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Dsc. Fernanda de Queirós Costa nandaqcvet@gmail.com fisiologia da digestão de ruminantes Sistema Digestório Ruminantes FUNÇÕES DO TRATO GASTRO INTESTINAL DE RUMINANTES Estímulo para a ingestão de alimentos A ingestão dos alimentos obedece a diversos fatores bioquímicos que agem sobre o sistema nervoso (hipotálamo) promovendo a fome ou a saciedade. órgãos dos sentidos (olfato, visão, gustação) Informações mecânicas que podem partir do esôfago (deglutição) ou do próprio estomago (plenitude ou vacuidade gástrica). o nível sanguíneo de glicose (glicemia) Nos herbívoros poligastricos o nível de glicose e baixo 45 a 55 mg/dL Grande absorção de ácidos graxos voláteis (AGVs – como acético, propiônico e butílico) - o “informante” hipotalâmico do grau de saciedade Mastigação A mastigação é um fenômeno reflexo que pode receber influência da córtex cerebral. Pode ser interrompida voluntariamente, e por exemplo, partículas indesejáveis podem ser retiradas da cavidade oral. O processo da mastigação tem por finalidade reduzir o tamanho dos componentes da alimentação a partículas menores e misturá-las com a saliva, facilitando a deglutição. A importância da mastigação reside no fato de que o alimento finamente dividido apresenta uma superfície maior de ação dos sucos digestivos, facilitando a digestão. Os ruminantes utilizam os dentes e o palato duro no processo da mastigação. Mastigação Nos ruminantes ocorre a “moagem” do alimento, devido a natureza grosseira de sua dieta. Nos ruminantes, deve-se distinguir entre a mastigação fugaz, após a ingestão dos alimentos, e aquela após a regurgitação do conteúdo do rúmen. No primeiro processo, os movimentos mastigatórios não ocorrem com a mesma intensidade que durante a ruminação e, mesmos os movimentos laterais, são pouco pronunciados. O tempo necessário para mastigar depende das características do alimento. Alimentos ricos em água, requerem menos movimentos mastigatórios, e portanto, menos tempo que os alimentos secos. E a saliva diferenciada... Nos bovinos ha uma função salivar de natureza bioquímica, mas, não para desdobramento de substancia; ocorre que durante as 24 horas do dia/noite são secretados para a saliva cerca de 2,5 quilos de bicarbonato de sódio e 1,5 quilos de fosfato de sódio. A reingestão da mesma retorna ao rúmen e ajuda a manter o pH do mesmo, sem o que, seu interior seria extremamente acido (pela formação de ácidos graxos – AGVs); desta forma a saliva concorre para a estabilização do pH do rúmen e para a sobrevivência dos microrganismos que ali se multiplicam. Mastigação e ensalivação Na primeira mastigação ocorre a trituração dos alimentos e a ensalivação. Em média, o bovino libera de 50 a 60 quilos de saliva por dia. Quando os alimentos fornecidos são fluidos, a salivação torna-se fraca, o conteúdo do rúmen, então, torna-se viscoso e o gás resultante a digestão causa a aparição de espumas, surgindo a indigestão gasosa ou espumosa, característicos da meteorização. DESENVOLVIMENTO DOS PRÉ-ESTÔMAGOS Anatomicamente, os pré-estômagos podem ser considerados como duas estruturas primárias: o compartimento ruminorreticular e omasal, que são, funcionalmente, separados por uma prega que forma o óstio reticulo-omasal. Ao nascer, o bezerro já apresenta os quatro compartimentos gástricos, quais sejam: o rúmen, o retículo, o omaso e o abomaso. Contudo, o compartimento ruminorreticular é pouco desenvolvido nessa fase, ocupando cerca de 30% do volume total dos reservatórios, ao passo que omaso e abomaso ficam com os 70% restantes. Em um animal adulto, essas proporções se encontram invertidas, com o rúmen e o retículo perfazendo mais de 80% e omaso e abomaso menos de 20% do volume total. DESENVOLVIMENTO DOS PRÉ-ESTÔMAGOS O rúmen e o retículo comunicam-se através da goteira esofágica. Quando o animal é adulto, esta goteira está aberta, sendo assim, ocorre à passagem do alimento por todos os compartimentos do estômago. Já nos filhotes, o movimento de sucção do leite faz com que a goteira esofágica se dobre => passando diretamente para o abomaso DESENVOLVIMENTO DOS PRÉ-ESTÔMAGOS O estímulo mecânico da alimentação fibrosa é responsável pelo aumento do tamanho dos pré-estômagos e de sua musculatura Estímulos químicos, ocasionados pelos ácidos butírico e propiônico, resultantes da fermentação de alimentos ricos em carboidratos, por exemplo, promovem o desenvolvimento da mucosa e das papilas ruminais - Pilares Ruminais Pilares movem o alimento pelo rumen no