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MARISTELA LOBO | OSWALDO SCOPIN DE ANDRADE JOÃO CARLOS WANDERICO | MARIANA MONTANINI EMATNÉ HIRATA 01 CAPÍTULO A INTERAÇÃO DA PERIODONTIA COM OS PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS É tempo de Odontologia Estética Multidisciplinar e o objeti- vo final dessa abordagem consiste na construção de sorrisos saudáveis, funcionais e estéticos, e exige a consciência de que é impossível alcançar tal resultado sem a integração de todas as especialidades1,2. Aprofundar-se em técnicas e conceitos tornou-se tão importante quanto ter a visão do conjunto, do que é necessário e do que é possível realizar em cada caso clínico. Conhecer o comportamento biológico dos tecidos a serem tratados na Odontologia Estética Integrada é funda- mental para que haja previsibilidade, sucesso, estabilidade e longevidade de resultados3,4,5. A Periodontia tem um papel fundamental dentro desse con- texto, pois o equilíbrio dos tecidos – duros e moles, brancos e vermelhos (ou róseos), externos e internos – exige o res- peito às distâncias biológicas, ao padrão estético da Zona de Transição (representada pelos tecidos moles supracrestais)6 e aos contornos e proporções teciduais7,8. O equilíbrio dos tecidos que compõem o sorriso exige, fundamentalmente, a saúde do periodonto e o selamento marginal das restau- rações, sejam estas diretas ou cimentadas (semi-diretas ou indiretas), promovendo mínimo acúmulo de biofilme bacte- riano na interface dente-restauração-periodonto. INTRODUÇÃO 36ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a Neste capítulo, serão abordados os procedimentos perio- dontais mais frequentemente empregados para otimizar a estética vermelha (ou rosa) e integrá-la com a Odontologia Restauradora Estética. Por fim, há a descrição de um caso clínico completo envolvendo o aumento de coroa clínica es- tético sob técnica mista, associado a elementos cerâmicos do tipo “lentes de contato”. O COMPLEXO TECIDUAL SUPRACRESTAL OU ZONA DE TRANSIÇÃO (ZT) O manejo dos tecidos periodontais requer o conhecimento da biologia, da anatomia e do comportamento dos tecidos que circundam os dentes, restaurações e/ou implantes3,9. O dente representa uma estrutura muito peculiar do corpo humano, uma vez que possui dois terços de sua estrutu- ra inseridos na parte interna do organismo, e praticamente um terço da mesma estrutura posicionado externamente, em contato direto com um meio aquoso e contaminado por bactérias. Essa condição anatômica determina, por si só, a necessidade de um selamento biológico suficientemente ca- paz de evitar a invasão bacteriana e consequente inflamação na Zona de Transição (ZT) –composta pelo Complexo de Tecidos Supracrestais6,10,11. A Figura 01 ilustra bem a disposição dos tecidos da ZT: o epitélio oral, em vermelho, do qual pertence a gengiva livre, consiste em um epitélio pavimentoso estratificado querati- nizado, capaz de resistir aos desafios térmicos e mecânicos provenientes da mastigação e da escovação. Possui sucessi- vas camadas celulares – basal, espinhosa, granulosa e que- ratinizada – que o tornam impermeável, isento de qualquer capacidade de absorção externa. A nutrição desse tecido, que não possui vasos sanguíneos, se dá a partir da camada basal, a qual projeta cristas epiteliais em direção ao tecido conjuntivo subjacente, aumentando a superfície de contato, a captação de nutrientes e a distribuição de forças aplicadas sobre a superfície do epitélio12. O epitélio oral estende-se em direção à estrutura dental e, ao invaginar, perde algumas camadas celulares e parte de sua queratinização, embora mantenha alguma resis- tência, tranformando-se em epitélio do sulco (com com- primento histológico médio de 0,69 mm)11,13. O epitélio sulcular oral tem camadas celulares mais finas com um pa- drão incompleto de queratinização (paraqueratinização)12. Clinicamente, é impossível determinar a profundidade do sulco gengival histológico através de sondagem clínica10. Quando a sonda penetra no sulco gengival, ela percorre o comprimento do epitélio do sulco e segue pelo epitélio juncional, que é o tecido que existe em continuidade com o epitélio do sulco, em íntimo