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1 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer DIREITO PENAL I 1º BIMESTRE DIREITO PENAL CONCEITO: “conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança’”. – Bitencourt Serve para definir condutas puníveis, não só por decretos e leis. CRIME: 1. SANÇÃO: a. Penas: detenção ou reclusão (Lei de Introdução ao Código Penal, art. 1º) b. Medidas de Segurança: para os imputáveis – encaminhamento ao Manicômio Judiciário ou para tratamento psiquiátrico. 2. CRITÉRIOS: a. Exteriorização de conduta b. Tipicidade prevista em lei c. Objetiva: não leva em consideração a consciência (real + lei) d. Subjetiva: dolo/imprudência e. Antijuridicidade (ilícito) f. Culpabilidade CARACTERES: 1. Finalidade preventiva 2. Normativo – “dever ser” 3. Valorativo – estipula sua escala de valores 4. Finalista – proteger os bens jurídicos 5. Predominantemente sancionador – não cria bens jurídicos, mas acrescenta a sua tutela penal aos bens jurídicos regulados por outras áreas do direito. *penas e medidas de segurança “Ultima Ratio”: para que se possa chegar ao delito/crime, deve-se estar em desacordo com qualquer outra área do Direito. Como última instância, o Estado abre mão da sanção para proteger bens jurídicos subsidiados. 6. Excepcionalmente constitutivo de antijuridicidade – protege bens ou interesses não regulados em outras áreas do direito. *tentativas sem lesão, maus tratos aos animais e omissão de socorro (Zaffaroni) FUNÇÃO DAS PENAS: teorias (criticadas por suas falhas) – precisam de limites através dos princípios 1. RETRIBUIÇÃO (RETRIBUTIVA): MAL PELO MAL – punir por punir, sem olhar por uma finalidade futura. 2. PREVENÇÃO GERAL – dizer que a norma vale – repercussão da aplicação da pena em toda a sociedade. a. Negativa – inibição de comportamento (não tem limite/controle) b. Positiva – sanção de ordem (direito para proteger o direito) 3. PREVENÇÃO ESPECIAL – repercussão na pessoa punida a. Negativa: neutralização do sujeito: tirar de circulação – presunção; induziria à prisão perpétua. b. Positiva: ressocialização do indivíduo - na prática não funciona, ensina a viver na prisão e não na sociedade. DISTINÇÕES: 1. DIREITO PENAL OBJETIVO E SUBJETIVO: um (subj.) só pode ser praticado sob os limites dados pelo outro (obj). 2 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer a. Objetivo: conjunto de normas penais positivadas, incriminadoras ou não – o que é crime e quais as suas penas. b. Subjetivo: poder/dever do Estado quando se depara com determinada conduta criminosa (ius puniendi estatal) 2. DIREITO PENAL COMUM E ESPECIAL: o melhor critério para a distinção é a consideração dos órgãos que devem aplicá-los jurisdicionalmente. a. Comum: todo o direito penal aplicável através da justiça comum. b. Especial: direito penal aplicável, constitucionalmente, por órgãos especiais – direito penal militar e eleitoral. 3. DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E ADJETIVO: classificação ultrapassada. Hoje atuam de forma autônoma, embora relacionados. a. SUBSTANTIVO: direito penal de fato b. ADJETIVO: direito PROCESSUAL penal CONHECIMENTO PENAL: 1. DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL – crime no ponto de vista normativo (Teoria do Delito) 2. CRIMINOLOGIA – causas e efeitos do fenômeno criminal, bem como as regras e objetivos da seleção de “condutas desviadas” que mereciam atenção do direito penal. 3. POLÍTICA CRIMINAL – estuda os fins da pena (por que punir?) 4. BUSATO AINDA INCLUI A PENOLOGIA E A VITIMOLOGIA (qual é o papel da vítima). Missões do Direito Penal: SEGUNDO BUSATO 1. Reforço de valores ético-sociais da atitude interna de cada cidadão (Hans Welzel) – reforçar os valores morais 2. Garantir a validade do ordenamento (Günter Jakobs) – não importa o valor da norma transgredida, mas o fato do descumprimento. *CRITICA: não é preciso o direito penal para validar o ordenamento; o ilícito pode ter vários níveis de gravidade. 3. Proteção subsidiária/adicional de bens jurídicos (POSIÇÃO MAIS ACEITA NA DOUTRINA BRASILEIRA) PRINCÍPIO DOS BENS JURÍDICOS: “dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para a subsistência do sistema social, nos limites de uma ordem constitucional”. (Luís Greco) “O princípio do bem jurídico oferece limites ao poder punitivo estatal, pois impede que se estabeleçam delitos e penas que não tenham em sua estrutura de base e proteção a um bem jurídico”. (Busato) *Se não há um bem jurídico a ser protegido, o Direito Penal não deveria interferir, visto que outras áreas do direito assumem. 