Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 10: Apocalipsismo Apresentação Nesta aula, estudaremos as condições hostis do período persa, grego e romano, e a reação judaica mediante a afirmação da Torah. Em seguida, abordaremos o surgimento do gênero apocalíptico. Por fim, debateremos o livro de Daniel, tanto os chamados contos de corte da primeira parte quanto os oráculos de Daniel, em primeira pessoa. Objetivos Esclarecer a leitura da Torah no contexto de desenvolvimento da literatura apocalíptica; Discutir o gênero apocalíptico; Identificar os temas e a estrutura do livro de Daniel. Lendo a Torah em um mundo hostil Daniel e a literatura apocalíptica foram produzidos em um mundo em crise. O domínio selêucida sobre os judeus no governo de Antíoco III foi, inicialmente, muito amigável. 198 a.C Quando Antíoco III assumiu o controle de Judá após vencer os Ptolomeus em 198 a.C., ele adotou as políticas persas antigas em relação a Judá: deu alívio fiscal à cidade e dinheiro para o templo. Mediante decreto real, deu o direito aos judeus de viverem “de acordo com suas leis ancestrais”. Mais tarde, ele sofreu a derrota para os romanos e começou a pagar pesado tributo a eles. Antíoco III morreu no processo de tentar atacar um dos templos de seu reino por dinheiro. 175 a.C Uma investida semelhante foi feita durante o reinado de seu sucessor, Seleuco IV (ver 2 Macabeus 3). Quando Antíoco Epífanes IV tomou o trono de Seleuco em 175 a.C., o seu reino foi humilhado pelos romanos e ele precisaria de dinheiro para pagar uma grande homenagem anual. Judá, nesse tempo, era um dos poucos territórios selêucidas restantes no Mediterrâneo Ocidental. Nessas circunstâncias, Antíoco IV começou a vender o alto sacerdócio em Jerusalém para o melhor pagador, algo significativo, já que o sumo sacerdote do templo de Jerusalém funcionava como um governante local e coletor de impostos para a região. 174 a.C Jasão, irmão do sumo sacerdote, pagou a Antíoco e obteve dois privilégios: o cargo do sumo sacerdote e o direito de transformar Jerusalém em uma cidade grega completa, com o seu próprio ginásio à vista do templo. 171 a.C Menaleu, membro da família de Tobias, antigo opositor de Neemias, superou Jasão, adquiriu o sumo sacerdócio e obrigou Jasão a fugir. Menaleu tornou-se altamente impopular. Os selêucidas tiveram que intervir duas vezes para restaurar o seu poder. 167 a.C Na segunda vez, Antíoco IV promulgou medidas severas destinadas a esmagar qualquer vestígio da cultura judaica: impôs a pena de morte aos judeus que continuassem a seguir as leis da Torah, e instalou um altar para Zeus Olímpico no templo de Jerusalém. O que tinha começado como uma leve tentativa de Jasão e de outros para que Jerusalém obtivesse privilégios gregos para os seus cidadãos, tornou-se uma luta de vida e morte pela continuação da observância da Torah. Representação do rei da Babilônia (ao lado do leão, Nabucodonosor) e do rei persa (ao lado do urso, Ciro, o grande). Hall da Torre da Prefeitura de Nuremberg. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/24/N%C3%BCrnberg_Rathaus_%28The_Town_Hall% ) https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/24/N%C3%BCrnberg_Rathaus_%28The_Town_Hall%29_3.jpg As visões em Daniel 7.13 foram escritas para dar esperança aos judeus nesta crise. As visões apocalípticas de Enoque e outros apocalipses históricos forneciam uma visão geral da história passada para falar do presente de crise. Nessas visões, a intervenção de Deus era anunciada de forma codificada. Podemos ver um exemplo disso na visão de quatro bestas saindo do mar em Daniel 7.3. Essas quatro bestas correspondem aos quatro principais impérios mundiais que antecederam o tempo de Antíoco IV: 1 Daniel 7.4 Os babilônios que destruíram o templo de Jerusalém. 2 Daniel 7.5 Os medos que dominaram as terras a leste de Babilônia (7.5). 3 Daniel 7.6 Os persas (7.6). 