sentido rotatório, misturando o conteúdo sólido ao líquido. O órgão se movimenta continuamente, a 1-3 mov/min Conteúdo ruminal - estratificação Ruminação Os alimentos mastigados e engolidos são armazenados no retículo , onde ocorre sua maceração e trituração , para voltarem à boca e serem mastigados novamente. Rúmen: Sempre em movimento => Motilidade ruminal – contrações (rúmen não para) não podem cessar 1ou mais ciclos/min Controle do pH – saliva (regurgitação) Formação de gases: Eructação (“arroto”) Frequência: 1 x/min Retículo: atua como uma “bomba” estimulando o fluxo líquido para dentro e para fora do rúmen FUNÇÕES DOS MICRORGANISMOS RUMINAIS FERMENTAÇÃO Digerir polissacarídeos complexos (celulose e hemicelulose) Utilizar proteínas e fontes de NNP, para conversão em proteína microbiana Sintetizar vitaminas hidrossolúveis Digestão Ruminal Quando os alimentos são ingeridos em quantidades adequadas ha uma parada na ingestão por cerca de duas horas para que haja sedimentação em camadas e se inicie um processo de ruminação. Durante a permanência no rúmen os microrganismos promovem processos fermentativos em seu proveito e que acabam gerando produtos de interesse do hospedeiro (ruminante). Tal processo degrada polissacarídeos naturais (celulose, amido, amilopectina, lignina), levando-os ate a forma mais simples (monossacarídeos) . A partir dai são sintetizados ácidos graxos voláteis (A.G.Vs.) e gases; os ácidos graxos são principalmente acido acético, propionico e butirico e os gases são o CO2 e o CH4 ( este ultimo predomina quando ha maior ingestão de celulose do que amido ). Digestão Ruminal A produção dos gases varia com a quantidade de alimento, sua frequência, sua qualidade e com o estado de equilíbrio da flora e da fauna local. Uma quantidade tida como media de gás produzido e de 600 litros/24 horas. Alguns exemplos podem ser dados: 5 litros/min em jejum ou 20 litros/min alimentado com alfafa. Além disso, a fermentação de aminoácidos produz alguns ácidos chamados de iso- ácidos. A energia e os iso-ácidos produzidos durante a fermentação são utilizados pelas bactérias para seu crescimento (ex: principalmente para a síntese de proteínas). Digestão de carboidratos no rúmen Quantitativamente, carboidrato é o nutriente mais importante na dieta dos ruminantes. Os vegetais contém aproximadamente 75% de carboidratos, que são a fonte primária de energia para os microorganismos do rúmen e para o animal hospedeiro. ™Os carboidratos encontrados nos vegetais são polissacarídeos – celulose, hemicelulose, pectinas, frutosanas e amido, com menor concentração de outras moléculas de dissacarídeos e monossacarídeos. Deste total, a celulose é amais abundante. ™ Os microorganismos do rúmen apresentam uma capacidade muito grande de aproveitamento destes carboidratos, sendo que o ruminantes utilizam os produtos finais da fermentação ruminal como fonte de energia para seu metabolismo - AGV Digestão de carboidratos no rúmen Os AGV, produtos finais da fermentação ruminal, são absorvidosatravés da parede ruminal. A maioria do acetato e todo o propionato são transportados para o fígado, mas a maioria do butirato é convertido na parede ruminal em corpos cetonicos chamados de β -hidroxibutirato. As cetonas são importantes fontes de energia para a maioria dos tecidos do corpo. Digestão de carboidratos no rúmen O tipo de fonte de carboidratos da dieta influência a quantidade e a proporção de AGV que são produzidos no rúmen. A população microbiana do rúmen converte os carboidratos fermentados em 65% ácido acético, 20% Ácido propiônico e 15% ácido butírico quando a dieta contém uma grande proporção de forragens. Os carboidratos não fibrosos (presentes em muitos concentrados) propiciam a produção de ácido propiônico e diminuição do ácido acético, = REDUÇÃO DA GORDURA DO LEITE MAS AUMENTO DO VOLUME mas os carboidratos fibrosos (presentes principalmente nas forragens) estimulam a produção de ácido acético no rúmen sobre a de ácido propiônico. = AUMENTO DA GORDURA DO LEITE MAS DIMINEM O VOLUME os carboidratos não fibrosos produzem mais AGV (ex: mais energia) pois eles são fermentados no rúmen em uma maior proporção e também mais rapidamente. Digestão de carboidratos no rúmen Dentre os carboidratos fibrosos, encontram-se a hemicelulose, a celulose e a lignina, que não é um carboidrato, e sim um composto fenólico que complexa principalmente a pectina e a hemicelulose, tornando-as indisponíveis Os microrganismos presentes no rúmen são os principais responsáveis pela