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O DIREITO NO BRASIL COLONIAL

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Vitória Queiroz 
 
Disciplina: Fundamentos Sociais e Históricos do Direito 
História do Direito Brasileiro 
O Direito no Brasil Colonial 
 
O Direito no Brasil colonial: 
História do Brasil contada a partir da 
perspectiva dos colonizadores. 
Perspectiva dos vencedores. 
Tendenciosa a beneficiar os pontos para o 
lado dos portugueses. 
Descoberta do Brasil? A terra já era 
habitada por outros povos. 
Holocausto indígena. 
Necessidade de visão crítica. 
Perigo de uma história única. 
 
Antecedentes Históricos: 
As causas da expansão marítima 
europeia, de Portugal, que os levam a 
conquista do Norte da África (Ceuta, 1415) 
e à descoberta do Brasil (1500) são: 
 ↪ Esgotamento da vida medieval 
↪ Crescimento dos interesses 
comerciais ultramarinos das cidades 
burguesas europeias – expandir 
rotas comerciais 
↪ Gosto pela aventura – traçar 
inúmeras histórias de aventureiros e 
navegadores – sete mares 
desbravando os horizontes 
↪ Busca de caminhos para as 
Índias – principal destino 
↪ Descoberta de ouro, especiarias 
e riquezas exóticas 
 
O impulso para o expansionismo em 
Portugal seria pautado por interesses: 
➔ comerciais, militares e 
evangelizadores. 
Interesse evangelizador por conta de: 
➔ Reforma Protestante 
 ➔ Igreja resistindo Contrarreforma 
➔ Traça uma serie de estratégias 
para enfrentar a perda de fieis 
➔ Patrocínio de expedições com 
interesse em ampliar o número de 
fiéis, o campo de atuação. 
 ↪ Jesuítas 
“A expansão europeia, que atravessa os 
limites do Oceano conhecido, dá origem a 
novas narrativas históricas eurocêntricas 
sobre as Américas, entre elas, a da 
‘descoberta’ do Brasil e das visões 
edênicas sobre o ‘novo mundo’. Mas, o 
‘novo mundo’ será forjado à imagem e 
semelhança do ‘velho mundo’ e de seus 
cânones e interesses, onde a modernidade 
e tradição se encontram em choque, o que 
ajuda a marcar o conjunto dos traços que 
atravessam a particularidade do processo 
de colonização, daí derivando-se 
consequências estruturantes das 
mentalidade, praticas, das instituições e, 
também, das relações socioeconômicas 
instauradas no Brasil.” (BITTAR, 2018) 
➔ “Edênicas - simbologia do Éden na 
memória dos povos. Espécie de paraíso.” 
➔ Vão tentar construir o novo mundo 
baseado no velho mundo, o português. 
 Vitória Queiroz 
 
➔ Continuação da perspectiva europeia. 
 
“[...] povos de origem tribal em diferentes 
estágios culturais, todos eles beirando, 
porém, o neolítico, despossuídos por 
completo de uma regulamentação jurídica, 
mas antes dominados ainda pelo império 
da norma indiferenciada de cunho 
sagrado. Era, pois, o direito português que 
deveria construir a base de nosso direito 
nacional sem maiores competições. 
Também no âmbito jurídico temos aqui 
mais uma ocupação do que uma 
conquista.” ALFREDO BOSI 
↪ De fato, esses povos não 
possuíam regulamentação jurídica? 
↪ Já possuíam a própria cultura, 
então já tinham uma 
regulamentação jurídica. 
↪ Não tinham um direito escrito. 
↪ Portugueses aplicam o próprio 
sistema jurídico nos índios. 
 
O mito fundador do Brasil - A 
carta de Pero Vaz de Caminha: 
“Carta a El-Rei Dom Manoel sobre o 
achamento do Brasil” 
Forma de comunicação da época. 
Forma de Pero Vaz justificar o erro de 
percurso e tentar convencer o rei colonizar 
essa terra encontrada. 
Estereótipos do Brasil surgem a partir da 
visão relatada nessa carta. 
↪ Visão que os portugueses tinham 
dos índios. 
 
O processo de colonização será 
capitaneado pelo Estado e pela 
Igreja: 
A igreja participando ativamente do 
processo de aculturação dos ameríndios 
na medida em que a ideologia da 
Contrarreforma determina e define a forma 
como a cultura lusitana, e, ibérica, de 
forma geral, irá reagir à Reforma na 
Europa, e, por isso, como a Igreja irá ter 
um papel central, mas conservador, no 
processo de colonização, através do 
jesuitismo. 
 ↪ Período de 1500 a 1549 – Início 
do período de colonização do Brasil pelos 
portugueses. 
 ↪ 1549 até o fim do séc. XVIII – 
Montagem da administração colonial. 
 ↪ Fim do séc. XVIII até 1822 – 
Crise do sistema colonial. 
 
