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TCC POS EM FILOSOFIA - GLAUDEMIR - A LINGUAGEM COMO CONSTRUCAO DA CONSCIENCIA E DA COMUNICACAO

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2
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – DEPARTAMENTO
DE PÓS GRADUAÇÃO EM
FILOSÓFIA
Glaudemir Simplício de Lima
A LINGUAGEM COMO CONSTRUÇÃO
DA CONSCIÊNCIA E DA COMUNICAÇÃO
BELÉM - PA
2018
GLAUDEMIR SIMPLÍCIO DE LIMA
 
A LINGUAGEM COMO CONSTRUÇÃO
DA CONSCIÊNCIA E DA COMUNICAÇÃO
Trabalho de Conclusão de curso apresentado como requisito para aprovação no curso de pós-graduação em Filosofia, da Estácio de Sá, sob orientação do Professor Mestre Emerson Ferreira da Rocha.
BELÉM - PA
2018
Filosofia
Glaudemir Simplicio de Lima
A linguagem como construção
Da consciência e da comunicação
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Filosofia.
Aprovado em, _____ de ______________ de 20___.
Examinador
__________________________________________________________
Prof. M.e Emerson Ferreira da Rocha
NOTA FINAL _________________
RESUMO
Esta reflexão filosófica acerca da linguagem como construção da consciência e da comunicação visa mostra como é possível compreender o pensamento e os sentimentos do outro, deixando-se envolver por ele de forma altruísta, e como se dá a formação da consciência com todas as concepções que a pessoa possui de si mesma, do outro e do mundo. Será possível falta de linguagem perfeita, é capaz de unir as pessoas ao ponto de fundirem seus pensamentos, passando a ter os mesmos sentimentos? De um lado, encontramos respostas nas pesquisas desenvolvidas sobre a formação do pensamento e da linguagem a partir das perspectivas de Piaget e Vygotski. EsteS dois teóricos, apesar de seguirem caminhos diferentes, comprovam que deve haver preocupação com a formação e aquisição da linguagem, sobretudo nos primeiros anos de vida. A partir do estudo do Tratado Lógico Filosófico de Wittegenstein veremos que a linguagem possui seus limites, porque ela nunca deixará de ser um processo interior, necessitando sempre de estar relacional ao mundo externo. 
 
Palavras-chave: Pensamento, linguagem, comunicação, relação humana.
RESUMEN
Esta reflexión filosófica acerca del lenguaje como construcción de la conciencia y de la comunicación apunta a mostrar cómo es posible comprender el pensamiento y los sentimientos del otro, dejándose envolver por él de forma altruista, y cómo se da la formación de la conciencia con todas las concepciones que, la persona posee de sí misma, del otro y del mundo. ¿Será posible falta de lenguaje perfecto, es capaz de unir a las personas al punto de fusionar sus pensamientos, pasando a tener los mismos sentimientos? De un lado, encontramos respuestas en las investigaciones desarrolladas sobre la formación del pensamiento y del lenguaje a partir de las perspectivas de Piaget y Vygotski. Estos dos teóricos, a pesar de seguir caminos diferentes, comprueban que debe haber preocupación con la formación y adquisición del lenguaje, sobre todo en los primeros años de vida. A partir del estudio del Tratado Lógico Filosófico de Wittegenstein veremos que el lenguaje posee sus límites, porque nunca dejará de ser un proceso interior, necesitando siempre de estar relacional al mundo externo.
 
Palabras clave: Pensamiento, lenguaje, comunicación, relación humana.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	6
2. LINGUAGEM: AS INTERFACES DA CONSCIÊNCIA E SEU CARÁTER INTENCIONAL	8
2.1 A Consciência humana a partir da verbalização das ideias:	11
3. PENSAMENTO E LINGUAGEM: AS CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET E DE VIGOTSKI.	13
3.1 A linguagem como produto sensório-motor e imagem mental	13
4. FILOSOFIA E LINGUAGEM: REFLEXÕES DO TRATADO LÓGICO FILOSÓFICO DE WITTEGENSTEIN	26
4.1 Proposição filosófica, contrassenso e forma lógica: o limite do sentido	28
4.2 A filososfia como crítica da linguagem em wittegenstein	33
4.3 Wittegenstein e o cunho curativo da linguagem	36
5. CONCLUSÃO	40
REFERÊNCIAS	42
1. INTRODUÇÃO
Todas as pessoas conhecem experiências mal sucedidas na relação humana, e se é que não podemos afirmar que toda relação é marcada por incompreensões e decepções. Existem dois mundos, um dentro de quem fala e outro dentro de quem escuta. A questão que se apresenta na comunicação entre pessoas é: como é possível compreender o pensamento e os sentimentos do outro, deixando-se envolver por ele de forma altruísta?, e ainda: Como se dá a formação da consciência com todas as concepções que a pessoa possui de si mesma, do outro e do mundo?
Um modo de superar as incompreensões entre as pessoas pode se dá através da linguagem, pois a comunicação honesta de quem fala, e a aceitação fiel de quem escuta levam ao equilíbrio entre as pessoas. O resultado desta experiência será uma relação pacífica que tende a se manter em harmonia. A linguagem perfeita é capaz de unir as pessoas ao ponto de fundirem seus pensamentos, passando a ter os mesmos sentimentos.
A construção da linguagem e a comunicação é um processo complexo, que na medida do tempo, com a aprendizagem, torna-se automática. Primeiro vem o pensamento, marcado por uma relação com os sentimentos, e em seguida a linguagem com todos os seus símbolos, e quem deverá transmitir o pensamento e os sentimentos. Os símbolos linguísticos transmitidos por alguém encontrarão uma consciência, que através de juízo de valor, formará um novo pensamento, novos sentimentos e, portanto, aproximação ou distanciamento entre os interlocutores.
O problema da desarmonia entre pensamentos de pessoas diferentes, pode se dá também a partir da interpretação errada dos símbolos linguísticos, desencadeando uma relação conflituosa e distanciamento entre as pessoas. Portanto, pode-se afirmar que a utilização de símbolos mais adequados pode tornar a comunicação mais viável ao entendimento? Quais os símbolos mais adequados para que a comunicação seja bem-sucedida? Existe linguagem perfeita? Existem verdades diferentes quando se fala de pensamentos divergentes? Mediante a esses questionamentos está fundada uma questão central: é possível alcançar a compreensão perfeita da verdade que está no outro?
A filosofia apresenta a proposta de abandonar o mundo interior do indivíduo, para que a comunicação, ou seja, a manifestação do pensamento e sentimentos se dê a partir de conceitos mais amplos, mais objetivos. Da mesma forma, a interpretação dos símbolos linguísticos deverá se dar pela mesma ótica. Portanto, a harmonia na ralação humana não pode existir a partir de quem comunica ou de quem recebe, e sim por uma verdade mais ampla, superior a próprios entes.
Esta pesquisa teórica visa apresentar uma contribuição com o processo comunicativo, como sistema difusor de pensamentos e formação da linguagem que possibilita a interação entre as pessoas, assim como o desenvolvimento do intelecto humano, de formação do “eu” e do “tu”.
Este trabalho apresenta incialmente discussões acerca da linguagem como estrutura consciente e intencional. Para tanto nos debruçamos nas reflexões de Searle (2010) e Flôres (2009). Neste capítulo discorremos sobre o papel imperativo da consciência no ápice da linguagem, revelando seu caráter subjetivo e heterogêneo, bem como intencional, haja vista que toda mensagem configura uma ação intencional que perpassa sobre diferentes aspectos relativos ao sujeito. Além disso, comentamos acerca da consciência linguística como base de estudos da psicolinguística, embora seja um assunto de extrema complexidade, pois os próprios estudiosos da área afirmam que adentar a esse estudo requer considerar também o aspecto inconsciente e subconsciente do homem. 
Em seguida, apresentamos os estudos de Montoya (2006) no que diz respeito ao pensamento e linguagem, à partir das investigações de Jean Piaget, visando compreender as reações existentes entre o pensamento humano e na complexidade da linguagem. A partir desse autor, é será salientadas algumas teses conclusivas, sobre as críticas às teorias empiristas e positivistas contemporâneas, com vistas a diferenciar a singularidade da sua formulação teórica. 
Posteriormente, apresentamos os estudos de Silva (2006) que discorre sobre as pesquisasdesenvolvidas sobre a formação do pensamento e da linguagem a partir das perspectivas de Piaget e Vygotski.
Será demonstrando os resultados alcançados mediante as reflexões tecidas pelo referencial teórico, em consonância as hipóteses tecidas, bem como os objetivos que apresentamos. Consideramos que toda a base teórica foi relevante e consistentes, à medida que conseguimos alcançar nossos objetivos propostos nesta reflexão. Além disso, os discursos até aqui propostos, revelam a necessidade de se propor novas reflexões acerca da linguagem, tendo em vista que ela envolve um complexo sistema de análise desde a concepção de consciência até a representatividade que ela configura no centre das relações humanas.
2. LINGUAGEM: AS INTERFACES DA CONSCIÊNCIA E SEU CARÁTER INTENCIONAL
O homem, torna-se ser social a partir da linguagem. É ela que o dota da capacidade de se desenvolver culturalmente. No centro das relações humanas encontra-se a linguagem, é por meio dela que nos tornamos agentes sociais, estabelecemos relações, idealizamos, tecemos opiniões, formulamos argumentos, convencemos e persuadimos através das nossas escolhas e conhecimento de mundo em que a linguagem opera sobre nós. A linguagem perpassa por toda a trajetória humana, pois ela é uma prática social de significativo valor, à medida que capacita o homem em todas as suas dimensões, seja social, cultural ou filosófica.
