traqueostomia quando o manejo da via respiratória nasal é indesejável ou inviável para facilitar o procedimento cirúrgico. Esta técnica foi descrita em detalhe em outro texto (Figura 3.24).43 A base da colocação do tubo envolve a passagem de um tubo endotraqueal com manguito do tamanho ideal e a realização de uma incisão cutânea rotineira perto do ângulo da mandíbula. Em seguida, são passadas pinças hemostáticas de ponta romba através da incisão cutânea até a parte caudal da faringe. Após a remoção do adaptador do tubo endotraqueal, sua extremidade no tubo é pega e puxada da faringe, através do tecido subcutâneo e da incisão cutânea. O adaptador do tubo endotraqueal é recolocado e o tubo reconectado ao sistema respiratório para manutenção. Um tubo colocado corretamente deve ser fixado à pele com esparadrapo e vários pontos com fio de sutura. Figura 3.24 Tubo endotraqueal colocado por faringotomia externa em um cão pequeno, para facilitar a cirurgia orofaríngea. Fonte: Hartsfield SM. Alternate methods of endotracheal intubation in small animals with emphasis on patients with oropharyngeal pathology. Tex Vet Med 1985; 47:25. Reproduzida, com autorização, de TVMA. Técnicas de administração de oxigênio Usa-se oxigênio suplementar em pacientes anestesiados e criticamente enfermos para aumentar a pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e promover a liberação de oxigênio para os tecidos. Quando um paciente está respirando ar ambiente, valores de PaO2 ■ inferiores a 80 mmHg indicam o potencial de hipoxemia. Qualquer paciente com dificuldade respiratória ou aqueles com probabilidade de ter hipoxia no período perianestésico (p. ex., raças braquicefálicas) devem receber oxigênio suplementar. Se a PaO2 diminuir para menos de 60 mmHg, está indicada a necessidade de oxigênio suplementar. Também é importante lembrar que tanto a hemoglobina como a perfusão tecidual desempenham papéis fundamentais para assegurar a liberação de oxigênio suficiente para os tecidos e, quando indicado, para evitar hipoxia celular, pode haver necessidade de transfusões de hemácias e/ou suporte cardiovascular, além do fornecimento de oxigênio suplementar. A fração de oxigênio nos gases inspirados (FIO2) tem um papel significativo no estabelecimento da PaO2. Como regra, o valor da PaO2 deve ser de aproximadamente cinco vezes o da FIO2 se não houver grandes anormalidades na combinação de ventilação e perfusão pulmonares. A suplementação com oxigênio pode ser um meio efetivo de corrigir a hipoxemia em animais com anormalidades da difusão, má combinação entre ventilação e perfusão e/ou hipoventilação. Além da suplementação com oxigênio, as condições subjacentes específicas que contribuem para hipoxemia devem ser verificadas quando possível. A suplementação com oxigênio pode não melhorar de maneira significativa a PaO2 em pacientes com desvios substanciais da direita para a esquerda (desvios pulmonares ou cardíacos). Várias técnicas podem ser usadas para administrar oxigênio a pacientes anestesiados e enfermos. A avaliação da efetividade da suplementação com oxigênio é feita mediante as respostas clínicas do paciente (p. ex., melhora na cor das mucosas e caráter da ventilação), medindo-se a FIO2 e monitorando-se a PaO2, a saturação arterial de oxigênio (SaO2) e a saturação de oxigênio periférico (SpO2). Embora os dados da PaO2 e da SaO2 sejam confiáveis, requerem amostragem periódica de sangue arterial e o uso de um analisador dos gases sanguíneos. Pode-se medir a SpO2 pela oximetria de pulso, um método prático de estimativa não invasiva, a cada momento da saturação de hemoglobina do oxigênio em animais anestesiados, em recuperação e enfermos.44–51 Várias técnicas para suplementação de oxigênio são delineadas a seguir e, na Tabela 3.1, há um resumo da FIO2 aproximada obtida com cada uma das técnicas disponíveis em cães e gatos. Liberação por máscara As máscaras para liberação de oxigênio destinadas a