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RESUMO DO LIVRO: TRABALHO INTENSIFICADO NAS FEDERAIS: PÓS-GRADUAÇÃO E PRODUTIVISMO ACADÊMICO

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um poder de regulação e controle da pesquisa pelas agências de fomento. Um dos entrevistados comenta que o pesquisador que busca fazer ciência no tempo da ciência não tem mais lugar dentro desta nova universidade.
	Ha também os movimentos de resistência, ainda existem pessoas nesse meio que não estão dispostas a se submeter às regras impostas pela Capes e aproveitar a indução à pesquisa nos moldes do CNPq. Querem a liberdade do intelectual com base no argumento da possibilidade da realização da pesquisa, ensino e extensão na graduação e da vivência no tempo do ser humano e não num tempo imposto de forma objetiva. Buscam a liberdade do intelectual.
Outra questão que as entidades avaliadoras da pós-graduação provocam é a forte competição. Há um processo de competição entre pequenos programas de instituições de maior ou menor prestígio em regiões, em geral, distintas da Sudeste e mesmo no interior desta região. Esta concorrência faz com que os programas menores, quando comparados com os demais, são compelidos a seguirem o padrão daqueles, pela natureza comparativa da avaliação da Capes.
De acordo com os autores, pouco se tem discutido as relações daquela pressão causada pelo produtivismo acadêmico e a nova conformação e função social da Capes. Não há reflexão para além do imediato, fazem–se as discussões no plano da superficialidade extensiva. Desta forma, o professor pesquisador, inconscientemente na maioria das vezes, internaliza como natural toda a intensificação e precarização de seu trabalho e as consequências para sua vida. O produtivismo acadêmico, como ideologia, produzido pela burocracia da Capes e do CNPq, com base nas precárias condições objetivas dos programas, é naturalizado e reproduzido em todos os espaços institucionais, onde atua o professor pesquisador. Outro assunto em questão colocada pelos autores em relação às consequências do produtivismo acadêmico é que ele induz o esvaziamento da participação dos professores pesquisadores na gestão da IFES e do sindicato.
	Além disso, como se viu anteriormente há uma valorização em relação à publicação de pesquisas no exterior, esse fato coloca em risco as pesquisas voltada para o Brasil por exemplo: as pesquisas financiadas pelo fundo público, como a de produção de fármacos, podem atender mais a demandas externas do que as nacionais, se a pesquisa é orientada pela política editorial de revistas internacionais. Por outro lado, pesquisas na área de saúde pública ou sobre educação no país podem não ser prioridade de publicação em outros países e raramente serão publicadas em revistas internacionais, implicando, segundo este modelo, sérias consequências para a área e para os programas.
	Outro fator gerado pelo produtivismo acadêmico são as coautorias, de acordo com as pesquisas e entrevistas dos autores as pesquisas possuem colaborações que os autores fazem de acordo com seu domínio, o resultado e o processo são divididos a ponto que o autor da pesquisa não saiba explicar sua tese como um todo, como é feito o trabalho na fábrica. Ademais, é comum o ato dos pesquisadores adicionarem nomes de colegas em seus trabalhos com a recompensa de que o outro faça o mesmo, para que o currículo fique “inchado” a fim de que seus programas e eles mesmos sejam passíveis de uma boa avaliação.
	Ainda, é discutido a pressão causada pelas avaliações do programa e também pelo Ministério de Educação. Tal processo resulta em pressão institucional dos pró-reitores sobre os alunos, professores, coordenadores de cursos, chefes de departamentos, coordenadores de programas de pós-graduação e diretores de centro. Neste contexto realiza– se a prática universitária e se forma o professor, seu trabalho, sua identidade e a identidade da IFES, com severas consequências para a vida pessoal de todos. A maioria dos professores pesquisadores entrevistados levam trabalho para casa, reconhecem a exploração e dizem se compactuar com ela.
As profundas transformações por que passou o capitalismo nas últimas décadas, que impuseram profunda reestruturação produtiva e constituição de um novo cidadão, com novas competências e uma nova sociabilidade produtiva, traz consequências para o trabalho e profissões em geral, assim como, para o trabalho e prática universitária. É desse tema que trata o capítulo O tempo pessoal e de trabalho, saúde e resistência.
Com base nas entrevistas os autores demostram que a intensificação e precarização do trabalho dos professores das IFES, fazem da prática universitária o polo atrator e centralizador também da vida pessoal e familiar dos professores pesquisadores das IFES.
A atividade em que vem se transformando o trabalho nas IFES, diferentemente do que ocorre na maioria das profissões, tende a ser uma jornada de trabalho de três períodos e de uma semana de seis e, às vezes, sete dias de trabalho.
O trabalho da universidade ultrapassava as fronteiras do campus e afetava o cotidiano da vida pessoal e familiar. A maioria dos entrevistados afirma continuar, com regularidade, em casa as tarefas universitárias. Isso faz com que ocorra a invasão do lar, pelas tarefas universitárias, afetando assim as relações familiares.
Outro aspecto relevante na fala dos professores pesquisadores sobre a evolução da prática universitária ou da intensificação e precarização do trabalho, é o que diz respeito à crescente incidência de doenças, em especial de cunho depressivo, e ao consumo bastante frequente de medicamentos ansiolíticos. 
Os autores evidenciam quanto é frágil a resistência à intensificação do trabalho e ao produtivismo acadêmico, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto sindical ou trabalhista, isto é, revelam e confirmam, em outros termos, o processo da efetiva reforma universitária no contexto da mundialização do capital.
Neste tema de resistência pode–se enquadrar o sentimento de culpa. Isso fica claro em um depoimento em que a professora se culpa de não consegui ler tão bem a tese enquanto sua filha estava sendo operada. Assim, mesmo sentindo a culpa por ler a tese enquanto sua filha passa por cirurgia, ela lê. Isso acontece, segundo os autores porque há valores que foram naturalizados que a levam, de fato, a ler.
Os autores buscam estabelecer relações entre a nova configuração desta prática universitária e a valorização/desvalorização do sindicato, como forma de resistência, e o modo e grau de participação dos professores nas atividades sindicais. Os depoimentos demostram imagens controversas e pouco seguras sobre o papel e importância das sessões sindicais locais e do sindicato nacional.
Mas observa-se nos depoimentos que se tem consciência clara das dificuldades, das mudanças ocorridas, do que se deve fazer, da postura que se deve ter para restaurar ou instaurar o papel sindical que convém à natureza específica das exigências e lutas de profissionais que adquirem crescente relevância na atual fase do capital.
Nas conclusões, os autores demostram que as reflexões desenvolvidas no estudo, estão baseadas na historicidade do tema, no foco teórico e empírico de vários autores do século XIX aos dias atuais. Mostram que a densidade desse objeto de pesquisa foi à intensificação e precarização do trabalho do professor pesquisador na nova universidade.
Assim citam autores como Weber, que ao comparar a universidade alemã tradicional com a universidade norte–americana, afirmava que existia uma americanização daquela, assim como de toda sociedade alemã. Isto transformaria o professor catedrático alemão em um acadêmico especializado, ao mesmo tempo em que a própria universidade alemã transformava–se de universidade com pluralidade de campo em universidade de especialização.
Na reforma educacional dos anos sessenta a ciência ganha ênfase. Assim, estrutura– se com muita intensidade o campo profissional, ancorado não somente no mercado de trabalho e seus processos regulatórios, mas também na ciência. Nesse processo, o conhecimento é profissionalizado e, com isso, a ciência ganha novas qualidades, bem como os institutos de pesquisa, as universidades, e os acadêmicos que neles
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