O homem possui essa faculdade humana e faz dela seu instrumento de apropriação de conhecimento, seja de si ou do outro, nas infinitas relações sociais. Ela é fruto do pensamento que atrelado à consciência se estrutura em atos verbais sob a forma de desejos, escolhas, intenções para assim fazermo-nos presente e ouvidos em um contexto ou canal comunicativo.
 A linguagem só se efetiva por meio de um estado consciente, pois requer um estado de realidade para que assim ele se manifeste através da linguagem. Neste sentido, Searle (2010) ao tratar do problema da consciência na obra Consciência e Linguagem, infere que ela está para além de um fenômeno biológico, pois sua característica principal é sua carga subjetiva. A consciência é apresentada como um fenômeno interno, quantitativo e próprio de cada sujeito.
Dessa forma, a linguagem insere-se no plano subjetivo enquanto ato humano, feito de intenções, pois antes de se dizer algo, planeja-se algo, com determinada intenção acerca de um estado de “coisas” (SEARLE, 2010, p. 9), o que se caracteriza na subjetiva relação do “eu” para o “nós”.
 Flores (2009, p. 59) compartilha da mesma percepção peculiar à consciência, assim observemos esta assertiva 
[...] a experiência consciente não pode ser de forma alguma entendida apenas como um estado e, menos ainda, como um estado uniforme e homogêneo, pois ela é, também, um processo, podendo manifestar-se de modos diversos: percepções sensoriais, imagens, pensamentos, discurso interno, desejos, sentimentos e self.[...]
 Se a consciência é um fenômeno de múltiplas faces, e algo complexo como o mesmo autor afirma, logo isso refletirá na recepção da mensagem, pois, este processo nem sempre se dá de forma completa, devido as particularidades de cada sujeito. O homem apresenta diferentes visões, conceitos, concepções, crenças e valores que refletem na recepção da linguagem, uma vez que esses aspectos interferem na aceitação ou não do que se fala, sobretudo, o juízo de valor. Assim, a linguagem se caracteriza como sendo um processo que se manifesta imperativamente, de forma subjetiva e filosófica, por conta das escolhas pessoais, sociais, lexicais que se conflituam com o universo do outro. 
A linguagem é por excelência um sistema interacional, uma troca de intenções e objetivos, cujos símbolos se tornam palavras, e os sujeitos se empenham em torná-las significativas para o outro, caracterizando assim o aspecto dialógico da linguagem. Ela não se realiza no abstrato das relações, tampouco, sem uma concepção acerca do outro, das experiências que transformam ele em um sujeito social.
Na perspectiva de Flores, a consciência humana não pode ser analisada de forma limitada, desprezando a inconsciência e a subconsciência, pois elas são intrísecas ao sujeito, portanto partes do processo de formulação das ideias de cada um. Nisto consiste para ele, a complexidade de se estudar a consciência enquanto vetor da linguagem, por mesclar ações conscientes, inconscientes e subconscientes, até mesmo pelo fato da racionalidade das ações se entrelaçarem com a subjetividade em diferentes situações, pois as ações equilibram-se neste constante e inconstante agir humano. 
À medida que o homem toma consciência de si e do mundo, ele é capaz de gerar a linguagem nas suas múltiplas formas, estando ou não em um estado pleno de consciência, pois ele é conduzido a construir formas de inserção no mundo e isso só se realiza por meio da linguagem. Isso porque, ele já nasce com essa capacidade de estabelecer a linguagem.
 Flôres ressalta que consciência e linguagem percorrem o mesmo caminho, portanto, faz-se necessário um estudo voltado para isso, a psicolinguística, que se formaliza a consciência linguística. Assim ele afirma “A necessidade de investigação a respeito da consciência sobrea linguagem, contudo, não se manifesta de pronto na aquisição da fala”. (FLÔRES, 2009, p. 59). De acordo com ele, a fala é apenas um instrumento mediador, pois a consciência torna-se imperativa e no momento em que a criança é conduzida a relacionar som e imagem, portanto, uma questão para além do ato de fala, pois esta, se dá como necessidades de inserção e não especificamente de consciência. (FLÔRES, 2009, p. 60). 
Em decorrência da dissociação estabelecida, restaurar os vínculos entre consciência e linguagem é uma tarefa complexa, demandando reflexão mais detida sobre exclusões e silenciamentos, explosão teórica e fragmentação do conhecimento. (FLÔRES, 2009, p.61)
	Observamos que as palavras do autor corroboram a complexidade em torno do estudo da consciência	 humana, e em se tratando da linguagem, isso requer estados de reflexão que permitem entender de que forma os aspectos sociais e individuais esboçam um quadro analítico, considerando o homem em toda a sua complexidade e globalidade. Neste sentido, Flôres comenta que é impossível dissociar individual de social, uma vez que a mente humana percorre ambos os caminhos, observando os esquemas sociais, estabelecendo relações entre representatividade e realidade, para assim formular seus discursos perante o mundo. 
	Notemos na assertiva seguinte, que as palavras do autor refletem argumentos que não podem ser pormenorizados, pois eles inferem vários questionamentos e servem como pauta das relações conflituosas entre fala, mundo, mente, intenção, linguagem. Sabemos que a linguagem tem uma representatividade para o homem, ela é o principal meio de transformação do eu e do meio em que o homem se encontra. A linguagem alimenta o mundo e faz dele um caminho possível para possuí-lo, assim ele questiona-se 
se o conhecimento é individual e socialmente produzido, como se estabelece a relação entre o individual e o social, no cérebro do indivíduo? O conceito de representação pode, realmente, ser descartado? Se existem representações, quais são elas? Existem apenas – imagens, proposições, modelos de mundo – tais como o propuseram os psicólogos cognitivistas, através das hipóteses teóricas até o momento ventiladas? E, as experiências sociais, coletivas, enfim, não deixam registros quaisquer na mente?
	O homem não vive num contexto figurativo de sua imaginação, ele é fruto da - e para a realidade, que se corporifica nas relações sociais, cujo papel da linguagem é permitir que ele alcance sua plenitude humana com base no que esta pode lhe proporcionar num mundo das ideias e das coisas. Linguagem e mundo se entrelaçam de maneira única, pois as representações que o homem faz dos símbolos ele representa pela linguagem e externa para o mundo. Não se pode pensar individual e social de forma separadas, pois o homem só se realiza no mundo, por meio das ações verbais,esboçando um quadro cognitivo social da linguagem. 
	 O conhecimento é um processo cognitivo que advém da linguagem, ele se estabelece nas trocas sociais, fruto das representações articuladas na mente humana. A representação é fruto do pensamento humano, uma ação psicologicamente cognitiva. A linguagem não nasce de forma aleatória, ela é um processo sistemático que se inicia seu processo cognitivo de percepção que preexiste à fala, portanto configuramente cognitivo, tal como pode ser observado nas palavras de (FLÔRES, 2009, p. 63)
Indo um pouco além, seria o caso de questionar, se o que existe na mente humana são representações, ou se existe unicamente ativação vetorial. Mais, ainda. Será que é necessário persistir cultivando a concepção representacional da linguagem? Não seria mais adequado explicar a significação através de processos linguístico-cognitivos apenas?
	O questionamento acima revela o quanto a linguagem é um processo cognitivo-intencional, portanto social, pois ela não será apenas um processo fonológico e gráfica, mas um processo de caráter social que permeia todas as etapas racionais do ser humano. Cabe aqui reportamo-nos às reflexões de Vigotsky acerca do cunho social da linguagem. Na concepção vigostiana a linguagem é um processo essencialmente social, instância máxima em todos os seus estudos. Assim, podemos dizer que a concepção humana é intrinsicamente social.
2.1 A Consciência humana a partir da verbalização das ideias: 
	
	Nas reflexões de Flôres (2009), na atualidade, o comportamento verbal é a principal via metodológica para o estudo da consciência humana, pois o homem movimenta-se no plano cognitivo e social da linguagem. Isto caracteriza a natureza dialógica da linguagem e também assinala uma significativa contribuição para os estudos psicolinguísticos, que muito se discute acerca do aspecto dual inconsciente-subconsciente. O autor afirma que a fala é o primeiro comportamento consciente, pois o homem pensa que sua fala não revela um comportamento, ela já é em sí revela esboço consciente e intencional, que se autorealiza, como bem comenta o autor na seguinte assertiva
A questão da consciência linguística é, em vista disso, extremamente relevante, pois mesmo quando o falante seleciona criteriosamente o que dizer para obter determinados fins, não tem consciência de que a linguagem é ação dele em relação ao outro. Os indivíduos, de modo geral, fixam-se nos fins que têm em mente e usam a linguagem para obtê-los, não avaliando a ação realizada pelas próprias palavras. Por isso mesmo, raras vezes a linguagem torna-se objeto de atenção em si e por si mesma. (FLÔRES, 2009, p. 70)
Dada essa consciência linguística, cunhada pelo ato verbal, permite-nos inferir que a linguagem é além de uma faculdade mental, um complexo interacional que nasce do pensamento e engloba-se a aspectos exteriores que a auxiliam na representatividade e na significância para o outro, num contexto que ora ou outra está em constante transformação, e que inferi sobre ela, sobre o homem e seu interlocutor.
Essa natureza social é o grande diferencial no entendimento dos caminhos que percorrem a linguagem desde a mente até o diálogo. O homem é naturalmente social e híbrido, à medida que evolui socialmente, ele depende da palavra e faz dela sua principal atividade social, seja consciente, se considerarmos que ela se manifesta por meio de um objetivo definido, seja de forma inconsciente, quando a criança ainda desconhece a carga representativa da linguagem.
Ainda sobre esta ótica, o autor ressalta que a atividade metalinguística requer um estudo criterioso, do exercício pleno da consciência humana, processo este inicia desde a fase de apreensão dos vocábulos, até a leitura como ato social. O processo da linguagem se dá em várias etapas e em diferentes contextos, sendo necessário a ação humana concretizá-la como o único e capaz de produzir sentido para si e para o mundo. Embora, seja complexo o estudo em torno da linguagem partindo dos pontos da consciência enquanto estado que principicia a linguagem, esta é de suma importância para o homem, uma vez que ele só se reconhece sujeito social em toda a sua completude filosófica, cultural e social se faz da linguagem o principal ramo de reconhecimento de si e do seu meio social. 