“Não obstante a enormidade da população 
indígena que ocupava as Américas, no 
período, a cultura, a tradição, o modo de 
vida, os costumes e o direito indígena 
serão dizimados, em função de uma série 
de fatores, entre eles a superioridade 
armada do colonizador, na medida em que 
o direito metropolitano se impunha sobre a 
Colônia. A questão da escravidão dos 
povos indígenas se fez presente, e 
pendurou por longo tempo, especialmente 
para a fase do extrativismo do pau-brasil, 
fator que se tornou conflituoso na relação 
entre evangelizar os indígenas ou 
escravizá-los, que opunha o papel dos 
colonizadores jesuítas, a ponto de se 
culminar na emissão da Carta Régia de 
1570, que passou a proibir a escravidão 
indígena, à exceção das situações de 
‘guerra justa’”. BITTAR, 2018 
↪ Mito de que os índios não foram 
escravizados por serem 
‘preguiçosos’. 
 Vitória Queiroz 
 
↪ Disputa de interesse entre Estado 
português e a igreja. 
↪ Igreja queria catequizar os 
indígenas. 
↪ Por ter patrocinado as 
expedições, a igreja conseguiu 
destinar os índios a catequização. 
A imensidade do território: 
SESMARIAS 
Desde o início do processo de 
colonização, a imensidade do território 
representava um desafio para Portugal: 
↪ comunidades indígenas 
↪ invasões estrangeiras que se sucederão 
entre os séculos XVI e XVII 
↪ por parte de espanhóis, 
franceses, holandeses, ingleses 
↪ ocupação das terras descobertas por 
Portugal se fará por meio das sesmarias 
↪ através de capitanias 
hereditárias, instituto luso-medieval 
que transfere a ocupação da terra 
junto com poderes de administração 
↪ o que desde o início do progresso 
de ocupação das terras brasileiras 
tenha produzido uma intima e 
indistinta aproximação entre o 
público e o privado. 
Com isso, os donatários possuíam 
concessão imperial para atuar no Brasil no 
âmbito de seus territórios: 
↪ com delegação de poderes 
provenientes da Coroa, tendo em 
vista a impossibilidade de ocupação 
das terras brasileiras por outros 
meios, seja para colonizar, ocupar, 
extrair, produzir, seja para impor a 
ordem, a justiça e a lei portuguesa, 
controlando o território. 
Dessa forma, o direito nesse 
período não pode ser dito como 
‘Direito Brasileiro”. 
 
O Direito: 
No período colonial brasileiro, não surge 
de forma gradativa, através de uma 
evolução histórica como nos povos 
antigos. 
↪ Surgiu através da imposição de 
uma vontade dominante nas 
relações sociais, formando, assim 
as bases da cultura e do 
ordenamento jurídico brasileiro. 
↪ O período colonial foi o período 
em que Portugal se tornou 
metrópole do Brasil, que era sua 
colônia e que lhe enviava matérias 
primas, alimentos, minérios e todo 
tipo de produtos que se encontrasse 
aqui. 
O direito usado em Portugal, tinha como 
influencia o direito romano. 
Da mesma forma que ele era aplicado na 
metrópole, ela veio ser aplicado na 
colônia, para servir como ordem jurídica. 
Isso foi crucial para o Brasil, dado que as 
relações sociais daquela época não se 
assemelhavam às relações de Portugal, 
exigindo normas próprias e não copias. 
A ordenação jurídica vigente em Portugal 
era uma compilação dos costumes e leis, a 
qual mudava quando havia um câmbio de 
reinado. 
As compilações eram conhecidas como 
Ordenações do Reino e foram elas: 
↪ Ordenações afonsinas (1446) 
↪ Ordenações manuelinas (1521) 
↪ Ordenações filipinas (1603) 
“Nas Ordenações Filipinas se revela o 
quão penhora era a retirada por degredo 
 Vitória Queiroz 
 
para o Brasil, e o que o Brasil-imaginário 
significa para o próprio Reino de Portugal 
no século XVII, pois está é considerada a 
pena mais elevada que possa receber 
alguém por crime de feitiçaria; os crimesmais graves são punidos com degredo 
para o Brasil e os mais brandos, com 
degredo para África. O Brasil, aos poucos, 
vai-se constituindo como terra-de-
degredados, na medida em que as 
dificuldades de viagem, a distância 
geográfica e ultramarina, a comunicação 
precária significavam praticamente um 
abandono ao estado de natureza para os 
condenados, constituindo-se desde ai um 
éthos marginal, excluído e subalternizado, 
em infração a lei”. 
↪ Brasil passa a se tornar um lugar 
‘perigoso’. 
↪ Criminosos portugueses são 
trazidas a força para o Brasil. 
O processo de colonização do Brasil não é 
simples, pois, vários fatores contribuem 
para tornar as terras novas um imenso 
desafio para a Metrópole, a saber: 
 ↪ As longas distancias. 
 ↪ A falta de funcionários. 
↪ A falta de estruturas privadas e 
públicas para a vida nos vilarejos e 
vilas. 
↪ Dificuldade de cobranças dos 
impostos. 
↪ Dificuldades de fiscalização das 
riquezas. 
↪ O isolamento do território. 
↪ A lida entre jesuítas, senhorios, 
escravos e indígenas. 
Tudo isso irá fazer crescerem os poderes 
locais, na medida em que o próprio direito 
oficial é pouco respeitado, sendo o maior 
esforço da Metrópole concentrado 
propriamente na cobrança de impostos, e 
não propriamente na introdução de 
benefícios à população assentada. 
Na medida em que os órgãos 
administrativos começam a ser 
estruturados, ele virão nas figuras de 
órgãos militares, fazendários e de justiça. 
 
