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1 Síndrome nefrótica Síndrome nefrótica A síndrome nefrótica é um conjunto de sinais e sintomas que envolvem o aumento da permeabilidade da membrana glomerular, devido à quebra de sua barreira estrutural e funcional, o que permite o extravasamento de proteínas para o filtrado glomerular. A síndrome nefrótica (SN) é caracterizada por proteinúria maciça, hipoalbuminemia, edema e hiperlipidemia e ocorre pelo aumento da permeabilidade da membrana basal glomerular. EPIDEMIOLOGIA - Incidência: 2 a 7 casos/100 mil crianças abaixo de 16 anos - Prevalência: 16/100 mil crianças - Faixa etária: 60% dos 2 aos 6 anos (pico aos 3 anos) - Sexo: meninos (3:2) ETIOLOGIA A SN pode ser dividida em secundária, quando causada por alguma outra doença, ou primária/idiopática (90% dos casos). Glomerulopatias Primárias: LHM (Lesão Histológica mínima – 85% apresentam); GESF (Glomeruloesclerose segmentar e focal); glomerulonefrite membranosa idiopática; glomerulonefrite mesangiocapilar. Glomerulopatias Secundárias: diabete melito; LES; amiloidose; artrite reumatóide e doença mista do tecido conjuntivo; neoplasias; diversas drogas; infecções (bacterianas, virais, protozoárias); alergia, imunizações e venenos; diversos: gravidez, sarcoidose, rejeição crônica. As principais variantes de SNI na criança são lesões histológicas mínima (LHM) e a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). LESÃO HISTOLÓGICA MÍNIMA E GLOMERULOESCLEROSE SEGMENTAR E FOCAL O achado de padrão anatomopatológico de LHM, geralmente de bom prognóstico, diminui à medida que o grupo etário aumenta (quanto mais velha a criança, menor a chance de ter LHM). As lesões também são conhecidas por nefrose lipoídica pois são encontrados lípides dentro das células epiteliais e urina. Na síndrome nefrótica não se observa depósitos de imunoglobulinas e nem consumo de complemento, exceto IgM E C3. Já em relação à GESF, é uma entidade histológica que pode vir acompanhada de HIV, obesidade, HIV, uso de drogas ou ser familiar. Se essas condições são afatadas temos o diagnóstico a GESF idiopática, que não respondem bem à imunossupressão, especialmente corticoides. Entre 10 e 20 anos de idade, 2/3 dos casos apresentam outros aspectos histológicos, predominando a GESF, a glomerulonefrite membranosa (GNM) e a glomerulonefrite membranoproliferativa (GNPM). FISIOPATOLOGIA A alteração inicial na síndrome nefrótica é a proteinúria, devido ao rompimento da membrana estrutural e/ou funcional da parede do vaso glomerular, que fisiologicamente bloqueia o trânsito de proteínas séricas para o filtrado. 2 Síndrome nefrótica Fisiopatologia da proteinúria: a membrana de filtração glomerular é composta pelo endotélio fenestrado, a membrana basal glomerular, pelos podócitos. A integridade anatômica e a presença de cargas negativas fazem da MGB uma barreira eficiente à passagem de proteínas plasmáticas para a urina. As fendas diafragmáticas constituem um filtro adicional à passagem de proteínas. Na síndrome nefrótica, acreditasse que haja uma perda de cargas elétricas negativas da MBG, as quais seriam neutralizadas por anticorpos específicos ou por alterações estruturais. As cargas elétricas na membrana glomerular determinam a seletividade de moléculas. Acredita-se também que haja mutações nos genes que codificam as proteínas ou canais iônicos dos podócitos, da fenda diafragmática e MGB resultam em desorganização dessas estruturas e consequente proteinúria A diminuição da concentração de proteínas plasmáticas faz com que o fígado aumente a produção tanto de lipoproteínas quanto de