contato com a superfície do esmalte dental, e fracamente aderido a esta através de hemi-desmossomos presentes na lâmina basal interna deste tecido14. O epitélio juncional é um tecido não queratinizado, de alta permeabilidade – permite a passagem de fluido crevicular, anticorpos e células humorais, e possui grande capacidade de regeneração12,14. Em média, o comprimento do epité- lio juncional abrange 1,07mm13, embora esse tecido possa variar muito quanto às medidas em diferentes indivíduos. O epitélio juncional geralmente termina ao nível da Junção Cemento-Esmalte (JCE) e coincide com o início da inserção conjuntiva, onde as fibras do tecido conjuntivo se inserem no cemento radicular. A inserção conjuntiva é responsável pela arquitetura e pelo arcabouço gengival, já que nessa faixa tecidual encontram-se as fibras dentogengivais, dentoalveo- lares e alvéologengivais12. O sulco gengival é uma unidade separada do espaço biológico, o qual compreende o epitélio 36CAPÍTULO 01 37| • EPITÉLIO DO SULCO 0,69 mm ES EJ JCE IC EPITÉLIO JUNCIONAL 0,97 mm INSERÇÃO CONJUNTIVA 1,07 mm 01 ► Representação esquemática do complexo de te- cidos supracrestais (Zona de Transição, ZT), formado por quatro entidades teciduais distintas: o epitélio do sulco, em vermelho escuro, medindo, em média, 0,69 mm de comprimento; o epitélio juncional, em amarelo, com 0,97 mm de comprimento; a inserção conjuntiva, em verde, com aproximadamente 1,07 mm de comprimento e, por fim, o epitélio oral, em vermelho claro, que possui, no mínimo, a soma desses tecidos em comprimento na ZT (2,73 mm)6,13. juncional e a inserção conjuntiva (em um comprimento mé- dio de 2,04 mm)13. Unindo o espaço biológico e o sulco, tem-se o complexo de tecidos supracrestais ou a Zona de Transição (ZT) 6,10,11. Existe uma série de vantagens clínicas acerca do conheci- mento das distâncias biológicas e das características dos te- cidos que compõem a ZT, a qual pode ser compreendida a partir de uma análise considerando os sentidos vertical ou ápico-coronal (comprimento tecidual, Figura 02A) e hori- zontal ou vestibulolingual/palatino (espessura tecidual, Figu- ra A2B). Compreender corretamente o comportamento biológico desses tecidos auxilia sobremaneira no respeito às distâncias biológicas e na manutenção da saúde dental e pe- riodontal em curto, médio e longo prazo, fundamental para a longevidade dos tratamentos odontológicos. ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 38 02A 02B DISTÂNCIAS BIOLÓGICAS SULCO GENGIVAL ESPAÇO BIOLÓGICO (EJ + IC) BIOTIPO PERIODONTAL ESPESSURA TECIDUAL QUANTIDADE E QUALIDADE NUTRIÇÃO / DEFESA 02 A,B ► A Zona de Transição pode ser avaliada em diferentes sentidos: (a) o vertical ou ápico-coronal fornece informações acerca das distâncias biológicas e medidas de comprimento do complexo de tecidos supracrestais; (b) o horizontal ou vestibulopalatino/lingual permite a avaliação da espessura e das características do biótipo periodontal. 39 O comprimento da ZT pode variar entre os indivíduos mas, em média, compreende 2,73 mm1,13. Segundo Kois9, de um total de 1000 pacientes avaliados quanto aos tecidos supra- crestais, 2% dos indivíduos possuíam comprimento de ZT menor que 3,0 mm na face vestibular dos dentes anteriores superiores em função da distância encurtada entre a Junção Cemento Esmalte (JCE) e a Crista Óssea Alveolar (COA), o que aumenta o risco de invasão do espaço biológico diante de restaurações diretas ou indiretas. Treze por cento dos pacientes avaliados apresentaram comprimento aumentado de ZT, variando de 3,0 a 4,5 mm na face vestibular dos an- teriores superiores devido à maior distância entre a JCE e a COA.Segundo o autor9, os pacientes com essa caracterís- tica de ZT apresentam instabilidade de margem gengival e elevado risco à recessão. A maioria dos indivíduos avaliados (85%) apresentou ZT aproximadamente igual a 3,0 mm na mesma face, corroborando com a média de achados prévios em dentes anteriores10,11,13. Um estudo recente13 conduziu a avaliação histomorfométri- ca in vivo do Complexo de Tecidos Supracrestais (ou ZT) em 11 pacientes (com idades de 27 a 53 anos) com periodontos saudáveis que tiveram 24 dentes extraídos por razões