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BEATRICE CONSTANCE TXX LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO DEFINIÇÃO É uma doença autoimune, inflamatória e crônica na qual autoanticorpos e imunocomplexos danificam órgãos e células. PATOGENIA E ETIOLOGIA Interação entre genes de susceptibilidade e fatores ambientais → respostas imunes anormais Mecanismos imunológicos: 1. Perda de tolerância central ou periférica para as células B e T Tolerância central: Na medula óssea ocorre um processo de seleção na qual as linhagens de células B autorreativas deveriam entrar em apoptose. Os linfócitos T também passam por essa seleção. Tolerância periférica: Na periferia também há essa seleção para células autorreativas que produzem anticorpos (deveriam sofrer apoptose). Anergia: linfócito T maduro inativo. 2. Formação de autoanticorpos autorreativos formando imunocomplexos Falha da remoção dos corpos apoptóticos (estão relacionados com o sistema complemento), com isso o sistema imunológico passa a ter contato com antígenos próprios → desenvolvimento de anticorpos contra alvos nucleares. Em condições fisiológicas os corpos apoptóticos são removidos por anticorpos que são levados pelas hemácias fígado e rins, onde são metabolizados e excretados. 3. Ativação falha ou autorreativa do sistema complemento 4. Lesão tecidual mediada por mecanismos inflamatórios (então gente o prof de imuno deixou esses dois últimos no ar, vou colocar o que eu vi no livro aqui embaixo) Respostas imunes anormais: ➔ Ativação da imunidade inata por contato com imunocomplexos ou antígenos próprios ➔ Limiares de ativação mais baixos e vias de ativação anormais das células da imunidade adaptativa (linfócitos T e B) ➔ Células T reguladoras CD4+ e CD8+ ineficazes ➔ Depuração reduzida dos imunocomplexos e das células apoptóticas FATORES DE RISCO Exposição a luz UV: aumenta a apoptose nas células cutâneas; altera o DNA e as proteínas intracelulares fazendo com que se tornem antigênicas. Gênero feminino: o estradiol se une aos receptores dos linfócitos T e B, aumentando a ativação e sobrevivência dessas células, o que favorece respostas imunes prolongadas. Tabagismo: aumenta o risco para LES Infecções: o EBV pode desencadear LES em indivíduos suscetíveis. PATOLOGIA Biópsias de pele: deposição de Ig na junção derme-epiderme, lesão dos queratinócitos basais, inflamação na JDE, ao redor dos vasos sanguíneos e dos anexos. Biópsias renais: o padrão e gravidade da lesão contribuem para o diagnóstico e escolha da terapia. QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS: fadiga, mialgia, febre, prostração, perda ponderal, anemia de doença crônica MANIFESTAÇÕES MÚSCULO-ESQUELÉTICAS: poliartrite intermitente simétrica aditiva, artralgia, rigidez matinal. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS: dermatite lúpica, que pode ser classificada em • Agudo – rash malar, fotossensibilidade • Subagudo – psoriasiforme, anular policíclico • Crônico – discoide BEATRICE CONSTANCE TXX MANIFESTAÇÕES RENAIS: nefrite (hematúria e proteinúria). Podem evoluir com sd. nefrótica e hipertensão. • Proteinúria 24h > 500mg ou relação proteinúria/Cr > 0,5 • Síndrome nefrítica: hematúria, HAS e azotemia • Síndrome nefrótica: proteinúria > 3g/dia, hipoalbuminemia e edema MANIFESTAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO: convulsão, mieolopatia, delirium, psicose, mononeuropatia, neuropatia craniana, polineuropatia MANIFESTAÇÕES PULMONARES: pleurite com ou sem derrame pleural, síndrome da contração pulmonar, hemorragia intra-alveolar difusa, hipertensão pulmonar. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS: pericardite, miocardite, endocardite fibrinosa de Libman- Sacks, maior risco de IAM MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: anemia normo normo (de doença crônica) - pode ter hemólise; leucopenia, plaquetopenia • Síndrome antifosfolípide (SAF): é uma trombofilia adquirida mediada por autoanticorpos caracterizada por trombose recorrente e/ou morbidade gestacional (trombose placentária, pré-eclâmpsia). Os anticorpos antifosfolípides principais são anticardiolipina e antibeta-2-glicoproteína. Tratamento feito com enoxaparina SC ou varfarina VO. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS: náuseas, vômitos, diarreia, peritonite autoimune, vasculite intestinal MANIFESTAÇÕES OCULARES: síndrome de Sjögren e conjuntivite inespecífica, vasculite retiniana e neurite óptica DIAGNÓSTICO Se quatro ou mais dos seguintes critérios estão presentes em qualquer momento na história do paciente, é provável que o diagnóstico seja de LES: ✓ Rash malar, erupção discoide, fotossensibilidade ✓ Úlceras orais ✓ Artrite ✓ Serosite: pleurite ou pericardite, atrito pericárdico ou derrame ✓ Distúrbio renal: proteinúria 24h > 0,5g ou ≥ 3 ou presença de cilindrúria ✓ Distúrbio neurológico: crises convulsivas ou psicoses sem outras causas ✓ Distúrbio hematológico: anemia hemolítica, leucopenia, linfopenia ou trombocitopenia na ausência de medicamentos tóxicos responsáveis ✓ Distúrbio imunológico: anti-dsDNA, anti-S e/ou antifosfolipídio ✓ Anticorpos antinucleares positivos Critério de classificação EULAR/ACR 2019 No mínimo um critério clínico, não precisam ocorrer simultaneamente, pode pontuar apenas um critério por domínio. O critério só deve ser pontuado se LES for a causa mais provável. FAN positivo ≥ 1/80 + critérios clínicos e laboratoriais ≥ 10 pontos = LES DOMÍNIO CLÍNICO PONTOS Constitucional: febre 2 Hematológico Leucopenia 3 Trombocitopenia 4 AHAI 4 Neuropsiquiátrico Delirium 2 Psicose 3 Convulsão 5 Mucocutâneo Alopecia não cicatricial 2 Úlceras orais 2 LCSA ou discoide 4 Lúpus cutâneo agudo 6 Serosite Derrame pleural ou pericárdico 5 Pericardite aguda 6 Artrite ou artralgia 6 Renal Proteinúria > 0,5g/24h 4 Biópsia classe II ou V 8 Biópsia classe III ou IV 10 DOMÍNIO LABORATORIAL PONTOS Anticorpos antifosfolípides Anti-B2GP1 2 Anticardiolipina Pesquisa de anticoagulante lúpico Complemento C3 ou C4 baixo 3 C3 e C4 baixos 4 Anticorpos específicos Anti-DNA 6 Anti-Sm Testes para o diagnóstico: hemograma completo, plaquetas, urina 1 Testes para acompanhar a evolução: análise de urina para hematúria e proteinúria, Hb, plaquetas, creatinina e albumina BEATRICE CONSTANCE TXX OBS: FAN = pesquisa de anticorpos contra antígenos celulares. Feito por imunofluorescência indireta em células Hep-2 Anticorpos anit-nucleares (AAN) reconhecem antígenos celulares (núcleo, nucléolo, citoplasma, aparelho mitótico e placa metafásica). É um exame de TRIAGEM para pacientes com sintomas. O soro do paciente é diluído e o exame é considerado positivo se a diluição for > 1/80. É possível haver presença de autoanticorpos mesmo em indivíduos sadios, principalmente se conviverem com pessoas FAN+. DOSAGEM DE COMPLEMENTO Em 10% dos pacientes com LES há falha no sistema complemento. • Testes funcionais: em alguns casos o complemento está presente em quantidade, mas não é funcional o CH50: mostra a porcentagem de atividade do sistema complemento. ▪ < 30%: falho ▪ 30 – 70%: diminuído ▪ > 70%: normal o C2: avaliação funcional