4 Daniel 7.7-8 s gregos, em particular os 10 governantes (chifres) da dinastia selêucida (7.7), um dos quais é um chifre pequeno, Antíoco IV (7.8). Depois de examinar esses quatro impérios, a visão se move para o futuro, prevendo a destruição da quarta besta grega. Daniel 7 foi originalmente destinado a dar esperança aos judeus observadores da Torah sob ameaça de Antíoco. O mesmo ocorre com os demais livros apocalípticos — eles constituem uma defesa da Torah e da autoridade divina de forma codificada em um mundo hostil. Leitura Leia o capítulo 7 do livro de Daniel <https://www.bibliaon.com/versiculo/daniel_7/> . Gênero apocalíptico A partir dos anjos encontrados nas visões proféticas de Zacarias, a combinação da revelação angelical e a escatologia transcendente (caracterizada pelo julgamento dos indivíduos após a morte) constituiu um novo campo, um novo gênero na literatura bíblica. Chamado de gênero apocalíptico, toma o nome do livro do Apocalipse do Novo Testamento. Há uma extensa literatura apocalíptica do judaísmo nos períodos helenístico e romano. Há pelo menos cinco apocalipses atribuídos a Enoque . Alguns deles são mais antigos do que o livro de Daniel. Outros são mais ou menos contemporâneos. A obra Similitudes de Enoque é mais tardia, sendo provavelmente do primeiro século d.C. 1 https://www.bibliaon.com/versiculo/daniel_7/ http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula10.html 1 Enoque Foi totalmente preservado apenas na língua etíope, mas fragmentos do original aramaico foram encontrados nos Manuscritos do Mar Morto. 2 Enoque Foi preservado em eslavo e tem data incerta, mas pode ter sido composto no primeiro século d.C. Outro conjunto de apocalipses, 4 Esdras e 2 e 3 Baruque, foi composto no final do primeiro século d.C, aproximadamente ao mesmo tempo que o livro de Apocalipse. Vários desses apocalipses, especialmente as Similitudes de Enoch, 4 Esdras e Apocalipse, foram diretamente influenciados por Daniel. Cabeçalho para o 2 Esdras da Bíblia de Bowyer, Apocrypha, publicada em 1815 - ilustração de 1812. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Triple_Eagle_2_Esdras.gif> ) https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Triple_Eagle_2_Esdras.gif Todos os apocalipses judaicos são pseudoepigráficos: seus autores reais não são nomeados. Essas obras são atribuídas a pessoas famosas que viveram séculos antes de sua redação (ou, no caso de Enoque, milhares de anos antes). Tal dispositivo dava autoridade às composições e também permitia que o vidente previsse muitas coisas que estavam acontecendo no momento em que o livro foi escrito. Isso fortalecia a confiança nas previsões reais, ao mesmo tempo em que ocultava a identidade do autor, cujas críticas ao poder estabelecido certamente constituíam um crime na visão dos dominadores. Os apocalipses se dividem basicamente em dois tipos. 1 e 2 Enoque e 3 Baruque Representado por 1 Enoque 1-36 e por 2 Enoque e 3 Baruque, descreve uma viagem maravilhosa a lugares que normalmente estão além do alcance da experiência humana, uma ascensão aos céus. Nesses apocalipses, a ênfase recai sobre a cosmologia, e o visionário tipicamente vê as moradas dos mortos e os locais de julgamento. Daniel Nesse caso, a ênfase está na história, que normalmente é dividida em um número específico de períodos (quatro reinos, setenta semanas de anos). Esses tipos de apocalipse envolvem um juízo público das nações bem como dos indivíduos, seguidos da vida ou do castigo eternos. Os apocalipses dão grande destaque aos anjos ou aos demônios, e todos afirmam existir um juízo final dos mortos. O julgamento do indivíduo é o motivo que mais claramente distingue os apocalipses da profecia bíblica. A visão do mundo encontrada nos livros apocalípticos também é encontrada em outros gêneros literários da época e é muito influente nos Manuscritos do Mar Morto e no Novo Testamento. Atividade 1. Cite ao menos três perspectivas da história na literatura apocalíptica. Daniel O livro de Daniel é excepcional em muitos aspectos. Ele éprovavelmente a última composição na Bíblia Hebraica. Como o livro de Esdras, Daniel foi escrito parte em hebraico, parte em aramaico. A edição grega do livro inclui passagens e histórias inteiras que não são