1. Identifica-se o bem jurídico a ser defendido; 2. Procura-se o tipo penal; O bem jurídico é um valor social ANTERIOR à norma penal. O que o Direito penal oferece, ao criminalizar condutas, é uma proteção adicional a bens já protegidos por outras áreas do direito. O bem jurídico pode ser criado pelo próprio ordenamento (Exemplo: a ordem tributária). 1. DELIMITAÇÃO: (Claus Roxin) a. A descrição da finalidade da lei não basta para fundamentar um bem jurídico que legitime um tipo (Exemplo: existência de uma sociedade sem drogas). b. A imoralidade, a contrariedade à ética e a mera reprovabilidade de um comportamento não basta para legitimar o tipo penal. c. A violação da dignidade humana não basta para a punição. O delito precisa causar danos a outrem (Exemplo: tentativa de suicídio é impunível). d. A autolesão consciente, sua possibilitação e promoção não legitimam uma proibição penal. 3 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer e. Normas penais simbólicas devem ser recusadas (Exemplo: negação do holocausto). f. Tipos penais não podem ser fundados sobre bens jurídicos de abstração impalpável (Exemplo: “paz pública”, “segurança pública”). g. PRINCIPAL CONSEQUÊNCIA DO PRINCÍPIO: a obrigação de despenalização de condutas meramente imorais, contrárias a ideologias políticas e religiosas. h. CRIMES: graus de agressão ao bem jurídico i. Delitos de lesão: agridem o bem jurídico de forma visível e evidente (Exemplo: furto, roubo, estelionato). ii. Delitos de perigo: apenas colocam em perigo o bem jurídico, de forma presumida ou concreta. – Pouco importa o resultado, o que vale é a mera criação do risco. 1. Abstrato: ação presumidamente perigosa (Lei 10.826/03, art. 12) 2. Concreto: exige a concreta colocação do bem jurídico em perigo (Lei 9.605/98, art. 54) 2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – dá início a chamada CIÊNCIA PENAL; limitação ao poder punitivo do Estado – segurança jurídica a. Art. 1º, CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. b. Art. 5º, XXXIX, CF: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. c. Tem sua origem ligada à prevenção geral negativa; d. Nenhuma pena pode ser imposta fora dos limites legais. Não pode ser maior nem diferente daquela prevista em lei, o que atinge também a fase de execução. e. Requisitos da lei penal: i. Lei escrita (lex scripta): exclusividade da lei; exclusão do costume (art. 22, I, CF) ii. Lei prévia (lex praevia): irretroatividade da lei penal mais grave iii. Lei certa (lex certa): as leis hão de ser claras e taxativas – destinada ao legislador iv. Lei estrita (lex stricta): proibição da analogia e da interpretação extensiva – destinada ao intérprete (juiz) 3. PRINCIPIO DA CULPABILIDADE – A responsabilidade penal é sempre subjetiva e pessoal, nunca objetiva. A punição dependerá da verificação de dolo e culpa. Excluem- se do conceito de crime resultados produzidos por caso fortuito. a. A pena só pode atingir a pessoa do sentenciado (art. 5º, XLV, CF) b. Responsabilidade pelo fato: o direito penal não pune “modos de vida”, mas fatos específicos.c. Individualização da pena: visto que cada fato deve ser considerado individualmente, e a responsabilidade é pessoal, cada sentenciado tem direito a uma pena específica. – Consequência do princípio de culpabilidade numa dimensão processual penal. d. Presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF): “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. 4. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (“ULTIMA RACIO”) – O Direito Penal deve ser a “ultima racio” (último recurso) da política de controle social. a. Razões i. Gravidade da sanção penal ii. Ineficiência da prisão e seu inevitável efeito estigmatizante 4 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer b. Fragmentariedade – o Direito Penal deve defender os bens jurídicos mais indispensáveis para a pacífica e livre convivência em sociedade. – Direito Penal não é contínuo c. Subsidiariedade – o Direito Penal só pode ser aplicado quando se esgotarem todas as outras formas de coerção social. 5. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE a. Diferenciação entre o princípio de proteção de bens jurídicos e princípio de lesividade: um define “o que” proteger, enquanto o outro define “como” proteger. b. Funções do princípio: i. Político-criminal: ao legislador – não criar tipo penal que não seja de lesão ou perigo concreto. ii. Interpretativa: ao intérprete – interpretar o perigo abstrato como perigo concreto. c. Consequência da aplicação do princípio: i. Irrelevância de “atitudes internas” não exteriorizadas ii. Impunidade de ações que configurem “crimes impossíveis”, apesar do desvalor da ação (Exemplo: tentar matar quem já está morto) iii. Atipicidade de atos meramente preparatórios iv. Inaplicabilidade da regra do art. 157, §2º, I, CP – quando a arma é de brinquedo, está sem munição ou avariada. 6. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – a própria CF estipula regras a. Individualização da pena (art. 5º, XLVI); b. Proibição de determinados tipos de sanções (art. 5º XLVII). Exemplo: penas de morte, prisão perpétua, trabalhos forçados e banimento; c. Admissão de mais rigor para infrações consideradas mais graves (art. 5º, XLII, XLIII e XLIV). Exemplo: racismo e tráfico de drogas. A proporcionalidade exige do legislador a cominação de penas conforme a importância do bem jurídico protegido, e conforme o grau de lesão a esta interesse. 7. PRINCIPIO DA HUMANIDADE a. Art. 1º, CF: a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal, constituiu-se em Estado Democrático de Direto e tem como fundamento: (...) III – a dignidade da pessoa humana. b. Art. 5º, XLVIII, CF: não haverá penas de morte, salvo em casos de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento. c. Art. 5º, XLIX, CF: é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral. 8. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA a. A agressão ao bem jurídico deve justificar a imposição de uma pena criminal. Não basta que a conduta se subsuma ao tipo penal. b. A insignificância da ofensa afasta a tipicidade – apenas a tipicidade formal não basta c. Requisitos adotados pelo STJ e STF para o reconhecimento da insignificância: i. Mínima ofensividade da conduta do agente; ii. Nenhuma periculosidade social da ação; iii. Grau reduzido de reprovabilidade do comportamento; iv. Inexpressividade da lesão jurídica praticada d. Não estão positivados em lei – não há parâmetros legais 5 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer HISTÓRICO DO DIREITO PENAL – Não há Direito Penal antes do Iluminismo; como limite do poder punitivo do Estado. FASES DE VINGANÇA PENAL: não se fala em cronologia; na medida em que a sociedade se torna mais sofisticada, diminuem-se as vinganças divinas e aumentam as vinganças públicas. 1. DIVINA – mais arcaica e cruel 2. PRIVADA – não é nem para Deus, nem para monopólio do Estado; subfases (perda de paz, vingança de sangue, lei de Talião, composição) DIREITO PENAL ROMANO: oferece um ciclo jurídico completo, constituindo até hoje a maior fonte originária de inúmeros institutos jurídicos. 1. Leges Corneliae e Juliae: tipologia de crimes – catalogo de comportamentos que deveriam ser considerados criminosos. 2. Principais características: a. Afirmação do caráter público e social do Direito Penal; b. Amplo desenvolvimento alcançado pela doutrina da imputabilidade, culpabilidade e de suas excludentes; c. Elemento subjetivo doloso claramente diferenciado; d. Teoria da tentativa, que não teve um desenvolvimento completo, embora se admita que fosse punida nos crimes extraordinários; e. Reconhecimento das causas de justificação (legitima defesa e estado de necessidade); f. A pena constituiu uma reação pública, correspondendo ao Estado e a sua aplicação; g. Distinção entre crimina publica, delicta privata e a previsão dos delicta extraordinária; h. Consideração do concurso de pessoas, diferenciando a autoria e a participação. DIREITO PENAL GERMÂNICO: o direito germânico primitivo não era composto de leis escritas, caracterizando-se como Direito consuetudinário. 1. Vingança de sangue; 2. Leis bárbaras – algumas deram o perfil do Direito Germânico do século VI; 3. Mais tarde, incorpora a pena de talião, por influência romana e do cristianismo; 4. Responsabilidade objetiva – o que importa é o resultado, não o dolo, culpa ou caso fortuito. DIREITO PENAL CANÔNICO: contribuiu para o surgimento da prisão moderna 1. RATIONE PERSONAE – em razão da pessoa: o religioso era julgado sempre por um tribunal da Igreja, qualquer que fosse o crime praticado 2. RATIONE MATERIAE – em razão da matéria: a competência eclesiástica era fixada, ainda que o crime fosse cometido por um leigo. 3. CLASSIFICAÇÃO DOS DELITOS: a. Delicta eclesiástica – ofendiam o direito divino, eram da competência dos tribunais eclesiásticos e eram punidos com as poenitentiae; b. Delicta mere secularia – lesam somente a ordem jurídica laica, eram julgados pelos tribunais do Estado e lhes correspondiam as sanções comuns. Eventualmente, sofriam punição eclesiástica com as poenae medicinales; c. Delicta mixta – violavam as duas ordens (religiosa e laica) e eram julgados pelo tribunal que primeiro deles tivesse conhecimento. Pela Igreja eram punidos com as poene vindicativae. DIREITO PENAL NA IDADE MÉDIA: 1. Pecado se confunde com crime 2. Julgamento do crime pelo Estado e/ou Igreja 6 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer 3. PERÍODO HUMANITÁRIO – Iluminismo (Séc. XVIII) a. Lógica no agir do Estado b. Colocar o homem no centro do sistema (desinstrumentalizar) c. Estado com segurança jurídica – Estado regido por leis (Estado de Direito) d. Igualdade formal e. Segurança daquilo que pode ser punido e delimitação das penas – ILUMINISMO 4. Surgimento do Direito Penal de fato a. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE b. PRINCÍPIO DA TIPIFICAÇÃO DE CONDUTA 5. REFORMADORES: a. BECCARIA – não é a gravidade da pena que intimida, mas sim a certeza do cumprimento da pena. i. Estado não deve punir mais gravemente do que aquilo que quer combater; ii. Tortura não faz justiça; iii. Pena deve ter um porque, não apenas retribuição. b. HOWARD – humanização e racionalização das penas. Penitenciarismo; c. BENTHAM – pai do Utilitarismo (máximo de felicidade com o mínimo de esforço) i. Prisão coloca valores no preso que vão contra quem quer viver na sociedade; ii. Arquitetura da prisão; ESCOLAS PENAIS: 1. ESCOLA PRÉ-CLASSICA: a. Grandomenico Romagnosi (1761-1835) – ideia utilitarista de prevenção por meio da pena b. Paul Johann Anselm von Fewerbach (1775-1833) 2. ESCOLA CLÁSSICA: lança as bases da dogmática jurídica; Giovanni Carmignani, Pelegrino Rossi e Francesco Carrara – Séc. XIXa. Crime é ente jurídico, não ente de fato – é fato atrelado à lei; b. Livre arbítrio como fundamento da punibilidade; c. Pena como meio de tutela jurídica e retribuição da culpa moral; d. Princípio da Reserva Legal; e. Diferenciação entre CRIME e PECADO – Crime é exteriorização de comportamento; f. Caminho para a laicização do Estado; g. Restauração da dignidade humana e o direito do cidadão perante o Estado – individualismo 3. ESCOLA POSITIVA: lança as bases para a criminologia; crime como fato social; a. Mais aspectos biológicos, médicos e antropológicos, do que de Direito; b. Ressocialização em segundo plano; c. Catalogação: i. Preocupação com quem é criminoso (socialmente perigoso), não com o crime em si; ii. Predeterminação para cometer delitos, sem ter livre-arbítrio; iii. Neutralização de quem é predeterminado – privar a sociedade da convivência com essas pessoas (segregação). d. Cesare Lombroso: ATAVISMO – herança genética que predetermina a cometer crimes (fase antropológica); e. Enrico Ferri: corrigíveis são ressocializáveis; inexistência do livre-arbítrio (fase sociológica); 7 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer f. Rafael Garofalo – ceticismo quanto à readaptação do homem criminoso; pena de morte (fase jurídica); 4. ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA: Arthuro Rocco e Karl Bending; a. Volta da vinculação de Direito Penal e Lei b. Direito posto pelo legislador – letra da lei c. Volta do pensamento de culpabilidade e periculosidade; imputabilidade e inimputabilidade; d. Recusa o emprego da filosofia no campo penal; 5. ESCOLA CORRECIONALISTA: Escola Clássica + Escola Positiva a. Pena = correção do sujeito (cura, tratamento); b. Penas indeterminadas. c. Delinquente = anormal, incapaz de viver juridicamente livre; 2º BIMESTRE LEI PENAL NO TEMPO: IRRETROATIVIDADE – regra geral 1. TEMPUS REGIT ACTUM: a regra é a Lei penal ser aplicada apenas a fatos cometidos durante a sua vigência. 2. DECORRE DO ART. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. 3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (LEX PRAEVIA): a criminalização de condutas não pode atingir fatos anteriores à promulgação da Lei. ULTRA-ATIVIDADE: O princípio da legalidade impõe que haja ultra atividade quando a lei penal anterior for mais benéfica ao réu. RETROATIVIDADE: Quando uma nova lei penal for mais severa, aplica-se a retroatividade, valendo-se a lei penal anterior. 1. Art. 5º, XL: “a lei penal não retroagirá, salto para beneficiar o réu”. 2. Art. 2º, CP HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS NO TEMPO: 1. Abolitio criminis – lei nova deixa de considerar algo como crime. A lei nova, mais benigna, retroage até mesmo para fatos já definitivamente julgados que estejam em fase de execução. 2. Novatio legis incriminadora: lei nova passa a considerar crime algo que anteriormente não era. Nesse caso, a lei nova é irretroativa, não podendo ser aplicada a fatos anteriores à sua vigência, 3. Novatio legis in pejus: Lei posterior que de qualquer modo agrava a situação do autor do delito, não pode retroagir. Se houver conflito de leis, sendo que a anterior é mais benigna, essa é utrativa. 