3. PENSAMENTO E LINGUAGEM: AS CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET E DE VIGOTSKI.
3.1 A linguagem como produto sensório-motor e imagem mental
As relações humanas concretizam-se por meio da linguagem. O pensamento é princípio norteador de toda ação verbal, haja vista que sem essa primeira ação, a linguagem não se realizaria. Pensamento e linguagem são frutos das observações, experiências, reflexões e interações sociais. Eles são atos e por serem atos nascem do lado consciente e inconsciente do ser humano. 
A psicologia contribui significativamente explicando de que maneira nossas ações são esquematizadas e posteriormente aplicadas às nossas necessidades de interação permanentemente. Neste sentido, desde crianças somos expostos ao meio e condicionados pelo o que ele nos oferece, assim passamos a desenvolver ações para que haja o desenvolvimento e aperfeiçoamento da linguagem. Destas operações particulares e coletivas que desenvolvemos instrumentos, ou melhor, apropriamo-nos dos símbolos, sejam eles linguísticos ou imaginativos para realizarmo-nos como “ser” com a presença do “outro”, que também capta, internaliza e externa estes construindo assim o processo comunicativo, ou seja, aprimorando a linguagem. 
Dito isto, percebemos que essa discussão entre pensamento e linguagem atravessa caminhos psicológicos, filosóficos, e de juízos de valor uma vez que há o reconhecimento de nós enquanto sujeitos, pois precisamos interagir, observar, dialogar, questionar e isso permite nosso desenvolvimento, construção de nossa cultura, valores, desejos, como estratégias de socialização e de tomadas de nossas ações. 
Partindo desse pressuposto, observamos que o processo de construção do pensamento é o primeiro ato espontâneo que propiciará a formação da linguagem. Estes estágios pelos quais passamos e aperfeiçoamos ao longo da vida. Diante do exposto, trazemos para esta discussão as reflexões de Montoya (2006) acerca das origens do pensamento e da linguagem com base nos estudos de Piaget que desenvolveu observações consideráveis sobre a origem do pensamento e da linguagem em crianças nas décadas de trinta e quarenta. 
Segundo Silva, nos trabalhos piagetianos há uma discussão entre o universo social - se a linguagem é fruto das interações sociais, ou se é de caráter orgânico-psicológico - estruturas mentais são formadas a partir de fatores endógenos e exógenos. O professor afirma que a pesquisa dos anos 20 tem um caráter interacional-linguístico, pois estes originam a formação da linguagem, ou seja, através de uma sociabilidadade é que as crianças adquirem a linguagem, enquanto que de 30 e 40, acredita que esta origem é profícua de fatores sensório-motores da criança, fruto de uma atividade constante como sujeito. (Montoya, 2006, p. 119-120).
Dessa forma, vimos que há uma relação conflituosa entre a origem destes, pois conforme o mesmo autor existia uma visão apenas de estruturas sociais, desprezando os aspectos psicológicos, reais, etc. É notório que o aspecto social-interacional é importante para o entendimento acerca desses aspectos intrínsecos ao ser humanos, mas não podemos desprezar que outros elementos ainda mais interiores e enraizados no nosso subconsciente originam a linguagem, como comenta Montoya (2006, p.120).
Assim, segundo as tendências atuais, a questão não é estabelecer até que ponto o indivíduo é socializado (pois ele o é desde o seu nascimento e segundo modos bastante diversos), mas discernir se, entre as estruturas orgânicas e as estruturas sociais – mas não exclusivamente sociais –, existem estruturas “gerais” ou comuns a todos os indivíduos membros da sociedade e explicar as interações entre as realidades - estruturas - biológicas, psicológicas e sociais.
Vimos que os caminhos piagetianos acerca dasorigens do pensamento e da linguagem estão para além da visão social. Para Montoya, deve-se considerar todo o universo humano, todas as suas manifestações pessoais, ou seja, todos os aspectos externos e internos do ser humano. Isso leva-nos a adentrar no campo do conhecimento humano, como ele realiza-se, que aspectos ou elementos permitem a construção do ser e como ele externa seu pensamento e constrói sua linguagem perante o que vivencia, pois ainda há lacunas, segundo o próprio Piaget e estas, só podem ser preenchidas se buscarmos descobrir como o conhecimento se constrói, dada a necessidade de descobrir-se como a linguagem e o pensamento configuram e efetivam essa questão. 
De acordo com Montoya (2006), sempre existiu uma grande preocupação de Piaget em explicar como ocorre a transmissão das ideias de forma clara e objetiva, para que o outro possa absorvê-las, e assim construir o conhecimento, assim entender qual a função da linguagem para que isso se dê de forma clara e objetiva (Montoya, 2006, p. 123). É a partir desse princípio que segundo esse autor, Piaget inicia sua pesquisa em torno da linguagem e do pensamento em crianças, ele busca investigar como se dá a passagem do egocentrismo infantil para a objetividade das ações, o sentido lógico do processo, e nesse percurso que se realiza a linguagem, pois ela que desempenha a função lógica das ações. (Montoya, 2006, p.123). 
Acerca dessa passagem podemos entender como o processo lógico, esse que segundo esse autor, está estreitamente relacionado à linguagem socializada, isto é, à linguagem ao fruto das interações sociais, cujas ações são compartilhadas por todos em que a parte verbal é construída, a partir de um ato provocativo que instrumentaliza outra ação, uma vez que é provocada pelo outro membro do meio social. 
Desse modo, fica claro que vários aspectos possibilitam a construção desse pensamento, principiando assim, as primeiras ações de linguagem, pois os fatores culturais e sociais são na ótica piagetiana os agentes principais para a formação do pensamento que posteriormente desencandeiam a ação linguística, como observamos nessas palavras, 
“Não se pode deixar de destacar que a explicação da evolução se encontra fundamentalmente no processo de socialização do pensamento, o qual implica uso de conceitos provenientes da linguagem verbal que liga o pensamento às palavras”. (Montoya, 2006, p. 121). 
Isso mostra que o pensamento piagetiano considera importante a base social nas relações existentes, em que as crianças progressivamente vão vivenciando e construindo de forma lógica, saindo do seu egocentrismo para o as observações do mundo lógico, conforme afirma, 
(...) obedece em grande parte ao fato de que a inteligência, precisamente porque se socializa progressivamente, procede cada vez mais por conceitos, em virtude da linguagem que liga o pensamento às palavras, enquanto o autismo, precisamente porque permanece individual, continua ligado à representação por imagens, à atividade orgânica e aos movimentos. O fato de contar seus pensamentos, de transmiti-los aos outros, ou de calar ou falar somente consigo mesmo, deve ter, portanto, uma importância primordial na estrutura e funcionamento do pensamento em geral, da lógica da criança em particular. (1999, p.43)
Tal afirmação demonstra que o pensamento nasce desses compartilhamentos e isso gera a capacidade de concretizar-se verbalmente. Montoya salienta que as pesquisas piagetianas limitam-se ao reducionismo social (Montoya, 2006, p. 121-122), pois nessa fase dos estudos Piaget, esse não considera as questões internas ligadas as raízes psicológicas, pois essas propiciarão novas condutas em relação à fase pré-verbal, em que símbolos e imagens mentais terão grande importância para a efetivação do pensamento e posteriormente na linguagem.
Montoya afirma que as pesquisas de trinta e quarenta visam mostrar como o pensamento é construído a partir das ações gerais e da linguagem como prática simbólica. Para tanto, cita o trabalho de Piaget, “O Nascimento da Inteligência da Criança” que pode ser representada a partir do seguinte esquema: ações captadas - processamento - assimilação - (Montoya, 2006, p. 122), ou seja, como os signos serão assimilados por meio de um processo evolutivo. Nessa fase (sensório-motor), segundo as palavras de Montoya, a inteligência da criança concentra-se em dois momentos: um inato e um ativo, em que a criança por meio de ações imitativas e coordenadas constrói imagens mentais e essas irão proporcionar a linguagem. 
No que se refere às imagens mentais, o autor discorre acerca das etapas no período sensório-motor, cuja ação da linguagem encontra-se atrelada à constituição da capacidade humana de imitar, assimilar, internalizar, coordenar e externar, isto é, por meio de fases. (Montoya, 2006, p. 122-123). 
No que se refere às estruturas construídas pela criança no período sensório-motor, Montoya diz que ela é fruto de um processo imitativo e coordenado que permitem a construção das imagens mentais, configuradas em representação simbólica. Os atos imitativos permitem essa construção pelo produto do pensamento que internalizado em meio as ações imitativas geram conceitos que ao longo da vida irão manifestar-se por ações de linguagem. As imagens mentais surgem então como símbolos, construídas progressivamente, como observamos na assertiva seguinte, 
Assim, o duplo processo de interiorização da coordenação dos esquemas sensório-motores e da atividade imitativa é condição prévia para a constituição da função simbólica, isto é, da capacidade do sujeito de diferenciar significantes de significados. (MONTOYA, 2006, p. 123).
Essa dupla atividade que a criança realiza mentalmente por meio das ações que agem sobre ela e de suas observações, transforma-se na capacidade de interiorizar o que observa e impulsiona gestos imitativos que permitem a construção de significantes, ou seja, a imagem. Esses significantes internalizados permitem que a criança gere conceitos acerca de suas imagens mentais. Acerca destes conceitos, esses estão estritamente relacionados com a condição verbal, cujo processo imitativo e assimilatórios foram aperfeiçoados durante toda a fase sensório-motor (Montoya, 2006, p. 123). 