encontradas na versão hebraica. Além disso, contém o único exemplo de livro inteiro da Bíblia Hebraica escrito no gênero apocalíptico, que foi de grande importância para o judaísmo nos períodos helenístico e romano, e também para o cristianismo primitivo. Bíblia grega e bíblia latina Nas Bíblias gregas e latinas, e na tradição cristã, Daniel é considerado o quarto dos principais profetas, e o livro segue os de Isaías, Jeremias e Ezequiel. × Bíblia hebraica Daniel é colocado entre os Escritos. Pode ser que o cânon dos escritos proféticos já estivesse fechado quando Daniel foi escrito. Pode ser, também. que os rabinos tenham visto o livro como tendo mais em comum com os Escritos do que com os Profetas. Daniel é um livro composto por duas seções. Os primeiros seis capítulos são histórias sobre Daniel e seus amigos, que estavam entre os exilados, deportados de Jerusalém por Nabucodonosor. A segunda metade do livro, os capítulos 7-12, contém uma série de revelações para Daniel, explicada por um anjo. Estritamente falando, apenas a segunda metade do livro é um apocalipse, mas as histórias nos capítulos 1-6 formam uma introdução que elucida as cenas da segunda parte do livro. Nabucodonosor. Pintura de William Blake (entre 1795 e 1805). (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/William_Blake_- _Nebuchadnezzar_%28Tate_Britain%29.jpg> ) Uma das estranhezas de Daniel é que a divisão por língua não coincide completamente com a divisão por gênero. Aramaico Os capítulos 2 a 7 (estritamente 2.4b-7.28) estão em aramaico. Hebraico Os capítulos 1 e 8 a 12 estão em hebraico. Parece claro que o livro foi escrito em etapas. As histórias aramaicas dos capítulos 2 a 6 devem ter circulado de forma independente. O capítulo 1 foi escrito como uma introdução dessas histórias, presumivelmente em língua aramaica. A primeira das visões, no capítulo 7, foi composta em aramaico para a continuidade dos contos. Os capítulos restantes foram adicionados em hebraico, presumivelmente por causa do fervor patriótico no momento da revolta macabeia. O capítulo inicial teria sido, então, traduzido para hebraico, de modo que o início e o fim do livro permanecem em hebraico, formando uma inclusão. Tal explicação é hipotética, mas é plausível a partir da forma do livro. As adições gregas ao livro são de dois tipos: Composições poéticas A Oração de Azarias e a Canção dos Três Jovens, inseridas no capítulo 3. As histórias de Susana (capítulo 13), de Bel e do Dragão (capítulo 14), são histórias autônomas análogas às histórias presentes nos capítulos 1 a 6. Contos de corte As histórias em Daniel 1-6 são histórias sobre judeus na corte de um rei estrangeiro e têm muito em comum com as narrativas mais breves da Bíblia Hebraica, especialmente as de José e Ester . Os contos mostram ostensivamente a história de um grupo de jovens judeus que foram deportados após a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor. Qualquer tentativa de obter informações históricas desses relatos, no entanto, encontra problemas insuperáveis. 2 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/William_Blake_-_Nebuchadnezzar_%28Tate_Britain%29.jpg http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula10.html Agora, vamos analisar alguns dos capítulos que fazem parte dos contos: Verso de abertura Menciona episódios desde o cerco de Jerusalém até o terceiro ano do rei Jeoaquim (606 a.C.). Nós sabemos de outras fontes, tanto bíblicas quanto babilônicas, que Nabucodonosor não sitiou Jerusalém até 598/597 a.C., e Jeoaquim morreu antes do início do cerco. Seu filho, Joaquim (ou Jeconias), submeteu-se aos babilônios em 597 a.C. e foi deportado para a Babilônia. Capítulo 2 Cita o segundo ano do reinado de Nabucodonosor, o que exigiria que ele tivesse conquistado Jerusalém em seu primeiro ano (um manuscrito grego resolve o problema ao datar o capítulo 2 no décimo segundo ano). Capítulos posteriores apresentam problemas que são ainda mais flagrantes. Capítulo 4 Afirma que Nabucodonosor foi transformado em uma fera por sete anos. Não há corroboração histórica