animais são úteis para pré-oxigenação imediatamente antes da indução da anestesia e para pacientes conscientes com dificuldade respiratória. O uso de máscaras para oxigenação requer atenção constante e alguns pacientes não as aceitam, a menos que estejam sedados. Ambos os fatores limitam a efetividade de máscaras em pacientes conscientes. Na verdade, alguns pacientes reagem tão violentamente à máscara que o aumento no consumo de oxigênio associado à contenção pode anular os benefícios de uma FIO2 maior. Se a máscara de oxigênio estiver conectada ao circuito anestésico respiratório, deve-se irrigar o circuito para reduzir os odores anestésicos e melhorar potencialmente a complacência, mas sua utilidade é variável. As taxas de fluxo recomendadas para aumentar a FIO2 quando se usa máscara são variáveis entre as espécies. Por exemplo, têm sido recomendadas taxas de fluxo de 10 a 15 ℓ/min de oxigênio suplementar para aumentar a concentração de oxigênio inspirado para aproximadamente 35 a 60% em equinos adultos, embora não haja estudos confirmatórios e a insuflação nasal e a traqueal representem opções melhores e mais práticas em pacientes maiores. As taxas de fluxo para pacientes menores, inclusive cães e gatos, em geral variam de 2 a 8 ℓ/min para produzir uma concentração de oxigênio inspirado de 30 a 60%,52 mas também não há estudos confirmatórios. Com uma máscara bem adaptada, taxas de fluxo de oxigênio mais altas tendem a produzir valores maiores da FIO2 e menos dióxido de carbono expirado. Tabela 3.1 Valores aproximados da FIO2 obtidos com várias técnicas de suplementação de oxigênio para cães e gatos.* Técnica FIO2 aproximada obtida Taxa de fluxo Fluxo por oxigênio 25 a 40 0,5 a 5 ℓ/min Máscara facial 35 a 60 2 a 8 ℓ/min Insuflação nasal 30 a 70 100 a 150 mℓ/kg/min Insuflação traqueal 40 a 60 50 mℓ/kg/min Gaiolas de oxigênio 25 a 50 Variável *Estes valores não são aplicáveis a todas as espécies veterinárias durante todas as circunstâncias e dependem da taxa de fluxo e da característica (frequência e profundidade) da respiração. Máscaras bem adaptadas devem ser usadas com um sistema respiratório (circuito anestésico ou bolsa de reanimação manual) que tenha um reservatório capaz de satisfazer as demandas de volume corrente do paciente ou a máscara tenha ventilação ou válvula, permitindo o aprisionamento de ar de fora da máscara. Como exemplo, um cão com volume corrente de 300 mℓ e um período inspiratório de 1 s tem um pico de fluxo inspiratório de gás de aproximadamente 18 ℓ/min, que excede a taxa de fluxo prático para oxigênio durante o uso da máscara. Altas taxas de fluxo inspiratório podem ser acomodadas se a máscara for conectada a um circuito respiratório anestésico apropriado com uma bolsa como reservatório ou máscara adaptada a uma bolsa de reanimação manual. Além disso, um sistema respiratório apropriado tem um hiperfluxo que impede a formação de pressão excessiva com uma máscara bem adaptada. Como alternativa, pode-se usar uma máscara frouxa que permita a entrada de ar ambiente, mas esse ar reduz a FIO2 inspirada associada à liberação de oxigênio suplementar. É fácil adquirir no comércio máscaras faciais para suplementação de oxigênio em animais (Figura 3.25). A maioria consiste em um cone transparente de plástico adaptado a um diafragma de borracha preta que pode melhorar a conexão e a vedação em torno da face do animal. A menos que estejam sedados ou minimamente responsivos por outros motivos, animais mais conscientes raramente aceitam máscaras faciais no focinho. Embora haja máscaras faciais destinadas especificamente a animais muito pequenos (Figura 3.26), é comum o uso de uma seringa de plástico, luvas de látex e um adaptador de tubo endotraqueal para ‘customizar’ uma máscara facial (Figura 3.27). Cones de trânsito têm sido adaptadose usados em suínos para liberar anestésicos inalatórios. ■ Figura 3.25 Máscaras faciais à venda no comércio para uso específico em animais muito pequenos. As máscaras são usadas com dois tamanhos de diafragmas intercambiáveis. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Insuflação nasal Insuflação envolve a liberação de oxigênio para a via respiratória do paciente em taxas de fluxo relativamente altas; o paciente inspira oxigênio e ar ambiente, com as proporções relativas de cada um sendo determinadas primariamente pela taxa de fluxo de oxigênio e a de gás durante a inspiração. Pode-se fazer a insuflação por uma variedade de métodos. No caso de equinos que estejam se recuperando da anestesia, o oxigênio pode ser liberado de um fluxômetro por um tubo de liberação e para um tubo de insuflação de tamanho apropriado na cavidade nasal ou na traqueia dos animais. Em geral, são usados tubos endotraqueais de tamanho apropriado ou sondas gástricas para grandes animais como tubos nasais. As sondas gástricas intactas têm comprimento suficiente e também podem ser usadas para insuflação traqueal se avançadas pela cavidade nasal para a traqueia. Na maioria dos animais conscientes, o oxigênio é insuflado por um cateter nasal cuja ponta é posicionada na nasofaringe. O cateter costuma ser de borracha macia e o tubo deve ter várias fenestrações, para minimizar a ocorrência de lesões causadas por fluxo na mucosa nasofaríngea. No caso de pacientes despertos, instila-se lidocaína a 2% (ou em gel) ou proparacaína a 0,5% na passagem nasal, com a cabeça e o pescoço do animal estendidos e elevados para facilitar a passagem do tubo. A colocação envolve a inserção de um cateter de insuflação de tamanho adequado na passagem nasal e na nasofaringe, a distância sendo aproximadamente a mesma da ponta do nariz ao canto medial do olho. Há cateteres projetados especificamente para insuflação nasal (com múltiplas fenestrações) ou eles podem ser feitos de sondas para alimentação ou de outro tubo não reativo macio e adaptados à linha de liberação de oxigênio. A parte externa do cateter é fixada à cabeça do paciente com fita adesiva e/ou suturas ou grampos. Um tubo flexível de comprimento adequado fornece oxigênio de um fluxômetro e permite que o paciente faça algum movimento livre em uma gaiola ou baia. A troca do cateter para a via nasal oposta a cada 1 a 2 dias foi recomendada para evitar necrose por pressão, lesões por fluxo e acúmulo de muco.53 A umidificação do oxigênio também é aconselhável se houver necessidade de insuflação por um tempo maior. Figura 3.26 A e B. Existem no comércio máscaras faciais de muitos estilos e tamanhos. Deve-se escolher uma que minimize o potencial de o animal voltar a respirar os gases exalados (i.e., que esteja bem adaptada), em especial quando usada com o diafragma de borracha no lugar. Fonte: Advanced Anesthesia Specialists, Phoenix, AZ, EUA. Reproduzida, com autorização, de Advanced Anesthesia Specialists. Figura 3.27 As máscaras faciais podem ser confeccionadas com peças de seringas e luvas de borracha, podendo servir para animais muito pequenos. Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) As exigências de taxa de fluxo de oxigênio durante insuflação são variáveis, e a característica da ventilação do paciente e a FIO2 desejada são dois fatores importantes que causam impacto nas taxas de fluxo adequadas. Após a anestesia, equinos adultos precisam de um mínimo de um fluxo de 15 ℓ de oxigênio/min para melhorar a PaO2 no sangue arterial, e, proporcionalmente, fluxos menores (p. ex., 5 ℓ/min) são adequados para equinos menores, potros e bezerros.54–57 Em pequenos animais, costumam ser usadas taxas de fluxo de 1 a 7 ℓ/min para a administração nasal de oxigênio. Foram sugeridas taxas de fluxo aproximadas para que se consigam faixas mais específicas de FIO2 em cães e gatos, mas o monitoramento da SpO2 ou a PaO2 deve orientar o ajuste da taxa de fluxo.58 Em cães, foram estudadas várias taxas de fluxo de 100% de oxigênio administrado por via intranasal, e taxas de fluxo de 50, 100, 150 e 