Finalizada essa etapa de abertura para o caminho conceitual das imagens mentais, Montoya afirma que essa transição se caracteriza pela linguagem que se manifesta de forma mais consistente nessa fase. A passagem dos esquemas sensório-motores para os esquemas conceituais são possíveis pela formação da imagem mental, que internalizada permite as primeiras ações verbais. O autor enfatiza ainda que nessa fase inicial da linguagem Piaget associa-lhe a questão do pensamento socializado, tendo em vista a criação também dos conceitos, assim Montoya afirma: 
É evidente que a linguagem, nesse nível inicial, participa no processo de socialização do pensamento, visto que permite trocar informações e colocar em correspondência pontos de vista, e nesse sentido possibilita o processo de conceptualização. (MONTOYA, 2006, p. 123).
Isso está relacionado à questão do coletivismo, haja vista que a linguagem não é abstrata e nem singular, se realiza na pluralidade das ações humanas, no sair-se de si e ir em direção ao outro, interagindo e socializando suas imagens mentais, formulando conceitos para que os esquemas mentais deslocam-se da zona central para descentralizar-se, ou seja, socializar-se, nessa capacidade nata do ser humano que faz da linguagem um processo desmitificador e revelador dos seres e principalmente da linguagem como lógica verbal que configura e mantém viva as relações humanas, sejam elas estáveis, compreendidas ou não. 
Nessa evolução a idéia de socialização se encontra intimamente relacionada com a cooperação: socializar significa compartilhar noções e signos com uma comunidade de falantes e ao mesmo tempo distingui-los das próprias idiossincrasias e dos pontos de vista particulares. (MONTOYA, 2006, p. 124)
Esse deslocamento da região endógena para a exógena, do descentralizar do seu“eu” sua região que propicia os processos evolutivos e de formação das imagens mentais, atuam significativamente sobre a linguagem e nisso que reside a socialização que culmina na “solidariedade dos processos internos e externos, enquanto aspectos indissociáveis e irredutíveis da ação humana” (MONTOYA, 2006, p. 124).
De fato, as reflexões até aqui empreendidas acerca do pensamento e linguagem demonstram que essas ações possibilitam o compartilhar das ideias, observações, vivências, ou seja, as trocas sociais e a formação humana tanto quanto as de juízo também, dos valores que ao longo do processo evolutivo para a formação da linguagem, que correspondem sem dúvida o ato de socializar-se.
Destarte, percebemos que a origem da formação e do pensamento tem pontos ligados ao meio social, este que contribui revelando valores, impondo padrões, estabelecendo regras, moldando o homem em toda a sua esfera humana de forma, proporcionando assim o desenvolvimento social e intelectual, pois com as trocas sociais o homem oferece e recebe ensinamentos e os internaliza para a sua condição humana.
No que se refere a essa condição humana que favorece a linguagem, Montoya destaca que Piaget tece severas críticas as correntes empirista e positivista, pois para esta não há pensamento que se processe logicamente, tampouco se deve ao meio social isso. Na concepção positivista, não há um processo sistemático que conduza a formação do pensamento e posteriormente da linguagem, pois, “Contrariamente ao empirismo e ao positivismo lógico, observa-se, na formulação de Piaget, uma verdadeira construção endógena dos conceitos”, ou seja, de dentro para fora do indivíduo. (MONTOYA, 2006, p. 126).
As raízes do pensamento e da linguagem suscitam reflexões pertinentes e esclarecedoras para que se entenda o ponto-chave das experiências mal sucedidas na comunicação humana, uma vez que isso resvala sobre questões psíquicas, sociais, culturais resultantes de um processo interacional que nasce da fase sensório-motor até a de aquisição e assimilação das imagens mentais produzidas pelas crianças, transferidas e vivenciadas ao longo da vida mediante a uma série de processos muitas vezes contraditórios, de juízo de valor e padrões nem sempre compartilhados por um mesmo grupo de entes, além do mais podem ser proferidos de forma ineficaz, dificultando o contexto de comunicação. 
 O processo indiscutível e irrefutável piagetiano permite-nos inferir que uma forma possível para tentarmos alcançar o entendimento do discurso do outro, talvez seja necessário despojar-se do seu mundo para adentrar ao mundo do outro, pois assim abrimos um processo de abstração do seu “eu” e absorvendo o conhecimento do outro e assim estabelecer uma relação de compartilhamento e deciframento do signo linguístico.
Não obstante aos comentários tecidos, apresentamos as reflexões de Silva (2006) acerca das visões divergentes entre Piaget e Vygotski acerca do pensamento e da linguagem. Enquanto para Montoya o pensamento e a linguagem são operações em que suas raízes estão diretamente relacionadas com o meio, pois esse opera de forma significativa sobre o sujeito, para Silva o pensamento realiza-se por meio de um processo de interação com o meio, em que há presença de fases, tal qual o protagonizado por Piaget, como observamos “pensamento como um processo contínuo de adaptação do organismo ao meio, marcado por várias fases, os chamados estádios” (SILVA, 2006, p. 8-9). 
É possível então estabelecermos um paralelo entre os estudos, partindo do elemento- meio social, já que ambos consideram o vínculo deste com a origem do pensamento e da linguagem, pois esse contato edifica a socialização do pensamento e consequentemente, dos atos linguísticos. Nesse sentido, é um sistema indissociável do meio, além de sua complexidade dos seus atos performáticos, como podemos observar,
Esta é uma teia complexa e parece empreendimento voltado ao fracasso analisar qualquer um destes aspectos em separado. No entanto, eles vão surgindo em etapas propiciadoras, e vão predominando uns sobre os outros ao longo do tempo da existência humana (SILVA, 2006, p. 9)
Para Silva (2006, p. 11) a linguagem caracteriza-se pelo ato da representatividade. Ele afirma que esta tem relações com a inteligência na fase pré-operatória, cujo desenvolvimento da mesma possibilita a capacidade de representar (fase das ações concretas), isso porque para essa linguagem só é efetivada devido essa capacidade de representar, em que a criança adquire ao longo do desenvolvimento da sua inteligência desenvolver mecanismos representativos de um objeto presente ou não em que a cognição está atrelada à função simbólica da linguagem, Piaget (apud Silva, 2006, p. 11).
Essas operações são frutos de processos cognitivos, assimilatórios, em que a criança desenvolve-se interagindo com o meio, ou seja, por ações que estimulam a inteligência, pois para Piaget a inteligência é decorrente desses processos e fases que se complementam e efetivam o desenvolvimento linguístico.
Há também uma visão diferenciada apresentada neste texto de Silva (2006) acerca da linguagem, que diz respeito à Brunner (apud SILVA, 2006, p. 14). Para o autor, a linguagem fundamentações com a questão cultural, das vivências e valores formados socialmente. Percebemos que esta visão é de ordem cultural e filosófica, e estes podem ser fatores que predominem e determinem uma interação verbal mal sucedidas. Sabemos que os seres humanos se diferenciam entre si justamente por conta de suas vivências, conhecimento de mundo e de valores, entre outros que trazem consigo culturalmente e eticamente também. 
Ainda podemos acrescentar a esses fatores, as questões de caráter social, como no caso, a classe social. Indivíduos da mesma classe possuem maiores chances das trocas comunicativas serem efetuadas com sucesso. Por estas razões é possível inferirmos que todos estes fatores influenciam no ato verbal, podendo ou não acarretar prejuízos ao ato verbal no sentido do entendimento pleno da mensagem. Os valores construídos por cada sujeito são diferenciados, desse modo, presenciamos ou vivenciamos interações verbais mal sucedidas, uma vez que, todos os aspectos elencados anteriormente operam no ato comunicativo impedindo, muitas vezes, que a comunicabilidade seja de fato, clara, objetiva, em que ambos alcancem o entendimento do discurso.
É através da linguagem que o mundo circundante faz sentido, ganha uma dinâ-mica própria. A linguagem permite ao homem possuir uma cultura, uma técnica, uma educação, dotando-o, em termos de identidade, de uma coerência interna, e de uma coerência lógica. Tais dimensões, no seu sentido mais amplo, dão pelo nome de civilização, e é a linguagem que agregará todos esses limiares vivenciais numa única realidade. (SILVA, 2006, p. 15).
Para Brunner a linguagem é uma ferramenta que permite as relações humanas. É por meio dela que é possível realizar-se culturalmente, extraindo valores, construindo-se como seres capazes de inferir, instaurar-se por meio do discurso, como podemos observar nesta assertiva “no estudo do desenvolvimento humano no quadro da cultura, através das ‘ferramentas’ da linguagem, em busca do espírito humano e numa perspectiva educativa” Brunner (apud, SILVA, 2006, p. 15).
Ainda mais enfático em sua palavra,
a linguagem é vista como uma ferramenta essencial que serve de escopo aos valores, ideologias, padrões, costumes e ritos de uma determinada cultura. A linguagem é também ela condicionadora dos processos de ensino-aprendizagem e determinante por tal facto do próprio desenvolvimento humano. Brunner (apud SILVA, 2006, p.16).
As palavras de Brunner propõem uma visão instrumentalizadora da linguagem, pois para ele, a mesma é uma ferramenta que permite conhecer-se e conhecer os outros interlocutores, fazendo dela um instrumento de experiências, de exposições, de traços culturais, éticos e acima de tudo ideológico. 
Além dessas importantes reflexões, Silva comenta também acerca das diferenças conceituais existentes entre as visões de Piaget e Vygotskicom relação à linguagem e ao pensamento. Vygotski contrapõe a visão de Piaget, pois segundo ele, a linguagem é de cunho universal que abrange uma série de fatores que não são atingidos espontaneamente, ou por processos imitativos, mas provocados pelo meio, bem como apreendidos intencionalmente. Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 16). O mesmo respeita a questão estruturalista empreendida por Piaget, entretanto, não credita somente as fases (estádios) como etapas que permitem a aquisição da linguagem, mas de uma série de aspectos e fatores que quando compartilhados possibilitam o desenvolvimento do intelecto humano e consequentemente a linguagem como forma concreta desse conhecimento. Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 16).