de um evento tão extraordinário. Daniel 4.16 “Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e lhe seja dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos.” Capítulo 5 Apresenta um rei da Babilônia chamado Belsazar. Houve, de fato, um Belsazar histórico, que era o filho do último rei da Babilônia, Nabonido, que governou a Babilônia na ausência de seu pai. Porém, ele nunca foi rei. Daniel continua dizendo que após a morte de Belsazar, “Dario, o medo” recebeu o reino. Nenhum personagem histórico pode ser identificado com esse Dario. As histórias de Daniel, portanto, são adequadas ao gênero apocalíptico: são repletas de elementos milagrosos (a fornalha ardente, a cova dos leões). Eles são destinados a inspirar admiração e não devem ser tomados como fatos objetivos e absolutos. O nome de Daniel (Danel) foi anexado a uma figura lendária da antiguidade, conhecida pela epístola ugarítica de Aqhat, e que é mencionada em Ezequiel 14.14,20, em conjunto com Noé e Jó, como uma pessoa justa. Ele também é mencionado em Ezequiel 28.3 como um sábio (“Você é mais sábio do que Daniel?”). Esse Daniel mencionado em Ezequiel é um contemporâneo mais jovem de Ezequiel. É provável que o autor bíblico tenha tomado emprestado o nome do herói lendário e o atribuísse a um personagem judeu ficcional no exílio babilônico. Mosaico com cena de Daniel intercedendo junto a Arioco, comandante da guarda do rei, encarregado de matar todos os sábios da Babilônia depois que eles falharam em interpretar o sonho de Nabucodonosor. 1243-1248, Sainte-Chapelle, Paris. Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/92/BLW_Stained_Glass_- _Scene_from_the_Story_of_Daniel.jpg> A história de Daniel, então, não é histórica. No entanto, é exemplar. Daniel é um judeu excepcional que faz coisas que a pessoa comum deve imitar, ele modela um estilo de vida para os judeus na diáspora. Ele representa o bom equilíbrio entre a lealdade aos governantes pagãos e fidelidade a Deus e à sua tradição religiosa. Os contos em Daniel 1-6 foram escritos para apresentarem aos leitores “um estilo de vida adequado à diáspora”. Sua mensagem para os judeus no exílio é dupla: Eles devem participar da vida do mundo dos gentios e, ao mesmo tempo, devem ser leais ao rei. Porém, devem perceber que seu sucesso final depende de sua fidelidade ao seu Deus e às suas leis. Essas histórias têm muito em comum com Ester, mas são muito mais abertamente religiosas. Daniel 1 a 6 deve ter sido composto na diáspora, mas, caso isso seja correto, foi trazido de volta a Israel em algum momento. No contexto do livro, os contos dos capítulos 1-6 estabelecem a identidade de Daniel, a figura que apresenta suas próprias visões nos capítulos 7-12. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/92/BLW_Stained_Glass_-_Scene_from_the_Story_of_Daniel.jpg A maneira como Daniel é descrito pode fornecer uma pista sobre os autores que produziram essa literatura. Daniel é retratado como um homem sábio que faz as mesmas coisas que os caldeus, mas confia no poder de Deus para revelar mistérios. Ele não é um profeta típico, mas aborda os reis dos gentios. Ele não é um sábio no modelo retratado em Provérbios ou em Eclesiastes, mas possui uma sabedoria mântica — ele tem capacidade de interpretar sonhos e outros mistérios como a escrita na parede (semelhante a José do Egito). As visões na segunda metade do livro de Daniel (7-12) diferem dos contos dos capítulos 1 a 6 tanto em gênero quanto em cenário. Daniel 7 a 12 tem quatro unidades literárias, cada uma das quais relata uma revelação. 1 Capítulos 7 e 8 Visões simbólicas na tradição profética (ver especialmente as visõesde Zacarias). Em cada caso, as visões são interpretadas para Daniel por um anjo. 2 Capítulo 9 A revelação é a interpretação de uma antiga profecia de Jeremias, mas novamente a interpretação é dada por um anjo. 3 Capítulos 10 a 12 Daniel tem uma visão de um anjo, que narra uma revelação para ele. Em cada caso, a revelação é escatológica. 