pro- téticas. Na amostragem avaliada, as medidas médias com- preenderam: 1,58 mm desde a margem gengival até a JCE (os autores não conseguiram diferenciar histologicamente o epitélio do sulco e o epitélio juncional por dificuldades no preparo de espécimes); 1,18 mm de comprimento da inser- ção conjuntiva e 2,75 mm de medida da Zona de Transição. Os achados da literatura, de que a maioria dos indivíduos possui comprimento de Zona de Transição na faixa dos 3,0 mm na face vestibular de dentes superiores anteriores, é pertinente clinicamente e deve ser considerado como média para a maioria dos indivíduos sem esquecer, no entanto, a importância de se individualizar cada caso, uma vez que essas medidas podem variar muito entre indivíduos, entre grupos de dentes de um mesmo indivíduo, e entre faces de um mesmo dente. A avaliação da ZT no sentido horizontal permite ao clínico estimar a espessura do tecido e classificar o paciente de acordo com os biótipos periodontais15-18. O biótipo perio- dontal define diferentes padrões de comportamento teci- dual frente às agressões inflamatórias, e pode determinar a indicação de técnicas variadas, visando preservar a margem gengival19. A avaliação da quantidade do tecido queratini- zado existente, a profundidade de sondagem, a distância da margem gengival até a crista óssea, o espaço biológico e o biótipo periodontal são parâmetros determinantes na escolha da técnica cirúrgica para o aumento de coroa clínica estético anterior19-21. Atualmente, considera-se que o biótipo fino/festonado ofe- rece tendência à recessão da margem gengival frente aos desafios inflamatórios22. Isso porque a limitação de quan- tidade e qualidade teciduais nesse biótipo frequentemente implica em comprometimento da nutrição na extremidade coronal da ZT23,24. Em pacientes com biótipos periodontais finos/festonados ou intermediários, o cirurgião deve evitar as incisões relaxantes, a divisão sub-laminar, o excesso de suturas e a tensão do retalho para diminuir a ocorrência de possíveis deiscências e perdas dos tecidos gengivais marginal e papilar25,26. Os procedimentos restauradores também de- mandam maior cuidado de manipulação nesses pacientes, traduzido em menores danos possíveis à ZT, além de dis- tância de, pelo menos, 1,0 mm entre a margem gengival e o término das restaurações. ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 40 O biótipo plano/espesso, em função da abundância de teci- dos ósseo, conjuntivo e epitelial, tende à formação de bolsa periodontal diante de inflamações e oferece maior estabi- lidade da posição da margem gengival, embora, nesses bi- ótipos, haja maior risco de invasão do espaço biológico27. Nesse contexto, não se exige delicadeza na execução de procedimentos cirúrgicos e/ou restauradores, mas há que se observar o relacionamento entre as distâncias biológicas e os limites das restaurações. O biótipo intermediário pode comportar-se de ambas as maneiras, tendendo à recessão da margem gengival ou à formação de bolsa periodontal. No entanto, diante dos procedimentos clínicos, deve ser consi- derado como biótipo fino. As tomografias computadorizadas volumétricas do tipo cone beam, de alta resolução (ex.: Prexion 3D), podem fornecer informações precisas acerca dos tecidos da ZT (Figura 03A, B)28-31. O afastamento de lábios e da língua durante a tomada tomográfica permite a visualização nítida do processo alveolar e seus tecidos (Figura 03A), e o software é capaz de fornecer medidas precisas tanto de espessura de tábua óssea quanto de comprimento de tecidos supracrestais (Figura 03B). Estudos que empregam tomografias computadorizadas para a avaliação da ZT na face vestibular de dentes anteriores28-31 mostraram que existe uma variação muito grande entre a COA e a JCE (com distâncias de 1,6 a 4,0 mm), e que tais distâncias podem ser menores em biótipos periodontais pla- nos/espessos quando comparadas às mesmas distâncias em indivíduos com biótipos periodontais finos/festonados10,28. De fato, é prudente trabalhar com cada indivíduo de maneira personalizada e, para isso, o conhecimento dos tecidos supra- crestais, incluindo o comportamento biológico, as medidas de comprimento e as medidas