4. Novatio legis in mellius: lei nova dá tratamento mais favorável ao réu. Prevalece a lei posterior mesmo para casos já transitados em julgado. No período de vacatio legis há uma divergência na doutrina. Alguns acreditam que não é preciso esperar o período, pois já se sabe a vontade do legislador. Outros discordam, uma vez que ainda não está em vigência. LEI INTERMEDIÁRIA E CONJUGAÇÃO DE LEIS: 1. LEI INTERMEDIÁRIA: quando há alteração de lei mais de uma vez durante o trâmite. Para a maioria da doutrina se aplica a lei mais benéfica, mesmo que não seja da época do ato e nem da sentença. 2. CONJUGAÇÃO DE LEIS: pegar uma parte de cada lei a fim de beneficiar o réu. 8 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer a. Hoje o STF é contra, pois a conjuração ultrapassa os limites do aplicador da norma. b. A maioria dos doutrinadores é a favor, pois não há ressalvas para retroagir apenas uma parte. LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS: ART. 3º, CP – são leis com período predeterminado, para regular circunstâncias transitórias especiais (ex.: Lei da Copa). Ambas têm ultratividade, mas não retroagem, mesmo que mais benéficas. 1. LEIS TEMPORÁRIAS – vigência previamente fixada pelo legislador. 2. LEIS EXCEPCIONAIS – tem vigência durante situações de emergência LEIS PROCESSUAIS: 1. POSIÇÃO MAIS TRADICIONAL: vige o princípio tempus regit actum e não se cogita ultratividade e retroatividade. 2. BUSATO: sempre olhar a lei mais benéfica 3. RANGEL: algumas leis processuais têm caráter Penal, estas podem ter retroatividade ou ultratividade. TEMPO DO CRIME: art. 4º, CP (“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”) 1. Súmula 711/03 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência” 2. CRIME PERMANENTE: crime único cuja execução se prolonga no tempo. (Ex: sequestro) – cabe ao agente cessar ou continuar o ato criminoso. 3. CRIME CONTINUADO: ficção jurídica concebida por razões de política criminal. – Finge que o fato é único e se aplica a pena aumentada (ex: crimes previdenciários) LEI PENAL NO ESPAÇO: Art. 5º - “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convicções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional” TERRITÓRIO NACIONAL: 1. Superfície terrestre 2. Águas territoriais 3. Espaço aéreo correspondente 4. Embarcações/aeronaves: art. 5º, §1º e §2º, CP – embarcações e aeronaves brasileiras são tratadas como extensão do território independentemente de onde estiverem, sendo assim, respondem à lei brasileira. a. Crimes cometidos em navios ou aeronaves públicas estrangeiras que estejam no Brasil se sujeitam às leis do seu país originário. Se forem privados, respondem à lei de seu país, quando em alto mar, ou leis do país em que se encontram, quando em portos ou mares territoriais. LUGAR DO CRIME: art. 6º - considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se resultado. 1. TEORIA MISTA: evita o inconveniente dos conflitos negativos de jurisdição. Eventual duplicidade de julgamento é solucionada pelo art. 8º (modalidade especial de detração). a. Art. 8º - “a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”. EXTRATERRITORIALIDADE: art. 7º, CP 1. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - Os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 9 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 2. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA: o Poder Jurisdicional brasileiro é exercido independentemente da concordância do país onde o crime ocorreu. O autor não precisa nem entrar no território brasileiro, podendo ser julgado à revelia. É irrelevante que o fato seja lícito no estrangeiro ou que ocorra a extinção da punibilidade segundo a lei do país. Art. 7º, § 1º - “Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro”. II - Os crimes: a) que, portratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 3. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA: § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. 4. IMUNIDADE DIPLOMÁTICA: privilégio do próprio Estado representado, sem o qual o diplomata poderia ficar impedido de cumprir com a sua função. Deve-se existir reciprocidade. Decreto 56.435/65 (Convenção de Viena) Art. 31: “. O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão. b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. Art. 31.4: “A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante”. 5. CÔNSULES: Representam o Estado com o intuito de atender aos interesses privados de seus compatriotas que ali se encontrem ou aos nacionais que pretendam visitar aquele país, ou estabelecer negociações comerciais. a. Sua imunidade se restringe aos atos exercidos no exercício das funções consulares. IMUNIDADE PARLAMENTAR: torna atípicos certos atos previstos como criminosos. 