fatores da coagulação. O resultado é: hiperlipidemia e estado de hipercoagulabilidade. Também com a hipoalbuminemia haverá a diminuição da pressão oncótica e perda de água para o terceiro espaço, gerando edema e a hipovolemia. A diminuição do fluxo de sangue, por sua vez, leva à secreção aumentada de ADH e Aldosterona. A SÍNDROME NEFRÓTICA É UMA DOENÇA COM CARÁTER IMUNOLÓGICO As evidências sugerem que a Síndrome Nefrótica Idiopática é uma doença com caráter imunológico associado devido a algumas evidências: • Produção anormal de imunoglobulinas: redução de IgG, IgA e elevação de IgM e IgE; • Alteração da imunidade celular • Presença de imunocomplexos circulantes • Redução de atividade da via do sistema complemento 3 Síndrome nefrótica • Presença de SN em pacientes portadores de linfoma de Hodgkin, leucemia linfocítica crônica, timomas etc. e remissão da SN induzida por rubéola, malária e sarampo; • Disfunção dos linfócitos T supressores e de citocinas: IL-2, IL-1 etc.; • Relação com antígenos de histocompatibilidade e associação de ocorrência sazonal em indivíduos atópicos; • Remissão com a utilização de imunossupressores e imunomoduladores. QUADRO CLÍNICO A principal manifestação clínica da SN, embora sua presença não seja essencial para o diagnóstico, é o edema, principalmente matinal palpebral e de MMI. A criança não tratada ou que não responde bem ao tratamento pode desenvolver ascite, hepatomegalia e derrame pleural. LABORATÓRIO - Proteinúria maciça: 50 mg/kg/dia, chamada de faixa nefrótica, (proteinúria de 24h) ou proteinúria/creatinúria >0,5mg/mg. Considera-se proteinúria patológica acima de 150 mg/dia, sendo considerada nefrótica acima de 50 mg/kg/dia. Considera-se a proteinúria patológica acima de 150 mg/dia, sendo considerada nefrótica acima de 50 mg/kg/dia. Em amostra isolada de urina, a relação entre a concentração de proteína e de creatinina expressas em mg% é anormal se > 0,2 em crianças acima de 2 anos de idade e > 0,5 naquelas abaixo dessa idade. ➔ Sedimentos urinários (EAS): • Proteínas • Cilindros hialinos e granulares ➔ Hiperlipidemia: aumento de TGL e colesterol total ➔ Hipoalbuminemia: < 2,5g/dL ➔ Ureia e creatinina normais: não há alteração da função renal ➔ Pode haver hipocalcemia Sorologias: antes do início do tratamento há necessidade de excluir infecções perinatais, como toxoplasmose, CMV, sífilis, hepatites B e C e HIV, por meio de provas sorológicas (excluir síndrome nefrótica secundária) Dosagem de complemento sérico: quando são constatados níveis baixos, indicação de biópsia renal, sugerindo outras nefropatias, como: glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) e LES Exame de fezes: serve para constatar eventuais infestações intestinais, especialmente estrongilodíase, que devem ser tratadas antes da administração de corticoesteroides. Amostra isolada: na síndrome nefrótica, a proteinúria tem que ser, no mínimo, moderada Proteína/creatinina na urina Interpretação < 0,2 Normal 0,2 a 0,5 Proteinúria leve 0,6 a 2 Proteinúria moderada > 2 Proteinúria nefrótica TRATAMENTO 4 Síndrome nefrótica Medidas gerais: restrição de sal durante a atividade da doença e evitar repouso no leito pelo risco de tromboembolismo. A antibioticoterapia profilática está indicada no caso de ascite Diuréticos: • Edema importante • Hemodinamicamente estável • Hidroclorotiazida/Furosemida • Edemas resistentes a esse tratamento preliminar (refratariedade), utiliza-se infusão endovenosa (EV) de albumina a 20% (0,5 a 1g/kg) associada à Furosemida. Essa segunda opção tem como objetivo aumentar a pressão oncótica do sangue e depois estimular