de espessura, torna-se imprescin- dível ao sucesso da terapêutica, cirúrgica e/ou restauradora. O PADRÃO ESTÉTICO DA ZONA DE TRANSIÇÃO Antes do manejo dos tecidos da ZT, é preciso conside- rar alguns parâmetros preestabelecidos de estética ver- melha: (A) o volume e a coloração da gengiva (Figura 04A); (B) o alinhamento da altura das margens gengivais de pré-molares, caninos e incisivos centrais, deixando apenas os incisivos superiores laterais com flexibilidade de posição da margem gengival, podendo estar no máxi- mo 1,0 mm mais coronal em relação à margem gengival dos demais dentes (Figura 04C); (C) o deslocamento do zênite gengival de incisivos e caninos para a distal em relação ao seu eixo (Figura 04B); (D) o preenchimento completo das ameias interdentais com papila, sendo a papila entre os incisivos centrais mais volumosa e do- minante quando comparada à papila entre os incisivos centrais e laterais (Figura 04D). Quando a margem gengival posiciona-se aproximadamen- te ao nível da JCE, em dentes alinhados, presume-se que a maior porção possível de coroa clínica estará exposta, determinando a proporção correta de estética branca no sorriso, a menos que haja anomalias, defeitos ou alterações na estrutura dental. A posição da JCE varia quando se comparam as faces lisas e proximais. Ainda, dentro da mesma face, há um ponto no qual essa linha que divide as porções coronária e radicular posiciona-se mais apical com relação à borda incisal. Naturalmente, espera-se que a margem da gen- giva também fique posicionada mais apicalmente nessa região, determinando o Zênite Gengival (ZG) – o ponto mais apical da curvatura gengival vestibular. Ao medir a coroa desde a borda incisal até o ZG, esta tem a sua maior medida de comprimento. 41 Geralmente os zênites gengivais de incisivos centrais e ca- ninos encontram-se levemente distalizados em relação ao longo eixo do dente. Da mesma forma, esses grupos de dente mantêm a margem gengival em altura semelhante ou formando uma curva que acompanha a curvatura do lábio superior. O incisivo lateral se flexibiliza nesse contexto, po- dendo ter o zênite coincidindo com o seu longo eixo, e ten- do a margem gengival cerca de 1,0 mm mais coronal quando comparada às margens de incisivos centrais e caninos. Essa diferença de posição de margens forma um triângulo inver- tido (cujos ângulos são os zênites) que se equilibra com a papila gengival entre os incisivos centrais, a qual é geralmen- te mais volumosa. As margens gengivais de pré-molares e molares devem situar-se na mesma altura de margem dos caninos (Figura 04). A estética do sorriso torna-se difícil de alcançar quando as margens gengivais encontram-se desalinhadas, totalmente coincidentes ou quando existem alterações na cor, na tex- tura e/ou no volume/espessura. Para sanar tais problemas clínicos, convém dominar diferentes técnicas de manipula- ção cirúrgica da ZT, visando otimizar o aspecto dos tecidos supracrestais previamente à restauração da estética branca. 03 A,B ► A tomografia computadorizada volumétrica de altaresolução, rea- lizada com afastamento simultâneo de lábios e língua, é capaz de caracterizar a espessura e o comprimento dos tecidos da Zona de Transição, permitindo, ainda, a obtenção de medidas teciduais na proporção de 1:1. 03A 03B 04 A-D ► A estética da ZT requer volume e coloração gengival adequada (A); Po- sição de zênite gengival levemente distalizado com relação ao longo eixo do dente (B); Alinhamento de margens de incisivos centrais e caninos (margens coincidentes ou que formem uma curva correspondente à curva do lábio superior) com flexi- bilidade de altura de margem gengival do incisivo lateral (C); e O preenchimento completo das ameias além do equilíbrio entre o volume gengival exposto na papila entre os incisivos centrais e na região da margem dos laterais, sob visão frontal (D). 