200 mℓ/kg/min produziram concentrações de oxigênio inspirado medidas na bifurcação traqueal de 28, 37, 40 e 47, respectivamente.53 Para ■ ■ prevenir que ocorra ressecamento da mucosa com a insuflação prolongada, o oxigênio deve fluir por um umidificador do tipo bulbo. Frequentemente, são colocados cateteres de insuflação nasal bilaterais, e pode-se esperar que a FIO2 máxima alcançável melhore, conseguindo-se até 80% a 200 mℓ/kg/min.59 Insuflação traqueal Pode-se conseguir a insuflação traqueal via administração de oxigênio nasotraqueal ou transtraqueal, técnicas úteis para pacientes com condições que causam obstrução da via respiratória superior. A insuflação transtraqueal é conseguida passando-se um cateter pelas narinas até a traqueia. Em animais conscientes, esse processo normalmente é realizado após instilação de um anestésico tópico local (lidocaína, proparacaína) no nariz, usando-se um lubrificante que contenha um anestésico local (lidocaína em gel). Para facilitar a colocação do tubo na traqueia e não no esôfago, o pescoço do animal deve estar estendido. Pacientes conscientes em geral tossem, à medida que o cateter entra na laringe; pode-se diminuir a tosse instilando-se uma pequena quantidade de lidocaína tópica no tubo nasotraqueal na área laríngea. Pode-se avaliar a colocação adequada do tubo nasotraqueal demonstrando ausência de pressão negativa quando o ar é evacuado do tubo ou cateter. É possível evacuar o ar com uma seringa de tamanho apropriado ou mediante a compressão do bulbo de aspiração para o cateter. Se for detectada pressão negativa enquanto se faz a evacuação do ar do tubo, isto sugere que o tubo não está na traqueia e pode ter sido deglutido pelo paciente e está no esôfago. Pode-se colocar um cateter transtraqueal por via percutânea na traqueia através da membrana cricotireóidea ou entre os anéis traqueais da laringe e usá-lo para insuflar oxigênio em pacientes comprometidos. A administração intratraqueal de 100% de oxigênio foi avaliada em cães, e taxas de fluxo de 10, 25, 50, 100, 150, 200 e 250 mℓ/kg/min produziram concentrações de oxigênio inspirado de 25, 32, 47, 67, 70, 78 e 86%, respectivamente, na bifurcação traqueal.58 A técnica para insuflação traqueal foi descrita em pequenos animais.58 O cateter deve ser colocado de maneira asséptica, ser do tipo que passa sobre a agulha, ter um calibre relativamente grande e várias fenestrações lisas para evitar lesões por fluxo e, por fim, ser posicionado com a extremidade perto da carina. O oxigênio deve ser umidificado, e as taxas de fluxo devem se aproximar das usadas para insuflação nasal. Gaiolas de oxigênio Há, no comércio, gaiolas de oxigênio projetadas especificamente para pequenos animais (Figura 3.28), mas são caras. Elas regulam o fluxo de oxigênio, controlam a umidade e a temperatura, e eliminam o dióxido de carbono dos gases exalados. A maioria das gaiolas de oxigênio é capaz de produzir concentrações de oxigênio entre 30 e 60%, mas as taxas de fluxo podem ser tão altas quanto 15 ℓ/min.60 No entanto, há uma variedade considerável de projetos e eficácia entre os muitos produtos disponíveis no comércio, bem como no tempo necessário para que se obtenha a concentração desejada de oxigênio, de 30 a 45 min.60 Os fatores que influenciam isto incluem o volume interno da gaiola, sua impermeabilidade e a frequência com que é aberta. Para pequenos animais, têm sido recomendadas taxas de fluxo de oxigênio, temperatura e umidade na gaiola inferiores a 10 mℓ/min (embora isso dependa muito da eficiência da gaiola), aproximadamente 22°C e 40 a 50%, respectivamente.61 Em geral, concentrações de oxigênio de 30 a 40% são adequadas para pacientes com doença pulmonar moderada.62 As gaiolas de oxigênio não são práticas para equinos ou animais maiores e, mesmo em animais menores, sua efetividadediminui de acordo com o tamanho maior do corpo. Pacientes menores podem ter tratados facilmente nessas gaiolas, mas, no