degradação da fibra Os principais carboidratos não fibrosos são a pectina, o amido, os açúcares solúveis (glicose, frutose, maltose e galactose) e as frutosanas sacarose da cana-de-açúcar e o amido dos grãos de cereais, tubérculos e raízes. O açúcar mais abundante de interesse nutricional é a sacarose, composta pela ligação covalente da glicose com a frutose. A fonte mais importante desses carboidratos nos países tropicais é a cana-de-açúcar Digestão de carboidratos no rúmen Celulose 2 mol. Glicose AGV Lenta – bact celulolíticas tem baixa taxa metabólica Amido monomeros de glicose AGV e AGnV Maior velocidade de degradação; acúmulo de lactato no rúmen = redução pH e mudança da população microbiana Acidose ruminal Açúcares fermentação produzindo energia p/ cresc. Microorganismos conversão em moléculas de armazenamento energético = glicogênio metabolismo endócrino dos polissacarídeos de reserva Digestão de carboidratos no rúmen Digestão de proteínas nos ruminantes As proteínas e outras fontes de nitrogênio (uréia) são degradados até amônoa (NH3), que é utilizada para a síntese de proteína microbiana Microbiana (no rumen) Bactérias => 50% atividade proteolíticas Protozoários Enzimática Abomaso => Suco gástrico Intestino => Suco pancreático (proteases) Enzimas intestino Digestão de proteínas nos ruminantes NP polipeptídeos peptídeos aminoácidos NH3 simples NNP NH3 NH3 aminoácidos bacterianos (maior valor biológico) quantidades adequadas de α-cetoglutarato (para aminação a glutamato ) AGV (incluindo os isoácidos) disponíveis para fornecer os arcabouços carbônicos Carboidratos prontamente fermentáveis (amido) para fornecer energia Proteína by pass (não digerível no rúmen) Digestão de proteínas nos ruminantes A suplementação extra de proteína, qualquer que seja sua degradabilidade ruminal, apresenta efeitos pouco consistentes na concentração de proteína do leite, embora possa aumentar sua produção por aumentos indiretos na produção de leite como um todo. As proteínas atuam como fonte de energia quando em excesso, ou quando faltam os carboidratos e gordura, que representam o material combustível do organismo. em práticas atuais de alimentação, recomendam rações que contenham menos que 18% de PB para vacas em início de lactação, pois alguns pesquisadores enfatizam que a otimização do equilíbrio na absorção dos aminoácidos da dieta é mais importante para melhorar a produção de proteína no leite do que a quantidade de proteína bruta na ração. Uso de ureia A ureia e uma substancia nitrogenada, não proteica (componente não orgânico) capaz de alimentar as bactérias ruminais que ao se multiplicarem aumentam o contingente proteico vegetal. A partir dai podem ocorrer duas vias: a primeira e a morte de milhões de bactérias que liberam seus aminoácidos constituintes os quais são a base da formação das proteínas aproveitadas pelo hospedeiro (ruminante). a segunda via e a ingestão de bactérias pelos protozoários que ao digeri-las transformam-nas em proteína animal (protozoários),incorporando-as. Digestão de proteínas nos ruminantes O uso da uréia, visando suprir nitrogênio aos microorganismos do rúmen, capazes de converter NNP em proteína microbiana, é favorecido pelo alto conteúdo de sacarose, prontamente fermentável, da cana-de-açúcar. Com a adição de 1 kg de uréia para cada 100 kg de cana-de- açúcar (peso fresco), o teor de PB na forragem é aumentado de 2- 3% para 10-12% na MS. A utilização inadequada de uréia, contudo, poderá levar à intoxicação e à perda de animais. A adição de uma fonte de enxofre melhora a síntese de proteína microbiana no rúmen, levando a melhor desempenho animal. Digestão de proteínas nos ruminantes Uso de ureia Administrar excesso de proteína ou suplementos de uréia pode produzir elevador níveis de amônia intra-ruminal. Fisiologia do Sistema Digestório de Ruminantes Fisiologia do Sistema Digestório de Ruminantes No caso da proteína degradada no rúmen, o seu aproveitamento vai depender das condições ruminais, particularmente da disponibilidade de energia para que sejam incorporadas como proteína microbiana. Um aspecto importante disso é que essa energia provém, basicamente, da fermentação de carboidratos Havendo excesso de PDR, ocorre um aumento na concentração de nitrogênio amoniacal (N-NH3 ) que é absorvido pelo rúmen e vai para a circulação sanguínea. Essa amônia pode voltar ao rúmen através da saliva e da própria parede ruminal, em um processo conhecido como reciclagem, ou ser detoxificada no fígado. A detoxificação é a transformação