04A 04B 04C 04D ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 42 MANIPULAÇÃO CIRÚRGICA DA ZONA DE TRANSIÇÃO Da mesma forma que é possível analisar anatomicamente os tecidos supracrestais nos sentidos horizontal e/ou vertical, também é possível avaliar as possibilidades de manipulação cirúrgica utilizando a mesma estratégia de avaliação. Quando existe a necessidade de aumentar ou diminuir o volume de tecido conjuntivo existente na ZT, bem como aumentar a quantidade de tecido queratinizado, ou ainda remover pigmentações melânicas ou cicatrizes, o plane- jamento envolve a manipulação dos tecidos supracres- tais no sentido horizontal. Para aumentos discretos de tecido conjuntivo, as técnicas minimamente invasivas são as que empregam túneis32,33 ou envelopes com acesso sulcular34, preenchidos com enxertos de tecido conjun- tivo subepitelial, removidos do palato (na região entre a face distal do canino e a face distal do primeiro molar) (Figura 05A-J). Nos casos em que se faz necessário ganhar tecido quera- tinizado, a técnica de enxerto gengival livre oferece bas- tante previsibilidade, embora deixe a desejar no padrão estético tecidual35,36. Outra alternativa de ganho de tecido queratinizado é o emprego de matrizes dérmicas acelula- res, que diminuem a morbidade da cirurgia eliminando o sítio doador37,38. Por fim, a remoção de pigmentos melâ- nicos ou cicatrizes se faz através da dermoabrasão com a remoção completa do epitélio, expondo o tecido conjun- tivo subjacente (Figura 06A-F)39. A ZT também pode ser reposicionada no sentido vertical ou ápico-coronal quando se deseja recobrir raízes expostas ou realizar aumentos de coroa clínica. O recobrimento ra- dicular é um procedimento cujos resultados são previsíveis, desde que o osso interproximal e as papilas estejam manti- dos em posições originais, sem danos, e os dentes estejam alinhados (Figura 07A-F)40-43. Para quem pratica a Odontologia Estética Multidisciplinar, os casos que necessitam de aumento de coroa clínica estético anterior são relativamente frequentes. Para haver uma inte- gração harmoniosa entre as restaurações, sejam elas diretas ou indiretas, e a margem gengival, faz-se necessário trabalhar a correta posição e angulação da Zona de Transição, de acor- do com os padrões estéticos já mencionados anteriormente dentro deste capítulo. A técnica empregada para esse tipo de manipulação vertical da ZT dependerá fundamentalmente do biótipo periodontal: em biótipos finos e/ou intermediá- rios, geralmente a faixa de tecido queratinizado e a espessura tecidual são limitadas. A delicadeza do tecido da ZT determi- na a indicação de procedimentos minimamente invasivos, se necessários, visando alterações bastante localizadas e restritas à face vestibular dos dentes envolvidos (Figura 08A-F). 43 05 A-J ► Fotografias inicial (A,C) e final (B,D) após o procedimento de enxerto de tecido conjuntivo subepitelial para aumento de volume na ZT (manipulação no sentido horizontal ou vestibulopalatino/lingual) dos elementos 12 e 22. Após adequação do meio bucal (E,F) e enxertia minimamente invasiva (G,H), houve ganho de espessura de tecido conjuntivo na região manipulada (I,J). 05A 05E 05H 05F 05I 05G 05J 05B 05C 05D ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 44 06 A-F ► Fotografias iniciais (A,B), pós-operatórias imediatas (C,D) e 30 dias após o procedimento de dermoabrasão ou peeling gengival (E,F). Remove-se com- pletamente o epitélio oral, expondo o tecido conjuntivo subjacente. O novo epitélio que se forma não traz melanina em sua camada basal, tornando a gengiva rósea. O procedimento tende a recidivar, variando de 1 a 3 anos após o procedimento. 06A 07A 07C 07E 07B 07D 07F 06C 06E 06B 06D 06F 07 A-F ► Fotografias inicial e final após o recobrimento radicular (A,B), um procedimento de resultados previsíveis, desde que tenha indicação precisa e situação anatômica favorável. No caso acima, foi aplicada uma técnica de tune- lização com enxerto de tecido conjuntivo subepitelial. 