Esse caráter universalístico, é assim observável,
É esta experiência gradual de vivências que levam a criança a fazer a aquisição das funções intelectuais. Nestas, o autor vai distinguir as funções elementares ou naturais como a memória, a atenção, a vontade e a percepção; e as funções elevadas ou culturais, que surgem desta transformação gradual das funções mais elementares. Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 17).
	Dessa forma, pensamento e linguagem na visão vigostiana corporifica a suma da universalização, que se efetiva gradualmente por meio do compartilhamento, das interações sociais, entre outros aspectos possibilitando por meio dessas experiências, por vezes nem sempre harmoniosas, desenvolvendo assim o intelecto humano. 
	Silva também pontua uma questão problemática, da relação da psicologia com as raízes do pensamento e linguagem. De antemão, a psicologia deva ter sua parte contribuidora para as pesquisas de Piaget, assim como a de Vygotski. Desse modo, Silva comenta que Vygotski aborda essa questão na sua obra Pensamento e Linguagem ao inferir que no que concerne a essa relação, a psicologia contribui por desmitificar que essa ciência não atua sobre a questão da formação do pensamento e linguagem, pois para o autor a ideia e palavra forma vistas como termos separados isolados das funções psíquicas, como ele afirma na assertiva seguinte: 
 Este vínculo entre os dois termos foi, segundo o autor, muito mal visto pelas “abordagens atomicista e funcionalista, por privilegiarem a aná-lise das funções psíquicas como entidades isoladas”.39 Ora, o caso é que os psicólogos, ainda que concordem com o estabelecimento da unidade de consciência e com a inter-relação de todas as funções psíquicas acabam por “sistematicamente ignorar as relações interfuncionais”. Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 17)	
	Logo, essa acepção contradiz aquilo que perpetua a visão vigostiana, pois as funções cognitivas mantêm uma relação de significância absoluta com a formação do pensamento e linguagem, haja vista que, no que concerne à ideia e a palavra, para Vygotski, esses termos fazem paralelo com pensamento e linguagem, assim ele diz: “No pensamento verbal tal unidade indivisível só pode ser encontrada no chamado ‘lado interior da palavra’, ou seja, no seu significado. Conceito esse que foi, afinal de contas, critica Vygotski, sempre negligenciado.” Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 18). E que Vygotski enfatiza que a questão psicológica tem profunda relação com o pensamento e linguagem, ao afirmar que,
o aspecto psicológico do significado assenta em dois reinos, a saber: o da linguagem e o do pensamento. O significado, ao ser simultaneamente pensamento e linguagem, pode ser perspectivado como fenómeno de natureza verbal e como fenómeno cognitivo. (SILVA, 2006, p. 18).
	Vygotski preocupou-se em explicar essa relação, pois ele acredita que o pensamento verbal é oriundo do interior da palavra (Vygotski apud SILVA, p. 18) e nomeia que o pensamento verbal é proveniente da relação ideia/palavra, pois estes elementos são oriundos de processos cognitivos e por isso não podem ser vistos isoladamente do contexto psicológico, haja vista por suas funções psíquicas. 
	Na visão vigotskiana, a função primordial da linguagem é a comunicação. A linguagem é antes de mais um meio de partilha social, um meio de conversação e de compreensão” (SILVA, 2006, p. 19), portanto, frutos de processos cognitivos e que concretizam a ação verbal, ou seja, a comunicação, pois, “O significado, ao ser simultaneamente pensamento e linguagem, pode ser perspectivado como fenómeno de natureza verbal e como fenómeno cognitivo”. Vygotski (apud SILVA, p. 19). 
Dito isto, é possível inferir que não há como pensar na linguagem enquanto significado que gera a ideia e palavra, serem concebidos fora do campo da psicologia, uma vez que esse é o ponto inicial que rege as funções cognitivas, portanto, de desenvolvimento humano que é aprimorado no centro das relações culturais, sociais e humanas que regem a comunicação. 
Segundo Silva, a comunicação além dessa relação complexa que a envolve com a psicologia na visão de Vygotski, ela é quem permite que as partilhas sociais e culturais que efetivam o desenvolvimento humano, dada a importância da função da comunicação, de ligar polos distintos, mas determinantes para o desenvolvimento humano, pois é a partir da cultura que padrões são construídos e fazem das trocas sociais uma forma de inserção e de aprendizado, assim (SILVA, 2006, p. 20) afirma que 
É a cultura que, em primeiro lugar, proporciona ou não as circunstâncias propícias à resolução de problemas. Nesta resolução de problemas, cabe também à cultura apontar “os modelos de padrões”, bem como a frequência em que tal sucede. Por fim, ela surge como a entidade reguladora do nível a que a dificuldade da tarefa a desempenhar pode facilitar ou atrasar a internalização dos padrões. 
E Vygotski acrescenta:
Qualquer função no desenvolvimento cultural do indivíduo surge duas vezes, ou em dois planos. Primeiro surge no plano social e depois no plano psicológico. Primeiro surge entre os indivíduos como uma categoria inter-psicológica e depois surge dentro do indivíduo como uma categoria intra-psicológica” Vygotski (apud SILVA, 2006, p. 20).
	Para o estudo e entendimento das raízes genéticas do pensamento e da linguagem, estes enquanto difusores da ação verbal, a psicologia opera de forma significativa, pois sem o entendimento das ações psíquicas do ser, esta abre as portas para o entendimento de como a linguagem se materializa e modo que se generaliza internamente no ser para que depois seja externado, assim Silva diz:
só é possível transmitir a outra pessoa uma determinada sensação ou um determinado conteúdo de consciência se esse conteúdo estiver associado a uma determinada classe ou grupo de fenómenos”.50 Ora, tal pressuposto dá pelo nome de generalização: “A comunicação pressupõe obrigatoriamente a generalização e o desenvolvimento da significação verbal”.51 Esta apreensão generalizada da realidade é feita, por sua vez, através do pensamento. (SILVA, 2006, p. 21)
Essa generalização da qual comenta Silva só pode ser entendida se levarmos em conta a realidade como elemento de observação e dissecação dos fenômenos que a envolvem e que os significados surgem como forma de entendimento que internalizados, permitem que as operações psíquicas processem e que conduzem a formação do pensamento, dessa forma a significação verbal ganha forma e estrutura-se na realidade. 
No que diz respeito aos estudos piagetianos, Silva comenta que as observações clínicas de Piaget revelam fatos de caráter distintivo no que se refere à estruturação do pensamento infantil, e que rompe com o caráter materialista e idealista oriundo da psicologia, pois são essas observações sistemáticas que dão suporte irrefutável e é nisto que o autor acredita e inaltece do labor piagetiano (SILVA, 2006, p. 22). 
Outro ponto de suma importância que Silva aborda sobre a origem do pensamento e da linguagem na infância nos labores piagetiano e vygostiano é a questão do egocentrismo, que segundo Silva é um ponto discutível e divergente para ambos os autores. Neste sentido, Silva afirma que para Piaget o egocentrismo é um ponto mediador entre o pensamento autista (não intencional) e a linguagem em si e que esseaspecto desaparece em idade escolar (SILVA, 2006, p. ). 
Em desacordo, temos a visão vigostiana. Nesta, a questão egocêntrica não desaparece mas transforma-se em discurso interior, como podemos observar no que diz Silva, “Por sua vez, o pensamento racional e intencional possui já uma natureza social, e à medida que cresce e avança,“tende a reger-se cada vez mais pela experiência e pela lógica pura”. (SILVA, 2006, p. 23). 
A linguagem egocêntrica é um patamar de transição para este cálculo de probabilidades, para esta estratégia interior que a interacção social proporciona e exige. Daí que não seja surpreendente um outro dado saído das experiências do psi- cólogo soviético, e que revela que as crianças de um nível etário superior, perante o mesmo género de dificuldades, têm um comportamento diverso das mais (SILVA, 2006, p. 26)
Cabe então inferirmos que o egocentrismo age pré-disposicionalmente para a formação futura da linguagem, operando ações lógicas e intencionais. (SILVA, 2006, p. 25). Essa linguagem torna-se então em discurso interior, ou seja, aquele que é proferido em idade adulta que só pode ser concretizado após estratégias intencionadas realizadas pelo homem. (SILVA, 2006, p. 27). 
Partindo para uma perspectiva social, que é ponto discutível e divergente entre os trabalhos de Piaget e Vygotski, vimos que os autores se divergem entre si, mas igualam-se no que diz respeito a este aspecto, o social. Se, para Piaget, o pensamento infantil se concretiza por meio da linguagem passando pelo ponto egocêntrico, e este deforma-se perante as realidades sociais, para Vygotski, o caráter egocêntrico expande-se, e possibilita o desenvolvimento do discurso interior por meio das partilhas sociais, não deformando mais agindo de maneira efetiva para a formação da linguagem na idade adulta. 
Vimos que, ambos não desconsideram o fator social como elemento ativo para a formação do pensamento infantil e mais tarde da linguagem, apenas avaliam de maneira diferente. Enquanto que Piaget a vê como instrumento de ação exterior, Vygotski vê que a ação externa é parte integrante e construtor do processo e que de forma não menos parcial como analisa Piaget. Assim diz Vygotski:
que o desenvolvimento do pensamento se efectua através da presença de três factores interligados: “da linguagem, dos meios de expressão do pensamento e da experiência sócio-cultural da criança” (SILVA, 2006, p. 31)
Diante do exposto, vimos que o egocentrismo visto desse ângulo abre brechas para que assim possamos traçar algumas inferências, ou melhor as possibilidades que nos permitem entender os fatores que influenciam na comunicação humana e que muitas vezes, estes podem impedem ou dificultar a ação comunicativa, e muito deles comprometem o entendimento entre os interlocutores. 