4 Capítulo 12 A revelação final culmina na declaração da existência da ressurreição e do juízo final. Essa passagem final de Daniel é a única passagem na Bíblia Hebraica que fala inequivocamente de uma ressurreição individual. Essa esperança também é expressa nos livros apócrifos ou deuterocânicos de 2 Macabeus e Sabedoria de Salomão, que são parte do Antigo Testamento de tradição católica, mas não estão incluídos na Bíblia Hebraica, pois foram escritos em grego. Gravura: Davi e a visão de quatro bestas. Matthäus Merian, 1630. Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/Merian%27s_Daniel_7_engraving.jpg> A configuração espacial de Daniel 7 a 12 também difere da dos capítulos 1 a 6. Os contos pertencem geograficamente à diáspora e geralmente refletem a aceitação da regra dos gentios. As visões, em contraste, estão focadas em Jerusalém e refletem um período de perseguição. Embora nenhum nome seja mencionado e as alusões sejam veladas, as visões indicam claramente a perseguição instigada pelo rei Antíoco Epífanes IV em 168-164 a.C. No tempo de Antíoco IV, suas tropas ocuparam o templo de Jerusalém e instalaram um altar pagão em cima do altar de sacrifício. O altar pagão é conhecido como abominação desoladora ou abominação da desolação tanto em Daniel 11.31 quanto em 1 Macabeus 1.54. E braços serão colocados sobre ele, que profanarão o santuário e a fortaleza, e tirarão o sacrifício contínuo, estabelecendo abominação desoladora. Daniel 11.31 Alguns judeus foram mortos por observarem a lei de Moisés (por exemplo, por terem seus filhos circuncidados) ou por se recusarem a participarem de sacrifícios pagãos. De acordo com o Deuteronômio, aqueles que mantinham a Lei deviam prosperar e viver longas vidas. Entretanto, os judeus foram confrontados com uma situação em que aqueles que quebraram a Lei prosperaram e aqueles que a observaram arriscaram e até perderam suas vidas. As visões de Daniel devem ser lidas a partir desse cenário. Já observamos que o texto grego de Daniel contém duas longas orações no capítulo 3 que não são encontradas no aramaico. O livro de Daniel em grego também contém três histórias adicionais sobre Daniel: Susana https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/Merian%27s_Daniel_7_engraving.jpg Fornece uma imagem de Daniel que é bastante diferente da que encontramos nas outras histórias. Aqui, Daniel não é um oficial real, mas é um jovem em uma comunidade judaica na Babilônia. Ele adquire proeminência por causa da tentativa de dois velhos de seduzirem a virtuosa Susana enquanto ela está se banhando no jardim de seu pai. O banho ao ar livre é conveniente para o enredo de tais histórias — como demonstra a história de Davi e Bate-seba em 2 Samuel 11.2. “Uma tarde Davi levantou-se da cama e foi passear pelo terraço do palácio. Do terraço viu uma mulher muito bonita, tomando banho,/ e mandou alguém procurar saber quem era. Disseram-lhe: "É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o hitita". 2 Samuel 11.2-3 Quando Susana recusa os avanços dos anciãos, eles a acusam de fornicação com um jovem (semelhante à acusação contra José pela esposa de Potifar em Gênesis 39). Como eles são juízes na comunidade, sua acusação é aceita e Susana é condenada à morte. Daniel, no entanto, a resgata pelo simples dispositivo de interrogar os dois acusadores. Os juízes são mortos em vez de Susana. Susana e os anciãos. Pintura de Guido Reni (1820-1825). Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a7/Guido_Reni_- _Susanna_and_the_Elders_-_WGA19296.jpg> A história de Susana tem muito em comum com a tradição das histórias judaicas mais curtas, que muitas vezes se assemelham a parábolas na forma como elas revertem as expectativas (ver a história de Judá e Tamar em Gênesis 38 <https://www.bibliaon.com/genesis_38/> ). Normalmente, dois juízes homens e idosos seriam considerados sábios e justos. No caso do relato, no entanto, o jovem é mais sábio e a mulher, muitas vezes considerada como inferior em uma sociedade patriarcal, é um exemplo de virtude. Bel e o Dragão As narrativas de Bel e o Dragão estão intimamente relacionadas a Daniel 6. Porém, elas são ambientadas