caso de cães maiores, é mais difícil controlar a temperatura e a umidade. Uma desvantagem importante dessas gaiolas é a necessidade de retirar o animal (ou abrir a porta) para ser examinado e receber tratamento, o que o leva a respirar ar do ambiente ou oxigênio com máscara durante algum tempo. Figura 3.28 Gaiolas de oxigênio à venda, capazes de controlar com precisão a concentração ■ de oxigênio dentro delas e remover o CO2 exalado. Muitas delas também incorporam controle de umidade e temperatura (calor e frio). Fonte: Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Antes de adquirir uma gaiola de oxigênio, é importante entender bem seu funcionamento e conhecer as necessidades de oxigênio dos pacientes. Gaiolas sem uma boa vedação podem consumir quantidades significativas de oxigênio, bem como durante sua abertura frequente para manejo do paciente. Em tais circunstâncias, o consumo de oxigênio necessário pode esgotar rapidamente as reservas de oxigênio do hospital. Em termos comparativos, as gaiolas de oxigênio constituem um método relativamente ineficiente de suplementação de oxigênio, mas podem ser bastante úteis no manejo de pacientes específicos. É melhor reservá-las para a suplementação de oxigênio imediata e a curto prazo em pacientes menores, com dificuldade respiratória. Já em termos clínicos, alguns cães e gatos com comprometimento ventilatório grave reagem muito bem a um ambiente enriquecido com oxigênio como tratamento inicial; o aumento na FIO2 está associado a menos esforço ventilatório e, assim, o paciente fica estabilizado, mais fácil de ser manipulado antes de um exame adicional e da instituição do tratamento. A insuflação nasal é um método muito mais efetivo e eficiente de suplementação de oxigênio na maioria das circunstâncias, em particular quando a suplementação é necessária por um período prolongado, mesmo em cães pequenos e gatos. Toxicidade do oxigênio É um problema que pode surgir com a exposição prolongada a altas concentrações de oxigênio, ocasionando deterioração da função pulmonar. Os efeitos iniciais são dano endotelial, destruição de células alveolares e aumento da permeabilidade microvascular, acarretando edema, hemorragia e congestão.52 Os estágios tardios da toxicidade são associados a proliferação de alvéolos do tipo II e de fibroblastos, o que resulta em fibrose.52 O período que a PaO2 de um paciente está elevada pode ser mais preditivo de toxicidade do oxigênio que a duração da exposição a uma FIO2 alta.63 Há uma variabilidade significativa entre as espécies e os indivíduos na suscetibilidade à toxicidade do oxigênio.63 Para animais, são recomendadas as seguintes diretrizes: usar PaO2 de 70 mmHg como ponto terminal da terapia com oxigênio, a menor FIO2 possível para alcançar tal PaO2 e não usar uma FIO2 > 0,6 por mais de 24 h, se possível.52 Introdução ao aparelho de anestesia e aos circuitos anestésicos A anestesia inalatória forma a base dos protocolos anestésicos mais modernos na medicina veterinária. A administração de anestésicos inalatórios potentes requer técnicas específicas. O aparelho de anestesia permite a liberação de uma associação variável, embora precisa, de anestésico inalatório e oxigênio. Os componentes básicos e as funções de todos os aparelhos de anestesia são similares, porém há diferenças significativas no projeto de cada um deles. Os aparelhos podem ser muito simples, como, por exemplo, aqueles usados para aplicação móvel em estações de trabalho com ventiladores, monitores e sistemas de segurança (Figura 3.29). Independentemente da complexidade do projeto, todos os aparelhos de anestesia têm componentes em comum: uma fonte de oxigênio, um regulador de oxigênio (que pode ser parte do sistema de fornecimento do gás), um fluxômetro para o oxigênio e um vaporizador. Se também forem usados outros gases (p. ex., óxido nitroso), também haverá uma fonte, um regulador e um fluxômetro para cada um, em geral em uma