O egocentrismo ponto bastante discutido pelos estudiosos atua como a mola propulsora para a formação da linguagem interior, ou seja, aquela que hoje usamos intrinsicamente carregadas por fatores não só interiores, mas exteriores que acabam por desencandear numa série de fatores que influenciam e até mesmo comprometem a comunicação humana. As contribuições de Piaget e Vygotski para o entendimento desse processo complexo, porém necessário para nossa convivência humana são as bases para podermos tentar abrir um caminho possível das consequências que afligem e interferem para o entendimento total dos atos comunicativos. 
4. FILOSOFIA E LINGUAGEM: REFLEXÕES DO TRATADO LÓGICO FILOSÓFICO DE WITTEGENSTEIN
	A Filosofia desde os mestres Platão e Aristóteles tem nos proporcionado uma atividade reflexiva constante. Ela se diferencia das outras ciências pelo seu caráter crítico, visando elucidar as inconsistências das outras ciências, bem como estabelecer juízos reais do estrato humano, ela está para além dos fatos representáveis, para além da linguagem. 
	Sendo assim, o homem enquanto ser pensante formula e reproduz seu discurso nem sempre compreensível, haja vista que o outro pode não estar na mesma estrutura linguística que a do produtor, além disso, os contextos em que são produzidos refletem muito o caráter de nossas ações verbais, as realidades vivenciadas por cada um, além dos juízos de valores. 
	Nesse sentido, a filosofia adentra ao campo linguístico no sentido de elucidar se há limite para a linguagem e quando ele é totalmente perfeita, devido seu princípio representativo e nomeativo, esta inferência nos leva a pensar: há limites entre a formulação e recepção do discurso, tudo pode ser representável e expresso pela linguagem, ou ela é limitada. Se o acolhimento é satisfatório, ele é dotado de todos os recursos possíveis para a compreensão. 
	Ademais, o saber filosófico se coaduna a linguagem, quando visa entender como essa lógica se processa, se tais questionamentos são possíveis, há um problema, sobretudo filosófico, da qual a filosofia vem contribuir. Partindo desta premissa, reportamo-nos às reflexões de Hadot (2004), referente à obra Wittegenstein e os limites da linguagem. Nesta o autor nos apresenta significativas reflexões sobre esta problemática filosófica em torno da incompreensão da lógica da linguagem, a partir do Tractatus Logico-Philosophicus, este estudo tem como base reflexiva a mística e a lógica para entender se há um limite para a linguagem.
	Segundo Hadot, o tratado mostra que a linguagem é limitada, haja vista que há um princípio anterior a ela, que é inalcançável, um princípio que no âmbito da linguagem humana é limitado no discurso racional (HADOT, 2004, p. 21-22). Nesta assertiva, percebe-se a visão mística neoplatônica como instrumento de reflexão do autor, aspecto presente em toda obra. Sobre isso, vê-se na obra o aspecto divino, o Ser-Deus é inalcançável, em relação ao universo humano, e o Ser do outro, se torna o limite do discurso que eu infiro sobre ele, o limite, nesse caso, é a lógica.
	 Todavia, isto apenas abre caminho para a reflexão acerca do tratado, como observamos nessa assertiva: “mas então ele não é mais o Princípio; ou não podemos absolutamente falar dele: então o Princípio não é mais nada para nós” (HADOT, 2004, p. 22). 
	O teor místico ultrapassa os limites da compreensão do próprio autor e suas reflexões ampliar-se-ão ao adentrar na mística e na lógica do tratado, base da discussão da obra de Hadot, como podemos observar em uma das proposições que Hadot cita acerca da referida obra, “Os limites da minha linguagem significam os limites do meu universo” (5.6); 
	O tom místico das proposições de Wittegenstein revela um discurso limitado por uma força superior ao sujeito, imerso na tríade pensamento-linguagem-mundo. Isto revela que há um aspecto inalcançável em relação a linguagem, que não podemos descrever, isto já caracteriza um limite, que é superior à linguagem, vejamos: “Há sem dúvida alguma um inexprimível; ele se mostra; isso é o místico (6.522)”. (HADOT, 2004, p.22). Ademais, dada a linguagem como a única forma de se concretizar as verdades ou as falsidades, revela então uma incompreensão da forma lógica da linguagem. 
	Segundo Hadot, a incompreensão da lógica da linguagem é um problema filosófico, que cabe a filosofia descortinar e contribuir para a elucidação dos questionamentos. A atividade do pensar também é permeada de questões que se entrelaçam a linguagem como único instrumento capaz de dissecar e de exprimir por meio de discurso a lógica imaginativa, conforme Hadot, nisto consiste todo o discurso filosófico de Wittegenstein, assim Hadot infere: “A solução definitiva dos problemas filosóficos consistia, para Wittegenstein, em mostrar que eles provêm de uma incompreensão da lógica da linguagem” (HADOT, 2004, p. 24).
	Considerando a busca do sentido no discurso, deparamo-nos com a o caráter existencial do Ser e das coisas. Nesta relação conflituosa como encontrar a linguagem perfeita, se é construída por ideais tão distintos, bem como pelo caráter representativo dos signos linguísticos mediante os objetos. O discurso, a ideia é construída tendo como base a lógica gramatical. Entretanto é possível reconhecer as coisasdevido a relação entre significante e significado, mas as pessoas não, já que elas se constroem em diferentes contextos. 
	Hadot afirma que a linguagem possivelmente perfeita seria a cotidiana. Esta afirmação podemos relacionar ao fato de que esta não suscita problemas incomuns, característico ao discurso filosófico, pois a possibilidade de interpretações pessoais onde é dado um falso sentido para a linguagem, o que de fato as pessoas construíram um pensamento negativo em torno da linguagem filosófica, colocando-a como limitada, incompreensível, este é o que propõem Wittegenstein no tratado.
	 Para Hadot, o problema consiste nas más interpretações da linguagem filosófica acerca da linguagem cotidiana, que segundo ele, a linguagem cotidiana é a mais legítima representação desta faculdade humana (HADOT, 2004, p. 25). Não obstante, o problema não está no que eu penso, mas nas conclusões que chego e no juízo inadequado que construo sobre ela, pois segundo Hadot, aquilo que não compreendemos, ou não temos aptidão para falarmos, devemos silenciar, pois o indizível não pode ser dito, o que ele chama de pseudoproblemas (HADOT, 2004, p. 25-26). Vejamos claramente em uma assertiva contida no prefácio do tratado:
“Meu livro, diz Wittegenstein, trata dos problemas filosóficos e mostra – me parece- que a formulação dos problemas filosóficos repousa uma má compreensão da lógica da linguagem. Poder-se-ia resumir todo o sentido do meu livro dizendo: “o que se pode dizer pode-se dizer claramente; e acerca do que não se pode falar, deve-se calar” (prefácio). (apud HADOT, 2004, p. 26)
	O teor místico configura todo o tratado, o nos deixa claro, que o limite da linguagem não se encontra em nós, já que sobre o que eu não conheço, eu não posso falar, há um limite entre o que eu vejo e represento na linguagem pois é fácil interpretar as coisas, os fenômenos da natureza, mas não acontece o mesmo com as pessoas, sobretudo, sobre o que não consigo descrever por meio da linguagem. Assim, pretende traçar um limite exato para o pensamento, configurando o espírito positivista e empírico do tratado. (HADOT, 2004, p. 26).
4.1 Proposição filosófica, contrassenso e forma lógica: o limite do sentido
	Para Hadot, a busca dos limites da linguagem provém da ausência de uma concepção física que a relacione com elementos físicos, tal qual ocorre com os símbolos linguísticos, que para nós servem de referência dessa habilidade humana e que se relacione de fato com a realidade, com a noção de mundo (HADOT, 2004, p. 26). 
	Para o autor, pensamento e realidade devem conter elementos comuns, partilhar de estruturas iguais, ou seja, a forma lógica. Portanto, quando pensamento e a linguagem alinham-se na mesma estrutura, e se esta conexão for possível, ela é tida como verdadeira, senão, será falsa. A forma lógica seria a relação entre a proposição e a verdade. Observamos a proposição de Wittegenstein:
Uma imagem pode representar verdadeira ou inexatamente. Se ela representa algo, ela tem um sentido possível. Se não representa nada, não tem sentido. E ela só pode representar se existe uma certa forma comum entre ela e a realidade representada. Do mesmo modo, a proposição só tem sentido se ela tem uma certa forma comum com a realidade, se tem uma forma lógica (4.01 seg.) (HADOT, 2004, p. 26-27)
	Nesta assertiva, observamos a relação existente entre os objetos, físico e lógica como aspectos intrínsecos à linguagem. O caráter metafísico da concepção filosófica de Wittegenstein, pois se imaginarmos a imagem do cavalo alado, isto não representa a realidade, são irreais, logo uma proposição falsa, pois não há relação com uma ordem física possível. 
	De acordo com Hadot, desse ponto de vista isto é um contrassenso para Wittegenstein, um fato que não pode ser representado fisicamente, é limitado pelo pensamento, em que a linguagem deixa de ter sentido, como o autor explica, “não podemos sair da linguagem para comparar a forma lógica da linguagem com a estrutura do real” (HADOT, 2004, p. 29). 
	Dito isto, percebemos as limitações da linguagem, pois não seria possível representar por inteiro a realidade. De fato, os símbolos utilizados na linguagem podem ser aplicados nas diversas realidades, contudo, devemos olhar para o símbolo presente no contexto, dada a complexidade da realidade.