a diurese Prednisona: é o tratamento da doença • 2mg/kg/dia ou 60mg/m2/dia (máximo 80g) em 3 doses diárias, durante 4 semanas • Na sequência, 35mg/m2 (máximo de 60mg/dia), em dias alternados, em uma tomada pela manhã durante 6 meses. o Superfície corpórea: ▪ Menores de 10kg: (P X 4+9) /100 ▪ Maiores de 10kg: (P x 4 + 7) / (P + 90) ALGUMAS DEFINIÇÕES - A remissão costuma ocorrer em torno do 15º dia na primeira crise - Nas subsequentes, é mais precoce em torno do 4º ou 5º dia de terapia - Considera-se corticossensível a criança que entra em remissão ao completar o tratamento diário ou após complementode 3 sessões de pulsoterapia com metilprednisolona (30mg/kg – dose máxima 1g), EV, em dias alternados. As que respondem à pulsoterapia também são consideradas corticorresistentes. - As que não respondem são consideradas corticorresistentes - Denominam-se recidivantes frequentes as que apresentam mais de 2 recidivas em um intervalo de 6 meses, após uma crise - Corticodependente as que recidivam na dependência da dose do corticoesteroide ou após 14 dias de sua suspensão. Ou seja, na suspensão ou na tentativa de se diminui a dose do corticoide, o paciente apresenta recidiva. - Cerca de 50 a 60% dos pacientes com síndrome nefrótica idiopática são refratários e corticodependentes. Como citado acima, se a criança não apresenta melhora com a corticoterapia em 4 semanas, indica- se a pulsoterapia com metilprenisolona: 20 a 30 mg/kg/dose em dias alternados; no mínimo 3 e no máximo 8 pulsos No caso de pacientes refratários à pusloterapia, podemos optar por outros tratamentos: • Ciclofosfamida: principal • Clorambucil • Ciclosporina A • Levamisole • Tacrolimus • Micofenolato mofetil INDICAÇÕES DE BIÓPSIA RENAL 5 Síndrome nefrótica - Hematúria macroscópica ou hipertensão sustentada ou complemento sérico diminuído - Corticorresistente - Menores de 1 ano de idade - Maiores de 8 anos, quando a possibilidade de LHM é menor, podendo-se optar pelo tratamento inicial para avaliar sensibilidade ao corticoesteroide ou biopsiá-los já inicialmente. PROGNÓSTICO ➔ A maioria dos pacientes são corticossensíveis • 1/3 episódio único • 1/3 recorrências ocasionais • 1/3 cortico-dependente ➔ Atividade tende a diminuir após adolescência ➔ Corticorresistentes: pior prognóstico (17%) COMPLICAÇÕES 1. Infecções 6 Síndrome nefrótica Por causa das disfunções imunológicas citadas (redução de imunoglobulina e da imunidade celular), da desnutrição, do edema e do uso de medicações imunossupressoras, o nefrótico apresenta grande suscetibilidade às infecções. As mais frequentes são: celulites, peritonites, sinusites e pneumonias, que podem evoluir para sepse. O agente mais comum é o S. pneumoniae. 2. Tromboembolismo: em decorrência do aumento de fatores de coagulação, hemoconcentração decorrente da hipovolemia e perda de antitrombina III (anticoagulante) VACINAÇÃO Controle de infecção: • Peneumocócica (pneumo23 e 10 valente) • Haemophilus • Influenza • Varicela • Calendário normal • Na crise: contraindicadas vacinas de vírus vivos, incluindo nos contatos domiciliares NEFRÓTICA versus NEFRÍTICA NEFRÍTICA NEFRÓTICA Presença de hipertensão arterial e insuficiência renal Rara a presença de hipertensão arterial e insuficiência renal Pico aos 7 anos Pico aos 5 anos Depósito na membrana basal glomerular de imunoglobulina mais importante Depósito na membrana basal glomerular de imunoglobulina menos importante Faixa de proteinúria menor Faixa de proteinúria maior Edema mais discreto por retenção de água e sal Edema mais importante por hipoalbuminemia
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