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Semelhanças e diferenças entre Marx e Hegel

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Semelhanças e diferenças entre Marx e Hegel
· Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831)
· Karl Marx (1818 — 1883)
Com finalidade de demonstrar as semelhanças e diferenças entre Karl Marx e G. W. F. Hegel, devemos, antes de tudo, principiar que muitas de suas discordâncias estão imersas em suas convergências, pois Marx retira muito do pensamento de Hegel, sem, porém, se limitar a este, razão pela qual o primeiro - Hegel “revoluciona” o sentido da obra do segundo - Marx. Exemplo disso é o fato de que no idealismo hegeliano a dialética é o princípio motor da filosofia, enquanto Marx, a partir dessa leitura, se utiliza da dialética para desenvolver metodologicamente seu materialismo filosófico.
Vejam que para a concepção hegeliana a Idéia põe o mundo em movimento. Nesse sentido, a Idéia não só é o agente transformador como também o agente criador da realidade. A Idéia é a efetivação do Espírito Absoluto, Espírito este que precede a realidade material. Marx, de modo contrário, pensa as forças produtivas como fio condutor de toda a realidade e história humana, sendo o dado primeiro o mundo material, onde sua contradição não ocorre na Idéia, mas sim nos meios de produção respectivos ao momento histórico que vêm a condicionar o homem.
Eis que Hegel descreveu bem o homem, mas de cabeça para baixo, por isso o trabalho marxiano será no sentido de colocar esse homem de pé a partir das outras fontes filosóficas e econômicas que ele bebeu. Bebeu por exemplo da perspectiva econômica de David Ricardo, o qual lhe influenciou quanto ao conceito de mais-valia (termo usado para designar a disparidade entre o salário pago e o valor do trabalho produzido), que seria utilizado na observância de que o predomínio das relações de produção capitalista, donde surge a luta de classes, faz nascer o Estado, para que este sirva como um mecanismo de poder para a institucionalização da propriedade e dos meios de produção de modo que aquilo que o trabalhador produz lhe seria alienado, restando-lhe somente um valor não condizente e muito inferior ao que lhe é devido pela produção dos bens da vida – da mais-valia surge o lucro do capitalista. Em vista disso, o ápice, a realização, a manifestação, ou melhor, a expressão da dialética marxiana será a luta de classes.
Mas o que é o homem em Marx? 
Segundo ele, o ser humano precisa ser pensado como corpo biológico, pois é por meio do corpo que lhe surgem necessidades básicas como comer, beber, abrigar-se e vestir-se. Entretanto, é através do trabalho que o ser humano desenvolve técnicas para suprir as necessidades supracitadas, e mais, através do trabalho ele cria outras necessidades que vêm a transformar a “natureza humana”, de modo tal que mesmo com todas as necessidades básicas supridas, o homem continuará sempre a trabalhar e a desenvolver técnicas de trabalho, sendo esta força de produção o fio condutor da História. 
Contudo, em Hegel, a História vai além de qualquer correspondência laboral, ou mesmo de qualquer relação particular. Aliás, a História lhe aparece como o desdobramento do Espírito no tempo, do mesmo modo que a Natureza é o desdobramento da Idéia no espaço. Assim sendo, segundo o filósofo alemão, a história do mundo se desenvolve segundo um “plano racional” na medida que “tudo o que é efetivo, é racional; [e] tudo o que é racional, é efetivo” (Cf. Filosofia do Direito) e esse movimento, o movimento histórico, por ser racional, obedece necessariamente uma lógica, mais propriamente uma lógica que coincide com a ontologia (trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos), ou seja, uma lógica que não é puro organum (puro instrumento ou método no sentido da lógica formal), mas uma lógica que é a própria estrutura, ou, melhor ainda, que é auto-estrutura, desdobrando-se “triadicamente três vezes”.
Vejam, se para Hegel a história do mundo se desenvolve numa tríade de tese, antítese e síntese (de modo que por exemplo, a guerra é o momento da “antítese” que move a história, a qual, sem “momentos negativos”, não haveria mudança), a tríade da Lógica é o Ser, a Essência e o Conceito, a qual se desdobra em três outras tríades. A tríade do Ser é da qualidade, quantidade e medida; a da Essência é da essência, aparência e realidade; e a do Conceito é da subjetividade, objetividade e idéia. 