10 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer 1. DEPUTADOS E SENADORES: art. 53, CF – “os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. 2. DEPUTADOS ESTADUAIS: o que define são as Constituições Estaduais. 3. VEREADORES: art. 29, VIII, CF – “a inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município”. NORMA PENAL: DIFERENÇA ENTRE LEI E NORMA: 1. LEI PENAL: enunciado mais genérico, descrição de uma conduta feita pelo legislador. 2. NORMA PENAL: é o que se retira da lei por causa da interpretação; preceito proibitivo em forma de ordens. Crime é violação da norma, não da lei penal. CLASSIFICAÇÃO: 1. QUANTO AO CONTEÚDO: a. Incriminadoras: compostas de preceito primário (descrição da conduta) e secundário (sanção/consequência) – PARTE ESPECIAL DO CP b. Não incriminadoras: não trazem tipos penais c. Normas permissivas – excepcionais autorizações para a prática de ações típicas (ex: legítima defesa) d. Normas explicativas ou complementares – demais leis da parte do CP e algumas leis dispersas. 2. QUANTO À COMPLETUDE a. Completa: não requer complemento normativo ou valorativo. b. Incompleta: requer complemento. i. Lei Penal em branco – depende do complemento normativo; (apenas o tipo 1 é visto como lei em branco) 1. Própria, em sentido estrito ou heterogênea: complemento normativo não emana do legislador (Lei de Drogas). – Emana do Executivo (quem tem conhecimento técnico) 2. Imprópria, em sentido amplo ou homogênea: complemento emana do legislador (lei completa lei) 3. Homóloga ou homovitelina – complemento emana da mesma instância legislativa (lei penal completa lei penal) 4. Heteróloga ou heterovitelina – complemento emana de instância legislativa diversa. 5. Ao revés: complemento normativo diz respeito à sanção. ii. Tipo aberto – depende de “fechamento” por parte do aplicador; o complemento (“fechamento do tipo”) é dado pelo aplicador da lei. Ex: crimes culposos; iii. Dispositivos penais que contêm elementos normativos – a constatação de tais elementos depende de cargas axiológicas ou juízos de valor. 1. ELEMENTOS NORMATIVOS DO TIPO: a. Elementos cuja constatação depende de cargas axiológicas ou juízos de valor. b. Elementos normativos culturais (“ato obsceno”) – provém de pautas de comportamento social. c. Elementos normativos jurídicos – provém de fontes jurídicas d. Elementos de valoração global negativa do comportamento – art. 151 e 246, CP FONTE DAS NORMAS PENAIS: 11 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer 1. FONTE MATERIAL (DE PRODUÇÃO): Estado 2. FONTES FORMAIS (DE CONHECIMENTO): a. Fonte imediata – a lei b. Fontes mediatas – costumes, Jurisprudência, Doutrina INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PENAIS: 1. QUANTO ÀS FONTES: interpretação autêntica, doutrinária e jurisprudencial 2. QUANTO AOS MEIOS: interpretação gramatical, história e lógico-sistemática 3. QUESTÃO DA ANALOGIA: a rigor, não é um meio de interpretação, salvo se favorecer o réu CONFLITO APARENTE DE NORMAS: situação em que, aparentemente, pode ser aplicada mais de uma norma penal a uma única conduta. O conflito aparente deve ser solucionado por princípios de ordem doutrinária. 1. PRINCIPIO DA ESPECIALIDADE – norma especial difere da norma geral, porque reúne todos os elementos desta, acrescidos de mais alguns (especializastes) – prevalece a norma especial. 2. PRINCIPIO DA SUBSIDIARIEDADE – as normas primárias e subsidiárias descrevem diferentes graus de agressão ao mesmo bem jurídico. A rigor, a subsidiária está contida na principal, por isso a subsidiária é afastada em caso de preenchimento do tipo principal. a. Expressa: quando a própria lei condiciona a aplicação de uma norma à não aplicação de outra mais grave. b. Tácita: quando um crime funcionar como elemento constitutivo, majorante ou meio de execução de outra figura típica mais grave. 3. PRINCIPIO DA CONSUNÇÃO – quando o crime se constitui como meio normal ou necessário para a execução de outro. O fato previsto em determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente. Aplica-se somente esta última. INTRODUÇÃO À TEORIA DO DELITO: Art. 1º, DL nº 3.914/41 (Lei de Introdução ao CP): “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente”. CONCEITO DE CRIME: 1. CONCEITO FORMAL – DL 3.914/41 2. CONCEITO MATERIAL – supera o formal 3. CONCEITO ANALÍTICO – identifica os elementos constitutivos do fato punível, necessários como método analítico para determinar a existência concreta de ações criminosas. Define os pressupostos de punibilidade das ações descritas como criminosas. a. Tipo de injusto: ação, tipicidade e antijuridicidade b. Culpabilidade SISTEMAS DE FATO PUNÍVEL: crime = culpabilidade + tipo de injusto 1. BIPARTIDO: unidade conceitual entre tipicidade e antijuridicidade Crime = culpabilidade + tipo de injusto (tipo legal, como elemento positivo e ausência de justificação, como elemento negativo) 2. TRIPARTIDO: autonomiado conceito de tipicidade em relação à antijuridicidade Crime = culpabilidade + tipo de injusto (tipicidade e antijuridicidade como elementos autônomos) MODELOS TRIPARTIDOS: 1. MODELO CLÁSSICO: Liszt/Beling – segunda metade do séc. XIX a. Ação – movimento corporal causador de um resultado no mundo exterior. Conceito naturalístico e causal de ação 12 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer b. Tipicidade – caráter externo da ação, como descrição objetiva do acontecimento. Compreendia os aspectos objetivos do fato descrito em lei. c. Antijuridicidade – valoração negativa dos aspectos objetivos da ação, ou seja, dos resultados externos indesejáveis juridicamente. Lógica contradição (formal) da conduta com a norma jurídica. d. Culpabilidade – conceito psicológico (dolo ou imprudência), que agregava todos os elementos subjetivos do delito. Demonstrava um vínculo subjetivo entre o autor e o fato. 2. MODELO NEOCLÁSSICO (VALORATIVO): princípio do séc. XX a. Ação – comportamento humano voluntario. b. Tipicidade – deixa de ser mera descrição e passa a conter elementos normativos e subjetivos. c. Antijuridicidade – antes meramente formal, agora passa a ser entendida com material, pressupondo certa danosidade social e admitindo graduações de acordo com a gravidade da lesão. Na falta de lesão a um interesse, não há ilicitude. d. Culpabilidade – assume o significado normativo, como reprovabilidade do autor pela formação de vontade contrária ao dever. 3. MODELO FINALISTA – aprox. 1930-1960 a. Ação – estrutura lógica; é o exercício de uma atividade final, ou seja, mero causalismo. Traz a finalidade para o centro do conceito de crime. Retira o dolo e a culpa do âmbito da culpabilidade e os coloca na TIPICIDADE. Então o tipo passa a ser entendido como “tipo doloso” ou “tipo culposo”. b. Tipicidade – formada por “tipo objetivo” + “tipo subjetivo” c. Antijuridicidade – contrariedade ao ordenamento jurídico d. Culpabilidade – passa a ser puramente normativa. É a reprovabilidade de um sujeito capaz de culpabilidade, pela realização não justificada de um tipo, com potencial consciência da antijuridicidade e em situação de exigibilidade de comportamento diverso. e. CONTRIBUIÇÕES CENTRAIS DO FINALISMO: i. Concepção meramente normativa da culpabilidade, sem os elementos subjetivos que a integravam ii. O descobrimento do desvalor da ação como elemento constitutivo do injusto penal iii. A partir do conceito de finalidade possibilitou uma concepção mais adequada dos diversos tipos de crimes CLASSIFICAÇÕES DO CRIME: 1. DOLOSO, CULPOSO E PRETERDOLOSO: a. Doloso – assume o risco (dolo eventual) ou tem a intenção (dolo direto) b. Culposo – negligência (culpa inconsciente) ou se acredita que o resultado não irá acontecer (culpa consciente) c. Preterdoloso – dolo seguido de culpa (ex: lesão corporal e morte) 2. SIMPLES E COMPOSTOS: a. Simples – atacam apenas um bem jurídico (ex: furto) b. Compostos – atacam mais de um bem jurídico (ex: roubo) 3. COMISSIVO, OMISSIVO PRÓPRIO E OMISSIVO IMPRÓPRIO: a. Comissivo – por ação b. Omissivo – por omissão i. Próprios: qualquer pessoa pode cometer; responde pela omissão (“deixar de”) ii. Impróprios: cometidos por garantidores de b.j.; responde pelo resultado. 13 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer 4. INSTANTÂNEO E PERMANENTE: a. Instantâneo: começo e fim determinados com a agressão ao b.j. (ex: roubo) b. Permanente: uma vez que reunidos todos os elementos do tipo, cabe somente à pessoa definir a continuidade do crime (ex: sequestro) 5. MATERIAL (DE RESULTADO), FORMAL E DE MERA CONDUTA 6. DE DANO E DE PERIGO (CONCRETO E ABSTRATO) a. De dano – tipo exige agressão ao b.j. b. Perigo – mero risco de agressão 7. UNISSUBJETIVO E PLURISSUBJETIVO (DE CONCURSO NECESSÁRIO): a. Unissubjetivo – uma única pessoa cometeu b. Plurissubjetivo – mais de uma pessoa comete (ex: tráfico entre duas pessoas) 8. COMUM (GERAL), PRÓPRIO (ESPECIAL) E DE MÃO PRÓPRIA: a. Comum – qualquer pessoa comete b. Próprio – o autor é determinado tipo de pessoa c. Mão própria – não permite autoria imediata, necessita a utilização de instrumentos (ex: falsa testemunha) 9. DE AÇÃO ÚNICA, DE AÇÃO MÚLTIPLA E DE DUPLA SUBJETIVIDADE. TEORIAS DA CONDUTA: Ação e Omissão: duas formas básicas de fato punível. A ação viola uma norma proibitiva (crime comissivo), enquanto a omissão descumpre uma ordem de ação (crime omissivo). Pensamentos, sentimentos, condição social e afins não são pressupostos para ocorrência de crime, pois não exteriorizam um comportamento. 