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TÍTULO VIII Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Prof.º Edigardo Neto Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Dos Crimes de Perigo Comum Dos Crimes contra a Segurança dos Meios de Comunicação e Transporte e outros Serviços Públicos Dos Crimes contra a Saúde Pública Capítulo I Dos Crimes de Perigo Comum Dos Crimes contra a Incolumidade Pública • Capitulo 1. crimes de perigo comum • incêndio (art. 250, CP) • explosão (art. 251, CP) • uso de gás tóxico ou asfixiante (art. 252, CP) • fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante (art. 253, CP) • Inundação (art. 254, CP) • Perigo de inundação (art. 255, CP) • desabamento ou desmoronamento (art. 256, CP) • subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento (art. 257, CP) • formas qualificadas de crime de perigo comum (art. 258, CP) • difusão de doença ou praga (art. 259, CP) • Capítulo 2. Crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços públicos • perigo de desastre ferroviário (art. 260, CP) • atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo (art. 261, CP) • atentado contra a segurança de outro meio de transporte (art. 262, CP) • Forma qualificada (art. 263, CP) • arremesso de projétil (art. 264, CP) • atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública (art. 265, CP) • interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico (art. 266, CP) • Capítulo 3 – crimes contra a saúde pública • Epidemia (art. 267, CP) • Infração de medida sanitária preventiva (art. 268, CP) • Omissão de notificação de doença (art. 269, CP) • envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal (art. 270, CP) • corrupção ou poluição de água potável (art. 271, CP) • Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios (art. 272, CP) • Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, CP) • Emprego de processo proibido ou de substância não permitida (art. 274, CP) • Invólucro ou recipiente com falsa indicação (art. 275, CP) • produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores (art. 276, CP) • substância destinada à falsificação (art. 277, CP) • outras substâncias nocivas à saúde pública (art. 278, CP) • Medicamento em desacordo com receita médica (art. 280, CP) • exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282, CP) • charlatanismo (art. 283, CP) • curandeirismo (art. 284, CP) Dos ntraCrimes co a Incolumidade Pública Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Incêndio culposo § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. • É um crime vago. • Nucci diz que “é certo que pessoas determinadas podem sofrer diretamente o perigo, embora não seja indispensável identificá-las para que o agente possa ser punido”. Greco diz que se aplica o Art. 132. • É dolo de perigo e há forma culposa no § 2º. Não exige elemento subjetivo do tipo. • Crime de perigo concreto. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano, ocorre o exaurimento. • Não importa a natureza da coisa incendiada nem que ela seja de propriedade do agente. São irrelevantes os meios de execução utilizados pelo autor, pois o incêndio pode ser provocado por omissão imprópria, quando o agente tem o dever jurídico de evitá-lo. • Consuma-se com a efetiva situação de perigo comum. • Exame pericial é necessário (art. 173, CPP), não suprível por outros meios ((TFR, Ap. 6920, DJU 23.4.87, p. 7026; TJSP, RT 542/306). • Se o incêndio é provocado por inconformismo jurídico: art. 20 da lei 7170/83; se o agente possui, detém, fabrica ou emprega artefato explosivo e/ou incendiário sem autorização: art. 16, lei 10826/03; se o incêndio é provocado em mata ou floresta: art. 41 da lei 9605/98. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Incêndio culposo § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. • Parágrafo 1º → as figuras desse parágrafo são aplicáveis ao incêndio doloso (caput), mas não ao culposo (§ 2º). • No caso do § 1º inciso I, há posição sustentando não ser admissível a configuração da causa de aumento quando o agente atuar mediante paga, isto é, tendo recebido o dinheiro antes de causar o incêndio (Delmanto). • Todavia, Nucci entende que a obtenção de vantagem pecuniária é a origem da causa de aumento, pouco importando se ela foi auferida antes ou depois da prática do delito, ou seja, o objetivo da elevação da pena é o ânimo de lucro, algo que pode ocorrer tanto no caso de paga quanto no de promessa de recompensa. • Concurso de crimes: Nucci admite concurso entre esse artigo e o art. 171, § 2º, V, CP, dizendo, ainda que não há bis in idem e se o lucro já foi utilizado para tipificar o crime do art. 171, § 2º, V, o incêndio deve ser punido em sua forma simples. Delmanto não aceita esse concurso por entender ser bis in idem. • Parágrafo 1º→ inciso II: a) não é necessário que haja pessoas na casa, mas é preciso que o agente saiba que o local é destinado à habitação; d) não abrange rodoviárias e portos. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Incêndio culposo § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. • § 2º→ forma culposa. • Havendo morte ou lesão, vide art. 258, CP. • “Não basta a potencialidade do perigo, sendo necessário que este seja concretoe efetivo (TJSP, RJTJSP 82/378, RT 538/334; TJRS, RJTJRS 166/112), para o número indeterminado de pessoas ou bens (TJRJ, RT 725/642). Não se configura, se o agente ateia fogo a sua própria casa, sem que o fogo defina perigo real às residências próximas (TJMG, JM 128/359).” • “Não se configura o crime se o agente coloca em perigo apenas a própria vida (TJSP, RJTJSP 1/189). Não ocorre perigo comum, no causado a uma, duas ou até três pessoas, ou a um número determinado e certo de indivíduos residentes no mesmo local” (TJSP, RJTJSP 161/273). Contra: “há crime de incêndio e não de dano, se expôs a perigo concreto sua ex- companheira e filhos, causando lesão efetiva ao patrimônio (casa) desta (TJDF, Ap. 14.240, DJU 23.11.94, p. 14629)”. • “Inexistindo perigo a indeterminado número de pessoas ou coisas, o crime de incêndio pode ser desclassificado para: a) dano, se a intenção era de danificar (TJSP, RJTJSP 107/435, 108/480; TJPR, PJ 48/344); b) exercício arbitrário das próprias razões, se praticado com o objetivo de satisfazer pretensão legítima ou que crê ser legítima (TJSE, RF 270/322); c) estelionato, se teve como objetivo reclamar indenização da seguradora (TJSP, RJTJSP, 120/515)”. Nesse último caso, verificar o que foi dito acima sobre o posicionamento de Nucci quanto ao concurso de crimes. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Explosão Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. §1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo. Modalidade culposa § 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano. • Cabe transação penal na 23ª parte do § 3º, se não resultar lesão corporal ou morte (art. 258, CP). • Cabe suspensão condicional do processo no § 1º, se não resultar lesão corporal grave ou morte, e no § 3º se não resultar morte. • Na simples colocação não há necessidade de preparação para detonar. • No arremesso e na colocação é punido o perigo de detonação de efeitos extensos. • Qualquer outro artefato semelhante a um engenho de dinamite serve para configurar o tipo penal. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano, ocorre o exaurimento. • Consuma-se com a criação de situação de perigo próximo e imediato. • Se não há perigo comum, o crime será outro (ex. dano). Se motivada por inconformismo político: art. 20 da lei 7170/83. Se o agente possui, detém, fabrica ou emprega artefato explosivo e/ou incendiário sem autorização: art. 16, lei 10.826/03. Se praticado em pesca: lei 7679/88. • § 1º→ a doutrina não considera o vapor de água como explosivo. • § 3º → o tipo penal só levou em conta a explosão e não o arremesso ou colocação para punir a forma culposa. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Uso de gás tóxico ou asfixiante Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade Culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de três meses a um ano. • Cabe transação no § único, desde que não haja lesão corporal ou morte (art. 258, CP) • Cabe suspensão processual do processo no caput, se não resultar lesão corporal grave ou morte, bem como no § único, desde que não resulte morte. • Dolo de perigo • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano, ocorre o exaurimento. • “Veículo adaptado para gás de cozinha: não configura (TJSP, RJTJSP 120/491)” • “Lançamento de ampola de gás lacrimogêneo em discoteca em dose insuficiente para expor a perigo os presentes, não configura o art. 252 do CP, mas sim o art. 65 da LCP (TJSP, RT 624/310). Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. • Suspensão condicional do processo é cabível, ainda que resulte lesão corporal grave ou morte. • Tipo misto alternativo. • Não há a forma culposa. • “Sem licença da autoridade” é elemento de ilicitude levado para dentro do tipo. Havendo licença é atípico. É norma penal em branco. • Não é preciso que a substância só possa ser usada para o fabrico de explosivo, mas que, em determinado contexto, seja usada para tal fim. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, nas formas fabricar, fornecer e adquirir, mas permanente nas modalidade possuir e transportar, de perigo abstrato, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. • Não admite tentativa, pois já é uma exceção, onde se punem os atos preparatórios do crime de explosão e do uso de fás tóxico ou asfixiante. • Havendo dano, ocorre o exaurimento. • Tratando-se de material nuclear: art. 22 da lei 6.453/77. Quanto à exportação de bens sensíveis e de serviços diretamente vinculados: lei 9112/95. • “Pratica o crime do art. 253 quem destina parte do seu estoque regular de explosivos, usados na mineração, para a venda a estranhos, sem autorização” (STF, RTJ 104/1041) Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Inundação Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa. • Cabe suspensão condicional do processo na modalidade culposa, desde que não resulte morte. • É dolo de perigo. Pune-se a culpa. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa na forma plurissubsistente desde que não seja na modalidade culposa. • Havendo dano é mero exaurimento. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Perigo de inundação Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. • Cabe suspensão condicional do processo se não resultar morte ou lesão corporal grave. • Para Delmanto, a ação de quem coloca obstáculo capaz de causar inundação não foi abrangida pelo dispositivo. • É tipo misto alternativo; • É dolo de perigo. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, plurissubsistente. • Não admite tentativa, pois é fase preparatória do crime de inundação, excepcionalmente tipificada. • Havendo dano é mero exaurimento. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Desabamento ou desmoronamento Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento,expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano. • Cabe transação no § único, desde que não resulte lesão corporal ou morte. • Cabe suspensão condicional do processo no caput, se não resultar em lesão corporal grave ou morte. • É dolo de perigo. • Desabar é ruir ou cair (construções de um modo geral). Desmoronar é vir abaixo ou soltar-se (morros, pedreiras ou semelhantes). • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano é mero exaurimento. • Ausente o perigo comum: art. 29 da LCP; na mesma ausência, pode haver crime contra a pessoa ou dano. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. • É tipo misto alternativo. • É dolo de perigo. Não há forma culposa. • O delito só tem lugar se praticado durante a ocorrência de incêndio, inundação, naufrágio ou outro desastre ou calamidade (Nucci), sendo indiferente que tais sinistros sejam resultado de crime ou advenham de caso fortuito ou força maior. • É indispensável que o instrumento seja especificamente. Voltado ao combate a perigo, à prestação de socorro ou ao salvamento, como bombas de incêndio, alarmes, extintores, salva-vidas, escadas de emergência, medicamentos, etc. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo na forma subtrair, inutilizar, impedir e dificultar, mas permanente na modalidade ocultar, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano é mero exaurimento. • Se o agente dá causa ao desastre e ainda pratica o delito deste artigo, haverá concursos de crimes. Todavia, Delmanto entende que não poderá haver concurso deste artigo com os crimes de furto e dano, pois as ações de subtrair e inutilizar já compõem o tipo penal. Nucci se cala. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Formas qualificadas de crime de perigo comum Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. • Crime qualificado pelo resultado: o dolo de perigo, na conduta antecedente, somente se compatibiliza com a culpa, na conduta consequente. Portanto, havendo inicialmente dolo de perigo, somente se aceita, quanto ao resultado qualificador, culpa. No tocante à conduta antecedente culposa, é natural que o resultado mais grave possa ser, também, imputado ao agente a título de culpa, pois inexiste incompatibilidade (Nucci). • Trata-se de preterdolo, pois os resultados não são desejados pelo agente, caso em que poderia haver concurso formal do art. 121 ou 129 com o crime de perigo comum. Nos termos do art. 19 do CP, é indispensável que o resultado lesão ou morte tenha sido causado, ao menos culposamente, pelo agente. Se o resultado não decorreu de culpa, mas de mera relação de causalidade, incidirão apenas as figuras simples dos crimes de perigo e não a forma qualificada. (Delmanto) • Na hipótese de resultar lesão ou morte em várias pessoas, o aumento é único, e não aplicado em concurso formal. Assim, se o crime doloso de incêndio resultar, por culpa do agente, 04 mortes, incidirá uma só qualificação (Delmanto). • As lesões corporais leves não qualificam as figuras dolosas. Na forma culposa, a lesão corporal independe da gravidade. (Delmanto) • “Independentemente do número de vítimas, o aumento é único e também não haverá pluralidade de qualificações; se houve uma morte e duas lesões, aplica-se apenas o aumento da qualificação por morte, que é mais grave (TACrSP, Julgados 84/211). Em caso de culpa, aplica- se a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço, pois, ainda que duas sejam as vítimas mortas, o aumento do art. 258 é único (TJRS, 599/370)”. • “Desmoronamento com morte: se culposo, incide nos arts. 256, parágrafo único, e 258, última parte, do CP. (TAPR, RF 261/345)”. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Difusão de doença ou praga Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa. • Cabe transação penal e suspensão condicional do processo no § único. • Doença é moléstia ou enfermidade. Praga é a moléstia que ataca plantas e animais. A doença pode ser localizada e mais restritivamente difundida, enquanto a praga é generalizada e largamente espalhada. • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Havendo dano é mero exaurimento. • A pena é alternativa. Capítulo II Dos Crimes contra a Segurança dos Meios de Comunicação e Transporte e outros Serviços Públicos Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Perigo de desastre ferroviário Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro: I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação; II - colocando obstáculo na linha; III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia; IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Desastre ferroviário § 1º - Se do fato resulta desastre: Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa. § 2º - No caso de culpa, ocorrendo desastre: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 3º - Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo. • Caput: É tipo misto alternativo. É dolo de perigo. É crime comum, formal, de forma vinculada, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. É figura qualificada pelo resultado • O conceito de estrada de ferro abrange não só os trens, mas também metrô, bondes e teleféricos. (Delmanto). Material rodante são os veículos ferroviários. Material de tração são as locomotivas ou automotriz. Obra de arte são as pontes, os viadutos, túneis, muros de arrimo, etc. Instalação são os sinais da linha férrea, cabos, cancelas, etc. Outro ato de que possa resultar desastre trata-se de interpretação analógica (Nucci). • § 1º: o desastre há de ser causado por negligência, imprudência ou imperícia, havendo previsibilidade do resultado. Se a conduta principal causar a morte de uma pessoa – que não pode ser considerada um desastre, a melhor hipótese de tipificação é de homicídio culposo. Não admite tentativa. • § 2º: a modalidade culposa está adstrita ao advento desastre, ou seja, não se pune a forma culposa se não houver o resultado qualificador “ocorrendo desastre”. Cabe suspensãocondicional do processo desde que não resulte morte. • Se resultar desastre, §§ 1º e 2º. Se a sabotagem tem finalidade política, art. 15 da lei 7.170/83 (segurança nacional). Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo § 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou destruição de aeronave: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Prática do crime com o fim de lucro § 2º - Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente pratica o crime com intuito de obter vantagem econômica, para si ou para outrem. Modalidade culposa § 3º - No caso de culpa, se ocorre o sinistro: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. • Caput: o objeto é embarcação ou aeronave. É tipo penal misto. É norma penal em branco. Não envolve a navegação lacustre porque o art. 262 a abrange. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. É figura qualificada pelo resultado. Se há sabotagem do transporte por motivação política: art. 15 da lei 7170/83. • § 1º: o dolo de perigo serve para preencher condutas previstas no tipo penal, sendo natural exigir-se, para sequência, apenas a existência de culpa. O dolo de perigo é totalmente incompatível com o sequencial dolo de dano. Quando o delito se realiza, unicamente, na forma de dolo no antecedente e culpa no consequente, a doutrina costuma qualificá-lo como preterdoloso (Nucci). • § 2º: finalidade de lucro acrescenta multa. Para Delmanto, o especial fim de agir não precisa ser efetivamente conseguido. Nucci silencia. Alcança tanto o caput como o § 1º (Delmanto) • § 3º: Cabe suspensão condicional do processo, se não resultar morte. Outra figura anômala, quando se pune a forma culposa da conduta descrita no caput somente quando houver resultado qualificador. A mera exposição a perigo, sem haver sinistro, quando efetivada por imprudência, negligência ou imperícia é atípica. (Nucci) Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Atentado contra a segurança de outro meio de transporte. Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento: Pena - detenção, de um a dois anos. § 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre: Pena - detenção, de três meses a um ano. Forma qualificada Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258. • Caput: cabe suspensão condicional do processo se não resultar morte ou lesão corporal grave. O objeto é qualquer outro meio de transporte não previsto nas hipóteses anteriores. É tipo penal misto alternativo. È dolo de perigo. Para Nucci, nesse artigo aplicar-se-ia uma interpretação analógica dos outros artigos, significando a inserção de outros transportes públicos, incluindo aqui, ônibus, automóveis de aluguel e a navegação lacustre. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo concreto, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • § 1º: o dolo de perigo, exigível na conduta descrita no caput, somente se compatibiliza com a conduta culposa na conduta seqüencial. Por isso, havendo desastre, exige- se quanto a este, imprudência, negligência ou imperícia, com previsibilidade do resultado. Inadmite-se tentativa (Delmanto). • § 2º: forma anômala, punindo-se a conduta prevista no caput a título de culpa somente se houver resultado qualificador. Cabe transação penal e suspensão condicional do processo se não resultar morte. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Arremesso de projétil Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar: Pena - detenção, de um a seis meses. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço. • Caput: Cabe transação penal e suspensão condicional do processo. É o dolo de perigo. Projétil é qualquer objeto sólido que serve para ser arremessado, inclusive por arma de fogo. O tipo penal refere-se, expressamente, que o veículo seja de transporte público e que esteja em deslocamento, em movimento. Assim, somente não se configura o tipo penal desse artigo se o veículo estiver estacionado, parado. (Nucci). • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Havendo dano é mero exaurimento. • Para Nucci, admite-se a tentativa na forma plurissubsistente, pois pode haver um início de execução sendo, portanto, ato idôneo e unívoco para atingir o resultado. Diferentemente, Delmanto afirma não ser possível tentativa, pois não é ação divisível. Ou o agente fez o arremesso e o delito se consumou (mesmo que o alvo não seja atingido), ou não arremessou, e só existirão atos preparatórios, que são impuníveis. • § único: crime qualificado pelo resultado → tendo em vista que o dolo de perigo, exigível na conduta antecedente (arremessar) é incompatível com o dolo de dano, somente é cabível culpa na conduta subseqüente. Cabe suspensão condicional do processo na sua 1ª parte. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública Art. 265 - Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único - Aumentar-se-á a pena de 1/3 (um terço) até a metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao funcionamento dos serviços. • Caput: É dolo de perigo. Outro tipo de utilidade pública engloba gás, mas não se refere à telefonia, que se encontra no art. 266. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Havendo dano é mero exaurimento. • Não admite tentativa por ser crime de atentado, ou seja, a lei já pune como crime consumado o mero indício de execução (Nucci). Há posições em sentido diverso, admitindo a tentativa, mas reconhecendo ser de difícil configuração (Delmanto). • § 1º: trata-se de uma figura híbrida (Nucci). Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico Art. 266 - Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único - Aplicam-se as penas em dobro, se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública. • Caput: Cabe suspensão condicional do processo. Para Delmanto, a enumeração é taxativa, não abrangendo o serviço postal e a radiotelefonia, pois é vedado o emprego de interpretação analógica para punir alguém. • É tipo misto alternativo, quanto ás condutas “interromper” ou “perturbar”, podendo o agente realizar uma ou as duas, implicando num único crime. É, também, cumulativo , pois a segunda forma de agir é diversa – “impedir ou dificultar o restabelecimento” -, embora, caso o agente cometa as duas (interrompe e impede o restabelecimento), a última delas deva ser considerada “fato posterior não punível”, pois mero desdobramentoda primeira. É dolo de perigo. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • § único: figura qualificada. • Se a ação é impedir a comunicação entre duas pessoas: art. 151, § 1º, III, CP. Se há interceptação telefônica sem ordem judicial: art. 10 da lei 9296/96. Se a conduta impede ou perturba serviço ferroviário: art. 260, III, CP. Se há sabotagem por motivação política: art. 15 da lei 7170/83. Se há sonegação ou destruição de correspondência postal: art. 40, § 1º da lei 6538/78 (vide também Código Brasileiro de Telecomunicações). Capítulo III Dos Crimes contra a Saúde Pública Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Epidemia Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos. • Caput: o verbo causar deve ser conjugado com a conduta propagar. É dolo de perigo. É crime comum, material, de forma vinculada, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão (há quem sustente ser delito passível de cometimento na forma omissiva, como é o caso de Noronha e Delmanto, mas Nucci discorda pois o verbo do tipo é uma ação, afirmando, ainda, que a única hipótese der haver forma omissiva seria a do art. 13, § 2º, CP), instantâneo, de perigo concreto (Delmanto) entende ser de perigo abstrato. • Ainda há doutrinadores como Paulo José da Costa Júnior que se coloca numa posição intermediária, sustentando ser um crime, concomitantemente, de dano e de perigo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. • Admite tentativa na forma plurissubsistente. • Epidemia é uma doença que acomete, em curto espaço de tempo e em determinado lugar, várias pessoas. Endemia é uma enfermidade que existe, com frequência, em determinado lugar, atingindo um número indeterminado de pessoas. Pandemia é doença de caráter epidêmico que abrange várias regiões ao mesmo tempo. • Germes patológicos são os microorganismos capazes de gerar doenças, como os vírus e as bactérias, por exemplo. • § 1º: encontramos aqui um crime qualificado pelo resultado. Havendo morte, estamos diante de um crime hediondo (art. 1º, VII, lei 8072/90). Segundo Delmanto, por ser mais gravosa para o acusado, tal lei não retroage, só alcançando os fatos ocorridos a partir de sua vigência. • § 2º: é a forma culposa. Cabe suspensão condicional do processo na 1ª parte. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Infração de medida sanitária preventiva Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. • Caput: cabe transação penal no caput, desde que não resulte lesão corporal grave e morte. Cabe suspensão condicional do processo ainda que resulte morte ou lesão corporal grave. É dolo de perigo. É norma penal em branco. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • Transcrição literal de Nucci ao comentar “determinação do poder público” → “revogação da norma complementar: há divergência doutrinária a respeito, embora nos pareça mais correta a posição daqueles que sustentem haver possibilidade de aplicação do princípio da retroatividade benéfica, dependendo do caso concreto. Afinal, saber qual foi exatamente a causa da revogação da norma destinada a impedir a introdução ou propagação da doença contagiosa é fundamental para a inteligência do tipo penal. Caso o poder público revogue a medida, por considerá-la, por exemplo, inócuo para o efetivo resultado pretendido, não há razão para punir o agente. Entretanto, se a revogação se der porque já foi contida a doença, é preciso aplicar o art. 3º do Código Penal, consideração ultrativo o complemento, mantendo-se a punição do agente. • § único: Cabe suspensão condicional do processo ainda que resulte morte ou lesão corporal grave. A causa de aumento exige habitualidade na atividade profissional do médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro, não bastante, pois, que ostentem tais títulos. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Omissão de notificação de doença Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. • O sujeito ativo somente pode ser médico. É dolo de perigo. No caso desse tipo penal, a autoridade pública deve ser aquela apta a cuidar da saúde pública. É norma penal em branco. É crime próprio, de mera conduta, de forma vinculada, omissivo, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, unissubsistente. • Não admite tentativa por se tratar de delito omissivo próprio, sem possibilidade de fracionamento do iter criminis. • Para Delmanto, essa denúncia que se impõe ao médico é justa causa que exclui a caracterização do crime do art. 154 do CP. • Como registra Heleno Fragoso, embora a lei não exija que o médico tenha assistido ou examinado o doente, ele somente poderia fazer com seriedade a denúncia se houvesse, pessoalmente, examinado o enfermo. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. • Caput: É dolo de perigo. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Admite tentativa na forma plurissubsistente. Havendo dano é mero exaurimento. • Água potável é a água boa para beber, sem risco à saúde. Quando o lançamento de alguma substância na água torná-la visivelmente imprópria para o consumo, consuma-se o crime do art. 271. • A exclusão do delito do art. 270 com resultado morte do rol dos crimes hediondos, por ser mais benéfica, retroage. • A corrupção e a poluição são previstas no art. 271 e 272 do CP. • § 1º: a modalidade ter em depósito é crime permanente que exige finalidade específica. Para Delmanto, se o agente envenenar a água e depois distribuí-la, a segunda conduta constituirá fato posterior impunível . • § 2º: cabe suspensão condicional do processo desde que não resulte morte. È a forma culposa • “Se a substância que o agente lançou na água tornou-a tão leitosa e malcheirosa que ninguém iria bebê-la e envenenar-se, desclassifica-se para a corrupção da água, prevista no art. 271 (TJRS, RT 726/728)”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8072.htm Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Corrupção ou poluição de água potável Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. • Caput: é tipo misto alternativo. É dolo de perigo. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão,instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • Para Nucci, se a água já estiver, de alguma forma, conspurcada e, portanto, imprópria para ser ingerida, configura-se a hipótese de crime impossível. • Se há envenenamento das águas: art. 270 CP. Se o poluidor expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou estiver tornando mais grave situação de perigo existente: art. 15, §§ 1º e 2º da lei 6938/81, com redação dada pela lei 7804/89. Quanto à poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público: art. 54, § 2º, III, lei 9605/98. • § único: é a forma culposa. Cabe transação penal desde que não resulte em lesão corporal grave ou morte. Cabe suspensão condicional do processo desde que não resulte morte. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. § 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. • Caput: todas as condutas devem compor-se com “tornar nocivo à saúde” ou “reduzir” É tipo misto alternativo. É dolo de perigo. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. • Se há venda, depósito para venda ou exposição para o mesmo fim, ou entrega de matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo: art. 7º, IX, Lei 8137/90; Se não houver perigo para a saúde pública: art. 2º, III e V da lei 1521/51 e art. 66 do CDC; se a corrupção é de água potável: art. 271, CP; se a ação é de envenenar água potável ou substância alimentícia ou medicinal: art. 270, CP. • § 1º-A: É dolo de perigo. Não se exige o elemento subjetivo específico, exceto na modalidade “ter em depósito para vender”. Nessa hipótese é preciso que o agente mantenha a substância guardada com a finalidade de aliená-la a certo preço. A conduta “expor à venda” é composta e só tem sentido conjuntamente interpretada, de forma que prescinde de vontade específica. Ninguém simplesmente “expõe” substância corrompida, adulterada ou falsificada, pois não há nisso interesse algum, nem perigo à saúde. Aliás, há outras formas compostas que só têm sentido se interpretadas conjuntamente, como ocorre com a expressão “empregar no fabrico” (art. 274), que não faz nascer nenhum elemento subjetivo específico. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo (nas ações fabricar, vender, importar, distribuir e entregar) e permanente (na forma expor à venda e ter em depósito), de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. • caput: É tipo misto alternativo. É dolo de perigo. É crime comum, formal, é a figura qualificada pela forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato (Delmanto diz que deve existir perigo concreto), unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. É crime hediondo. • § 1º: “A simples posse, ainda que para fins de distribuição, de medicamentos de procedência ignorada e adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente, não basta, à luz do disposto pelo parágrafo 1º do artigo 273 do Código Penal, à configuração do crime, exigindo-se para tanto, que o produto tenha sido falsificado, adulterado ou alterado” (AP. 471.211-3/5, 5ª. C., rel. Donegá Morandini, 30.09.2004, TJSP). Para Nucci, para a forma “ter em depósito” existe o elemento subjetivo específico, que é acrescido de “para vender”. Assim, a conduta composta “ter em depósito”, tradicionalmente utilizada em outros tipos penais, neste caso, ganha uma finalidade especial, que é a vontade de alienar a certo preço. O mesmo não ocorre, no entanto, com a conduta de “expor à venda”, que poderia ser traduzida como sendo “apresentar ao comprador”. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo (nas formas importar, vender, distribuir e entregar), mas permanente (nas formas expor à venda e ter em depósito, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento É crime hediondo. • § 1º-A: crime hediondo. § 1º - B: crime hediondo • § 2º: forma culposa, abrange todas as figuras previstas, inclusive a falsificação (Delmanto afirma ficar tal modalidade excluída da forma culposa). Cabe suspensão condicional do processo, a não ser que resulte morte ou lesão corporal. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Emprego de processo proibido ou de substância não permitida Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. • Cabe suspensão condicional do processo. • É norma penal em branco. • É dolo de perigo No que se refere à expressão “qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária”, Nucci afirma tratar-se de uma interpretação analógica. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Invólucro ou recipiente com falsa indicação Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. • Cabe suspensão condicional do processo. É dolode perigo. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • Se não houver risco para a saúde pública: Vide art 2º, III, da lei 1521/51, art. 66 do CDC, art. 7º, II da lei 8137/90. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. • Cabe suspensão condicional do processo. Trata-se de tipo penal remetido, passível de compreensão desde que consulte o conteúdo dos mencionados artigos, bem como alternativo. É dolo de perigo. Não exige elemento subjetivo específico, salvo na hipótese “ter em depósito para vender”, que demanda finalidade de guardar objeto para aliená-lo a certo preço. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo (formas vender e entregar), permanente (formas expor a venda e ter em depósito), de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Substância destinada à falsificação Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. • Cabe suspensão condicional do processo. É tipo misto alternativo. É dolo de perigo. Exige o elemento subjetivo. • Para Nucci, “a substância deve ser especificamente voltada à falsificação, embora deva-se verificar essa finalidade no caso concreto, e não de maneira geral. Assim, quando uma substância tiver múltipla destinação, sendo uma delas a de produzir alimentos ou remédios falsos, é preciso que fique bem demonstrado na situação concreta ser essa a razão de agir do autor. No mais, parece-nos extremado rigorismo pretender que a substância sirva unicamente para falsificar os produtos mencionados”. • Delmanto tem posição diferente, exigindo que a substância tenha finalidade inequívoca de falsificação. • Delmanto afirma que não se deve incluir maquinário, nem petrechos, utensílios, etc, pois o tipo só se refere a substância (matéria caracterizada por propriedades específicas). • É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo (formas vender e ceder), permanente (nas formas expor à venda e ter em depósito), de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Delmanto admite tentativa, embora diga ser rara. Nucci não admite tentativa por se tratar de fase de preparação dos delitos previstos nos arts. 272 e 273. Havendo dano é mero exaurimento Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Outras substâncias nocivas à saúde pública Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Substância avariada Art. 279 - (Revogado pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) • Caput: Cabe suspensão condicional do processo desde que não resulte morte ou lesão corporal. É dolo de perigo. Não exige elemento subjetivo, salvo na modalidade “ter em depósito”, que pede a finalidade de venda. É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo (nas formas fabricar , vender, entregar), mas permanente (nas formas expor à venda e ter em depósito), de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • Nucci faz uma ressalva, dizendo que “o tipo penal, para evitar dúvidas, tornou expressa a reserva quanto à aplicação deste artigo no tocante aos produtos alimentícios ou medicinais. Assim, caso estes sejam de qualquer modo adulterados, tornando-se nocivos à saúde, deve o agente ser punido pelos tipos dos arts. 272 e 273, com penas mais severas. Entretanto, se porventura o produto for nocivo à saúde, não se encaixando nos destinados à alimentação ou a fins medicinais, responde o agente pelo delito do art. 278” • § único: cabe transação penal, desde que não resulte em morte ou lesão corporal. Cabe suspensão condicional do processo desde que não resulte morte. • Se há omissão de dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade: art. 63 do CDC; se deixar de comunicar à autoridade pública competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado: art. 64 do CDC; se se tratar de venda , depósito para venda ou exposição para o mesmo fim, ou de entrega de matéria- prima ou mercadoria em condições impróprias ao consumo: art. 7º , IX, lei 8137/90. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8137.htm Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Medicamento em desacordo com receita médica Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. • caput: o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. • Entende Magalhães Noronha ser crime próprio, ou seja, somente podendo ser o farmacêutico ou o prático (farmacêutico não formado), devidamente autorizado. Nucci discorda, pois o tipo penal fala apenas em fornecer, o que pode ser de forma gratuita ou onerosa, além do que a substância medicinal pode chegar às mãos de alguém licitamente, que entrega a terceiros, contrariamente ao que dispõe a receita médica. Inclui, o autor, nesse tipo, o balconista da farmácia, por exemplo. Delmanto segue o posicionamento de Nucci. É dolo de perigo. É crime comum (para Hungria é próprio), formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. Cabe suspensão condicional do processo no caput desde que não resulte morte ou lesão corporal. • Pouco importa se a medicação fornecida melhorou o estado de saúde do paciente ou se serviu para piorar, pois se trata de perigo abstrato. • Se há falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: art. 273, CP. • § único: forma culposa, não há previsão de pena de multa. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa. • caput: tem que haver habitualidade, exigindo o elemento subjetivo do tipo que é a vontade de desempenhar a atividade usualmente, como estilo de vida. É crime comum na 1ª parte e própria na 2ª parte, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, habitual, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Não admite tentativa por se tratar de crime habitual. Havendo dano é mero exaurimento. • O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa quando o tipo se refere ao exercício da profissão de médico, dentista ou farmacêutico. Entretanto, necessita ser médico, dentista ou farmacêutico quando, na segunda figura, faz referência à ultrapassagem dos limites inerentes à profissão. • Cabe suspensãocondicional do processo mesmo que resulte lesão corporal grave ou morte. • § única: figura qualificada. • Se o exercício é de profissão diversa da de médico, dentista ou farmacêutico: art. 47 da LCP. O exercício de atividade homeopática foi equiparado às profissões previstas no art. 282, CP. Tratando-se de agente ignorante e rude, que utiliza métodos grosseiros: art. 284, CP. • “Não basta a existência de diploma para que o possuidor possa exercer a profissão de dentista, sendo necessário o registro desse diploma”. (TACrSP, RT 430/387). • “Distingue-se o delito do art. 282 do crime do art. 284 porque, no curandeirismo, o agente é pessoa ignorante e rude, que se dedica à cura de moléstias por meios grosseiros, enquanto no exercício ilegal da medicina o agente demonstra aptidões e conhecimentos médicos, embora não esteja autorizado a exercer a medicina” (TACrSP, Julgados87/394). • “A competência para o processo por exercício ilegal da profissão farmacêutica é da Justiça Estadual” (STF, RF 256/346) Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Charlatanismo Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. • cabe transação penal, desde que não resulte morte ou lesão corporal grave. Cabe suspensão condicional do processo ainda que resulte morte ou lesão corporal grave. Tem por fim punir aquele que, sendo médico ou não, se promove à custa de métodos questionáveis e perigosos de curar pessoas, de maneira oculta ou ignorada do paciente e do poder público, além de divulgar mecanismos inverídicos de cura, visto não existir nada infalível quando se trata de cura de enfermidades. É definido por Flamínio Fávero como “inculcar ou anunciar cura por meio secreto e infalível. No segredo e a infalibilidade estão pontos fundamentais do ilícito moral e legal, porque a medicina não pode agir por meios secretos, devendo ser franca e leal em sua atuação e também porque nunca pode pretender a infalibilidade”. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o médico, o dentista e o farmacêutico. • É dolo de perigo. Ao contrário de outros autores, Nucci afirma não ser necessário se exigir do agente que este saiba que o método não é infalível ou ineficaz (a vontade deve se voltar a divulgar cura por método infalível, creia nisso ou não). É crime comum, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, instantâneo, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Admite tentativa. Havendo dano é mero exaurimento. • Diferença entre charlatanismo e curandeirismo: Para Nucci, “no charlatanismo, qualquer pessoa, incluindo o médico, o dentista e o farmacêutico, promete cura através de meios secretos ou infalíveis, em verdade totalmente inviáveis para o fim almejado, sem que a vítima disso tenha conhecimento. No curandeirismo, há uma pessoa qualquer, que não se passa por médico, dentista ou farmacêutico, do que a vítima tem noção, mas que habitualmente atua para curar males alheios”. Dos Crimes contra a Incolumidade Pública Curandeirismo Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. Forma qualificada Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267. • A exigência de habitualidade é essencial para configuração do crime. É dolo de perigo. • Segundo Nucci, “o termo curandeirismo já possui significação peculiar, que é a atividade desempenhada pela pessoa que promove curas sem ter qualquer título ou habilitação para tanto, fazendo-o, geralmente, por meio de reza ou emprego de magia. Não haveria, em tese, necessidade de existir o complemento dado pelos incisos, mas, no caso presente, o tipo é de forma vinculada, exigindo que os atos somente sejam considerados penalmente relevantes quando tiverem a roupagem prescrita em lei”. Não se enquadram no curandeirismo os “passes” e os rituais de religiões e cultos em razão da liberdade de crença e religião consagrada pela Constituição Federal/88. Quanto às “cirurgias espirituais”, Nucci diz que o estado nada pode fazer, pois está envolvida na crença religiosa do paciente; enquanto não se ultrapassar o limite do disponível, funciona o consentimento da vítima para afastar qualquer ilicitude. Entretanto, se o ofendido morrer ou sofrer lesão grave, o agente da operação espiritual deve ser responsabilizado pelo que causou à vítima, tendo em vista que a vida e a integridade corporal em determinados graus são considerados bens indisponíveis, ainda que tenha que se afastar a aplicação da inviolabilidade de crença, pois nenhum direito é absoluto. • É crime comum, formal, de forma vinculada, comissivo e, excepcionalmente omissivo impróprio ou comissivo por omissão, habitual, de perigo abstrato, unissubjetivo, plurissubsistente. Não admite tentativa por ser crime habitual. Havendo dano é mero exaurimento.
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