da via clássica • Testes quantitativos: mais usado para monitoramento. As inflamações mais crônicas tendem a diminuir o complemento a longo prazo o C4 – via clássica o C3 – ambas vias Níveis baixos de complemento total podem ser sugestivos de, além de LES, glomerulonefrites, nefrite pós-estreptocócica, crioglobullinemia mista e deficiência congênita de componentes individuais (C2 e C4) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Educação, grupos de apoio • Proteção contra luz UV, cessação do tabagismo, controle de infecções, alimentação • Multidisciplinar – apoio psicológico • Anticoncepção FARMACOLÓGICO • Antimaláricos: cloroquina e hidroxicloroquina (<5 mg/kg/dia) oPode ser usada em todos os pacientes o Auxilia no manejo cutâneo, articular, renal e do SNC o Diminui mortalidade, exacerbações e dose de corticoide Efeito adverso: maculopatia após uso > 6/7 anos → rastreio com fundoscopia, OCT e campimetria • Corticoide o Prednisona: tto de crises agudas. Se uso crônico, menor dose possível e associar a agentes poupadores de corticoide o Metilprednisolona: em casos graves agudos 500-1000mg/dia por 3 a 5 dias (ex.: nefrite, SNC, hematológico grave etc.) Efeitos adversos: catarata, osteoporose, osteonecrose asséptica, aterosclerose, HAS, DM2 • Imunossupressores o Metotrexato (MTX): 10 25mg/semana VO ou SC o Leflunomida (LEFLU): 20mg/dia VO o Azatioprina (AZA): 2 3mg/Kg/dia VO o Ciclosporina (CCP): 3 5mg/Kg/dia VO o Micofenolato de mofetila (MMF): 2 3g/d VO o Ciclofosfamida (CCF): 0,5 1g/m² EV mensal ou 0,5g EV quinzenal Efeitos adversos: intolerância, infecções (evitar vacina com vírus vivo), mielossupressão, hepato e nefrotoxicidade. No seguimento deve-se questionar o paciente sobre adesão, sintomas infecciosos ou infecções de repetição e solicitar HMG, função renal e hepática, U1 e urocultura. • Biológicos o Belimumabe: anticorpo monoclonal humano anti-BLyS (inibe ativação e sobrevivência de linfócitos B autorreativos). Indicado para manifestações articulares e cutâneas o Rituximabe: anticorpo anti-CD20, causa apoptose de linfócitos B. BEATRICE CONSTANCE TXX indicação off-label para casos graves refratários. Tem como efeito adverso infecções e alergia TRATAMENTO INDIVIDUALIZADO Manifestações cutâneas Corticoide, HCQ MTX, AZA Dapsona, talidomida Manifestações articulares Corticoide, HCQ MTX, LEFLU, AINEs Serosites Corticoide, HCQ, AINEs Rins, SNC Corticoide em dose alta 0,5-1mg/kg/dia Pulsoterapia com metilpredinisona Indução (6 meses) CCF ou MMF, após manutenção (3-5 anos) com AZA ou MMF) Graves com risco de vida Imunoglobulina humana EV plasmaférese ✓ Prevenção de osteoporose: suplementação de vitamina D (manter > 30) e cálcio se ingesta oral insuficiente ✓ Tratamento de comorbidades – metas se nefrite: o PA < 130x80 o LDL < 100 ✓ Anticoncepção: preferência por progestágenos pelo risco de trombose e atividade da doença. o Medroxiprogesterona IM trimestral ou o Desogestrel 75mg VO contínuo SEGUIMENTO Consultas médicas regulares • Atividade grave: internação • Atividade leve-moderada: a cada 1 a 3 meses • Remissão: a cada 3 a 6 meses Consulta • Anamnese: sintomas, adesão ao tto, anticoncepção, infecções • PA, exame físico completo • Meta: desmame do corticoide ou menor dose possível. Imunossupressão se necessário. • Exames de rotina: o Anti-dsDNA o VHS, PCR o HMG, função renal e hepática, CPK o U1, proteinúria e creatinúria o Monitoramento laboratorial de comorbidades e risco cardiovascular o Se uso de HCQ, fundoscopia anual
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