Já Marx, embora se utilizando também do movimento triádico, julga que não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência. Observem por exemplo A ideologia alemã, onde podemos ler:
A produção das idéias, das representações, da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações materiais dos homens, linguagem da vida real. As representações e os pensamentos, bem como o intercâmbio espiritual dos homens, ainda aparecem aqui como emanação direta do seu comportamento material. E, do mesmo modo, isso vale para a produção espiritual, como ela se manifesta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, etc., de um povo.
Assim, no movimento triádico marxiano a tese não poderá ser outra coisa, senão tudo o quanto diz respeito aos meios de produção operados em dado momento histórico. Nesse sentido, em sua dialética, as “leis dialéticas”, ainda em movimento triádico, movem-se da quantidade à qualidade, de modo que a síntese pode se tornar tese, a qual surgirá uma nova antítese, e assim por diante – o que acarreta num contínuo movimento, tal como sugere o vir-a-ser da tradição de Heráclito. Isso implica que caso haja um acúmulo quantitativo em determinado meio de produção, poderá haver um “salto” qualitativo na vida humana, de modo que, com o passar do tempo, pequenas acumulações de bens desenvolverão mudanças na direção da história, no sentido de que a quantidade se torna evolutiva, e a qualidade, revolucionária. Sendo que revolucionário se relaciona com a capacidade humana de modificar drasticamente as condições materiais em que o homem está inserido, em um movimento contínuo espiral, como foi apresentado na síntese que se torna tese e assim por diante. Nesse sentido Marx “inverte” Hegel. 
Como diz Marx, “ meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do pensamento, – que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de idéia, –é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ele interpretado.
Contrariamente, o que Hegel fez, foi lançar as bases para o Positivismo, pois ele compreendeu a História como possuidora de um espírito objetivo, ou seja, jamais se subordinando à ação dos indivíduos. A História hegeliana será onde o Espírito Absoluto se realiza plenamente, ainda em movimento triádico, e diferentemente de Marx, o Estado será compreendido como “O ingresso de Deus no mundo”, “Um Deus real”, “O ápice da razão humana”, pois diz Hegel: “O Estado é a realidade em ato da idéia moral objetiva, o espírito como vontade substancial revelada, clara para si mesma, que se conhece e se pensa, e realiza o que sabe e por que sabe.” (HEGEL, 2009 § 257: 216). 
Já em Marx o Estado aparecerá a serviço da burguesia, isto é, não sendo mais que um instrumento de organização segundo o qual a classe burguesa se utiliza para manter seus próprios interesses. Ou seja, Marx acredita ser uma ilusão a concepção hegeliana de que o Estado não se constitui por interesses ou instituições particulares. Ao contrário, o pensamento marxiano sugere que as leis estão a serviço de uma vontade particular e arbitrária e o Direito torna-se o instrumento de dominação e reprodução dos valores da classe dominante, em uma leitura instrumentalista. Assim, o Direito é produto do poder econômico, tanto quanto todas as demais formas de superestrutura, a exemplo da cultura, da educação, etc.
Enquanto isso, para Hegel, há um direcionamento diverso quanto ao modo de pensaro Direito. De modo diverso, a vontade de um sujeito determinado tem um conteúdo determinado, qual seja, a vontade particular; um “eu” desejante que quer um objeto determinado. Já a vontade individual aparece como síntese da universalidade e da particularidade. Assim Hegel terá como ponto de partida de sua filosofia do Direito não a arbitrariedade entre classes (como sugere Marx), mas antes a mediação entre a sociedade e o Estado, tendo como centro essa vontade livre. A concretização dessa liberdade lhe será a posse, o que em Marx aparecerá justamente o contrário, mesmo que Hegel aponte que a posse em si não tem por si maior garantia, deste modo, o espírito buscará um contrato estatal que lhe garanta a titularidade dessa propriedade, assegurando-a.
No fim de tudo isto, passando pela oposição idealismo-materialismo, compreensão de história, economia, espírito absoluto e infraestrutura e superestrutura, Marx e Hegel metodologicamente terão seus pontos de convergência, enquanto o primeiro inverterá o segundo em seus fundamentos, fazendo com que em suas semelhanças esteja aquilo que lhes diferencia.
FONTE: Blog de Natalia Cruz Sulman / http://filovida.org/blog/2017/02/09/semelhancas-e-diferencas-entre-marx-e-hegel/

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