de NH3 em ureia no ciclo da ornitina Os lipídeos fornecem cerca de 2,25 vezes mais energia por kg do que os carboidratos, com a vantagem de não gerarem produção de calor de fermentação no rúmen. Por isso, resultam em baixo incremento calórico, o que pode ser vantajoso em vacas com alta demanda energética Microorganismos ruminais hidrolisam os lipídios dietéticos e utilizam os acidos graxos não saturados (oléico, linoléico e linolênico) como aceptores do hidrogênio convertendo os mesmos em ácido esteárico. Digestão de lipídios nos ruminantes Digestão de lipídios nos ruminantes Lipídios esterificados (ação de lipases, fosfolipases e galactosidases) Glicerol AGI AGS biohidrogenação AG de cadeia curta Glicerol 3-fosfato Diidroxiacetona fosfato Intermediário da glicólise ou gliconeogênese Digestão de lipídios nos ruminantes Via de biohidrogenação dos ácidos linoléico e linolênico, para ácido esteárico pelo rúmen. Destaque para os dois grupos de bactérias ruminais. Adaptado de Modesto et al.(2002). O excesso de gordura atua no rúmen diminuindo a digestibilidade da fibra, alterando assim a proporção acetato e propionato e facilitando o acúmulo de ácidos graxos do tipo “trans”, especialmentese à gordura forem associados altos níveis de carboidratos não estruturais na dieta (amido, pectina e açúcares) Digestão de lipídios nos ruminantes Digestão de lipídios nos ruminantes Quando há excesso de ácidos graxos insaturados na dieta, pode ocorrer queda na percentagem de gordura no leite, pois ocorre redução na relação acetato/propionato no rúmen, e aumenta a formação de ácidos graxos trans e ácido linoléico conjugado (CLA), intermediários da biohidrogenação ruminal de ácidos graxos, e que atuam negativamente sobre a síntese mamária de lipídeos Digestão de lipídios nos ruminantes Representação da biohidrogenação ruminal do ácido linoléico e formação do CLA trans-10 cis-12 no rúmen. Escape de CLA para os tecidos Absorção do AGV Mecanismo eficiente e de alta capacidade Epitélio dos pré-estômagos Poucos AGVs escapam para vias digestivas inferiores Taxa maior de absorção quando Ph reduzido do rumen – dietas ricas em amido Acetato e propionato absorvidos de forma direta e butirato na forma de corpos cetonicos Manutenção do pH ruminal Remoção do ácido da ingesta Contribuição com bicarbonato no processo Outras reações ruminais importantes Síntese microbiana do complexo da vit B Administrar cobalto via oral é mais eficiente que vit b12 injetável Síntese de aminoácidos contendo enxofre Síntese de nitrito tóxico a partir de nitrato nas pastagens em campos fertilizados Oxidação do íon ferroso da hemoglobina convertendo a metemoglobina q não transporta oxigênio Omaso: fermentação e absorção contínua de nutrientes Superfície com “pregas”, aspecto “folhoso” (“livro”) Alimento é “prensado”/espremido, perdendo boa parte da sua fração: água Local importante de absorção de AGV Ao retornar para o estômago, o alimento dirige-se para o omaso ou folhoso, que possui uma parede muscular muito forte e uma mucosa laminada, para que ocorra a reabsorção da água presente no bolo alimentar. Abomaso É análogo ao estômago dos monogástricos. Localizado ventralmente ao Omaso, do lado direito do Rúmen. A função do abomaso consiste em posterior digestão do substrato degradado parcialmente pelo rúmen, retículo e omaso. O abomaso é um produtor de ácido clorídrico e pepsinogênio e tem o pH fisiológico de 3. com suas ondas de contração peristáltica o alimento parcialmente digerido é enviado para o duodeno; principais produtos secretados pelas glândulas são: enzimas (pepsina e pepsinogênio), hormônios (gastrina), ácidos (ácido clorídrico - HCl) e água. Abomaso A alimentação com altos níveis de concentrado para bovinos leiteiros resulta em redução da motilidade abomasal e aumento no acúmulo de gás abomasal. O gás produzido pela fermentação microbiana distende o abomaso e provoca o deslocamento. Alguns fatores podem diminuir a motilidade abomasal: Distensão anormal do rúmen, retículo ou omaso; úlceras; ostertagiose; baixo pH; tamanho de partículas e conteúdo de fibra da dieta; conteúdo de aminoácidos, peptídeos e gordura no líquido duodenal; alta concentração de ácidos graxos voláteis e produção aumentada de histamina pelo rúmen. Outros fatores como endotoxemia, hiperinsulinemia, hipocalemia, stress, alcalose metabólica, hipocalcemia, prostaglandinas, ausência de exercícios, altas concentrações de gastrina no sangue e acetonemia. Abomaso
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