	 Outrossim, as imagens geradas no pensamento pelo juízo de valor, pode ser inicialmente um contrassenso, pois, consideramos o fato do ser humano ver as coisas a partir de si mesmo, do que ele almeja alcançar. Esse mundo é gerado a partir de uma visão pessoal de cada um, pois cada um possui seu próprio mundo. 
	Embora haja um esboço da visão egocêntrica, porém, real na materialidade da vida, percebemos que a linguagem tem um sentido nesta mesma realidade, nas relações estabelecidas entre os sujeitos, na ação de dizer e ser ouvido. A forma lógica então, caracteriza-se pela materilalidade da vida, nas possibilidades que vivenciamos, pois se caracterizam por uma determinada ordem física. Hadot afirma que na concepção de Wittegenstein, o mundo se caracteriza justamente pelo conjunto de ações, da realidade dos fatos, no proferimento dos discursos que se configuram nos fatos. (HADOT, 2004, p. 27). O mundo está alinhado com a linguagem, enquanto contexto de criação e de manutenção da linguagem. Dada a complexidade do sentido dos nossos discursos, e do entendimento da forma lógica, que caminhos podemos percorrer para alcançar o entendimento com base na limitação da linguagem, na realidade das coisas e das escolhas que fazemos, na sua forma lógica, no que pode ser dito e tomado como verdadeiro, ou apenas no que pode ser mostrado. 
	Segundo Hadot, uma saída possível para entender os contrassensos, como também a forma lógica da linguagem está presente na relação entre o dizer e o mostrar. Sabemos que a forma lógica se caracteriza pela relação possível entre a proposição e a verdade, entretanto, a proposição não pode representar a forma lógica, apenas reflete-a. 
	Em se tratando da linguagem, os contrassensos se tornam incompreensíveis por não estar de acordo com a ordem lógica dos fatos, eles apenas são ditos, mas não podemos ser mostrados, pois a filosofia ultrapassa essa ordem dos fatos, por isso são incompreensíveis. O mesmo acontece com a linguagem, ela tem a capacidade de dizer, de exprimir os símbolos, porém, não pode mostra-los. Sobre isso, a assertiva de Hadot: “Assim a linguagem é de algum modo, para si mesma seu próprio limite. E é com esse próprio limite que ela se choca. Mas, ao mesmo tempo, ocorre o que não pode se dizer pode, em certa medida, ser mostrado. (HADOT, 2004, p. 29).
	Para melhor enfatizar, observamos mais essa assertiva do autor: 
Não é então somente o empirismo que conduz Wittegenstein a considerar as proposições filosóficas como contrassensos; é, sobretudo, sua intuição fundamental do caráter insuperável da linguagem: não podemos sair da linguagem para comparar a forma lógica da linguagem com a estrutura do real. Para nós o mundo coincide com a linguagem: não podemos separar um do outro; nós nos chocamos aqui com uma estrutura insuperável. (HADOT, 2004, p. 29-30)
	As proposições para terem sentido e assim concretizar a linguagem não é preciso representar, ela apenas tem que estabelecer uma conexão com o contexto (mundo), para estruturar a forma lógica, com isto, Hadot, ratifica o teor místico do tratado, bem como isto suscita novas reflexões. 
	É na realidade da vida, podemos estabelecer várias linguagens, o que segundo Hadot vai de encontro ao que Wittegenstein retrata em suas reflexões, pois para ele há somente a linguagem, um limite. O que não se configura na realidade da vida, pois, nesta pesquisa não temos a intenção de falar dessas totalidades, mas de determinados contextos, no qual estou me relacionando. Trata-se de adentar no pensamento do outro, o que me parece possível somente pela constante relação desinteressada. 
	É notório que a relação mundo e linguagem deparam-se com a forma lógica e que o contexto influencia amplamente em torno disto.A linguagem tem um sentido na realidade da vida, nos discursos formados a partir da nossa vivência, a partir do que o mundo me oferece e eu o tomo como princípio regente dessa ordem lógica. 
	Seguindo esse caráter metafisico, Hadot nos mostra que o próprio método de Wittegenstein emitia discursos alógicos, ou seja, as pseudoproposições, pois se o objetivo é elucidar as incompreensões ele próprio se contradiz. 
“O verdadeiro método da filosofia, diz Wittegenstein, seria propriamente este: só dizer o que se pode dizer, logo, somente as proposições científicas – coisa, portanto que não concerne à filosofia – e, a seguir, cada vez que alguém quiser dizer algo de metafísico, demonstrar a ele que, suas proposições, alguns signos não têm significados. O método não daria uma impressão de satisfação ao outro – ele não teria o sentimento que nós lhe ensinamos filosofia -, mas este bem seria o único método correto (6.53) (Hadot, 2004, p. 32) 
	A proposição de Wittegenstein nos revela um caráter contraditório do próprio filósofo, pois de acordo com Hadot, ele reconhece que a linguagem não se limita as proposições, ela “não se limita a dizer o representável” (HADOT, 2004, p. 32). Dessa forma, observamos que não é possível então falar da metafísica de forma perfeita, mas é possível falar do outro, pois nós podemos ouvi-lo, ele pode falar de si mesmo, haja vista que isso é representável. 
	Trata-se na pesquisa de poder entrar no pensamento do outro, o que me parece possível somente pela constante, pela relação desinteressada. A filosofia quando assume o papel de representar, ela pretende saltar sobre esta lógica, pois a linguagem não exprimi a si própria, ela apenas diz, e isso compromete a realidade da vida e, por conseguinte a linguagem cotidiana, que faz gerar os contrassensos perante a filosofia. 
	Ademais, isto é plenamente percebido nas interações verbais que comumente são aceitas pelo outro, mas isso não significa que totalmente compreendida. A conclusão lógica de um pensamento pode não ter sentido nenhum com a realidade do outro, pois foi criado uma realidade que para mim pode fazer sentido, mas não para a realidade do outro.
	Observamos que isto é uma lógica da linguagem, que não há como não gerar contrassensos, o que parece que as reflexões de Wittegenstein são. Dessa forma, no plano metafísico consideramos que esses aspectos são possíveis, pois segundo Hadot para wittegenstein “a linguagem para ele não se limita a dizer o representável” (HADOT, 2004, p. 32). 
	De acordo com Hadot os desdobramentos dessas reflexões resultam nas quatro possibilidades que a linguagem pode se manifestar na visão de Wittegenstein, que de forma resumida são: representativo, tautológico ou analítico, contrassensual e indicativo. Se a linguagem com sentido é aquela que se reflete na forma lógica, porém não representável, esta forma lógica seria a maneira em que a linguagem se organiza em um determinado contexto, o que Hadot afirma que ela permite visar, ou seja, aos objetivos que pretendemos alcançar quando tomamos posse dos signos e os lançamos em proposições que quando não bem formuladas, ou incompreensíveis geram os contrassensos.
	Acerca desta questão dos aspectos possíveis em que a linguagem se realiza, Hadot afirma que para Wittegenstein, o aspecto indicativo é o uso legítimo da linguagem, pois este consiste em todas proposições existe algo que não se pode exprimir (HADOT, 2004, p. 33). Na visão de Wittegenstein a linguagem diz, mas ela não pode representar consubstancialmente o diz, e por gerar o dizer, ela é legítima por essa excelência. Neste mostra-se a estreita relação entre mundo e linguagem, que para Wittegenstein reflete em todo entendimento do mau uso da linguagem.
	Seria então as proposições em maior quantidade para alcançarmos a compreensão exata do que o outro pensa ou sente, dada a necessidade de se formalizar o diálogo. Soma-se a isto a singularidade de cada pessoa, o seu “eu” pode dar sentido a linguagem. Hadot pontua bem sobre isso: 
“Assim como os fatos complexos se decompõem em fatos indecomponíveis, também as proposições da linguagem se resolvem em proposições elementares, que estabelecem relação entre os nomes. O paralelismo entre mundo e lógica trai a ideia de insuperabilidade da linguagem. Não podemos exprimir o real de outro modo que não seja a partir do modelo de nossa linguagem” (HADOT, 2004, p. 34). 
	Imprimi nessa assertiva a ideia do solipsismo, que Hadot aponta como um dos eixos desta complexidade entre mundo e linguagem. “Que o mundo seja meu mundo, isso se mostra no fato de que os limites da linguagem (da linguagem que eu sou o único a compreender) [...]” (5.62) (HADOT, 2004, p. 34) 
	É nesta relação complexa em que o “eu” é o espaço que limita a linguagem, uma vez que eu faço parte deste contexto, e o que eu digo limita-se ao mundo que eu posso construir experiências, mas limitado pela linguagem (Hadot, 2004, p. 35). Acerca dessas experiências, estas são construídas pelos “eus”, algumas de forma semelhante que podem acarretar em conclusões totalmente diferentes, pois algumas experiências marcam tanto que passamos a valorizar a partir delas, os “eus” construídos. Além disso, o simples ato de pensar já imprimi nossos valores nas relações humanas. Entretanto para Wittegenstein, esse valor encontra-se fora do mundo, pois esse é o real valor. (HADOT, 2004, p. 36).
	Por toda a discussão filosófica do Tratado de Wittegenstein observamos o espírito contraditório que gera uma série de aspectos intrínsecos a incompreensão da lógica da linguagem, o que para Wittegenstein transcende a lógica de qualquer um, dada a substancialidade que o místico confere ao tratado. O mundo parece ultrapassar a si próprio, a um mundo desconhecido, ou seja, o indizível, não representado, mas que se reflete na forma lógica, e que para alcança-lo é preciso abandonar-se ou calar-se para entender que a lógica, está fora dessa dinâmica concebível em atos verbais que podemos dizer, mostrar e representar. Há um “Eu” superior a todo entendimento humano e lógico por natureza.