1. TEORIA CAUSAL-NATURALISTA: sistema clássico do delito (Liszt, Beling, Radbruch) – mecanismo a. Movimento corporal voluntário que causa uma modificação no mundo exterior = simples causalidade de um resultado b. Não haveria ação sem resultado c. Voluntariedade apenas como “ausência de coação física absoluta” d. Sistema exclusivamente objetivo de ação, que compreendia apenas a manifestação da vontade (mas não se preocupava com o seu conteúdo), o resultado e a relação de causalidade entre um e outro. e. O que importa é a ação em si e não o conteúdo da vontade que a provoca f. Separa dois momentos: i. Externo/objetivo – ação e produção do resultado (integra a AÇÃO TÍPICA) ii. Interno/subjetivo – conteúdo da vontade (integra a CULPABILIDADE) g. Críticas: i. Não explica satisfatoriamente a omissão ii. Ao incluir no conceito de conduta o resultado naturalístico, acaba por não explicar bem os crimes formais e de mera conduta iii. Não explica satisfatoriamente a distinção entre o tratamento penal dado a condutas que, externamente, são idênticas, mas que são dirigidas a fins completamente diferentes. iv. Acabava por dar origem a um sistema de delito (o clássico) no qual o tipo era meramente objetivo – negando a existência de elementos subjetivos e normativos na tipicidade v. Na teoria da culpabilidade, a verificação de que a imprudência (culpa) inconsciente não contém elementos psíquicos mostra um defeito da definição de culpabilidade como relação psíquica entre autor e fato, próprio do conceito psicológico do conceito clássico de delito. 14 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer vi. É inadmissível a negação da análise do elemento subjetivo na verificação da antijuridicidade. 2. TEORIA FINALISTA: a. Ação – realização de uma atividade final b. Fato natural x ação humana i. Fato natural: determinado pela causalidade; mecânico ii. Ação humana: acontecimento dirigido pela vontade consciente do fim c. Direção final da ação: i. Parte subjetiva: 1. Antecipação do fim que o agente quer realizar (objetivo pretendido) 2. Seleção dos meios apropriados para a consecução do fim (meios de execução) 3. Representação dos efeitos colaterais relacionados ao proposito e aos meios empregados. 4. Efeitos necessários – integram a vontade consciente do autor. Integram a vontade consciente e a própria ação (estudo do dolo de segundo grau) 5. Efeitos possíveis i. Se o autor consente com sua produção, integram a vontade do autor e a ação (remete ao dolo eventual) ii. Se o autor não consente, confiando poder evita-los, não integram a vontade do autor nem a ação (remete à imprudência consciente) ii. Parte objetiva: execução concreta do projeto do autor, sua materialização no mundo real, com a utilização dos meios selecionados. d. Resultados: i. Inclusão do dolo (sem a consciência da ilicitude) e da culpa no tipo de injusto e não mais na culpabilidade ii. Definição do conceito pessoal de injusto: desvalor da ação e do resultado iii. Culpabilidade passou a ser apenas normativa (imputabilidade, possibilidade de atuar do outro modo e potencial conhecimento da ilicitude) e. RESUMO: i. Ações dolosas – execução de açõesproibidas ii. Ações imprudentes – execução defeituosa de ação iii. Omissão de ação – inexecução de ação mandada. 3. TEORIA PESSOAL DA AÇÃO – Claus Roxin a. Ação – “manifestação da personalidade”, todo acontecimento atribuível ao centro de ação psíquico-espiritual do homem b. Definição mais geral acerca do conceito de ação, que exclui todo comportamento não dominado ou dominável pela vontade humana c. Crítica – ao falar sobre a personalidade (conceito amplo) deixa de mencionar o mais importante: a realização do propósito que se faz presente em toda e qualquer ação humana. d. Simplificar o conceito de ação; e. Conduta = manifestação de personalidade FUNÇÕES DO CONCEITO DE CONDUTA 1. UNIFICAÇÃO: torna possível a compreensão da ação sob as formas dolosas e imprudentes como espécies de comportamento humano. A análise de um fato típico 15 Giovanna de Freitas Maciel – Direito Penal I – Prof. Christian Laufer tem por objeto verificar a realização de uma ação proibida ou a omissão de uma ação mandada. 2. FUNDAMENTAÇÃO: base a qual incidem os atributos de tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Substancia capaz de portar os predicados do conceito analítico de crime. 3. DELIMITAÇÃO: separar a ação humana de situações de ausência de ação. Ação é fenômeno exclusivo de pessoas, independentemente da idade ou saúde mental.
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