via paralela com a do oxigênio, embora existam algumas exceções (p. ex., válvula do fluxo de oxigênio). O aparelho básico de anestesia é então usado em conjunto com um circuito respiratório e um sistema anestésico de eliminação dos resíduos de gás para liberação do anestésico para o paciente. Figura 3.29 A complexidade e a sofisticação dos aparelhos de anestesia para uso veterinário podem variar bastante. A. Uma estação de trabalho completa para anestesia veterinária em grandes e pequenos animais e (B) um sistema de anestesia portátil para uso no campo. Ambos os sistemas fornecem todos os componentes necessários para a liberação controlada de anestésicos inalatórios. Fontes: A. Hallowell EMC, Pittsfield, MA, EUA. Reproduzida, com autorização, de Hallowell EMC. B. Craig Mosley, Mosley Veterinary Anesthesia Services, Rockwood, Ontário, Canadá. Fornecimento de gás medicinal O ideal é que os aparelhos de anestesia tenham duas fontes de gás, uma de um tanque pequeno com alta pressão conectado diretamente ao aparelho e uma segunda em geral originária de um sistema canalizado central do hospital. Os tanques pequenos acoplados diretamente ao aparelho de anestesia costumam servir como um recurso de reserva quando o sistema de gás canalizado funciona mal ou se trabalha em um local onde não há acesso a tal sistema. Sem dúvida, o oxigênio é o gás medicinal mais utilizado durante anestesia veterinária, com o óxido nitroso sendo usado muitas vezes em conjunto com ele, como adjuvante para os inalatórios. A maioria dos gases medicinais normalmente é armazenada sob alta pressão em cilindros de vários tamanhos apropriados para gás ou em tanques criogênicos para líquido isolados e sob baixa pressão. As características (p. ex., pressão de funcionamento) e a capacidade dos cilindros de gás variam de acordo com o tipo de gás que contêm (ver Tabela 3.2). Como alternativa, podem ser usados concentradores de oxigênio para fornecer oxigênio a um hospital, conforme a necessidade, quando obter e armazenar tanques é inconveniente, impossível ou proibitivo por causa do custo (comunidades remotas).A maioria dos concentradores de oxigênio usa um sistema de absorção do nitrogênio do ar para produzir gás com uma concentração de oxigênio entre 90 e 96%. Recentemente, foram lançadas no mercado veterinário unidades pequenas e integradas com oxigênio concentrado em um único aparelho (Pureline™, Supera Anesthesia Innovations, Clackamas, Oregon, EUA) (Figura 3.30). As instituições veterinárias mais modernas terão alguma forma de fornecimento central de gás e um sistema de distribuição canalizada para liberar gases medicinais para vários locais de trabalho. A complexidade desses sistemas pode variar bastante, desde um pequeno banco de cilindros grandes (G ou H) e um regulador, até sistemas mais complexos, que consistem em vários tanques grandes de oxigênio líquido, diversos controles automáticos, reguladores, alarmes e bancos de cilindros de reserva grandes e com alta pressão (Figura 3.31). O tamanho e a complexidade do sistema de distribuição de gás dependem das necessidades de gás, da área necessária de sua distribuição e do número de locais de trabalho. A instalação apropriada de sistemas grandes de distribuição de gás é essencial para a segurança e a eficácia. Todas as instalações para gás devem ser feitas por profissionais especializados no assunto, antes de serem usadas para administrar gás aos pacientes. Tabela 3.2 Características dos cilindros de gases medicinais.2 Tamanho Gás Símbolo do gás Código de cores (EUA) Capacidade e pressão (a 70°F ou 21,1°C) Peso do cilindro vazio (em libras e kg) E Oxigênio O2 Verde 660 ℓ 1.900 psi 14 (6,35 kg) E Óxido nitroso N2O Azul 1.590 ℓ 745 psi 14 (6,35 kg) G Óxido nitroso N2O Azul 13.800 ℓ 745 psi 97 (cerca de 44 kg) H Oxigênio O2 Verde 6.900 ℓ 2.200 psi 119 (cerca de 54 kg) H Óxido nitroso N2O Azul 15.800 ℓ 745 psi
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