4.2 A filososfia como crítica da linguagem em wittegenstein
	Em todo o tratado, Wittegenstein enfatiza que a problemática da filosofia com relação à linguagem é a questão da incompreensão lógica desse processo, o que ele chama de proposição filosófica. Nas considerações anteriores, as palavras de Hadot nos revela um caráter intocável do tratado, ou seja, para Wittegenstein, a linguagem filosófica é um princípio inalterável. Contudo, a sequência discursiva acerca do tratado, não nos parece propriamente uma discussão filosófica acerca da linguagem, mas um discurso analítico de cada unidade que estrutura a linguagem, pautada em um discursivo neopositivista (HADOT, 2004, p. 45). 	Todavia, Hadot nos explica que o filósofo contemporâneo não se preocupa apenas em continuar em defender suas reflexões sobre o tratado, em retratar os problemas da compreensão lógica, mas em dissecar os limites do sentido na essência da linguagem (HADOT, 2004, p. 46). 	Para tanto, ele busca encontrar os conceitos da proposição com sentido, pensamento e mundo, assinalando assim todo o seu ideal positivista.
 	De antemão, sabemos que a forma lógica muito tem a contribuir para tal entendimento, haja vista que a linguagem nasce nas relações pessoais e em diferentes contextos, o que Hadot chama de “paralelismo lógico-físico” (HADOT, 2004, p. 47), ou seja, da relação existente entre mundo e linguagem, e que segundo ele parece ser o caminho mais próximo para encontrar o limite intrínseco ao sentido da linguagem. Observemos nas proposições de Wittegenstein (apud HADOT, 2004, p. ):
E, se prosseguirmos ainda ao paralelismo, ao espaço real no qual os fatos advêm corresponderá um espaço lógico no qual se situam as proposições (2.013; 3.42; 3.4; 4.0641). O paralelismo lógico-físico se explica facilmente: “A imagem lógica dos fatos é o pensamento” (prop.3); “o pensamento não é nada além da proposição com sentido” (prop.4); “a totalidade das proposições constitui a linguagem” (prop.4.001)O mundo como ambiente dos fatos estabelece a conexão entre pensamento e linguagem, onde o espaço físico é o conjunto desses fatos (HADOT, 2004, p. 47). Cada ato linguístico que proferimos reflete uma série de fatos que podem ser entendidos como as futuras construções com sentido ou não. Sendo assim, o que vai permitir que cada fato se transforme em uma proposição é a unidade de sentido pode transmitir, quando decompostos em nomes, verbos, etc. O pensamento, portanto reflete o caráter semântico da ação verbal, a imagem lógica dos fatos, logo caracterizando a proposição. (HADOT, 2004, p. 48). 
	De acordo com Hadot, as relações são estruturadas partindo desse princípio das raízes lógicas do pensamento, em que ele se alinha aos fatos e estes se interligam aos objetos. Neste sentido, o espaço físico (mundo), não representa os objetos, mas um todo que incide sobre a essência do pensamento. Partindo para uma visão estrutural linguísticas, os signos formalizam as proposições, em que elas assumem o papel na logicidade do construto real das ações verbais, uma unidade de sentido, imagem (significante) e conceito (significado), produto da visão semântica do processo linguístico. 
	Outrossim, sabemos que a linguagem não nasce aleatoriamente, portanto, já podemos estabelecer um sentido para ela, pois percorre um longo caminho até a concretude nos discursos, um organismo vivo que tem como suporte os signos e símbolos, que partindo de uma reflexão filosófica, são os fatos que pretendemos descrever através das proposições que refletem a essência do pensamento. Desta forma, a linguagem não é construída no abstrato das relações humanas, os contextos, seja familiar ou profissional incide sobre os nossos atos de fala. Apossamo-nos dos signos linguísticos para que ela ganhe forma e significância. No entanto, tanto os emissores quanto os receptores neste canal comunicativo, que aqui entenderemos como a parte física (mundo) e receptores constroem imagens representáveis ou não a partir muitas vezes do conhecimento de mundo e com base nos desejos pessoais. Apossamo-nos dos signos linguísticos e por meio deles construímos nossas proposições.
	Para Hadot, o simbolismo lógico é o instrumento responsável por elucidar claramente as proposições com sentido, pois como ele comenta: “Se reconhecemos que o objeto a tem a relação R com o objeto b, a proposição aRb terá uma estrutura similar ao fato”. (HADOT, 2004, p. 49). O sentido, portanto, se definiria segundo Hadot, não apenas pela sua condição verificável, como expresso pelo simbolismo lógico, na relação aRb, mas quando permite essa condicionalidade entre os objetos. (HADOT, 2004, p. 50). A fim de explicar essa explanação, 
A lógica ou, mais especialmente ainda, o simbolismo lógico permitirá então determinar se uma preposição tem sentido. Uma proposição que tem uma forma lógica terá necessariamente um sentido, isto é, mostrará claramente qual estado de coisas lhe corresponde, se ela for verdadeira. E para saber se uma proposição trem uma forma lógica, bastará verificar se ela é realmente uma proposição, isto é, se os signos que a compõem tem todo um significado (critério semântico) (HADOT, 2004, p. 50)
	Na inferência acima, observamos quanto o simbolismo lógico caracteriza o sentido das proposições, contudo, Hadot, ressalta que uma má compreensão do simbolismo lógico pode contribuir para o surgimento do pseudoconceito filosófico e de objetos. Com relação ao pseudoconceito, Hadot afirma que o erro consiste em crer que um signo pode assumir apenas uma identidade, ideia pertinente ao contexto filosófico. Quanto ao conceito de objeto, este reflete apenas um valor conceitual, não pode se auto representar, pois segundo Hadot, o que se mostra na forma lógica, não pode ser dito e nem representável no simbolismo, pois a forma lógica é irrepresentável. 
	Hadot ressalta que esta concepção assinala o novo positivismo logico de Wittegenstein, que visa eliminar as proposições filosóficas, estas que expõem uma verdade absoluta. (Hadot, 2004, p. 53). As proposições lógicas não apresentam um conteúdo representativo, elas apenas atuam como elemento que explana a lógica do mundo. Se a lógica do mundo é irrepresentável, há um contrassenso, ou seja, a própria filosofia do tratado é um paradoxo, conforme afirma o autor (HADOT, 2004, p. 55). 
	Não há como separar elementos tão dependentes um do outro, visto que a linguagem só se realiza na lógica do mundo, mesmo sendo a lógica apenas um ato reflexivo, ela permite a existência dessa relação, pois não há atos de fala fora do contexto físico. Sobre isto vejamos: 
O que se mostra, em todos os exemplos, é que a estrutura lógica da linguagem corresponde a estrutura lógica da realidade, mas que eu não posso exprimir essa correspondência. A expressividade da linguagem é inexprimível. Não posso exprimi-la, porque, justamente estou na linguagem, como estou no mundo, e não posso sair dela (HADOT, 2004, p. 56)
	Os limites da linguagem nos levam a diversas direções e questionamentos, porém nem um deles nos coloca fora do mundo, ou seja, fora da lógica uma vez que é o local onde contextualizamos os nossos discursos e somos conduzidos por ele e pelas inferências do mundo do outro. Desta forma, colocar-se fora dele é colocar-se num contexto incompreensível, alógico, sem possibilidade de construir sentidos, mesmo que eu não possa exprimir os fatos e proposições pela linguagem, ela se faz necessária porque falo contido nela e no mundo. É o teor místico que permite ir por além da linguagem e pontua esse caráter do inexprimível e irrepresentável, para entender que o limite da linguagem é o meu mundo (HADOT, 2004, p. 56).
	A filosofia é um instrumento para o descortinamento das incompreensões da linguagem e também de reflexão crítica, se a representatividade está fora da lógica, ela, contudo pode ser o único caminho possível para entender que a legitimidade da linguagem ultrapassa os limites do mundo.
4.3 Wittegenstein e o cunho curativo da linguagem
	
“Não há um método da filosofia, mas há métodos, como há terapias diferentes”(§133)
	Hadot nos mostra que as discussões anteriores revelam o espírito positivista e metafísico do tratado de Wittegenstein. Neste sentido, o autor afirma que no trabalho Investigações Filosóficas, o filósofo quer nos conduzir a um exercício máximo de reflexão acerca dos problemas filosóficos que permeabilizam a linguagem, bem como o real sentido. A filosofia é vista como uma patologia da linguagem, pois segundo o estudioso, a verdadeira filosofia deve curar completamente esse mal. (HADOT, 2004, p. 61).
	Segundo Hadot, a intenção do filósofo não é mostrar sistematicamente um plano de análise, mas em revelar que o caminho positivista e metafísico até então percorrido foi insuficiente porque desconsiderou a simplicidade da lógica da linguagem cotidiana, que conforme o autor, os contrassensos e os problemas filosóficos, entre outras questões analisadas surgiram a partir da crença fiel do caráter fisicalista da linguagem. Para o autor, no tratado o erro filosófico está atrelado ao fato da filosofia buscar sempre revelar o caráter efetivo da linguagem, ela apenas deve descrevê-la. (HADOT, 2004, p. 65).
	Partindo desse pressuposto, a linguagem cotidiana agora é o ponto chave da discussão de Wittegenstein. Sobre isso vejamos na afirmação de Hadot (2004, p. 63): “Contudo, a linguagem filosófica corre o risco de ser uma linguagem que redunda ao vazio, que não está inserida na práxis, na atividade real dos homens”. 
	De acordo com o estudioso, eis o erro principal da filosofia segundo Wittegenstein, penetrar no universo linguístico que se contrapõe ao discurso filosófico, justamente por seu caráter simplório, o que causa profunda admiração e ao mesmo tempo uma estupidez quando Wittegenstein se depara com esse fato. Confirmemos então: “Wittegenstein fica repleto da mesma admiração perante a realidade familiar e simples que é a linguagem cotidiana. O Tractatus já supunha o caráter insuperável da linguagem” (HADOT, 2004, p. 64). 
	A linguagem filosófica

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