“Mas, talvez, seja esta uma das 
determinantes raízes que estruturam a 
forma como o Direito brasileiro até hoje se 
estrutura, ou seja, de uma legislação fraca 
para direitos, mas forte para a cobrança de 
impostos e a punição de pequenos 
infratores.” BITTAR, 2018 
“No período do Brasil Colônia, não se pode 
falar propriamente de um direito brasileiro. 
O que existe é um direito uno como direito 
português Império-Colônia, pois o Império 
Português administra suas colônias de 
forma centralizada, segundo uma lógica 
típica do Antigo Regime. O principal 
documento jurídico do período colonial 
serão as Ordenações Filipinas, dentro da 
tradição medieval das Ordenações do 
Reino de Portugal, e as punições aos 
infratores cumprem caráter ritual, público e 
espetacular, afirmando-se com força 
desproporcional a relação de 
mando/obediência e de servilidade às leis 
da Coroa impostas pelas Metrópole, sendo 
datada de 1609 a criação do Tribunal de 
Relação, na Bahia.” BITTAR, 2018 
↪ Antes não tínhamos nenhuma 
espécie de tribunal. 
↪ Essa punição era feita pelos 
capitães donatários e a igreja. 
“[...] Durante o período colonial, chega-se 
a desenvolver um Direito Canônico, que, a 
partir do início do século XVIII, já terá suas 
mais expressivas manifestações. No 
entanto, a emancipação do direito 
brasileiro será paulatina, considerando 
especialmente sua mais plena definição 
entre os séculos XIX e XX”. BITTAR, 2018 
 Vitória Queiroz 
 
“O conjunto de revoltas, rebeliões, 
sedições não é pouco significativo na 
historia brasileira, e provem de 1690, com 
a Revolta da Cachaça. É enganosa a visão 
segundo a qual a colonização se deu sem 
resistência dos povos indígenas, ou que a 
escravidão se deu sem resistência dos 
negros africanos, ou que a ocupação pelo 
processo de colonização portuguesa foi 
sem oposição de outros povos e nações 
interessados nas terras brasileiras, ou 
ainda, de que os períodos colonial e 
imperial foram sem tropeços, revoltas, 
rebeliões, sedições, conjurações e outros 
tipos de manifestações. [...] No entanto, o 
padrão de reação no período colonial será 
sempre de lealdade aos súditos com 
relação à Metrópole” BITTAR, 2018 
“O século XVII, não somente no Brasil, 
mas também na América do Norte e na 
Europa, será de agitação colonial, de 
dispersão das ideias liberais, estocando 
revoltas e tentativas de independência, 
sabendo-se que a mais celebre será a 
Inconfidência Mineira. [...] 
A conjuração Mineira antecedeu a própria 
Revolução Francesa, e teve por motivação 
a tentativa de implantação do ideário 
republicano. Autonomia da Colônia com 
relação à Metrópole e, portanto, contestou 
com toda a firmeza o conjunto de 
estruturas do regime de dominação 
português”. BITTAR, 2018 
“A partir daí, diante das pressões políticas, 
militares e diplomáticas da Europa de 
então, que somente a vinda da família real 
em 1808, como também sofrerá o impacto 
das ideias liberais, em voga na Europa 
pós-Revolução Francesa. Ouvem-se por 
todas as partes que os direitos são 
universais, que existem direitos de 
igualdade e fraternidade, e o cerne do 
liberalismo começa a demonstrar a 
incompatibilidade de manutenção de uma 
sociedade de classes com base na 
exploração agraria e na mão de obra 
escrava.” BITTAR, 2018 
↪ Com a vinda da família real, eles 
notam a falta de estrutura no Brasil. 
↪ Criam instituições baseadas no 
cotidiano europeu. 
“É nesse período que, aos poucos, a 
legislação portuguesa, sob a pressão do 
reformismo modernizante pombalino, tente 
à busca do esclarecimento e da 
racionalidade, o que significa a morte para 
os referenciais canônicos e 
mecievalizantes, bem como a ruina dos 
sustentáculos da escravidão como regime 
de sustentação da economia. No entanto, 
a legislação imperial avança nos tratos da 
formação da nova codificação imperial, 
mas aumenta a repressão e a dirige a 
negros e aborígenes, destinatários 
preferenciais das leis criminais.” BITTAR, 
2018

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