45 08 A-F ► O aumento de coroa clínica estético anterior , em pacientes com biótipos periodontais finos e/ou intermediários, requer manobras minimamente invasi- vas, que reposicionam os tecidos da Zona de Transição no sentido vertical e permitem a manipulação cirúrgica localizada e restrita aos tecidos supracrestais da face vestibular. A incisão, em bisel interno, não lesiona a papila interdental (B,C); a distância da nova margem gengival cirúrgica até a crista óssea alveolar é medida e trabalhada, se necessário, visando à acomodação dos tecidos que compõem o Espaço Biológico (D,E). (F) O resultado é satisfatório. Caso clínico realizado no curso de aperfeiçoamento em Odontologia Estética Multidisciplinar APCD Americana – SP. 08A 08C 08E 08B 08D 08F ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 46 Por outro lado, quando o paciente tem um biótipo pe- riodontal plano/espesso, caracterizado pela abundância tecidual (óssea, conjuntiva e epitelial), e exibe volume gengival excessivo ao sorrir (Figura 09A), a técnica de aumento de coroa clínica a ser empregada requer reba- timento total do retalho e osteotomia/osteoplastia tanto no sentido ápico-coronal (para restabelecer o espaço biológico e a posição da ZT), quanto no sentido vesti- bulopalatino/lingual (Figura 09). Segundo Pontoriero & Carnevale21, os pacientes com esse biótipo periodontal têm chances elevadas de refazer o crescimento da mar- gem gengival no sentido coronal, mesmo após a realiza- ção de aumento de coroa clínica, se a ressecção óssea não ocorrer adequadamente. A literatura científica aborda o conceito de cirurgia livre de retalho e de sutura na Implantodontia e talvez seu maior benefício seja a manutenção da nutrição tecidual e a con- sequente redução do período de cicatrização, permitindo adiantar o início dos procedimentos restauradores44. Na grande maioria dos casos de aumento de coroa clínica estético anterior a principal referência anatômica de reposi- cionamento da ZT é a JCE (Junção Cemento Esmalte), pois constitui um limite anatômico importante para a posição final da margem gengival. Se a margem estiver posicionada apical à JCE, haverá exposição de raiz. Se a margem gen- gival ficar coronal à JCE em uma medida superior a 1,0 mm, após o procedimento, provavelmente este terá que ser refeito. A posição correta da margem determina a as- sertividade da osteotomia e a estabilidade da nova margem durante a cicatrização45. Outra razão para que a JCE seja tomada como referência ao posicionamento das margens gengivais cirúrgicas é quando o aumento de coroa estético anterior minimamente invasivo é realizado previamente à instalação de laminados cerâmicos, porque pressupõe que estes sejam cimentados em esmalte, uma vez que a longevidade de elementos cerâmicos cimen- tados sobre este substrato é comprovadamente superior quando comparada ao substrato dentinário46. O passo a pas- so clínico do aumento de coroa clínica estético anterior está descrito emcapítulos anteriores47. 47 09 A-F ► Os pacientes com biótipo periodontal plano/espesso e exostoses ósseas necessitam de aumento de coroa clínica com rebatimento total do retalho e osteotomia/osteoplastia em altura e espessura (A). Após a excisão tecidual (B,C), o osso é exposto e esculpido e a gengiva é suturada na posição (D,E). Pós-operatório de 90 dias (F). Caso realizado pela alunas Márcia Dal Molin Carvalho e Carmem Rodrigues, no curso de Odontologia Estética Multi- disciplinar APCD Americana – SP. 09A 09C 09E 09B 09D 09F ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 48 CIRURGIA PLÁSTICA PERIODONTAL ASSOCIADA À RESTAURAÇÃO COM LENTES DE CONTATO CERÂMICAS: RELATO DE CASO CLÍNICO A paciente M. L., 31 anos, procurou a clínica do curso de pós-graduação em Odontologia Estética do Centro Univer- sitário Senac – SP, queixando-se da aparência do seu sorriso, o qual considerava antiestético pelas manchas presentes e pelo excesso de gengiva aparente no corredor bucal. Após anamnese, exame clínico, protocolo de fotos48, mo- delos de estudo e radiografias, foi constatado que a paciente estava saudável tanto do ponto de vista sistêmico quanto do ponto de vista bucal, e estava finalizando um tratamento or- todôntico. A paciente já havia sido submetida a restaurações prévias de resina composta em seus dentes superiores an- teriores há pelo menos 7 anos, e tais restaurações estavam deficientes quanto à anatomia e estética. A gengiva demons- trava margens desalinhadas e excesso de volume principal- mente em região dos pré-molares superiores (Figura 10). O biótipo periodontal da paciente foi considerado de inter- mediário a espesso, e foi planejada a realização de aumento de coroa estético dos dentes 26 a 16, sob técnica