no período do reinado de Ciro. Os babilônios supostamente acreditavam que uma estátua do deus Bel consumia as ofertas que eram colocadas para ele (na realidade, os babilônios não eram tão crédulos). Daniel mostra que os sacerdotes e suas famílias vinham à noite para comer as oferendas. Ele faz isso por meio de um simples estratagema: ele espalhou cinzas no chão para mostrar os seus passos. Em seguida, a narrativa sobre uma grande cobra ou dragão, também adorada pelos babilônios, visa demonstrar que o dragão não é deus. Então, os sacerdotes babilônicos ficam alarmados e se queixam constantemente de que “o rei se tornou um judeu”. Eles obrigam o rei a lançar Daniel na cova dos leões por seis dias. A sobrevivência de Daniel é explicada de uma maneira diferente de Daniel 6. O profeta Habacuque é transportado da Judeia por um anjo, que o segura pelos cabelos, e leva para Daniel um ensopado e pão. Ao fim, os inimigos de Daniel são eventualmente lançados aos leões. O rei que governa no contexto dos relatos de Bel e o Dragão é simpatizante de Daniel. É possível que um retrato tão simpático de um rei pagão tenha sido composto antes do tempo de Antíoco Epífanes IV. Tal história pode ser mais ou menos contemporânea dos contos em Daniel 1 a 6, mas deve ter circulado em diferentes círculos. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a7/Guido_Reni_-_Susanna_and_the_Elders_-_WGA19296.jpg https://www.bibliaon.com/genesis_38/ Esses contos têm elementos da história dos detetives. Daniel não confia na revelação como faz nos contos aramaicos, mas usa sua inteligência para resolver os problemas colocados diante dele. Daniel é salvo por Habacuque na cova dos leões. Manuscrito 0089, fólio 029, Ars Moriendi, Marselha, século XV d.C. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Daniel_dans_la_fosse_aux_lions.jpg> ) Saiba mais Conheça outros Apocalipses <galeria/aula10/anexo/a10_doc1.pdf> . Atividade 2. Explique as duas seções do livro de Daniel, indicando, em linhas gerais, o conteúdo de cada uma das partes e a natureza de seu material. 3. Quais são os contextos geográficos da primeira e da segunda seção de Daniel, e quais as relações deles com o contexto histórico? https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Daniel_dans_la_fosse_aux_lions.jpg http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula10/anexo/a10_doc1.pdf 4. O texto de Daniel em língua grega, utilizado na Septuaginta e nas edições católicas da Bíblia, tem alguns acréscimos. Indique a opção que apresenta corretamente quais são esses acréscimos. a) A Oração de Azarias e a Canção dos Três Jovens (capítulo 3.24-90), a história de Susana (capítulo 13), de Bel e o Dragão (capítulo 14). b) A Oração de Jacó e o relato sobre Bel (capítulo 2), a história de Susana (capítulo 13) e do Dragão (capítulo 14). c) Daniel na Cova dos Leões (capítulo 6); a Canção dos Três Jovens (capítulo 3); a história de Susana (capítulo 13) e de Bel e o Dragão (capítulo 14). d) A translação de Habacuque (capítulo 6), a história de Susana (capítulo 13) e de Bel e o Dragão (capítulo 14). e) A Oração de Azarias e a Canção dos Três Jovens (capítulo 4); a história de Nabucodonosor (capítulo 12) e de Bel e o Dragão (capítulo 14). Notas Enoque Personagem que supostamente viveu antes do dilúvio. Ester Como Ester, as histórias em Daniel estão definidas na diáspora oriental, e provavelmente se originaram lá. Têm a preocupaçãode manter a identidade judaica em terra estrangeira. Ao contrário de Ester, Daniel é manifestamente piedoso, e nessas histórias há orações e louvores. Referências COLLINS, John J. A imaginação apocalíptica: uma introdução à literatura apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010. GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus Editora, 1997. HILL, Andrew E; WALTON, John H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013. Explore mais Saiba mais sobre a literatura apocalíptica <galeria/aula10/anexo/a10_doc2.pdf> . 1 2 http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula10/anexo/a10_doc2.pdf
Compartilhar