mista, ou seja, com rebatimento de retalho e osteotomia/osteo- plastia em regiões maxilares posteriores, e com osteotomia intrassulcular minimamente invasiva, sem rebatimento de retalho e sem sutura na região maxilar anterior (Figura 11). A referência anatômica considerada para o posicionamento da margem gengival cirúrgica foi a JCE uma vez que, den- tro da Odontologia Restauradora, o planejamento envolvia a cimentação de elementos cerâmicos de fina espessura (do tipo lente de contato) nos dentes 25 a 15, com margens em esmalte dental. Sessenta dias após a cirurgia periodontal mista, a paciente foi moldada com silicone de adição (Virtual, Ivoclar-Vivadent) para a confecção de enceramento diagnóstico, considerando a nova posição da margem gengival. A paciente seguiu com o clareamento associado (ambulatorial e caseiro por 14 dias) até que o substrato dental alcançasse a cor A1 da escala Vita. Um ensaio restaurador (mock up) foi realizado a partir do enceramento e, após a aprovação do ensaio, foi realizado o preparo dental, que consistiu na remoção completa das restaurações prévias de resina composta direta, expondo a superfície de esmalte subjacente. Pequenas retenções em esmalte também foram removidas, guiadas pelo enceramen- to diagnóstico, para permitir liberdade no eixo de inserção vestibulopalatino (Figura 12)49. Após a inserção de fio retrator (Ultrapack #000), duas moldagens foram realizadas com silicone de adição (Virtual, Ivoclar-Vivadent), uma delas sob a técnica de passo único, e a segunda sob a técnica de dois passos50. O antagonista foi moldado com alginato (Hydrogum 5, Zhermack). Foram registradas as cores do dente e do substrato, com o uso da Escala Vita e da Escala de Substrato (Dye Material, Ivoclar-Vi- vadent) e fotos. Não foram confeccionados provisórios. Foram confeccionadas dez lâminas de fina espessura (média de 0,7 mm), do tipo lentes de contato, em dissilicato de lí- tio (E-max Press, Ivoclar-Vivadent), posteriormente maquia- das (Figura 13). Após a prova seca para verificar adaptação e 49 sequência de cimentação, foi realizada a prova úmida com a pasta try-in do cimento resinoso (Variolink Veneer, High Value +1, Ivoclar-Vivadent) para a escolha da cor do cimento a ser empregado. A cimentação prosseguiu seguindo as recomen- dações do fabricante e o resultado pode ser visto das Figuras 13A e 14A,B. Pequenas alterações nas proporções dos teci- 10 A-D ► Aspecto inicial do sorriso. A queixa principal abrangia: dentes manchados e escurecidos, excesso de gengiva ao sorrir e restaurações deficientes em resina composta direta. Ao exame intraoral, constatou-se a presença de exostoses ósseas e consequente aumento de volume gengival/ósseo nas regiões posteriores; manchas brancas próximas à margem gengival; restaurações em resina composta deficientes quanto à forma, caracterização e polimento; deficiência de volume dental no corredor bucal. dos dental e periodontal foram decisivas para o destaque do sorriso no rosto da paciente (Figura 15). O presente caso clí- nico segue a tendência da Odontologia minimamente invasiva, tanto do ponto de vista dos tecidos dentais como dos tecidos da Zona de Transição, sem negligenciar o conhecimento acer- ca do comportamento biológico de tais tecidos. 10A 10C 10B 10D ESTÉTICA DO SORRISO e m r e a b i l i t a ç ã o p r o t é t i c a 50 11 A-F ► O aumento de coroa clínica estético anterior, no presente caso, utilizou a técnica minimamente invasiva com osteotomia intra-sulcular na região anterior (A), e rebatimento de retalho com osteoplastia (B,C), osteotomia (D) e sutura (E) nas regiões maxilares posteriores. Pós-operatório imediato (E) e após 15 dias (F). 11A 11C 11E 11B 11D 11F 51 12 A-F ► Antes (A) e 45 dias depois (B) do aumento de coroa estético realizado nos dentes 16 a 26, utilizando a técnica mista (com e sem rebatimento de retalho). (C,D) Enceramento diagnóstico e ensaio restaurador (mock up). (E) Indicação das áreas de desgaste, coincidentes com as áreas cobertas por resina composta. (F) Preparo restrito ao esmalte após a eliminação da resina composta preexistente. 12A 12C 12B 12D 12E 12F ISBN 978-85-60842-82-7
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